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2 MEDIAÇÃO

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Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
259Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários 
Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da 
Política Urbana
Andréia Rios
Isabel Kayser Pereira
Janaína Botta
Mariana Nunes da Silva 
Mariza Aparecida Chuma Iracet
Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar o projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários 
urbanos, projeto de extensão universitária realizado no bairro Guajuviras, no município de Canoas/
RS, por alunos do Curso de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Os alunos de 
graduação utilizam-se da mediação para dirimir conflitos originários da posse da terra. O texto relata 
a experiência diária dos universitários na comunidade, que discutem com os moradores a importância 
da mediação de conflitos fundiários urbanos como cultura não litigiosa de resolução de conflitos, bem 
como os marcos teóricos orientadores do trabalho.
PALAVRAS-CHAVE
Mediação de Conflitos; Conflitos pela Posse da Terra; Direito à Moradia; Extensão Universitária.
ABSTRACT
The paper aims to present the project Pacificar – Mediation of land tenure conflicts, a university 
extension project carried out in the neighborhood Guajuviras, in the city of Canoas, by students of the 
Faculty of Law at Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). The undergraduate students manage 
mediation technics in order to resolve conflicts originating in land tenure. The article reports the daily 
experience of the students in the community, who explain to residents the importance of urban land 
conflict mediation as a culture of non-litigious dispute resolution, as well as the theoretical basis which 
guided the project.
KEY WORDS
Conflict Mediation; Land Tenure Conflicts; Housing Rights; University Extension Project. 
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo dispõe sobre o projeto de Extensão intitulado “Pacificar – Mediação de 
Conflitos Fundiários Urbanos”, que está sendo desenvolvido por alunos do Centro Univer-
260 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
sitário Ritter dos Reis (UniRitter) desde o ano de 2009, selecionados a partir de dois cursos 
de capacitação organizados pela ONG Cidade em parceria com a Prefeitura Municipal de 
Canoas/RS. É resultado de Edital do Ministério da Justiça, Medida Provisória nº 384/2007, 
do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), que foi conver-
tido na Lei n° 11.530/2007, visando assegurar o acesso à justiça nas comunidades que se 
encontram em situação de vulnerabilidade social1. 
Devido à falha do Estado em reconhecer e assegurar direitos legais quanto à terra e à 
moradia2, formam-se grupos vulneráveis juridicamente, propensos aos despejos forçados3, 
gerando, consequentemente, diversos conflitos pela posse da terra. Assim, as diferentes formas 
de exercício dos direitos sobre a terra podem resultar em situações complexas de conflitos.
Na origem dessas disputas, identificam-se, exemplificativamente, o crescimento demográ-
fico, as transformações dos fatores econômicos e as reivindicações opostas sobre o controle 
e a utilização da terra. Disso resulta colisão entre direitos que operam sobre um mesmo es-
paço, para o qual concorrem diferentes sujeitos, ou pela divergência de interesses sobre um 
mesmo espaço, ou, ainda, o conflito de direitos contra esses interesses, devido à ausência 
de regulação e incapacidade do Estado4 de efetivar as transformações impostas ao estatuto 
do direito de propriedade5. 
Nesse contexto, surge a necessidade de se estabelecer uma nova cultura, uma prática 
diferenciada no tratamento dos conflitos dessa natureza, evitando o uso da violência e re-
conhecendo que, para atingir uma transformação efetiva da atuação do Poder Judiciário no 
tema, é necessária a modificação da cultura do ensino jurídico e da formação do profissional, 
funcionando como uma política de democratização do acesso à Justiça6. 
1 Série Pensando o Direito n. 07/2009 – versão integral. Disponível em:<www.mj.gov.br>. Acesso em: 22 jan. de 2011.
2 SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). O direito fundamental à moradia na Constituição: algumas anotações a respeito de seu contexto, conteúdo 
e possível eficácia. In: MELLO, Celso de Albuquerque; TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Arquivos de Direitos Humanos, Vol. 4. São Paulo-
-Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 140 e ss.
Direitos Fundamentais: sobre este assunto, ver autor ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia social da prestação jurisdicional. Revista de 
Informação legislativa. v. 31, n. 122, p. 291-296, abr./jun.1994.
3 Despejos forçados: sobre este assunto, ver a autora Raquel Rolnik. Como atuar em projetos que envolvam despejos e remoções? Disponível 
em: <http://raquelrolnik.files.wordpress.com/2010/01/guia_portugues.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2011.
4 “Quando se fala na atuação do governo frente à problemática da moradia, e importante destacar que a promoção de programas de 
construção de moradias e da melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico constituem entre a União, os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios, Art. 23, IX, da Constituição de 1988, competência comum, na qual os entes integrantes da federação atuam em 
cooperação administrativa recíproca, visando alcançar os objetivos descritos pela própria Constituição.” SILVA, Vanessa de Fátima da. O 
Direito Constitucional a Moradia no Brasil. Disponível em: <http://www.artigos.com/artigos/sociais/direito/o-direito-constitucional-a-moradia-
-no-brasil-1625/artigo>. Acesso em: 16 fev. 2011.
5 Disponível em: </www.polis.org.br>. Acesso em: 24 jan. 2011.
6 GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Candido Rangel e CINTRA, Carlos de Araujo. Teoria Geral do Processo.18 ed. São Paulo: Malheiros, 
2002. p. 33.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
261Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
O artigo justifica-se, desse modo, pela relevância de debater-se projeto que visa assegurar 
o acesso à justiça para as populações dos territórios em situação de “descoesão” social, fo-
mentando a prática da mediação nas Faculdades de Direito. Assim, apresenta como objetivo 
geral implantar, fortalecer e divulgar a mediação, divulgando meios alternativos de solução 
não violenta de conflitos. Destaque-se o objetivo específico de corresponder à atividade de 
extensão interdisciplinar focada na mediação de conflitos fundiários urbanos, com atuação 
conjunta do Centro Universitário Uniritter e a Prefeitura Municipal de Canoas, além de outros 
parceiros (organizações não governamentais (ONGs), universidades, secretarias municipais, 
Procuradoria Geral do Município, Instituto Canoas)7.
O Projeto Pacificar foi pensado a partir dessa necessidade pelo Programa Nacional de 
Segurança Pública com Cidadania, com integração das práticas de mediação comunitária e 
outras formas de resolução não violenta de conflitos, conjuntamente às atividades de exten-
são desenvolvidas pelas Faculdades de Direito (Núcleos de Prática Jurídica ou Assessorias 
Jurídicas Populares). O acesso efetivo à justiça é reconhecido de maneira progressiva como 
de importância capital entre os novos direitos individuais e sociais, pois, na ausência de 
mecanismos para sua reivindicação, a titularidade de direitos é destituída. Assim, temos 
por encará-lo como requisito fundamental, pois objetiva um sistema jurídico igualitário e 
moderno, garantidor dodireito de todos8. 
