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dificuldades metodológicas(iniciais) da Sociologia

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Ciências humanas: objeto e dificuldades de se constituírem em ciências 
De fato, enquanto todas as outras ciências têm como objeto algo que se encontra fora do sujeito-
cognoscente, as ciências humanas têm como objeto o próprio ser que conhece. É fácil imaginar as dificuldades da 
economia, da sociologia, da psicologia, da geografia humana, da história, para estudar com objetividade aquilo que 
diz respeito ao próprio homem tão diretamente. 
Vejamos quais são as dificuldades enfrentadas pelas ciências humanas. 
Há uma complexidade inerente aos fenômenos humanos, sejam psíquicos, sociais ou econômicos, com 
inúmeros aspectos que não podem ser simplificados. Em física, por exemplo, ao estudar as condições de pressão, 
volume e temperatura, é possível simplificar o fenômeno tornando constante um desses fatores. O comportamento 
humano, entretanto, como somatória de influências como hereditariedade, meio, impulsos, desejos, memória, etc. é 
um fenômeno extremamente complexo. Já pensou como seria avaliar o comportamento dos eleitores numa eleição 
presidencial? Ou procurar explicar o fenômeno do linchemanto ou da vaia? 
Outra dificuldade encontra-se na experimentação. Isso não significa que ele seja impossível, mas é difícil 
identificar e controlar os diversos aspectos que influenciam os atos humanos. 
Além disso, a natureza artificial dos experimentos controlados em laboratório podem falsear os resultados. 
A motivação dos sujeitos também é variável, e as instruções do experimentador podem ser interpretadas de 
maneiras diferentes. Da mesma forma, a repetição do fenômeno pode alterar os efeitos, pois nunca uma repetição 
se fará sem modificações, já que, para o homem, a situação sempre será vivida de maneiras diferentes. 
E ainda: certos experimentos sofrem restrições de caráter moral, pois não se pode submeter o ser humano, 
indiscriminadamente, a experiências que arrisquem sua integridade física, psíquica ou moral. Por exemplo: observar 
as reações de pânico num grupo de pessoas presas numa sala em chamas; ou provocar a superpopulação num 
condomínio a fim de observar a variação do índice de violência. 
Além disso, é preciso saber o que deverá ser observado: se o comportamento externo do indivíduo ou 
grupo, ou apenas o relato do que sentiram. Esta técnica, chamada introspecção (olhar para dentro), pode ser 
falseada pelo indivíduo voluntariamente, quando mente, ou involuntariamente, por motivos que precisariam ser 
detectados. De qualquer forma, há algumas tendências que consideram discutíveis certas formas de 
experimentação. 
Outra questão resfere-se à matematização. Se a passagem da física aristotélica para a física clássica de 
Galileu se deu pela transformação das qualidades em quantidades, conclui-se que uma ciência seria mais rigorosa 
quanto mais matematizável fosse. Ora, esse ideal é inaplicável às ciências humanas, cujos fenômenos são 
essencialmente qualitativos. No entanto, sabemos que técnicas estatísticas são utilizadas, mas os resultados são 
aproximados e sujeitos a interpretação. 
Outra dificuldade reside na subjetividade. As ciências da natureza aspiram à objetividade, que consiste na 
descentração do eu no processo de conhecer: na capacidade de lançar hipóteses verificáveis por todos, fornecendo 
instrumentos de controle; e na descentração das emoções e da própria subjetividade do cientista. Mas, se o sujeito 
que conhece é da mesma natureza do objeto conhecido, parece ser grande o risco de essa descentração não 
ocorrer. Imagine como analisar o medo, sendo o próprio analista uma pessoa sujeita ao medo; ou interpretar a 
história, estando situado numa dada perspectiva histórica; ou analisar a família, fazendo parte de uma; ou ser 
economista, vivendo num sistema econômico ou de um sistema econômico... 
Por fim, se a ciência supõe o determinismo, como fica a questão da liberdade humana? Por haver 
regularidades na natureza, é possível estabelecer leis e por meio delas prever a incidência de um determinado 
fenômeno. Mas como isso seria possível, se admitíssemos a liberdade do homem? E se ele estivesse submetido a 
determinismos, seria da mesma forma e intensidade que para os seres inertes? 
Essas colocações foram feitas não com a intenção de mostrar que as ciências humanas são inviáveis, pois 
elas aí estão, procurando o seu espaço. Quisemos apenas discutir a diferença de sua natureza e as dificuldades que 
têm encontrado até o momento. Enfrentar esses problemas tem determinado o tipo de metodologia que as 
caracteriza. 
A necessidade do método 
A palavra método vem do grego methodos, composta de meta: através de, por meio de, e de hodos: via, 
caminho. Usar um método é seguir regular e ordenadamente um caminho através do qual uma certa finalidade ou 
um certo objetivo é alcançado. No caso do conhecimento, é o caminho ordenado que o pensamento segue por meio 
de um conjunto de regras e procedimentos racionais, com três finalidades: 
1. Conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida; 
2. Permitir a demonstração e a prova de uma verdade já conhecida; 
3. Permitir a verificação de conhecimentos para averiguar se são ou não verdadeiros. 
O método é, portanto, um instrumento racional para adiquirir, demonstrar ou verificar conhecimentos. 
Por que se sente a necessidade de um método? Porque o erro, a ilusão, o falso, a mentira rondam o 
conhecimento, interferem na experiência e no pensamento. Para dar segurança ao conhecimento, o pensamento 
cria regras e procedimentos que permitam ao sujeito cognoscente aferir e controlar todos os passos que realiza no 
conhecimento de algum objeto ou conjunto de objetos. 
Cada campo do conhecimento deva ter seu método próprio, determinado pela natureza do objeto, pela 
forma como o sujeito do conhecimento pode aproximar-se desse objeto e pelo conceito de verdade que cada esfera 
do conhecimento define para si própria. 
Assim, por exemplo, considera-se o método matemático, isto é, dedutivo, próprio para objetos que 
existem apenas idealmente e que são construídos inteiramente pelo nosso pensamento; ao contrário, o método 
experimental, isto é, indutivo, é próprio das ciências naturais, que observam seus objetos e realizam experimentos. 
Já as ciências humanas têm métodos de compreensão e de interpretação do sentido das ações, das 
práticas, dos comportamentos, das instituições sociais e políticas, dos sentimentos, dos desejos, das transformações 
históricas, pois o homem, objeto dessas ciências, é um ser histórico-cultural que produz as instituições e o sentido 
delas. Tal sentido é o que precisa ser conhecido. 
No caso das ciências exatas (as matemáticas), o método é chamado axiomático, isto é, baseia o 
conhecimento num conjunto de termos primitivos e de axiomas, que são o ponto de partida da construção e 
demostração dos objetos. 
No caso das ciências naturais (física, química, biologia, etc), o método é chamado experimental e 
hipotético. Experimental, porque se baseia em observações e em experimentos, tanto para formular quanto para 
verificar as teorias. Hipotético, porque os cientistas partem de hipóteses sobre os objetos que guiam os 
experimentos e a avaliação dos resultados. 
No caso das ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, história, etc.), o método é chamado 
compreensivo-interpretativo, porque seu objeto são as significações ou os sentidos dos comportamentos, das 
práticas e das instituições realizadas ou produzidas pelos seres humanos.

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