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AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS INTEGRADAS A AÇÕES URBANÍSTICAS EM FAVELAS VERTICAIS PARA CONTROLE DE CHEIAS. ESTUDO DE CASO: FAVELA SAQUAÇU/RJ. Gabriela Lins Veiga Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Marcelo Gomes Miguez Rio de Janeiro Julho de 2014 AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS INTEGRADAS A AÇÕES URBANÍSTICAS EM FAVELAS VERTICAIS PARA CONTROLE DE CHEIAS. ESTUDO DE CASO: FAVELA SAQUAÇU/RJ. Gabriela Lins Veiga DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Examinada por: ________________________________________________ Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc. ________________________________________________ Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D. ________________________________________________ Prof. Vladimir Caramori Borges de Souza, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JULHO DE 2014 iii Veiga, Gabriela Lins Avaliação de técnicas compensatórias integradas a ações urbanísticas em favelas verticais para controle de cheias. Estudo de caso: favela Saquaçu/RJ/ Gabriela Lins Veiga. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2014. XIII, 135 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Marcelo Gomes Miguez Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Civil, 2014. Referências Bibliográficas: p. 127-135. 1. Drenagem urbana. 2. Técnicas compensatórias. 3. Favelas verticais. 4. Modelo de Células de Escoamento. I. Miguez, Marcelo Gomes. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III. Título. iv Dedico esta dissertação aos meus pais, César e Mônica, e a minha avó, Beca (in memorian), por todo amor e incentivo. v AGRADECIMENTOS A Deus. Aos meus pais, César e Mônica, e a minha irmã, Renata, por todo amor, compreensão e apoio no decorrer dos meus estudos. A minha família, por todo o estímulo. Ao meu namorado, Pedro, por todo amor e carinho e por toda ajuda e compreensão durante a realização do trabalho. Ao meu orientador, professor Marcelo Miguez, pela dedicação, paciência, incentivo, conselhos e ensinamentos durante este período. Aos professores José Paulo Azevedo e Paulo Carneiro, pelas sugestões que contribuíram para a melhoria deste trabalho. Aos professores José Paulo Azevedo e Vladimir Caramori, pela gentileza em aceitarem o convite para participar da banca. Aos colegas da COPPE, pelo convívio e por toda a ajuda durante a elaboração desta dissertação. Aos amigos que dividiram comigo a experiência de morar no Rio, pelos momentos maravilhosos. A todos os meus amigos, pelo apoio e momentos compartilhados. Aos eternos membros do PET Engenharia Civil, pelas lições e conselhos. Ao CNPq, pelo auxílio financeiro concedido. A todas as pessoas que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. vi Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS INTEGRADAS A AÇÕES URBANÍSTICAS EM FAVELAS VERTICAIS PARA CONTROLE DE CHEIAS. ESTUDO DE CASO: FAVELA SAQUAÇU/RJ. Gabriela Lins Veiga Julho/2014 Orientador: Marcelo Gomes Miguez Programa: Engenharia Civil O intenso crescimento populacional recente associado ao desenvolvimento das cidades e suas altas taxas de impermeabilização agravam o quadro das inundações urbanas. Os sistemas de drenagem tradicionais, com intuito de escoar as águas pluviais com a maior rapidez possível, promovem muitas vezes a simples transferência das cheias para jusante. O presente trabalho insere-se nesse contexto abordando uma concepção mais sustentável para a gestão das águas pluviais urbanas, bem como apresentando alternativas de drenagem e de urbanização mais flexíveis para Zonas Especiais de Interesse Social. Assim, apresenta como objetivo a avaliação e a proposição de medidas compensatórias integradas a soluções urbanísticas para o controle de cheias voltadas para favelas verticais, com aplicação dos conceitos apresentados à favela Saquaçu, localizada no município do Rio de Janeiro. A escolha por voltar o estudo para favelas verticais, que geralmente apresentam escoamento das águas pluviais sem controle, se deu principalmente pela dificuldade de implantação e operacionalização de sistemas de drenagem tradicionais nestes locais. Este trabalho faz uso de modelagem hidrodinâmica por meio do Modelo de Células de Escoamento (MODCEL) para avaliar as concepções de intervenções propostas. vii Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) EVALUATION OF COMPENSATORY TECHNICS INTEGRATED WITH URBANISTICS ACTIONS FOR FLOOD CONTROL IN VERTICAL SLUMS. A CASE STUDY IN SAQUAÇU SLUM/RJ. Gabriela Lins Veiga July/2014 Advisor: Marcelo Gomes Miguez Department: Civil Engineering The intense and recent population growth brought with the development of cities and their high rates of imperviousness aggravates the urban flooding occurrences. The traditional drainage systems, designed to drain the stormwaters as quickly as possible, often promote the simple transferring of flooding downstream. This work tries to address a more sustainable design for the management of urban stormwater, as well as presents alternative and more flexible propositions for drainage and urbanization approaches in Special Zones of Social Interest. Therefore, it aims to evaluate suggestions of compensatory measures integrated to urban solutions for flood control, oriented to vertical slums, using the case study of Saquaçu slum as an example, located in the city of Rio de Janeiro. The choice to focus the study in vertical slums, which frequently drain stormwaters without any control, was mainly due to the difficulty of implementation and operationalization of traditional drainage systems at these places. This work makes use of hydrodynamic modeling through the Flow Cell Model (MODCEL) to evaluate the proposed interventions. viii ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 1.1 Contextualização e motivação ................................................................................ 2 1.2 Objetivos ................................................................................................................. 4 1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 4 1.2.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 4 1.3 Procedimentometodológico ................................................................................... 5 1.4 Escopo do trabalho ................................................................................................. 6 2 DRENAGEM URBANA E CHEIAS ............................................................................ 7 2.1 Evolução da drenagem urbana ................................................................................ 7 2.2 Drenagem urbana clássica ...................................................................................... 8 2.3 Drenagem urbana sustentável ............................................................................... 11 2.4 Cheias urbanas ...................................................................................................... 13 2.4.1 Medidas de controle das cheias urbanas ........................................................ 14 3 PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO E FAVELAS .................................................... 24 3.1 Desenvolvimento da urbanização e instrumentos de regulação urbana ............... 24 3.2 Urbanização em Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS .............................. 31 3.3 Favelas .................................................................................................................. 35 3.3.1 Drenagem urbana nas favelas verticais ......................................................... 39 4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 42 4.1 Caracterização da área de estudo .......................................................................... 42 4.2 Projeto de urbanização.......................................................................................... 45 4.3 Projetos de drenagem............................................................................................ 50 4.3.1 Projeto de drenagem tradicional .................................................................... 52 4.3.2 Projetos de drenagem tradicionais flexibilizados para a ZEIS ...................... 55 4.4 Chuvas de projeto para os cenários de modelagem matemática propostos .......... 56 4.5 Modelagem hidrodinâmica com o Modelo de Células de Escoamento – MODCEL ................................................................................................................... 58 4.6 Cenários propostos ............................................................................................... 62 4.6.1 Cenário 1 – Drenagem tradicional ................................................................. 64 4.6.2 Cenário 2 – Drenagem tradicional flexibilizada para a ZEIS ........................ 66 4.6.3 Cenário 3 – Drenagem tradicional flexibilizada para a ZEIS aplicada a toda a área de estudo ............................................................................................... 68 4.6.4 Cenário 4 – Reservatórios de lote .................................................................. 