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Organização Social de Interesse Publico x Organização Social

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III Congresso Consad de Gestão Pública 
 
 
 
 
 
 
 
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS CIVIS DE INTERESSE PÚBLICO 
NO CONTEXTO DA REFORMA GERENCIAL BRASILEIRA 
 
 
 
Franceli Pedott Dias 
Amanda de Lima e Silva 
Thaís Recoba Campodonico 
 
 
 
 
 
 
 
 
Painel 18/070 
 
Organizações sociais e OSCIPs: balanço e perspectivas 
 
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS CIVIS DE INTERESSE PÚBLICO NO CONTEXTO DA 
REFORMA GERENCIAL BRASILEIRA 
Franceli Pedott Dias 
Amanda de Lima e Silva 
Thaís Recoba Campodonico 
RESUMO 
 
 
Com o surgimento da Administração Pública Gerencial, via Plano Diretor da Reforma 
do Aparelho do Estado, em 1995, o Brasil passou a incorporar figuras jurídicas da 
sociedade civil na prestação de serviços públicos. Nesse contexto, surgem no 
âmbito federal as Organizações Sociais, Lei no 9.637/1998, e as Organizações da 
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Lei no 9.790/1999. Este artigo 
pretende problematizar as diferenças e semelhanças na lei das OSCIPs do Estado 
do Rio Grande do Sul (Lei 12.901), criada em 2008. Como variáveis de análise serão 
abordados os impedimentos para se caracterizar como OSCIP, os requisitos 
necessários para a sua qualificação, os repasses conferidos à essas organizações e 
por fim, as áreas de atuação das OSCIPs. Para tanto, será utilizado o método 
comparativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 03
1 ESTADO ULTRALIBERAL...................................................................................... 05
2 REFORMA GERENCIAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA................................... 08
3 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS....................................................... 10
4 ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES Da SOCIEDADE CIVIL 
DE INTERESSE PÚBLICO........................................................................................ 12
4.1 Organizações Sociais.......................................................................................... 12
4.2 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público........................................ 13
4.3 Diferenças entre Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil 
de Interesse Público................................................................................................... 14
4.4 A Lei das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público no Rio 
Grande do Sul............................................................................................................ 17
4.5 Comparação entre as leis Federal e Estadual das Organizações 
da Sociedade Civil de Interesse Público.................................................................... 20
CONCLUSÃO.............................................................................................................21
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 23
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O Estado Liberal, que adotava um sistema de livre mercado, deu espaço 
ao Estado de Bem Estar Social, que visava limitar o mercado face aos cidadãos, 
este por sua vez deu espaço ao Ultrliberalismo, o qual não trouxe idéias diferentes 
do Liberalismo, apenas acentuou mais a luta pelo livre comércio, traçando objetivos 
que o modelo capitalista jamais havia conhecido. 
Um Estado Ultraliberal parte da premissa de que uma democracia 
representativa é ideal para assegurar direitos aos cidadãos. Para esse modelo as 
desigualdades não são apenas inevitáveis, são, antes disso, necessárias para 
manter um comércio forte. Nesse contexto Ultraliberal, passam a surgir as 
Organizações Não Governamentais (ONGs), como apoio aos movimentos sociais, o 
que logo depois passa a ser uma utopia. 
No governo de Fernando Henrique Cardoso, se desenvolve a reforma 
da administração pública. Dessa forma, a Administração Pública Burocrática, dá 
espaço para a Administração Pública Gerencial. É nessa época que surgem as 
Organizações Sociais (OSs), como uma qualificação para as ONGs que assim 
desejarem, visando acabar com o repasse indevido de recursos públicos às 
ONGs irregulares. Após, surge as Organizações da Sociedade Civil de Interesse 
Público (OSCIPs). 
As OSs e OSCIPs são um dos meios utilizados pelo Plano Diretor da 
Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), para aplicação da Administração Pública 
Gerencial. Através dessas entidades o Estado repassa serviços que não são de sua 
exclusividade, ao chamado terceiro setor. Ocorre desta forma, a publicização dos 
serviços públicos não exclusivos. 
Com base nesse contexto elaborou-se o problema de pesquisa: Os 
serviços públicos exercidos pelas Organizações Sociais e Organizações da 
Sociedade Civil de Interesse Público, são formas de privatizações de serviços que 
deveriam ser prestados pelo próprio Estado? 
O artigo tem como objetivo geral, analisar a Lei Federal (Lei no 9.790 de 
23 de março de 1999) e a Lei Estadual (Lei no 12.901 de 11 de Janeiro de 2008) 
4 
 
 
 
 
 
 
 
