Buscar

Direito das Sucessões

Prévia do material em texto

2. CONCEITO E FUNDAMENTO DO DIREITO DAS SUCESSÕES
Direito das Sucessões é o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio (ativo e passivo – créditos e débitos) de alguém, depois de sua morte, em virtude de lei ou testamento. Está regulado nos arts. 1.784 a 2.027 CC. A Constituição Federal assegura o direito de herança (artigo 5º, XXX).
O fundamento do direito sucessório é a propriedade, conjugada ou não com o direito de família.
3. DA SUCESSÃO EM GERAL
A sucessão pode ser classificada em:
Sucessão Legítima (ou ab intestato) —> decorre da lei; morrendo a pessoa sem testamento transmite-se a herança aos herdeiros legítimos indicados pela lei. Também será legítima se o testamento caducar ou for declarado nulo.
Sucessão Testamentária —> ocorre por disposição de última vontade (testamento). Havendo herdeiros necessários (cônjuge sobrevivente, descendentes ou ascendentes), o testador só poderá dispor de metade da herança (art. 1.789 CC). A outra metade constitui a “legítima”, assegurada aos herdeiros necessários. Não os havendo terá plena liberdade de testar. Mas se for casado sob o regime da comunhão universal de bens (art. 1.667 CC) o patrimônio do casal será dividido em duas meações e a pessoa só poderá dispor da sua meação.
Nosso ordenamento proíbe qualquer outra forma de sucessão, especialmente a contratual. São proibidos os pactos sucessórios, não podendo ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (art. 426 do C.C. – pacta corvina). No entanto admite a cessão de direitos.
A título universal —> o herdeiro é chamado para suceder na totalidade da herança, fração ou parte dela, assumindo a responsabilidade relativamente ao passivo. Ocorre tanto na legítima como na testamentária.
A título singular —> o testador deixa ao beneficiário um bem certo e determinado (legado). O herdeiro não responde pelas dívidas da herança.
4. ABERTURA DA SUCESSÃO, ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
A Abertura da Sucessão (também chamada de delação ou devolução sucessória) se dá no momento da constatação da morte comprovada do de cujus (expressão latina abreviada da frase de cujus successione agitur – aquele de cuja sucessão se trata, ou seja, a pessoa que faleceu; de cujus também é chamado de autor da herança).
O Princípio Básico do Direito das Sucessões é conhecido como Droit de Saisine (direito de posse imediata), ou seja, transmite-se automaticamente e imediatamente, o domínio e a posse da herança aos herdeiros legítimos e testamentários do de cujus, sem solução de continuidade (ou seja, sem interrupção) e ainda que estes (os herdeiros) ignorem o fato (art. 1.784 CC). Não necessita da prática de qualquer ato. No entanto deve-se proceder a um inventário para se verificar o que foi deixado e o que foi transmitido.
Só se abre sucessão se o herdeiro sobrevive ao de cujus. O herdeiro que sobrevive ao de cujus, ainda que por um instante, herda os bens por ele deixado e os transmite aos seus sucessores, se falecer em seguida. Há necessidade de apuração da capacidade sucessória.
Além disso, é válido frisar que o herdeiro sucede a título universal e o legatário a título singular.
Aceitação da herança ou adição – (arts. 1.804 e seguintes do CC) – é o ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro (legítimo ou testamentário) manifesta livremente o desejo de receber a herança que lhe é transmitida. A aceitação consolida os direitos do herdeiro. É também indivisível e incondicional porque não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte e sob condição ou a termo, isto para se preservar a segurança nas relações jurídicas; a aceitação deve ser pura e simples. Não pode haver retratação da aceitação da herança. No entanto pode ser anulada e revogada, se após a sua ocorrência se verifica que o aceitante não é herdeiro.
A aceitação pode ser classificada em:
• expressa – declaração escrita (pública ou particular).
• tácita – atos compatíveis com a aceitação da qualidade de herdeiro.
• presumida – quando o herdeiro permanece silente, depois que é notificado para que declare se aceita ou não a herança.
Renúncia da herança – Consiste no ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro declara expressamente que não aceita a herança a que tem direito, despojando-se de sua titularidade. É ato solene, devendo ser feito por escritura pública (perante o tabelião) ou termo nos autos (perante o juiz).
Se o herdeiro “renunciar” em favor de outrem, isto não se configura em uma renúncia propriamente dita. Na verdade é uma aceitação e imediata transmissão, havendo a incidência de tributação causa mortis e também inter vivos. Também é chamada de renúncia translativa. A renúncia válida é a abdicativa, isto é, cessão gratuita, pura e simples.
Requisitos para a renúncia:
• Capacidade jurídica do renunciante. Os incapazes não podem renunciar, senão por seu representante legal, autorizado pelo Juiz.
• Forma prescrita em lei; sempre por escrito (escritura pública ou ato judicial); não há renúncia tácita nem presumida.
• Impossibilidade de repúdio parcial da herança. Esta é indivisível até à partilha.
• Respeito a direitos de eventuais credores. Se a renúncia prejudica credores, estes podem aceitar a herança.
• Se o renunciante for casado, depende de outorga (uxória ou marital), pois o direito à sucessão é considerado bem imóvel.
Efeitos da renúncia:
• O renunciante é tratado como se nunca tivesse sido chamado à sucessão; seus efeitos retroagem à data da abertura da sucessão. O que repudia a herança pode aceitar legado.
• O quinhão hereditário do repudiante, na sucessão legítima, transmite-se de imediato aos outros herdeiros da mesma classe (direito de acrescer). Os descendentes do renunciante não herdam por representação. No entanto se ele for o único da classe seus filhos herdam por direito próprio e por cabeça.
• O renunciante não perde o usufruto e nem a administração dos bens que, pelo seu repúdio, foram transmitidos aos seus filhos menores.
• A renúncia da herança é irretratável e irrevogável.
5. HERANÇA JACENTE E VACANTE (ARTS 1819 A 1823)
Para falar em herança jacente e vacante é necessário falar em sucessão do Município, do Distrito Federal e da União. Na verdade a administração pública não é herdeira, não lhe é dado o direito de saisine, isto é, não se torna proprietária dos bens da herança no momento da morte do de cujus, como acontece com os demais herdeiros.
