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Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural ANÁLISE DE DISTRIBUIÇÃO DO PRONAF MAIS ALIMENTOS NAS UNIDADES FEDERATIVAS BRASILEIRAS NO PERÍODO DE 2015 A 2017 Grupo de Pesquisa 5: Agricultura Familiar e Ruralidades DAFNY CORREA DELFINO1; RENAN GABRIEL EUGÊNIO SANTOS1; MARINA SCAFF FERRO SCHWABE1; DIEGO PIEROTTI PROCÓPIO2 1 Discentes em Agronomia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 2 Professor do Departamento de Zootecnia e Extensão Rural (DZER) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: diego_pierottivrb@yahoo.com.br Resumo Objetivou-se neste trabalho analisar a distribuição dos recursos financeiros e de números de contratos do PRONAF Mais Alimentos entre as unidades federativas brasileiras no período de 2015 a 2017. Para o alcance do objetivo proposto, utilizou-se a metodologia de natureza qualitativa, com a utilização das técnicas de revisões bibliográfica e documental. Avaliou-se que ocorreu uma expansão nos valores de financiamento e número de contratos no o país de 2015 a 2017. Em relação o acesso dessa política pública entre os agricultores familiares brasileiros, constata-se uma desigualdade na distribuição a nível regional. A região Sul é predominante tanto no acesso dos recursos financeiros quanto no número de contratos no período analisado. Esse fator pode estar diretamente relacionado ao perfil do agricultor familiar sulista, que possui uma capacidade organizacional (consolidação de associações e/ou cooperativas) diferenciada em relação aos produtores de outras regiões brasileiras, que contribui para o processo de difusão de informações entre os produtores associados. Por outro lado, as regiões Nordeste e Norte, se destacam com a presença de unidades federativas com um menor patamar de acesso de recurso financeiro do PRONAF Mais Alimentos e também pela quantidade de contratos de investimentos efetivados durante o período analisado. Na literatura foram encontrados fatores que possam contribuir para esse processo, como por exemplo, o nível educacional dos produtores que não possuem o entendimento de como operacionalizar o acesso à política pública junto a uma instituição financeira. Cita-se também o déficit na prestação dos serviços de ATER e também a deficiência de infraestrutura logística que restringem o acesso dos produtores rurais a instituições prestadoras de serviços de extensão rural em outras cidades. Palavras-chave: Agricultura Familiar; Política Pública; Regiões brasileiras. DISTRIBUTION ANALYSIS OF PRONAF MORE FOODS IN BRAZILIAN FEDERATIVE UNITS IN THE PERIOD FROM 2015 TO 2017 Abstract The objective of this study was to analyze the distribution of PRONAF Mais Alimentos financial resources and contract numbers among the Brazilian federal units in the period from 2015 to 2017. To reach the proposed objective, the qualitative methodology was used, using bibliographical and documentary revision techniques. It was evaluated that there was an expansion in the amounts of financing and number of contracts in the country from 2015 to Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 2017. In relation to the access of this public policy among Brazilian family farmers, there is an inequality in distribution at the regional level. The South region is predominant both in access to financial resources and in the number of contracts in the analyzed period. This factor may be directly related to the profile of the southern family farmer, who has an organizational capacity (consolidation of associations and / or cooperatives) differentiated in relation to the producers of other Brazilian regions, which contributes to the process of diffuson of information among the associated producers . On the other hand, the Northeast and North regions stand out with the presence of federative units with a lower access level of financial resources of PRONAF Mais Alimentos and also by the number of investment contracts made effective during the analyzed period. In the literature were found factors that could contribute to this process, such as the educational level of producers who do not have the understanding of how to operationalize access to public policy together with a financial institution. There is also a shortage of TARE services, as well as a lack of logistical infrastructure, which restricts rural producers' access to rural extension services in other cities. Keywords: Family Farming; Public Policy; Brazilian regions. 