das OSCIPs, visando demonstrar as principais diferenças e semelhanças entre as 
leis. Como objetivos específicos: a) analisar o contexto ultraliberal; b) analisar a 
reforma da Administração Pública; c) analisar as Organizações Não 
Governamentais; d) comparar as Lei das Organizações Sociais (Lei no 9.637 de 15 
de maio de 1998) e a Lei das Organizações da Sociedade Civil. 
A metodologia empregada para o desenvolvimento da pesquisa, quanto à 
abordagem é o método hipotético-dedutivo. As técnicas de pesquisa, por sua vez, 
foram: pesquisa documental e bibliográfica. 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
1 ESTADO ULTRALIBERAL 
O ultraliberalismo1 teve seu inicio após a 2a Guerra Mundial como uma 
reação política e teórica na região da América do Norte e da Europa. O sistema 
capitalista imperava nessas regiões, por isso elas serviram como berço perfeito para 
o desenvolvimento ultraliberal, que lutava contra o Estado de bem-estar social e o 
Estado intervencionista. O texto-origem do ultraliberalismo foi “O Caminho da 
Servidão” de Fredrich Hayek escrito em 1994, referente à esse texto, Perry 
Anderson afirma que: 
Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitação dos 
mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma 
ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política.2 
Após a publicação de seu texto, Fredrich Hayek reuniu um grupo de 
pessoas, que compartilhavam de seus ideais, em Mont Pèlerin, na Suíça e como 
conseqüência dessa reunião e de algumas outras em 1947 surge a “Sociedade Mont 
Pèlerin”, que estava disposta a combater o Estado de bem-estar social europeu e o 
“New Deal” americano. 
Três escolas serviram de suporte e contribuíram para o surgimento do 
ultraliberalismo como fenômeno teórico: a Escola de Chicago, de Milton Friedman 
que combatia furiosamente a política do “New Deal” de F.D.Roosevelt; a Escola 
Austríaca, de Fredrich Hayek, fundador da sociedade de Mont Pèlerin; e a Escola de 
Virginia, de James Buchanan. 
Em 1973 com a crise do pós guerra (crise do petróleo) as bases do 
modelo capitalista foram enfraquecidas, portanto as idéias ultraliberais reapareceram 
mais sólidas e com força imperativa, apresentando soluções de acordo com seus 
princípios fundamentais. Alguns princípios básicos dos ultraliberais estavam 
instalados na idéia de que a crise tinha raízes profundas nas forças dos sindicados e 
nos movimentos operários, que eram protegidos pelo Estado de Bem-estar social, 
onde o Estado era pressionado por esses órgãos e acabava por ceder as suas 
 
1
 O ultraliberalismo, também é conhecido por diversos autores como neoliberalismo.Contudo, 
ultraliberalismo, é um termo mais apropriado, pois esse modelo de Estado, não inovou, apenas 
aperfeiçoou o modelo de Estado Liberal, resultando no capitalismo desenfreado. 
2
 ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo (organizadores). 
Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 
2000, p.10. 
6 
 
 
 
 
 
 
 
pressões aumentando os gastos públicos para tentar remediar os problemas sociais, 
medida repudiada pelos pensadores do ultraliberalismo, pois de acordo com eles 
esses métodos somente fortaleciam o comodismo de tais instituições, diminuindo a 
mão-de-obra e conseqüentemente comprometendo o lucro das empresas e o 
aparecimento da inflação. As soluções apresentadas pelo Ultraliberalismo, para 
conter a crise, são mencionadas por Perry Anderson: 
O remédio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua 
capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas 
parco em todos os gastos saciais e nas intervenções econômicas. A 
estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. 
Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção 
dos gastos com bem-estar, e a restauração da taxa ‘natural’ de 
desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para 
quebrar os sindicatos. Ademais, as reformas fiscais eram imprescindíveis, 
para incentivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava 
reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. 
Desta forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as 
economias avançadas.3 
Analisando o âmbito político, para os ultraliberais, a democracia não é 
fundamental, não importa se o regime é democrático ou autoritário, o que importa de 
fato, é um Estado forte que neutralize os sindicatos, acabe com gastos sociais e 
diminua consideravelmente a carga fiscal sobre lucros e fortunas. Nesse sentido, 
Atílio Borón: 
O próprio Friedrich Von Hayek declarou na célebre entrevista que concedeu 
ao matutino conservador chileno El Mercúrio, se tivesse que escolher entre 
uma economia de livre mercado com um governo ditatorial ou uma 
economia com controles e regulações, mas com um Estado democrático, 
escolheria sem dúvida o primeiro.4 
De acordo com o modelo ultraliberal os homens nascem desiguais e 
assim devem permanecer, somente dessa maneira alguns talentos destacam-se 
trazendo progresso para a sociedade, e impedem que os incompetentes e 
preguiçosos ocupem um lugar ao sol, evitando desta forma, que esses inertes 
contaminem a base social com sua estagnação e falta de talento. Os ricos são os 
“santos” indispensáveis para o andamento dinâmico da sociedade, pois são eles os 
 
3
 ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo (organizadores). 
Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 5.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, 
p.11. 
4
 BORÓN, Atílio. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In: SADER, Emir & GENTILE, Pablo 
(organizadores). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 1995, p.101. 
7 
 
 
 
 
 
 
 