Quando o falecido não deixar testamento nem herdeiros conhecidos ou quando estes repudiarem a herança, os bens irão para o Município ou Distrito Federal (se localizados nas respectivas circunscrições) ou União (se situados em Território Federal). Mas não de imediato. Há um procedimento legal:
Herança Jacente
Falecendo uma pessoa na situação acima, seus bens são arrecadados. Nomeia-se uma pessoa (curador) para conservá-los e administrá-los. A característica principal da herança jacente é a transitoriedade da situação dos bens. Não goza de personalidade jurídica; é uma universalidade de direito. São expedidos editais convocando eventuais sucessores. Após a realização de todas as diligências, não aparecendo herdeiro e decorrido um ano após o primeiro edital, haverá a declaração de vacância.
Herança Vacante
Superada esta primeira fase, os bens passam, então, para a propriedade do Estado (em sentido amplo). Mas ainda não de forma plena, mas apenas resolúvel (propriedade resolúvel —> é a que pode se “resolver”, ou seja, se extinguir). Somente após 05 (cinco) anos da abertura da sucessão a propriedade passa para o domínio público (Município, Distrito Federal ou União). Comparecendo herdeiro, converte-se a arrecadação em inventário regular.
O Poder Público, pelo atual Código, não consta mais do rol de herdeiros apontados na ordem de vocação hereditária. É, portanto, um sucessor irregular, desde que haja sentença que declare a vacância dos bens.
6. EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE
Indignidade (arts. 1.814/1.818 CC) é uma espécie de incapacidade sucessória que priva uma pessoa de receber a herança. É uma pena civil, criada pelo legislador, atingindoos herdeiros necessários, os legítimos e os testamentários. A pena de indignidade só alcança o indigno, sendo representado por seus sucessores, como se morto fosse. São excluídos por indignidade os herdeiros ou legatários que:
a) houverem sido autores, co-autores ou partícipes em crime de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
b) houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança, ou incorreram em crime contra a sua honra (calúnia, difamação e injúria), ou de seu cônjuge ou companheira (o).
c) por violência ou fraude, a inibiram ou obstaram o autor da herança de livremente dispor dos seus bens por ato de última vontade.
Os descendentes do indigno herdam como se ele fosse falecido (representação). O indigno não terá direito ao usufruto nem administração dos bens que seus filhos menores herdaram. A exclusão do herdeiro, ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença em ação ordinária, movida por quem tenha interesse na sucessão (art. 1.815 CC). O prazo é de 04 (quatro) anos, sob pena de decadência. Os efeitos da sentença declaratória de indignidade retroagem (ex tunc) à data da abertura da sucessão, considerando o indigno como pré-morto ao de cujus.
Reabilitação – O art. 1.818 CC permite ao ofendido reabilitar o indigno, desde que o faça de forma expressa em testamento ou outro ato autêntico (ex.: escritura pública). É o perdão do indigno.
7. SUCESSÃO LEGÍTIMA
Arts 1829 – 1844 do Código Civil. Sucessão Legítima é aquela em que o de cujus faleceu sem testamento (ou ab intestato), ou o testamento deixado caducou, ou é ineficaz. Há uma relação preferencial das pessoas que são chamadas a suceder o finado. Se deixou testamento, mas havia herdeiro necessário, é possível que ocorra uma redução das disposições testamentárias para respeitar a quota dos mesmos, prevista em lei.
Portanto, na sucessão legítima os herdeiros são apresentados pelo legislador e essa seqüência é denominada ordem de vocação hereditária.
8. VOCAÇÃO DOS HERDEIROS LEGÍTIMOS
Arts 1829 – 1844 do Código Civil. O chamamento dos sucessores é feito de acordo com uma seqüência denominada ordem de vocação hereditária, que é uma relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas para suceder o de cujus na sucessão legítima.
Classes: 1ª descendentes + cônjuge; 2ª ascendentes + cônjuge; 3ª cônjuge; 4ª colaterais até 4º grau. (Art 1829)
Descendentes: mais próximos excluem mais remotos. Os de mesmo grau sucedem nos mesmos direitos, sucessão por cabeça e não por estirpe.
Ascendentes: mais próximos excluem remotos. Não há distinção entre linha materna e paterna (Art 1836, § 2º), o que interessa é o grau. Não há direito de representação para ascendentes (Art 1852).
Colaterais: mais próximos excluem mais remotos, exceção: direito de representação para filho de irmão pré-morto. Irmãos germanos ou bilaterais e irmãos unilaterais: os últimos têm metade do quinhão dos primeiros (Art 1841 e ss). Tio e sobrinho são colaterais de 3º grau, na falta de outros herdeiros, a herança deveria ser dividida entre eles, porém o direito sucessório estabelece que sobrinho exclui tio da sucessão, pois, devido ao direito de representação, o sobrinho entra no lugar do irmão pré-morto, que é um colateral de 2º grau, enquanto o tio, por ser ascendente, não possui direito de representação, se mantendo no 3º grau, como mais próximos afastam mais remotos, logo, sobrinho exclui tio (Arts 1840, 1843 caput e 1851 ss).
Observações importantes:
1. Uma classe só será chamada quando faltarem herdeiros da classe precedente. Exemplo: os ascendentes só serão chamados na sucessão se não houver descendentes.
2. Dentro de uma classe, o grau mais próximo, em princípio, exclui o mais remoto. Exemplo: o de cujus deixou um filho e este possui dois filhos (que são netos do de cujus); a herança irá somente para o filho, excluindo, neste caso, os netos.
3. Os descendentes, os ascendentes e o cônjuge sobrevivente são considerados herdeiros necessários; neste caso o testador só poderá dispor por testamento de metade da herança. Isto é, metade de seus bens irá obrigatoriamente para os herdeiros necessários (salvo alguma hipótese de deserdação). A outra metade ele poderá dispor em testamento.
4. Todos os filhos herdam em igualdade de condições (Constituição Federal, art. 227, § 6°: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”). Assim, um filho não pode ser chamado de adulterino ou bastardo. Tanto faz seja ele proveniente de um casamento ou de uma relação extraconjugal: é filho do mesmo jeito e terá direito à herança.
