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Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 259Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios Isabel Kayser Pereira Janaína Botta Mariana Nunes da Silva Mariza Aparecida Chuma Iracet Rosmere Kalsing Zinn Sobreira RESUMO O presente artigo tem por objetivo apresentar o projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários urbanos, projeto de extensão universitária realizado no bairro Guajuviras, no município de Canoas/ RS, por alunos do Curso de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Os alunos de graduação utilizam-se da mediação para dirimir conflitos originários da posse da terra. O texto relata a experiência diária dos universitários na comunidade, que discutem com os moradores a importância da mediação de conflitos fundiários urbanos como cultura não litigiosa de resolução de conflitos, bem como os marcos teóricos orientadores do trabalho. PALAVRAS-CHAVE Mediação de Conflitos; Conflitos pela Posse da Terra; Direito à Moradia; Extensão Universitária. ABSTRACT The paper aims to present the project Pacificar – Mediation of land tenure conflicts, a university extension project carried out in the neighborhood Guajuviras, in the city of Canoas, by students of the Faculty of Law at Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). The undergraduate students manage mediation technics in order to resolve conflicts originating in land tenure. The article reports the daily experience of the students in the community, who explain to residents the importance of urban land conflict mediation as a culture of non-litigious dispute resolution, as well as the theoretical basis which guided the project. KEY WORDS Conflict Mediation; Land Tenure Conflicts; Housing Rights; University Extension Project. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo dispõe sobre o projeto de Extensão intitulado “Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos”, que está sendo desenvolvido por alunos do Centro Univer- 260 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 sitário Ritter dos Reis (UniRitter) desde o ano de 2009, selecionados a partir de dois cursos de capacitação organizados pela ONG Cidade em parceria com a Prefeitura Municipal de Canoas/RS. É resultado de Edital do Ministério da Justiça, Medida Provisória nº 384/2007, do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), que foi conver- tido na Lei n° 11.530/2007, visando assegurar o acesso à justiça nas comunidades que se encontram em situação de vulnerabilidade social1. Devido à falha do Estado em reconhecer e assegurar direitos legais quanto à terra e à moradia2, formam-se grupos vulneráveis juridicamente, propensos aos despejos forçados3, gerando, consequentemente, diversos conflitos pela posse da terra. Assim, as diferentes formas de exercício dos direitos sobre a terra podem resultar em situações complexas de conflitos. Na origem dessas disputas, identificam-se, exemplificativamente, o crescimento demográ- fico, as transformações dos fatores econômicos e as reivindicações opostas sobre o controle e a utilização da terra. Disso resulta colisão entre direitos que operam sobre um mesmo es- paço, para o qual concorrem diferentes sujeitos, ou pela divergência de interesses sobre um mesmo espaço, ou, ainda, o conflito de direitos contra esses interesses, devido à ausência de regulação e incapacidade do Estado4 de efetivar as transformações impostas ao estatuto do direito de propriedade5. Nesse contexto, surge a necessidade de se estabelecer uma nova cultura, uma prática diferenciada no tratamento dos conflitos dessa natureza, evitando o uso da violência e re- conhecendo que, para atingir uma transformação efetiva da atuação do Poder Judiciário no tema, é necessária a modificação da cultura do ensino jurídico e da formação do profissional, funcionando como uma política de democratização do acesso à Justiça6. 1 Série Pensando o Direito n. 07/2009 – versão integral. Disponível em:<www.mj.gov.br>. Acesso em: 22 jan. de 2011. 2 SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). O direito fundamental à moradia na Constituição: algumas anotações a respeito de seu contexto, conteúdo e possível eficácia. In: MELLO, Celso de Albuquerque; TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Arquivos de Direitos Humanos, Vol. 4. São Paulo- -Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 140 e ss. Direitos Fundamentais: sobre este assunto, ver autor ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia social da prestação jurisdicional. Revista de Informação legislativa. v. 31, n. 122, p. 291-296, abr./jun.1994. 3 Despejos forçados: sobre este assunto, ver a autora Raquel Rolnik. Como atuar em projetos que envolvam despejos e remoções? Disponível em: <http://raquelrolnik.files.wordpress.com/2010/01/guia_portugues.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2011. 4 “Quando se fala na atuação do governo frente à problemática da moradia, e importante destacar que a promoção de programas de construção de moradias e da melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico constituem entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, Art. 23, IX, da Constituição de 1988, competência comum, na qual os entes integrantes da federação atuam em cooperação administrativa recíproca, visando alcançar os objetivos descritos pela própria Constituição.” SILVA, Vanessa de Fátima da. O Direito Constitucional a Moradia no Brasil. Disponível em: <http://www.artigos.com/artigos/sociais/direito/o-direito-constitucional-a-moradia- -no-brasil-1625/artigo>. Acesso em: 16 fev. 2011. 5 Disponível em: </www.polis.org.br>. Acesso em: 24 jan. 2011. 6 GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Candido Rangel e CINTRA, Carlos de Araujo. Teoria Geral do Processo.18 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 33. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 261Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 O artigo justifica-se, desse modo, pela relevância de debater-se projeto que visa assegurar o acesso à justiça para as populações dos territórios em situação de “descoesão” social, fo- mentando a prática da mediação nas Faculdades de Direito. Assim, apresenta como objetivo geral implantar, fortalecer e divulgar a mediação, divulgando meios alternativos de solução não violenta de conflitos. Destaque-se o objetivo específico de corresponder à atividade de extensão interdisciplinar focada na mediação de conflitos fundiários urbanos, com atuação conjunta do Centro Universitário Uniritter e a Prefeitura Municipal de Canoas, além de outros parceiros (organizações não governamentais (ONGs), universidades, secretarias municipais, Procuradoria Geral do Município, Instituto Canoas)7. O Projeto Pacificar foi pensado a partir dessa necessidade pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, com integração das práticas de mediação comunitária e outras formas de resolução não violenta de conflitos, conjuntamente às atividades de exten- são desenvolvidas pelas Faculdades de Direito (Núcleos de Prática Jurídica ou Assessorias Jurídicas Populares). O acesso efetivo à justiça é reconhecido de maneira progressiva como de importância capital entre os novos direitos individuais e sociais, pois, na ausência de mecanismos para sua reivindicação, a titularidade de direitos é destituída. Assim, temos por encará-lo como requisito fundamental, pois objetiva um sistema jurídico igualitário e moderno, garantidor dodireito de todos8. Inseridos nesse contexto, os alunos do curso de Direito do Uniritter participam do projeto com a tarefa de obter o conhecimento da situação fundiária e de sua política para a área beneficiada e, assim, promover o diálogo entre a comunidade e a Secretaria de Desenvolvi- mento Urbano e Habitação9; observar o desenvolvimento dos processos administrativos e os debates sobre as audiências públicas a serem realizadas; desenvolver habilidades acadêmi- cas quanto à relação ensino-pesquisa-extensão; conhecer e acompanhar os demais projetos desenvolvidos na área e elaborar estratégias de atuação integrada com os outros projetos; divulgar informações; mobilizar/articular a comunidade e a administração pública munici- pal; atuar junto à comunidade, ao passo de identificar as principais demandas e atender e Acesso a justiça: sobre este assunto, ver autor CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 11-12. 7 Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 15 mar. 2011. 8 CAPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso a Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988, p. 11 e 12. 9 ABNG - Agência da Boa Notícia Guajuviras. Disponível em: <http://guajuvirasterritoriodepaz.blogspot.com/2010_08_01_archive.html>. Acesso em: 28 jan. 2011. 262 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 acompanhar as questões referentes à mediação de conflitos fundiários urbanos; capacitar as lideranças comunitárias em mediação de conflitos fundiários urbanos; registrar as atividades desenvolvidas, a fim de elaboração de relatório final. A área de atuação do projeto é a Cidade de Canoas/RS, especificamente o bairro Guaju- viras10, uma área que em sua totalidade é de titularidade pública, com aproximadamente 68.000 habitantes, em que as ocupações se deram de forma espontânea, portanto, de modo irregular, o que acabou por determinar as atuais demandas da população ali residente, como, por exemplo, a necessidade da regularização dos lotes e de investimento em infraestrutura. Nessa área foi instituído, sob a orientação do PRONASCI, o Território da Paz Guajuviras, no qual estão sendo desenvolvidos nove outros projetos de ação social, além do Projeto Pacificar. Considerando a desigualdade do parcelamento do solo urbano no Estado, existe uma carên- cia de espaços urbanos para a moradia dos cidadãos de baixa renda que, sem opção, vivem à margem da sociedade, inseridos em um processo de invisibilidade, amarrados a mecanismos que não garantam o direito à moradia e, nem ao menos, protegem e reconhecem a sua posse. O Pacificar atua na comunidade do Guajuviras com o objetivo de mediar conflitos de origem na terra, uma vez que a mediação é uma cultura alternativa de solução não violenta de conflitos e vem conjuntamente na defesa do direito à moradia e na troca e elaboração de novos saberes, conferindo força aos valores contidos em textos na Constituição Federal. Porque, por meio da informação e da conscientização, existe um “empoderamento”11 da comunidade para o exercício de seus direitos e deveres, quebrando paradigmas tradicionais, além de inseri-la na realidade como sujeito atuante. Dessa forma, constrói-se no Território da Paz Guajuviras uma nova história, gerando ferramentas para transformação social dessa comunidade. O desenvolvimento deste artigo tem como objetivo, então, descrever a experiência de trabalho do Projeto Pacificar, considerando os temas relacionados, as metas estabelecidas e as atividades desenvolvidas, de modo a promover reflexão. Assim, o texto é estruturado em quatro capítulos temáticos. No primeiro capítulo, trata-se da Extensão Universitária, que dispõe sobre a abertura de saberes diferentes e a aproximação do mundo acadêmico e a comunidade onde o projeto se 10 Idem. 11 “Por fim a maior contribuição da abordagem de direitos humanos para os conflitos fundiários refere-se ao empoderamento dos indivíduos e grupos afetados, mediante o reconhecimento e a efetivação dos direitos os quais dão suporte às obrigações legais dos outros.” Série Pensando o Direito nº. 07/2009 – versão integral. Disponível em: <www.mj.gov.br>. Acesso em: 16 fev. 2011. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 263Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 desenvolve. No segundo capítulo, analisa-se a política urbana no Brasil, demonstrando, por meio de dados estatísticos, o processo de urbanização e as irregularidades na construção das cidades brasileiras, também apresentando o movimento nacional de reforma urbana, com destaque aos artigos 182 e 183 da Constituição Federal (CF)/88. No terceiro capítulo, apresenta-se a mediação como forma alternativa de resolução de conflitos, conceituação e identificação e aplicabilidade em conflitos sobre regularização fundiária. Por fim, no quarto capítulo, relata-se a experiência do projeto Pacificar, notada- mente quanto à formação dos integrantes, parceiros envolvidos, local de atuação e como são desenvolvidas suas atividades. 