1. INTRODUÇÃO A Agricultura Familiar no Brasil possui uma série de especificidades tanto em um contexto social quanto econômico, que afetam diretamente o bem-estar dessa classe social. De acordo com Mattei (2006), no contexto histórico, poucas políticas públicas estiveram voltadas diretamente para o agricultor familiar. No período de 1965 a 1985, as políticas públicas direcionadas ao meio rural privilegiavam os setores mais capitalizados e especializados na produção de commodities para exportação. A partir de informações do Censo Agropecuário de 2006, no Brasil existem 4,36 milhões de agricultores familiares e que ocupam uma área de 80,25 milhões de hectares. Além disso, essa categoria social possui uma importância quanto à produção de alimentos básicos no país, com uma participação de produzindo 59,0% na carne suína, 51,2% na carne avícola e 29,7% da carne bovina, sendo responsável na produção vegetal de 33,1% do arroz, 69,6% do feijão e 83,2% da produção de mandioca. Todas as informações são em relação ao total produzido no país (IBGE, 2006). Na década de 1990, uma série de ações foi desenvolvida em prol do reconhecimento da Agricultura Familiar no país. Em 1995, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que objetivava incentivar as atividades desenvolvidas pelos agricultores familiares no país por meio da concessão de recursos financeiros para itens como custeio e investimento a serem realizados na propriedade rural. Desde a elaboração e efetivação do PRONAF no Brasil, uma série de linhas de financiamento foram criadas, como é o caso do PRONAF Mais Alimentos. Essa linha de crédito objetiva financiar atividades de investimentos do agricultor familiar, como por exemplo, na aquisição de máquinas e equipamentos e/ou a reforma de instalações da propriedade. A importância dessa política se trata na modernização dos estabelecimentos rurais familiares, com o intuito de melhora nos níveis de produção e também em aspectos técnicos (questão sanitária, qualidade do produto, dentre outros). É a partir dessas informações que este estudo objetiva analisar a distribuição dos recursos financeiros e de números de contratos do PRONAF Mais Alimentos entre as Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural unidades federativas brasileiras no período de 2015 a 2017. Para o alcance do objetivo proposto, a metodologia selecionada é de natureza qualitativa, com a utilização das técnicas de revisões bibliográficas e documental. 2. POLÍTICA PÚBLICA DE CRÉDITO DIRECIONADAS À AGRICULTURA FAMILIAR Para Belik (1999) os mecanismos adotados para a formulação e execução de políticas públicas aplicadas ao setor agropecuário no Brasil vem se modificando desde o início da década de 1960, quando foi iniciado o movimento de “Revolução Verde”. Essa intervenção objetivava alterar a estrutura produtivado setor rural brasileiro. Destaca-se como o marco inicial a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965, como mecanismo governamental para o processo de modernização do setor rural nacional. O SNCR foi instituído em 1965, através da Lei número 4.829 de 05 de novembro de 1965 e regulamentado pelo Decreto número 58.380 de 10 de outubro de 1966 e tinha como principal objetivo o financiamento das atividades agropecuárias no país por meio da concessão de recursos à produtores rurais advindos de instituições financeiras públicas e privadas (SOUZA e CAUME, 2008). Para Bacha et.al (2006), este sistema de crédito institucionalizado no país tinha como principal meta o de proporcionar condições ao produtor rural de modernizar o sistema produtivo da propriedade por meio da aquisição de insumos tecnológicos, com o objetivo central de elevar o nível de produtividade dos recursos produtivos e da produção agropecuária nacional. Souza e Caume (2008) relatam que o processo de modernização do setor rural brasileiro pode ser caracterizado como excludente e seletivo. Já Gonçalves Neto (1997) afirma que a produção de base familiar sofreu um impacto negativo com a direção de modernização agropecuária adotada no Brasil, dada a incapacidade de concorrência com as demais classes produtoras capitalizadas se tornou ainda mais expressiva, onde o incentivo direcionado principalmente à produção tecnificada e em larga escala conduzia a marginalização dos produtores rurais de pequeno porte do país. A modernização do setor rural direcionada para os latifundiários e a dificuldade de acesso e a manutenção da ocupação a terra, agravou no processo de êxodo rural no país e também aumentou a desigualdade existente no campo. Aos produtores rurais de pequeno porte remanescentes, destacam-se a dificuldade de inserção no mercado, sejam por fatores como a falta de escala produtiva e a produção de produtos que não atendiam às especificidades técnicas exigidas pelas indústrias de processamento (GUANZIROLI et al. 2001). Os produtores rurais de pequeno porte foram beneficiados por uma ação governamental em meados da década de 1990, por meio da criação da primeira linha de crédito específica para a classe, através do Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), criada em 1994, resultado de várias mobilizações, nomeadas de “Grito da Terra Brasil”, organizados por movimentos sociais compostos por pequenos agricultores. Nessas manifestações, o conceito de Agricultura Familiar passa a ser incorporado na pauta de discussão de elaboração de políticas públicas e ações governamentais direcionadas aos produtores rurais de pequeno porte (BIANCHINI, 2015). Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A classificação de Agricultura Familiar é apresentada por Abramovay e Piketty (2001), conforme segue: [...] a agricultura familiar é aquela em a gestão, a propriedade e maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime, e muitas vezes tampouco operacional, é perfeitamente compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho familiares) estão presentes em todas elas (ABRAMOVAY e PIKETTY, 1999, p. 222). Para Schneider (2004) a afirmação da Agricultura Familiar no cenário social e político brasileiro está relacionada intimamente à legitimação que o Estado lhe deu ao criar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1995. Já Nunes (2007) relata que o PRONAF se propõe a fortalecer a agricultura familiar como categoria social, por meio do apoio financeiro (financiamento para custeio e investimento de atividades agropecuárias), capacitação e apoio à infraestrutura social e econômica dos territórios rurais. Segundo Guanzirolli (2007), a atuação do PRONAF se voltaria para a reversão do quadro seletivo e excludente que historicamente caracterizou a condução da política agropecuária implementada no Brasil no período de 1960 até o início dos anos de 1990. Existem diversos subprogramas vinculados ao PRONAF, sendo alguns dos principais: PRONAF Agroecologia, PRONAF Agroindústria, PRONAF Floresta, PRONAF Semiárido, PRONAF Jovem, PRONAF industrialização de Agroindústria Familiar, PRONAF Cota-Parte, PRONAF Investimento-Custeio-Microcrédito para reforma agrária, PRONAF Eco, PRONAF mulher e, por fim, a linha de crédito PRONAF Mais Alimentos (BACEN, 2017). O PRONAF Mais Alimentos objetiva incentivar o investimento em infraestrutura do empreendimento agropecuário, bem como na aquisição de máquinas e equipamentos que podem ser utilizados pelo produtor para elevar o nível de produção e de produtividade (MDA, 2018). Segundo o MDA (2018), existem normas para concessão de crédito no PRONAF Mais Alimentos, sendo estas divididas em individual e coletivo. A modalidade individual possui como limite a concessão de crédito de até R$ 330 mil para as atividades de suinocultura, avicultura, aquicultura, carcinicultura e fruticultura; e de R$ 165 mil para as demais finalidades. Por sua vez, a modalidade de coletivo é destinada para grupos de produtores que objetivam financiar a construção, reforma ou ampliação de benfeitorias e instalações permanentes, máquinas, equipamentos, inclusive de irrigação, e implementos agropecuários e estruturas de armazenagem, de uso comum, na forma de crédito coletivo. O limite de crédito é de até R$800 mil. 2.1 AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL A definição de agricultor familiar é apresentada na Lei número 11.326 de 24 de julho de 2006, de acordo com os seguintes critérios: Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural I – Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II – utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III – tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV – dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família (BRASIL, 2006). Ao se enquadrar nos requisitos estabelecidos pela Lei número 11.326, o produtor rural é classificado como familiar. E, com isso, o mesmo pode ter acesso a uma série de políticas públicas com o objetivo de proporcionar uma melhora a condição de vida da família ou promover a inclusão produtiva do negócio rural ao mercado. Essa dificuldade do agricultor familiar em acessar aos mercados é observada por Aires e Salamoni (2013), que atribuem esse empecilho por não terem condições para a adoção de padrões de tecnologia necessários para a produção de produtos que atendam aos critérios técnicos e/ou de qualidade exigidos pelos clientes (indústrias de processamento ou consumidores finais). A dificuldade de agricultores familiares em acesso aos mercados é discutida por Maluf (2004), conforme segue: No Brasil, a agricultura de base familiar sofre, de um lado, os efeitos diretos da abertura comercial unilateral e da constituição do Mercosul não acompanhadasde mecanismos protetores ou de políticas de reconversão produtiva, gerando impactos negativos nos preços dos seus produtos e, de forma mais localizada, da ocupação de fatias dos seus mercados. De outro lado, para que os pequenos agricultores participem significativamente no esperado aumento das exportações, é requerida não apenas sua capacitação para atender às exigências de conformidade e qualidade dos produtos em mercados específicos, mas também que seus interesses logrem se expressar