5. Se houver um testamento essa ordem pode não prevalecer exatamente desta forma, ou seja, pode haver algumas modificações.
DIREITO DAS SUCESSÕES
O Direito de Sucessão é um conjunto de normas disciplinadoras da transferência do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte aos seus herdeiros, em razão de aplicação da lei ou do testamento.
De uma maneira geral, quando falamos em sucessão, estamos nos referindo a uma situação em que uma ou mais pessoas substituem outra, assumindo seus direitos e obrigações, tanto podendo ser em resultado de uma transferência entre pessoas vivas ou decorrentes da morte. Assim, o Direito admite duas formas de sucessão, inter vivo e causa mortis.
Contudo, não se deve confundir sucessão com herança. A sucessão é o fato de uma pessoa substituir outra em seus direitos e obrigações (e, nesse caso, estamos nos referindo a uma pessoa morte que deixou bens e obrigações), enquanto que a herança é um conjunto de direitos e obrigações transmitidos para os herdeiros ou nomeados em testamento em virtude da morte do dono de um patrimônio.
O Direito das Sucessões, em nossa legislação, encontra-se estabelecido no artigo 5° da Constituição Federal, em seus incisos XXX e XXXI, e nos artigos 1784 a 2027 do Código Civil, além de estarem também na Lei n° 10.406/2002.
O Direito de Sucessão e seus pressupostos
Os pressupostos para um processo relativo ao Direito de Sucessão, em primeiro lugar, evidentemente, é a morte do autor da herança, ou “de cujus”, e a vocação hereditária dos que pleiteiam a sucessão.
De acordo com a legislação, a sucessão legítima deve ser reconhecida numa ordem pré-estabelecida, considerando-se os seguintes sucessores:
Os descendentes;
Os ascendentes;
O cônjuge sobrevivente;
Os colaterais.
Para o Direito de Sucessão deve se conhecer os bens disponíveis em herança, ou seja, o conjunto de bens, direitos e obrigações que o “de cujus” deixou, devendo ela ser considerada indivisível até que o juiz estabeleça a sentença de partilha.
Entende-se que o processo possa ter continuidade desde que os herdeiros sejam conhecidos. No caso de não surgirem herdeiros, o Direito de Sucessão deve atender outros termos da legislação
Não havendo herdeiros conhecidos, a herança deve ser considerada jacente, ou seja, não se conhece os herdeiros ou, se são conhecidos, podem haver renunciado à herança, não havendo quem a possa receber.
Havendo essa condição, o juiz deve determinar a arrecadação dos bens e a apuração judicial e, depois de praticadas todas as diligências, se ainda não houver interessados, a herança passa a ser considerada vacante no prazo de um ano após a publicação do primeiro edital.
Depois de um ano e um dia, não havendo qualquer interessado, o juiz declara como herança vacante, gerando a presunção de que todos os atos necessários foram praticados para encontrar os herdeiros.
Com a declaração de vacância, deve-se contar 5 anos da abertura da sucessão para que os bens possam, em seguida, serem incorporados ao patrimônio o município ou da União
Tipos de herdeiros no Direito de Sucessão
No Direito de Sucessão os herdeiros podem ser considerados legítimos, ou seja, indicados pela hereditariedade, ou testamentários, quando indicadosem testamento.
A sucessão legítima é decorrente da própria lei, que estabelece que uma pessoa que morre sem testamento, automaticamente transmite a herança aos herdeiros legítimos, como filhos e cônjuge, em primeiro lugar.
A sucessão testamentária, por seu lado, atende a disposição de última vontade do “de cujus”, através de testamento. Nesse caso, havendo herdeiros legítimos, ou necessários, o “de cujus” só pode deixar em testamento metade do seu patrimônio, já que a outra metade é legitimamente assegurada aos herdeiros.
Caso o testador não tenha herdeiros legítimos, poderá deixar em testamento todo o seu patrimônio. No entanto, se for casado sob regime de comunhão universal de bens, o patrimônio deve ser dividido em duas partes iguais, ficando uma com o cônjuge sobrevivente.
ESPÉCIES DE SUCESSÕES
INTRODUÇÃO
O direito sucessório brasileiro é regido por suas modalidades de sucessão: legítima e testamentária. A primeira comporta regras de natureza cogente, não abrindo margem a manifestação de vontade já que quando de sua aplicação não é possível fugir do que estritamente definido na lei. Trata-se, pois, de modalidade de sucessão mais próxima a natureza de ato jurídico, onde não se há manifestação de vontade dos envolvidos, mas tão somente, incidência das disposições legais e produção dos efeitos que lhes são atinentes. A segunda, por sua vez, abre margem para que o autor da herança manifeste sua vontade no tocante à disposição de seu patrimônio para depois da morte, tendo, portanto, a natureza jurídica mais assemelhada a dos negócios jurídicos, incidindo sobre si, inclusive, o regime das nulidades civis.
1 ESPÉCIES DE SUCESSÕES PÓS-MORTE
A sucessão tem por finalidade dar continuidade à relação jurídica de propriedade patrimonialmente valorada com a transmissão dos bens do de cujus para os seus sucessores.
Por expresso comando constitucional, as dívidas do falecido não são repassadas aos herdeiros, senão até o limite do patrimônio transmitido para esses na sucessão.
Existem dois tipos de sucessão em caso de morte, a sucessão testamentária no caso de o falecido ter deixado disposição de última vontade quanto ao seu patrimônio e a legítima que advém dos preceitos legais, cujas disposições devem ser estritamente observadas. Resumidamente, a sucessão pode ser legítima ou testamentária.
Assim dispõe o artigo 1.786 do Código Civil:
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.
Também neste sentido ensina Washington Monteiro de Barros:
Efetivamente, o art. 1.786 do Código Civil de 2002, a exemplo do que dispunha o de 1916, preceitua que “a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”. Prevista se acham, neste dispositivo legal, as duas formas de sucessão do nosso ordenamento jurídico, a legítima, resultante da lei, e a testamentária, decorrente do testamento. (MONTEIRO, 2003, p.10).
Vejamos em separado cada uma delas com as suas definições e principais características.