responsáveis pela política lucrativa que assegura a prosperidade estatal. O “Deus 
Maior” dos defensores da política ultraliberal é, de forma única e exclusiva, o 
Mercado, através desse mecanismo “divino” se regula tudo e todos, de acordo com 
ele que são ditadas as regras, ele é quem controla e jamais pode ou deve ser 
controlado, ele dita as regras que movem a sociedade. 
O ponto de vista ultraliberal preocupa-se, única e exclusivamente, com os 
lucros e com o domínio do mercado, não importando o quanto isso custe à 
sociedade e às pessoas que nela vivem. A desigualdade cada vez mais crescente 
entre as classes não é encarada como algo negativo, mas sim, vista como 
instrumento necessário para que o crescimento econômico se desenvolva e alcance 
a prosperidade. 
A pressão gerada por novas demandas sociais, represadas durante 
décadas, num país recém saído de uma ditadura militar, contribuiu para que o 
discurso ultraliberal fosse bem assimilado pelas novas lideranças governamentais. 
A transparência da Administração Pública, o aumento da participação e do controle 
da sociedade sobre o Estado começou a se fazer presentes nos ideais e nas 
necessidades dos cidadãos. Foi neste contexto ultraliberal, marcado pelo 
captalismo desenfreado e aumento de desigualdades, que se deu a reforma da 
Administração Pública. 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
2 REFORMA GERENCIAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Os defensores da Reforma Gerencial da administração pública sustentam 
a idéia de que ela está voltada para a afirmação da cidadania no Brasil, por meio da 
adoção de formas modernas de gestão no Estado brasileiro, que possibilitam 
atender as demandas sociais de forma democrática e eficiente. A reforma 
administrativa, nada mais foi do que a modificação de práticas e/ou alterações 
organizacionais, que visou adaptar a Administração Pública a uma determinada 
concepção de Estado. 
O Brasil enfrentou três reformas, passando por diferentes modelos de 
administração: a Administração Pública Patrimonialista; a Administração Pública 
Burocrática; a Administração Pública Gerencial. A primeira ocorreu durante o 
mandato de Getulio Vargas, a partir de 1937, com o “Estado Novo”, onde se teve 
uma necessidade de controlar o poder que a oligarquia rural obtinha sobre o setor 
público; a segunda, após o golpe militar de 1964, com a promulgação do Decreto-Lei 
no 200, em 1967, que visava flexibilizar a Administração Pública com mecanismos de 
gestão mais próximos do setor privado; e a terceira e última aconteceu durante o 
governo de Fernando Henrique Cardoso, onde seu mandato estendeu-se de 1995 a 
2002, e foi marcado pela “Reforma do Estado”. 
A Reforma Gerencial tem como documento básico no Brasil o “Plano 
Diretor da Reforma do Aparelho do Estado” de setembro de 1995. Os moldes da 
nova gestão pública incluíram a reforma tributária, a reforma da previdência social e 
a reforma administrativa. 
Em 1985, após a transição de um governo militar para um governo civil, 
foi constituída a Comissão Geral do Plano de Reforma Administrativa que definiu 
três eixos para a reforma: contenção de gastos públicos, racionalização das 
estruturas administrativas e formulação de uma política de recursos humanos. Os 
estudos feitos pela Comissão Geral acabaram transformando-se em normas 
constituintes em 1988. 
Nesse período houve um projeto de democratização social e política do 
desenvolvimento, o que pode ser observado pelas ações reformistas de algumas 
áreas governamentais, discussão que acabou gerando lugar no texto constitucional 
de 1988. Porém segundo os defensores da reforma gerencial, a constituição de 
1988 ignorou completamente as orientações da Administração Pública. 
9 
 
 
 
 
 
 
 
Para a corrente ultraliberal, democracia é simplesmente a transmissão da 
vontade pelo voto. Para os ultraliberais, democracia é sinônimo de voto universal 
ligado às eleições. Portanto, para legitimar a reforma administrativa, bastava a 
legitimação da vitória de Fernando Henrique Cardoso nas eleições de 1994. Com a 
aprovação da emenda constitucional encaminhada ao Congresso Nacional, deixou 
mais do que claro que o único obstáculo para a reforma, era o texto constitucional. 
Assim, a questão da participação popular na tomada de decisões mais 
uma vez foi ignorada e o “jogo democrático” desviado. Deste ponto é que se conclui 
o primeiro sinal de déficit democrático da reforma ultraliberal da Administração 
Pública levada à tona durante o governo Fernando Henrique. 
A visãoultraliberal esteve muito presente em todos os momentos de 
formulação do Conselho de Reforma. Tanto que na demarcação de seus objetivos 
para a função regulatória estão presentes tais preceitos: 
(...) promover e garantir a competitividade de respectivo mercado; garantir 
os direitos dos consumidores e usuários de serviços públicos, estimular o 
investimento privado, nacional, estrangeiro, nas empresas prestadoras de 
serviços públicos e atividades correlatas; buscar a qualidade e segurança 
dos serviços públicos, aos menores custos possíveis para os consumidores 
e usuário; garantir a adequada remuneração dos investimentos realizados 
nas empresas prestadoras de serviços e usuários; dirimir conflitos entre 
consumidores e usuários, de um lado, e empresas prestadoras de serviços 
públicos; e prevenir o abuso do poder econômico por agentes prestadores 
de serviços públicos.5 
Neste momento, percebe-se no Brasil, a despreocupação em diminuir as 
desigualdades sociais, nada que diga respeito em possibilitar a diminuição da 
pobreza ou melhorar a qualidade dos serviços prestados. O cidadão é simplesmente 
visto como um consumidor, usuário, e seus interesses são vistos apenas 
economicamente, tanto que constantemente são usados os termos competitividade 
e investimento. 
Uma das novidades da reforma da Administração Pública, através do 
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, é a criação de Organizações 
Sociais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, visando 
regulamentar as Organizações Não Governamentais. 
 
5
 MARE, Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. O Conselho de Reforma do 
Aparelho de Estado. Brasília: MARE, 1997. 
10 
 
 
 
 
 
 
 