Inseridos nesse contexto, os alunos do curso de Direito do Uniritter participam do projeto 
com a tarefa de obter o conhecimento da situação fundiária e de sua política para a área 
beneficiada e, assim, promover o diálogo entre a comunidade e a Secretaria de Desenvolvi-
mento Urbano e Habitação9; observar o desenvolvimento dos processos administrativos e os 
debates sobre as audiências públicas a serem realizadas; desenvolver habilidades acadêmi-
cas quanto à relação ensino-pesquisa-extensão; conhecer e acompanhar os demais projetos 
desenvolvidos na área e elaborar estratégias de atuação integrada com os outros projetos; 
divulgar informações; mobilizar/articular a comunidade e a administração pública munici-
pal; atuar junto à comunidade, ao passo de identificar as principais demandas e atender e 
 Acesso a justiça: sobre este assunto, ver autor CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. 
Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 11-12.
7 Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 15 mar. 2011.
8 CAPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso a Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988, p. 11 
e 12. 
9 ABNG - Agência da Boa Notícia Guajuviras. Disponível em: <http://guajuvirasterritoriodepaz.blogspot.com/2010_08_01_archive.html>. 
Acesso em: 28 jan. 2011.
262 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
acompanhar as questões referentes à mediação de conflitos fundiários urbanos; capacitar as 
lideranças comunitárias em mediação de conflitos fundiários urbanos; registrar as atividades 
desenvolvidas, a fim de elaboração de relatório final. 
A área de atuação do projeto é a Cidade de Canoas/RS, especificamente o bairro Guaju-
viras10, uma área que em sua totalidade é de titularidade pública, com aproximadamente 
68.000 habitantes, em que as ocupações se deram de forma espontânea, portanto, de modo 
irregular, o que acabou por determinar as atuais demandas da população ali residente, como, 
por exemplo, a necessidade da regularização dos lotes e de investimento em infraestrutura. 
Nessa área foi instituído, sob a orientação do PRONASCI, o Território da Paz Guajuviras, no 
qual estão sendo desenvolvidos nove outros projetos de ação social, além do Projeto Pacificar.
Considerando a desigualdade do parcelamento do solo urbano no Estado, existe uma carên-
cia de espaços urbanos para a moradia dos cidadãos de baixa renda que, sem opção, vivem à 
margem da sociedade, inseridos em um processo de invisibilidade, amarrados a mecanismos 
que não garantam o direito à moradia e, nem ao menos, protegem e reconhecem a sua posse. 
O Pacificar atua na comunidade do Guajuviras com o objetivo de mediar conflitos de 
origem na terra, uma vez que a mediação é uma cultura alternativa de solução não violenta 
de conflitos e vem conjuntamente na defesa do direito à moradia e na troca e elaboração 
de novos saberes, conferindo força aos valores contidos em textos na Constituição Federal. 
Porque, por meio da informação e da conscientização, existe um “empoderamento”11 da 
comunidade para o exercício de seus direitos e deveres, quebrando paradigmas tradicionais, 
além de inseri-la na realidade como sujeito atuante. Dessa forma, constrói-se no Território 
da Paz Guajuviras uma nova história, gerando ferramentas para transformação social dessa 
comunidade. 
O desenvolvimento deste artigo tem como objetivo, então, descrever a experiência de 
trabalho do Projeto Pacificar, considerando os temas relacionados, as metas estabelecidas e 
as atividades desenvolvidas, de modo a promover reflexão. Assim, o texto é estruturado em 
quatro capítulos temáticos.
No primeiro capítulo, trata-se da Extensão Universitária, que dispõe sobre a abertura de 
saberes diferentes e a aproximação do mundo acadêmico e a comunidade onde o projeto se 
10 Idem.
11 “Por fim a maior contribuição da abordagem de direitos humanos para os conflitos fundiários refere-se ao empoderamento dos indivíduos 
e grupos afetados, mediante o reconhecimento e a efetivação dos direitos os quais dão suporte às obrigações legais dos outros.” Série 
Pensando o Direito nº. 07/2009 – versão integral. Disponível em: <www.mj.gov.br>. Acesso em: 16 fev. 2011.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
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desenvolve. No segundo capítulo, analisa-se a política urbana no Brasil, demonstrando, por 
meio de dados estatísticos, o processo de urbanização e as irregularidades na construção das 
cidades brasileiras, também apresentando o movimento nacional de reforma urbana, com 
destaque aos artigos 182 e 183 da Constituição Federal (CF)/88.
No terceiro capítulo, apresenta-se a mediação como forma alternativa de resolução de 
conflitos, conceituação e identificação e aplicabilidade em conflitos sobre regularização 
fundiária. Por fim, no quarto capítulo, relata-se a experiência do projeto Pacificar, notada-
mente quanto à formação dos integrantes, parceiros envolvidos, local de atuação e como 
são desenvolvidas suas atividades.
2 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Como atividade vinculada à Extensão Universitária, o Projeto Pacificar oportuniza ao 
aluno operador do direito complementação da base teórica obtida na universidade com ou-
tras formas de saberes, proporcionando uma formação diferenciada. Daí a necessidade de 
se dedicar à reflexão acerca da definição e objetivos deste fundamental pilar da educação 
formal de nível superior no Brasil.
Por meio do Plano Nacional de Extensão, definem-se diretrizes para a Extensão Universi-
tária no país, objetivando tornar possível a integralização do aluno com a comunidade. Tais 
diretrizes devem estar presentes em todas as ações do projeto de extensão, conforme segue: 
[...] a produção do conhecimento, via extensão, se faria na troca de 
saberes sistematizados, acadêmico e popular, tendo como consequência 
a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade 
na atuação da universidade e uma produção resultante do confronto com 
a realidade12.
Ainda, a atividade de extensão interdisciplinar vem amparada na Constituição Federal, que 
dispõe no seu art. 207: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, adminis-
trativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade 
entre ensino, pesquisa e extensão”.13
12 O Plano Nacional de Extensão Universitária - Coleção Extensão Universitária - FORPROEX, vol. I Disponível em: <www.renex.org.br>. Acesso 
em: 31 jan. 2011.
