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Artigo Foruns Regionais Versão Final

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Elaboração de Diagnóstico Territorial Participativo: uma experiencia democrática no contexto da gestão social a partir das propostas originadas nos Fóruns Regionais do estado de Minas Gerais. 
Elaboration of Participatory Territorial Diagnosis: a democratic experience in the context of social management from the proposals originated in the Regional Forums of the state of Minas Gerais.
Resumo: Partindo da perspectiva que a participação ainda é um processo em construção onde a sociedade como agente histórico esteve sempre marginalizada aos processos decisórios governamentais este trabalho objetivou investigar as propostas originadas da sociedade civil no Campo das Vertentes na elaboração do Diagnóstico Territorial Participativo a partir da criação dos fóruns regionais no estado de Minas Gerais. Quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa se insere numa abordagem qualitativa por meio de um estudo de caso, para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, observação participante nas reuniões dos Fóruns Regionais e análise documental. Para além de conclusões determinantes as evidências reveladas neste estudo demonstram que construir um diagnóstico territorial participativo visando compreender as demandas sociais originadas no seio da própria sociedade é uma re(criação) de uma atuação estatal dentro de um contexto que, historicamente, a inexistência do diálogo democrático sempre prevaleceu. A experiência dos Fóruns Regionais demonstrou o protagonismo da sociedade dentro das bases teóricas da Gestão Social. A contemplação da iniciativa como finalista do Prêmio das Nações Unidas para o Serviço Público (UNPSA) reforça a importância da participação popular para as políticas de estado. 
Palavras-chave: Participação; Fóruns Regionais; Diagnóstico Territorial; Gestão Social
Abstract: Starting from the perspective that participation is still a process under construction where the society as historical agent was always marginalized to the governmental decision-making processes, this work aimed to investigate the proposals originated from the civil society in the Field of the Verts in the elaboration of the Participative Territorial Diagnosis from the creation of the regional forums in the state of Minas Gerais. As for the methodological procedures, the research is inserted in a qualitative approach through a case study, for the data collection semi-structured interviews were used, participant observation in the meetings of the Regional Forums and documentary analysis. In addition to determining conclusions, the evidence revealed in this study demonstrates that building a participatory territorial diagnosis aimed at understanding the social demands originated within society itself is a re (creation) of a state action within a context that, historically, the inexistence of dialogue democracy has always prevailed. The experience of the Regional Forums demonstrated the protagonism of society within the theoretical bases of Social Management. The contemplation of the initiative as a finalist of the United Nations Public Service Award (UNPSA) reinforces the importance of popular participation for state policies.
Keywords: Participation; Regional Forums; Territorial Diagnosis; Social Management
Introdução
 	Pode-se afirmar que no Brasil, a participação adquiriu caráter de organização, no contexto da sociedade civil, a partir da década de 1980 por meio de diversos movimentos sociais. É nessa época que se intensifica o questionamento da relação entre Estado e Sociedade. A partir da década de 1990 houve um processo gradual de ampliação do espaço público, o que possibilitou à sociedade civil se estruturar e se articular perante as políticas públicas do Estado. 
	As conquistas participativas sócias refletem o processo de exclusão e desigualdade na relação Estado e sociedade. Pode-se afirmar que o espaço público existente hoje, ao contemplar a possibilidade de inserção da sociedade nas decisões estatais, são incipientes perante ao caminho a ser percorrido e conquistado para uma plena participação social. A histórica estrutura de um Estado não democrático está arraigada com heranças autoritárias e excludentes que ainda carece de uma transformação em suas bases de poder.
	O Brasil redemocratizado pós 1985 ganhou uma significativa ampliação do seu espaço público, pode-se afirmar, que principalmente, pós Constituição de 1988 houve um avanço na constituição de espaços participativos que possibilitou a inserção da sociedade como ator nas decisões públicas. Estes espaços foram formalizados e legitimados nas três esferas governamentais. Mesmo ainda distante de consolidar de fato um país democrático de direito a ampliação da esfera pública deve ser positivamente reconhecida. 
	Dentro dessa evolução a Gestão Social vem se posicionando no âmbito da Administração Pública brasileira como uma área do conhecimento que privilegia um debate que avança em relação ao modelo gerencial de administração. Tendo em vista as mudanças dos paradigmas da administração pública nos últimos anos a Gestão Social defende uma intersubjetividade das relações sociais, na qual se destaca a dimensão sociopolítica do processo de tomada de decisão. 
Nesse sentido defende-se uma administração pública que enfatiza a participação social e procura estruturar um projeto político que repense o modelo de desenvolvimento do Estado brasileiro e suas políticas públicas. Dentre os vários âmbitos de decisões que perpassam a relação - Estado e Sociedade - estão os conselhos gestores e o orçamento participativo. 
Perante esta contextualização este trabalho analisou as propostas originadas da sociedade civil no Campo das Vertentes na elaboração do Diagnóstico Territorial Participativo a partir da criação dos fóruns regionais no estado de Minas Gerais. Além desta introdução o artigo foi estruturado em quatro tópicos somados às referências utilizadas no suporte teórico. 
