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CONTROVÉRSIA E PROGRESSO EM COSMOLOGIA: ESTADO ESTACIONÁRIO E BIG BANG (1927–1970) A busca pelo entendimento de como a natureza funciona, um dos elementos definidores da espécie humana, acabou levando ao desenvolvimento de um amplo conjunto de conhecimentos ao qual damos o nome de ciência. Passando ao largo da definição de ciência, podemos apontar como um de seus elementos característicos a busca pela verdade nas explicações que oferece sobre os assuntos a que se dedica. Em geral, os muitos ramos da ciência humana que surgiram desde a Antiguidade têm passado por um processo histórico semelhante: inicialmente, atribuem ao sobrenatural um papel central nas explicações que oferecem, substituindo-o progressivamente pelo entendimento dos processos físicos, biológicos, etc., inerentes aos organismos e/ou sistemas analisados. Durante este processo, assim como na ciência moderna, surgiram diversas controvérsias entre as diferentes explicações sobre fenômenos naturais e sociais. Olhar para o céu e procurar entendê-lo é uma constante entre os povos humanos: das mitologias antigas ao Big Bang, cada civilização e época ofereceram sua explicação para os movimentos dos astros, a escuridão da noite, o suceder das estações. A profusão de cosmologias tão antigas e diversas oferece uma oportunidade especialmente rica para um melhor entendimento de como a ciência de modo geral progride (sem pretender, claro, esgotar a discussão), e jogar luz sobre o papel essencial exercido pelas controvérsias nesta empreitada. De encontro a estes pressupostos, este trabalho é dedicado a compreender de que maneira as cosmologias do Estado Estacionário e do Big Bang, duas das mais marcantes teorias científicas desenvolvidas no século XX, se desenvolveram a partir da oferta de soluções para os problemas expostos pela controvérsia existente entre ambas até o início da década de 1970. Primeiramente, cabe aqui uma breve exposição sobre o que entendemos por progresso científico e controvérsia. O desenvolvimento praticamente contínuo de técnicas e instrumentos entre os mais variados agrupamentos humanos permitiu grande acúmulo de saberes sobre a natureza e o próprio ser humano, e a esse desenvolvimento de saberes em direção à verdade (ou o que julgamos que ela seja) damos o nome de progresso. No entanto, estudiosos da História da Ciência que se debruçaram sobre este conceito demonstraram que a ideia de progresso não significa necessariamente uma sequência inexorável de acúmulo de informações e técnicas que fatalmente aprimoram o saber e o fazer humanos. Pelo contrário, “progresso” indica a aventura humana em sua relação propriamente dita com o conhecimento, que nem sempre nos aproxima mais da verdade ou de uma sociedade melhor. Entre os estudiosos que se dedicaram ao estudo deste tema, Thomas Kuhn e Arthur Koestler oferecem perspectivas interessantes à ideia de progresso científico, perspectivas estas que encontram corroboração no estudo do desenvolvimento da Cosmologia. Para Kuhn, na obra A Estrutura das Revoluções Científicas1, entende-se por “Ciência” os campos do conhecimento humano que progridem obviamente, e para o autor, este progresso pode ser percebido a partir da adoção de novos paradigmas, entendidos como um “[...] conjunto de ilustrações recorrentes e quase padronizadas de diferentes teorias nas suas aplicações conceituais, instrumentais e na observação”2. Ao longo da História, paradigmas se sucedem a partir do acúmulo de novos dados e interpretações, caso estes desmintam inevitavelmente o paradigma aceito até então, gerando um momento de instabilidade no campo científico em questão. Kuhn define este momento como pré-paradigmático. A disputa entre visões científicas diversas, e as críticas que cada uma das versões faz à sua concorrente, dificulta a percepção de progresso nesses momentos, a não ser no interior das teorias concorrentes. O progresso se faz notar com maior clareza quando um dos paradigmas vence a disputa, inaugurando o período que Kuhn denomina Ciência normal. Neste momento, as bases do fazer científico não são constantemente questionadas, os cientistas podem ser formados sob um conjunto de preceitos mais ou menos unificado, e a partir deles, podem se dedicar a lacunas e problemas mais sutis e aprofundados deste campo científico. É o preenchimento destas lacunas que a comunidade científica entende como progresso. Uma vez que os conjuntos de dados oferecidos por um paradigma são validados pela comunidade científica, quase não há espaço para a discussão ou inserção de dados novos, ou revisão dos já estabelecidos, e é sobre estas pequenas brechas que paradigmas novos são fundamentados. É por este motivo que um novo paradigma carrega muitos elementos de seu predecessor, sendo assim raras as rupturas bruscas no campo científico. 1 Thomas S. Kuhn. A Estrutura das Revoluções Científicas. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. 2 Ibidem, p. 115. Ao focar sua análise sobre grandes “gênios” da Ciência como Galileu e Kepler, entre outros, Arthur Koestler, em sua obra O homem e o Universo3, expõe uma maneira de desenvolvimento do progresso que talvez não esteja tão clara na obra de Kuhn: Koestler percebe que o progresso não acontece de maneira linear, partindo de um estágio mais afastado da verdade em direção a um estágio mais próximo dela. Segundo o autor, muitas vezes nem mesmo os “gênios” são capazes de enxergar a verdade ou o avanço que os circunda, por estarem demasiadamente imersos (ou às vezes apartados demais) do “espírito de sua época”, das condições sociais e mentais vigentes no mundo em que vivem. Esta seria uma das explicações para o desenvolvimento “em ziguezague” do progresso, muito semelhante ao caminhar de um sonâmbulo4. Muitas vezes, o discurso vencedor entre as propostas científicas oferecidas é o que está mais próximo do “espírito de sua época”, ou o que conta com a retórica mais eficiente, e não necessariamente aquele que mais se aproxima da verdade. Em comum, Kuhn e Koestler apontam para o fato de que o progresso científico não acontece de acordo com um plano prévio ou um objetivo planejado, e sim de maneira aleatória, espontânea, porque depende que o cientista seja capaz de se afastar o suficiente do paradigma sob o qual opera a ponto de ser capaz de perceber seus problemas e as brechas de investigação que ele oferece. A partir destas considerações sobre o conceito de progresso, é possível inferir o papel central exercido pelas controvérsias científicas na sucessão dos paradigmas e, consequentemente, para o progresso da Ciência. Segundo Claude Chrétien, na obra A ciência em ação5, a controvérsia é um crivo ao qual o fato precisa ser submetido antes de ser aceito como um enunciado científico. Para o autor, as controvérsias são “[...] alimentadas, sem dúvida, pelo rigor intelectual e a preocupação em não se enganar, mas também pelas rivalidades e pela competição entre pesquisadores”6. Assim, além de oferecerem a medida do interesse que um fato desperta no meio científico, controvérsias também são capazes de testar a contribuição e a validade destes fatos, antes que eles sejam incorporados ao discurso científico corrente. Teríamos aqui, além de um mecanismo 3 KOESTLER, Arthur. O homem e o Universo: como a concepção do Universo se modificou através dos tempos. 2. ed. São Paulo: IBRASA, 1989. 4 Ibidem, p. XIV. 5 CHRÉTIEN, Claude: A ciência em ação: mitos e limites. Campinas: Papirus, 1994. 6 Ibidem, p. 109. de validação de novos elementos, também um reflexo da própria maneira como o modo de fazerciência foi desenvolvido pelos ocidentais, baseado principalmente nos debates ocorridos entre os antigos gregos e que formaram a base do que entendemos como racionalidade, ponto essencial da mentalidade científica contemporânea. Já para Gildo Magalhães, na obra Ciência e Conflito7, “Diferentemente da apresentação paradigmática das ciências e de sua história, é mais instrutivo apreender o processo de construção do conhecimento como uma série de etapas dialéticas”8, não só entre teorias científicas diversas, mas também a partir de sua confrontação com a realidade. Assim, as controvérsias acabam enriquecendo o progresso científico ao acrescentar-lhes conteúdo, e também por representarem a resistência à permanência de dogmas inquestionáveis dentro da ciência9, que podem em última instância atravancar o avanço científico. Conforme dito, o campo da Cosmologia é terreno fértil para o estudo de como controvérsias científicas acabaram concorrendo para o desenvolvimento desta ciência desde a Antiguidade. É a Cosmologia que oferece um dos primeiros casos registrados de controvérsias científicas: o debate entre as muitas explicações para o funcionamento do Universo oferecida pelos sábios gregos, do qual a visão aristotélica saiu vencedora (corroborando a ideia de Koestler de um progresso “sonâmbulo” das ciências). Mas foi somente durante o século XX que a Cosmologia adquiriu um status de ciência “exata”, quando se incorporam elementos físicos, matemáticos e químicos às especulações filosóficas e metafísicas sobre o tema. Parte desta mudança é devida ao desenvolvimento técnico de instrumentos que permitem observações e coletas de dados exponencialmente mais exatos do que era possível até o fim do século XIX, além da aplicação de novos desenvolvimentos teóricos, como a Teoria da Relatividade, a mecânica quântica e a termodinâmica, aos elementos do Universo. No entanto, é possível notar que muito se desenvolveu em Cosmologia também a partir da disputa entre várias teorias propostas por físicos e astrônomos na tentativa de esclarecer as brechas e contradições que as teorias rivais às suas propunham. 7 MAGALHÃES, Gildo: Ciência e Conflito: Ensaios sobre História e Epistemologia de Ciências e Técnicas. São Paulo: Book Express Editora, 2015. 