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Apostila/EP_eng_1.pdf Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 1 1 – APLICAÇÕES DA ELETRÔNCA DE POTÊNCIA 1.1– Controle de potência através de conversores estáticos A eletrônica de potência está diretamente associada com o controle do fluxo de potência entre dois ou mais sistemas elétricos distintos. Esta ciência se concentra no estudo dos conversores estáticos de energia elétrica, combinando potência, eletrônica e controle. Esta área da engenharia elétrica está baseada no chaveamento de dispositivos semicondutores de potência, tais como, diodos, tiristores, transistores, etc. Com a evolução tecnológica das características dos semicondutores, operando com níveis de corrente e tensão mais elevados, sem contar a diminuição das perdas de potência e o aumento da velocidade de chaveamento, tem possibilitado um enorme avanço nos projetos e aplicações dos conversores estáticos. Pode-se citar algumas das muitas aplicações da eletrônica de potência: Fontes de alimentação chaveadas; Sistemas de energia ininterrupta (UPS ou No-Breaks); Chaves estáticas; Estabilizadores de tensão; Sistemas de segurança; Partida suave de motores de indução; Controle de motores de corrente contínua; Controle de motores de corrente alternada; Carregadores de baterias; Conversores para soldagem; Filtros ativos; Controle de temperatura; Transmissão em corrente contínua; Interligação de sistemas de energia elétrica de frequências diferentes; Compensadores de potência reativa; Controladores de intensidade luminosa. Como dito anteriormente, para a realização do controle do fluxo de potência entre dois ou mais sistemas elétricos, os conversores estáticos podem ser classificados como: Retificadores controlados e não controlados (conversores CA-CC); Inversores (conversores CC-CA); Conversores direto e indireto de freqüência (conversores CA-CA); Conversor direto de tensão (Chopper - conversor CC-CC); Conversor indireto de tensão (conversor CC-CA-CC). A Fig. 1.1 apresenta as principais aplicações referentes aos conversores estáticos. Fig. 1.1 - Principais aplicações dos conversores estáticos. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 2 1.2 – Dispositivos semicondutores de potência Dependendo da faixa de potência (níveis de tensão e corrente suportáveis pelo dispositivo), faixas de frequência, tempo de chaveamento e perdas, diversos dispositivos semicondutores estão disponibilizados no mercado. O conhecimento das características inerentes a cada dispositivo semicondutor permite ao projetista a escolha da chave adequada para uma dada aplicação. Dentre os diversos dispositivos semicondutores de potência existentes no mercado pode-se citar alguns deles: Diodos de potência, Tiristores (SCRs, GTOs, MCTs, etc), BJTs (Bipolar Junction Trasistors), MOSFETs de potência, IGBTs (Insulated Gate Bipolar Transistors), etc. 1.3 – O diodo Os diodos de potência podem ser classificados por três tipos distintos: genéricos, rápidos e schottky, os quais diferem-se entre si pelo tempo de chaveamento nas direções diretas e reversas, bem como nos níveis de tensão e corrente nominais. Os diodos genéricos operam com tempos de recuperação relativamente altos, situando-se por volta de 25 s. Desse modo, estes dispositivos são utilizados em faixas de frequência baixas onde o tempo de recuperação não é tão importante, como por exemplo, os retificadores comutados pela rede. A faixa de trabalho deste tipo de diodo é de 5000 V/ 5000 A. Os diodos rápidos, cujos tempos de recuperação estão na faixa dos 5 s, são utilizados essencialmente em circuitos onde a frequência de chaveamento do conversor é alta. A tensão máxima reversa neste tipo de diodo é por volta de 3000 V, enquanto a sua corrente pode ultrapassar 3000 A. Já o diodo Schottky é uma chave que opera com baixas quedas de tensão na região direta e com alta velocidade (tempo de recuperação muito pequeno), em função de suas características construtivas. A medida que sua faixa de tensão aumenta os níveis da corrente de fuga também aumentam, o que limita a sua utilização a conversores de baixas tensões onde a eficiência do conversor é um fator preponderante (baixas perdas na condução e no chaveamento). Sua faixa de trabalho situa-se em torno de 300 V/100 A. 1.3.1 – Características de tensão-corrente de um diodo O controle do diodo caracteriza-se pelo fato da sua entrada em condução e o seu desligamento não serem controlados. A entrada em condução e o desligamento são obtidos em função da polarização reversa e direta que o dispositivo é submetido. 1.3.2 – Representação do diodo Idealmente, um diodo pode ser representado como uma chave aberta, quando polarizado reversamente, ou por uma chave fechada, quando polarizado diretamente. A Fig. 1.2 (a) mostra a representação do diodo como uma chave perfeita, ou seja, queda de tensão zero quando em condução (polarização direta) e corrente zero quando bloqueado (polarização reversa). Simbolicamente, o diodo pode ser representado pelo desenho mostrado na Fig. 1.2 (b). O terminal positivo é chamado de ânodo (A) e o negativo de cátodo (K). Fig. 1.2 – Representação do diodo: (a) Chave ideal aberta e fechada; (b) Símbolo do diodo. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 3 1.3.2.1 – Curva do diodo (modelo ideal) O modelo do diodo ideal está mostrado na Fig. 1.3, onde é traçada a curva corrente versus tensão no diodo ( dd vxi ). Sendo assim a tensão através do diodo, quando em condução, será igual a 0 Volt para qualquer nível de corrente que o componente possa suportar. Como pode ser observado o diodo ideal suporta tensões reversas infinitas e possui corrente reversa igual a zero. Fig. 1.3 – Características do diodo: (a) Modelo do diodo ideal; (b) Representação da chave ideal. 1.3.2.2 – Curva do diodo (modelo quase ideal) O modelo do diodo quase ideal está mostrado na Fig. 1.4, onde é traçada a curva corrente versus tensão no diodo ( dd vxi ). Neste caso, o diodo é representado por uma chave ideal associada em série com uma fonte de tensão TOV (turn-on voltage). O diodo entrará em condução apenas quando a tensão de polarização do diodo for superior à chamada tensão de ligamento TOV . Sendo assim, a tensão através do diodo quando em condução será igual à TOV para qualquer corrente. Para os diodos de silício a tensão TOV situa-se em torno de 1 Volt. Fig. 1.4 – Características do diodo: (a) Modelo do diodo quase ideal; (b) Representação da chave quase ideal. 