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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO CAMPUS Piracicaba Projeto de Máquinas Resumo de Material para Estudo Professor Argélio Lima Paniago 1. Aplicação do método do desdobramento da função qualidade (QFD) em projeto de máquinas. 1.1. Conceitos básicos. Termos como demanda, necessidade, produto e mercado são conceitos básicos. Necessidade: estado em que se percebe alguma privação. Maslow identificou uma hierarquia de necessidades, da mais urgente para a menos urgente seriam fisiológicas, segurança, sociais, de autoestima e de auto realização. Desejos: necessidades humanas moldadas pela cultura. Demandas: desejos viáveis. Produtos: qualquer coisa oferecida ao mercado para atender necessidades ou desejos das pessoas. Mercado: grupo de compradores potenciais ou reais de um produto. 1.2. Tipos de novos produtos. Extensão de linha de produtos existentes. Uso de materiais, tecnologia e equipamentos existentes para desenvolver produtos com novas aplicações. Desenvolver produtos que utilizam os mesmos canais de venda e distribuição. Desenvolvimento de novos produtos que não têm qualquer conexão com os produtos existentes. 1.3. Avaliação objetiva e avaliação subjetiva da qualidade. O Professor Noriaki Kano e colaboradores identificaram as possíveis relações entre esses dois pontos de vista (Figura 1). Item de qualidade linear: aumentam a satisfação do cliente â medida que seu desempenho aumenta. Itens de qualidade óbvia, compulsória ou obrigatória: quando ausente provocam insatisfação ao cliente. Itens de qualidade atrativa: quando presentes trazem grande satisfação ao cliente, porém quando não presentes são aceitos com resignação. 2 No exemplo da tabela 1 é possível identificar a classificação para imagem de televisão. 1.4. Identificação das necessidades dos clientes. Seria a primeira fase do desenvolvimento do produto em que as informações dos clientes e do mercado tem participação especial. Os dados vindos da pesquisa de mercado são a fonte principal, para os quais é exigido o contato estreito com o mercado. Frequentemente são utilizados dados coletados em estatísticas governamentais, publicações técnicas, etc. A partir do TQC (Total Quality Control) as metas de sobrevivência da empresa são estabelecidas, que são desdobradas para as metas de desenvolvimento dos produtos. A chamada “voz do cliente” é obtida mais precisamente por pesquisa de mercado, praticando- se o verdadeiro sentido da orientação pelo cliente. As questões que surgem para ouvir os clientes diretamente: a. Qual é o segmento alvo do mercado (público alvo)? b. Qual técnica será utilizada para obtenção das informações? Figura 1 – Modelo Kano de qualidade atrativa e obrigatória (Matzler et al., 1996) Classificação Item Linear Vida média Estilo Qualidade do som Compulsória Nitidez da imagem Facilidade de manuseio Atrativa Resolução da imagem Exibição simultânea Possibilidade de assistir filmes dublado ou em versão original Tabela 1 – Pesquisa realizada para a qualidade da imagem da TV. 3 c. Qual será o tamanho da amostra? d. Como as pessoas serão selecionadas? A voz do cliente deve ser convertida para as necessidades reais, pois os dados originais produzem uma grande quantidade de informações conforme esquema apresentado na figura 2. A tabela do desdobramento da qualidade exigida é a representação das verdadeiras exigências dos clientes, o mais próximo possível de sua própria linguagem. Esse desdobramento é exemplificado pela tabela 2. Procedimento para elaboração da tabela de desdobramento: a. Converter as informações originais usando expressões simples com apenas um significado. b. Utilizar o diagrama de afinidades para agrupar os itens similares de qualidade exigida. Figura 2 – Conversão da voz do cliente em qualidade exigida Nº Dados originais Cena (Quem, onde, como, quando) Item exigido Qualidade exigida 1 Fácil de transportar Carregando com as mãos junto com outros materiais Prático ao transportar Transportável com uma só mão Estável ao transportar Estável ao transportar Transporte agradável Boa aderência às mãos Transportável sem machucar. Transporte com pouco esforço. Estável ao transportar. Resistente ao transporte Resistente a impactos. Mantem integridade durante o transporte. 