8 Ibidem, p. 38. 9 Ibidem, p. 41. Helge Kragh, na obra Cosmology and Controversy10, faz um interessante balanço do desenvolvimento da Cosmologia a partir da década de 1910 até o início da década de 1970, quando o Big Bang se torna o paradigma cosmológico dominante. Ao analisar a incorporação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein pelos astrônomos e físicos que se dedicavam à Cosmologia e à Astronomia, e as imediatas controvérsias que surgiram daí, Kragh desnuda o interessante processo de perseguição destes cientistas pelas teorias que oferecessem explicações mais sólidas (ou as menores lacunas) ao tentarem reunir, num só corpo explicativo, a mecânica quântica, a termodinâmica, as teorias de formação dos elementos químicos, a própria relatividade, num esforço por fazê-las concordar (ou pelo menos não discordar completamente) com os dados observacionais e com uma certa racionalidade filosófica. Os embates que decorrem deste processo são muitos: da estruturação do Big Bang a partir do proposto por Georges Lemaître e Alexander Friedmann na década de 1920, passando pelas críticas e novas propostas colocadas por Edward Milne e Paul Dirac, até o desenvolvimento da cosmologia do Estado Estacionário, que contou com Fred Hoyle como um de seus mais notáveis defensores, muitas foram as descobertas observacionais que geraram maior ou menor incerteza sobre cada uma das teorias desenvolvidas, e diversas foram as polêmicas que cercavam, por exemplo, o tamanho do Universo em comparação com o tempo necessário para a evolução estelar, ou o processo e lugar de criação ou desenvolvimento dos elementos químicos. A descoberta da radicação cósmica de fundo, na segunda metade da década de 1960, tão propalada como o “tiro de misericórdia” no Estado Estacionário, conjugada ao desenvolvimento da radioastronomia e sua oferta de novas fontes de dados para o trabalho cosmológico também não foram capazes de eliminar por completo a controvérsia em torno de ideia de como (e se) o Universo surgiu e se expande. Tampouco o Big Bang encerra as discussões sobre a formação e funcionamento do Universo, como apontam o surgimento da teoria do Princípio Antrópico, ou a busca por vida extraterrestre promovida pela Astrobiologia e as condições evolutivas que ela suscita. O detalhamento desta controvérsia, baseado principalmente na obra de Kragh, será o objetivo central do trabalho agora proposto. Cosmologia relativística 10 KRAGH, Helge. Cosmology and Controversy: the historical development of two theories of the universe. EUA: Princeton University Press, 1996. Em 1915, Albert Einstein publica sua Teoria da Relatividade Geral, cujas equações apontavam para a configuração estática do Universo. William de Sitter, astrônomo holandês, oferece diferentes resultados para tais equações, apontando a possibilidade de um Universo em expansão11. Em 1925, o padre e astrônomo belga Georges Lemaître publica artigo em que defende que os desvios para o vermelho dos corpos celestes12 poderiam ser interpretados como resultado de sua distância em relação ao observador, além de trabalhar com as equações relativísticas considerando-as conjuntamente a elementos termodinâmicos do Universo, a pressão exercida sobre os corpos pela radiação, derivando deste conjunto de dados uma equação que apontava para um Universo em expansão. Lemaître defendia que suas equações descrevem um Universo real13, o que nos permite considerá-lo um dos fundadores da teoria do Big Bang. A ideia de um Universo em expansão pode ser rastreada desde 1917, com as equações relativistas de Einstein. Mas foi a partir de seu enriquecimento físico-matemático promovido por de Sitter e Lamaître, entre outros, e da conjugação destas teorias com os dados observacionais de Edwin Hubble, que corroborou as interpretações sobre os desvios para o vermelho, que o modelo de um Universo em expansão começa de fato a ganhar corpo. Sua popularização ocorre pouco tempo depois, a partir de trabalhos de divulgação científica publicados no início da década de 1930. Tema de reportagem no Times em 1932, o modelo relativista de um Universo em expansão chega a gerar incômodo em muitos leitores14. O paradigma cosmológico estava em processo de mudança. Apesar da coerência matemática, os modelos de expansão despertaram objeções imediatamente. A maioria delas se relacionava às dúvidas sobre a possibilidade de se considerar as leis da física imutáveis ao longo de grandes escalas de espaço e de tempo, pressuposto básico para que as interpretações cosmológicas em larga escala sejam consideradas válidas de acordo 11 KRAGH, 1996, p. 11. 