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2 SUMÁRIO Introdução .................................................................................................................. 5 Convolação da recuperação judicial em falência ................................................... 6 Conclusão ................................................................................................................ 11 Bibliografia ............................................................................................................... 12 3 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo atender a disciplina de “Recuperação Judicial e Falência”, e tem como tema “Convolação da recuperação judicial em falência”. Iremos abordar os principais tópicos do assunto, apresentando os dispositivos legais e posições doutrinárias sobre o tema. O assunto está, principalmente, agrupado no Capítulo IV – Da convolação da recuperação judicial em falência, da Lei 11.010/05, e em outros pontos da mesma lei, e é brevemente tratado nos livros especializados na área de Direito Empresarial. A recuperação judicial visa permitir a manutenção da empresa em crise, mas ao mesmo tempo propiciando aos credores uma segurança quanto ao pagamento. Contudo, em alguns casos que serão estudados a seguir, a recuperação mostra-se inviável ou desrespeitada, e a única opção é transformar o estado de recuperação judicial na liquidação da empresa (falência). 4 CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA Segundo a lei 11.101/05, a recuperação judicial “tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica” (art. 47), só sendo possível, segundo a doutrina, para empresas “viáveis”, ou seja, que tenham a possibilidade de se recuperarem. Contudo, pode ocorrer da recuperação judicial não ser suficiente para normatizar o estado econômico e financeiro da empresa, ou da própria empresa descumprir o benefício concedido, o que permitirá a convolação da recuperação judicial em falência. “Convolação” significa “mudança”, “transformação”. No contexto, significa alterar o estado civil de recuperação judicial para o de falência. Waldo Fazzio Junior (2016, pg. 621) ressalta que a convolação em falência não é medida excepcional, pois a situação de crise já é reconhecida quando concedido o estado de recuperação judicial, e o que ocorre na convolação é o descumprimento do plano. Em suas palavras: Para resumir, a rescisão do regime de recuperação judicial significa o reconhecimento jurisdicional do não cumprimento do respectivo plano. A situação de crise econômico-financeira do devedor já está caracterizada pelo próprio fato da recuperação. Isso significa que o pressuposto para a decretação da falência está embutido em todos os processos de recuperação judicial assentados, não na mera iliquidez ou em situação de dificuldade transitória, mas no estado patrimonial de insolvência. (grifos nossos) De acordo com o artigo 73 da LRF, o juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial quando: 5 I - por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei; A assembleia-geral poderá decidir que o plano de recuperação é inviável, ou que será infrutífero, e não merece continuar vigente. A menção ao art. 42, sob como será o voto, na realidade, nos remete à regra do art. 45 e parágrafos; II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei; Intempestividade. Ou seja, se não for apresentado o plano de recuperação judicial em 60 dias, a contar a partir da publicação da decisão que deferiu a recuperação. O devedor deverá se atentar a entregar o plano preenchido de todos os requisitos legais, pois o prazo é improrrogável. Neste sentido: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO - NECESSIDADE DE RETIFICAÇÃO - CUMPRIMENTO DO PRAZO - AUSÊNCIA - CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA - RECURSO DESPROVIDO. 1. Nos termos da Lei de Recuperação Judicial, caso o devedor não apresente o plano de recuperação judicial no prazo de 60 (sessenta) dias, o Juiz deverá decretar a falência (artigo 73, inciso II c/c artigo 53). 2. Apesar de ter apresentado o plano de recuperação judicial, a agravante não cumpriu a determinação judicial de apresentá-lo novamente, de acordo com o que determina o artigo 53 da Lei nº 11.101/05, o que possibilita a convolação da recuperação judicial em falência. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0525.12.008768-5/001, Relator(a): Des.(a) Edilson Olímpio Fernandes , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/02/2018, publicação da súmula em 07/03/2018) Contudo, deve-se demonstrar jurisprudência em sentido diverso, afirmando que o princípio da preservação da empresa deve ser supremamente levado em conta quanto ao prazo de apresentação do plano: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. VIABILIDADE DA ATIVIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. 6 INTELIGÊNCIA DO ART. 47 DA LEI Nº 11.101 DE 2005. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O art. 53º da Lei nº 11.101, de 2005, prevê que o plano de recuperação judicial será apresentado pelo devedor, em juízo, no prazo improrrogável de 60 dias, a contar da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência. 2. Todavia, o art. 47 da mencionada lei dispõe que a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor e promover a preservação da sociedade empresária, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 3. Havendo indícios de viabilidade da manutenção da atividade produtiva e dos interesses trabalhistas, fiscais e de crédito da recorrida, revela-se incabível a convolação da recuperação judicial em falência, em observância ao princípio da preservação da empresa. 4. Agravo de instrumento conhecido e não provido, mantida a decisão recebeu o plano de recuperação judicial, rejeitadas duas preliminares. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.16.058650-9/003, Relator(a): Des.(a) Caetano Levi Lopes , 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/09/2017, publicação da súmula em 21/09/2017) III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4º do art. 56 desta lei; Quando algum credor se opuser ao plano apresentado, e a assembleia convocada o rejeitar. Contudo, há exceções em que o juiz concederá a recuperação de plano rejeitado na assembleia, descritos no § 1º do art. 58. Assim: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. VIABILIDADE DA ATIVIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA PRESENTE. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 47 DA LEI Nº 11.101 DE 2005. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O art. 58, § 1º, da Lei nº 11.101, de 2005, autoriza o magistrado a conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 do mesmo diploma normativo. 2. Os quóruns previstos na Lei de Recuperação Judicial para a aprovação do plano de recuperação 7 judicial não devem ser vistos de forma absoluta em homenagem aos princípios da viabilidade da empresa e da preservação da atividade empresarial. 3. Assim, inexistindo indícios de inviabilidade da manutenção da atividadeprodutiva e dos interesses trabalhistas, fiscais e de crédito da recorrida, revela-se incabível a convolação da recuperação judicial em falência. 4. Agravo de instrumento conhecido e não provido, mantida a decisão que homologou o plano de recuperação judicial. (TJMG -Agravo de Instrumento-Cv 1.0290.15.000902-2/035, Relator(a): Des.(a) Caetano Levi Lopes , 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 05/12/0017, publicação da súmula em 13/12/2017) IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1º do art. 61 desta Lei; É a hipótese de maior abrangência, pois o plano elaborado apresenta uma série de fatores visando recuperar a empresa, e se for descumprido, demonstrará um desinteresse do devedor ao instituto, e deverá ser decretada a falência em prol dos interesses dos credores. Assim, vê-se a importância de pensar em vários detalhes na elaboração do plano, pois um fator não avaliado poderá ser futuramente a causa da convolação em falência. O parágrafo único do mesmo artigo ainda ensina que “o disposto neste artigo não impede a decretação da falência por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso III do caput do art. 94 desta Lei.” Ou seja, ainda poderá ser decretada a falência pelas causas que naturalmente levam à falência, quais sejam, impontualidade injustificada, execução frustrada ou prática de atos de falência. Quanto ao dispositivo do art. 67, caput e p.u., sobre os créditos contraídos durante a recuperação judicial, Tarcisio Teixeira (2016, pg. 440 e 441) ensina que: Como benefício aos credores que acreditaram na recuperação da empresa, que mais tarde restou infrutífera, havendo a convolação da recuperação em falência, os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores 8 de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais, devendo ser respeitada, no que couber, a ordem estabelecida no art. 83 da Lei n. 11.101/2005 (LRF, art. 67, caput). No mesmo sentido, os créditos quirografários sujeitos à recuperação judicial, pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuaram a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial [...] (grifei) A lei também ensina que na convolação da recuperação em falência, os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação praticados durante a recuperação judicial presumem-se válidos, desde que realizados na forma da LRF (art. 74). Por fim, interessante apresentar a recente jurisprudência do STJ, no REsp 1.587.559, que por unanimidade dos votos decidiu que o juiz da recuperação não pode, de ofício, decretar a convolação de plano aprovado pela assembleia. Assim, o STJ consagra que a ideia de que credores têm a supremacia na recuperação judicial e na falência, sendo o judiciário apenas a ferramenta para tais processos. EMENTA RECURSO ESPECIAL. AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO DIRIGIDO CONTRA A DECISÃO QUE CONVOLOU A RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA. OBRIGATÓRIA CONVOCAÇÃO DE NOVA ASSEMBLEIA DE CREDORES QUANDO ANULADA AQUELA QUE APROVARA O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. INEXISTENTE QUALQUER UMA DAS CAUSAS TAXATIVAS DE CONVOLAÇÃO. RECURSO ESPECIAL Nº 1.587.559 - PR (2016/0052390-6) RELATOR: MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO. BRASÍLIA (DF), 06 DE ABRIL DE 2017 (DATA DO JULGAMENTO). 9 CONCLUSÃO Este trabalho teve como objetivo atender a disciplina de Recuperação Judicial e Falência. Vimos que a lei 11.101/05 determina 4 hipóteses em que a recuperação judicial será “transformada” em falência. Essas hipóteses são, basicamente, quando a assembleia de credores rejeitar ou decidir pela reprovação do plano de recuperação, quando o plano não for apresentado ou quando for descumprido, pois assim demonstra o devedor uma desobediência ao interesse comum dos credores, que é ver o plano cumprido. Além dessas, a lei assegura a decretação da falência pelas causas comuns, expressas no art. 94 da LRF. Como dito, a recuperação é o interesse comum de todos os envolvidos (devedores, credores e poder judiciário), pois tem um interesse ainda maior, manter a atividade empresarial e todos os benefícios que ela traz ao mundo real, como circulação de bens e criação de empregos. Por isso, vemos que ao ser deferida a recuperação judicial, o devedor deve se atentar a todos os fatores que envolvem a empresa, para evitar um desgaste ainda maior, caso a falência venha a ser decretada. Vimos também que a lei assegura benefícios aos credores de créditos enquanto há recuperação judicial. Entendemos que o legislador quis, neste momento, garantir a futuros credores uma segurança, visando que eles não deixem de “fazer negócios com empresas quase falidas”, pois, se não, esse pensamento iria impedir a retomada do crescimento da empresa. Assim, os créditos contraídos durante a recuperação judicial são extraconcursais, e tem prioridade no momento do pagamento (art. 84). Por fim, vimos que o entendimento do STJ é que o poder judiciário, neste momento, é apenas instrumento, pois a assembleia de credores que dispõem dos poderes para pedir a convolação. 10 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei no 11.101. 9 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acessado em: 11/03/2018. FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 17 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. LIMIRO DA SILVA, Renaldo. Da convolação da recuperação judicial em falência. 14/11/2016. Disponível em: <https://www.recuperacaojudiciallimiro.com.br/single- post/2016/11/14/Da-convola%C3%A7%C3%A3o-da-recupera%C3%A7%C3%A3o- judicial-em-fal%C3%AAncia>. Acessado em: 11/036/2018. TEIXEIRA, Tarcisio. Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Jurisprudências do TJMG disponíveis em: <www.tjmg.jus.br/portal- tjmg/jurisprudencia/> Jurisprudências do STJ disponíveis em: <www.stj.jus.br>.
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