73 4.6.5 Cenário 5 – Telhados verdes ......................................................................... 75 4.6.6 Cenário 6 – Reservatórios em praças ............................................................ 77 ix 4.6.7 Cenário 7 – Reservatórios de lote e telhados verdes ..................................... 80 4.6.8 Cenário 8 – Reservatórios de lote, telhados verdes e reservatórios em praças ...................................................................................................................... 80 5 RESULTADOS ........................................................................................................... 82 5.1 Resultados da modelagem dos cenários propostos para avaliação dos projetos de drenagem ................................................................................................................ 82 5.2 Resultados da modelagem dos cenários propostos para avaliação do projeto de drenagem tradicional flexibilizado para a ZEIS complementado por técnicas compensatórias ........................................................................................................... 88 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................. 121 6.1 Conclusões .......................................................................................................... 121 6.2 Recomendações .................................................................................................. 125 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 127 x LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Canalização pelo poder público do córrego Pirajá em Belém/PA (a) e desenvolvimento de cidade informal próximo ao arroio Moinho em Porto Alegre/RS (b). .................................................................................................................................. 10 Figura 2 – Comparação entre os conceitos de canalização e reservação........................ 15 Figura 3 – Composição dos pavimentos permeáveis...................................................... 17 Figura 4 – Seção transversal típica dos telhados verdes. ................................................ 18 Figura 5 – Exemplos de bacia de retenção (a) e bacia de detenção (b). ......................... 19 Figura 6 – Típica trincheira de infiltração. ..................................................................... 20 Figura 7 – Funcionamento do sistema de previsão e alerta. ........................................... 22 Figura 8 – Representação do zoneamento das áreas inundáveis. ................................... 23 Figura 9 – Limites da área estudada e da favela Saquaçu segundo o IPP. ..................... 44 Figura 10 – Plantas cadastrais referentes à região estudada. .......................................... 45 Figura 11 – Planta resultante da urbanização formal. .................................................... 47 Figura 12 – Planta resultante da urbanização adaptada. ................................................. 49 Figura 13 – Regiões da área de estudo. .......................................................................... 50 Figura 14 – Distribuição temporal da chuva para tempo de recorrência de 10 anos. ..... 58 Figura 15 – Distribuição temporal da chuva para tempo de recorrência de 25 anos. ..... 58 Figura 16 – Etapas para aplicação do MODCEL a uma região hipotética. .................... 61 Figura 17 – Projeto de drenagem tradicional. ................................................................ 64 Figura 18 – Divisão da área em células de escoamento para o cenário 1....................... 65 Figura 19 – Esquema topológico para modelagem do cenário 1. ................................... 65 Figura 20 – Projeto de drenagem tradicional flexibilizado. ........................................... 66 Figura 21 – Divisão da área em células de escoamento para o cenário 2....................... 67 Figura 22 – Esquema topológico para modelagem do cenário 2. ................................... 67 Figura 23 – Projeto de drenagem tradicional flexibilizado para a favela Saquaçu. ....... 69 Figura 24 – Divisão da área em células de escoamento para o cenário 3....................... 70 Figura 25 – Esquema topológico para modelagem do cenário 3 (parte 1). .................... 71 Figura 26 – Esquema topológico para modelagem do cenário 3 (parte 2). .................... 72 xi Figura 27 – Telhado verde implantado no Morro da Babilônia. .................................... 75 Figura 28 – Localização das praças propostas................................................................ 77 Figura 29 – Praça utilizada como reservatório de detenção........................................... 78 Figura 30 – Ligações das praças com a rede de drenagem. ............................................ 79 Figura 31 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 10 anos (cenário 1). .................................................................................................................................... 83 Figura 32 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 10 anos (cenário 1). ........................................................................................................ 84 Figura 33 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 10 anos (cenário 2). .................................................................................................................................... 85 Figura 34 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 10 anos (cenário 2). ........................................................................................................ 86 Figura 35 – Hidrogramas totais de saída da região 1 para chuva com TR = 10 anos (cenários 1 e 2). .............................................................................................................. 87 Figura 36 – Hidrogramas totais de saída da região 1 (cenário 3). .................................. 88 Figura 37 – Hidrogramas totais de saída da região 2 (cenário 3). .................................. 89 Figura 38 – Hidrogramas totais de saída da região 3 (cenário 3). .................................. 89 Figura 39 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 10 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 90 Figura 40 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 10 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 90 Figura 41 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 10 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 91 Figura 42 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 91 Figura 43 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 92 Figura 44 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3). .................................................................................................................................... 92 Figura 45 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 10 anos (cenário 3). ........................................................................................................ 93 xii Figura 46 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 25 anos (cenário 3). ........................................................................................................ 93 Figura 47 – Hidrogramas totais de saída da região 1 antes (cenário 3) e depois (cenário 4) da implantação dos reservatórios de lote para chuva com TR = 25 anos. ... 94 Figura 48 – Hidrogramas totais de saída da região 2 antes (cenário 3) e depois (cenário 4) da implantação dos reservatórios de lote para chuva com TR = 25 anos. ... 95 Figura 49 – Hidrogramas totais de saída da região 3 antes (cenário 3) e depois (cenário 4) da implantação dos reservatórios de lote para chuva com TR = 25 anos. ... 95 Figura 50 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 4). .................................................................................................................................... 96 Figura 51 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 4). .................................................................................................................................... 96 Figura 52 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 4). .................................................................................................................................... 97 Figura 53 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 25 anos (cenário 4). ........................................................................................................ 97 Figura 54 – Hidrogramas totais de saída da região 1 antes (cenário 3) e depois (cenário 5) da implantação dos telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ........... 98 Figura 55 – Hidrogramas totais de saída da região 2 antes (cenário 3) e depois (cenário 5) da implantação dos telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ........... 98 Figura 56 – Hidrogramas totais de saída da região 3 antes (cenário 3) e depois (cenário 5) da implantação dos telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ........... 