Participação: uma perspectiva de mudança relacional entre Estado e sociedade sob a ótica da Gestão Social
	Limitação e insuficiência são duas características históricas que marcaram a relação entre a sociedade civil e o Estado brasileiro. Os movimentos sociais que desde a década de 1970 caminham debatendo e deliberando em torno das questões coletivas se apoiam no ideal democrático que defende a interação entre diversos sujeitos. A década de 1980 se destaca pela tentativa de uma abertura política no país. Sob a expectativa de recriar a atuação estatal sob uma nova égide sobreleva-se a importância da Constituição de 1988 que consagra, como marco legal, a participação ativa do povo na vida pública nas atividades e políticas públicas promovida pelo Estado.
Dentro deste processo Rocha (2011) constata que a substituição das antigas formas paternalistas, autoritárias e clientelistas pelas práticas e processos democráticos, em que o cidadão passa a atuar, fiscalizar e tomar iniciativas, através de comunidades, grupos de múltipla atuação e movimentos sociais, passa a ser uma exigência àquelas sociedades que querem se considerar verdadeiramente democráticas, para o autor trata-se de uma substituição do paternalismo pela participação é um imperativo da moderna política social. 
Para Dallari (1996 apud Rocha, 2011, p.2), a participação popular prevista na Constituição vigente garante aos indivíduos, grupos e associações, o direito não apenas à representação política, mas também à informação e à defesa de seus interesses. A visão do autor corrobora com Rocha (2011) que ressalta que ser cidadão não se trata apenas de receber os benefícios do progresso, mas de tomar parte nas decisões e no esforço para sua realização. Sendo tratado não somente como um objeto de atenções paternalistas, mas como sujeito histórico e protagonista no processo e desenvolvimento. Desta forma, “[…] na medida em que se queira respeitar a dignidade da pessoa humana, é preciso assegurar lhe o direito de participar ativamente na solução dos problemas que lhe dizem respeito”. (ROCHA, 2011, p.2).
Historicamente no Brasil a relação Estado e Sociedade vem se moldando e criando visões interpretativas que se enraizaram no modo de pensar principalmente da sociedade civil, que segundo Dagnino (2004, p. 98) é considerada como “[…] pólo de virtudes democratizantes”, ou seja, a sociedade civil assume o papel de criar e explorar as ações democráticas deferidas pelo Estado. Estado esse que é visto pela sociedade em contrapartida como “encarnação do mal”, segundo a autora supracitada, ou seja, o Estado perante a sociedade é visto até mesmo nos tempos atuais como um espaço de governo falho, desorganizado e desonesto mesmo que os representantes civis que ali estão tenham sido escolhidos por essa mesma população para representa-los perante o poder público. 
	Tendo esse marco democrático histórico como base de apoio e sustentação de ações relacionadas ao Estado e Sociedade, a constituição de 1988 segundo Rocha (2011) colocou o Brasil entre os países de legislação mais avançada em relação a proteção dos direitos humanos econômicos, sociais e culturais. O que representa ao mesmo tempo um avanço legislativo e um desafio instrumental e informativo à sociedade. Como dito a “abertura” propiciada ainda desconhecida e nada explorada naquele momento em nosso país gerava além de benefícios e direitos um fato importante e fundamental para que esta constituição tenha sua representatividade colocada em prática, que é a instrução popular, ou seja, a disponibilidade de informações e instruções sobre direitos e deveres civis segundo a Constituição Federal. 
O caminho em busca da democracia participativa, para Bandeira (1999, p. 9), torna-se “[…] evidente a inadequação das ações formuladas de cima para baixo, sem envolvimento dos segmentos relevantes da sociedade civil”. Para o autor a sociedade pós Constituição 1988 se mobilizou em direção a construção de políticas que pudessem inserir não somente às classes privilegiadas ou classes burguesas, mas a inserção de milhares de pessoas excluídas politicamente do sistema governamental. Dentro deste mesmo viés de análise Dagnino (2004) defende que é possível entender melhor o cenário e a natureza dessa interlocução ao lembrarmos que este contexto (anos de 1990) é caracterizado por uma inflexão nas relações entre o Estado e os setores da sociedade civil comprometidos com o projeto participativo democratizante, onde estes últimos substituem o confronto aberto da década anterior por uma aposta na possibilidade de uma atuação conjunta com o Estado. 
Neste contexto vimos a importância da abertura de espaço legitimamente transcrito por lei, para a promoção da participação civil nas atividades políticas estatais buscando uma interlocução mais próxima nesta relação Estado e Sociedade. Mas todo esse processo de mudança participativa dos anos 90 nos remete também a “desobrigação” ou no meu modo de pensar o desinteresse civil por questões políticas. Assim segundo Bandeira (1999, p. 13), a falta de participação da comunidade é apontada, na literatura produzida pelas principais instituições internacionais da área de fomento do desenvolvimento, como uma das principais causas do fracasso de políticas, programas e projetos de diferentes tipos. Continuando a afirmação, Bandeira (1999) anuncia que “[…] a ausência de uma interação suficiente com os segmentos relevantes da sociedade tende a fazer que muitas das ações públicas sejam mal calibradas, tornando-se incapazes de alcançar integralmente os objetivos propostos”. Assim a prática da política sem a interação efetiva e opinativa da sociedade se torna inviável nos parâmetros sociais do país.