1.3.2.3 – Curva do diodo (modelo quase prático) O modelo do diodo quase prático está mostrado na Fig. 1.5, onde é traçada a curva corrente versus tensão no diodo ( dd vxi ). Considera-se, neste caso, uma chave ideal associada em série com uma fonte de tensão TOV e com uma resistência intrínseca ao componente ( dr ). Desse modo, a tensão total sobre o diodo é dada pela expressão (1.1). ddTOd riVv (1.1) Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 4 Considerando dr linear, a tensão sobre o diodo também varia linearmente dependendo do valor da corrente direta di , como mostra a curva do modelo e a expressão (1.1). Fig. 1.5 – Características do diodo: (a) Modelo do diodo quase prático; (b) Representação da chave quase real. 1.3.2.4 – Curva do diodo (modelo prático) O modelo prático do diodo está mostrado na Fig. 1.6, na qual é traçada a curva corrente versus tensão no diodo ( dd vxi ), considerando, na região reversa, a corrente reversa e a tensão de ruptura do diodo. Nota-se que, enquanto a tensão reversa não atinge a tensão de ruptura, a corrente reversa SI pode ser considera desprezível situando-se na ordem de micro ou nano ampères, o que é muito menor que a corrente direta. Depois de atingida a tensão de ruptura o diodo pode se danificar por excesso de calor. Quando isto ocorre há um aumento excessivo da corrente reversa. A ordem de grandeza da tensão de ruptura varia de dezenas a milhares de volts, dependendo das características construtivas do diodo. Fig. 1.6 – Modelo do diodo prático. A corrente através do diodo di pode ser definida por (1.2). Esta expressão é conhecida como equação do diodo de Schockley, sendo dada por: )1e(Ii TD nVV sd (1.2) Onde: di = corrente do diodo (direta ou reversa); sI = Corrente de saturação reversa ou corrente de fuga; DV = Tensão do diodo; TV = Tensão térmica do diodo; n = coeficiente de emissão, dependente do material semicondutor e da construção física do dispositivo. Para a maioria dos diodos comerciais n situa-se entre 1 e 2. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 5 A tensão térmica TV é definida pela equação (1.3). q kT VT (1.3) Onde: q = carga do elétron ( 19602,1 eq coulomb); T = Temperatura em Kelvin (K= 273 + oC); k = constante de Boltzmann: ( 233806,1 ek J/C); Considerando a temperatura de 25 oC na junção do diodo, pela equação (1.3), encontra-se TV = 25,8mV. Observa-se pela equação (1.2) que na região de polarização reversa, para valores de DV negativos, o termo exponencial torna-se muito pequeno e poderá ser desprezado. Desse modo a corrente do diodo torna-se sD Ii , o que indica que a corrente no diodo no sentido reverso é igual à corrente de saturação reversa sI . 1.3.3 – Características dinâmicas dos diodos 1.3.3.1 – Bloqueio do diodo Na maioria das aplicações de chaveamento um diodo é ciclicamente comutado do seu estado de condução para o seu estado de bloqueio e vice-versa. Quando o diodo é comutado do seu estado de condução para o estado de bloqueio, seja pelo comportamento natural do circuito ou pela aplicação de uma tensão reversa, haverá a circulação de uma corrente reversa com amplitude muito maior que aquela da corrente normal de saturação reversa, uma vez que a carga armazenada na junção não pode ser variada instantaneamente. A corrente reversa flui pelo diodo por um determinado período de tempo, até que os portadores minoritários, que permaneciam armazenados na junção pn e no material semicondutor se recombinem. Os portadores minoritários necessitam de um certo tempo para se recombinarem com as cargas de sinais opostos e se neutralizarem. Este tempo para que a recombinação ocorra é chamado de tempo de recuperação reversa rrt (reverse recovery time). O diodo não desliga até que a corrente reversa se anule, como pode ser mostrado na Fig. 1.7. O tempo rrt é definido como o intervalo tempo em que a corrente do diodo cruza pelo zero, atinge o seu pico RRI e decresce até atingir 25% de RRI . Os diodos são classificados como “rápidos” ou “lentos” baseados nos tempos de recuperação, que podem variar na faixa dos nano segundos para os diodos rápidos até os micros segundos para os lentos. Na Fig. 1.7, considera-se que o diodo conduz uma corrente direta DI , em um circuito no qual considera-se a taxa de decaimento da corrente no diodo igual a zero ( 0dtdiD ). No início do processo de bloqueio, a corrente DI decresce, se anula e atinge uma corrente máxima negativa RRI . Enquanto houver excesso de portadores minoritários, a tensão da junção é mantida baixa e positiva (tempo sdt ). Quando a carga armazenada na junção é escoada e a concentração dos portadores minoritários começa a cair abaixo do nível de equilíbrio, a tensão na junção torna-se negativa. A tensão na junção sobe até atingir o valor da tensão externa RV , enquanto a corrente reversa no diodo decresce até atingir o nível da corrente de saturação reversa, característica do diodo. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 6 Fig. 1.7 – Características da recuperação reversa ( 0dtdiD ). A Fig. 1.8, considera a situação onde o diodo é conduzido do estado de condução ao bloqueio, em que a taxa de decaimento da corrente do diodo não é igual a zero ( 0dtdiD ). O tempo rrt é definido como a soma dos tempos 1rt e 2rt . Este tempo depende da temperatura da junção, da amplitude da corrente antes da comutação ( DI ) e da taxa de decaimento da corrente direta ( dtdiD ). O valor de pico da corrente reversa é dado pela expressão (1.4). dt di tI DrRR 1 (1.4) A carga de recuperação reversa RRQ representa a quantidade de portadores que fluem através do diodo no sentido reverso, devido à comutação. Esta carga é, aproximadamente, definida pela equação (1.5). rrRRrRRrRRRR tItItIQ 2 1 2 1 2 1 21 (1.5) Sabendo-se que rrt é a soma dos tempos 1rt e 2rt , e através das equações (1.4) e (1.5) pode-se obter, respectivamente, rrt e RRI em função de RRQ e dtdiD , ou seja: dtdi ttQ t D rrRR rr )1(2 12 (1.6) )1( 2 12 rr DRR RR tt dtdiQ I (1.7) Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 7 A relação 12 rr tt encontrada nas equações (1.6) e (1.7) é chamada de fator de suavidade. Observa-se que rrt e RRI dependem diretamente da carga armazenada RRQ e da taxa de decaimento da corrente do diodo ( dtdiD ). Geralmente nas folhas de especificações dos diodos são fornecidos gráficos de rrt , RRQ e fator de suavidade 12 rr tt , em função da taxa de variação da corrente reversa dtdiD . Fig. 1.8 – Características da recuperação reversa ( 0dtdiD ). 1.3.3.2 – Entrada em condução do diodo As formas de onda relacionadas com a entrada em condução do diodo estão mostradas na Fig. 1.9. Como visto anteriormente, quando o diodo está polarizado reversamente (bloqueado), existirá a circulação da corrente reversa devido aos portadores minoritários. Na aplicação de uma tensão direta, um certo tempo será necessário até que os portadores majoritários, distribuídos no dispositivo, possam efetivamente contribuir para o fluxo de corrente. Este tempo é chamado de tempo de recuperação direta frt (forward recovery time). Esta interpretação não leva em conta as causas da sobretensão observada na Fig. 1.9. Quando o diodo é levado do seu estado de bloqueio para o estado de condução, o efeito da alta resistividade inicial do diodo, adicionado aos efeitos das indutâncias parasitas no circuito, provoca sobretensão no diodo que pode atingir várias dezenas de volts, o suficiente para afetar a operação de alguns circuitos bem como danificar o dispositivo. Portanto, verifica-se a existência de um certo tempo ( frt ) para que o diodo entre plenamente em condução. Quanto menor frt mais rápido será o diodo e menor será a sobretensão. Um maior valor de dtdiD , ou seja, a presença de indutâncias parasitas em valores menores, também ajuda a minimizar as sobretensões. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 8 Fig. 1.9 – Curvas relacionadas à entrada em condução do diodo ( 0dtdiD ). 