99 Figura 57 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 5). .................................................................................................................................. 100 Figura 58 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 5). .................................................................................................................................. 100 Figura 59 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 5). .................................................................................................................................. 101 Figura 60 – Níveis d’água máximos em um trecho da galeria para chuva com TR = 25 anos (cenário 5). ...................................................................................................... 101 xiii Figura 61 – Hidrogramas totais de saída da região 1 antes (cenário 3) e depois (cenário 6) da implantação das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ...................................................................... 102 Figura 62 – Hidrogramas totais de saída da região 2 antes (cenário 3) e depois (cenário 6) da implantação das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ...................................................................... 103 Figura 63 – Hidrogramas totais de saída da região 3 antes (cenário 3) e depois (cenário 6) da implantação das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ...................................................................... 103 Figura 64 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). .................................................................................................................................. 104 Figura 65 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). .................................................................................................................................. 105 Figura 66 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). .................................................................................................................................. 105 Figura 67 – Hidrogramas de entrada e saída da praça 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). ........................................................................................................... 106 Figura 68 –Hidrogramas de entrada e saída da praça 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). ........................................................................................................... 106 Figura 69 – Hidrogramas de entrada e saída da praça 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 6). ........................................................................................................... 107 Figura 70 – Hidrogramas totais de saída da região 1 antes (cenário 3) e depois (cenário 7) da implantação de reservatórios de lote e telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ............................................................................................................... 108 Figura 71 – Hidrogramas totais de saída da região 2 antes (cenário 3) e depois (cenário 7) da implantação de reservatórios de lote e telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ............................................................................................................... 108 Figura 72 – Hidrogramas totais de saída da região 3 antes (cenário 3) e depois (cenário 7) da implantação de reservatórios de lote e telhados verdes para chuva com TR = 25 anos. ............................................................................................................... 109 Figura 73 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 7). .................................................................................................................................. 110 xiv Figura 74 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 7). .................................................................................................................................. 110 Figura 75 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 7). .................................................................................................................................. 111 Figura 76 – Hidrogramas totais de saída da região 1 antes (cenário 3) e depois (cenário 8) da implantação dos reservatórios de lote, dos telhados verdes e das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ......... 112 Figura 77 – Hidrogramas totais de saída da região 2 antes (cenário 3) e depois (cenário 8) da implantação dos reservatórios de lote, dos telhados verdes e das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ......... 112 Figura 78 – Hidrogramas totais de saída da região 3 antes (cenário 3) e depois (cenário 8) da implantação dos reservatórios de lote, dos telhados verdes e das praças que funcionam como reservatórios de detenção para chuva com TR = 25 anos. ......... 113 Figura 79 – Hidrogramas de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). .................................................................................................................................. 114 Figura 80 – Hidrogramas de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). .................................................................................................................................. 114 Figura 81 – Hidrogramas de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). .................................................................................................................................. 115 Figura 82 – Hidrogramas de entrada e saída da praça 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). ........................................................................................................... 115 Figura 83 – Hidrogramas de entrada e saída da praça 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). ........................................................................................................... 116 Figura 84 – Hidrogramas de entrada e saída da praça 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 8). ........................................................................................................... 116 Figura 85 – Hidrogramas totais de saída da região 1 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3, 4, 5, 6, 7 e 8). .............................................................................................. 117 Figura 86 – Hidrogramas totais de saída da região 2 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3, 4, 5, 6, 7 e 8). .............................................................................................. 118 Figura 87 – Hidrogramas totais de saída da região 3 para chuva com TR = 25 anos (cenário 3, 4, 5, 6, 7 e 8). .............................................................................................. 118 xv LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Comparação entre os conceitos de canalização e reservação. ...................... 15 Tabela 2 – Vantagens e desvantagens dos pavimentos permeáveis. .............................. 17 Tabela 3 – Classes de uso do solo e cobertura vegetal do bairro Paciência. .................. 43 Tabela 4 – Área das regiões consideradas. ..................................................................... 51 Tabela 5 – Coeficientes da equação IDF para o pluviômetro Santa Cruz. ..................... 53 Tabela 6 – Cenários simulados no trabalho. ................................................................... 63 Tabela 7 – Tipos de células e ligações utilizadas. .......................................................... 63 Tabela 8 – Curva cota-área da célula 549....................................................................... 79 Tabela 9 – Diâmetros e extensões das tubulações e quantidade de poços de visita e caixas de ralo da rede de drenagem correspondente ao cenário 1. ................................. 83 Tabela 10 – Diâmetros e extensões das tubulações e quantidade de poços de visita e caixas de ralo da rede de drenagem correspondente ao cenário 2. ................................. 84 Tabela 11 – Comparação entre os diâmetros e extensões das tubulações e a quantidade de poços de visita e caixas de ralo das redes de drenagem correspondentes aos cenários 1 e 2. ................................................................................ 86 Tabela 12 – Vazões máximas totais de saída da região 1 e tempos de pico para chuva com TR = 10 anos. .......................................................................................................... 87 Tabela 13 – Vazões máximas totais de saída da região 1 e tempos de pico para chuva com TR = 25 anos. ........................................................................................................ 119 Tabela 14 – Vazões máximas totais de saída da região 2 e tempos de pico para chuva com TR = 25 anos. ........................................................................................................ 119 Tabela 15 – Vazões máximas totais de saída da região 3 e tempos de pico para chuva com TR = 25 anos. ........................................................................................................ 