12 Os corpos celestes emitem luz em diferentes faixas de ondas, derivadas dos elementos químicos que os compõem. Através da espectroscopia, pode-se comparar as emissões dos elementos presentes nos corpos celestes com os resultados obtidos em laboratório. Na década de 1920, os astrônomos perceberam que os espectros de luz emitidos por estrelas fora de nossa galáxia possuíam padrões de emissão iguais aos das estrelas pertencentes à Via Láctea, exceto pelo fato de que seus comprimentos de onda estavam todos desviados para a região vermelha do espectro. Tal comportamento foi atribuído ao efeito Doppler (o encolhimento ou distensão do comprimentode ondas eletromagnéticas de acordo com a direção de movimento do emissor em relação ao observador destas ondas). Os cálculos de distâncias realizados a partir dos desvios para o vermelho das galáxias mais distantes e de sua velocidade de afastamento permitem estimar também a idade do Universo. 13 KRAGH, 1996, p. 29 14 Ibidem, p. 34. com a Teoria da Relatividade Geral. Na Inglaterra, William McCrea e George McVittie apontaram para o fato de que as equações de Lemaître não distinguiam entre a expansão ou a contração do Universo, e questionaram o porquê da preferência pela expansão. Big Bang A ideia de um Universo com início no tempo pode ser percebida “pairando” em trabalhos de vários cientistas desde a criação da Teoria da Relatividade Geral, embora exista também a defesa de que especulações sobre o início do tempo, condição tão afastada das possibilidades de provas científicas à época, não fossem assunto da alçada de cientistas. Mas foi em 1931 que a ideia de um Universo com início no tempo foi formalmente proposta quando, no artigo The Evolution of the Universe: discussion, publicado na revista Nature, Georges Lemaître desenvolveu os conceitos de “átomo primitivo” e “Universo de fogos de artifício15” na busca por conciliar as especulações qualitativas anteriores com os cálculos permitidos pelas evidências coletadas acerca da expansão do Universo e do que pressupunha a teoria relativística. A ideia de “átomo primordial” já havia aparecido em um artigo anterior de Lemaître, publicado também em 1931, mas aparecia somente em colocações qualitativas: “At the origin, all the mass of the universe would exist in the form of a unique atom; the radius of the universe, although not strictly zero, being relatively small. The whole universe would be produced by the desintegration of this primeval atom”. He further imagined that the primeval atom would first desintegrate into “atomic stars,” atoms of weights comparable to those of the stars, and that the desintegration of these superatoms would produce the cosmic radiation and the ordinary matter now observed .16 Ao fim da década de 1930, a ideia de um Universo em expansão e com início no tempo já não causava mais tanta estranheza. Após a Segunda Guerra Mundial, o modelo cosmológico do Big Bang começa a se definir, principalmente a partir do trabalho de George Gamow. 15 Que se expande incialmente em grande velocidade, desacelerando posteriormente. 16 KRAGH, 1996, p. 50. Tradução livre: “ ‘Originalmente, toda a massa do Universo existiria na forma de um único átomo; o raio do Universo, apesar de não exatamente zero, seria relativamente pequeno. O conjunto do Universo teria sido produzido pela desintegração deste átomo primordial’. Ele ainda imaginou que o átomo primordial teria se desintegrado primeiro em ‘estrelas atômicas’, átomos de peso comparável ao das estrelas, e que a desintegração destes super átomos teria produzido a radiação cósmica e a matéria comum agora observadas. Em 1948, com base nos modelos de expansão do Universo, Gamow demonstrou que o mesmo estava inicialmente num estado de alta temperatura e densidade, mas confinado em um volume muito pequeno. Neste estágio, não poderia existir matéria, apenas radiação (período denominado como Era da Radiação). Com a expansão do Universo até seu volume atual, parte da radiação inicial havia se convertido em matéria, conforme a equação de Einstein E=mc² previa. No entanto, parte desta radiação inicial teria permanecido em forma de energia, devendo permear todo o Universo (tal radiação, cuja existência foi posteriormente comprovada, foi nomeada Radiação Cósmica de Fundo). Gamow consegue reforçar as bases da teoria do Big-Bang ao introduzir elementos de física quântica, contribuindo para que esta concepção fosse ganhando simpatia de muitos astrônomos. Ainda assim, havia lacunas não preenchidas, como o problema da escala de tempo e da síntese de elementos químicos: os primeiros resultados das medições dos desvios para o vermelho de Hubble, aplicados aos modelos evolucionários de Universo que previam um início deste no tempo, apontavam para uma idade do Universo muito inferior à que a Geologia indicava para a formação terrestre, ou que os estudos de evolução química estelar indicavam como tempo necessário para a formação das estrelas. Logicamente, o Universo deveria ser mais velho que seus componentes, o que gerou dificuldades para os modelos evolucionários, mas não para a teoria do Estado Estacionário. Os cálculos de Hubble foram sendo revistos ao longo das décadas, a partir da melhora nos instrumentos de observação. Em 1956, Allan Sandage reestimou a Constante de Hubble17, que passou a apontar para uma idade do Universo entre 6,5 e 13 bilhões de anos, indo de encontro às estimativas de idade das estrelas mais velhas detectadas então. Mas no início da década de 1950, só com muito boa vontade os astrônomos consideravam a Cosmologia um ramo respeitável da Astronomia, capaz de oferecer mais do que especulações sobre a formação e organização do Universo. A busca por dados observacionais procurava corrigir estas questões, mas havia a percepção de que os resultados eram ainda muito imprecisos, insuficientes e muito ambíguos para atingir estes objetivos, possibilitando muitas interpretações discordantes. 