2 SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legítima, também conhecida como sucessão ab intestato ou ainda não testamentária, é aquela decorrente das disposições legais. Não havendo testamento, necessariamente a sucessão será legítima, passando o patrimônio do falecido na ordem da vocação hereditária às pessoas indicadas pela lei, chamados herdeiros (CAHALI, 2003, p. 28). Regra geral, a presença uma classe de herdeiros mais próxima por vínculos hereditários ou legais com o autor da herança conforme enumeração legal exclui a classe subseqüente da partilha.
Sobre esse tipo de sucessão, Washington de Barros assim se pronuncia:
Se não há testamento, se o falecido não deixar qualquer ato de última vontade, a sucessão é legítima ou ab intestato, deferido todo o patrimônio do de cujus às pessoas expressamente indicadas pela lei, de acordo com a ordem de vocação hereditária (CCB, art. 1829). Assim estabelece o art. 1788: ‘morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. A essas hipóteses acrescenta-se a revogação do testamento (MONTEIRO, 2003, p.9).
Em outras três hipóteses a sucessão também será realizada pelas disposições da legítima. Primeira, quando em seu ato de última vontade o autor da herança não dispõe da integralidade de seus bens, isto é, consta parte deles em testamento e sobre outra parte nada manifesta. Segunda, caso houver caducidade do testamento ou, por fim, se o testamento for considerado nulo. Nesse caso, a sucessão será deferida na ordem legal de vocação hereditária às pessoas expressamente indicadas no art. 1.829 do CC. Sucessão legítima, portanto, é a que é deferida por determinação legal (MONTEIRO, 2003, p. 9).
 Preceitua o art. 1.829 do CC:
Art. 1.829 - A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I- aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II- aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III- ao cônjuge sobrevivente;
IV- aos colaterais.
 A partilha do patrimônio do autor da herança é realizada por classes, havendo hierarquia de preferência da primeira em relação às demais que lhe estão abaixo, da segunda em relação às demais que lhe estão abaixo e assim por diante, de acordo com a ordem hierárquica de parentesco estabelecida pela lei. Há uma presunção de que a relação escalonada de preferências na ordem de vocação hereditária seria o desejo do autor da herança.
Assim, o artigo 1.829 do Código Civil adotou a seguinte ordem de preferência no chamamento à herança: descendentes, ascendentes, cônjuge e colateral até o quarto grau, sendo que o cônjuge concorre com descendentes, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares, ou com os ascendentes, em não havendo descendentes (TARTUCE, 2012, p. 1275).
Na falta de todos os herdeiros listados nos incisos do art. 1.829 ou de companheiro ou em caso de renuncia de todos eles, o direito sucessório será transmitido ao Município ou ao Distrito Federal. Os bens passam ao domínio do Poder Púbico por meio de sentença declaratória de vacância dos bens após cinco anos da abertura da sucessão.
Vale ressaltar que o Poder Público não é considerado herdeiro, não lhe sendo reconhecido o direito de saisine que decorre do conhecido Princípio da Saisine segundo o qual a herança transmite-se automaticamente no momento da abertura da sucessão, ou seja, no momento da ocorrência do evento morte. Por isso, não entra na posse e propriedade da herança pelo fato da abertura da sucessão, mas sim por força de sentença. (CARVALHO, 2002, p. 74).
3 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Testamento pode ser definido como negócio jurídico solene pelo qual alguém, nos termos da lei, dispõe de seus bens, no todo ou em parte, para depois de sua morte (CAHALI, 2003, p. 28).
Neste sentido dispõe o artigo 1.857 do Código Civil:
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Há maior número de artigos regulamentando a sucessão testamentária do que a sucessão legítima em nossa lei civil.
Em síntese, a sucessão testamentária é conduzida pelo testamento, sendo que este instrumento pode contemplar herdeiros, que sucedem a título universal, ou legatários, que sucedem a título singular.
Além disso, o testamento assume natureza de negócio jurídico por se tratarde uma declaração de vontade que produz efeitos jurídicos, ainda que post-mortem. Assume também o caráter de instrumento solene, pois somente pode ser escrito e sempre atendendo as formalidades previstas na lei, sob pena de ser declarado inválido (GAMA, 2006, p. 364).
Há limites ao direito de testar. O autor da herança tem grande liberdade, mas a lei impõe limites a serem observamos em favor dos herdeiros necessários.
É neste sentido o texto do artigo 1.846 do Código Civil:
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.
É possível que o testamento contenha cláusulas extra-patrimoniais, como é a cláusula que reconhece a paternidade ou estabelece determinações sobre o funeral via testamento, porém, a regra, é que se disponha via testamento de bens patrimoniais do autor da herança (Código Civil, artigos 1.857, 1.609, III e  1.634, IV).
Merecem destaque, ainda, as seguintes características do testamento (RODRIGUES, 2002, p. 145).
 Primeira. O testamento é revogável. Seu autor pode se arrepender e mudar alguma disposição testamentária ou mesmo revogá-lo por completo. Assim dispõe o Código Civil:
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.
Vale anotar, inclusive, que não é possível ao autor da herança renunciar o direito de revogar o testamento, sobretudo porque este instrumento de disposição de últimas vontades apenas produz efeitos após a sua morte (TARTUCE, 2010, p. 296).
Segunda. O testamento é ato pessoal, ou seja, só o autor da herança pode testar, de modo individual e exclusivo, não se admitindo testamento por terceiros, ainda que com procuração. Também não se admite testamento feito em comunhão por duas ou mais pessoas. Neste sentido é a norma do Código Civil (GAMA, 2006, p. 365):
Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.
 Também é característica do testamento a possibilidade de dispor que filhos não concebidos até a morte do testador podem também adquirir parte de seu patrimônio se houver previsão, desde que o testador indique a pessoa que conceberá seu filho e esta esteja viva quando da abertura da sucessão. Integram este rol os filhos nascidos por reprodução assistida. Assim estabelece a previsão legal do Código Civil:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
Da aceitação e renúncia da herança
Desde que aberta a sucessão, com a morte, a vontade de receber a herança, retroage a essa data. Portanto, se no momento da abertura da sucessão, o herdeiro anuiu com a transmissão de bens do de cujus, este ato produzirá efeitos desde logo.  