120 1 1 INTRODUÇÃO A água constitui um recurso natural essencial para a existência da vida e, consequentemente, para a sobrevivência humana, sendo sua presença no ambiente natural e construído, portanto, de fundamental importância. Ela circula na natureza em três estados físicos (líquido, sólido e gasoso) através do importante fenômeno denominado ciclo hidrológico. Segundo Silveira (1993), “o ciclo hidrológico é o fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre”. Entre os processos que compõem o ciclo, merecem destaque as precipitações, que transportam a água da atmosfera para a superfícieterrestre e são responsáveis pelo abastecimento de grande parte dos centros urbanos e pelo fornecimento de recursos à população. No entanto, com a ocorrência de processos como o crescimento urbano e a urbanização não planejada, há uma interferência humana sobre o ciclo hidrológico, o que ocasiona modificações relevantes em suas parcelas. Dentre elas, é possível mencionar a redução do armazenamento de água na superfície, a redução da infiltração no solo e o decorrente aumento do volume escoado superficialmente, os quais promovem um aumento na ocorrência e magnitude de inundações urbanas em períodos de chuva. As cheias urbanas despontam como uma das principais consequências da interferência humana no ciclo hidrológico, constituindo um dos grandes problemas enfrentados atualmente pelas cidades, levando à possibilidade de graves danos ambientais, econômicos e sociais, incluindo prejuízos à saúde pública e a perda de vidas. A importância da drenagem urbana surge nesse contexto ao objetivar, originalmente, a coleta, o escoamento e a disposição final das águas pluviais, bem como impedir seu acúmulo em áreas de interesse para a ocupação humana, e avançando para conceitos de recuperação do ciclo hidrológico e integrando-se com a paisagem urbana em medidas diversas também de infiltração e armazenagem. A drenagem urbana engloba, portanto, todas as medidas desenvolvidas para prevenção de inundações urbanas. 2 1.1 Contextualização e motivação O Brasil apresentou em meados do século XX um grande crescimento populacional associado a um processo intenso de ocupação urbana, aumentando, com isso, as taxas de impermeabilização das superfícies. A população urbana brasileira aumentou de 18,8 milhões de habitantes em 1940 para cerca de 138 milhões em 2000, segundo dados do IBGE. Isto, todavia, não foi acompanhado pelo desenvolvimento da infraestrutura das cidades, a exemplo dos serviços de drenagem, o que proporcionou um crescimento na ocorrência das inundações urbanas. Inicialmente, adotou-se os sistemas de drenagem tradicionais para solucionar os problemas de inundação. Eles têm a finalidade de transportar as águas coletadas com a maior rapidez possível para regiões de jusante e são constituídos principalmente por medidas de canalização e retificação dos cursos d’água. No entanto, a rápida retirada das águas pluviais do ambiente urbano soluciona os problemas apenas de forma localizada, por determinado período de tempo e acarreta a transferência de riscos de inundação para outras áreas da bacia hidrográfica. A implantação das redes de drenagem e o aumento da impermeabilização do solo podem causar um acréscimo de até 6 vezes nas vazões máximas decorrentes de um evento de precipitação (LEOPOLD, 1968). Os efeitos negativos obtidos com a implantação dos sistemas clássicos de drenagem, desse modo, estimularam uma evolução nas soluções adotadas. Em muitos casos, essas soluções passaram a ser complementadas ou substituídas por medidas de caráter mais sustentável, que buscam a redução dos impactos causados pela ocupação urbana imprópria sobre o ciclo hidrológico e a aproximação do escoamento das condições naturais existentes na bacia através de dispositivos que promovem o armazenamento, a infiltração e a detenção das águas pluviais. Além disso, o conhecimento e a previsão do comportamento dos corpos hídricos e dos padrões de escoamento na área urbana são fundamentais para reduzir a ocorrência das inundações e permitir o desenvolvimento das cidades. É a partir deles que se torna possível evitar os prejuízos aos serviços básicos de infraestrutura, bem como a perda de vidas e bens materiais, além de permitir o uso dos eventuais corpos d’água para fins diversos, como o abastecimento e transporte. A modelagem matemática e computacional, nesse contexto, pode ser utilizada como ferramenta de apoio à avaliação do problema e à proposição de medidas para contorná- 3 lo. Os modelos matemáticos são constituídos por equações matemáticas desenvolvidas a fim de representar fenômenos naturais. Neste cenário, podem ser utilizados para verificar os padrões de escoamento e as áreas que correm risco de alagamento; bem como avaliar como se dá o comportamento das águas com a introdução de obras de engenharia e auxiliar nos sistemas de previsão e alerta. O presente trabalho preocupa-se, assim, com o estudo do aprimoramento do comportamento das águas pluviais na superfície, evitando a ocorrência de inundações e promovendo a integração urbana e social de uma determinada região, de ocupação irregular, configurando uma favela vertical na cidade do Rio de janeiro, que será objeto de estudo do trabalho. Para isso, serão propostas medidas compensatórias integradas a ações urbanísticas dispostas em diferentes cenários, que serão simulados através da modelagem hidrodinâmica por meio do Modelo de Células de Escoamento – MODCEL. Por ser considerado um modelo quasi-bidimensional, ele apresenta a vantagem de representar o escoamento em várias direções, trabalhando apenas com equações unidimensionais. O MODCEL, portanto, é capaz de representar a complexidade do comportamento das bacias urbanas pelo uso de diferentes tipos de células e ligações, permitindo a interação de elementos da paisagem urbana, como ruas e praças, com a rede de drenagem. Ademais, o modelo vem sendo aprimorado e utilizado em diversos trabalhos voltados para solucionar o problema das inundações, com a obtenção de resultados satisfatórios, tais como: Rodrigues (2008), Rezende (2010), Veról et al (2011), Vidal (2012) e Bahiense (2013). A escolha por voltar o estudo para favelas verticais se deu principalmente pela dificuldade de implantação e operacionalização de seus sistemas de drenagem, em virtude do pouco espaço disponível, e porque esta é uma situação frequente na cidade do Rio de Janeiro. A irregularidade do perfil topográfico, que apresenta como regra uma grande declividade, associado ao excessivo adensamento populacional e à presença demasiada de áreas de risco, levam a um escoamento superficial de águas pluviais descontrolado, criando desafios para a implementação de sistemas de drenagem efetivos. No mesmo sentido, a necessidade de projetos com custos compatíveis com a realidade local e de simples manutenção também se colocam como exigências para o planejamento desses sistemas. Outro desafio é o de minimizar a transferência destas vazões descontroladas para as áreas baixas formais que se encontram a jusante. 4 Ademais, especificando o objeto de análise desse trabalho, escolheu-se a favela Saquaçu, localizada no bairro Paciência do município do Rio de Janeiro, como área de estudo, uma vez que além de constituir uma favela vertical, é uma das regiões compreendidas pelo programa Morar Carioca, um concurso lançado pela Prefeitura da Cidade, com o intuito de gerar projetos que têm por objetivo a integração à cidade formal de assentamentos precários informais por meio de sua urbanização, a fim de melhorar as condições de vida da população. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral O presente trabalho tem como seu objetivo maior propor e avaliar soluções urbanísticas e sustentáveis para o controle de cheias voltadas para favelas verticais. Para isto, será introduzida uma flexibilização no projeto de drenagem, considerando a favela como Zona Especial de Interesse Social e trazendo o uso de técnicas compensatórias para este conjunto de solução. Os conceitos apresentados serão aplicados à favela Saquaçu, utilizando a modelagem hidrodinâmica por meio do Modelo de Células de Escoamento para avaliar as propostas. 1.2.2 Objetivos específicos Discutir alternativasde urbanização formal e de urbanização em Zonas Especiais de Interesse Social; Desenvolver o projeto de drenagem convencional de área pertencente à favela Saquaçu a partir do cumprimento das instruções técnicas municipais e recomendações encontradas na literatura, como previsto para as áreas de urbanização formal; Desenvolver o projeto de drenagem convencional flexibilizado para a mesma área, partindo da premissa de que ela constitui uma Zona Especial de Interesse Social, cujas disposições normativas apresentam caráter mais moderado e que se aceita relevar algumas das condições de projeto desenvolvidas para uma área formal; 5 Selecionar a concepção de drenagem que apresenta maior viabilidade de implantação nas favelas verticais e desenvolver o projeto de drenagem para toda a área de estudo; Propor variantes de projetos complementares, que utilizam técnicas compensatórias integradas a ações urbanísticas para o controle de cheias na favela Saquaçu, de modo a controlar também as vazões entregues a jusante. 