17 Medida da taxa de expansão do Universo. Em conjunto com desenvolvimentos alternativos da cosmologia relativística iniciados na década de 1920, a tentativa de responder aos problemas apresentados pela teoria do Big Bang e de propor uma alternativa que desfrutasse de maior simplicidade teórica, várias outras teorias cosmológicas foram concebidas no final da década de 1940. A maior parte delas teve vida curta, mas ainda assim levantam pontos cruciais não só para o desenvolvimento da controvérsia que se formava, mas também para a melhoria de pontos críticos de suas adversárias, contribuindo para o avanço científico. Mais adiante, nos deteremos sobre a teoria que por mais tempo rivalizou com o Big Bang e lhe lançou as mais duras críticas, a teoria do Estado Estacionário, bem como discutiremos de que maneira tal controvérsia se arrefeceu. No momento, nos deteremos sobre as críticas sofridas pelo Big Bang e sobre as lacunas que tal teoria ainda apresenta, além de tratarmos brevemente das discussões e diálogos que suscitou com o cristianismo católico. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a descoberta de novas fontes de dados, como as fontes emissoras de Raios-X cósmicos e a radiação cósmica de fundo, o desenvolvimento de equipamentos de observação e a descoberta dos quasares acabaram vencendo a resistência da maioria dos críticos da teoria do Big Bang. Ainda assim, não é possível imaginar que as críticas não continuassem surgindo, derivadas ou de interpretações discordantes dos dados, ou das lacunas que ainda não foram preenchidas. Embora o tratamento de tais críticas não seja o objetivo deste trabalho, podemos apontar entre os mais proeminentes críticos do Big Bang após a década de 1960 Hannes Alfvén (1908-1995), físico sueco, e Alton Arp (1927-2013), astrônomo norte-americano, nenhum dos dois adeptos ao Estado Estacionário - Alfvén o rejeitou, Arp nunca expressou interesse por ele18, além dos teóricos do Estado Estacionário, que serão abordados na seção específica. Em geral, suas críticas foram rebatidas por defensores do Big Bang como sendo carentes de indícios consistentes para que sejam levadas em consideração. Contudo, a teoria possui lacunas ainda por resolver. Segundo Roberto D. Dias da Costa19, as principais lacunassão: 18 KRAGH, 1996, p. 382. 19 COSTA, Roberto D. D., in FRIAÇA, Amâncio C. S., et al.: Astronomia: Uma Visão Geral do Universo. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008, p. 240-241. Assimetria matéria-antimatéria: claramente a matéria ocorre no Universo em maior abundância que a antimatéria e o modelo-padrão [do Big Bang] prevê iguais probabilidades de ocorrência para ambas. Achatamento: as evidências observacionais são que o Universo é virtualmente “plano”, no sentido geométrico, implicando uma densidade igual à densidade crítica, o que é improvável pelo modelo-padrão. Formação das galáxias: como hoje se sabe que existem galáxias quase tão velhas quanto o Universo, elas devem ter sido formadas no Universo primitivo, por flutuações locais de densidade, as quais não são previstas pelo modelo-padrão. Outras modalidades de crítica não se atêm aos elementos técnicos da teoria, mas sim às suas implicações filosófico-religiosas. De início, a percepção de que o Big Bang era demasiadamente concordante com a teologia judaico-cristã, aliado ao fato de um de seus principais proponentes ser um padre católico, geraram acusações de que tal teoria teria sido proposta com o intuito de legitimar concepções religiosas acerca do Universo, configurando uso ilegítimo da ciência20. Bertrand Russel chega a tecer duras observações sobre esta aproximação: “Teologians have grown grateful for small mercies, and they do not much care what sort of God the man of science gives them so long as he gives them one at all”21. Fred Hoyle, um dos principais propositores do Estado Estacionário, defendia que o Big Bang poderia implicar um milagre inicial para que pudesse acontecer, reforçando assim crenças religiosas, a despeito de Gamow, ateu, defender um Universo oscilatório, onde para cada big bang teria havido um “big squeeze” (“grande compressão”), o que não condizia com a cosmologia cristã22. Estado Estacionário Surgida como alternativa às dificuldades que a teoria do Big Bang apresentava no final dos anos 1940, o Estado Estacionário reuniu adeptos principalmente na Inglaterra, embora nem mesmo ali tenha se tornado a teoria cosmológica dominante. Normalmente mal compreendida 20 Contudo, isso não quer dizer que o Big Bang tenha sido apontado como um reforço à religião enquanto o Estado Estacionário implicasse ateísmo. Para alguns cientistas, a ideia de criação contínua de matéria também poderia ser interpretada como um indício da atividade divina. 