1.3.4 – Proteção do diodo Como visto anteriormente, os transitórios relacionados às comutações do diodo podem levá-lo a tensões superiores às suas tensões nominais. Para contornar ou mesmo minimizar este inconveniente, costuma ser usado um circuito RC associado em série, colocado em paralelo com a chave, como mostrado na Fig. 1.10. Estes circuitos são chamados de circuitos amortecedores ou mesmo circuitos snubber, e suas funções consistem em reduzir a taxa de variação da tensão sobre o componente. Fig. 1.10 – Circuito snubber 1.3.5 – Perdas no diodo A perdas do diodo podem ser relacionadas da seguinte forma: perdas na condução direta; perdas na condução reversa (poderá ser desprezada em função do baixo valor da corrente de saturação reversa; tipicamente na faixa de 10-6 a 10-15); perdas na comutação (entrada em condução e bloqueio). A potência dissipada no diodo é transformada em calor. O aumento da temperatura originária das perdas no diodo não deve ultrapassar os limites impostos pelo fabricante, pois o dispositivo pode vir a se Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 9 danificar. Desta forma, torna-se necessário calcular estas perdas para mensurar os níveis de temperatura no dispositivo e se necessário dimensionar um dissipador de calor adequado. 1.3.5.1 – Perdas em condução Como pode ser visto através da Fig. 1.6, em condução (região direta), o diodo pode ser representado por uma força-eletromotriz ( TOV ) associada em série com uma resistência intrínseca do diodo dr . A tensão TOV é chamada de tensão de ligamento (turn-on voltage) e situa-se na faixa de 0,7 à 1,2 Volts para os diodos de silício. Desse modo, a expressão que define as perdas em condução no diodo é dada por: 2 efmed DdDTOON IrIVP (1.8) Onde: TOV = Tensão de ligamento do diodo; medD I = Corrente média no diodo; efD I = Corrente eficaz no diodo; dr = Resistência do diodo. 1.3.5.2 – Perdas na comutação Tanto na entrada em condução como no bloqueio existem perdas relacionadas com os transitórios envolvidos. Baseado nas Figs. 1.8 e 1.9, as perdas na entrada em condução e bloqueio podem ser aproximadas pelas expressões (1.9) e (1.10), respectivamente. Conforme pode ser observado, quanto maior a frequência de chaveamento, maiores serão as perdas. ftI)VV( 6 1 P frmaxDTOmaxFonsw (1.9) Onde: TOV = Tensão de ligamento do diodo; maxF V = Tensão direta máxima do diodo na entrada em condução; maxD I = Corrente do diodo máxima; frt = Tempo de recuperação direta; f = Frequência de chaveamento. fVtIP RrrRRswoff max2 1 (1.10) Onde: maxR V = Tensão reversa máxima do diodo no bloqueio; RRI = Corrente de recuperação reversa; rrt = Tempo de recuperação reversa; f = Frequência de chaveamento. Eletrônica de Potência. Cap. 1 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 10 1.3.6 – Especificações para os valores nominais de um diodo É importante no momento de fazer um projeto, avaliar as formas de onda do circuito que se está projetando de forma a especificar o diodo com segurança. Todas as características do dispositivo são informadas no catálogo do fabricante de modo a orientar o projetista na escolha correta do componente. Alguns dos inúmeros dados especificados em catálogos podem ser citados como exemplo: Tensão reversa máxima )RRM(V (breakdown voltage): Tensão máxima que o diodo poderá suportar quando este estiver polarizado reversamente; Corrente direta média máxima (max)avI (average current): Corrente média máxima que o diodo poderá conduzir quando estiver polarizado diretamente; Corrente direta eficaz máxima (max)rmsI (rms current): Corrente eficaz máxima que o diodo poderá conduzir quando estiver polarizado diretamente; Corrente máxima de surto FSMI : corrente máxima que o diodo poderá suportar durante um transitório; Temperatura máxima da junção (max)jT : Temperatura máxima que o diodo poderá suportar em sua junção sem apresentar defeito. Bibliografia: MOHAN Ned; UNDELAND Tore M.; ROBBINS William P. Power Eletronics – Converters, Applications and Desig. 2 ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995. RASHID, Muhammad H. Eletrônica de Potência. São Paulo: Makron Books, 1999. ASHFAQ Ahmed. Eletrônica de Potência. São Paulo: Prentice Hall, 2000. BARBI, Ivo. Eletrônica de Potência. Florianópolis: Editora UFSC. Apostila/EP_eng_2.pdf Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 11 2 – RETIFICADORES A DIODO 2.1 – Retificador monofásico de meia onda 2.1.1 – Retificador monofásico de meia onda com carga resistiva A Fig. 2.1 mostra o circuito conhecido como retificador de meia onda, com o diodo 1D colocado entre o transformador e a carga LR . Dá-se este nome ao circuito, pelo fato do mesmo retificar apenas um semi-ciclo da rede. Em muitas aplicações o transformador pode ser utilizado, pois permite a adaptação da fonte de alimentação à tensão da carga, além de permitir o isolamento galvânico entre a rede e a carga. Fig.2.1 – Retificador monofásico de meia onda com carga resistiva. 2.1.1.1 – Princípio de funcionamento Quando a tensão no secundário do transformador é positiva, ou seja, no semi-ciclo positivo da rede, o diodo 1D é polarizado diretamente e entra em condução. Desprezando a queda de tensão sobre o diodo, a tensão do secundário é aplicada totalmente na carga. Já no semiciclo negativo, o diodo é polarizado reversamente e se bloqueia, impedindo a circulação de corrente e fazendo com que a tensão na carga seja nula. A Fig. 2.2 (a), (b) e (c), mostram as formas de tensão no secundário do transformador 2v , a tensão na carga Lv e a tensão sobre o diodo 1D 1Dv . Observa-se que a tensão reversa no diodo é igual à tensão de pico do secundário do transformador e é dada pela seguinte expressão: mp VVV 22 (2.1) Onde: pV = Tensão reversa máxima do diodo; mV = Tensão de pico do secundário do transformador; 2V = Tensão eficaz do secundário do transformador. Pela expressão (2.1), observa-se claramente que a tensão reversa do diodo RDV depende da amplitude máxima da tensão do secundário do transformador. Desse modo, RDV não deve exceder a tensão reversa máxima do diodo MRD V , especificada pelo fabricante, sob o risco de danificar o dispositivo. Para efeito de análise nos estudos subsequentes a relação de transformação dos transformadores representados nos circuitos retificadores será considerada unitária. A tensão da rede ou a tensão de alimentação da entrada do retificador é dada pela expressão 2.2. )tsen(V)t(v m 2 (2.2) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 12 Fig.2.2 – Tensões no retificador de meia onda com carga resistiva: (a) Tensão do secundário da transformador 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Tensão sobre o diodo 1D , 1Dv . 2.1.1.2 – Tensão e corrente médias na carga A tensão média na carga LmdV , considerando a Fig. 2.2, é calculada pela seguinte expressão: td)tsen(V2 2 1 td)t(v 2 1 V 0 2 0 2Lmd (2.3) Resolvendo a expressão (2.3) obtêm-se: 2450 V,VLmd (2.4) As correntes média e de pico na carga são iguais às correntes média e de pico no diodo 1D e são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.5) e (2.6). L 2 md1DLmd R V45,0 II (2.5) L m L 2 p1DLp R V R V2 II (2.6) 2.1.1.3 – Tensão e corrente eficazes na carga A tensão eficaz na carga LefV , considerando a Fig. 2.2, é dada pelas seguintes expressões: 2 1 2 0 2 2 2 1 0 2 2Lef td)t(sen)V2( 2 1 td)t(v 2 1 V (2.7) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 13 2 1 0 2Lef 4 )t2sen( 2 t 2 1 V2V (2.8) Resolvendo a expressão (2.8) têm-se: 2 2 Lef V707,0 2 V V (2.9) A corrente eficaz na carga é igual à corrente eficaz no diodo e é dada pela expressão (2.10). L 2 DefLef R V707,0 II (2.10) 2.1.1.4 – Potências A potência transferida à carga e a potência aparente do secundário do transformador são dadas, respectivamente, pelas equações (2.11) e (2.12). Lef2L 2 LefL IV707,0RIP (2.11) LefS IVS 2 (2.12) Através de (2.11) e (2.12) encontra-se: LS P,S 411 (2.13) Percebe-se através de (2.13) que o transformador é mal aproveitado o que sugere que esta estrutura seja utilizada para pequenas potências. 