13 BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1988. ARTIGO 207. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 22 fev. 2011.
264 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
Por ser a extensão o ato dialogal da Universidade com a sociedade14, proporciona ao 
aluno uma nova visão de aprendizado que somente é viável a partir do desenvolvimento 
de novas teorias sobre o Direito, ultrapassando os limites da dogmática tradicional, ou seja, 
conciliando a pesquisa e a extensão, fazendo o saber acadêmico conversar com a sociedade. 
Nesse sentido, leciona Freire:
O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se 
julga saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, 
relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematizarão crítica 
destas relações.15
O Estatuto do Centro Universitário Ritter dos Reis, em harmonia com tais preceitos, afir-
ma que “a educação superiore a produção do conhecimento filosófico, científico, artístico 
e tecnológico como sendo parte integrante do ensino, da pesquisa e da extensão”.16 Essa 
integração ocorre por meio de atividades que visam à qualificação do trabalho acadêmico e 
contribuem na busca de novos conhecimentos, em uma permanente interação com a comu-
nidade, aplicando-se na sociedade a prática universitária, com a preocupação de preparar 
o aluno para atuar no mercado de trabalho como indivíduo cidadão. Ou seja, habilitando-o 
de forma técnica, mas também oportunizando a interação e integração junto à comunidade, 
se utilizando de projetos de extensão universitária, para auxiliá-lo na descoberta de novos 
saberes que nascem além das salas de aula. 
Portanto, verifica-se que o aprendizado torna-se diferenciado, pois há abertura para ou-
tros saberes e suas “verdades”, que irão questionar práticas e formas instituídas de pensar 
o mundo.
Freire ainda nos ensina que:
A este nível espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz 
simplesmente a experiência da realidade na qual ele está e procura. Esta 
tomada de consciência não é ainda a conscientização, porque esta consiste 
no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. A conscientização 
implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da 
realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se 
dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição 
14 FURMANN, Ivan. Novas tendências da extensão universitária em Direito. Da assistência jurídica à assessoria jurídica. Texto extraído do Jus 
Navigandi. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/6540999/Novas-Tendencias-Da-Extensao-Universitaria-Em-Direito>. Acesso em: 
16 fev. 2011.
15 FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. 13ª Edição. São Paulo: Paz e terra, 2006, p. 25.
16 Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
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epistemológica.17
Assim, no âmbito das Faculdades de Direito, há instrumentos à ampliação do acesso e 
maior efetividade da justiça, por meio do apoio à criação e fortalecimento de projetos nas 
áreas de ensino e extensão, que contribuam para difundir a cultura de resolução não violenta 
de conflitos, uma cultura de Paz.
No projeto Pacificar, há atuação conjunta do UniRitter e da Prefeitura Municipal de Canoas, 
com foco na mediação de conflitos fundiários urbanos, seja comunidade versus comunidade, 
seja comunidade versus Poder Público. Como o Pacificar é um projeto de extensão, os alunos 
que o integram têm a consciência do papel que desempenham – agentes de transformação 
social, quebrando o paradigma da visão tradicional do direito, comprometidos com a satisfa-
ção dos anseios da sociedade e com a concretização dos direitos fundamentais. Sendo assim, 
o Pacificar cumpre com seu papel, trazendo para o meio acadêmico a vivência prática, tão 
necessária para a formação de bons profissionais18.
3 POLÍTICAS URBANAS NO BRASIL
Dados estatísticos apontam estimativa de que aproximadamente 30% das moradias em 
áreas urbanas no Brasil apresentam algum tipo de irregularidade (fundiária, urbanística, 
de edificação, risco, etc.). Corresponde a resultado do histórico da migração populacional 
brasileira, realidade materializada no déficit habitacional e todas as suas complexidades19 20.
17 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Ed. Moraes, 1980, p. 26.
18 Recorre-se, novamente, a Freire: Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a “sede do saber”, até a “sede 
da ignorância” para “salvar”, com este saber, o que habitam nesta. Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa 
daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar, a saber, mais – em diálogo com aqueles 
que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, 
possam igualmente saber mais. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34 ed. São Paulo: Paz e 
Terra, 2006, p. 25.
19 “Incentivava-se assim a especulação nas áreas intermediárias, o custoso (mas interessante para os grandes contratos de obras públicas) 
espraiamento da infraestrutura urbana, a retenção da terra urbanizada mais central (e valorizada) para os setores dominantes de maior 
poder aquisitivo, a formação de grandes conjuntos monofuncionais nas periferias e, portanto, a formação de cidades cada vez mais 
desiguais e marcadas pela segregação sócio-espacial. E, sobretudo, a política habitacional beneficiava de fato apenas a população com 
renda superior a 3 salários mínimos. O resultado desse processo foi a explosão urbana nas grandes cidades brasileiras, que expressam 
hoje a calamidade social de um país cujo desenvolvimento combina o atraso com o moderno. Se em 1940 a população urbana no Brasil 
era de apenas 26,34% do total, em 1980 ela já era de 68,86%, para chegar em 81,20% no ano 2000.” FERREIRA, João Sette Whitaker. 
Módulo I – Política Urbana e Habitacional no Brasil. O processo de urbanização brasileira e a função social da propriedade urbana. Disponível 
em: <http://pt.scribd.com/doc/66319503/001-O-processo-de-urbanizacao-brasileira-e-a-funcao-social-da-propriedade-urbana>. Acesso 
em 05 jan. 2011.
20 Sobre o processo de urbanização brasileiro, ver: MARX, Murilo. Cidade Brasileira. São Paulo: Edições Melhoramentos: Editora da Universidade 
de São Paulo, São Paulo, 1980, p. 54.
266 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população que residia 
nas cidades brasileiras entre os censos de 1940 e 2000 cresceu quatro vezes. Assim, o Brasil 
rural tornou-se urbano (31,3% para 81,2% de taxa de urbanização). Na década de 40, os 
cinco estados mais populosos do Brasil eram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro 
e Rio Grande do Sul: 
No período compreendido pelo estudo, o Brasil rural tornou-se urbano. 