No contexto das ações e da interlocução entre as instâncias governamentais (Federal, Estadual e Municipal) o argumento participativo ao ser descartado por uma das partes seja o Estado ou Sociedade, no âmbito da formulação de políticas públicas deixa de ter um caráter de ação generalizada, ou seja, decisões tomadas somente por uma parte – nesse caso o Estado – terão seus resultados efetivos afetando a maioria da população – Sociedade civil – que por uma visão destorcida segundo Bandeira (1999) deixa de participar e interferir diretamente nas políticas ao seu favor.
Mais escassas, no Brasil, são as iniciativas de promoção da participação ou de articulação de atores sociais que tenham, simultaneamente, escopo territorial e setorial mais amplo, atingindo âmbito microrregional e tendo uma abrangência que transcenda o nível de um setor, programa ou projeto específico. Um dos fatores que contribuem para isso é o fato de que não existe, na estrutura federativa brasileira, uma instância político-administrativa intermediária entre o Estado e o município. 
“Como consequência, as divisões microrregionais adotadas pelos diferentes órgãos públicos estaduais e federais tendem a não ser compatíveis entre si, impedindo melhor articulação entre as ações setoriais da administração pública em escala regional e dificultando a implementação de práticas participativas abrangentes nesse nível.” (BANDEIRA, 1999, p. 6)
Os espaços públicos se moldam então em direção as menores regiões delimitadas territorialmente, ou seja, os municípios através de seu caráter pessoal representativo onde o acesso aos representantes eleitos pela sociedade civil democrática se mostra mais acessível devido ao contato pessoal que se pode ter nestas localidades. Se formam a partir desse contato leis e ações representativas designadas às necessidades expostas pela população aos seus representantes. “... esse tipo de experiência contribui para a criação de espaços públicos onde os interesses comuns e privados, as especificidades e as diferenças, podem ser expostas, discutidas e negociadas.” (DAGNINO, 2004, p. 105)
Gestão Social: um campo de conhecimento em construção
Dentro deste processo de desenvolvimento marcado por heranças fortes patrimonialistas a administração pública brasileira tem em seus modelos de gestão instituições que pouco privilegiam a efetivação da participação social. Neste debate a Gestão Social surge a partir da década de 1980 no âmbito acadêmico nacional com o texto pioneiro de Tenório (1998) dentro de uma nova ótica de debate e literatura. 
Cançado, Tenório e Pereira (2011) alertam para a banalização do termo, vários são os trabalhos que os autores mencionam onde Gestão Social tem diversas interpretações e utilizações. É fato que o termo ganhou visibilidade entre pesquisadores, fato este que consequentemente fez com as críticas e as fragilidades começassem a ser discutidas. Estes posicionamentos devem ser encarados como um ponto positivo em busca desta consolidação deste campo de conhecimento tão recente, mas também tão promissor, que, em apenas duas décadas de debate já proporcionou grandes avanços. Os autores supracitados relembram a importância do conceito ao ressaltar um movimento de pesquisa em âmbito nacional que ao se debruçarem sobre a temática fortalecem o movimento com a criação de programas de pesquisa, encontros especializados e mesmo periódicos dedicados ao tema.
O termo foi re(visitado) por Tenório (2005) onde relembra que o termo está fortemente apoiado no conceito de e cidadania deliberativa fundamentados pelo pensamento de Jürgen Habermas. Segundo o autor este conceito significa, em linhas gerais, que a legitimidade das decisões políticas deve ter origem em processos de discussão, orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum. A influência da teoria habermasiana dentro da construção conceitual de Gestão Social é reforçada pelo trabalho de Rezende, Cançado e Pereira (2010) onde demonstram que a temática da Esfera Pública auxilia-nos a entender a importância da sociedade civil organizada e pode ser considerado como uma referência em sociedades democráticas, no pensamento de Habermas encontra-se uma postura teórica que de possibilidades de reorganização dos espaços destinados a discussão pública e a construção da democracia. Para Vandenberghe, (2015) os pesquisadores da área têm encontradoHabermas em seu percurso, a teoria da ação comunicativa de Habermas permite, de fato, associar a gestão de políticas sociais à gestão democrática e participativa
sem redução, definindo com mais clareza os “interesses de conhecimento” do novo subcampo da administração.
Vandenberghe, (2015) traça um pensamento interessante e pertinente à conexão conceitual de Gestão Social com a experiência analisada neste artigo, para o autor a “gestão social” parece um campo de práticas em busca de teorias. Para o autor campo, gestão e social sãos três palavras centrais reunidas num conceito polissêmico que serve de bandeira multicolor em volta da qual pesquisadores e ativistas. Sendo assim, a gestão social é uma maneira mais sutil, mas não menos eficaz de governar as populações e as comunidades pela regulação dos agentes autônomos, administrando-os por sua adesão e participação a uma comunidade particular. Ao compreender e analisa a gestão social sob a perspectiva comunicativa e participativa o autor a retrata como uma gestão em comum com o bem público que visa o bem comum.