2.1.2 – Retificador monofásico de meia onda com carga RL A Fig. 2.2 mostra o circuito retificador de meia onda alimentando uma carga RL. Fig.2.3 – Retificador monofásico de meia onda com carga RL. 2.1.2.1 – Princípio de funcionamento Como pode ser visto na Fig. 2.4, em função da presença da indutância na carga, o diodo não se bloqueia em t . O diodo apenas bloqueará quando a corrente através dele se anular, o que ocorre em t . Enquanto isto, para ângulos superiores a e inferiores a , a tensão na carga torna-se instantaneamente negativa. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 14 Fig.2.4 – Tensões no retificador de meia onda com carga RL: (a) Tensão do secundário 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Corrente na carga Li e no secundário do transformador 2i . De acordo com o circuito da Fig. 2.3, a corrente na carga pode ser escrita pela seguinte equação: t LL L e)sen()tsen( XR V i 2 1 22 22 (2.14) Onde: L L R X tg 1 ; LX L ; LR L . Para encontrar o valor médio de tensão e corrente na carga é necessário conhecer o valor do ângulo . Pela equação (2.14) quando 0i L , tem-se que t . Assim a equação (2.14) pode ser escrita por (2.15). 0 tge)sen()sen( (2.15) Conhecido , os valores médios de tensão e corrente na carga podem ser obtidos, respectivamente, pelas expressões (2.16) e (2.17). )cos(V,VLmd 12250 2 (2.16) L 2 Lmd R )cos1(V225,0 I (2.17) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 15 2.1.3 – Retificador monofásico de meia onda com diodo de roda-livre (carga RL) Com o intuito de evitar que a tensão instantânea da carga se torne negativa, pela influência da indutância, um diodo de roda-livre RLD é colocado em paralelo com a carga, como pode ser visto na Fig. 2.5. Assim no semi-ciclo negativo da rede, RLD entra em condução e assume a corrente de carga. Fig.2.5 – Retificador monofásico de meia onda com diodo de roda-livre (carga RL). Na Fig. 2.6 são apresentadas as formas de onda de algumas grandezas presentes no circuito considerando condução descontínua. Na Fig. 2.7, considerando o aumento da constante de tempo da carga através do aumento da indutância, observa-se que a corrente não se anula a cada ciclo. Neste caso diz-se que a condução é contínua. A mínima indutância para passar de uma condução descontínua para contínua ou vice-versa é chamada de indutância crítica ( CL ). Esta indutância depende da frequência da carga bem como da resistência de carga, como mostrado na equação abaixo: f R L LC 10 Fig.2.6 – Tensões e correntes no retificador de meia onda com diodo de roda-livre (condução descontínua): (a) Tensão do transformador 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Corrente na carga Li ; (d) Corrente do transformador 2i . 2.1.3.1 – Tensão e corrente médias na carga A tensão média LmdV e a corrente média LmdI na carga, considerando a Fig. 2.5, são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.18) e (2.19). Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 16 2Lmd V45,0V (2.18) L Lmd L 2 Lmd R V R V45,0 I (2.19) Fig.2.7 – Tensões e correntes no retificador de meia onda com diodo de roda-livre (condução contínua): (a) Tensão do transformador 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Corrente na carga Li ; (d) Corrente do transformador 2i . 2.1.3.2 – Potências A corrente eficaz da carga pode ser calculada por 2 Lac 2 Lmd 2 Lef III (2.20) Onde: LefI = componente eficaz da corrente de carga; LmdI = componente média da corrente de carga; LacI = componente alternada da corrente de carga. Com o intuito de facilitar a análise, considera-se a indutância de carga grande o suficiente de forma que a corrente de carga possa ser considerada constante. Assim, em (2.20) LacI é nula e, consequentemente, a corrente eficaz da carga é igual à corrente média, ou seja: L Lmd LmdLef R V II (2.21) Desse modo, a potência transferida à carga é calculada pela expressão (2.22). LmdLmdL 2 LefL VIRIP (2.22) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 17 A corrente eficaz do secundário do transformador é dada por 2 I 2 I I Lmd p Sef (2.23) A potência aparente do secundário do transformador é dada por SefS IVS 2 (2.24) Através de (2.12), (2.22), (2.23) e (2.24) encontra-se (2.25): LS P57,1S (2.25) 2.2 – Retificador monofásico de onda completa com ponto médio 2.2.1 – Retificador monofásico de onda completa com ponto médio com carga resistiva A Fig. 2.8 mostra o circuito conhecido como retificador de onda completa com ponto médio. Neste circuito, diferente do retificador de meia onda, são utilizados dois diodos ( 1D e 2D ). Nota-se que é obrigatória a utilização do transformador com ponto médio central. Fig.2.8 – Retificador de onda completa com ponto médio com carga resistiva. 2.2.1.1 – Princípio de funcionamento Primeira Etapa: Quando a tensão no secundário do transformador for positiva, o diodo 1D é polarizado diretamente e entra em condução colocando a tensão 2v diretamente sobre a carga. Neste meio ciclo o diodo 2D está reversamente polarizado e, portanto, encontra-se bloqueado. Segunda Etapa: Quando a tensão no secundário do transformador por negativa, o diodo 2D é polarizado diretamente e entra em condução colocando a tensão 2v diretamente sobre a carga. Neste meio ciclo o diodo 1D se bloqueia pois é polarizado reversamente. As Figs. 2.9 (a), (b), (c) e (d), mostram as formas de onda de tensão no secundário do transformador 2v , a tensão na carga Lv , a tensão sobre o diodo 1D ( 1Dv ) e a tensão sobre o diodo 2D ( 2Dv ). Observa-se pela expressão (2.26), que a tensão reversa nos diodos equivale ao dobro da tensão reversa encontrada no retificador de meia onda. m2RD V2V22V (2.26) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 18 Fig.2.9 – Tensões no retificador de onda completa a ponto médio (carga resistiva): (a) Tensão do secundário da transformador 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Tensão do diodo 1D , 1Dv ; (d) Tensão do diodo 2D , 2Dv . 2.2.1.2 – Tensão e corrente médias na carga e corrente média nos diodos A tensão média na carga LmdV , considerando a Fig. 2.8, é dada pela seguinte expressão: td)tsen(V2 1 td)t(v 1 V 0 2 0 2Lmd (2.27) Resolvendo a expressão (2.27) obtêm-se: 2Lmd V9,0V (2.28) A corrente média na carga é dada por (2.29) e a corrente de pico na carga e nos diodos é dada pela expressão (2.30). L 2 Lmd R V9,0 I (2.29) L 2 p2Dp1DLp R V2 III (2.30) A corrente média nos diodos é a metade da corrente média da carga e é dada pela expressão (2.31). 2 I II Lmd md2Dmd1D (2.31) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 19 2.2.1.3 – Tensão e corrente eficazes na carga e corrente eficaz nos diodos A tensão eficaz na carga LefV , considerando a Fig. 2.8, é dada pelas seguintes expressões: 2 1 2 0 2 2 2 1 0 2 2Lef td)t(sen)V2( 1 td)t(v 1 V (2.32) 2 1 0 2Lef 4 t2sen( 2 t1 V2V (2.33) Resolvendo a expressão (2.33) obtêm-se: 2Lef VV (2.34) A corrente eficaz na carga é dada pela expressão (2.35). L 2 Lef R V I (2.35) A corrente eficaz nos diodos é dada pela expressão (2.36). 