21 RUSSEL, B., apud KRAGH, 1996, p. 251-252. Tradução livre: “Teólogos são gratos por pequena compaixão, e eles não se importam muito com que tipo de Deus os homens de ciência lhes deem, conquanto lhes deem um afinal”. 22 KRAGH, 1996, p. 255. e sub-representada na literatura científica23, ofereceu como principal contribuição à Cosmologia a crítica a pontos sensíveis do Big Bang, incentivando seus adeptos a se debruçarem sobre tais questões: muito do desenvolvimento da cosmologia relativística ocorrido nos anos 1950 se deve à controvérsia entre Big Bang e Estado Estacionário. Os pressupostos da Teoria Relativística de Einstein, como a homogeneidade do Universo em larga escala, não foram imediatamente aceitas por todos os cientistas. Nos anos que se seguiram à publicação da Teoria da Relatividade Geral, diversos estudos propuseram alternativas a esta interpretação, conseguindo chegar a resultados relativamente satisfatórios (mas não completamente livres de problemas). Entre os críticos da Relatividade, podemos destacar Edward A. Milne, contrário à aplicação a priori da ideia de que o Universo possui uma distribuição homogênea de matéria, e desenvolvedor de uma cosmologia que, a partir da aplicação das leis de Newton, apontava para comportamentos do Universo semelhantes aos preditos pela cosmologia relativística. Com base nos resultados de Milne e nos estudos em mecânica quântica de Paul Dirac, no final dos anos 1940 ganha corpo a teoria do Estado Estacionário. Entre os diversos cientistas que contribuíram para esta empreitada, destacam-se Fred Hoyle (1915-2001), Thomas Gold (1920-2004) e Hermann Bondi (1919-2005), que basicamente desenvolveram a ideia de um Universo de idade infinita, dinâmico, cuja expansão é derivada das consequências gravitacionais da permanente criação de matéria. Embora estivesse livre de problemas embaraçosos para o Big Bang, como a questão da escala de tempo, o Estado Estacionário recebeu duras críticas, que apontavam principalmente para o uso excessivo de dados a priori. Hoyle, astrônomo britânico sediado em Cambridge e que ofereceu importantes contribuições aos estudos de nucleossíntese estelar, se incomodava com a ideia do início do Universo a partir de uma singularidade física, e que estaria portanto além da capacidade de entendimento científico. Deste modo, em artigo publicado em 1948, procurou conceber uma cosmologia que escapasse das dificuldades enfrentadas pelos relativistas, como a singularidade e o problema da escala de tempo, além de buscar uma teoria de maior simplicidade e cujas observações não fossem o resultado de causas desconhecidas para a ciência, sem no entanto abandonar os moldes relativistas de um Universo em expansão. As equações a que chegou 23 Ibidem, p. XII. também não concordaram totalmente com as observações, notadamente no que se referia à densidade da matéria observada – problema cuja resposta oferecida por Hoyle foi a observação de que nem toda a matéria do Universo encontra-se em estado condensado. Num artigo basicamente qualitativo, com poucas equações, publicado também em 1948, Bondi e Gold sinalizam um importante ponto de início para as discussões cosmológicas: somente num Universo imutável seria permitido supor que as leis da Física não mudam com o tempo, não havendo justificativas para defender que num passado remoto, em que a densidade do Universo seria brutalmente maior, as leis da física seriam as mesmas que atualmente. De acordo com tal concepção, as leis e constantes físicas poderiam mudar a partir de alterações substanciais na densidade do Universo. Se as leis são imutáveis (aparentemente), então o Universo também seria, o que levou à concepção do Princípio Cosmológico Perfeito24. Para que tal pressuposto se conjugasse à observação de um Universo em expansão, deveria ser considerada a criação constante de matéria, ainda que a taxas muito baixas e de improvável detecção, ocorrendo aleatoriamente pelo espaço e não preferencialmente no interior de estrelas25. Além disso, diferentemente de Hoyle, Bondi e Gold também rejeitavam o entendimento da Relatividade como válida para todo o Universo, e não moveram grandes esforços no sentido de adequá-la à sua teoria. De fato, a necessidade constante de criação de matéria foi um dos principais focos das críticas recebidas p.ela teoria do Estado Estacionário. O paradigma sobre a equivalência entre matéria e energia foi estabelecido na