O processo participativo vem criando forma ao longo dos anos de experiência nesta República Democrática Brasileira e por ser um sistema ainda jovem as adaptações serão constantes e os resultados as vezes satisfatórios e as vezes não. Justifica-se a importância do estudo ao compreender que é crucial o desenvolvimento de uma nova forma de gestão pública municipal, no caso específico no âmbito estadual. O processo participativo a ser descrito foi criado e implementado pelo Governo do Estado de Minas Gerais no ano de 2015 defendendo uma visão territorial com o intuito de planejamento participativo e decisões das ações prioritárias governamentais.
A Gestão Social enquanto área de conhecimento buscando sua consolidação tem neste tipo de experiência um respaldo em defesa de suas concepções. Os Fóruns Regionais enquanto espaço aberto pelo Governo do Estado de Minas Gerais para garantir a presença da população na construção e no planejamento das políticas públicas corroboram com as premissas defendidas pelos pesquisadores. Pode-se afirmar ainda que corrobora também na busca de um efetivo controle social público. É vital que estas experiências entrem no debate acadêmico como formas de mecanismos democráticos mas também que passem por um crivo crítico dentro de suas fragilidades. 
 “Ouvir para governar”: os fóruns participativos do governo de Minas Gerais em busca da primazia da participação social
	O Brasil como uma República Federativa busca por meio de seus três poderes uma harmonia de funcionamento entre si, as três esferas governamentais, dentro de uma lógica democrática, possuem autonomia e leis próprias que sempre resguardam a soberania da Constituição Federal. Dentro do âmbito de análise deste trabalho, a esfera de governo estadual, é representada no Executivo pelo governador. 
	As estruturas legais da administração pública, principalmente pós CF/88 permitiu a busca de uma recriação do poder estatal. Passa-se haver uma multiplicidade vozes advindas da sociedade que exige mais efetividade na execução de políticas públicas. O Estado foi obrigado a ter uma nova conduta concebendo ao cidadão espaços participativos onde a relação dialógica deve prevalecer. Transparência e controle social passaram a ser condutas exigidas e necessárias na gestão pública. 
	A administração pública vive nas últimas décadas um movimento em busca de aprimoramentos em relação à sua capacidade de promoção das ações governamentais. No estado de Minas Gerais as tentativas de ações que busca a participação civil não são recentes, segundo Corrêa (2007), em 2004 o Executivo negociou com a Assembleia Legislativa do estado a participação dos cidadãos na consolidação do Plano Plurianual de Ação Governamental - PPAG no concernente aos projetos estruturadores. Dentro deste propósito foram organizadas audiências públicas para que os cidadãos pudessem fazer sugestões de emendas ao plano, bem como pudessem cobrar do governo as ações previamente comprometidas pelo Executivo. 
	No intuito de consolidar um espaço de governo onde os planejamentos instituídos pudessem iniciar através de uma ótica participativa da população contando com o contato mais próximo entre governantes e eleitores, o governo do estado de Minas Gerais a partir de um plano de trabalho instituído nas eleições de 2014, tendo como ponto principal de governo o lema “ouvir para governar”, instituiu o primeiro processo objetivo para a criação dos Fóruns Regionais. 
Em um traçado desta perspectiva com os princípios democráticos analisa-se as limitações que a própria Democracia Representativa e Participativa. Para Moreira e Silva (2016) novos e modernos instrumentos de controle e participação no poder devem ser permanentemente colocados em prática democrática em junção com a sociedade atual. Dentro desta ótica as autoras analisam a experiência dos Fóruns Regionais no governo mineiro como meio de fortalecer e articular as representações territoriais e a atuação conjunta entre a administração pública estadual e a sociedade civil na formulação, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas.
Com um mandato de quatro anos em mãos o novo governo do por meio de propostas já traçadas, iniciou a estruturação de um programa de governo onde a população pudesse participar e opinar, demostrando as suas necessidades nas decisões governamentais do plano de governo e consequentemente destinação de recursos. Na busca por alternativas e formas de programa que facilitassem o contato com os movimentos sociais e população, o movimento de Economia Solidária e sua estrutura organizacional no estado de Minas Gerias, surgiu como a forma estrutural de embasamento dos Fóruns. 
Sendo composto por onze regionais o Fórum Mineiro de Economia Solidária hoje atua em todo o estado buscando fortalecer suas várias articulações e promovendo atividades que mobilizam economicamente e culturalmente todas as regiões de Minas Gerais. A elaboração do Plano Estadual de Economia Solidária iniciado em 2015 na capital mineira Belo Horizonte denominou onze regionais de economia solidária entre elas a Regional Vertentes (que será relatada mais a frente sendo o foco central deste estudo). 