3 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS 
O Estado deveria garantir o bem-estar da população, mais em 
determinados aspectos ele não consegue praticar essa função sozinho. Assim, 
passaram a ganhar espaço as Organizações Não-Governamentais, ou seja, 
consolidou-se o terceiro setor, como alternativa para a atuação do Estado em 
serviços não exclusivos. 
Segundo Carin Kramer Dutra as ONGs são: 
Organizações independentes que possuem reconhecimento social, 
caracterizam-se inicialmente por serem organizações sem fins lucrativos, e 
em sua maior parte, com trabalho voluntário e dependentes financeiramente 
de doações privadas ou estatais. As organizações não governamentais 
foram criadas a partir dos movimentos sociais, para darem, apoio ao 
movimentos sociais não-governamentais. Mas a partir da década de 1990 
essas organizações começaram a se distanciar dos movimentos sociais.6 
Para Eduardo Woltmann: 
A princípio, ONGs são entidades, formadas por associação, atuantes no 
terceiro setor e que se declaram com finalidades e sem fins lucrativos, 
prestando serviços de caráter social. Assim, acabam recebendo incentivos 
fiscais e também financiamento de suas ações, por parte do Estado, 
conforme previsto nas mais diversas legislações.7 
Por certo tempo as ONGs obtiveram acesso a recursos públicos sem 
habilitação para tanto, isso ocorria por falta de uma regulação especifica sobre a 
matéria. Foi na época do governo do Fernando Henrique Cardoso, que decidiu-se 
positivar o terceiro setor. Após muitas tentativas frustradas, regulamentou-se sobre 
as Organizações Sociais, através da Lei no 9.637/98, posteriormente surgiram as 
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, através da Lei no 9.790/99. 
É nesse sentido Carin Kramer Dutra: 
 
6
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.33. 
7
 WOLTMANN, Eduardo. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público na Saúde 
Brasileira: uma forma de privatização mascarada. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Porto Alegre: 
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, 2009, p.106. 
11 
 
 
 
 
 
 
 
A Organização Social é uma qualificação para as ONSGs que assim o 
desejarem, a entidade continua a ser uma ONG só que com uma 
qualificação. De forma genérica se pode dizer que toda Organização Social 
é uma ONG, mas nem toda ONG é necessariamente uma Organização 
Social. Apenas as que desejarem e cumprirem os requisitos.8 
Desta forma, perdeu-se o caráter social das ONGs, que passaram a servir 
como meios para burlar processos licitatórios. 
 
 
8
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada de 
Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.35. 
12 
 
 
 
 
 
 
 
4 ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL DE 
INTERESSE PÚBLICO 
4.1 Organizações Sociais 
As Organizações Sociais foram criadas pelo Plano Diretor da Reforma do 
Aparelho do Estado, que as define como sendo: “entidades de direito privado que, 
por iniciativa do Poder Executivo, obtêm autorização legislativa para celebrar 
contrato de gestão com esse poder, e assim ter direito à adoção orçamentária.”9 Os 
serviços estatais que não forem exclusivos, poderão se transformar em 
Organizações Sociais, a partir do Programa Nacional de Publicização, havendo 
prioridade para hospitais, universidades, escolas técnicas, centros de pesquisas, 
bibliotecas e museus.10 
4.1.1 Áreas de atuação, qualificação, participação do poder público, forma 
contratual, repasses e desqualificação das Organizações Sociais 
As Organizações Sociais estão regidas pela Lei no 9.637 de 15 de maio de 
1998, oriunda das Medidas Provisórias no 1591 e 1648. A sua atuação, consiste em 
atribuições administrativas, que não sejam exclusivas do Estado. No art. 1o da lei, as 
atividades desenvolvidas por essas sociedades se voltam ao ensino, pesquisa 
cientifica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, 
cultura e saúde. 
A qualificação como Organização Social é concedida pelo Poder Executivo 
Federal, por meio de Ato Discricionário, onde a lei é quem autoriza o agente a 
proceder uma avaliação de conduta, tomando em consideração a finalidade do ato.11 
Segundo o art. 3o da Lei no 9.637/98 o Poder Público deve obrigatoriamente 
participar da administração das Organizações Sociais. 
 
9
 BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANDI.HTM. Acesso em: 9 fev. 2010, p.60. 
10
 BRASIL. Plano diretor da reforma do aparelho do estado. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANDI.HTM. Acesso em: 9 fev. 2010, p.60. 
11
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.41. 
13 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto aos repasses, as Organizações Sociais podem receber recursos 
orçamentários, bens públicos e inclusive servidores públicos, se necessário. Os 
bens públicos são repassados as OSs na forma de permissão de uso, não havendo 
necessidade de licitação. Os servidores podem ser cedidos às Organizações 
Sociais, devendo o governo arcar com a manutençãodos mesmos, segundo o art. 
14 da Lei no 9.637/98.12 
Uma Organização Social pode perder sua qualificação, de acordo com o art. 
16, § 1o e § 2o da Lei no 9.637/98, quando descumprirem as disposições constantes 
no contrato de gestão. 
4.2 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 
As OSCIPs são um tipo de qualificação jurídica conferida a pessoas sem fins 
lucrativos voltadas a fins sociais, estando regulamentadas pela Lei no 9.790 de 23 de 
março de 1999, que foi regulamentada pelo Decreto no 3100 de 30 de junho de1999. 
O que acontece com as OSCIPs não é a instituição de uma nova entidade, 
mas sim a atribuição do status de Organização da Sociedade Civil de Interesse 
Público à pessoas jurídicas criadas nos moldes do Direito Privado, existentes na 
sociedade. Desta forma, o Estado repassa algumas atividades para entes privados, 
que se comprometem em visar o bem social, ocorrendo a publicização de serviços 
públicos. 
4.2.1. Áreas de atuação, qualificação, participação do poder público, forma 
contratual, repasses e desqualificação das Organizações Sociais 
A Lei no 9.790/99, em seu art. 2o, proíbe certas entidades de serem 
qualificadas como OSCIPs, ainda que cumpram todos os requisitos referidos na 
mesma lei. As OSCIPs, conforme o art. 3o da Lei no 9.790/99 podem atuar nas 
seguintes áreas: assistencial, religiosa, beneficente, educacional, hospitalar, 
recreativa, cultural, creches, bairrista, esportista, ambiental, pesquisas, tratamento 
 