O conceito de aceitação da herança é relacionado à vontade do sucessor, sendo o ato jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara seu desejo de ser herdeiro e ter a herança.
Assim, desde que aberta a sucessão, com a morte, a vontade de receber a herança, retroage a essa data. Portanto, se no momento da abertura da sucessão, o herdeiro anuiu com a transmissão de bens do de cujus, este ato produzirá efeitos desde logo, pois é um ato receptício, independendo do conhecimento de terceiros.
Trata-se de uma confirmação, vez que a aquisição dos direitos sucessórios não depende de aceitação. Desarte, traduz anuência do beneficiário em recebê-la, já que ninguém será herdeiro contra sua vontade, concedendo a lei a faculdade de deliberar a aceitação ou não da herança transmitida.
Desse modo, é ato jurídico unilateral, pelo qual o herdeiro legítimo ou testamentário, confirmará a aceitação e tornando definitiva a transmissão da herança, desde a abertura da sucessão. 
O artigo 1804 do Código Civil, disciplina a transmissão definitiva: “Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão, parágrafo único: A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança’’.
As formas de aceitação da herança são: a) expressa, b) tácita e c) presumida. 
A expressa é feita por declaração escrita, podendo ter forma pública ou particular; já a tácita resulta de atos próprios da qualidade de herdeiro, passando este a se comportar, perante todos, como tal. As atitudes jurídicas e sociais são de herdeiros. Na presumida, a pedido do interessado (credor, por exemplo) após 20 dias de aberta a sucessão, requer através do juiz a notificação, para que o herdeiro, no prazo não superior a 30 dias, declare a respeito da aceitação, porém permanece em silêncio, sem dizer se aceita. 
No entanto, o código civil coloca limitação à aceitação tácita, esclarecendo que os atos oficiosos da morte (funeral e guarda, administração, conservação provisória de bens), bem como a cessão gratuita, pura e simples aos demais coerdeiros, não são aceitação tácita. É entendido, assim, que aceitação e logo em seguida a renúncia em favor de determinada pessoa é ato de cessão ou doação, sendo atingida por imposto( ITBI), naquela.
Assim, vale ressaltar que o herdeiro não irá responder pelos débitos superiores á herança, mesmo depois de aceita esta, sob o benefício do inventário, que irá descrever minuciosamente os bens do de cujus.
No âmbito da pessoa/agente que manifesta a aceitação pode ser: a) direita e b) indireta.
A aceitação direta é feita pelo próprio herdeiro, já a indireta é alguém que faz por aquele, surgindo três hipóteses:
a) Aceitação pelos sucessores: se o herdeiro falecer antes de dizer se aceita a herança, seu direito de aceitar passa aos seus herdeiros, valendo a aceitação destes como se daquele tivesse partido.
b) Aceitação pelo tutor ou curador de herança: o incapaz por idade ou mental, pode ter sua herança aceita pelo curador ou tutor, desde que o juiz autorize.
c) Aceitação por mandatário ou gestor de negócios: a aceitação feita por procurador, com poderes especiais específicos, é aceita amplamente pela doutrina; no entanto a do gestor de negócios é controvertida, valendo que somente será válida se a não aceitação imediata pelo gestor, prejudicar o herdeiro sendo irreversível o prejuízo, em razão do lapso do prazo da aceitação.
d) Aceitação pelo credor: ao saber da herança, podem estes mediante autorização judicial, notificar o herdeiro para à aceitação(vide prazo na aceitação presumida), tendo como presumida a aceitação.  Assim, a renuncia não produzirá efeitos até a satisfação do débito, e em caso de restar saldo, será entregue aos demais herdeiros, não ao renunciante afastando a possibilidade de haver renúncia lesiva a estes. 
Ainda, existe no que tange a aceitação da herança, a anulação ou revogação. Ocorre toda vez que for apurado que o aceitante não é herdeiro ou que o testamento absorvia a totalidade da herança, existindo herdeiros necessários. Com a declaração da ineficácia da aceitação, a herança passa ao herdeiro que possui o direito, como se aquela não tivesse existido.
A partir disso, há também a abordagem quanto à renúncia da herança, oposto da aceitação, anteriormente explicada.
A renúncia é o instituto em que o herdeiro declara expressamente que não aceita a herança a que tem direito, dispondo de sua titularidade. O herdeiro não é obrigado a receber a herança, podendo recusá-la, ato que não criará nenhum direito, pois será considerado como se nunca tivesse existido.
O sucessor, após aberta a sucessão, se demiti da qualidade de herdeiro, preferindo ser estranho à sucessão a aceitar a herança. Assim, entende que a renúncia é um ato unilateral, partindo do herdeiro que não deseja a herança. A renúncia também retroage a data da abertura da sucessão.
A renúncia bem como a aceitação é irrevogável, sendo definitiva e produzindo os efeitos jurídicos desde que o herdeiro torna-se renunciante. No entanto, também como a aceitação pode ser anulada, se verificada vício de consentimento por erro, dolo ou coação, com fulcro no artigo 171, II do código civil.
Há requisitos essenciais para configuraçãoda renúncia, impondo limitações a esse direito: 
a) Capacidade jurídica do renunciante : capacidade jurídica e mental do renunciante, em caso contrário há a necessidade do seu representante legal ou curador, caso ainda de ser feita pelo mandatário deverá possuir este procuração com poderes especiais para tanto. Há divergência doutrinária em relação a outorga marital ou uxória do cônjuge casado, no entanto a maioria da doutrina afirma ser desnecessária essa outorga.
b) Inadmissibilidade de condição ou termo: Há divergência doutrinária, vez que indicar uma pessoa para se beneficiar para uns é ato de cessão e para outros é denominada renuncia translativa. Assim, alguns entendem que não se pode renunciar e colocar uma condição de aceitar em favor do nome de outrem. Só é válida a renuncia pura e simples. Entende-se como ato de cessão, sendo um modo disfarçado de aceitar a herança para não ter encargos. O código civil preceitua a renúncia pura e simples, devendo está posição prevalecer.