O estado de Minas Gerais e seus 853 municípios foi reorganizado em 17 Territórios de Desenvolvimento. Em cada Território, foi instalado o Fórum Regional de Governo (conforme demonstrado no Quadro 01), sendo a dimensão territorial de algumas regiões do estado muito extensas. Este agrupamento possibilitou uma melhor abordagem das necessidades regionais, segundo material divulgado pelo governo estadual os fóruns estavam sendo estruturados dentro de uma proposta participativa:
Com o objetivo de garantir a presença da população na construção e no planejamento de políticas públicas, o Governo de Minas Gerais instituiu os Fóruns Regionais, espaços que vão reunir a sociedade civil e representantes dos governos estadual e municipal para apontar e debater, em conjunto, as ações prioritárias para cada território de Minas Gerais. Dessa forma, a participação popular torna-se, de verdade, uma política de estado e uma ação de governo. Somos um Estado com diferentes realidades e desafios. (Fóruns Regionais, Cartilha de Metodologias e Diretrizes dos Fóruns, Minas Gerais, 2015, p. 2) 
Quadro 01
	Territórios de Desenvolvimento
	Número de municípios: 
	População
	Alto Jequitinhonha
	24 
	305.616 habitantes
	Mata
	93
	1.561.463 habitantes
	Mucuri
	29 
	431.541 habitantes
	Oeste
	56
	1.194.156 habitantes
	Triângulo Norte
	30
	1.178.946 habitantes
	Vale do Rio Doce
	55
	646.879 habitantes
	Caparaó 
	55
	675.711 habitantes
	Médio e Baixo Jequitinhonha
	35
	437.805 habitantes 
	Noroeste 
	30
	652.954 habitantes
	Sudoeste
	35
	1.200.777 habitantes
	Triângulo Sul 
	27
	697.812 habitantes
	Vertentes 
	50
	723.489 habitantes
	Central
	17
	243.235 habitantes
	Metropolitano 
	79
	5.880.619 habitantes
	Norte
	861.577.300 habitantes 
	Sul
	118
	1.408.825 habitantes
	Vale do Aço
	34
	780.202 habitantes
Fonte: dados da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
Nunca é demais insistir que a constante divulgação das informações pode ser o diferencial em um trabalho de reformulação que é realizado na maioria dos casos quando se troca de partido na execução do poder de governar um estado ou nação. Por outro lado, o novo modelo estrutural aqui preconizado necessita de uma abrangência constante e efetiva para que possa contribuir para a correta consolidação da participação social e render resultados satisfatórios em todos os setores estatais. Buscando construir espaços de diálogos o governo dividiu seus oitocentos e cinquenta e três municípios em dezessete regionais e instalou um fórum representativo em cada regional para a participação da população no processo de escolha das propostas do plano de governo vigente.
Os territórios de desenvolvimento ou Fóruns Regionais, depois de implantados com toda a estrutura já pensada e modelada propôs duas reuniões iniciais em cada território onde a primeira seria de apresentação do projeto e esclarecimento de dúvidas e a segunda já seria para a apresentação das propostas pela população e recebimento destas pelos representantes do governo. Segundo o governo estadual do estado a instalação dos Fóruns em cada um dos 17 Territórios deveria acontecer neste primeiro momento de organização, a dinâmica consistiu em um levantamento de prioridades de cada região onde os participantes receberam um Formulário de Diagnóstico Territorial sendo possível detalhar as principais carências e problemas de seu território. Em posteriores reuniões os participantes da primeira fase formaram Grupos de Trabalho temáticos, organizados de acordo com os eixos do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado - PMDI. Estes eixos seguiram os seguintes temas: 
Desenvolvimentos Produtivo, Científico e Tecnológico – Áreas afins = Industria, Comércio, Agricultura, Pecuária, Abastecimento, Meio Ambiente, Turismo, Inovação, Recursos Hídricos.
Infraestrutura e Logística – Áreas afins = Habitação, Obras, Transporte, Tecnologia de Informação e Comunicação Cidades e Regiões Metropolitanas Energia, Saneamento. 
Saúde e Proteção Social – Áreas afins = Direitos Humanos, Cidadania, Políticas Sociais, Saúde, Juventude, Esporte.
Segurança Pública – Áreas afins = Defesa Social, Polícia Militar, Polícia Civil, Sistema Prisional, Corpo de Bombeiro de Minas Gerais.
Educação – Áreas afins = Educação, Cultura. 
A segunda reunião também implementou a criação do Comitê de Planejamento Territorial - COMPLETE, sendo que este eleito pelos participantes de cada eixo temático proposto. A função do COMPLETE consiste reunir nos territórios para analisar as propostas do PMDI, debater com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e participar de uma reunião com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDES). A existência do comitê será mantida visando acompanhar os desdobramentos práticos do planejamento participativo em seu território. Sua importância se estende uma vez que, seus membros fazem parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDES), além de ser um órgão consultivo e deliberativo, diretamente subordinado ao Governador do Estado de Minas Gerais. 