1.3 Procedimento metodológico A realização do presente trabalho pode ser deduzida através das seguintes etapas metodológicas: Revisão bibliográfica acerca do tema; Definição da favela Saquaçu como estudo de caso e do modelo matemático MODCEL como instrumento para simulação hidrodinâmica; Coleta das informações e materiais necessários à confecção do trabalho; Apropriação dos projetos de tração urbano realizados para a área, considerando os índices urbanísticos formais e a flexibilização destes índices, para uma Zona Especial de Interesse Social, tomando como referência o trabalho anterior de Corbani (2013); Elaboração dos projetos de drenagem tradicional e tradicional flexibilizado para área da favela Saquaçu; Aplicação do MODCEL aos casos supracitados a fim de verificar os padrões de escoamento e escolha e aplicação da concepção de projeto mais viável para toda a área de estudo; Seleção de medidas compensatórias com aplicabilidade à favela e definição de cenários para avaliação; Simulação dos cenários propostos através do MODCEL; Análise e discussão dos efeitos gerados pela simulação hidrodinâmica de cada cenário. 6 1.4 Escopo do trabalho A dissertação foi dividida em seis capítulos: Introdução; Drenagem urbana e cheias; Processos de urbanização e favelas; Metodologia; Resultados; Conclusões e recomendações. O presente capítulo trouxe uma visão geral do conteúdo do trabalho, mostrando sua relevância e a motivação para a escolha do tema, bem como apresentou os objetivos e uma síntese das etapas metodológicas desenvolvidas para alcançá-los. Após este primeiro capítulo, o capítulo 2 será constituído de uma revisão bibliográfica acerca dos conceitos relativos à drenagem urbana e sua evolução, desde as concepções iniciais adotadas na drenagem clássica até a busca por soluções de caráter sustentável. Nesse contexto, também serão abordadas as cheias e as medidas para controlá-las. Em seguida, o terceiro capítulo irá tratar do processo de urbanização, tanto quanto da descrição dos instrumentos que promovem a regulação urbana. Nesse sentido, serão apresentadas as disposições legais e as normas técnicas que regem uma urbanização mais formal, como também aqueles que permitem uma maior flexibilização, com destaque para as Zonas Especiais de Interesse Social. Este capítulo ainda trará uma análise dos principais aspectos sobre as favelas. Serão descritas suas características e os problemas enfrentados para sua integração urbana, bem como se discutirá as dificuldades para a implantação e manutenção dos sistemas de drenagem nas favelas verticais. Já o quarto capítulo explicará a metodologia utilizada na dissertação e especificará os materiais necessários à sua realização. Assim, será apresentada uma caracterização da favela Saquaçu, objeto de estudo do trabalho, e uma descrição sucinta sobre o MODCEL, ferramenta escolhida para modelagem hidrodinâmica. Serão relatados, também, os estudos hidrológicos desenvolvidos e se apresentarão os projetos de urbanização, de drenagem e os cenários propostos. No capítulo 5, a seu turno, serão expostos os resultados de cada cenário simulado com o MODCEL, acompanhados de discussões e análises comparativas, permitindo um confronto entre os efeitos positivos e negativos decorrentes de cada projeto adotado. Por fim, no capítulo 6 serão mostradas as considerações finais obtidas com a elaboração da dissertação, relatando-se as conclusões do estudo e recomendações para trabalhos futuros dentro do tema apresentado. 7 2 DRENAGEM URBANA E CHEIAS O presente capítulo trata da drenagem urbana, explicando como se deu seu desenvolvimento e apresentando duas abordagens que podem ser utilizadas na concepção de um projeto, são elas: a tradicional e a sustentável. Neste capítulo será discutido, ainda, o fenômeno das cheias urbanas, mencionando suas causas e efeitos, bem como as medidas que podem ser implementadas para controlá-las. 2.1 Evolução da drenagem urbana O ser humano busca, no meio ambiente, recursos naturais essenciais para a realização das atividades necessárias para sua sobrevivência. A água, como o principal recurso para tanto, torna-se fator determinante para a forma de disposição do homem no ambiente, o qual vai ocupar as proximidades dos cursos d’água, facilitando o abastecimento, despejo de resíduos, transporte, geração de energia, proteção militar, entre outros. A partir de meados do século XIX, com um intenso crescimento populacional associado ao desenvolvimento das cidades, devido principalmente à Revolução Industrial, as cheias urbanas passaram a trazer dificuldades para a população, o que chamou atenção para a carência de infraestrutura referente às águas pluviais e residuais (BAPTISTA; NASCIMENTO; BARRAUD, 2005). As inundações tornaram-se um problema relevante, visto que além de provocar danos materiais e prejudicar a circulação e o conforto da população, causam doenças de veiculação hídrica e até mortes. Surgem, assim, os sistemas clássicos de drenagem, os quais se baseiam no conceito higienista, que visa à remoção das águas pluviais para mais longe e o mais rápido possível das cidades (GOLDENFUM et al, 2007). No entanto, as cidades cresceram, o que aumentou a proximidade entre elas e, devido à concepção higienista utilizada, as cidades de montante acabam transferindo problemas para as de jusante. Além disso, esse sistema que considera apenas a eficiência hidráulica da rede, sem contemplar aspectos ambientais, sociais e estéticos, adicionado a sistemas de coleta e tratamento de lixo e esgoto inadequados, acarreta na degradação da qualidade dos corpos d’água e do próprio ambiente urbano. Ficou evidente a necessidade de uma nova concepção da drenagem urbana. Desta forma, as cidades passam para uma fase corretiva, a qual engloba o tratamento do esgoto e o 8 amortecimento das cheias. Com a mudança, houve uma melhoria no ambiente urbano, mas ainda permaneceu distante de uma situação ideal. Era necessário, então, atuar de forma preventiva no problema e surge a ideia de desenvolvimento ambientalmente sustentável, no qual se torna essencial o gerenciamento integrado das diversas áreas da infraestrutura da cidade, voltando-se à preservação, recuperação ou compensação dos processos do ciclo hidrológico que estavam presentes no comportamento da bacia hidrográfica anteriormente à ocupação urbana, tais como a infiltração, a interceptação e os tempos de escoamento na rede natural de drenagem. A partir da ideia de drenagem urbana sustentável surgem novos conceitos, tais como:Melhores Práticas de Gerenciamento (Best Management Practices – BMPs), Sistemas de Drenagem Urbana Sustentável (Sustainable Urban Drainage Systems – SUDS) e Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development – LID) (ZHOU, 2014). O avanço nas medidas de manejo das águas pluviais foi mais lento nos países emergentes, no entanto, já é possível observar diversos estudos na área no Brasil. Neste, as soluções que se baseiam nessa concepção sustentável de drenagem urbana são conhecidas como técnicas compensatórias. Vale ressaltar que, por ser um país em desenvolvimento, a implantação das medidas selecionadas encontra diversos desafios econômicos e sociais. 2.2 Drenagem urbana clássica Drenagem corresponde à infraestrutura destinada a realizar a coleta, o escoamento e a disposição das águas precipitadas e visa impedir o seu acúmulo em áreas de interesse para a ocupação humana. Desta forma, é constituída por todas as medidas adotadas para solucionar os problemas relacionados às inundações. A drenagem urbana restringe-se às soluções voltadas para as cidades. Estas, depois de implantadas, alteram o percurso das águas da chuva, tanto de forma qualitativa quanto quantitativa, e o escoamento passa a ser estabelecido tanto pela topografia quanto pelos variados componentes da topologia urbana, como ruas, canais, rios, galerias, parques, entre outros. Os sistemas convencionais de manejo de águas pluviais objetivam a coleta das águas das chuvas nas malhas urbanas e seu direcionamento final para um corpo d’água receptor. São formados, portanto, por elementos que controlam e conduzem o escoamento, o que 9 significa o emprego de algumas medidas, como a canalização e a retificação dos cursos d’água (CARDOSO; BAPTISTA, 2008). A utilização desse tipo de técnica, de cunho considerado tradicional, associada ao crescimento populacional e consequente aumento da ocupação urbana, tende a transportar os problemas para jusante. Em seguida, quando o volume de água excede a capacidade da estrutura que o suporta, é possível verificar a ocorrência de extravasamentos e alagamentos. CRUZ et al (2001) destacam que as obras de canalização dos cursos d’água, com vistas à utilização do espaço associado às planícies fluviais para ocupação urbana, podem ser realizadas pelo próprio poder público, oficialmente, bem como, de modo natural (e irregular), pelo crescimento de cidades informais, como é o caso das favelas. Ambas as situações podem ser visualizadas na Figura 1a e na Figura 1b. a) 10 b) Figura 1 – Canalização pelo poder público