institucionalmente na complexa política comercial antes referida. (MALUF, 2004, p. 304). Vale a pena também destacar que o perfil do agricultor familiar é heterogêneo entre as regiões brasileiras e, isso afeta diretamente o acesso dessa classe às políticas públicas, como o caso das linhas de crédito do PRONAF. De acordo com Corrêa e Ortega (2002) são vários os aspectos políticos e educacionais que impedem a equidade na distribuição do crédito rural entre as regiões brasileiras. Aquino e Schneider (2011) observam que apesar de todas as regiões brasileiras estarem captando recursos do PRONAF, há uma concentração da alocação dos recursos principalmente para as regiões Sul e Sudeste, principalmente para o financiamento da produção de commodities. Uma das justificativas para essa desigualdade no acesso dos recursos do PRONAF está no nível educacional dos agricultores familiares. Medina e Novaes (2013) observam que nas regiões Norte e Nordeste a maior parte dos produtores rurais classificados como familiares não possuem o ensino fundamental completo. Tal fator torna-se um empecilho para que os produtores tenham a compreensão adequada de como acessar essa política pública diretamente de instituições financeiras, que exigem uma série de documentos e informações da proposta para a liberação do recurso. Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O déficit na prestação de serviços de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) em algumas localidades brasileiras dificulta o acesso dos agricultores familiares aos recursos do PRONAF. Guedes (2016) observa que em alguns municípios de pequeno porte da região Nordeste há uma escassez na prestação desse tipo serviço, os produtores rurais são obrigados a se deslocarem para outras cidades para acessarem esse tipo de política pública. Isso agrava em elevação dos custos de transporte, bem como na demora para a formalização e enquadramento da proposta para as instituições financeiras. Souza et al. (2011) analisaram a evolução da distribuição dos financiamentos do PRONAF entre os estados brasileiros para o período de 1999 a 2009. Dentre os principais resultados encontrados, ocorreu uma concentração no direcionamento dos recursos do PRONAF para os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Paraná, ao final do período analisado. Os recursos têm sido direcionados, em grande parte, aos estados com maior participação no valor bruto de produção da Agricultura Familiar no país. Segundo Gasques et al (2005) e Corrêa e Ortega (2002) a concentração de recursos na região Sul, acaba por privilegiar uma Agricultura Familiar já mais estruturada e capitalizada historicamente, faz com que os agricultores mais fragilizados, que em grande parte são encontrados no Nordeste, tenham dificuldades para a obtenção do crédito, seja por não se “adequarem” a lógica financeira ou pelo menor nível organizacional e educacional, o que implica pouco (ou nenhum) conhecimento do funcionamento e das exigências do sistema bancário de como acessar ao recurso financeiro. Tais elementos podem evidenciar a continuidade de um processo de exclusão e marginalização de um determinado segmento da Agricultura Familiar no país. Junqueira e Lima (2008) ao analisar a relação entre algumas políticas públicas do setor agropecuário e seus efeitos para o desenvolvimento da Agricultura Familiar no Brasil concluíram que especificamente o PRONAF tem socializado o acesso ao crédito, apesar de ainda faltar muito para a universalização na concessão dos recursos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Nessas regiões os agricultores têm sofrido com a falta de informações e as exigências dos agentes financeiros para a formalização da proposta. 3. METODOLOGIA O método selecionado para o desenvolvimento desse estudo é de natureza qualitativa, por meio da utilização das técnicas de revisões bibliográfica e documental. Segundo Gil (2009), a pesquisa bibliográfica possui a função de resgatar o que já foi desenvolvimento sobre o tema estudado, e a análise é realizada principalmente em livros, artigos científicos e anais de congressos. Já a pesquisa documental possui como objetivo central a obtenção de informações que estejam fora do ambiente acadêmico. Conforme relatado por Fonseca (2002), a pesquisa documental recorre a fontes como tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais e dentre outras bases de dados que tratem do tema em questão. A base de dados consultada para realizar uma análise da distribuição dos recursos do PRONAF Mais Alimentos no país foi a do Banco Central do Brasil (BACEN). As variáveis selecionadas foram: (i) número de contratos; (ii) valor de financiamento. As localidades analisadas, foram as unidades federativas brasileiras para o período de 2015 a 2017. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Está seção está destinada para a apresentação dos resultados e discussão. Inicialmente são apresentadas informações sobre a evolução do número de contratos e dos valores de financiamento do PRONAF Mais Alimentos no Brasil. Em seguida, são realizadas análises sobre a distribuição dos recursos financeiros e do número de contratos entre as unidades federativas brasileiras. Por fim, são realizadas algumas discussões sobre os resultados alcançados. 5.1 Análise do PRONAF Mais Alimentos no Brasil no período de 2015 a 2017 No Gráfico 1 são apresentadas informações sobre o montante de recursos financeiros contratados pela linha de financiamento PRONAF Mais Alimentos no Brasil durante o período de 2015 a 2017. Gráfico 1. Distribuição de recursos do PRONAF Mais Alimentos no país durante o período de 2015 a 2017 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). No período de 2015 a 2017 foram disponibilizados cerca de R$ 19 bilhões para o subprograma PRONAF Mais Alimentos na modalidade de investimentos. De 2015 a 2016, ocorreu um aumento expressivo de R$ 3,40 bilhões no valor monetário total concedido aos agricultores familiares rurais brasileiros. No ano de 2017 houve uma redução de 4% do valor total capitado em relação a 2016 (Gráfico 1). De acordo com o MDA (2018), na safra 2016/2017, aproximadamente 40% de tratores adquiridos pelos agricultores familiares no país foram por meio da linha de financiamento do PRONAF Mais Alimentos. No Gráfico 2 são apresentadas informações sobre a distribuição de contratos pela linha de financiamento PRONAF Mais Alimentos no Brasil durante o período de 2015 a 2017. Gráfico 2. Distribuição de contratos do PRONAF Mais Alimentos no país durante o período de 2015 a 2017 R$ 4.298.631.050,18 R$ 7.700.320.486,99 R$7.363.116.726,82 R$ - R$ 1.000.000.000,00 R$ 2.000.000.000,00 R$ 3.000.000.000,00 R$ 4.000.000.000,00 R$ 5.000.000.000,00 R$ 6.000.000.000,00R$ 7.000.000.000,00 R$ 8.000.000.000,00 R$ 9.000.000.000,00 2015 2016 2017 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). No período entre 2015 a 2017 foram efetivados 614.048 contratos através do PRONAF Mais alimentos na modalidade de investimentos. Entre 2015 e 2016 houve um aumento de 164,52% no número de contratos realizados, mostrando uma maior busca dos produtores familiares por essa linha de crédito, já no ano de 2017 quando comparado com o ano de 2016, houve uma queda de 13,01% no número de contratos realizados. 5.2 Análise da distribuição de recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos entre unidades federativas brasileiras no período de 2015 a 2017 Nas Tabelas 1, 2 e 3 são apresentadas informações sobre a distribuição dos valores monetários obtidos a partir da linha de financiamento do PRONAF Mais Alimentos de quatorze unidades federativas que mais e menos captaram desse recurso para os anos de 2015, 2016 e 2017, respectivamente. 150.639 247.834 215.575 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 2015 2016 2017 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Tabela 1. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos captaram recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2015 Ranking Localidade Valor em reais (R$) 7 MAIORES RIO GRANDE DO SUL 624.199.645,71 MINAS GERAIS 601.523.190,22 PARANÁ 509.609.356,55 SANTA CATARINA 464.006.915,31 RONDÔNIA 352.265.024,59 MATO GROSSO 286.002.374,01 SÃO PAULO 279.097.931,59 7 MENORES RIO DE JANEIRO 19.206.660,89 RIO GRANDE DO NORTE 18.484.587,74 RORAIMA 16.832.132,18 AMAZONAS 15.236.209,29 PARAÍBA 10.250.080,36 DISTRITO FEDERAL 833.476,44 AMAPÁ 767.970,62 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). Tabela 2. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos captaram recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2016 Ranking Localidade Valor em reais (R$) 7 MAIORES RIO GRANDE DO SUL 1.223.058.176,91 MINAS GERAIS 1.042.226.873,26 PARANÁ 954.740.882,18 SANTA CATARINA 923.007.315,37 RONDÔNIA 619.239.407,39 MATO GROSSO 526.287.732,92 ESPÍRITO SANTO 411.239.341,63 7 MENORES PIAUÍ 48.344.267,79 SERGIPE 30.289.704,01 PARAÍBA 26.156.411,63 RIO GRANDE DO NORTE 24.366.372,75 AMAZONAS 22.140.135,41 AMAPÁ 4.213.479,94 DISTRITO FEDERAL 1.005.158,07 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Tabela 3. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos captaram recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2017 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). Nas Tabelas 1, 2 e 3 é observado pouca alteração no ranking dos 7 estados que mais captaram recursos financeiros da linha de financiamento do PRONAF Mais Alimentos programa, sendo observado apenas a saída do estado de São Paulo do ranking dos sete estados que mais adquiriram investimentos nos anos de 2016 e 2017, com a entrada do Espírito Santo. O estado do Rio Grande do Sul permaneceu como líder no ranking de contratação de recursos do PRONAF Mais Alimentos durante o período analisado, com valores de R$ 624,19 milhões (14,5% do total nacional) em 2015, R$ 1,22 bilhões (15,88% do total nacional) em 2016 e R$ 1,35 bilhões (18,35% do total nacional) em 2017. Além do Rio Grande do Sul, é observada a presença dos outros estados componentes da região Sul no topo do ranking, ou seja, todos os estados dessa região se encontram presente no ranking dos 7 maiores estados captadores de recursos financeiros. O estado do Paraná contratou os valores de R$ 509,60 milhões (11,85% do total nacional) em 2015, de R$ 954,74 milhões (12,40% do total nacional) em 2016 e R$ 977,48 milhões (13,27% do total nacional) em 2017, bem como Santa Catarina que em 2015 registrou uma contratação de recurso de R$ 464,00 milhões (10,79% do total nacional), de R$ 923,00 milhões (11,99% do total nacional) em 2016 e R$ 898,87 milhões (12,20% do total nacional) (Tabelas 1, 2 e 3). A região Sudeste foi a segunda região com o maior número de representantes, no ranking de 7 maiores unidades federativas brasileiras que captaram mais recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos. No ano de 2015 a contratação de recursos, foi representada pelos estados de Minas Gerais que obteve um valor de R$ 601,52 milhões (14% do total nacional) e São Paulo que captou um valor de R$ 279,09 milhões (6,49% do total nacional). Em 2016, o estado de Minas Gerais permaneceu na mesma posição no ranking (segunda posição), captando um valor total de R$ 1,04 bilhões (13,43% do total nacional) e o estado do Espírito Santo um montante de R$ 411,23 milhões (5,34% do total nacional), ocupando um Ranking Localidade Valor em reais (R$) 7 MAIORES RIO GRANDE DO SUL 1.351.693.272,20 PARANÁ 977.482.005,36 MINAS GERAIS 956.304.848,30 SANTA CATARINA 898.879.785,77 RONDÔNIA 661.305.244,49 MATO GROSSO 463.857.940,56 ESPÍRITO SANTO 329.656.384,32 7 MENORES SERGIPE 31.565.197,31 RORAIMA 30.238.082,13 AMAZONAS 25.556.971,92 PARAÍBA 25.074.069,51 RIO GRADE DO NORTE 23.984.084,07 AMAPÁ 4.063.827,07 DISTRITO FEDERAL 502.528,35 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural patamar que antes era ocupado pelo estado de São Paulo. Já em 2017 o estado de Minas Gerais ocupou a terceira posição no ranking, com Minas Gerais captando R$ 956.305 milhões (12,99% do total nacional) e o Espírito Santo R$ 329.656 milhões (4,48% do total nacional) (Tabelas 1, 2 e 3). Por outro lado, nas Tabelas 1, 2 e 3 também são apresentadas informações sobre as sete unidades federativas que menos captaram recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos no período de 2015 a 2017. Vale ressaltar que a maior parte dos estados estão localizados nas regiões Norte e Nordeste do país. A região Nordeste teve duas unidades federativas no ranking das unidades federativas que menos utilizaram recursos financeiros do PRONAF Mais Alimentos em 2015, sendo elas o Rio Grande do Norte que captou R$ 18,48 milhões (0,43 % do total nacional) e a Paraíba R$ 10,25 milhões (0,23% do total nacional). No ano de 2016 a quantidade de unidades federativas nordestinas na parte inferior do ranking passou a ser de quatro, que foram o estado de Piauí com um valor de R$ 48,34 milhões (0,62% do total nacional), Sergipe com um valor de R$ 30,28 milhões (0,39% do total nacional), Paraíba com um montante de R$ 26,15 milhões (0,33% do total nacional) e Rio Grande do Norte com um patamar de R$ 24,36 milhões (0,31% do total nacional). Em 2017, três estados da região Nordeste ficaram na parte inferior do ranking, sendo eles o Sergipe que captou R$ 31,56 milhões (0,42% do total nacional), a Paraíba que contratou um total de R$ 25,07milhões (0,34% do total nacional) e o Rio Grande do Norte com um montante de R$ 23,98 milhões (0,32% do total nacional) (Tabelas 1, 2 e 3). De acordo com informações das Tabelas 1, 2 e 3, a região Norte no ano de 2015, teve três de suas unidades federativas na parte inferior do ranking, sendo elas os estados de Roraima que captou um valor de R$ 16,83 milhões (0,39% do total nacional), Amazonas com um valor de R$ 15,23 milhões (0,35% do total nacional) e Amapá com um total de R$ 767,97 mil (0,01% do total nacional). Já em 2016, o estado de Amazonas captou um montante de R$ 22,14 milhões (0,28% do total nacional) e Amapá com um valor de R$ 4,21 milhões (0,05% do total nacional). Por fim, no ano de 2017 foram captados por Roraima o valor de R$ 30,23 milhões (0,41% do total nacional), pelo Amazonas um valor de R$ 25,55 milhões (0,34% do total nacional) e pelo Amapá um montante de R$ 4,21 milhões (0,05% do total nacional). 5.3 Análise da distribuição de contratos do PRONAF Mais Alimentos entre unidades federativas brasileiras no período de 2015 a 2017 Nas Tabelas 4, 5 e 6 são apresentadas informações sobre a distribuição da quantidade de contratos da linha de financiamento do PRONAF Mais Alimentos de quatorze unidades federativas que mais e menos formalizaram esse tipo de contrato para os anos de 2015, 2016 e 2017, respectivamente. Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Tabela 4. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos efetivaram contratos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2015. Ranking Localidade Número de contratos 7 MAIORES MINAS GERAIS 19.839 RIO GRANDE DO SUL 18.155 BAHIA 14.943 PARANÁ 14.371 SANTA CATARINA 14.226 ESPÍRITO SANTO 7.473 RONDÔNIA 7.462 7 MENORES PARAÍBA 1.317 MATO GROSSO DO SUL 1.239 AMAZONAS 762 RORAIMA 542 RIO DE JANEIRO 466 DISTRITO FEDERAL 13 AMAPÁ 10 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). Tabela 5. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos efetivaram contratos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2016 Ranking Localidade Número de contratos 7 MAIORES MINAS GERAIS 31.617 RIO GRANDE DO SUL 31.584 SANTA CATARINA 25.982 PARANÁ 25.325 BAHIA 19.221 RONDÔNIA 12.667 ESPÍRITO SANTO 12.074 7 MENORES RIO GRANDE DO NORTE 2.210 MATO GROSSO DO SUL 2.206 RORAIMA 1.618 RIO DE JANEIRO 1.165 AMAZONAS 755 AMAPÁ 48 DISTRITO FEDERAL 28 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). Tabela 6. Quatorze unidades federativas brasileiras que mais e menos efetivaram contratos financeiros do PRONAF Mais Alimentos para o ano de 2017 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Ranking Localidade Número de contratos 7 MAIORES RIO GRANDE DO SUL 31.091 MINAS GERAIS 25.347 PARANÁ 23.104 SANTA CATARINA 22.770 BAHIA 15.965 RONDÔNIA 12.561 ESPÍRITO SANTO 9.258 7 MENORES SERGIPE 2.072 MATO GROSSO DO SUL 1.663 RIO DE JANEIRO 1.220 RORAIMA 928 AMAZONAS 812 AMAPÁ 80 DISTRITO FEDERAL 7 Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de dados do Anuário Estatístico do Banco Central do Brasil (2018). No ano de 2015, a região Sul foi que efetivou o maior número de contratos financeiros do PRONAF Mais alimentos, de forma conjunta os estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná efetivaram um total de 46.752 contratos (31,03% do total nacional), a região Sudeste teve duas unidades federativas no ranking dos 7 estados que mais fecharam contratos financeiros, sendo Minas Gerais a primeira colocada no ranking com um total de 19.839 contratos (13,17% do total nacional) e o Espírito Santo com um número de 7.473 contratos (4,96% do total nacional). O único estado nordestino a aparecer no ranking superior da Tabela 4 foi a Bahia com um total de 14.943 contratos (9,92% do total nacional). Por sua vez, destaca-se no ranking inferior, existem três estados da região Norte, que foram Roraima, Amazonas e Amapá, seguido de outro da região Nordeste que foi Sergipe. No ano de 2016 as setes unidades federativas que efetivaram a maior quantidade de contratos do PRONAF Mais Alimentos foram as mesmas, havendo apenas uma mudança no posicionamento entre elas. A região Sul teve um aumento de 177,30% nos números de contratos financeiros do PRONAF Mais Alimentos em relação ao ano de 2015. Em 2016 os contratos efetivados de forma conjunta por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná representaram cerca de 33,44% do total nacional. O estado de Minas Gerais liderou o ranking como a maior unidade federativa brasileira com a efetivação de contratos, que foi um total de 31.617 (12,76% do total nacional). Como destaque, aparecem os estados da Bahia e Rondônia na parte superior do ranking da Tabela 5, que são localizados nas regiões Nordeste e Norte, respectivamente. Por sua vez, ao analisar o ranking inferior, constata-se a predominância de estados da região Norte (Roraima, Amazonas e Amapá) dos estados que efetivaram a menor quantidade de contratos de investimentos da política pública analisada nesse estudo. Em 2017 ocorreu uma diminuição a nível nacional na quantidade de contratos efetivados na linha de crédito do PRONAF Mais Alimentos. Em relação às unidades federativas que lideram o ranking das que mais efetivaram contratos, destaca-se a predominância da Região Sul com um total de 76.965 contratos (35,70% do total nacional). Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Bem como, a participação de Minas Gerais (25.347 contratos), Bahia (15.965 contratos), Rondônia (12.561 contratos) e Espírito Santo (9.258 contratos). Já no ranking inferior da Tabela 6, os estados de Roraima, Amazonas e Amapá representam a região Norte e Sergipe a região Nordeste. 