Pode afirmar que os Fóruns Regionais buscam uma consolidação dialógica entre o governo e a população mineira. Todo planejamento proposto e colocado em prática vem se desenvolvendo junto ao plano de governo. Neste sentido corrobora-se com VILLAS-BÔAS (1994) ao defender que é na articulação entre movimentos sociais e práticas associativas, direitos e espaços públicos democráticos, que se pode ver os registros de uma sociedade civil em formação. Complementa a autora, é por este ângulo que se pode repensar e redefinir as relações entre Estado e sociedade. Este tipo de esfera pública consolida o laço entre o poder público e a população. No caso de Minas Gerais sendo o estado brasileiro com maior número de municípios esta experiência local possibilita a construção de políticas públicas que respeitem as características de cada região. 
Moreira e Silva (2016) ressaltam a importância, mas também as dificuldades desta experiencia, destacam que o processo dos Fóruns Regionais e seus resultados estão sendo prejudicados devido à atual situação financeira e orçamentária do estado de Minas Gerais de extrema restrição fiscal. Por outro lado, analisam os Fóruns como uma política pública de regionalização e participação social onde exerce-se o instrumento de controle social. 
Aspectos metodológicos 
Quanto aos procedimentos metodológicos este trabalho assume uma abordagem qualitativa, sendo a mesma subdividida em dois níveis de pesquisa: exploratório e descritivo. Para Gil (2008) a pesquisa exploratória visa levantar dados sobre um fenômeno a respeito do qual não se tem muita informação, por sua vez a abordagem descritiva possui o objetivo de descrever as características de um determinado fenômeno. Neste sentido, ao propor analisar as propostas originadas da sociedade civil na elaboração do Diagnóstico Territorial Participativo a partir da criação dos fóruns regionais, busca-se além do levantamento dos dados identificar as relações entre Estado e sociedade dentro do contexto dos Fóruns Regionais. 
Para Marconi e Lakatos (2011) a metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Já para Flick (2009) a pesquisa qualitativa chegou a sua idade adulta, segundo o autor o número crescente de trabalhos científicos e suas publicações demonstra esta afirmação. Neste sentido afirma que, a forma de gerenciar a qualidade no processo deste tipo de pesquisa tornou-se um tópico de muita importância para avançar o desenvolvimento da pesquisa qualitativa como um todo. Para Minayo (2008) as abordagens qualitativas são mais adequadas a investigações científicas de grupos, segmentos delimitados e focalizados. 
Para a coleta de dados foram utilizados multimétodos, sendo: entrevistas semiestruturadas, observação participante nas reuniões dos Fóruns Regionais e análise documental. Para Manzini (2004) dentre as questões que se referem ao planejamento da coleta de informações, estão presentes a necessidade de planejamento de questões que atinjam os objetivos pretendidos. Por sua vez, Minayo (2008) afirma que nos instrumentos de trabalho de campo na pesquisa qualitativa permitem uma mediação entre o marco teórico-metodológico e a realidade empírica. 
A entrevista semiestruturada, para Triviños (1987) a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Minayo (2008) alerta que neste tipo de entrevista usa-se perguntas fechadas, no entanto, alerta sobre a importância das perguntas abertas que propicia ao entrevistador e ao entrevistado a possibilidade de falar mais livremente sobre o tema em questão. 
Para Proença (2007) na observação participante o pesquisador vivencia pessoalmente o evento de sua análise para melhor entendê-lo, para o autor esta opção metodológica permite agir de acordo com as interpretações daquele mundo. Ressalta que o pesquisador participa nas relações sociais e procura entender as ações no contexto da situação observada. Para Lima, Almeida e Lima (1999) a observação participante pode assumir diversas formas, dentre estas possibilidades existe a modalidade de participante como observador na o pesquisador estabelece com o grupo uma relação que se limita ao trabalho de campo, para os autores esta modalidade pode ser utilizada para complementar o uso de entrevistas. 
Em busca de uma qualidade maior utilizou-se ainda a pesquisa documental como forma de uma triangulação com outras formas de coletas de dados. Gil, Licht & Oliva (2005) alertam para alguns riscos do uso da documentação com fonte única de dados. Para os autores a combinaçãode métodos eleva a confiabilidade ao estudo. No caso deste trabalho conjugou-se com as entrevistas e a observação. Para Beltrão e Nogueira (2011), a abundância de fontes e a facilidade de acesso aos documentos não pode diminuir a análise documental a partir de uma perspectiva crítica, que busque uma adequada compreensão acerca do contexto social, político e cultural no qual são produzidos. 
As análises dos resultados aconteceram por meio de uma sequencial de informações onde foi feita uma interpretação analítica de cunho qualitativo. Essa etapa contemplou a estruturação de todo material coletado.
Regional Vertentes: histórico e análise das propostas civis
Após delimitado os espaços de debate e articulação entre a sociedade e o governo, a administração estadual passou a implementar as ações do plano nas regionais ou territórios criados. Todas as regionais receberam um cronograma de trabalho, datado e transcrito para sua melhor execução contendo todas as etapas do plano e as reuniões programadas no ano de 2015. O Território Vertentes, objetivo deste estudo, é integrado por 50 municípios e dividido em três microterritórios: Barbacena, Conselheiro Lafaiete e São João del-Rei, possuindo uma população total de 724 mil habitantes, onde economicamente o setor de serviços possui a maior porcentagem de atuação com 55,4% do produto interno bruto do território, sequencialmente a indústria representando 38,8% e a agropecuária com 5,8% do PIB. 