do córrego Pirajá em Belém/PA (a) e desenvolvimento de cidade informal próximo ao arroio Moinho em Porto Alegre/RS (b). (Fonte: CRUZ et al, 2001) Os sistemas de drenagem podem ser classificados em dois subsistemas principais: microdrenagem e macrodrenagem. O primeiro destina-se a captar e conduzir as águas pluviais até o segundo. A microdrenagem, portanto, responde pela captação em nível de lote, enquanto a macrodrenagem é responsável pelo escoamento final das águas e compreende áreas significativas, de no mínimo 2 km². Microdrenagem A microdrenagem é formada por condutos e canais existentes em loteamento ou rede primária urbana. Segundo Miguez, Mascarenhas e Veról (2011), o dimensionamento da rede de drenagem de águas pluviais pela forma tradicional pode ser resumido nas seguintes etapas: definição das sub-bacias de contribuição; traçado dos condutos, que deve integrar aspectos como os padrões de urbanização, a topografia e o trajeto natural percorrido pela água; determinação da chuva de projeto, a partir de um tempo de recorrência; cálculo das vazões de projeto; dimensionamento hidráulico da rede de drenagem. O sistema de microdrenagem é constituído por elementos como o pavimento das ruas, sarjetas, bocas de lobo, galerias, entre outros. Algumas das definições desses componentes apresentadas por Rio de Janeiro (2010) são mostradas a seguir: Sarjeta: é o canal longitudinal, geralmente de formato triangular, delimitado pelo meio-fio e a faixa pavimentada da via pública, destinado a coletar e conduzir as águas superficiais aos ralos e bocas de lobo. 11 Sarjetão: canais auxiliares utilizados para guiar o fluxo de água na travessia de ruas transversais ou desviar o fluxo de um lado para outro da rua. Boca de lobo: estrutura de captação, com abertura livre, localizada junto ao meio-fio que capta as águas superficiais e as conduz às galerias ou canais. Galerias de águas pluviais: é o conjunto dos condutos, abertos ou fechados, de formas geométricas variáveis, que veiculam por gravidade as águas recebidas pelas estruturas de captação até um corpo receptor. Poço de visita: é o dispositivo componente das redes de drenagem, localizado em pontos convenientes do sistema de drenagem, que intercepta as galerias e ramais de ralo, sendo um ponto de inspeção e limpeza. Macrodrenagem A macrodrenagem abrange a rede de escoamento natural, ou seja, aquela existente anteriormente ao processo de ocupação urbana e as intervenções hidráulicas executadas nela. Desta forma, constitui-se por rios e canais ou galerias de grande porte, que recebem as águas provenientes da microdrenagem e as despejam nos corpos d’água receptores. Entre as obras usualmente realizadas na macrodrenagem, podem-se citar a retificação dos cursos d’água e a adequação da geometria dos canais devido ao aumento das superfícies impermeabilizadas. No entanto, frequentemente a macrodrenagem não funciona adequadamente, seja pela ausência de manutenção ou pela obsolescência. Outras vezes, o dimensionamento é realizado para um certo horizonte futuro que acaba ultrapassado por alterações futuras, como o aumento descontrolado de áreas impermeabilizadas na bacia hidrográfica, a ocupação de áreas de risco e o crescimento de favelas. A deficiência dos sistemas de microdrenagem e macrodrenagem tem como resultados prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Como consequências, tem-se o escoamento das águas sobre as ruas e a ocorrência de grandes alagamentos, os quais são formados por águas de má qualidade e que podem causar sérios estragos com consequências irreversíveis. 2.3 Drenagem urbana sustentável O sistema de drenagem clássico, com intuito de escoar as águas pluviais com a maior rapidez possível, foi compatível com a necessidade das cidades durante muito tempo. Todavia, com o crescimento intenso da ocupação urbana, houve um grande acréscimo de áreas impermeabilizadas e, com isso, os volumes escoados aumentaram 12 significativamente, tornando as redes de drenagem insuficientes, demandando acréscimos periódicos, envolvendo grande prejuízo econômico. Como resposta à alternativa convencional, surge o conceito da drenagem urbana sustentável, que, conforme expõe Pompêo (2000), introduz métodos que levam em consideração a interação entre o ecossistema natural, o sistema artificial urbano e a sociedade. Essa nova concepção busca reduzir os efeitos causados pela ocupação urbana a partir de medidas como o aumento da infiltração e o retardo do escoamento das águas pluviais. De acordo com Urbonas (1999), as Melhores Práticas de Gerenciamento (BMPs) englobam ações com intuito de gerenciar e controlar a quantidade e a qualidade das águas da chuva escoadas nas áreas urbanas e podem abranger medidas estruturais, constituídas por ações diretas sobre o rio ou a paisagem urbana, e não estruturais, que compreendem diversas intervenções indiretas. No Brasil as BMPs são comumente conhecidas como técnicas compensatórias. Ao longo do tempo, surgiram novas abordagens, com diferentesdenominações: Low Impact Development – LID nos Estados Unidos e no Canadá (conhecido no Brasil por Desenvolvimento de Baixo Impacto); Sustainable Urban Drainage Systems – SUDS no Reino Unido; Water Sensitive Urban Design – WSUD na Austrália; Low Impact Urban Design and Development – LIUDD na Nova Zelândia (POLETO; TASSI, 2011). O Desenvolvimento de Baixo Impacto visa restaurar, o máximo possível, o comportamento natural da bacia hidrográfica através de medidas que provêm infiltração, com desconexões de áreas urbanas da rede de drenagem, retenção superficial e armazenamento e caminhos mais longos de escoamento, para restaurar o tempo de concentração (COFFMAN, 2000). No LID é comum a utilização de técnicas como telhados verdes e pavimentos permeáveis. Estes e outros métodos de controle de inundações serão tratados na seção 2.4.1. No SUDS, acrescenta-se a preocupação com a sustentabilidade e a interação com o ambiente urbano. No WSUDS e no LIUDD, disciplinas socioeconômicas e aspectos legais e institucionais são também incorporados. No entanto, há certa dificuldade de implantação dessas técnicas em países em desenvolvimento, como o Brasil, o que se dá devido a fatores como o crescimento das cidades sem planejamento e a falta de conscientização da população acerca dos cuidados com o meio ambiente. 13 2.4 Cheias urbanas Verifica-se a ocorrência de cheias quando as águas extravasam do canal de drenagem e escoam no seu leito maior, que, no caso de áreas urbanas, geralmente, está ocupado pelos diversos elementos presentes nas cidades, como edificações, ruas e estruturas de lazer. As cheias são o resultado da ocorrência de precipitações intensas e são agravadas pela incapacidade de infiltração dessas águas no solo. Miguez e Magalhães (2010) afirmam que nem sempre é possível para a infraestrutura das cidades acompanhar o crescimento urbano, o que pode ser verificado, principalmente, em países em desenvolvimento, como o Brasil. Esses fatores, associados a redes de drenagem dimensionadas de forma insuficiente e sem a manutenção adequada, acarretam no aumento da frequência de ocorrência de cheias nas cidades. Este fenômeno é responsável por relevantes perdas sociais e econômicas. Entre os prejuízos causados, pode-se citar: disseminação de doenças de veiculação hídrica, danos à infraestrutura urbana e às propriedades, deslizamentos de terra, desalojamento da população, desvalorização de imóveis, paralização de tráfego, entre outros. O Rio de Janeiro é uma cidade com frequente ocorrência de inundações. Costa e Teuber (2001) relatam um histórico das enchentes que marcaram a cidade desde o século XVI. Entre as citadas estão os eventos ocorridos em: 14 abril de 1756, que durou 3 dias ininterruptos, o que fez com que a população buscasse refúgio nas igrejas; 17 de março de 1906, quando houve chuva de 165 mm em 24 horas, que provocou o extravasamento do Canal do Mangue e o desmoronamento de morros; 11 de janeiro de 1966, considerada uma das maiores enchentes no município, com uma precipitação de 237 mm em 24 horas, causando o colapso total do sistema de energia elétrica e de transporte; 18 a 21 de fevereiro de 1988, apontada como a maior do século XX, decorrente de uma precipitação de mais de 430 mm; 14 de fevereiro de 1996, no qual houve uma chuva com 200 mm em apenas 8 horas e provocou o caos urbano. Destaca-se, ainda o evento que ocorreu entre os dias 5 e 6 de abril de 2010, no qual as chuvas chegaram a 288 mm. 14 2.4.1 Medidas de controle das cheias urbanas As medidas de controle de cheias urbanas buscam a atenuação dos transtornos à cidade e à população. Entre alguns dos seus objetivos principais estão a redução dos efeitos causados pela intensa ocupação urbana e a possibilidade de adaptação dos sistemas de drenagem de acordo com o crescimento populacional. Estes devem ser realizados sem grandes prejuízos econômicos e impactos à cidade. As medidas de controle adotadas não garantem a proteção completa dos efeitos das cheias. Um dos motivos é o fato da precipitação ser um fenômeno natural, o qual sempre poderá superar aquela utilizada no dimensionamento dos projetos. Assim, todo sistema de drenagem urbana possui determinada probabilidade