década de 1840, com a Primeira Lei da Termodinâmica. Sua validade foi constantemente questionada, mesmo depois do desenvolvimento da teoria quântica, por cientistas do porte de Bohr, Dirac, Landau e Schrödinger26, mas o fato de Hoyle, Bondi e Gold não terem mencionado esta questão histórica os fez parecer hereges ao contestar tal lei. Formalmente, no entanto, os teóricos do Estado Estacionário fazem poucas especulações sobre a criação de matéria, apenas que podem ser partículas inicialmente isoladas ou átomos de hidrogênio.24 O Princípio Cosmológico é um pressuposto básico que considera que, em escalas suficientemente grandes (maiores do que o aglomerado local de galáxias, por exemplo), todos os lugares devem ser iguais. Esta ideia valida os estudos sobre o Universo que somos capazes de desenvolver a partir de nossa posição, restrita ao planeta Terra ou a sondas no Sistema Solar. Para os defensores do Princípio Cosmológico Perfeito, em larga escala, o Universo não era apenas homogêneo, mas também imutável. 25 KRAGH, 1996, p. 183. 26 Ibidem, p. 228. Outros cientistas tentaram trabalhar sobre a ideia de criação de matéria, como William McCrea, notadamente no sentido de conjugar tal noção à teoria quântica, mas foi percebido que esta tarefa, se fosse possível, só poderia ser levada à cabo pela ciência futura. De todo modo, às críticas dos que alegavam que a criação de matéria ofendia um pressuposto básico das leis da Física, e como tal não poderia ser considerada realidade, os teóricos do Estado Estacionário costumavam responder que era uma noção tão fantástica quanto a ideia do surgimento do Universo a partir “do nada”. Inicialmente o Estado Estacionário não atraiu grande atenção entre os cosmólogos, nem mesmo na Inglaterra. Mas a partir de 1950, com a criação de um programa de cinco palestras apresentado por Hoyle na rede de rádio BBC, nomeado The Nature of the Universe, o cenário começa a mudar. Curioso mencionar que, durante o programa de rádio, ao se referir jocosamente à teoria rival, Hoyle acabou dando-lhe o nome pela qual é conhecida até hoje. Tornada mais próxima do público leigo, a teoria do Estado Estacionário também ganhou maior visibilidade entre os acadêmicos, o que não chegou a resultar em maior apoio. As bases da teoria do Estado Estacionário foram lançadas nos dois artigos publicados em 1948, mas após este ponto, poucos desenvolvimentos significativos foram realizados. O que se produziu sobre ela nas décadas de 1950 e 60 foi principalmente a especificação de alguns pontos mais obscuros, como a questão da densidade de matéria, e a defesa contra críticas. Em artigo publicado em 1955, Bondi argumenta que um dos principais motivos de críticas ao Estado Estacionário era sua discordância em relação aos dados observados, mas chama atenção para os erros na obtenção de tais dados, derivados principalmente de limitações técnicas e interpretações equivocadas, argumentando que por este motivo, teorias não podem ser descartadas apenas por não estarem de acordo com alguns dados observados. Tal relativização antecipava argumentos comuns da filosofia da Ciência das décadas posteriores, mas em 1955 levantou muita hostilidade. A controvérsia arrefece No final da década de 1950, anos de debates não haviam sido capazes de arrefecer a controvérsia, embora a grande maioria dos astrônomos rejeitasse o Estado Estacionário. Mas paulatinamente a atenção se voltava cada vez mais aos dados observáveis, levando a um aparente abandono dos aspectos filosóficos e dos desenvolvimentos teóricos das versões cosmológicas. No fim dos anos 1950, com a confirmação da validade da teoria da Relatividade Geral, as versões do Estado Estacionário que não a aplicavam começam a perder espaço e crédito. O modelo defendido por Bondi e Gold desaparece de cena, e Hoyle abandona o Princípio Cosmológico Perfeito27. Durante a década de 1960, o desenvolvimento da radioastronomia, a descoberta da radiação cósmica de fundo, das fontes de raios-X (cujas emissões nesta faixa de radiação se mostravam muito mais intensas do que na faixa de luz visível) e o entendimento do significado dos quasares28 forçaram a adequação das teorias aos novos dados. Neste sentido, o Estado Estacionário se saiu muito pior do que o Big Bang. Não que este último tivesse sido definitivamente provado à época, mas os dados observacionais reforçavam seus pressupostos e, além de não serem absolutamente previstos pelo Estado Estacionário, era praticamente impossível adequá-los a esta teoria. É possível perceber nesta época uma ruptura clara na Cosmologia, que passa a ser considerada muito menos especulativa e mais realista, resultando num aumento claro no número de pesquisadores que se interessam por ela29 e na mudança de sua nomenclatura: a partir de então, começa a ser referida como Cosmologia física, e identificada com a ideia do Big Bang. Por esta mesma época, Bondi e Gold abandonam a teoria do Estado