	A primeira etapa do plano de governo no Fórum Regional Vertentes teve início em julho de 2015 no município de São João Del Rei contando com a presença do governador do estado de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Em sua fala foi enfatizado: 
Eu acredito que tem de chegar perto das pessoas. Tem de conversar com elas e ouvi-las. Todo mundo pode ser ouvido, todo mundo é importante e tem com que contribuir. É claro, os técnicos têm de trabalhar para dar formato àquilo e executar, depois, o que foi decidido amplamente pela população.
Esta etapa contou ainda com outros integrantes do governo estadual que destacaram a participação civil e a necessidade de “democratização da política”. O secretário de estado de governo institui a participação popular como meta central de governo buscando compreender Minas Gerais como um todo, seguindo o lema defendido pelos Fóruns Regionais: ‘ouvindo para governar”. 
Foram divididos em eixos de prioridade que agregassem todas as funcionalidades do Estado na vida pública, onde as propostas eram direcionadas a cada um desses eixos tendo sua devida relação. Através destas iniciativas populares de levantamento de demandas o Governo propôs priorizar as questões levantadas pelos moradores da região Vertentes, onde o que fosse definido como urgente e prioritário seria encaminhado aos técnicos da Secretária de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG para a inclusão no plano de ação do Governo de Minas Gerais. Esse processo designado como Diagnóstico Territorial tinha como intuito contribuir também na construção do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) e do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). Esses documentos dizem respeito a ações e projetos que o Governo irá adotar para as regionais e onde pretende investir seu orçamento nos próximos anos. 
	A coordenação da Regional Vertentes teve seu primeiro encontro no município de Barbacena, o Fórum contou com a presença de representantes da sociedade civil que apresentou suas propostas segundo os eixos temáticos já previamente definidos. as propostas individuais dos participantes foram em um primeiro momento ordenadas por meio do preenchimento do Formulário de Diagnóstico Territorial eletrônico. Os participantes se dividiram em gestores públicos, membros de organizações não governamentais, membros de movimentos sociais, integrantes do segundo setor (empresários e investidores), líderes religiosos e sociedade civil. A condução ocorreu guiada por um representante do Fórum Regional onde foram debatidas as propostas apresentadas e sendo votado as consideradas como prioridade para aquele momento.
A votação aconteceu de forma harmônica buscando sempre um consenso entre os participantes, fato que deixou claro uma interação cooperativa entre desconhecidos que apresentavam propostas diferentes em torno de um mesmo tema, lógica da busca para o melhor da Regional prevaleceu. Mesmo não sendo todas as propostas escolhidas, os atores que levaram sua demanda contribuíram para a adequação e evolução das propostas mais votadas, buscando uma abrangência maior na escrita das ações daquelas propostas que seriam posteriormente definidas como prioridade e encaminhadas à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG) para ser incluídas no plano de ação do governo de Minas Gerais. Esta ação corroborou para o objetivo geral do governo ao nortear o investimento estadual em ações e projetos para a redução da desigualdade regional, sendo possível assim, investir o orçamento de forma coesa e eficaz. A gestão social está visivelmente representada nestas ações, a prática demonstrando uma possibilidade de existência da relação dialógica. 
Regional Vertentes: Etapa Devolutiva das Propostas
Sendo a proposta dos Fóruns Regionais parte de um novo modelo de gestão em Minas Gerais, a dinâmica continuou e já no ano de 2016 o colegiado executivo do fórum Regional Vertentes foi instalado, sendo este colegiado composto por 25 membros da sociedade civil entre titulares e suplentes, 16 representantes do governo estadual, prefeitos, vereadores, representantes do Legislativo estadual e federal, Executivo, Judiciário – Ministério Público, Tribunal de Justiça de Minas Gerais e Defensoria Pública Estadual, tendo esta última a função de acompanhar e monitorar a avaliação de programas e políticas públicas das propostas que foram implementadas no plano de governo, além de promover e coordenar o funcionamento dos Fóruns nos territórios. A importância da continuação do processo foi ressaltada na fala de do coordenador estadual dos Fóruns Regionais, Fernando Tadeu David, na reunião da etapa devolutiva na regional vertentes, “Todo esse trabalho irá contribuir continuamente com o aprimoramento e democratização da gestão pública, sempre com a devida atenção a questões específicas de cada território”.
O Território também listou as prioridades apresentadas pela sociedade civil que deverão ser implementadas nos próximos anos de mandato. Após as duas primeiras etapas deste processo e a coleta e discussão das propostas, mais uma análise ainda foi realizada por secretarias estudais e órgãos do governo para a escolha e alocação dos problemas e necessidades apontados pela população. Alguns números já foram apresentados e mostraram que na participação das etapas já concluídas do processo cerca de 1.401 pessoas efetivaram sua participação, levantando um total de 982 problemas e necessidades para comporem o Diagnóstico Territorial, deste total foram priorizadas pelo governo 92 ações das propostas levantadas. 