2 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Como atividade vinculada à Extensão Universitária, o Projeto Pacificar oportuniza ao aluno operador do direito complementação da base teórica obtida na universidade com ou- tras formas de saberes, proporcionando uma formação diferenciada. Daí a necessidade de se dedicar à reflexão acerca da definição e objetivos deste fundamental pilar da educação formal de nível superior no Brasil. Por meio do Plano Nacional de Extensão, definem-se diretrizes para a Extensão Universi- tária no país, objetivando tornar possível a integralização do aluno com a comunidade. Tais diretrizes devem estar presentes em todas as ações do projeto de extensão, conforme segue: [...] a produção do conhecimento, via extensão, se faria na troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, tendo como consequência a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade e uma produção resultante do confronto com a realidade12. Ainda, a atividade de extensão interdisciplinar vem amparada na Constituição Federal, que dispõe no seu art. 207: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, adminis- trativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.13 12 O Plano Nacional de Extensão Universitária - Coleção Extensão Universitária - FORPROEX, vol. I Disponível em: <www.renex.org.br>. Acesso em: 31 jan. 2011. 13 BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1988. ARTIGO 207. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 22 fev. 2011. 264 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 Por ser a extensão o ato dialogal da Universidade com a sociedade14, proporciona ao aluno uma nova visão de aprendizado que somente é viável a partir do desenvolvimento de novas teorias sobre o Direito, ultrapassando os limites da dogmática tradicional, ou seja, conciliando a pesquisa e a extensão, fazendo o saber acadêmico conversar com a sociedade. Nesse sentido, leciona Freire: O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematizarão crítica destas relações.15 O Estatuto do Centro Universitário Ritter dos Reis, em harmonia com tais preceitos, afir- ma que “a educação superiore a produção do conhecimento filosófico, científico, artístico e tecnológico como sendo parte integrante do ensino, da pesquisa e da extensão”.16 Essa integração ocorre por meio de atividades que visam à qualificação do trabalho acadêmico e contribuem na busca de novos conhecimentos, em uma permanente interação com a comu- nidade, aplicando-se na sociedade a prática universitária, com a preocupação de preparar o aluno para atuar no mercado de trabalho como indivíduo cidadão. Ou seja, habilitando-o de forma técnica, mas também oportunizando a interação e integração junto à comunidade, se utilizando de projetos de extensão universitária, para auxiliá-lo na descoberta de novos saberes que nascem além das salas de aula. Portanto, verifica-se que o aprendizado torna-se diferenciado, pois há abertura para ou- tros saberes e suas “verdades”, que irão questionar práticas e formas instituídas de pensar o mundo. Freire ainda nos ensina que: A este nível espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz simplesmente a experiência da realidade na qual ele está e procura. Esta tomada de consciência não é ainda a conscientização, porque esta consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. A conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição 14 FURMANN, Ivan. Novas tendências da extensão universitária em Direito. Da assistência jurídica à assessoria jurídica. Texto extraído do Jus Navigandi. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/6540999/Novas-Tendencias-Da-Extensao-Universitaria-Em-Direito>. Acesso em: 16 fev. 2011. 15 FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. 13ª Edição. São Paulo: Paz e terra, 2006, p. 25. 16 Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 01 fev. 2011. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 265Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 epistemológica.17 Assim, no âmbito das Faculdades de Direito, há instrumentos à ampliação do acesso e maior efetividade da justiça, por meio do apoio à criação e fortalecimento de projetos nas áreas de ensino e extensão, que contribuam para difundir a cultura de resolução não violenta de conflitos, uma cultura de Paz. No projeto Pacificar, há atuação conjunta do UniRitter e da Prefeitura Municipal de Canoas, com foco na mediação de conflitos fundiários urbanos, seja comunidade versus comunidade, seja comunidade versus Poder Público. Como o Pacificar é um projeto de extensão, os alunos que o integram têm a consciência do papel que desempenham – agentes de transformação social, quebrando o paradigma da visão tradicional do direito, comprometidos com a satisfa- ção dos anseios da sociedade e com a concretização dos direitos fundamentais. Sendo assim, o Pacificar cumpre com seu papel, trazendo para o meio acadêmico a vivência prática, tão necessária para a formação de bons profissionais18. 3 POLÍTICAS URBANAS NO BRASIL Dados estatísticos apontam estimativa de que aproximadamente 30% das moradias em áreas urbanas no Brasil apresentam algum tipo de irregularidade (fundiária, urbanística, de edificação, risco, etc.). Corresponde a resultado do histórico da migração populacional brasileira, realidade materializada no déficit habitacional e todas as suas complexidades19 20. 17 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Ed. Moraes, 1980, p. 26. 18 Recorre-se, novamente, a Freire: Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a “sede do saber”, até a “sede da ignorância” para “salvar”, com este saber, o que habitam nesta. Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar, a saber, mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006, p. 25. 19 “Incentivava-se assim a especulação nas áreas intermediárias, o custoso (mas interessante para os grandes contratos de obras públicas) espraiamento da infraestrutura urbana, a retenção da terra urbanizada mais central (e valorizada) para os setores dominantes de maior poder aquisitivo, a formação de grandes conjuntos monofuncionais nas periferias e, portanto, a formação de cidades cada vez mais desiguais e marcadas pela segregação sócio-espacial. E, sobretudo, a política habitacional beneficiava de fato apenas a população com renda superior a 3 salários mínimos. O resultado desse processo foi a explosão urbana nas grandes cidades brasileiras, que expressam hoje a calamidade social de um país cujo desenvolvimento combina o atraso com o moderno. Se em 1940 a população urbana no Brasil era de apenas 26,34% do total, em 1980 ela já era de 68,86%, para chegar em 81,20% no ano 2000.” FERREIRA, João Sette Whitaker. Módulo I – Política Urbana e Habitacional no Brasil. O processo de urbanização brasileira e a função social da propriedade urbana. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/66319503/001-O-processo-de-urbanizacao-brasileira-e-a-funcao-social-da-propriedade-urbana>. Acesso em 05 jan. 2011. 