5.4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Historicamente a região Sul, a partir da imigração europeia apresentou uma diversificação das atividades agropecuárias, onde os imigrantes contribuíram para formação das pequenas e médias propriedades, com a utilização da mão de obra familiar e contribuiu para a predominância desse tipo de categoria no meio rural sulista (SWAIN, 1992). A partir de informações do Censo Agropecuário de 2006, constata-se que 81,63%, 87,03% e 85,75% dos estabelecimentos rurais nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente, são classificados como familiares. No período de 2015 a 2017, a distribuição de recursos financeiros e quantidade de contratos de investimentos do PRONAF Mais Alimentos foram concentrados predominantemente nas unidades federativas da região Sul. Segundo Buainain et al. (2014), a região Sul apresenta, tradicionalmente, uma Agricultura Familiar mais dinâmica economicamente, cuja capacidade organizacional (consolidação de associações e/ou cooperativas) é diferenciada em relação às demais regiões brasileiras. A consolidação de grupos de cooperativas e/ou associações contribuem para o processo de difusão de informações entre os produtores rurais, como por exemplo, o mecanismo de acesso às políticas públicas direcionadas à essa categoria social. Em contraposição ao Sul, conformeBuainain et al. (2014), o agricultor familiar na região Nordeste enfrenta vários problemas relacionados as condições sociais e econômicas. A Agricultura Familiar nordestina é caracterizada pelo menor tamanho de terra e estrutura agrária, ao baixo grau de escolaridade, com baixo nível de capital e um acesso restrito à tecnologia, fatores esses que contribuem para um menor acesso à linha de crédito do PRONAF Mais Alimentos, bem como de outras fontes de recursos do Crédito Rural. Para França (2013), outros fatores estruturais prejudicam o desenvolvimento do setor agropecuário na região Nordeste, como a deficiência logística e a carência na prestação de serviços de ATER. A concessão do crédito de investimento do PRONAF Mais Alimentos é cedido a partir de uma série de exigências burocráticas (regulamentadas pelas instituições financeiras) e por meio da formalização de um projeto, com os quais, se o produtor rural não for instruído de maneira adequada, ele se torna excluído de uma série de políticas públicas com a qual possui o direito. Além disso, destaca-se que com a implementação de políticas como o PRONAF que apoiam à produção familiar no país, houve uma aceleração no processo de consolidação dos sistemas produtivos que objetivavam a redução da pobreza no campo e a diminuição da pressão de migração sobre cidades. No entanto, são necessárias ações que possam alavancar o Desenvolvimento Social no campo por meio da ampliação de acessos aos serviços públicos básicos como a saúde, educação, segurança e saneamento básicos para os agricultores familiares (GUANZIROLI et al., 2001). Essas medidas são importantes em regiões como o Nordeste e Norte. Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliou-se que ocorreu uma expansão nos valores de financiamento e número de contratos do PRONAF Mais Alimentos no país de 2015 a 2017. Em relação o acesso dessa política pública entre os agricultores familiares brasileiros, constata-se uma desigualdade na distribuição a nível regional. A região Sul é predominante tanto no acesso dos recursos financeiros quanto no número de contratos no período analisado. Esse fator pode estar diretamente relacionado ao perfil do agricultor familiar sulista, que possui uma capacidade organizacional (consolidação de associações e/ou cooperativas) diferenciada em relação aos produtores de outras regiões brasileiras, que contribui para o processo de difusão de informações entre os produtores associados. Por outro lado, as regiões Nordeste e Norte, se destacam com a presença de unidades federativas com um menor patamar de acesso de recurso financeiro do PRONAF Mais Alimentos e também pela quantidade de contratos de investimentos efetivados durante o período analisado. Na literatura foram encontrados fatores que possam contribuir para esse processo, como por exemplo, o nível educacional dos produtores que não possuem o entendimento de como operacionalizar o acesso da política pública junto a uma instituição financeira. Cita-se também o déficit na prestação dos serviços de ATER e também a deficiência de infraestrutura logística que restringem o acesso dos produtores à instituições prestadoras de serviços de extensão rural de outras cidades. Recomenda-se a realização de estudos que busquem traçar o perfil socioeconômico dos agricultores familiares das regiões brasileiras, para que assim, essa heterogeneidade do meio rural brasileiro possa ser identificada. Esse tipo de informação contribuirá para a elaboração de políticas públicas direcionadas as especificidades do setor rural existente entre as unidades federativas. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R.; M. G. PIKETTY. Política de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): resultados e limites da experiência brasileira nos anos 90. Cadernos de Ciência e Tecnologia, v. 22, n. 1, p. 53-66, 2005. ABRAMOVAY, R.; VEIGA, J. E. 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