c) Forma prescrita em lei: como disposto no artigo 1806 do Código Civil, diz que a renúncia para ser válida deve ser feita por instrumento público ou por termo judicial. Este último, poderá ser feito nos autos do inventário, já aquela deve ser feita em cartório e juntada aos autos.
d)  Não realização de ato equivalente à aceitação: atos de aceitação efetivados não terá valor a renúncia.
e) Impossibilidade de repúdio parcial da herança: não pode o renunciante repudiar parte da herança, deverá ser na sua totalidade. No entanto, caso o renunciante tenha mais de um direito de sucessão, como o legado ou o testamento, ele poderá optar em renunciar todos, um deles ou dois deles. 
f) Objeto lícito: é proibida a renúncia contrária à lei que se torna conflitante com o direitos de terceiros. Caso dos credores prejudicados que poderão aceitar a herança 30 dias do conhecimento do fato, em nome do renunciante e mediante autorização judicial, independente da verificação da má fé, para que seja satisfeito os débitos.  Se, a parte da herança for maior que a dívida, será dividida entre os outros coerdeiros e ainda caso o renunciante tenha bens, poderá normalmente renunciar a herança.
g) Aberta a sucessão: momento do óbito do autor da herança é quando nasce o direito ao herdeiro ou legatário.
Há assim dois tipos de herança: a) abdicativa e b) translativa.
A herança abdicativa é renúncia pura e simples, beneficiando o monte sem indicação de favorecidos.  Já na translativa, há uma aceitação tácita e posterior doação ou cessão da herança a outrem.
Ao final, temos os efeitos da renúncia que podem ser: 
a) Exclusão da sucessão o herdeiro renunciante : ele é excluído da sucessão como se nunca tivesse existido, não ocorrendo a alienação da herança para ele.
b) Acréscimo da parte do renunciante á dos outros herdeiros da mesma classe: em caso de se ter vários filhos, a parte do renunciante passará par a os demais coerdeiros, conforme dispõe o artigo 1810, o qual também preceitua que em caso de ser o único herdeiros, sem filhos, a herança é devolvida para os da classe subsequente(cônjuge em concorrência com os ascendentes).
c) Proibição da sucessão por direito de representação: a lei chama parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia se vivo fosse. Assim, não se pode representar o renunciante para sucedê-lo, porém, caso em que o renunciante é o único da classe ou todos os herdeiros da mesma classe renunciarem, podem os filhos por direito próprio ou cabeça vir à sucessão.
Por fim, observa-se que o legislador trouxe a aceitação e a renúncia em um mesmo dispositivo, para que seja observada a repercussão de uma sobre o outra, afirmando que a existência de uma, exclui a da outra
Exclusão da sucessão: diferenças entra indignidade e deserdação
Análise acerca das principais diferenças das formas de Exclusão da Sucessão, que estão positivadas nos artigos 1.814 ao artigo 1.818 e do artigo 1961 ao 1965 do nosso Código Civil Brasileiro.
Introdução
O presente artigo tem por finalidade conceituar, pontuar e analisar as principais diferenças das formas de Exclusão da Sucessão, que estão positivadas nos artigos 1.814 ao artigo 1.818 e do artigo 1961 ao 1965 do nosso Código Civil  Brasileiro.
Farei uma breve exposição de cada uma das modalidades, definindo suas principais características e peculiaridades, com o intuito de demonstrar as diferenças presentes entre a Indignidade e a Deserdação e a sua forma de aplicação.
Por fim, será feita uma conclusão dos temas abordados.
Exclusão da sucessão
Em nosso direito sucessório, é possível que o herdeiro seja excluído da sucessão na qual vinha a ter direitos. Usa-se o termo Exclusão partindo do pressuposto de que o Herdeiro já tenha aceitado a herança.
A exclusão se dá pela Indignidade e deserdação, pois nos dois casos há uma prática de atos inequívocos de desapreço e menosprezo contra o autor da herança, como nos diz Carlos Roberto Gonçalves:
“A sucessão hereditária assenta em uma razão de ordem ética: a afeição real ou presumida do defunto ao herdeiro ou legatário. Tal afeição deve despertar e manter neste o sentimento da gratidão ou, pelo menos, do acatamento e respeito à pessoa do de cujus e às suas vontades e disposições.
A quebra dessa afetividade, mediante a prática de atos inequívocos de desapreço e menosprezo para com o autor da herança, e mesmo de atos reprováveis ou delituosos contra a sua pessoa, torna o herdeiro ou legatário indignos de recolher os bens hereditários.”(Gonçalves, 2013)
Veremos abaixo, como se dá a exclusão e quais sãos os seus pressupostos.
Indignidade: atos contra a vida, atos contra a honra e contra a liberdade para testar
A Indignidade é a exclusão do sucessor devido ao fato do mesmo ter praticado um ato reprovável contra o autor da herança sendo então punido com a perda do direito hereditário. A indignidade é uma sanção civil que acarreta na perda do direito sucessório.
Para que ocorra a indignidade, é mister que o herdeiro excluído tenha praticado, em síntese, Atos contra a vida , contra a honra e contra a liberdade de testar do autor da herança, como descreve o artigo 1814.
Conforme nos casos da prática de atos contra a vida do autor da herança, a parte passiva se estende, podendo ser incluído o seu cônjuge ou companheiro, os seus ascendentes ou descendentes como vítimas. Nesses casos também, quem pratica o ato pode estar atuando como autor, coautor, ou participe.
No tocante aos atos contra a vida, entende-se o homicídio doloso, tentado ou consumado contra o autor da herança, e como visto acima, o artigo 1.814 do Código Civil em seu inciso I abrangeu como vitimas o cônjuge ou companheiro e os ascendentes e descendentes. É importante frisar também que, para a modalidade de atos contra a vida, não há a necessidade de sentença condenatória, pois a discussão da pratica do homicídio é apenas no âmbito civil.
Caso haja absolvição devido a inexistência do fato ou de autoria, ou mesmo o reconhecimento das causa de exclusão de ilicitude, como a legitima defesa ou o estado de necessidade, não há o que se falar de exclusão por indignidade no âmbito civil. O Homicídio ou sua tentativa deve ser dolosa.