20 Sobre o processo de urbanização brasileiro, ver: MARX, Murilo. Cidade Brasileira. São Paulo: Edições Melhoramentos: Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980, p. 54. 266 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população que residia nas cidades brasileiras entre os censos de 1940 e 2000 cresceu quatro vezes. Assim, o Brasil rural tornou-se urbano (31,3% para 81,2% de taxa de urbanização). Na década de 40, os cinco estados mais populosos do Brasil eram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul: No período compreendido pelo estudo, o Brasil rural tornou-se urbano. Na década de 40, menos de um terço (31,3%) da população morava nas cidades, enquanto em 2000 já eram 81,2%. O contingente de população urbana, que correspondia a 12,8 milhões de habitantes, em 1940, atingiu 137,9 milhões, no último Censo. Em números absolutos, no entanto, a população rural cresceu de 28,2 milhões para 31,8 milhões de habitantes, entre as duas épocas. No Censo de 1940, o Brasil contabilizava 1.574 municípios. Ao longo dos 60 anos posteriores, foram criados 3.933 novos municípios, totalizando 5.507. Atualmente, existem 5.564. O grande incremento quanto à criação de municípios incidiu naqueles até cinco mil habitantes. Em 1940, 54,4% dos municípios possuíam população até 20 mil habitantes. Em 2000, foram 73% dos municípios do total.21 Sobre o processo de urbanização, Maricato assim posiciona-se: O processo de urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas e agredir o meio ambiente. O número de imóveis ilegais na maior parte das grandes cidades é tão grande que, inspirados na interpretação de Arantes e Schwarz sobre Brecht, podemos repetir que “a regra se tornou exceção e a exceção regra”. A cidade legal (cuja produção é hegemônica e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaço da minoria. O direito à invasão é até admitido, mas não o direito à cidade. A ausência do controle urbanístico (fiscalização das construções e do uso/ocupação do solo) ou flexibilização radical da regulação nas periferias convive com a relativa“flexibilidade”, dada pela pequena corrupção, na cidade legal. Legislação urbana detalhista e abundante, aplicação discriminatória da lei, gigantesca ilegalidade e predação ambiental constituem um círculo que se fecha em si mesmo.22 Com a reprodução dessas discrepâncias sociais e econômicas, juntamente à deficiência do Estado que não cumpre com suas obrigações, e até mesmo age com descaso, gerando, consequentemente, a construção das cidades se desenvolve de modo desordenado, jogando a população pobre para a periferia. No entendimento de Santos, tanto do ponto de vista da organização regional como do ponto de vista da organização interna, a cidade é, enfim, uma 21 Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?>. Acesso em: 15 mar. 2011. 22 MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p. 127. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 267Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 autêntica e total representação da região a que preside e do mundo com a qual comercia23. Por meio do Movimento Nacional pela Reforma Urbana, constituído por várias entidades representativas dos movimentos sociais, ONGS, entidades de pesquisa e técnicos ligados à área do planejamento urbano, se elaborou e aprovou-se o capítulo da Política Urbana. Du- rante doze anos o Congresso Nacional debateu projetos de lei que regulamentariam os dois artigos da Constituição (art. 182 e 183) que tratam da Política Urbana. Somente em 2001 foi promulgada a Lei Federal nº. 10.2579, que passou a ser conhecida como Estatuto da Cidade, trazendo para a pauta dos temas municipais a Reforma Urbana, determinando que os muni- cípios enfrentem com responsabilidade a condução equilibrada do crescimento das cidades. Com isso, definiu-se o conceito de função social da propriedade urbana24, que foi incluído na Constituição Federal de 1988, “art. 182, § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”. É um elemento intrínseco, integrando o conceito de propriedade, e também é um direito fundamental previsto no art. 5º inciso XXIII da CF/88. A partir da Constituição de 1988, a propriedade deve cumprir sua função social em bene- fício da coletividade, ou seja, se não há utilização da propriedade para desenvolvimento da cidade, a mesma não cumpre sua função, in verbis, como abaixo segue: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do 23 SANTOS, Milton. A Cidade nos Países Subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965, p. 14. 24 “Como já frisado, as exigências atuais de erradicação da pobreza não mais toleram que o direito de propriedade seja exercido em des- compasso com o bem comum. Acompanhando a tendência, o Estatuto da Terra, malgrado o regime político imperante quando de sua promulgação não lhe fornecesse condições reais de aplicabilidade, incorporava, no seu art. 2°, caput, o princípio de que a todos seria assegurada a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada apenas pelo cumprimento de sua função social, de cuja definição cuidou o seu §1°, erigido a patamar magno pelo art. 186, I a IV, da CF. Entre nós, a preocupação com a justa distribuição da terra passa, inexoravelmente, pela mudança do quadro fundiário existente quando da edição dos preceitos citados, marcado predominantemente pela presença avassaladora do latifúndio.” NOBRE Junior, Edílson Pereira. Regularização Fundiária Urbana e Rural. Disponível em: < http: www. cjf.jus.br/revista/outras_publicacoes/propostas_da_comissao/14_regularizacao_fundiaria_urbana_e_rural.pdf> Acesso em 05 jan. 2011. 268 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Com base nestes artigos constitucionais, observa-se que o direito à propriedade é individual, mas o uso está subordinado ao interesse coletivo. Assim, a função social da propriedade é pressuposto da Reforma Urbana a ser implementada com base nas normas do Estatuto da Cidade e por intermédio do plano diretor25 de cada município. Com a política urbana proposta no Estatuto, objetiva-se ordenar o pleno desenvolvimen- to das funções sociais da cidade e da propriedade urbana mediante a garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura, ao transporte, ao trabalho, ao lazer e aos serviços públicos. A política urbana deve ser construída e executada por meio de uma gestão democrática, garan- tida pela participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, ambiental e políticas setoriais26. Pois toda pessoa tem o direito a uma moradia digna próxima de postos de saúde, escolas, áreas de lazer, saneamento básico, para a construção de uma vida decente. Apesar disso, a maioria das pessoas que moram em áreas irregulares não tem seus direitos respeitados, e 25 Plano Diretor Urbano Ambiental - Decreto Municipal n. 765/2009. 