Estacionário e se voltam a outros ramos da Física, e Hoyle permanecerá, junto a poucos seguidores, como Narlikar, um dos poucos que ainda defendiam o Estado Estacionário. No início dos anos 1970, o Estado Estacionário já não era mais considerado alternativa séria, e a maior parte dos seguidores que lhe restavam se aliaram ao campo dos críticos ao Big Bang (que não necessariamente haviam alguma vez apoiado o Estado Estacionário). A comunicação entre Hoyle e Narlikar com os adeptos do Big Bang quando o assunto era cosmologia passou a ser quase nula, relegada a críticas que não costumavam ser sequer respondidas. Ora, se uma controvérsia pressupõe a interação entre campos opostos do conhecimento, a controvérsia cosmológica entre Estado Estacionário e Big Bang pode ser considerada minimizada no início dos anos 1970. Kragh faz um interessante balanço deste processo: 27 KRAGH, 1996, p. 319. 28 Fontes de intensa emissão de raios-X, com espectros de emissão de radiação bastante diferentes das demais estrelas ou galáxias, além de possuírem desvios para o vermelho cujos valores indicam um posicionamento bastante afastado do grupo local de galáxias, indicando estarem a distâncias muito grandes. A descoberta dos quasares comprometeu a teoria do Estado Estacionário, pois seus postulados não davam conta de explicar o comportamento de tais objetos. 29 Ibidem, p. 377. The big-bang theory was not socially negotiated or the result of a particular sociocultural climate favorable to that kind of cosmology. Its emergence and development were possibly influenced by such factors, but I find it difficult to document exactly how and to what extent. On the whole, the theory was found superior to other views of the universe on epistemic grounds and not for other reasons. The controversy terminated in a mixture of resolution and abandonment, because an overwhelming part of the cosmological community concluded that that is convinving evidence that the universe has indeed evolved from a big bang in accordance with the laws of general relativity and particle physics. The rapid rise in popularity of the big- bang view was undoubtedly helped by a kind of bandwagon effect, but the cosmologists’ conclusion was epistemically, not socially, based.30 Conclusão No caso da teoria do Big Bang, não é possível atribuir sua evolução somente às críticas por ela recebida. Tampouco é possível pressupor seu desenvolvimento exclusivamente a partir da incorporação de novos dados aleatoriamente descobertos pelos diversos ramos das ciências. Embora seja temerário pretender delimitar as contribuições oferecidas por cada uma destas situações, podemos perceber afinal um processo de construção de um corpo teórico que, para a maioria dos astrônomos, preenche de maneira satisfatória as lacunas iniciais que davam margem a críticas pela teoria do Estado Estacionário e acabaram por originar a controvérsia entre as duas propostas cosmológicas. Ao final, o que tal processo demonstra é a validade da ideia de que, longe de comprometer a formação de paradigmas científicos, as controvérsias podem contribuir para depurar teorias a ponto de favorecer sua consolidação como discursos dominantes em seu campo científico.30 KRAGH, 1996, p. 394. Tradução livre: a teoria do Big Bang não foi socialmente negociada ou o resultado de um particular clima sociocultural favorável a este tipo de cosmologia. Sua emergência e desenvolvimento foram possivelmente influenciadas por estes fatores, mas acho difícil documentar exatamente como e em qual extensão. Em seu conjunto, a teoria foi vista como superior em relação a outras visões do Universo por questões epistemológicas e não por outras razões. A controvérsia terminou numa mistura de resolução e abandono, porque uma esmagadora parte da comunidade cosmológica concluiu que haviam evidências convincentes de que o Universo de fato evoluiu a partir de um big bang, em acordo com as leis da Relatividade Geral e da Física de Partículas. O rápido crescimento da popularidade da versão do big bang foi sem dúvida ajudado por uma espécie de efeito manada, mas as conclusões dos cosmologistas foram baseadas epistemologicamente, não socialmente. Referências Bibliográficas CHRÉTIEN, Claude: A ciência em ação: mitos e limites. Campinas: Papirus, 1994. FRIAÇA, Amâncio C. S., et al.: Astronomia: Uma Visão Geral do Universo. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. KOESTLER, Arthur. O homem e o Universo: como a concepção do Universo se modificou através dos tempos. 2. ed. São Paulo: IBRASA, 1989. KRAGH, Helge. Cosmology and Controversy: the historical development of two theories of the universe. EUA: Princeton University Press, 1996. KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. MAGALHÃES, Gildo: Ciência e Conflito: Ensaios sobre História e Epistemologia de Ciências e Técnicas. São Paulo: Book Express Editora, 2015.
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