O inciso II diz respeito aos atos contra a honra do Autor da herança, podendo ser  injúria, difamação, calúnia ou calúnia em Juízo, sendo este último aceito apenas se for praticado em Juízo Criminal para que se configure a indignidade.
Igualmente ao inciso I, que diz respeito ao atos contra a vida,  este também se estende, porém apenas para a pessoa do cônjuge ou companheiro do autor da herança, não abrangendo seus descendentes e ascendentes. Outra diferença importante, é que, nesses casos, deve haver uma previa condenação no juízo criminal, exceto nos casos de calúnia em juízo.
E por fim, o inciso III nos traz a indignidade pela pratica de atos contra a liberdade de testar. Nesse caso a vitima deve necessariamente ser o autor da herança, e a prática configura no impedimento de que o autor da herança faça o seu testamento ou obstar de quea sua vontade já manifestada chegue ao Estado. Tal impedimento deve ser feito mediante violência ou meios fraudulentos.
Ação declaratória de indignidade e a possibilidade de reabilitação de indigno
Conforme disposto no artigo 1.815 do Código Civil, a indignidade deve ser declarada por sentença, ou seja, para isso, deve haver uma ação Declaratória de Indignidade.
 Interposição dessa ação deve ser feita no prazo de 4 anos a contar da abertura da sucessão. A sentença declarando a indignidade exclui o herdeiro da sucessão, então sem essa sentença o herdeiro não pode ser excluído da sucessão. O mesmo ocorre caso haja a absolvição do réu no âmbito penal, pois a sentença de absolvição faz coisa julgada no civil.
O nosso Código Civil prevê em seu artigo 1.818 a reabilitação do Indigno. Essa reabilitação, ou perdão, é o ato em que o autor da herança perdoa o indigno, de forma expressa em uma cédula testamentária. Não há o que se falar em perdão se este não for dentro de um testamento.
O perdão então deve ser feito na forma expressa e é irretratável. Porém, caso o autor da herança tenha contemplado o indigno em testamento após a ofensa temos o que chamamos de perdão tácito. Nesta modalidade, o indigno tem  direito a suceder como legatário.
É importante frisar, que caso o testamento tenha sido feito antes da prática da ofensa, não há ai o perdão do indigno 
Deserdação
A deserdação é a exclusão do sucessor feita pelo próprio autor da herança. Nesta modalidade, a manifestação de vontade é imprescindível. Apenas podem ser deserdados os herdeiros necessários, e na manifestação expressa, feita normalmente em cédulas testamentárias, deve estar explicando o porque da deserdação.
Essa tipificação, o porquê da deserdação, deve estar dentro do rol taxativo dos artigos 1.962 e 1.963 do nosso código civil, que estudaremos adiante. Além de suas causas próprias, podem ser causas de deserdação também todas as utilizadas para a indignidade. Diante disto, podemos chegar a seguinte conclusão: todas as causas que geram a indignidade geram também a deserdação, porém nem todas as causas que geram a deserdação geram a indignidade.
Por fim, é de suma importância lembrar que os descendentes e ascendentes podem ser deserdados pelas causas de indignidade e pelas causas próprias de deserdação, já o cônjuge somente pode vir a ser deserdado se praticar as causas de indignidade.
Causas próprias de deserdação para descendentes e ascendentes
As causas próprias da deserdação se dividem em dois grupos: primeiro se fala em causas próprias de deserdação para os descendentes, depois das causas para a deserdação para os ascendentes.
A primeira modalidade, no que tange aos descendentes, conforme esta disposto no artigo 1.969 do Código Civil apresenta um rol taxativo de atos em que o descendente pode vir a praticar para que seja deserdado. São eles:
1- Ofensa Física: É a lesão corporal. Ocorre toda vez em que o filho pratica ofensas ficas contra o pai. Não há aqui necessidade de dolo ou culpa e é admitida qualquer tipo de lesão.
2- Injúria Grave: Nesta modalidade, a injuria praticada deve ser na forma grave. Não há aqui necessidade de ação penal, o que difere da indignidade.
3- Relações Ilícitas com a madrasta ou com o Padrasto: O filho pode ser deserdado caso venha a ter relações sexuais com a mulher de seu pai.
4- Desamparo do ascendente em alienação mental ou em grave enfermidade: caso o filho ou neto venha a desamparar o seu pai ou avô nos casos de alienação mental ou grave enfermidade, este poderá ser deserdado.
Com exceção das relações ilícitas com a madrasta ou padrasto, que apenas pode ser praticado pelo filho do autor da herança, todos os atos podem vir a ser praticados por qualquer descendente.
Já o artigo 1.963 nos traz as causas de deserdação dos ascendentes para os descendentes. São elas
1 - Ofensa Física
2 - Injúria Grave
3 - Relações Ilícitas com a mulher  ou companheira do filho ou neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou da neta.
4 – Desamparo do filho ou do neto com deficiência mental ou grave enfermidade.
Após a abertura do testamento em que o herdeiro foi declarado deserdado,  no prazo de quatro anos a contar da abertura do testamento, cabe ao herdeiro instituído, ou aquele em que se aproveitar da deserdação, provar a veracidade da causa alegada pelo testador.
É importante lembrar também que a deserdação deve ser expressa e não há o perdão do deserdado.
Principais diferenças entre indignidade e deserdação
Não se deve confundir Indignidade e deserdação, embora os dois institutos tenham grandes semelhanças e a mesma função.
A primeira diferença diz respeito a vontade, enquanto na indignidade temos a vontade presumida do autor da herança, na deserdação essa vontade deve ser expressa.
A segundo diferença se dá na fonte de cada um, a indignidade decorre da lei enquanto a deserdação é uma pena aplicada pelo autor da herança em testamento ao sucessor que tenha praticado qualquer ato dos artigos 1.962 e 963 do código civil.
Devemos também levar em conta, o campo de atuação de ambos os institutos, enquanto a deserdação é aplicada apenas para a sucessão testamentária, por depender de testamento, a indignidade trabalha na sucessão legítima e na sucessão testamentária.
Por fim, é importante lembrar que a indignidade é obtida por ação própria mediante sentença judicial, enquanto a deserdação se dá por testamento.