26 Para Haddad, a cidade [...] antes de tudo, definida por suas funções e por um gênero de vida, ou, mais simplesmente, por uma certa paisagem, que reflete ao mesmo tempo essas funções, esse gênero de vida e os elementos menos visíveis mas inseparáveis da noção de ‘cidade’: passado histórico ou forma de civilização, concepção e mentalidade dos habitantes. HADDAD, Fernando. De Marx a Habermas. O Materialismo Histórico e seu Paradigma Adequado. Tese de doutorado, orientador Prof. Dr. Paulo E. Arantes, Departamento de Filosofia, FFLCH, USP, mimeo, 1996,p. 14. Ver: ALFONSIN, Betânia; FERNANDES, Edésio. Direito à moradia e segurança da posse no Estatuto da Cidade. São Paulo: Editora Forum, 2004. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 269Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 nem estão protegidos pela lei, que acaba desamparando as populações pobres que vivem de maneira informal. Logo, o Poder Público (Prefeitura, Governo do Estado, entre outros) deve desenvolver projetos voltados à Regularização Fundiária27, ou seja, atuar para legalizar a posse dos moradores nos locais em que há consolidação informal, trazendo uma maior segurança à moradia. Somente pela atuação dos entes governamentais que estas comunidades que estão à margem da sociedade integrarão a cidade formal. A legalização da posse traz a garantia de que as pessoas tenham segurança jurídica no local onde moram, não sofrendo despejos forçados, protegendo a posse contra qualquer pessoa que tente violá-la ou prejudicá-la. E, ainda, proporciona a acessibilidade dos moradores aos direitos da cidade, como educação, lazer, saúde, saneamento básico, etc. De acordo com o conceito de regularização fundiária de Alfonsin: Regularização fundiária é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídicos, físico e social, que objetiva a permanência das populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária.28 A regularização de uma área deve proporcionar o acesso à cidade, sendo assim, os ocu- pantes de áreas irregulares consolidadas deveriam permanecer no mesmo local, uma vez que ali já constituíram sua moradia, ou seja, já se identificaram com o local onde moram, portanto, é importante não somente a regularização de forma jurídica, no qual torna legal a posse, mas, também, sob o aspecto físico e social, como mencionado anteriormente. 4 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS Na área de atuação do Projeto Pacificar, constata-se a origem de conflitos pela posse da terra nos processos de regularização fundiária levados a efeito pela Prefeitura Municipal de Canoas/RS junto à comunidade do Território de Paz Guajuviras, e, assim, os alunos bolsistas 27 “A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA consiste na inclusão da parte da cidade que se encontra na clandestinidade ou irregularidade no contexto geral da cidade legalizada e urbanizada.” Disponível em: <www.uniritter.edu.br/propex>. Acesso em: 01 fev. 2011. 28 ALFONSIN, Betânia de Moraes. Direito à moradia: instrumento e experiências de regularização fundiária nas cidades brasileiras. Rio de Janeiro: IPPUR/FASE,1997, p. 268. 270 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 articulam-se para mediar tais disputas. Relevante, portanto, refletir sobre a definição de tais conflitos, bem como sobre as políticas públicas em desenvolvimento para o seu enfrentamento. Sob essa perspectiva, há que se destacar que há mobilização do Ministério das Cidades para a implementação da mediação de conflitos em regularização fundiária. Nesse sentido, a Resolução Recomendada nº. 87, de 8 de dezembro de 2009 do Ministério das Cidades, que institui a Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos29. Em seu texto, tem-se a afirmação de que a mediação procura, através do diálogo e da investigação dos problemas, e também pelas motivações dos participantes, alcançar uma compreensão do conflito e dos reais interesses a serem satisfeitos por igual, em face aos conflitos fundiários urbanos. Ainda, seguindo recomendações da Organização das Nações Unidas, a Secretaria da Re- forma do Judiciário, no incentivo das formas alternativas de resolução de conflitos, principalmente a mediação, afirma: O programa de justiça comunitária foi implantado no ano de 2000 pela parceria do Ministério da justiça e o tribunal de justiça do Distrito Federal. O programa propõe a democratização do acesso à justiça, restituindo ao cidadão e à comunidade a capacidade de gerir seus próprios conflitos com autonomia através do estimulo da participação social e o desenvolvimento de novas fórmulas de resoluções de conflitos em especial a mediação comunitária30. Assim, os conflitos interpessoais de relação continuada podem ser trabalhados pela mediação com base na apresentação dos fatos, bem como os compromissos assumidos respondem à clara intenção dos mediados de resolver o problema com confiança, ética e transparência, pois todo o processo procura alcançar soluções mutuamente satisfatórias na solução do conflito. Isso não significa concordar com o que o outro pensa ou deseja, mas 29 Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos Disposições gerais Art. 1°. A Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbano tem por finalidade estabelecer princípios, diretrizes e ações de prevenção e mediação nos conflitos fundiários urbanos, implementada pelo Ministério das Cidades em articulação com os Ministérios e órgãos afins, em conformidade com a Constituição Federal, art. 1º - inciso III, art 6º, 182 e 183, Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01) e Medida Provisória 2.220/2001. Assunto Regularização Fundiária § 1º. Para efeitos desta Política, a garantia do direito humano à moradia adequada é componente fundamental para o cumprimento da função social da propriedade urbana e da cidade, bem como para o direito à cidade. § 2°. Para os efeitos desta Política, caracterizam conflitos fundiários urbanos, a disputa coletiva pela posse ou propriedade de imóvel urbano, bem como o impacto por empreendimentos de grande porte envolvendo famílias de baixa renda que necessitem da proteção do Estado na garantia do direito humano à moradia e à cidade. Disponível em: <www.cidades.gov.br/conselho-das-cidades/resolucoes-concidades/ resolucoes-recomendadas/87%20Resolucao%20Conflitos%20versao%20final.