12
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.45. 
14 
 
 
 
 
 
 
 
toxicômano, musical, reabilitação, imprensa, ecológico, prestador microfilmagem, 
usuário microfilmagem, creditícia, jurídica, saúde, abrigo, nutrição, voluntariado, 
ética, cidadania, comunicação, tecnologias alternativas, cientifica, sociedades 
comerciais, partidárias, circulo restrito, planos de saúde hospitalar não gratuito, 
escolar não gratuito, cooperativas, fundações públicas e orfanato. 
A qualificação como OSCIP será concedida pelo Ministério da Justiça, 
através de ato vinculado. Essas entidades não necessitam de vinculo de gestão com 
o Poder Público, não sendo obrigatória a participação do mesmo na administração 
das OSCIPs. O Termo de Parceria será o contrato das OSCIPs, onde estará 
determinado tudo sobre sua forma de atuação, é o que está expresso no art. 9o da 
Lei no 9.790/99. 
A Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, recebem recursos 
públicos, mediante um regime de concessão. Carin Kramer Dutra explica que: 
Os servidores da instituição não podem ser cedidos à Oscip que celebrou 
com o Poder Público o Termo de Parceria para prestação de serviços não-
exclusivos. Os servidores voltam para o órgão público, e devem ser 
realocados em outras repartições.13 
As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público podem perder sua 
qualificação a pedido ou mediante decisão proferida em processo administrativo ou 
judicial, de iniciativa popular ou Ministério Público, assegurando-se direito a ampla 
defesa e contraditório.14 
4.3 Diferenças entre Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil 
de Interesse Público 
As Organizações Sociais e as Organizações da Sociedade Civil de 
Interesse Público têm em comum o fato de serem pessoas jurídicas de direito 
privado sem fins lucrativos, entre outras características. 
 
13
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.57. 
14
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.57. 
15 
 
 
 
 
 
 
 
Embora as OSs e as OSCIPs possuam muitas semelhanças elas 
possuem alguns aspectos distintos, conforme José dos Santos Carvalho Filho: 
Como se pode observar, afinal, são semelhantes os sistemas de parceria 
ensejadores das organizações sociais e das organizações da sociedade 
civil de interesse público. O núcleo central de ambos é a parceria 
Estado/entidade privada na busca de objetivos de interesses comuns e 
benefícios à coletividade. Logicamente, existem pontos específicos que 
distinguem os regimes. Um deles é a participação de agentes do Poder 
Público na estrutura da entidade: enquanto é ela exigida nos Conselhos de 
Administração das organizações sociais, não há esse tipo de ingerência nas 
organizações da sociedade civil de interesse público. Outro aspecto é a 
formalização da parceria: com aquelas entidades é celebrado contrato de 
gestão, ao passo que com estas é firmado termo de parceria. Enfim, nota-se 
que as linhas da disciplina jurídica das organizações sociais as colocam um 
pouco mais atreladas ao Poder Público do que as organizações da 
sociedade civil de interesse público. Ambas, porém, retratam novas formas 
de prestação de serviços públicos.15 
As Organizações Sociais devem, obrigatoriamente, ter a participação do 
Poder Público em sua administração. Já as Organizações da Sociedade Civil de 
Interesse Público não demandam desta obrigatoriedade. 
Enquanto o ato de qualificação das Organizações Sociais se dá por 
processo discricionário, o das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público 
é através de processo vinculado. O órgão que qualifica as Organizações Sociais é o 
Ministério da Área Correspondente, o das Organizações da Sociedade Civil de 
Interesse Público é o Ministério da Justiça. 
As OSs possuem Contrato de Gestão com o Poder Público, afim de 
regular suas condições de existência, já as OSCIPs, firmam um Termo de Parceria 
para tanto. 
Embora ambas entidades recebam recursos públicos, às OSCIPs não 
podem ser cedidos servidores públicos, diferente do que ocorre com as OSs. 
 
15
 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito administrativo. 18. ed. Revista, ampliada e 
atualizada. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2007, p.319. 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OSs OSCIPs 
ÁREAS DE ATUAÇÃO ENSINO, PESQUISA CIENTÍFICA, 
DESENVOLVIMENTO 
TECNOLÓGICO, PROTEÇÃO E 
PRESERVAÇÃO DO MEIO 
AMBIENTE, CULTURA, SAÚDE. 
ASSISTÊNCIA SOCIAL; CULTURA; 
EDUCAÇÃO; SAÚDE; SEGURANÇA 
ALIMENTAR E NUTRICIONAL; 
DEFESA E PRESERVAÇÃO DO 
MEIO AMBIENTE; VOLUNTÁRIADO; 
DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 
E SOCIAL; SISTEMA 
ALTERNATIVO DE PRODUÇÃO, 
COMÉRCIO, EMPREGO E 
CRÉDITO, PROMOÇÃO DA ÉTICA, 
PAZ E CIDADANIA; ACESSORIA 
JURÍDICA, DESENVOLVIMENTO 
TECNOLÓGICO 
 INSTRUMENTO CONTRATUAL CONTRATO DE GESTÃO TERMO DE PARCERIA 
TIPO DO ATO DE QUALIFICAÇÃO ATO DISCRICIONÁRIO ATO VINCULADO 
MINISTÉRIO QUE QUALIFICA QUALIFICAÇÃO CONCEDIDA 
PELO PODER EXECUTIVO 
(MINISTÉRIO DA ÁREA DE 
ATUAÇÃO 
 QUALIFICAÇÃO CONCEDIDA 
PELO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 
PARTICIPAÇÃO DE AGENTES DO 
PODER PÚBLICO 
DEVE HAVER PARTICIPAÇÃO DO 
PODER PÚBLICO NA 
ADMINISTRAÇAO 
NÃO PARTICIPA DA SUA DIREÇÃO 
OU DA ADMINISTRAÇÃO 
APRESENTAÇÃO DO BALANÇO 
PATRIMONIAL, DEMONSTRATIVO 
DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO 
E DE ISENÇÃO DO IR 
NÃO É OBRIGATÓRIA OBRIGATÓRIA 
RECURSOS PÚBLICOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS, 
BENS PÚBLICOS SOBREGIME DE 
CONCESSÃO E CESSÃO DE 
SERVIDORES PÚBLICOS 
RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS, 
BENS PÚBLICOS SOB REGIME DE 
CONCESSÃO 
LICITAÇÃO DISPENSADA DISPENSADA 
DESQUALIFICAÇÃO MEDIANTE DESCUMPRIMENTO 
DAS DISPOSIÇÕES CONTIDAS NO 
CONTRATO DE GESTÃO 
MEDIANTE DESCUMPRIMENTO 
DAS DISPOSIÇÕES CONTIDAS NO 
TERMO DE PARCERIA 
Quadro 1: Comparação entre OSs e OSCIPs 
Fonte: Elaborado Carin Kramer Dutra16 
 