Da herança jacente e da herança vacante
Herança jacente é a hipótese de quando não há herdeiro certo e determinado, ou quando não se sabe da existência dele. Já a herança vacante ocorre quando a herança é devolvida à fazenda pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência.
a) Considerações Gerais:
É considerada HERANÇA JACENTE quando não há herdeiro certo e determinado, quando não se sabe da existência dele, ou quando o mesmo existe, mas a repudia. Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves preceitua em sua obra jurídica, “a herança jacente é quando se abre a sucessão sem que o de cujus tenha deixado testamento, e não há conhecimento da existência de algum herdeiro”.
b) Natureza Jurídica da Herança Jacente:
A herança jacente não possui personalidade jurídica e nem é patrimônio autônomo sem sujeito. Consiste em um acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade judiciária, até que habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença a respectiva vacância.
Podemos concluir que a herança jacente é uma sucessão sem dono atual. É o estado da herança que não sabe se será adida ou repudiada.
Mesmo não possuindo a devida personalidade jurídica, podem usufruir de capacidade processual e ter legitimidade ativa e passiva para acionar e ser acionado em juízo. Essas entidades se formam independentemente da vontade de seus membros. Importante ainda ressaltar que, a herança jacente distingui-se do espólio, sendo os herdeiros deste, conhecidos. No espólio são compreendidos os bens deixados pelo falecido desde a abertura da sucessão até a partilha, podendo tanto aumentar com os rendimentos que produzir, como diminuir em virtude dos ônus ou deteriorações.
c) Hipóteses de Jacência:
Art. 1.819 – Código Civil: Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.
O artigo supramencionado trata as duas espécies de jacência, aquela sem o testamento e a com o testamento. A primeira subdivide-se em duas situações:
Inexistência de herdeiros conhecidos; e
Renúncia da herança por parte dos herdeiros conhecidos.
A segunda espécie configura-se quando o herdeiro instituído não existir ou não aceitar a herança, e o falecido não deixar cônjuge, companheiro ou qualquer das hipóteses dos herdeiros legítimos. Nesse caso a herança também será arrecadada e posta sob a administração de um curador. “Herdeironotoriamente conhecido são os presentes no lugar em que se abre a sucessão, que podem ser facilmente localizados por serem conhecidos de todos” – Carlos Roberto Gonçalves.
Na obra Direito Civil Brasileiro, o jurista Carlos Roberto Gonçalves cita outras hipóteses para a ocorrência da Herança Jacente, uma delas verifica-se quando se espera o nascimento de um herdeiro. O herdeiro pode, por exemplo, nomear como herdeiro universal o filho já concebido e ainda não nascido de determinada pessoa. Com o falecimento do testador, a herança é arrecadada como jacente, aguardando-se o nascimento com vida do beneficiário. Nesse caso é permitido que seja retirado do acervo, ou da renda, o necessário para a manutenção da mãe do nascituro, se ela não possuir meios próprios de subsistência.
2. Herança Vacante:
a) Considerações Gerais:
O código civil de 2002 considera a herança vacante a partir do momento em que todos os chamados a suceder repudiarem a herança, renunciando a esta. A jacência não se confunde com a vacância, sendo a primeira uma fase do processo que antecede a segunda. Segundo doutrinador supramencionado “Herança Vacante é quando o bem é devolvido à fazenda pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência”.
Está previsto no artigo 1.820:
Art. 1.820 – Código Civil: praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.
O juiz promove a arrecadação dos bens para preservar o acervo e entregá-lo aos herdeiros que se apresentem ou ao Poder Público, caso a herança seja declarada vacante. Enquanto isso permanecerá sob a guarda de um curador, nomeado livremente pelo juiz. No intuito de impedir o perecimento da riqueza apresentada pelo espólio, o estado ordena sua arrecadação, para o fim de entregarem ao herdeiro que aparecer em boas condições.
Segundo Lacerda de Almeida: a declaração da vacância coloca fim ao estado da jacência da herança e, ao mesmo tempo, devolve-a ao ente público, que a adquire ato contínuo. O estado de jacência é, pois, transitório e limitado por natureza. A situação em que se acha a herança termina com a devolução desta aos herdeiros devidamente habilitados, ou, caso não apareçam e se habilitem com a sentença declaratória da vacância e consequente incorporação dos bens ao patrimônio do poder Público.
Em outras palavras, serão publicados editais com o prazo de seis meses, contados da primeira publicação, reproduzidos três vezes, com o intervalo de trinta dias, para que venham a habilitarem-se os sucessores. Passando um ano da primeira publicação e não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente, a herança será declarada vacante. A vacância é o estado definitivo da herança que já foi jacente. A procedência da habilitação converte em inventario a arrecadação e exclui a possibilidade de vacância. “Herança vacante é a que não foi disputada, com êxito, por qualquer herdeiro e que, judicialmente, foi proclamada de ninguém”. – Silvio Rodrigues.
b) Efeitos da Declaração de Vacância:
Em acordo com o jurista Walter Moraes a sentença que declara vaga a herança, coloca fim as características da jacência, estabelecendo assim, a certeza jurídica de que o patrimônio hereditário não tem titular até o momento da delação ao ente público. É só neste momento que acontece a delação ao Estado, porque, com efeito, antes disso o Estado não estava convocado à sucessão nem a deixa lhe era oferecida, “trata-se então da única hipótese em que o momento do inicio da delação afasta-se da abertura da sucessão, colocando-se entre uma e outra etapa do fenômeno sucessório, um espaço vazio, que é a mesma vacância”.
Essa sentença que faz a transferência da herança jacente para a herança vacante promove os bens para o Poder Público, tornando obrigatório que o curado os entregue assim que completar um ano da primeira publicação dos editais, mas o prazo de aquisição definitiva não se conta desse fato, senão da abertura da sucessão.
A sentença que promove a vacância não impede que a herança seja reivindicada por herdeiro sucessível, desde que não tenha decorrido cinco anos a conta da datar da abertura da sucessão, ou seja, essa sentença só passa a ser definitiva após o prazo determinado. A vacância afasta da sucessão legítima os herdeiros colaterais.

Continue navegando