2 Tenha duas lâmpadas Funciona sem interrupção Fácil substituição de lâmpadas Rápida substituição de lâmpadas Tabela 2 – Conversão da voz do cliente na qualidade exigida por meio do desdobramento da cena. 4 c. Considerar esses títulos como itens de nível secundário. d. Esclarecer quais são os itens primários de qualidade e acrescentar, se necessários itens secundários e terciários. e. Colocar a numeração de classificação e montar a tabela de desdobramento da qualidade. f. Realizar análise crítica da tabela. O QFD sugere uma forma de dispor dados necessários para o estabelecimento do conceito do produto – designado por qualidade planejada. Os passos a seguir possibilitam realizar o planejamento do desenvolvimento do QFD: I. Construir a tabela de desdobramento da qualidade exigida a partir da “voz do cliente”. II. Pesquisar a opinião de uma amostra do público alvo quanto ao grau de importância atribuída aos itens da qualidade exigida. Para a pesquisa deve-se utilizar questionário apropriado (Figura 3). Os dados devem ser organizados de forma a melhor identificar os graus de importância, utilizando ferramentas estatísticas, como histogramas, por exemplo. III. Quantificar a opinião do público alvo quanto a avaliação de desempenho do produto atual. IV. Quantificar a avaliação de desempenho dos produtos concorrentes, V. Estabelecer o plano de melhoria para cada item da qualidade exigida. VI. Calcular o índice de melhoria, efetuando a divisão do plano de qualidade (Passo V) pela avaliação atual do produto. VII. Definir quais itens serão utilizados para serem usados como argumento de venda, utilizando a classificação apresentada na figura 4. Figura 3 – Exemplo de questionário para obtenção do grau de importância e desempenho. 5 VIII. Calcular o peso absoluto de cada item da qualidade exigida pela multiplicação: grau de importância x Índice de melhoria x Argumento de venda (Passo II x Passo VI x passo VII). IX. Calcular o peso relativo de cada item de qualidade exigida, convertendo o peso absoluto em contribuição porcentual do peso total. Itens como maior peso se tornarão prioridade. O resultado pode ser apresentado em tabela como o exemplo da figura 5 ou graficamente como na figura 6. Figura 4 – Classificação para argumento de vendas. Figura 5 – Exemplo do estabelecimento da qualidade planejada. 6 1.5. Matriz da qualidade A matriz da qualidade é, muitas vezes, a primeira a ser construída na execução do QFD. A sua utilização permite que dois mundos, mercado e empresa, e seus pontos de vista, possam ser coordenados. Além de incluir os itens da qualidade exigida, grau deimportância e desempenho, inclui também a construção da tabela de desdobramento das características da qualidade e o estabelecimento da qualidade projetada (Figura 7). Figura 6 – Resultado quantitativo global. Figura 7 – Matriz da qualidade. 7 1.6. Extração da tabela de desdobramento das características da qualidade. Para se evitar que ocorram equívocos com relação à obtenção da qualidade exigida, estabelece- se características mensuráveis da qualidade. Assim, deve-se identificar no último ou penúltimo nível da qualidade exigida, as características relacionadas que podem ser medidas, conforme exemplo da tabela 3 e tabela 4. Pode-se utilizar nessa fase a técnica do brainstorming para gerar preliminarmente as características da qualidade, escrevendo em cartões adesivos ou post-its, em seguida deve-se selecionar aqueles referentes ao produto final, separando os itens relativos a componentes, processos, matéria prima, etc., para serem utilizados posteriormente, em outros desdobramentos. A seguir esses itens devem ser agrupados, utilizando-se da técnica do diagrama de afinidades, e os grupos organizados em diagrama de árvores. Este procedimento é válido para diversas outras tabelas utilizadas no QFD. Por exemplo, a partir da tabela da qualidade exigida pode-se extrair Elementos Características Resistência Resistência à tração Resistência à torção Limite de escoamento Rigidez Rigidez horizontal Rigidez vertical Dimensões Comprimento Largura Altura Peso Tabela 3 – Diferença entre elementos e características da qualidade Qualidade exigida Elemento da Qualidade Característica da qualidade Fácil de carregar Peso; Dimensão; Forma; Portabilidade. Altura (cm); Largura (cm); Razão altura/largura; Volume (cm3). Ser silencioso Nível de ruído (dB); Fácil de posicionar a imagem Área de projeção máxima (m2). Estável ao carregar Forma; Centro de gravidade. Altura (cm); Largura (cm); Posição do centro de gravidade. Tabela 4 – Exemplo de aplicação para identificação das características da qualidade. 