2 I II Lef ef2Def1D (2.36) 2.2.1.4 – Potências A potência transferida à carga e a potência aparente do secundário do transformador são dadas, respectivamente, pelas equações (2.37) e (2.38). Lef2 2 LefL IVRIP (2.37) 2 I V2IV2S Lef 2Sef2S (2.38) Através de (2.37) e (2.38) encontra-se LS P,S 411 (2.39) Percebe-se através de (2.39) que o transformador é mal aproveitado pelo fato deste possuir dois secundários. A vantagem desta estrutura, em relação ao retificador meia ponte é que a tensão média na carga é duas vezes maior, além de não apresentar componente contínua no secundário do transformador, evitando a sua saturação. 2.2.2 – Retificador monofásico de onda completa com ponto médio com carga RL A Fig. 2.10 mostra o circuito do retificador de onda completa com ponto médio com carga RL. As etapas de funcionamento são idênticas às já descritas considerando carga resistiva. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 20 Fig.2.10 – Retificador de onda completa com ponto médio com carga RL. Na Fig. 2.11 são apresentadas as formas de onda de algumas grandezas presentes no circuito, considerando a indutância de carga grande o suficiente de forma que a corrente da carga possa ser considerada constante. Fig.2.11 – Correntes no retificador de onda completa com ponto médio (carga RL): (a) Corrente na carga Li ; (b) Corrente no diodo 1Di , (c) Corrente no diodo 2Di . 2.2.2.1 – Tensão e corrente média na carga A tensão média LmdV e a corrente média LmdI na carga, considerando a Fig. 2.10, são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.40) e (2.41). 2Lmd V9,0V (2.40) L Lmd L 2 Lmd R V R V9,0 I (2.41) 2.2.2.2 – Potências Como a corrente de carga pode ser considerada constante, tem-se: L Lmd LmdLef R V II (2.42) Desse modo, a potência transferida à carga é calculada pela expressão (2.22). Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 21 LmdLmdL 2 LefL VIRIP (2.43) As correntes eficazes dos secundários do transformador são dadas por 2 I 2 I 2 I I Lmd Lefp Sef (2.44) A potência aparente do secundário do transformador é dada por Sef2S IV2S (2.45) Através de (2.40), (2.43), (2.44) e (2.45) encontra-se (2.46). LS P57,1S (2.46) Percebe-se através de (2.46) que o transformador é mal aproveitado, pois é exigido que o transformador seja dimensionado para uma potência aparente igual a 157% da potência consumida pela carga. 2.3 – Retificador monofásico de onda completa em ponte 2.3.1 – Retificador monofásico de onda completa com carga resistiva A Fig. 2.12 mostra o circuito conhecido como retificador de onda completa em ponte. Neste circuito, como no retificador com ponto médio, tanto o semiciclo positivo quanto o negativo da rede são retificados, produzindo na carga menores níveis de ondulação e maiores valores médios de tensão. Fig.2.12 – Retificador de onda completa em ponte com carga resistiva. 2.3.1.1 – Princípio de funcionamento Primeira Etapa: Quando a tensão no secundário do transformador for positiva, os diodos 1D e 2D são polarizados diretamente e entram em condução, colocando a tensão 2v diretamente sobre a carga. Neste meio ciclo os diodos 3D e 4D estão polarizados reversamente e, portanto, encontram-se bloqueados. Segunda Etapa: Quando a tensão no secundário do transformador por negativa, os diodos 3D e 4D são polarizados diretamente e entram em condução colocando a tensão 2v diretamente sobre a carga. Neste meio ciclo os diodos 1D e 2D estão polarizados reversamente e, portanto, encontram-se bloqueados. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 22 As Figs. 2.13 (a), (b), (c) e (d), mostram as formas de onda de tensão no secundário do transformador 2v , a tensão na carga Lv , as tensões sobre o diodos 1D e 2D ( 1Dv e 2Dv ) e as tensões sobre os diodos 3D e 4D ( 3Dv e 4Dv ). Observa-se que a tensão reversa no diodo é igual à tensão de pico do secundário do transformador e é dada pela seguinte expressão: 22VVRD (2.47) Fig.2.13 – Tensões no retificador de onda completa em ponte (carga resistiva): (a) Tensão do secundário da transformador 2v ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Tensão dos diodos 1D e 2D ; (d) Tensão dos diodos 3D e 4D . 2.3.1.2 – Valores médios e eficazes de tensão e corrente na carga Os valores médios e eficazes de tensão e corrente na carga são idênticos aos valores obtidos para o retificador de onda completa com ponto médio. Sendo assim as equações (2.28), (2.29), (2.34) e (2.35) são válidas neste caso. As correntes médias e eficazes nos diodos também são iguais, ou seja, as equações (2.31) e (2.36) podem ser utilizadas. 2.3.1.3 – Potências A potência transferida à carga e a potência aparente do secundário do transformador são dadas, respectivamente, pelas equações (2.48) e (2.49). Lef2L 2 LefL IVRIP (2.48) Lef2Sef2S IVIVS (2.49) Através de (2.48) e (2.49) encontra-se (2.50). LS PS (2.50) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 23 Percebe-se através de (2.50), que o transformador do retificador de onda completa em ponte é melhor aproveitado que o transformador do retificador de onda completa com ponto médio, ou seja, o transformador será menor para uma mesma potência de carga. 2.3.2 – Retificador monofásico de onda completa em ponte com carga RL A Fig. 2.14 mostra o circuito do retificador de onda completa em ponte com carga RL. As etapas de funcionamento são idênticas às já descritas considerando carga resistiva. Fig.2.14 – Retificador de onda completa em ponte com carga RL. Na Fig. 2.15 são apresentadas as formas de onda de algumas grandezas presentes no circuito, considerando a indutância de carga grande o suficiente de forma que a corrente da carga possa ser considerada constante. 2.3.2.1 – Tensão e corrente média na carga A tensão média LmdV e a corrente média LmdI na carga, considerando a Fig. 2.14, são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.51) e (2.52). 2Lmd V9,0V (2.51) L Lmd L 2 Lmd R V R V9,0 I (2.52) Fig.2.15 – Correntes no retificador de onda completa em ponte (carga RL): (a) Corrente na carga Li ; (b) Corrente no secundário 2i , (c) Corrente nos diodos ( 1Di e 2Di ); (d) Corrente nos diodos ( 3Di e 4Di ). Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 24 2.3.2.2 – Potências Como a corrente de carga pode ser considerada constante, tem-se: L Lmd LmdLef R V II (2.53) Desse modo, a potência transferida à carga é calculada pela expressão (2.54). LmdLmdL 2 LefL VIRIP (2.54) Pela Fig. 2.15, a corrente eficaz do secundário do transformador é dada por: 2 1 0 2 p 2 1 0 2 2Sef td)I( 1 td)t(i 1 I (2.55) Resolvendo (2.55) obtêm-se: LmdpSef III (2.56) A potência aparente do secundário do transformador é dada por SefS IVS 2 (2.57) Através de (2.51), (2.54), (2.56) e (2.57) encontra-se (2.58). LS P11,1S (2.58) 2.4 – Retificador trifásico com ponto médio 2.4.1 – Retificador trifásico com ponto médio com carga resistiva A vantagem dos retificadores trifásicos em relação aos monofásicos está na menor amplitude e maior frequência da ondulação da tensão de saída, o que facilita a filtragem na saída. Os níveis da tensão de saída são mais elevados para uma determinada tensão de entrada quando comparados com os retificadores monofásicos. A Fig. 2.16 mostra o circuito conhecido como retificador trifásico com ponto médio. Três diodos são conectados a cada uma das fases da rede, podendo ser considerado como a associação de três retificadores monofásicos de meia onda. Percebe-se, no entanto, que a utilização do fio neutro é indispensável. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 25 Fig.2.16 – Retificador trifásico com ponto médio (carga resistiva). 2.4.1.1 – Princípio de funcionamento A Fig. 2.17 mostra as formas de onda referentes à operação do retificador trifásico com ponto médio mostrado na Fig. 2.16. As tensões da fonte de alimentação av , bv e cv estão, respectivamente, associados aos diodos 1D , 2D e 3D . Cada diodo conduzirá à medida que a tensão instantânea correspondente à sua fase for superior em relação aos outros. Desta forma, cada diodo conduzirá apenas 120o elétricos e permanecerá desligado os outros 240o. A tensão reversa nos diodos é dada pela composição fasorial das tensões de fase av , bv e cv . Por exemplo, quando o diodo 1D estiver em condução, a tensão em 2D será igual à tensão de linha abv e em 3D será igual à acv . Sendo assim a tensão reversa máxima em cada diodo é dada pela seguinte expressão: mefDp VVV 323 (2.59) Onde: DpV = Tensão reversa no diodo; mV = Tensão de pico por fase; efV = Tensão eficaz de fase. Pela expressão (2.59), observa-se claramente que o valor da tensão reversa do diodo DpV é igual ao valor da tensão de pico da tensão de linha. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 26 Fig.2.17 – Tensões no retificador trifásico com ponto médio (carga resistiva): (a) Tensões trifásicas av , bv e cv ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Tensão sobre o diodo 1D , 1Dv . 2.4.1.2 – Tensão e corrente médias na carga A tensão média na carga LmdV , considerando a Fig. 2.17, é calculada pela seguinte expressão: td)tsen(V2 2 3 td)t(v 2 3 V 65 6 ef 65 6 aLmd (2.60) Resolvendo a expressão (2.60) obtêm-se: efLmd V17,1V (2.61) As correntes média e de pico na carga são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.62) e (2.63). L ef L Lmd Lmd R V17,1 R V I (2.62) L m L ef Lp R V R V2 I (2.63) 2.4.1.3 – Tensão e corrente eficazes na carga A tensão eficaz na carga LefV , considerando a Fig. 2.17, é obtida através das expressões abaixo: Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 27 2 1 265 6 2 ef 2 1 65 6 2 aLef td)t(sen)V2( 2 3 td)t(v 2 3 V (2.64) 2 1 65 6 efLef 4 )t2sen( 2 t 2 1 V23V (2.65) Resolvendo a expressão (2.65) obtêm-se: efLef V19,1V (2.66) Desse modo, a corrente eficaz na carga é dada pela expressão (2.67). L ef L Lef Lef R V19,1 R V I (2.67) 2.4.1.4 – Correntes média, eficaz e de pico nos diodos As correntes média, eficaz e de pico nos diodos 1D , 2D e 3D são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.68), (2.69) e (2.70). 3 I I LmdDmd (2.68) 3 I I Lef Def (2.69) L ef Dp R V2 I (2.70) 2.4.1.5 – Potência A corrente eficaz por fase do retificador é dada pela equação (2.71). 3 I I Lef ef (2.71) Pela expressão (2.71) e (2.66) a potência transferida à carga pode ser obtida por (2.72). A potência aparente do sistema trifásico é calculada pela equação (2.73). Nota-se que a potência ativa transferida à carga é bem inferior que a potência aparente do sistema trifásico, em função dos harmônicos de corrente presente nas fases do sistema. efefefefLefLefL IV06,2I3V19,1IVP (2.72) efefS IV3S (2.73) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 28 2.4.2 – Retificador trifásico com ponto médio com carga RL A Fig. 2.18 mostra o circuito do retificador trifásico com ponto médio conectado a um transformador, e alimentando uma carga RL. O princípio de funcionamento é idêntico ao já descrito considerando a carga resistiva. Fig.2.18 – Retificador trifásico com ponto médio com carga RL. Na Fig. 2.19 são apresentadas as formas de onda de algumas grandezas presentes no circuito considerando a carga sem ondulação de corrente, ou seja, a componente alternada da corrente de carga é aproximadamente nula. Fig.2.19 – Correntes no retificador trifásico com ponto médio (carga RL): (a) Corrente na carga Li ; (b) Corrente no diodo 1D ( 1Di ); (c) Corrente no diodo 2D ( 2Di ); (d) Corrente no diodo 3D ( 3Di ). 2.4.2.1 – Tensão e corrente média na carga A tensão média LmdV e a corrente média LmdI na carga, são as mesmas daquelas encontradas pelas expressões (2.61) e (2.62). Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 29 2.4.2.2 – Potências Como a corrente de carga pode ser considerada constante, tem-se que: L Lmd LmdLef R V II (2.74) Desse modo, a potência transferida à carga é calculada pela expressão (2.75). LmdLmdL 2 LefL VIRIP (2.75) A corrente eficaz do secundário do transformador, por fase, é dada por 3 I I LmdSef (2.76) A potência aparente total do secundário do transformador é dada por SefSefS IV3S = (2.77) Através de (2.61), (2.75), (2.76) e (2.77) encontra-se (2.78). LS P48,1S (2.78) Observa-se através de (2.78) um baixo aproveitamento do transformador, haja visto que além de componentes alternadas de corrente existe também no secundário também a de componentes contínuas. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 30 2.5 – Retificador trifásico de onda completa 2.5.1 – Retificador trifásico de onda completa com carga resistiva A Fig. 2.20 mostra o circuito conhecido como retificador trifásico de onda completa ou ponte de Graetz, conectado à rede através de um transformador trifásico. Seis diodos são utilizados para a formação do retificador. Este retificador também é chamado de retificador de seis pulsos e tem a característica de permitir menor ondulação na tensão de saída. Fig.2.20 – Retificador trifásico de onda completa (carga resistiva). 2.5.1.1 – Princípio de funcionamento A Fig. 2.21 mostra as formas de onda referentes à operação do retificador trifásico em ponte mostrado na Fig. 2.20. As tensões da fonte de alimentação sav , sbv e scv estão, respectivamente, associados aos diodos 1D - 4D , 2D - 5D e 3D - 6D . Nesta estrutura, cada diodo conduzirá 120o graus elétricos e sempre dois dos seis diodos estarão simultaneamente em condução, dependendo da amplitude instantânea das tensões de fase. Observa-se que a frequência da ondulação da tensão de saída é igual a seis vezes a frequência da componente fundamental das tensões de alimentação. Sendo assim, percebe-se que a comutação entre os "braços" do retificador ocorre a cada 60o, como mostrado na Fig. 2.21. A tensão reversa nos diodos é dada pela composição fasorial das tensões de fase sav , sbv e scv . Por exemplo, quando o diodo 1D e 6D estiverem em condução, a tensão em 2D será igual à tensão de linha abv , em 3D será igual à acv e assim por diante. Desse modo, a tensão reversa máxima em cada diodo é dada pela seguinte expressão: mefDp VVV 323 (2.79) Onde: DpV = Tensão reversa no diodo; mV = Tensão de pico por fase; efV = Tensão eficaz de fase. Pela expressão (2.59), observa-se claramente que o valor da tensão reversa do diodo DpV é igual ao valor da tensão de pico da tensão de linha. Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 31 Fig.2.21 – Tensões no retificador trifásico de onda completa (carga resistiva): (a) Tensões trifásicas sav , sbv e scv ; (b) Tensão na carga Lv ; (c) Tensão sobre o diodo 1D , 1Dv . 