16
 DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil Organizada 
de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Canoas: Centro 
Universitário Ritter dos Reis, 2009, p.60. 
17 
 
 
 
 
 
 
 
4.4 A Lei das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público no Rio 
Grande do Sul 
O projeto de lei das OSCIPs gaúchas, conhecido inicialmente como “PL 
399/07” foi aprovado no dia 17 de dezembro de 2007, na Assembléia Legislativa do 
Rio Grande do Sul (AL/RS). A partir da publicação da lei no Diário Oficial do Estado, 
o governo passou a ter possibilidade de firmar Termos de Parceria com OSCIPs, 
para executar serviços que seriam de responsabilidade do Estado, inclusive os que 
hoje são executados pelas Fundações17. 
Em outubro de 2007 o governo do Estado do Rio Grande do Sul lançou o 
projeto de lei do marco institucional das Organizações da Sociedade Civil de 
Interesse Público, anunciado como uma medida que compõe o Plano de 
Recuperação do Estado em busca da sua modernização e eficiência.18 
Em dezembro de 2007 foi aprovada pela Assembléia Legislativa a Lei no 
12.901, que foi sancionada pela Governadora do Estado, em 11 de janeiro de 2008, 
criando, no Estado do Rio Grande do Sul, o marco legal das Organizações da 
Sociedade Civil de Interesse Público. 
O modelo gaúcho de OSCIPs é uma junção dos modelos federais de OSs 
e OSCIPs, baseada nos melhores pontos da lei das OSCIPs do Estado de Minas 
Gerais e na Lei Complementar das OSs do Estado de São Paulo. 
Para enquadrar-se na qualificação de OSCIP, as instituições devem ser 
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, constituídas há pelo menos 
dois anos e que estejam em atividade. Devem, ainda, atender as normas previstas 
na lei e os seus objetivos sociais precisam atender a pelo menos uma das atividades 
expressas no art. 2o da lei Estadual, como, por exemplo: a assistência social; a 
cultura, a defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; a educação; a 
saúde; a segurança alimentar e nutricional; a defesa, preservação e conservação do 
meio ambiente, gestão de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável; o 
trabalho voluntário; o desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; a 
 
17
 WOLTMANN, Eduardo. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público na Saúde 
Brasileira: uma forma de privatização mascarada. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Porto Alegre: 
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, 2009, p.106. 
18
 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Governo do Estado apresenta projeto sobre Oscips. 
Disponível em: http://www.estado.rs.gov.br/. Acesso em: 10 fev. 2010. 
18 
 
 
 
 
 
 
 
experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas 
alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; a defesa da ética, da paz, da 
cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; o 
fomento ao esporte; e o fomento aos estudos e pesquisas, desenvolvimento de 
tecnologias, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e 
científicos voltados às atividades arroladas neste artigo. As Organizações da 
Sociedade Civil de Interesse Público não podem ter objetivos econômicos. 
Receberam no ano de 2009 no Rio Grande do Sul, a certificação de 
OSCIP, as seguintes entidades: Associação dos Amigos da Casa de Cultura Mário 
Quintana (AACCMQ), Organização para o Desenvolvimento Social e Cidadania 
(Ordesc), O Pão dos Pobres de Santo Antônio, Instituto de Administração Hospitalar 
Ciência da Saúde (IAHCS), Associação Cristã de Moços (ACM), Associação Amigos 
do Meio Ambiente (AMA), Fundação para Capacitação Profissional e Inclusão Social 
(Funcapis) e o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). 
A participação dos cidadãos no Rio Grande do Sul pode ser questionada 
quando se verifica a sua efetividade. Especialmente em Porto Alegre, não foi 
detectada na prática, a preocupação apresentada anteriormente pelo legislador em 
garantir a publicidade sobre seus atos e dessas organizações. Durante a pesquisa, 
foram encontradas apenas 43 entidades com algum tipo de contato, por telefone ou 
email, comprovando assim o descaso com a população. Encontramos 
desatualização dos dados cadastrais, onde alguns telefones e endereços registrados 
no sitio da internet do Ministério da Justiça não pertencem às organizações 
registradas e outros estão desligados, o que impede a comunicação com as 
mesmas e uma pesquisa mais aprofundada sobre seu trabalho, uma vez que são 
raras as entidades que possuem site institucional. 
Segundo o sitio do Ministério da Justiça na internet, na listagem das 
OSCIPs de Porto Alegre, existem 91 entidades qualificadas, porém 29 não possuem 
finalidade descrita na tabela. Isto põe em questão os requisitos essenciais previstos 
no artigo terceiro da Lei 9.790/99. 
19 
 