Na década de 40, menos de um terço (31,3%) da população morava nas 
cidades, enquanto em 2000 já eram 81,2%. O contingente de população 
urbana, que correspondia a 12,8 milhões de habitantes, em 1940, atingiu 
137,9 milhões, no último Censo. Em números absolutos, no entanto, a 
população rural cresceu de 28,2 milhões para 31,8 milhões de habitantes, 
entre as duas épocas. No Censo de 1940, o Brasil contabilizava 1.574 
municípios. Ao longo dos 60 anos posteriores, foram criados 3.933 novos 
municípios, totalizando 5.507. Atualmente, existem 5.564. O grande 
incremento quanto à criação de municípios incidiu naqueles até cinco mil 
habitantes. Em 1940, 54,4% dos municípios possuíam população até 20 
mil habitantes. Em 2000, foram 73% dos municípios do total.21 
Sobre o processo de urbanização, Maricato assim posiciona-se: 
O processo de urbanização se apresenta como uma máquina de produzir 
favelas e agredir o meio ambiente. O número de imóveis ilegais na maior 
parte das grandes cidades é tão grande que, inspirados na interpretação de 
Arantes e Schwarz sobre Brecht, podemos repetir que “a regra se tornou 
exceção e a exceção regra”. A cidade legal (cuja produção é hegemônica 
e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaço da minoria. O 
direito à invasão é até admitido, mas não o direito à cidade. A ausência 
do controle urbanístico (fiscalização das construções e do uso/ocupação 
do solo) ou flexibilização radical da regulação nas periferias convive com 
a relativa“flexibilidade”, dada pela pequena corrupção, na cidade legal. 
Legislação urbana detalhista e abundante, aplicação discriminatória da 
lei, gigantesca ilegalidade e predação ambiental constituem um círculo 
que se fecha em si mesmo.22
Com a reprodução dessas discrepâncias sociais e econômicas, juntamente à deficiência 
do Estado que não cumpre com suas obrigações, e até mesmo age com descaso, gerando, 
consequentemente, a construção das cidades se desenvolve de modo desordenado, jogando 
a população pobre para a periferia. No entendimento de Santos, tanto do ponto de vista da 
organização regional como do ponto de vista da organização interna, a cidade é, enfim, uma 
21 Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?>. Acesso em: 15 mar. 2011.
22 MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p. 127.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
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Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
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autêntica e total representação da região a que preside e do mundo com a qual comercia23. 
Por meio do Movimento Nacional pela Reforma Urbana, constituído por várias entidades 
representativas dos movimentos sociais, ONGS, entidades de pesquisa e técnicos ligados à 
área do planejamento urbano, se elaborou e aprovou-se o capítulo da Política Urbana. Du-
rante doze anos o Congresso Nacional debateu projetos de lei que regulamentariam os dois 
artigos da Constituição (art. 182 e 183) que tratam da Política Urbana. Somente em 2001 foi 
promulgada a Lei Federal nº. 10.2579, que passou a ser conhecida como Estatuto da Cidade, 
trazendo para a pauta dos temas municipais a Reforma Urbana, determinando que os muni-
cípios enfrentem com responsabilidade a condução equilibrada do crescimento das cidades.
Com isso, definiu-se o conceito de função social da propriedade urbana24, que foi incluído 
na Constituição Federal de 1988, “art. 182, § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função 
social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano 
diretor”. É um elemento intrínseco, integrando o conceito de propriedade, e também é um 
direito fundamental previsto no art. 5º inciso XXIII da CF/88.
A partir da Constituição de 1988, a propriedade deve cumprir sua função social em bene-
fício da coletividade, ou seja, se não há utilização da propriedade para desenvolvimento da 
cidade, a mesma não cumpre sua função, in verbis, como abaixo segue:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder 
Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por 
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade 
e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para 
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da 
política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende 
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano 
diretor.
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e 
justa indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica 
para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do 
23 SANTOS, Milton. A Cidade nos Países Subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965, p. 14.
24 “Como já frisado, as exigências atuais de erradicação da pobreza não mais toleram que o direito de propriedade seja exercido em des-
compasso com o bem comum. Acompanhando a tendência, o Estatuto da Terra, malgrado o regime político imperante quando de sua 
promulgação não lhe fornecesse condições reais de aplicabilidade, incorporava, no seu art. 2°, caput, o princípio de que a todos seria 
assegurada a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada apenas pelo cumprimento de sua função social, de cuja definição 
cuidou o seu §1°, erigido a patamar magno pelo art. 186, I a IV, da CF. Entre nós, a preocupação com a justa distribuição da terra passa, 
inexoravelmente, pela mudança do quadro fundiário existente quando da edição dos preceitos citados, marcado predominantemente pela 
presença avassaladora do latifúndio.” NOBRE Junior, Edílson Pereira. Regularização Fundiária Urbana e Rural. Disponível em: < http: www.
cjf.jus.br/revista/outras_publicacoes/propostas_da_comissao/14_regularizacao_fundiaria_urbana_e_rural.pdf> Acesso em 05 jan. 2011.
268 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, 
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo 
no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de 
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate 
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o 
valor real da indenização e os juros legais.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e 
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem 
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o 
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem 
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de 
uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Com base nestes artigos constitucionais, observa-se que o direito à propriedade é individual, 
mas o uso está subordinado ao interesse coletivo. Assim, a função social da propriedade é 
pressuposto da Reforma Urbana a ser implementada com base nas normas do Estatuto da 
Cidade e por intermédio do plano diretor25 de cada município. 
Com a política urbana proposta no Estatuto, objetiva-se ordenar o pleno desenvolvimen-
to das funções sociais da cidade e da propriedade urbana mediante a garantia do direito a 
cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento 
ambiental, à infraestrutura, ao transporte, ao trabalho, ao lazer e aos serviços públicos. A 
política urbana deve ser construída e executada por meio de uma gestão democrática, garan-
tida pela participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da 
comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos 
de desenvolvimento urbano, ambiental e políticas setoriais26.
Pois toda pessoa tem o direito a uma moradia digna próxima de postos de saúde, escolas, 
áreas de lazer, saneamento básico, para a construção de uma vida decente. Apesar disso, a 
maioria das pessoas que moram em áreas irregulares não tem seus direitos respeitados, e 
25 Plano Diretor Urbano Ambiental - Decreto Municipal n. 765/2009. 
26 Para Haddad, a cidade [...] antes de tudo, definida por suas funções e por um gênero de vida, ou, mais simplesmente, por uma certa 
paisagem, que reflete ao mesmo tempo essas funções, esse gênero de vida e os elementos menos visíveis mas inseparáveis da noção de 
‘cidade’: passado histórico ou forma de civilização, concepção e mentalidade dos habitantes. HADDAD, Fernando. De Marx a Habermas. 
O Materialismo Histórico e seu Paradigma Adequado. Tese de doutorado, orientador Prof. Dr. Paulo E. Arantes, Departamento de Filosofia, 
FFLCH, USP, mimeo, 1996,p. 14.