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2011. 30 FOLEY, Gláucia Falsarella (Redação e organização). Relato de uma experiência Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal. Brasília: Ministério da Justiça/Secretaria de Reforma do Judiciário, 2008, p. 7-8. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 271Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 aceitar a opinião do outro com respeito. Quando o acordo tiver sido contemplado e a con- trovérsia estiver concluída, o mediador o redigirá em linguagem clara e simples31; o acordo é um título executivo extrajudicial. Com o excesso de processos judiciais que abarrotam o Poder Judiciário, a mediação vem tornar efetivo o acesso à justiça, desmitificando a judicialização, proporcionando que as partes solucionem os seus conflitos fortalecendo a cultura do diálogo. Para Sales, a mediação é: [...] um procedimento consensual de solução de conflitos por meio do qual uma terceira pessoal imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor a satisfaça. A mediação representa um mecanismo de solução de conflitos utilizado pelas próprias partes que, motivadas pelo diálogo, encontram uma alternativa ponderada, eficaz e satisfatória.O mediador é a pessoa que auxilia na construção desse diálogo. 32 Como proposta para a resolução33 não violenta de conflitos no bairro Guajuviras, cuja história é marcada pela disputa pela posse de terra, o Pacificar busca mediar estes conflitos urbanos referentes a problemas com o poder público que fará regularização fundiária nas áreas irregulares, bem como mediar conflitos gerados na comunidade como, por exemplo, avanço de cerca, falta de passagem de servidão, etc. Com esse método, o Pacificar pretende integralizar o seu objetivo fundamental, qual seja, mediar34 conflitos fundiários urbanos, conflitos de origem na posse da terra, e, assim, proporcionar aos envolvidos no conflito uma forma pacifica para resolverem seu problema, sem necessariamente levar a questão ao Judiciário, tornando-os autônomos quanto às suas decisões, proporcionando o verdadeiro 31 Mediação: sobre este assunto, ver: BACELAR, Roberto Portugal. Juizados especiais. A nova mediação paraprocessual. São Paulo: RT, 2003; TORRES, Jasson Ayres. O acesso à Justiça e soluções alternativas. Porto Alegre. Livraria do Advogado, 2005; VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São Paulo: Editora Método, 2008; ZAPPAROLLI, Célia Regina. A experiência pacificadora da mediação: uma alternativa contemporânea para implementação da cidadania e da justiça. In: MUSZKAT, Malvina Ester (Org.). Pacificando eprevenindo a violência. 2 ed. São Paulo: Summus, 2003. 32 SALES, Lília Maia de Morais. Mediação de Conflitos: Família, Escola e Comunidade. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 23. 33 “Ao contribuir com o desafogamento do Judiciário, a mediação cumpre o papel de mecanismo complementar para a maior agilidade da Justiça. Ao propor soluções pacíficas e amigáveis, a mediação transforma um paradigma adversarial e contribui com a pacificação social. Ao transformar as formas relacionais entre os envolvidos, a mediação serve de instrumento pedagógico, o que ocasiona a autocomposição em futuros conflitos, reduzindo a necessidade do acionamento desnecessário da Justiça.” CARTILHA DE MEDIAÇÃO. Câmara Mineira de Mediação e Arbitragem. Disponível em: <www.caminas.com.br>. Acesso em 17 fev. 2011. 34 “A mediação, além de auxiliar as partes a resolverem suas disputas com elevado grau de satisfação, proporciona um aprendizado até então não encontrado no processo civil ou penal. Os resultados colhidos em alguns projetos-piloto de mediação forense no Brasil demonstram que, após serem submetidas a esse processo autocompositivo, a maioria das partes acredita que a mediação as auxiliará a melhor dirimir outros conflitos futuros.” Manual de Mediação Judicial Ministério da Justiça Secretaria de Reforma do Judiciário Esplanada dos Ministérios. Disponível em: <www.mj.gov.br/reforma>. Acesso em 17 fev. 2011. 272 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 acesso à justiça. 5 O PROJETO PACIFICAR – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS O Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos é um projeto de extensão univer- sitária, que foi contemplado pelo Chamamento Público do Ministério da Justiça denominado “Fomento a projetos de apoio à prática de mediação, composição e demais formas de reso- lução não violenta de conflitos nas Faculdades de Direito”, edital originado da Secretaria da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça. Ele integra o Programa de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), fundamentado na Medida Provisória nº 384/2007, convertida na Lei 11.530/2007. O objetivo principal do projeto é implantar o fortalecimento e divulgar a utilização de meios alternativos de solução de conflitos. Significa trabalhar com os meios extrajudiciais para as soluções de conflitos, incentivando as práticas de mediação na Faculdade de Direito Uniritter e na comunidade do bairro Guajuviras (Território de Paz – PRONASCI). E, ainda, propõe-se a articular efetivamente ensino, pesquisa e extensão, para que os participantes do projeto atuem como sujeitos ativos na comunidade. Para que isto ocorra na prática, foi firmada uma parceria entre o Uniritter e a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania de Canoas/RS, que balizou a demanda, delimitando a atuação do Pacificar ao bairro Guajuviras. Assim, desenvolveu suas atividades com foco na prevenção, por meio da mediação de conflitos fundiários urbanos e promovendo a capacitação da comunidade envolvida ao aplicar oficinas aos agentes do PRONASCI, que são moradores da comunidade, para que eles possam, a partir de suas próprias vivências e saberes, compreender e resolver de forma pacífica seus conflitos, atuando junto à comunidade como mediador de conflitos fundiários existentes entre a comunidade, bem como nos conflitos entre a comunidade e o poder público. Para implementação da política de mediação na regularização fundiária, o Pacificar conta com seguintes parceiros: Ministério da Justiça/Governo Federal; Prefeitura Municipal de Canoas/Secretaria de Segurança Pública e Cidadania/Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Social/Procuradoria-Geral do Município, Uniritter e a ONG Cidade (Centro de Assessoria e Estudos Urbanos). Desde a sua fundação no ano de 2009, o Pacificar vem desenvolvendo as