 
 
 
 
 
 
35%
13%
11%
7%
7%
7%
7%
5%
2%2%
2%2%ASSISTENCIAL
AMBIENTAL
CULTURAL
EDUCACIONAL
PESQUISA 
CIDADANIA
INTEGRAÇÃO
SAÚDE
ÉTICA
CIENTÍFICA
BENEFICENTE
JURÍDICA
 
Gráfico 1: Demonstrativo de finalidades – OSCIPs de Porto Alegre 
Gráfico produzido pelas autoras com dados do Ministério da Justiça19 
 
 
De acordo com o artigo 28 § 2o do decreto Decreto no 45.541/08, a 
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público deverá apresentar 
semestralmente à Comissão de Avaliação o relatório gerencial sobre a execução do 
objeto do Termo de Parceria, contendo comparativo entre as metas propostas e os 
resultados alcançados e o demonstrativo integral da receita e despesa realizadas na 
execução. Porém, após inúmeras tentativas de contado e buscas na internet, esta 
sendo descumprido o previsto no art. 22 do mesmo decreto, que diz que deverá ser 
publicada no Diário Oficial do Estado a súmula do Termo de Parceria e em página da 
“internet”, a cargo do Parceiro Público, contendo o demonstrativo da execução física 
e financeira e de prestação de contas, conforme modelo simplificado, contendo os 
dados principais da documentação obrigatória prevista no inciso VI do art. 9o da Lei 
no 12.901/08, sob pena de não-liberação dos recursos previstos no respectivo 
Instrumento. 
Cabe-nos a pergunta: A execução do objeto do Termo de Parceria está 
sendo fiscalizado e acompanhado pelo Parceiro Público, pelo Órgão de Controle 
Interno do Estado e pela Assembléia Legislativa, nos termos dos artigos 56 e 76 da 
Constituição do Estado, e do art. 11, caput, da Lei no 12.901/08? 
 
19
 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Cidadania, OSCIP – Entidades Qualificadas. Disponível em: 
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ59319A86PTBRIE.htm. Acesso em: 10 fev. 2010. 
20 
 
 
 
 
 
 
 
4.5 Comparação entre as leis Federal e Estadual das Organizações da 
Sociedade Civil de Interesse Público 
No Brasil atualmente existem 5.358 entidades qualificadas como OSCIPs, 
tendo o Rio Grande do Sul 4% desse total, com 251 entidades. A Lei Federal das 
OSCIPs foi embasadora para a Lei Estadual do Rio Grande do Sul. Estas possuem 
semelhanças comoa que regula a qualificação das entidades como OSCIPs, 
estabelecendo que podem ser formadas por pessoas jurídicas de direito privado, que 
não possuam fins lucrativos e que cumpram os requisitos especificados na legislação, 
para que possam ser destinatárias de recursos orçamentários e bens públicos, 
conforme surja a necessidade de desenvolvimento de seus projetos. Tanto a lei 
federal quanto a gaúcha, estipulam a celebração com o Poder Público de um Termo 
de Parceria que se destina à formação de um vínculo de cooperação entre as partes. 
Uma das principais diferenças entre a norma federal e a estadual, diz 
respeito a instituição da seleção pública das entidades para a assinatura dos Termos 
de Parceria. O edital de seleção das OSCIPs foi criado pela lei estadual para fiscalizar 
se a entidade possui as condições mínimas necessárias para a prestação do serviço e 
não para fiscalizar a gestão da entidade. Outra diferença é a estipulação pela lei 
estadual do acompanhamento pela Procuradoria-Geral do Estado e pelo Ministério 
Público Estadual para assegurar a isenção do processo de seleção. 
As licitações, pelo regulamento de compra na lei estadual não são 
necessárias, visando maior agilidade e autonomia às entidades qualificadas. Na 
lei federal, existe a necessidade da renúncia às demais qualificações (por 
exemplo, certificado de filantropia) pela entidade. Já na lei estadual, essa 
necessidade não ocorre. 
Deve também ser observado, que em ambas as legislações, há presença 
dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, 
economicidade e da eficiência. 
21 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
Em meados da década de 90, durante o governo de Fernando Henrique 
Cardoso, o Brasil passou por inúmeras mudanças. Aconteceu a Reforma Gerencial do 
Estado, que teve por idéia original, a de ser voltada para a afirmação da cidadania no 
Brasil, por meio da adoção de formas modernas de gestão no Estado brasileiro, que 
possibilitassem atender as demandas sociais de modo democrático e eficiente. 
A reforma administrativa nada mais foi do que a modificação das práticas 
e/ou alterações organizacionais, que visou adaptar a Administração Pública a uma 
determinada concepção de Estado. Há pouco mais de uma década, surgiu no Brasil, 
dentro do terceiro setor, a Lei no 9.637/98 e logo em seguida a Lei no 9.790/99, que 
possibilitaram uma nova qualificação para as pessoas jurídicas de direito privado 
sem fins lucrativos, as OS ou OSCIPs. Essas entidades do terceiro setor, deram 
origem a um distinto instrumento jurídico de cooperação entre o Estado e as 
entidades, assim qualificadas, para o fomento e a realização de projetos em forma 
de termo de parceria. 
Entidades de benefício público que devem atender a coletividade e não 
um número restrito de pessoas. Autogovernadas possuindo direção própria e não 
sendo regidas pelo governo ou pelo mercado. São voluntárias pois nascem da 
vontade de seus membros constituintes. 
Contrário ao esperado, a lei das OSCIPs não se efetivou na prática como 
inovadora, pois não apresentou novidades em relação aos ordenamentos anteriores. 
Apesar da ampla discussão com os diferentes atores da sociedade civil, não foram 
suficientes para fazer com que a Lei 9.790/99 atingisse as expectativas de mudança 
do terceiro setor. 
A lei abriu oportunidade de qualificação para organizações de áreas 
diferentes da saúde, assistência social e educação, educação. Porém, deixou 
dúvidas sobre a transparência da norma e das intenções do legislador ao ignorar o 
estabelecimento de critérios objetivos para a escolha da OSCIP que realizaria 
parcerias com o Estado. Assim, diante de duas ou mais OSCIPs interessadas o 
gestor governamental pode escolher livremente, sem nenhuma fundamentação, com 
qual delas a parceria será assinada, uma vez que esse termo é um ato discricionário 
e não vinculado. 
22 
 