 Ver: ALFONSIN, Betânia; FERNANDES, Edésio. Direito à moradia e segurança da posse no Estatuto da Cidade. São Paulo: Editora Forum, 
2004.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
269Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
nem estão protegidos pela lei, que acaba desamparando as populações pobres que vivem 
de maneira informal. 
Logo, o Poder Público (Prefeitura, Governo do Estado, entre outros) deve desenvolver 
projetos voltados à Regularização Fundiária27, ou seja, atuar para legalizar a posse dos 
moradores nos locais em que há consolidação informal, trazendo uma maior segurança à 
moradia. Somente pela atuação dos entes governamentais que estas comunidades que estão 
à margem da sociedade integrarão a cidade formal. A legalização da posse traz a garantia 
de que as pessoas tenham segurança jurídica no local onde moram, não sofrendo despejos 
forçados, protegendo a posse contra qualquer pessoa que tente violá-la ou prejudicá-la. E, 
ainda, proporciona a acessibilidade dos moradores aos direitos da cidade, como educação, 
lazer, saúde, saneamento básico, etc. 
De acordo com o conceito de regularização fundiária de Alfonsin:
Regularização fundiária é o processo de intervenção pública, sob os 
aspectos jurídicos, físico e social, que objetiva a permanência das 
populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade 
com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no 
ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade 
de vida da população beneficiária.28 
A regularização de uma área deve proporcionar o acesso à cidade, sendo assim, os ocu-
pantes de áreas irregulares consolidadas deveriam permanecer no mesmo local, uma vez 
que ali já constituíram sua moradia, ou seja, já se identificaram com o local onde moram, 
portanto, é importante não somente a regularização de forma jurídica, no qual torna legal a 
posse, mas, também, sob o aspecto físico e social, como mencionado anteriormente.
4 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS
Na área de atuação do Projeto Pacificar, constata-se a origem de conflitos pela posse da 
terra nos processos de regularização fundiária levados a efeito pela Prefeitura Municipal de 
Canoas/RS junto à comunidade do Território de Paz Guajuviras, e, assim, os alunos bolsistas 
27 “A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA consiste na inclusão da parte da cidade que se encontra na clandestinidade ou irregularidade no contexto 
geral da cidade legalizada e urbanizada.” Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 01 fev. 2011. 
28 ALFONSIN, Betânia de Moraes. Direito à moradia: instrumento e experiências de regularização fundiária nas cidades brasileiras. Rio de Janeiro: 
IPPUR/FASE,1997, p. 268.
270 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
articulam-se para mediar tais disputas. Relevante, portanto, refletir sobre a definição de tais 
conflitos, bem como sobre as políticas públicas em desenvolvimento para o seu enfrentamento.
Sob essa perspectiva, há que se destacar que há mobilização do Ministério das Cidades 
para a implementação da mediação de conflitos em regularização fundiária. Nesse sentido, 
a Resolução Recomendada nº. 87, de 8 de dezembro de 2009 do Ministério das Cidades, que 
institui a Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos29. Em 
seu texto, tem-se a afirmação de que a mediação procura, através do diálogo e da investigação 
dos problemas, e também pelas motivações dos participantes, alcançar uma compreensão do 
conflito e dos reais interesses a serem satisfeitos por igual, em face aos conflitos fundiários 
urbanos. 
Ainda, seguindo recomendações da Organização das Nações Unidas, a Secretaria da Re-
forma do Judiciário, no incentivo das formas alternativas de resolução de conflitos, 
principalmente a mediação, afirma:
O programa de justiça comunitária foi implantado no ano de 2000 pela 
parceria do Ministério da justiça e o tribunal de justiça do Distrito Federal. 
O programa propõe a democratização do acesso à justiça, restituindo ao 
cidadão e à comunidade a capacidade de gerir seus próprios conflitos com 
autonomia através do estimulo da participação social e o desenvolvimento 
de novas fórmulas de resoluções de conflitos em especial a mediação 
comunitária30.
Assim, os conflitos interpessoais de relação continuada podem ser trabalhados pela 
mediação com base na apresentação dos fatos, bem como os compromissos assumidos 
respondem à clara intenção dos mediados de resolver o problema com confiança, ética e 
transparência, pois todo o processo procura alcançar soluções mutuamente satisfatórias na 
solução do conflito. Isso não significa concordar com o que o outro pensa ou deseja, mas 
29 Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos Disposições gerais Art. 1°. A Política Nacional de Prevenção e 
Mediação de Conflitos Fundiários Urbano tem por finalidade estabelecer princípios, diretrizes e ações de prevenção e mediação nos conflitos 
fundiários urbanos, implementada pelo Ministério das Cidades em articulação com os Ministérios e órgãos afins, em conformidade com 
a Constituição Federal, art. 1º - inciso III, art 6º, 182 e 183, Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01) e Medida Provisória 2.220/2001.
 Assunto Regularização Fundiária
 § 1º. Para efeitos desta Política, a garantia do direito humano à moradia adequada é componente fundamental para o cumprimento da 
função social da propriedade urbana e da cidade, bem como para o direito à cidade.
 § 2°. Para os efeitos desta Política, caracterizam conflitos fundiários urbanos, a disputa coletiva pela posse ou propriedade de imóvel urbano, 
bem como o impacto por empreendimentos de grande porte envolvendo famílias de baixa renda que necessitem da proteção do Estado 
na garantia do direito humano à moradia e à cidade. Disponível em: <www.cidades.gov.br/conselho-das-cidades/resolucoes-concidades/
resolucoes-recomendadas/87%20Resolucao%20Conflitos%20versao%20final.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2011.
30 FOLEY, Gláucia Falsarella (Redação e organização). Relato de uma experiência Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal. Brasília: 
Ministério da Justiça/Secretaria de Reforma do Judiciário, 2008, p. 7-8.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
271Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
aceitar a opinião do outro com respeito. Quando o acordo tiver sido contemplado e a con-
trovérsia estiver concluída, o mediador o redigirá em linguagem clara e simples31; o acordo 
é um título executivo extrajudicial.
Com o excesso de processos judiciais que abarrotam o Poder Judiciário, a mediação vem 
tornar efetivo o acesso à justiça, desmitificando a judicialização, proporcionando que as 
partes solucionem os seus conflitos fortalecendo a cultura do diálogo.