seguintes ativida- des: curso de Extensão em Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos - 2009 e 2010; seleção Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 273Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 de acadêmicos bolsistas - Direito/Uniritter - colaboradores; participação no Fórum Social Mundial; plantões semanais na Diretoria de Regularização Fundiária e relatórios semanais; reuniões de quadras no Território da Paz - CAIC; participação em Audiências Públicas com a comunidade do CAIC; coleta e arquivamento dos documentos dos moradores para abertura dos processos; levantamento das principais dúvidas definidas pelos moradores com relação ao processo de regularização fundiária; elaboração e execução de Oficinas de Capacitação para comunidade envolvida; elaboração de um informativo sobre o tema mediação de con- flitos fundiários urbanos; participação do Segundo Módulo Curso de Mediação de Conflitos Fundiários –2010. Além disso, está sendo trabalhada uma pesquisa para mapear os conflitos fundiários no bairro Guajuviras, cujos participantes são oriundos dos Projetos do PRONASCI. Uma das áreas indicadas como prioritária para a execução de ações de regularização fundiária pela Prefeitura Municipal, e, portanto, indicada como objeto de trabalho inicial do Pacificar no Guajuviras, foi a comunidade do CAIC. A Prefeitura, por meio de sua Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizará estudo da área a ser regularizada, levando em consideração os dados a seguir indicados. Como marco de ocupação tem-se a data de 02 de março de 1999. Segundo dados fornecidos pela Diretoria de Regularização Fundiária do Município de Canoas, nesta área existem 170 famílias cadastradas, das quais 29% vivem há dez anos e 46,6% vivem há mais de dez anos. Cerca de 77% dos moradores compraram seus lotes, enquanto que 33,7% apenas ocuparam, existindo um baixo grau de rotatividade nos últimos cinco anos. Os lotes possuem, em mé- dia, 250m², com 54% das moradias em alvenaria e 30% de madeira, possuindo − em sua maioria − de três a cinco cômodos. A comunidade conta com serviço público (abastecimento de água, coleta de lixo, luz elétrica, escola de ensino infantil, fundamental e médio, posto de saúde e da Brigada Militar, além do comércio local) e com uma associação comunitária35.Somente recentemente desenvolveu-se o processo de regularização jurídica da área, com a opção pelo instrumento da doação36. Conforme o gráfico que segue, pode-se observar que os casos atendidos versam em conflitos 35 PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOAS. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Diretoria de Projetos Habitacionais - DPH. Diretoria de Regularização Fundiária – DRF. Relatório comunidade Caic - Trabalho Técnico Social. Ano 2009. Disponível em: <www. canoas.rs.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2011. 36 Para detalhamento do processo de regularização fundiária da comunidade do Caic, ver texto de autoria de Paulo Eduardo de Oliveira Berni, nesta mesma publicação intitulado Construindo a política de regularização fundiária local: a experiência do município de Canoas/RS. 274 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 entre vizinhos, sendo eles: avanço de cerca, falta de passagem, ou seja, o lote dos fundos não tem acesso à via pública, aproximação das casas construídas de forma irregular, que geram conflitos quanto a abertura de janelas, limpeza de pátios e trocas de encanamentos, etc., como se verifica do mapeamento dos conflitos fundiários urbanos, a partir do estudo de casos reais atendidos na mediação: CASO CONFLITO ORIGEM DIFICULDADE TRIAGEM ENCAMINHAMENTO RESULTADO 1 R.M.S I.C.P A parte requerente precisa trocar os canos, que estão na divisa, e a vizinha não permite o acesso. PACIFICAR Em contato com a parte adversa disse não conhecer sua vizinha. E que nunca teve problemas com vizinhos. 26/04/10- 30/07/10 Contato com a parte adversa. Foi solicitado que fornecesse dados da vizinha e telefone. 03/05/10 Conversou com a vizinha e resolveu o problema. 2 N. P.S Não possui parte adversa. Familiar envolvendo o lote em que mora há uma disputa de herança com seu o sobrinho. Justiça Comunitária Não possuía dados do seu sobrinho. 16/08/10 Orientada sobre seu direito a moradia e fornecimento do endereço do SAJUIR. 16/08/201 SAJUIR, por falta de parte adversa. 3 J.L.S.D I. Cerca do vizinho avançou em seu lote. PACIFICAR Em contato com a parte adversa, disse que sua sobrinha morava no lote. 25/04/10 17/05/10 COM A PARTE ADVERSA. No dia 16/05/10 agente comunitário esteve no local e a parte adversa não estava mais morando lá Parte adversa desmanchou a casa 4 E.R.S Não possui parte adversa Vizinha avançou o lote. PACIFICAR Não foi encontrada em casa 24/04/10 Em conversa com a DRF, disse que irá manter a medida do lote no mapa e memorial descritivo. 16/07/10 Agente Loraine foi ao local e não encontrou ninguém. 5 C.S.O Vizinha avançou cerca o seu lote. PACIFICAR Não consegue o telefone de seu vizinho, 12/04/10 Agente comunitária foi até o local, mas não encontrou ninguém. 16/07/10 Agente Loraine foi ao local e não encontrou ninguém. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 275Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 6 A.M N.C.A Parte requerente tem o imóvel que não consegue vender, pois sua ex- esposa causa empecilho. Ocorre que para receber lote do gestor municipal, não pode possuir outro imóvel. PACIFICAR Em 13/05/10 parte adversa foi convidada para conversar sobre a venda da casa, mas não compareceu. 05/04/10 Advogada da parte requerente se comprometeu em ingressar com uma ação de emissão de posse. 17/05/2010 Parte requerente informou ingressou com o pedido de emissão de posse. 7 J.R. B Problema de falta de passagem. Parte adversa mora nos fundos e não consegue sair do seu lote pelo mesmo imóvel, sai pelo pátio de outro vizinho. Justiça Comunitária Vizinhos nem se conheciam. 01/03/10 Foi feita mediação no dia 09/08/10. Constatou-se que não havia conflito entre as partes, pois nem se conheciam, e ainda havia moradora atrás do lote da parte adversa que poderia ceder tal passagem. Marcamos outro encontro no dia 23/08/10 e informamos a situação junto a DRF, e entraríamos em contato para fazer mais um encontro. Em virtude da demanda do gestor municipal, qual seja, regularização dos lotes em tal área. Agente do Município foi até o local e informou a parte requerente que se a mesma não desse tal passagem seu lote não seria regularizado. Ocorre que tal interferência fez com que as partes perdessem interesse pela mediação. 