de falhar. Segundo Costa e Teuber (2001), a magnitude dos danos decorrentes das inundações dá- se em função da intensidade das chuvas, do tipo de uso e ocupação do solo, das soluções adotadas e da conscientização e condições de preparo da população para enfrentar essas situações. Desta forma, resta aos responsáveis amenizar as consequências negativas pela execução de projetos de drenagem adequados e pela instrução da população. Miguez, Mascarenhas e Magalhães (2007) ressaltam que a escolha das medidas a serem adotadas deve ser decorrente de um estudo que considera toda a bacia hidrográfica como um sistema integrado. Isto evita a transferência dos problemas para jusante, o que se verifica em soluções convencionais, como a canalização de rios. Ademais, as medidas devem abranger ações de caráter social, econômico, administrativo e ambiental. As medidas que visam o controle das cheias podem ser divididas em convencionais e não convencionais. As medidas convencionais se utilizam de técnicas como canalização e retificação para promover o rápido afastamento das águas escoadas e as não convencionais, também chamadas de compensatórias, visam compensar os efeitos da ocupação urbana a partir do aumento da infiltração e do armazenamento, com vistas à obtenção de maiores tempos de concentração, sem transportar os problemas para jusante da bacia. Canholi (2005) ressalta as diferenças entre os conceitos de canalização e reservação, que são apresentadas através da Tabela 1 e da Figura 2. 15 Tabela 1 – Comparação entre os conceitos de canalização e reservação. (Fonte: Adaptado de CANHOLI, 2005) Característica Canalização Reservação Função Remoção rápida dos escoamentos Detenção temporária para subsequente liberação Componentes principais Canais abertos/galerias Reservatórios à superfície livre, reservatórios subterrâneos, retenção subsuperficial Aplicabilidade Instalação em áreas novas, construção por fases, ampliação de capacidade pode se tornar difícil (centros urbanos) Áreas novas (em implantação), construção por fases, áreas existentes (à superfície ou subterrâneas) Impacto nos trechos de jusante (quantidade) Aumenta significativamente os picos das enchentes em relação à condição anterior; maiores obras nos sistemas de jusante Áreas novas: podem ser dimensionadas para impacto próximo a zero (Legislação dos EUA, por exemplo); Reabilitação de sistemas: podem tornar vazões a jusante compatíveis com a capacidade disponível Impacto nos trechos de jusante (qualidade) Transporta para o corpo receptor toda carga poluente Facilita remoção de material flutuante por concentração em áreas de recirculação dos reservatórios e dos sólidos em suspensão, pelo processo natural de decantação Manutenção/ operação Manutenção em geral pouco frequente (pode ocorrer excesso de assoreamento e de lixo); Manutenção nas galerias é difícil (condições de acesso) Necessária limpeza periódica, necessária fiscalização, sistemas de bombeamento requerem operação/manutenção, desinfecção eventual (insetos) Estudos hidrológicos/ hidráulicos Requer definição dos picos de enchente Requer definição dos hidrogramas (volumes das enchentes) Figura 2 – Comparação entre os conceitos de canalização e reservação. (Fonte: CANHOLI, 2005)16 As medidas de controle das cheias podem, ainda, ser organizadas em função da forma de intervenção utilizada. Assim, classificam-se em estruturais, que são intervenções diretas nas calhas dos rios ou no ambiente urbano, para adequação dos escoamentos, e, em geral, se constituem de ações corretivas, e não estruturais, que são formadas por ações indiretas de caráter preventivo, visando melhor preparar a população para as situações de inundação. Medidas estruturais De acordo com Simons et al (1977), existem as medidas estruturais atuantes na bacia hidrográfica, denominadas extensivas, e as atuantes no rio, conhecidas como intensivas. As primeiras alteram as relações chuva-vazão na bacia, como o aumento da cobertura vegetal, e as segundas são divididas em três tipos, em razão de suas finalidades, que são: acelerar, retardar e desviar o escoamento. Como exemplos destas destacam-se as canalizações, os reservatórios de amortecimento e os canais de derivação, respectivamente. Tucci, Porto e Barros (1995) classificam as medidas estruturais em função de sua atuação na bacia como: distribuídas, também chamadas de medidas de controle na fonte, as quais compreendem ações localizadas em lotes, praças e passeios e que utilizam os conceitos de infiltração ou armazenamento; na microdrenagem, que envolve o controle sobre o hidrograma de um ou mais loteamentos; e na macrodrenagem, com atuação sobre os rios e canais. Há uma grande diversidade de medidas de controle usualmente utilizadas. Entre elas encontram-se: pavimentos permeáveis, armazenamentos em telhados, trincheiras de infiltração, reservatórios de lote, reservatórios de retenção e detenção, canalização, diques e paisagens multifuncionais. Algumas das medidas serão detalhadas a seguir. o Pavimentos permeáveis Os pavimentos permeáveis apresentam como principal efeito a redução do escoamento superficial a partir do aumento da infiltração no solo. Podem ser implantados em locais como ruas de pouco tráfego, estacionamentos, armazéns e quadras esportivas. A Tabela 2 apresenta as vantagens e desvantagens da utilização desses elementos. 17 Tabela 2 – Vantagens e desvantagens dos pavimentos permeáveis. (Fonte: Adaptado de PINTO, 2011) Vantagens Desvantagens Permite a recarga do lençol freático; Melhora a qualidade das águas infiltradas ou mesmo das encaminhas para o sistema de drenagem; Reduz significativamente o volume do escoamento superficial, promovendo o amortecimento dos picos de cheia com o aumento do tempo de concentração da bacia onde o dispositivo está instalado; Controle da erosão do solo; Filtragem de poluentes; O pavimento poroso durante as noites chuvosas promove ofuscamento reduzido, quando comparado com o pavimento convencional; Economia em função da redução ou eliminação das guias e sarjetas e de sistema de drenagem; Diminuição do ruído; Custos similares ao do pavimento convencional. Possibilidade de contaminação do lençol freático; Necessidade de inspeções regulares para verificar a eficiência dos pavimentos; Mão de obra qualificada para execução da obra com a finalidade de prevenir a obstrução prematura do pavimento; Manutenção periódica com lavagem; Em caso de obstrução (entupimento) tanto da camada superficial quanto da estrutura reservatório, a reabilitação do pavimento é difícil e cara. Segundo Urbonas e Stahre (1993), os pavimentos permeáveis podem ser de concreto poroso, asfalto poroso ou blocos de concreto vazados. Os dois primeiros são executados de maneira similar aos pavimentos convencionais, diferenciando-se, apenas, pela ausência dos agregados miúdos, que não podem compor a mistura. A Figura 3 mostra a composição dos diferentes tipos de pavimentos permeáveis. Figura 3 – Composição dos pavimentos permeáveis. (Fonte: Adaptado de URBONAS; STAHRE, 1993) 18 o Telhados verdes Os telhados verdes influenciam de forma positiva no clima urbano e na qualidade do ar. Em relação ao controle de inundações, diversos estudos demonstram que essas estruturas reduzem os volumes de escoamento superficial e retardam os picos de vazão. Destaca-se que a altura do solo ou substrato é diretamente proporcional à capacidade de retenção de água, que promove essa redução do escoamento. A Figura 4 apresenta os componentes básicos dos telhados verdes. Figura 4 – Seção transversal típica dos telhados verdes. (Fonte: Adaptado de CONSERVATION TECHNOLOGY, s. d.) Essas coberturas classificam-se em intensivas ou extensivas em função do seu tipo de vegetação. Os telhados verdes intensivos são constituídos por plantas que demandam maior manutenção, necessitando maior consumo de água. Os extensivos, por sua vez, apresentam maior resistência às variações climáticas e com isso menor necessidade de manutenção, além disso, eles apresentam camadas mais finas e leves que os primeiros. Um estudo realizado por Oliveira, Silva e Mary (2009) demonstra a viabilidade de adaptar edificações de interesse social para implantação dessas estruturas. Entre os fatores verificados estão os aspectos construtivos, o plantio de algumas espécies com vistas à geração de renda, os custos, questões climáticas e os benefícios quanto ao controle de inundações urbanas. Neste contexto, foi constatada uma retenção de até 56% do volume de chuva e um retardo de até 8 minutos na ocorrência do pico de vazão, quando comparado ao telhado original. 