Para Sales, a mediação é:
[...] um procedimento consensual de solução de conflitos por meio do qual 
uma terceira pessoal imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no 
sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas 
envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor a 
satisfaça. A mediação representa um mecanismo de solução de conflitos 
utilizado pelas próprias partes que, motivadas pelo diálogo, encontram 
uma alternativa ponderada, eficaz e satisfatória.O mediador é a pessoa 
que auxilia na construção desse diálogo. 32 
Como proposta para a resolução33 não violenta de conflitos no bairro Guajuviras, cuja 
história é marcada pela disputa pela posse de terra, o Pacificar busca mediar estes conflitos 
urbanos referentes a problemas com o poder público que fará regularização fundiária nas 
áreas irregulares, bem como mediar conflitos gerados na comunidade como, por exemplo, 
avanço de cerca, falta de passagem de servidão, etc. Com esse método, o Pacificar pretende 
integralizar o seu objetivo fundamental, qual seja, mediar34 conflitos fundiários urbanos, 
conflitos de origem na posse da terra, e, assim, proporcionar aos envolvidos no conflito 
uma forma pacifica para resolverem seu problema, sem necessariamente levar a questão ao 
Judiciário, tornando-os autônomos quanto às suas decisões, proporcionando o verdadeiro 
31 Mediação: sobre este assunto, ver: BACELAR, Roberto Portugal. Juizados especiais. A nova mediação paraprocessual. São Paulo: RT, 2003; 
TORRES, Jasson Ayres. O acesso à Justiça e soluções alternativas. Porto Alegre. Livraria do Advogado, 2005; VASCONCELOS, Carlos Eduardo 
de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São Paulo: Editora Método, 2008; ZAPPAROLLI, Célia Regina. A experiência pacificadora da 
mediação: uma alternativa contemporânea para implementação da cidadania e da justiça. In: MUSZKAT, Malvina Ester (Org.). Pacificando 
eprevenindo a violência. 2 ed. São Paulo: Summus, 2003. 
32 SALES, Lília Maia de Morais. Mediação de Conflitos: Família, Escola e Comunidade. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 23.
33 “Ao contribuir com o desafogamento do Judiciário, a mediação cumpre o papel de mecanismo complementar para a maior agilidade da 
Justiça. Ao propor soluções pacíficas e amigáveis, a mediação transforma um paradigma adversarial e contribui com a pacificação social. 
Ao transformar as formas relacionais entre os envolvidos, a mediação serve de instrumento pedagógico, o que ocasiona a autocomposição 
em futuros conflitos, reduzindo a necessidade do acionamento desnecessário da Justiça.” CARTILHA DE MEDIAÇÃO. Câmara Mineira de 
Mediação e Arbitragem. Disponível em: <www.caminas.com.br>. Acesso em 17 fev. 2011.
34 “A mediação, além de auxiliar as partes a resolverem suas disputas com elevado grau de satisfação, proporciona um aprendizado até então 
não encontrado no processo civil ou penal. Os resultados colhidos em alguns projetos-piloto de mediação forense no Brasil demonstram 
que, após serem submetidas a esse processo autocompositivo, a maioria das partes acredita que a mediação as auxiliará a melhor dirimir 
outros conflitos futuros.” Manual de Mediação Judicial Ministério da Justiça Secretaria de Reforma do Judiciário Esplanada dos Ministérios. 
Disponível em: <www.mj.gov.br/reforma>. Acesso em 17 fev. 2011.
272 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
acesso à justiça. 
5 O PROJETO PACIFICAR – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS
O Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos é um projeto de extensão univer-
sitária, que foi contemplado pelo Chamamento Público do Ministério da Justiça denominado 
“Fomento a projetos de apoio à prática de mediação, composição e demais formas de reso-
lução não violenta de conflitos nas Faculdades de Direito”, edital originado da Secretaria da 
Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça. Ele integra o Programa de Segurança Pública 
com Cidadania (PRONASCI), fundamentado na Medida Provisória nº 384/2007, convertida 
na Lei 11.530/2007.
O objetivo principal do projeto é implantar o fortalecimento e divulgar a utilização de 
meios alternativos de solução de conflitos. Significa trabalhar com os meios extrajudiciais 
para as soluções de conflitos, incentivando as práticas de mediação na Faculdade de Direito 
Uniritter e na comunidade do bairro Guajuviras (Território de Paz – PRONASCI). E, ainda, 
propõe-se a articular efetivamente ensino, pesquisa e extensão, para que os participantes 
do projeto atuem como sujeitos ativos na comunidade. Para que isto ocorra na prática, foi 
firmada uma parceria entre o Uniritter e a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania de 
Canoas/RS, que balizou a demanda, delimitando a atuação do Pacificar ao bairro Guajuviras.
Assim, desenvolveu suas atividades com foco na prevenção, por meio da mediação de 
conflitos fundiários urbanos e promovendo a capacitação da comunidade envolvida ao aplicar 
oficinas aos agentes do PRONASCI, que são moradores da comunidade, para que eles possam, 
a partir de suas próprias vivências e saberes, compreender e resolver de forma pacífica seus 
conflitos, atuando junto à comunidade como mediador de conflitos fundiários existentes entre 
a comunidade, bem como nos conflitos entre a comunidade e o poder público.
Para implementação da política de mediação na regularização fundiária, o Pacificar conta 
com seguintes parceiros: Ministério da Justiça/Governo Federal; Prefeitura Municipal de 
Canoas/Secretaria de Segurança Pública e Cidadania/Secretaria de Desenvolvimento Urbano 
e Social/Procuradoria-Geral do Município, Uniritter e a ONG Cidade (Centro de Assessoria 
e Estudos Urbanos).
Desde a sua fundação no ano de 2009, o Pacificar vem desenvolvendo as seguintes ativida-
des: curso de Extensão em Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos - 2009 e 2010; seleção 
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
273Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
de acadêmicos bolsistas - Direito/Uniritter - colaboradores; participação no Fórum Social 
Mundial; plantões semanais na Diretoria de Regularização Fundiária e relatórios semanais; 
reuniões de quadras no Território da Paz - CAIC; participação em Audiências Públicas com a 
comunidade do CAIC; coleta e arquivamento dos documentos dos moradores para abertura 
dos processos; levantamento das principais dúvidas definidas pelos moradores com relação 
ao processo de regularização fundiária; elaboração e execução de Oficinas de Capacitação 
para comunidade envolvida; elaboração de um informativo sobre o tema mediação de con-
flitos fundiários urbanos; participação do Segundo Módulo Curso de Mediação de Conflitos 
Fundiários –2010. Além disso, está sendo trabalhada uma pesquisa para mapear os conflitos 
fundiários no bairro Guajuviras, cujos participantes são oriundos dos Projetos do PRONASCI. 