8 E.M.P M. Parte requerente construiu parede rente a tela e não consegue fazer limpeza da janela, nem dos canos e calhas. Justiça Comunitária Dificuldade em falar com a parte adversa, pois achava que sua antiga vizinha não morava mais em tal imóvel 26/04/2010 09/08/10 Primeiro encontro de mediação, as partes estavam irredutíveis. 23/08/2010 Segundo encontro já haviam pensado melhor quanto à solução do conflito. Parte requerida irá ceder 1 m do seu terreno para a requerente. Será agendada nova data para assinatura do termo. 9 D.B. S M. A parte é ré em ação de reintegração de posse. Mas diz morar em tal imóvel há 22 anos. Justiça Comunitária Localização da parte adversa, que saiu do imóvel em fevereiro desse ano. 25/10/2010 16/08/2010 Recebeu orientação quanto ao seu direito à moradia 30/08/2010 Foi encaminhada ao SAJUIR, devido a audiência no JEC. Parte requerente não teve interesse pela mediação, parte adversa queria fazer mediação. 276 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 Pode-se concluir que se ventila na comunidade do CAIC a cultura da propriedade plena, presente na sociedade brasileira, e que se configura como um desafio para o projeto, uma vez que ela está internalizada na sociedade em todos os níveis sociais; porém, este é um enfrentamento necessário para que ocorra uma mudança na política de regularização fundi- ária, que é fruto da reforma urbana no País. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Indubitavelmente, o Projeto Pacificar oportunizou à equipe integrante a apropriação de uma nova concepção de solução de conflitos, respeitando a pluralidade cultural e diversi- dade de saberes. O projeto é uma alternativa à jurisdicionalização, promoção de uma nova cultura nas Faculdades de Direito, contribuindo para uma formação cidadã dos estudantes, orientando sob aspecto dos direitos humanos para a difusão de uma cultura de paz. A vivência com a comunidade para conhecer seus anseios, dificuldades e histórias pos- sibilitou que os acadêmicos participassem efetivamente do contexto local. O tema moradia, tão controvertido no contexto histórico, motivo de estudo do grupo, aproximou os alunos da comunidade, demonstrando o quanto é importante e necessário a identificação com o local que se escolhe para morar. Logo, compreendeu-se a complexidade do tema, pois desde o início dos tempos se perpetuam desigualdades sociais por causa da falta de interesse no reconhecimento do direito à moradia. Diante das histórias, dos conflitos enfrentados por esta comunidade para garantir a moradia e os direitos sociais básicos, o grupo passou a pensar, analisar e discutir a propriedade a partir da perspectiva deste direito. Quanto às demandas de origem da posse da terra, as quais dependiam da atuação do Poder Público, descobriu-se, aos poucos, que, para que as metas do projeto fossemcumpridas, a melhor forma de trabalho seria a atuação desvinculada, ou seja, impulsionando as próprias demandas, para que o projeto fosse desempenhado de forma integral. Participou-se de for- ma ativa no processo de organização, na elaboração e participação de políticas públicas, apontando seus erros e acertos. A atuação como mediadores não ocorreu apenas em conflitos fundiários; em muitas vezes foram mediados a comunidade e poder público. Destarte, a universidade desempenhou um papel imparcial, contribuindo para o acesso à justiça. Cabe ressalvar a importância de ter fortalecido (assim pretendeu-se) a construção do conhecimento da população frente a seus Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana Andréia Rios, Isabel Kayser Pereira, Janaína Botta, Mariana Nunes da Silva, Mariza Aparecida Chuma Iracet e Rosmere Kalsing Zinn Sobreira 277Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 direitos e deveres, para que as discrepâncias de saberes, entre a comunidade e aqueles que exercem o poder fossem atenuadas. Ao longo dessa caminhada, surgiram muitos desafios e expectativas quanto à execução do Programa de Regularização Fundiária. No entanto, o maior desafio dos alunos do projeto foi o migrar da sala de aula para atuar junto à comunidade. Isso resultou em um acúmulo de práticas que aumentaram a experiência dos participantes, seja no manejo das teorias, seja no traquejo com cidadãos dos mais variados nível culturais, priorizando, assim, a clareza no processo. Desta forma, a comunidade informada empodera-se, reconhecendo-se como sujeito de direitos, e também se responsabilizando para o cumprimento das decisões alcançadas a partir da mediação. Contudo, o trabalho não se encerra com o término do projeto, pois ele foi apenas o im- pulso inicial, servindo de base para que outros projetos de extensão sejam desenvolvidos. Desta maneira, os saberes acadêmicos e populares atuam em conjunto, transformando e enriquecendo a vida dos agentes envolvidos, porque essa experiência jamais será ensinada, uma vez que só poderá ser vivenciada. REFERÊNCIAS ALFONSIN, Betânia de Moraes. Direito à moradia: instrumento e experiências de regularização fundiária nas cidades brasileiras. Rio de Janeiro: IPPUR/FASE, 1997. BACELAR, Roberto Portugal. 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E-mail: andreia.rios@ibest.com.br IZABEL KAYSER PEREIRA Acadêmica do IX eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa- cificar”. E-mail: belynhakayser@yahoo.com.br JANAÍNA BOTTA Acadêmica do IX eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa- cificar”. E-mail: janainabotta@terra.com.br 280 Revista da Faculdade de Direito UniRitter • 11 • 2010 MARIANA NUNES DA SILVA Bacharel em Direito pelo UniRitter 2010/2,bolsista de extensão do projeto “Pacificar”. E-mail: mariana_financeiro@hotmail.com MARIZA APARECIDA CHUMA IRACET Bacharel em Direito pelo UniRitter 2010/2, bolsista de extensão do projeto “Pacificar”. E-mail: marizairacet@bol.com.br ROSMERE KALSING ZINN SOBREIRA Acadêmica do VI eixo do curso de Direito do UniRitter, bolsista de extensão do projeto “Pa- cificar”. E-mail: rosmere@tj.rs.gov.br Submissão: 15/10/2011 Aprovação: 17/10/2011 RIOS, Andréia, et al. Projeto Pacificar - mediação de conflitos fundiários urbanos: entre a atividade extensionista e a construção da política urbana. Revista da Faculdade de Direito UniRitter, Porto Alegre, n. 11, p. 259-280, 2010. Projeto Pacificar – Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos: entre a Atividade Extensionista e a Construção da Política Urbana
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