19 o Reservatórios de lote Os reservatórios de lote são reservatórios de detenção de pequeno porte localizados em lotes urbanizados e que atuam de forma distribuída na bacia. A partir do armazenamento das águas da chuva, retardam uma parcela do escoamento, atenuando as vazões máximas de saída. Desta forma, buscam recuperar a capacidade de amortecimento da bacia anterior à ocupação urbana. Um dos grandes benefícios dessas medidas é a sua utilização para outras finalidades além do controle das cheias. Assim, há possibilidade de reuso das águas pluviais para atividades como a irrigação de jardins, a descarga de vasos sanitários e a lavagem de pisos e automóveis. Umas das desvantagens do reservatório de lote é a necessidade de manutenção, o que atribui obrigações ao proprietário. o Bacias de retenção e detenção Guo (2004) considera as bacias de retenção e detenção como as principais estruturas de armazenamento destinadas a controlar a quantidade e a qualidade das águas pluviais. Esses dispositivos retêm parte do volume escoado, promovendo o amortecimento das vazões e, com isso, evitando a ocorrência de inundações a jusante. Além disso, essas bacias podem ser projetadas de tal forma que criem espaços saudáveis e funcionais, melhorando o ambiente esteticamente e, assim, promovendo a valorização da terra (HALL; POTERFIELD, 2001). De acordo com Rezende (2010), as bacias de retenção apresentam uma lâmina d’água permanente e é possível sua integração à arquitetura urbana como lagos. Já as bacias de detenção só possuem água quando se encontram em operação e, quando secas, podem apresentar outros usos, como aqueles voltados para o lazer a à prática de esportes. A Figura 5a e a Figura 5b apresentam exemplos dessas estruturas. Figura 5 – Exemplos de bacia de retenção (a) e bacia de detenção (b). (Fonte: DAEE, 2013; PORTO ALEGRE, 2013) 20 o Trincheiras de infiltração De acordo com Souza e Goldenfum (1999), as trincheiras de infiltração são estruturas de drenagem que armazenam água por determinado período de tempo, até que ocorra sua infiltração no solo. São formadas por valetas constituídas de material granular, que possui porosidade deaproximadamente 40% e é revestido por um filtro geotêxtil, o qual apresenta função estrutural e impede a entrada de material fino. A Figura 6 apresenta a composição de uma trincheira de infiltração típica. Figura 6 – Típica trincheira de infiltração. (Fonte: SOUZA; GOLDENFUM, 1999) As trincheiras de infiltração funcionam como um reservatório de amortecimento de cheias, acrescido da vantagem da infiltração no solo, o que diminui os volumes de escoamento e os picos de vazão superficiais. Outros benefícios da utilização dessas estruturas é a possibilidade de redução ou até eliminação da rede de microdrenagem local, a melhoria da qualidade das águas superficiais e a recarga das águas subterrâneas. o Diques e polders Outra medida estrutural comum é a utilização de diques e polders. De acordo com Canholi (2005), o sistema de polders associado a diques, geralmente compostos por sistema de bombeamento ou comportas, visam à proteção de áreas ribeirinhas ou litorâneas localizadas em cotas inferiores às dos níveis d’água durante eventos de enchentes ou marés. Segundo Tucci (2005), a redução da largura do escoamento gerada por esse sistema causa “o aumento do nível de água na seção para a mesma vazão, o aumento da velocidade e da 21 erosão das margens e da seção e a redução do tempo de viagem da onda de cheia, agravando a situação dos outros locais a jusante”. Medidas não estruturais As medidas não estruturais são importantes ferramentas de controle das inundações urbanas. O fato das medidas estruturais não protegerem completamente a população contra os riscos das enchentes, associado aos custos e à dificuldade de implantação que certas intervenções físicas apresentariam, acarreta na necessidade da utilização dos dois tipos de medida em conjunto. Formadas por ações indiretas de natureza administrativa, institucional ou financeira, as medidas de controle não estruturais buscam, através de ações preventivas, uma melhor convivência da população com as inundações, reduzindo, assim, os prejuízos causados. Destacam-se entre as medidas não estruturais: sistema de previsão e alerta, zoneamento das áreas inundáveis e construção à prova de enchente, as quais são descritas a seguir (TUCCI, 2005). o Sistema de previsão e alerta Segundo Tucci (2005), esses sistemas visam à antecipação da ocorrência da enchente a fim de informar a população e adotar as medidas cabíveis para diminuir os possíveis prejuízos socioeconômicos. Eles funcionam a partir da coleta e do envio de informações em tempo real, por telemetria, para um centro de previsão, que avalia a situação com auxílio de um modelo de previsão e, em função das condições encontradas, transmitem o alerta e acionam a Defesa Civil, que deve aplicar seus planos emergenciais. Na Figura 7 é possível visualizar o funcionamento dos sistemas de previsão e alerta. 22 Figura 7 – Funcionamento do sistema de previsão e alerta. (Fonte: TUCCI, 2005) o Zoneamento das áreas inundáveis Miguez e Magalhães (2010) consideram como a mais importante medida não estrutural o zoneamento das áreas inundáveis, que tem por finalidade reduzir os possíveis danos consequentes das enchentes a partir da determinação de regras para a ocupação das áreas sujeitas à inundação. O zoneamento deve ser desenvolvido de forma integrada ao planejamento urbano. A partir desse instrumento, é possível dividir a seção do rio em três faixas principais, as quais são descritas a seguir e mostradas na Figura 8. A faixa 1 (zona de passagem de cheias) apresenta risco elevado de inundação e deve ficar desobstruída para funcionar hidraulicamente; a faixa 2 (zona com restrições) está sujeita, geralmente, a inundações decorrentes de eventos hidrológicos com tempo de recorrência entre 5 e 25 anos; e a faixa 3 (zona de baixo risco) sofre inundações apenas por eventos excepcionais, com tempo de recorrência entre 50 e 100 anos (KUSLER et al, 1971). 23 Figura 8 – Representação do zoneamento das áreas inundáveis. (Fonte: KUSLER et al, 1971) o Construção à prova de enchente De acordo com Tucci (2005), a construção à prova de enchente corresponde a uma solução não estrutural constituída por diversas medidas que objetivam a redução das perdas das edificações situadas em várzeas de inundação quando da ocorrência de cheias. Entre as medidas pode-se citar: “instalação de vedação temporária ou permanente nas aberturas das estruturas; elevação de estruturas existentes; construção de novas estruturas sob pilotis; regulamentação da ocupação da área de inundação por cercamento”. 24 3 PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO E FAVELAS Este capítulo explica como se deu a urbanização no Brasil, apresentando uma análise do processo histórico e do seu desenvolvimento e focando nos processos que ocorreram no município do Rio de Janeiro, local selecionado para estudo. Apresenta, também, os principais instrumentos disponíveis para regulação urbana, descrevendo mais detalhadamente as Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS. Além disso, será discutido o fenômeno das favelas, apontando seu surgimento, características e, por fim, estudando os processos de drenagem urbana nesses assentamentos, destacando-se as dificuldades de implantação desses sistemas em favelas verticais. 3.1 Desenvolvimento da urbanização e instrumentos de regulação urbana Após a Revolução Industrial, em meados do século XIX, houve um acelerado crescimento urbano, principalmente na Europa, decorrente da busca da sociedade por melhores condições de vida, o que transformou diversas cidades em metrópoles e agravou os problemas urbanos já existentes. Nesse contexto, surgiu a necessidade de se estudar esse fenômeno, tal como de criar soluções para os problemas então nascentes. Originou-se, assim, o urbanismo como campo de conhecimento, envolvendo estudos e intervenções direcionados às cidades (SANTOS, 2006). No Brasil, como ressalta Carneiro (2008), o desenvolvimento do planejamento urbano deu-se de forma tardia, já no século XX, e sofreu forte influência de movimentos europeus, principalmente de ideais franceses. Foi no Rio de Janeiro, área de estudo deste trabalho, que ocorreu a primeira intervenção urbanística significativa no país. Idealizada pelo governo de Pereira Passos, consistiu em uma ampla reforma urbana abrangendo, principalmente, o centro do município, com uma grande preocupação com as condições de higiene da cidade e das habitações, o que se manifestou com intervenções efetuadas no espaço urbano, a exemplo da abertura de largas avenidas, e nas residências, com a erradicação dos cortiços. Seguindo-se a esse impulso inicial, entre os anos de 1927 e 1930, o arquiteto-urbanista francês Alfred Agache elaborou o Plano Agache, que visou remodelar a cidade do Rio de Janeiro e se constituiu em um marco para a evolução do urbanismo no Brasil. O plano concentrava-se em três grandes áreas: o saneamento, promovendo a canalização de rios e a construção de redes de água e esgoto; a circulação, buscando o descongestionamento 25 do tráfego; e os órgãos funcionais, incentivando a criação de centros para as atividades administrativas, comerciais e militares (OLIVEIRA, M., 2001). Percebe-se, desta forma, a existência de preocupações com aspectos estéticos e funcionais. A partir da década de 30, com o intenso desenvolvimento urbano e a aceleração industrial, começa-se a perceber que a solução para os crescentes problemas urbanos estaria no planejamento. Surge, nesse sentido, uma política nacional urbana que abrange diversas medidas e ações de âmbitos nacional e regional voltadas para a organização dos novos espaços urbanos. Vale
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