8 a tabela de funções a serem implementadas no produto, ou a partir da tabela de características da qualidade extrair a tabela de parâmetros do processo (Figura 8). 1.7. Processo de correlação. A correlação consiste em identificar o grau de influência ou interferência que um item de uma tabela exerce sobre outro. A correlação é estabelecida entre dois itens provenientes de duas tabelas que formam uma matriz. No caso da matriz da qualidade são identificadas as correlações entre as qualidades exigidas e as características da qualidade conforme tabela 5. Deve-se preencher as colunas inicialmente e na sequência se verificam as correlações nas linhas. Os valores identificados devem ser multiplicados pelos respectivos graus de importância de cada qualidade exigida, como no exemplo da figura 9. Figura 8 – Exemplo de desdobramento de tabelas no QFD para aplicação em diversas etapas da execução do produto. Correlação Símbolo Forte 4 9 5 Média 2 3 3 Fraca 1 1 1 Inexistente Em branco 0 0 0 Valores possíveis Tabela 5 – Simbologia e valores para correlação. Figura 9 – Exemplo de preenchimento das correlações entre qualidade exigida e características da qualidade. 9 1.8. Estabelecimento da qualidade projetada A qualidade projetada pode ser entendida como a definição inteligente dos valores meta para as características da qualidade do produto, levando-se em consideração a importância de cada uma (o seu peso relativo). Significa traçar um plano para melhoria das características da qualidade do produto. Para cada característica o peso absoluto é encontrado pela soma dos valores definidos pelas correlações entre qualidade exigida e característica da qualidade. O peso relativo é a conversão do peso absoluto para o valor percentual, encontrado pela divisão entre o peso absoluto pelo total dos pesos absolutos de todas as características da qualidade. No exemplo da figura 10 observa-se que a empresa especificou o valor de 45 cm para a característica “largura”, considerando que esta tem uma importância alta (peso relativo), e que a preferência do mercado é por produtos mais compactos. 1.9. Matriz das características da qualidade versus característica da qualidade (CQ x CQ). Com o objetivo de contribuir com as decisões relativas à definição da qualidade projetada, através do entendimento das correlações entre as características da qualidade, se constrói uma matriz auxiliar conforme figura 11. Para se construir a matriz CQ x CQ deve-se cruzar a tabela de características da qualidade entre si, analisando as correlações existentes, utilizando a convenção: Figura 10 – Exemplo de definição da qualidade projetada. Figura 11 – Exemplo de preenchimento de correlação entre características da qualidade. 10 Para facilitar a análise da correlação do interior desta matriz, é recomendável indicar na tabela em qual direção, em cada uma das características, deve-se atuar para melhorar o desempenho do produto. 1.10. Análise da matriz da qualidade. A matriz da qualidade completa tem o aspecto apresentado na figura 12. Dê atenção às correlações fortes. Faça um estudo detalhado dos valores do benchmark. Faça projeções futuras. Observe se há coerência entre o desempenho atribuído pelos clientes às qualidades exigidas para o produto em análise e os valores atuais das características da qualidade. Observe as características da qualidade que se relacionam forte com o argumento de venda. Ficar atento às possibilidades de se igualar aos melhores do mercado. Analisar periodicamente, pois quaisquer alterações implementadas no produto da concorrência devem ser acrescentadas imediatamente na matriz. ↑: Quanto maior melhor; ↓: Quanto menor melhor; X: O melhor valor é um número específico. Figura 12 – Modelo de apresentação do QFD com a “casa da qualidade”.
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