Uma das áreas indicadas como prioritária para a execução de ações de regularização 
fundiária pela Prefeitura Municipal, e, portanto, indicada como objeto de trabalho inicial do 
Pacificar no Guajuviras, foi a comunidade do CAIC. A Prefeitura, por meio de sua Secretaria 
de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizará estudo da área a ser regularizada, levando 
em consideração os dados a seguir indicados.
Como marco de ocupação tem-se a data de 02 de março de 1999. Segundo dados fornecidos 
pela Diretoria de Regularização Fundiária do Município de Canoas, nesta área existem 170 
famílias cadastradas, das quais 29% vivem há dez anos e 46,6% vivem há mais de dez anos. 
Cerca de 77% dos moradores compraram seus lotes, enquanto que 33,7% apenas ocuparam, 
existindo um baixo grau de rotatividade nos últimos cinco anos. Os lotes possuem, em mé-
dia, 250m², com 54% das moradias em alvenaria e 30% de madeira, possuindo − em sua 
maioria − de três a cinco cômodos. A comunidade conta com serviço público (abastecimento 
de água, coleta de lixo, luz elétrica, escola de ensino infantil, fundamental e médio, posto 
de saúde e da Brigada Militar, além do comércio local) e com uma associação comunitária35.Somente recentemente desenvolveu-se o processo de regularização jurídica da área, com a 
opção pelo instrumento da doação36.
Conforme o gráfico que segue, pode-se observar que os casos atendidos versam em conflitos 
35 PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOAS. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Diretoria de Projetos Habitacionais - 
DPH. Diretoria de Regularização Fundiária – DRF. Relatório comunidade Caic - Trabalho Técnico Social. Ano 2009. Disponível em: <www.
canoas.rs.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2011.
36 Para detalhamento do processo de regularização fundiária da comunidade do Caic, ver texto de autoria de Paulo Eduardo de Oliveira 
Berni, nesta mesma publicação intitulado Construindo a política de regularização fundiária local: a experiência do município de Canoas/RS.
274 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
entre vizinhos, sendo eles: avanço de cerca, falta de passagem, ou seja, o lote dos fundos 
não tem acesso à via pública, aproximação das casas construídas de forma irregular, que 
geram conflitos quanto a abertura de janelas, limpeza de pátios e trocas de encanamentos, 
etc., como se verifica do mapeamento dos conflitos fundiários urbanos, a partir do estudo 
de casos reais atendidos na mediação:
CASO CONFLITO ORIGEM DIFICULDADE TRIAGEM ENCAMINHAMENTO RESULTADO
1
R.M.S
I.C.P
A parte 
requerente 
precisa trocar 
os canos, 
que estão na 
divisa, e a 
vizinha não 
permite o 
acesso.
PACIFICAR Em contato 
com a parte 
adversa disse 
não conhecer 
sua vizinha. E 
que nunca teve 
problemas com 
vizinhos.
26/04/10-
30/07/10 
Contato 
com a parte 
adversa.
Foi solicitado que 
fornecesse dados da 
vizinha e telefone.
03/05/10 
Conversou com a 
vizinha e resolveu 
o problema.
2
N. P.S 
Não 
possui 
parte 
adversa.
Familiar 
envolvendo 
o lote em 
que mora há 
uma disputa 
de herança 
com seu o 
sobrinho.
Justiça
Comunitária
Não possuía 
dados do seu 
sobrinho.
16/08/10 Orientada sobre seu 
direito a moradia 
e fornecimento do 
endereço do SAJUIR.
16/08/201
SAJUIR, por falta 
de parte adversa.
3
J.L.S.D
I.
Cerca do 
vizinho 
avançou em 
seu lote.
PACIFICAR Em contato 
com a parte 
adversa, 
disse que 
sua sobrinha 
morava no lote.
25/04/10
17/05/10
COM A 
PARTE
ADVERSA.
No dia 16/05/10 
agente comunitário 
esteve no local e a 
parte adversa não 
estava mais morando 
lá
Parte adversa 
desmanchou a 
casa
4
E.R.S
Não 
possui 
parte 
adversa
Vizinha 
avançou o 
lote.
PACIFICAR Não foi 
encontrada em 
casa
24/04/10 Em conversa com 
a DRF, disse que irá 
manter a medida 
do lote no mapa e 
memorial descritivo.
16/07/10
Agente Loraine 
foi ao local e 
não encontrou 
ninguém.
5
C.S.O
Vizinha 
avançou 
cerca o seu 
lote.
PACIFICAR Não consegue 
o telefone de 
seu vizinho,
12/04/10 Agente comunitária foi 
até o local, mas não 
encontrou ninguém.
16/07/10
Agente Loraine 
foi ao local e 
não encontrou 
ninguém.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
275Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
6
A.M
N.C.A
Parte 
requerente 
tem o imóvel 
que não 
consegue 
vender, pois 
sua ex-
esposa causa 
empecilho. 
Ocorre 
que para 
receber lote 
do gestor 
municipal, 
não pode 
possuir outro 
imóvel.
PACIFICAR Em 13/05/10 
parte adversa 
foi convidada 
para conversar 
sobre a venda 
da casa, 
mas não 
compareceu.
05/04/10 Advogada da parte 
requerente se 
comprometeu em 
ingressar com uma 
ação de emissão de 
posse.
17/05/2010
Parte requerente 
informou 
ingressou com 
o pedido de 
emissão de posse.
7
J.R. B
Problema 
de falta de 
passagem. 
Parte adversa 
mora nos 
fundos e não 
consegue 
sair do seu 
lote pelo 
mesmo 
imóvel, sai 
pelo pátio 
de outro 
vizinho.
Justiça
Comunitária
Vizinhos nem se 
conheciam.
01/03/10 Foi feita mediação 
no dia 09/08/10. 
Constatou-se que 
não havia conflito 
entre as partes, pois 
nem se conheciam, e 
ainda havia moradora 
atrás do lote da parte 
adversa que poderia 
ceder tal passagem. 
Marcamos outro 
encontro no dia
23/08/10 e 
informamos a 
situação junto a DRF, 
e entraríamos em 
contato para fazer 
mais um encontro. 
Em virtude da 
demanda do 
gestor municipal, 
qual seja, 
regularização 
dos lotes em tal 
área. Agente do 
Município foi até 
o local e informou 
a parte requerente 
que se a mesma 
não desse tal 
passagem seu 
lote não seria 
regularizado. 
Ocorre que tal 
interferência 
fez com que as 
partes perdessem 
interesse pela 
mediação.