2.5.1.2 – Tensão e corrente médias na carga A tensão média na carga LmdV , considerando a Fig. 2.21, é calculada pela seguinte expressão: td)tsen(V23 3 td)t(v 3 V 32 3 ef 32 3 abLmd (2.80) Resolvendo a expressão (2.80) obtêm-se: efLmd V34,2V (2.81) A corrente média e de pico na carga são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.82) e (2.83). L ef L Lmd Lmd R V34,2 R V I (2.82) L m L ef Lp R V3 R V23 I (2.83) 2.5.1.3 – Tensão e corrente eficazes na carga A tensão eficaz na carga LefV , considerando a Fig. 2.21, é obtida através das expressões abaixo: 2 1 232 3 2 ef 2 1 32 3 2 abLef td)t(sen)V23( 3 td)t(v 3 V (2.84) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 32 2 1 32 3 efLef 4 )t2sen( 2 t1 V23V (2.85) Resolvendo a expressão (2.85) obtêm-se: efLef V341,2V (2.86) Desse modo, a corrente eficaz na carga é dada pela expressão (2.87). L ef L Lef Lef R V341,2 R V I (2.87) 2.5.1.4 – Correntes média, eficaz e de pico nos diodos As correntes média, eficaz e de pico nos diodos 1D à 6D são dadas, respectivamente, pelas expressões (2.88), (2.89) e (2.90). 3 I I LmdDmd (2.88) 3 I I Lef Def (2.89) L m L ef Dp R V3 R V23 I (2.90) 2.5.1.5 – Potência A corrente eficaz por fase do retificador é dada pela equação (2.91). Lefef I 3 2 I (2.91) Pela expressão (2.91) e (2.86) a potência transferida à carga pode ser obtida por (2.92). A potência aparente do sistema trifásico é calculada pela equação (2.93). Nota-se, por (2.94) que a potência ativa transferida à carga é muito próxima que a potência aparente do sistema trifásico. efefefefLefLefL IV87,2I23V341,2IVP (2.92) efefS IV3S (2.93) LS PS 045,1 (2.94) Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 33 2.5.2 – Retificador trifásico de onda completa com carga RL A Fig. 2.22 apresenta o circuito do retificador trifásico de onda completa alimentando uma carga RL. O princípio de funcionamento é idêntico ao já descrito considerando a carga resistiva. Fig.2.22 – Retificador trifásico de onda completa com carga RL. Na Fig. 2.23 são apresentadas as formas de onda de algumas grandezas presentes no circuito considerando a carga sem ondulação de corrente, ou seja, a componente alternada da corrente de carga é aproximadamente nula. Fig.2.23 – Correntes no retificador trifásico de onda completa (carga RL): (a) Corrente na carga Li ; (b) Corrente no diodo 1D ( 1Di ); (c) Corrente no diodo 4D ( 4Di ); (d) Corrente na fase a do secundário do transformador ( 1Si ). 2.5.2.1 – Tensão e corrente média na carga A tensão média LmdV e a corrente média LmdI na carga, são as mesmas daquelas encontradas pelas expressões (2.81) e (2.82). 2.5.2.2 – Potências Como a corrente de carga pode ser considerada constante, tem-se que: Eletrônica de Potência. Cap. 2 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 34 L Lmd LmdLef R V II (2.95) Desse modo, a potência transferida à carga é calculada pela expressão (2.96). LmdLmdL 2 LefL VIRIP (2.96) A corrente eficaz do secundário do transformador, por fase, é dada por LmdSef I 3 2 I (2.97) A potência aparente total do secundário do transformador é dada por SefSefS IV3S (2.98) Através de (2.81), (2.96), (2.97) e (2.98) encontra-se (2.99). LS P046,1S (2.99) Observa-se através de (2.99) que o retificador trifásico de onda completa apresenta um bom aproveitamento do transformador. Bibliografia: MOHAN Ned; UNDELAND Tore M.; ROBBINS William P. Power Eletronics – Converters, Applications and Design. 2 ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995. RASHID, Muhammad H. Eletrônica de Potência. São Paulo: Makron Books, 1999. ASHFAQ Ahmed. Eletrônica de Potência. São Paulo: Prentice Hall, 2000. BARBI, Ivo. Eletrônica de Potência. Florianópolis: Editora UFSC. Apostila/EP_eng_3.pdf Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 35 3 – TIRISTORES Os tiristores são representados por uma família de dispositivos semicondutores controlados, usados como chaves eletrônicas, cuja estrutura possui quatro camadas (estrutura pnpn). Dentre os tiristores com características estruturais similares pode-se citar: SCR (retificador controlado de silício), GTO (tiristor comutável pela porta), MCT (tiristor controlado por MOS), TRIAC (tiristor triodo bidirecional), DIAC (tiristor diodo bidirecional), LASCR (tiristor ativado por luz), e outros. O tiristor mais difundido é o SCR. Este dispositivo pode ser empregado em diversas aplicações em eletrônica de potência, como por exemplo: Inversores, cicloconversores, retificadores, chaves estáticas, choppers, etc. Quanto à velocidade de chaveamento, os SCR's de potência podem ser classificados como lentos e rápidos. Os lentos são usados em circuitos com frequência de chaveamento menores, como por exemplo, para o controle de fase. Já os rápidos são usados em circuitos com alta frequência de chaveamento, onde os tempos de comutação são significativos. Sua faixa de trabalho situa- se por volta de 5000V/ 5000 A. 3.1 – Representação do SCR O SCR possui quatro camadas (estrutura pnpn), com três junções pn, como mostrado na Fig. 3.1 (a). Simbolicamente o SCR pode ser representado pelo desenho mostrado na Fig. 3.1 (b). Dois terminais de potência podem ser observados, o terminal positivo (A) e o negativo (K), além de do terminal de controle (G). O controle do SCR caracteriza-se pelo fato da sua entrada em condução ser controlada através do gatilho, a qual é utilizada para fazer o disparo do dispositivo. Considerando o SCR bloqueado, quando a tensão no terminal positivo (A) for maior que a do terminal negativo (K) e uma corrente de gatilho GI for injetada na porta (G), o SCR é levado do seu estado de bloqueio para o seu estado de condução. A porta (G) apenas é utilizada para colocar o dispositivo em condução e não serve para bloqueá-lo. O bloqueio é conseguido quando a corrente direta que circula pelo SCR é anulada ou cai abaixo da corrente mínima determinada pelo fabricante, chamada corrente de manutenção HI (holding current). Quando o SCR estiver polarizado diretamente, ou seja, 0AKV , as junções 1J e 3J estarão polarizadas diretamente enquanto a junção 2J estará polarizada reversamente, impedindo a circulação de correntes diretas de níveis elevados. Apenas uma corrente de fuga circulará do ânodo para o cátodo. Diferente do diodo, o SCR também bloqueia tensões diretas o que o coloca no estado de bloqueio direto. Se a tensão de bloqueio direto for maior que a estipulada pelo fabricante BOV , a junção 2J se romperá (ruptura por avalanche) e uma grande corrente no sentido direto poderá circular pelo dispositivo. Apesar de ser possível colocar o SCR em condução pelo aumento da tensão direta AKV , na prática é recomendável que a tensão AKV seja mantida abaixo da tensão BOV para não correr o risco de destruir o componente. Sendo assim, a porta de gatilho é usada somente para colocar o SCR em condução. Quando o diodo estiver polarizado reversamente, ou seja, 0AKV , as junções 1J e 3J estarão polarizadas reversamente enquanto a junção 2J estará polarizada diretamente. Nesta situação o SCR estará no estado de bloqueio reverso e apenas uma corrente de fuga circulará pelo dispositivo. É recomendável que a tensão de ruptura reversa estipulada pelo fabricante não seja atingida. Fig. 3.1 – Representação do SCR.: (a) estrutura pnpn; (b) Símbolo do SCR. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 36 3.1.1 – Curva característica ideal do SCR A curva característica ideal do SCR está mostrada na Fig. 3.2, onde é traçada a curva de corrente versus tensão ( tt vxi ). Como pode ser visto pelas curvas “A” e “B” o SCR bloqueia tensões positivas e negativas. A pós o disparo, o dispositivo pode ser representado pelas curvas “A” e “C”, assumindo, desta forma, as características de um diodo. Fig. 3.2 – Curva característica ideal do SCR. 3.1.2 – Curva característica real do SCR A curva característica ideal do SCR está mostrada na Fig. 3.3, onde é traçada a curva de corrente versus tensão ( tt vxi ). Observa-se que na região “A” as características de bloqueio do SCR são similares às do diodo. Enquanto a tensão reversa não atinge a tensão de ruptura reversa, existe a presença da corrente de fuga reversa. Depois de atingida a tensão de ruptura, poderá ocorrer um aumento excessivo da corrente reversa e o SCR pode se danificar por excesso de calor. A ordem de grandeza da tensão de ruptura varia de dezenas a milhares de Volts, dependendo das características construtivas do dispositivo. Na região “B”, no entanto, o SCR poderá passar para a região “C” de duas formas: a primeira é quando a tensão AKV atingir a tensão BOV ; a segunda é através do disparo pelo gatilho. Neste caso, mesmo que o sinal de gatilho seja removido e supondo que sua corrente direta seja maior que a corrente de manutenção, o dispositivo permanecerá conduzindo em função do seu processo regenerativo de realimentação, discutido na seção posterior. Após a entrada em condução o SCR também se comporta de maneira similar ao diodo, apresentando uma queda de tensão direta na ordem de 1 Volt. Fig. 3.3 – Curva característica real do SCR. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 37 3.2 – Modelo de um SCR com dois transistores Para efeito de análise, um SCR pode ser considerado como dois transistores complementares, um NPN ( 1Q ) e outro PNP ( 2Q ), apresentado na Fig. 3.4 (b). A estrutura básica do SCR mostrada na Fig. 3.1 (a) pode ser desmembrada para a estrutura mostrada na Fig. 3.4 (a). 3.2.1 – Princípio de funcionamento Baseado na Fig. 3.4 (b), considera-se uma tensão positiva polarizando diretamente a junção base- emissor de 1Q (aplicação de uma corrente de gatilho GI ). Isto faz com que o transistor NPN 1Q seja ligado, possibilitando a passagem de corrente coletor-emissor que também é a corrente de base do transistor PNP 2Q . Caso a junção emissor-base de 2Q esteja diretamente polarizada, ou seja, com a tensão do anodo mais positiva que o catodo, o transistor PNP 2Q irá conduzir e, consequentemente, irá suprir a corrente de base para 1Q . Este processo prossegue até que 1Q e 2Q estejam na região de saturação e, portanto, ligados. Desta forma, como 2Q supre a corrente de base para 1Q e vice-versa, a corrente de gatilho GI pode ser removida sem que haja alteração no funcionamento do SCR. Percebe-se que o SCR irá permanecer no estado de condução até que a corrente direta se anule ou fique abaixo da corrente de manutenção, de maneira que o processo regenerativo da realimentação não possa mais ser mantido. Fig. 3.4 – Modelo de um SCR com dois transistores. 3.3 – Perdas no SCR As perdas do SCR podem ser relacionadas da seguinte forma: perdas na condução direta; perdas na condução reversa (poderá ser desprezada em função do baixo valor da corrente de saturação reversa, tipicamente na faixa de 1015 a 10-6); perdas na comutação (entrada em condução e bloqueio). A potência dissipada no SCR é transformada em calor. O aumento da temperatura originária das perdas no SCR não deve ultrapassar os limites impostos pelo fabricante, pois o dispositivo pode vir a se danificar. Desta forma, torna-se necessário calcular estas perdas para mensurar os níveis de temperatura no dispositivo e se necessário dimensionar um dissipador de calor adequado. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 38 3.3.1 – Perdas em condução Em condução, similarmente ao funcionamento do diodo, o SCR pode ser representado por uma força-eletromotriz ( TV ) associada em série com uma resistência intrínseca Tr . A tensão TV situa-se na faixa de 1 Volt. Desse modo, a expressão que define as perdas em condução no SCR é dada por 2 efmedON TTTTT IrIVP (1.8) Onde: TV = Força-eletromotriz do SCR; medT I = Corrente média no SCR; efT I = Corrente eficaz no SCR; Tr = Resistência do SCR. 3.3.2 – Perdas na comutação Considerando onT t e offT t os respectivos tempos de entrada em condução e de bloqueio do SCR, as perdas de comutação de entrada em condução e bloqueio são dadas, respectivamente, pelas equações (3.1) e (3.2). )ftIV(P swTmaxTRRMTsw onon 6 1 (3.1) )ftIV(P swTmaxTRRMTsw offoff 6 1 (3.2) Onde: RRMV = Tensão reversa máxima do SCR; maxT I = Corrente máxima do SCR; swf = Frequência de chaveamento. O tempo de entrada em condução onT t está relacionado com a amplitude e a velocidade da corrente de gatilho. 3.4 – Especificações para os valores nominais de um SCR É importante, no momento de fazer um projeto, avaliar as formas de onda do circuito que se está projetando de modo a especificar o SCR com segurança. Todas as características do dispositivo são informadas no catálogo do fabricante como forma de orientar o projetista na escolha correta do componente. Alguns dos inúmeros dados especificados em catálogos são citados a seguir: Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 39 Corrente direta média máxima )avg(T I (average current): Corrente média que o SCR pode suportar quando estiver polarizado diretamente; Corrente direta eficaz máxima )RMS(T I (RMS current): Corrente eficaz que o SCR pode suportar quando estiver polarizado diretamente; Corrente máxima de surto TSMI : corrente máxima que o SCR pode suportar durante um transitório. Dependendo do fabricante esta corrente pode chegar a 20 vezes o valor nominal da corrente do SCR; Corrente de disparo LI : Corrente direta mínima que o SCR deve alcançar logo após a corrente de gatilho ter sido removida. A duração do sinal de disparo deve ser suficiente para garantir que a corrente direta atinja o valor de LI ; Corrente de manutenção HI : Corrente direta mínima que deve fluir pelo SCR para mantê-lo em condução. Abaixo desta corrente ocorre o desligamento do dispositivo; Tempo de disparo ( onT ): Tempo necessário para o tiristor sair do seu estado de bloqueio para o estado de condução; Tempo de desligamento ( offT ): Tempo necessário para o tiristor sair do seu estado de condução para o estado de bloqueio; Tensão repetitiva direta DRMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região direta. Um disparo não desejável do tiristor pode acorrer se a tensão direta ânodo-cátodo for maior que a tensão de ruptura direta DRMV ; Tensão repetitiva reversa RRMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região reversa; Tensão reversa máxima não repetitiva RSMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região reversa não repetitivamente; Máxima temperatura da junção ( maxj T ): Tensão máxima admitida nas junções do dispositivo sem que haja destruição do cristal; Máxima taxa de crescimento da tensão direta AKV ( dtdv / ): Máxima variação de tensão entre o anodo e o catodo sem que o semicondutor seja levado ao seu estado de condução; Máxima taxa de crescimento da corrente direta ( dtdi / ): Máxima variação da corrente de anodo sem que o semicondutor seja danificado. Se a corrente de anodo crescer muito rapidamente sem ter havido uma expansão adequada da superfície condutora do dispositivo, haverá um excesso de dissipação de potência na área de condução. Este problema pode ser resolvido construindo um circuito de disparo adequado, que possua
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