 
 
 
 
 
 
A participação da sociedade pode ser questionada quando se verifica o 
seu alcance. Não foi detectada na prática, a preocupação apresentada 
anteriormente pelo legislador, em garantir a publicidade sobre seus atos e dessas 
organizações. Entre as situações, encontradas durante a pesquisa, que 
comprovaram este descaso estão: a desatualização dos dados cadastrais das 
OSCIPs – alguns telefones e endereços registrados no site do ministério da justiça 
não pertencem às organizações registradas e outros estão desligados o que impede 
a comunicação com as mesmas e uma pesquisa mais aprofundada sobre seu 
trabalho, uma vez que são raras as entidades que possuem site institucional. 
Este trabalho não visa somente fazer uma crítica ao modelo de gestão 
implementada com a reforma gerencial da administração pública e a criação das 
Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, mas 
sim alertar as autoridades competentes de fiscalização, bem como os cidadãos, a 
fim de evitar possíveis abusos. 
 
23 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo 
(organizadores). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 
5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 
 
 
BORÓN, Atílio. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In: SADER, Emir; 
GENTILE, Pablo (organizadores). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o 
Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. 
 
 
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1988. Atualizada até a Emenda Constitucional no 58, de 23 de setembro de 2009. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7 
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______. Decreto no 3100, de 30 de junho de 1999. Disponível em: http://planalto. 
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______. Lei no 9.637, de 15 de maio de 1998. Disponível em: http://planalto.gov. 
br/ccivil_03/Leis/L9637.htm. Acesso em: 10 fev. 2010. 
 
 
______. Lei no 9.790, de 23 de março de 1999. Disponível em: http://planalto.gov. 
br/ccivil_03/Leis/L9790.htm. Acesso em: 10 fev. 2010. 
 
 
______. Medida Provisória no 1.591, de 9 de outubro de 1997. Brasília. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas/1591-5.htm. Acesso em: 
10 fev. 2010. 
 
 
______. Medida Provisória no 1648, de 24 de março de 1998. Brasília. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas/1648-6.htm. Acesso em: 
10 fev. 2010. 
 
 
______. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Disponível em: http:// 
www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANDI.HTM. Acesso em: 9 fev. 2010. 
 
 
DUTRA, Carin Kramer. Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil 
Organizada de Interesse Público: formas de privatização mascaradas? Trabalho 
de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título 
de Bacharel em Direito. Canoas: Centro Universitário Ritter dos Reis, 2009. 
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Governo do Estado apresenta projeto 
sobre Oscips. Publicação: 09.10.07. Disponível em: http://www.estado.rs.gov.br/. 
Acesso em: 10 fev. 2010. 
 
 
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito administrativo. 18. ed. 
Revista, ampliada e atualizada. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2007. 
 
 
FONSECA, Francisco. O ultraliberalismo e seus contendores. In: Encontro da 
Associação Brasileira de Ciência Política. Niterói, 2002. 
 
 
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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Cidadania, OSCIP – Entidades Qualificadas. Disponível 
em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ59319A86PTBRIE.htm. Acesso em: 10 fev.2010. 
 
 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 23 ed. São Paulo: Editora Atlas 
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WOLTMANN, Eduardo. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público 
na saúde brasileira: uma forma de privatização mascarada. Trabalho de Conclusão 
de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em 
Administração. Porto Alegre: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, 2009. 
 
 
WOOD, E. M. Democracia contra capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2004. 
 
25 
 
 
 
 
 
 
 
___________________________________________________________________ 
AUTORIA 
Franceli Pedott Dias – Acadêmica do Curso de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis, 8o 
semestre. Atualmente é integrante do Grupo de Pesquisa em Direitos Fundamentais do Centro 
Universitário Ritter dos Reis, o qual é orientado pelo Professor Aragon Érico Dasso Júnior. 
 
Endereço eletrônico: fran_pedott@hotmail.com 
 
 
 
Amanda de Lima e Silva – Acadêmica do Curso de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis, 6o 
semestre. Atualmente é integrante do Grupo de Pesquisa em Direitos Fundamentais do Centro 
Universitário Ritter dos Reis, o qual é orientado pelo professor Aragon Érico Dasso Júnior. 
 
 
Thaís Recoba Campodonico – Possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Centro 
Universitário Ritter dos Reis (2009). Atualmente é integrante do Grupo de Pesquisa em Direitos 
Fundamentais do Centro Universitário Ritter dos Reis, o qual é orientado pelo professor Aragon Érico 
Dasso Júnior.

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