8
E.M.P
M.
Parte 
requerente 
construiu 
parede rente 
a tela e não 
consegue 
fazer limpeza 
da janela, 
nem dos 
canos e 
calhas.
Justiça
Comunitária
Dificuldade 
em falar com a 
parte adversa, 
pois achava 
que sua antiga 
vizinha não 
morava mais 
em tal imóvel
26/04/2010 09/08/10 Primeiro 
encontro de 
mediação, as partes 
estavam irredutíveis.
23/08/2010 Segundo 
encontro já haviam 
pensado melhor 
quanto à solução do 
conflito. 
Parte requerida 
irá ceder 1 m do 
seu terreno para 
a requerente. 
Será agendada 
nova data para 
assinatura do 
termo.
9
D.B. S
M.
A parte é ré 
em ação de 
reintegração 
de posse. 
Mas diz 
morar em tal 
imóvel há 22 
anos.
Justiça
Comunitária
Localização da 
parte adversa, 
que saiu do 
imóvel em 
fevereiro desse 
ano.
25/10/2010 16/08/2010 Recebeu 
orientação quanto ao 
seu direito à moradia
30/08/2010 Foi 
encaminhada ao 
SAJUIR, devido a 
audiência no JEC.
Parte requerente 
não teve interesse 
pela mediação, 
parte adversa 
queria fazer 
mediação.
276 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
Pode-se concluir que se ventila na comunidade do CAIC a cultura da propriedade plena, 
presente na sociedade brasileira, e que se configura como um desafio para o projeto, uma 
vez que ela está internalizada na sociedade em todos os níveis sociais; porém, este é um 
enfrentamento necessário para que ocorra uma mudança na política de regularização fundi-
ária, que é fruto da reforma urbana no País.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Indubitavelmente, o Projeto Pacificar oportunizou à equipe integrante a apropriação de 
uma nova concepção de solução de conflitos, respeitando a pluralidade cultural e diversi-
dade de saberes. O projeto é uma alternativa à jurisdicionalização, promoção de uma nova 
cultura nas Faculdades de Direito, contribuindo para uma formação cidadã dos estudantes, 
orientando sob aspecto dos direitos humanos para a difusão de uma cultura de paz. 
A vivência com a comunidade para conhecer seus anseios, dificuldades e histórias pos-
sibilitou que os acadêmicos participassem efetivamente do contexto local. O tema moradia, 
tão controvertido no contexto histórico, motivo de estudo do grupo, aproximou os alunos 
da comunidade, demonstrando o quanto é importante e necessário a identificação com o 
local que se escolhe para morar. Logo, compreendeu-se a complexidade do tema, pois desde 
o início dos tempos se perpetuam desigualdades sociais por causa da falta de interesse no 
reconhecimento do direito à moradia. Diante das histórias, dos conflitos enfrentados por esta 
comunidade para garantir a moradia e os direitos sociais básicos, o grupo passou a pensar, 
analisar e discutir a propriedade a partir da perspectiva deste direito.
Quanto às demandas de origem da posse da terra, as quais dependiam da atuação do Poder 
Público, descobriu-se, aos poucos, que, para que as metas do projeto fossemcumpridas, a 
melhor forma de trabalho seria a atuação desvinculada, ou seja, impulsionando as próprias 
demandas, para que o projeto fosse desempenhado de forma integral. Participou-se de for-
ma ativa no processo de organização, na elaboração e participação de políticas públicas, 
apontando seus erros e acertos.
A atuação como mediadores não ocorreu apenas em conflitos fundiários; em muitas vezes 
foram mediados a comunidade e poder público. Destarte, a universidade desempenhou um 
papel imparcial, contribuindo para o acesso à justiça. Cabe ressalvar a importância de ter 
fortalecido (assim pretendeu-se) a construção do conhecimento da população frente a seus 
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, 
Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 
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direitos e deveres, para que as discrepâncias de saberes, entre a comunidade e aqueles que 
exercem o poder fossem atenuadas. 
Ao longo dessa caminhada, surgiram muitos desafios e expectativas quanto à execução 
do Programa de Regularização Fundiária. No entanto, o maior desafio dos alunos do projeto 
foi o migrar da sala de aula para atuar junto à comunidade. Isso resultou em um acúmulo 
de práticas que aumentaram a experiência dos participantes, seja no manejo das teorias, seja 
no traquejo com cidadãos dos mais variados nível culturais, priorizando, assim, a clareza no 
processo. Desta forma, a comunidade informada empodera-se, reconhecendo-se como sujeito 
de direitos, e também se responsabilizando para o cumprimento das decisões alcançadas a 
partir da mediação.
Contudo, o trabalho não se encerra com o término do projeto, pois ele foi apenas o im-
pulso inicial, servindo de base para que outros projetos de extensão sejam desenvolvidos. 
Desta maneira, os saberes acadêmicos e populares atuam em conjunto, transformando e 
enriquecendo a vida dos agentes envolvidos, porque essa experiência jamais será ensinada, 
uma vez que só poderá ser vivenciada.
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http://www.uniritter.edu.br/extensão/index.php?secao=apresentação
http://www.uniritter.edu.br/propex
ANDRÉIA RIOS
Acadêmica do VIII eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto 
“Pacificar”. 
E-mail: andreia.rios@ibest.com.br
IZABEL KAYSER PEREIRA
Acadêmica do IX eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa-
cificar”.
E-mail: belynhakayser@yahoo.com.br
JANAÍNA BOTTA
Acadêmica do IX eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa-
cificar”.
E-mail: janainabotta@terra.com.br
280 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010
MARIANA NUNES DA SILVA
Bacharel em Direito pelo UniRitter 2010/2,bolsista de extensão do projeto “Pacificar”.
E-mail: mariana_financeiro@hotmail.com
MARIZA APARECIDA CHUMA IRACET
Bacharel em Direito pelo UniRitter 2010/2, bolsista de extensão do projeto “Pacificar”.
E-mail: marizairacet@bol.com.br
ROSMERE KALSING ZINN SOBREIRA
Acadêmica do VI eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa-
cificar”. 
E-mail: rosmere@tj.rs.gov.br
Submissão: 15/10/2011 
Aprovação: 17/10/2011
RIOS, Andréia, et al. Projeto Pacificar - mediação de conflitos fundiários urbanos: entre a 
atividade extensionista e a construção da política urbana. Revista da Faculdade de Direito 
UniRitter, Porto Alegre, n. 11, p. 259-280, 2010.
Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre 
a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana

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