 
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais
O colegiado foi instalado no município de São João Del Rei contando com cerca de 90 pessoas presentes na reunião, onde foram expostas as necessidades apontadas pela população priorizadas pelo governo no Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). Foi apresentada pelo subsecretário de Gestão da Estratégia Governamental da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (SEPLAG), a situação financeira e orçamentária do estado. Segundo o subsecretário, as despesas estaduais vinham crescendo superiormente a arrecadação e os números aprovados no orçamento do ano de 2014 estariam distantes da realidade financeira do estado no momento. 
Na realidade do munícipio de São João Del Rei foi alertado o fato do colegiado executivo ser formado em sua grande maioria por homens, alertando a necessidade do empoderamento feminino na política. Também de similar importância foi exposto um fato muito importante no contexto político partidárioregional ao ser relatado que alguns gestores municipais tinham uma certa desconfiança com o plano de governo e com isso participavam em menor escala das atividades e diálogos propostos. Alguns números demonstrados na cartilha da devolutiva das propostas e necessidades do território regional vertentes mostram dados que podem ser analisados dentro desta colocação. Foram apresentados dados que demonstraram o cenário de participação municipal. Desde o envio das propostas iniciais apenas 12 municípios (cerca de 24%) participaram da primeira etapa dos fóruns regionais, por sua vez, a segunda etapa dos Fóruns contara apenas com 7 municípios (cerca de 14%), em uma análise mais ampla nestas duas etapas tiveram representação e participaram um total de 29 dos 50 municípios da regional (cerca de 58%). Ainda foi constatado que somente 2 municípios não participaram de nenhuma das etapas.
A secretária executiva do Fórum Regional Vertentes relatou sobre o efeito surtido pela desconfiança por parte de representantes de partidos opositores, fazendo diminuir a possibilidade de adesão ao projeto de governo estadual. Outro dado importante relatado pela secretária foi sobre a área da saúde, segundo a entrevistada, foi o segundo tema mais mencionado no diagnóstico territorial realizado, sendo reconhecido como eixo de grande importância pela sociedade civil, este fato fez com que fossem geradas várias propostas dentro da temática, como por exemplos: preocupação com uma alimentação saudável e comercialização de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar.
O diagnóstico territorial da regional vertentes segundo suas propostas, expôs as principais preocupações dos participantes demonstrando através dos dados recolhidos em quais eixos temáticos se concentraram, com mais efetividade, as propostas. O Território Vertentes entre os 17 fóruns foi o quinto em número de propostas, com a regional do Mucuri em primeiro lugar no número de propostas sendo um total de 1596 e com o menor número de proposta com apenas 269, a regional do Triângulo Mineiro. No geral o governo estadual contabilizou um total de 12.689 propostas em todos os territórios, divididas nos cinco eixos temáticos propostos no programa. Em números de propostas o eixo com maior adesão de envio das necessidades da população no âmbito estadual foi o eixo 1: Desenvolvimento Produtivo, Científico e Tecnológico com 3.681 propostas, representando 29% do total. O segundo tema com mais propostas foi o eixo 3: Saúde e Proteção Social com 3.204 propostas o que representa 25%. O terceiro, o eixo 5: Educação e Cultura com 2.386 propostas, representando 19%. O quarto foi o eixo 2: Infraestrutura e Logística com 2.036 propostas o que remete a 16% do total. E o quinto em número de propostas foi o eixo 4: Segurança Pública, com 1.382, representando 11% do total. 
Analisando a regional Vertentes com um total de 982 propostas como já mencionado, nota-se características de representação parecidas com as apresentadas acima sobre o total geral das 17 regionais. As propostas e necessidades do território Vertentes se dividiram da seguinte forma:
	Eixos Temáticos
	Total de Propostas
	Eixo 1: Desenvolvimento Produtivo, Científico e Tecnológico
	277 propostas 
	Eixo 3 Saúde e Proteção Social
	273 propostas
	Eixo 5 Educação e Cultura
	196 propostas
	Eixo 2 Infraestrutura e Logística
	182 propostas
	Eixo 4 Segurança Pública 
	054 propostas
Fonte: dados dos Fóruns Regionais/MG
Estes resultados da regional quando comparados ao total estadual mostram as sequências dos eixos segundo a ordem decrescente das propostas, iguais. Ou seja, em um contexto local e estadual as necessidades apresentadas segundo os temas, foram designadas às áreas onde pode haver uma maior necessidade ou interesse público que seria o caso do eixo 1 e o eixo 3. Mas isso não quer dizer que os outros eixos sejam menos importantes ou necessitem de menor atenção do poder público, o fato do eixo 4 Segurança Pública conter a menor quantidade de propostas apresentadas não significa que este tema esteja em condições melhores de organização e efetividade no Estado ou território, mesma análise pode ser feita para as propostas dos eixos 2 e 5. 
Considerações Finais 
A recente necessidade no cenário brasileiro de processos democráticos e espaços públicos são conquistas de mais de quatro décadas de lutas da sociedade civil. A dialogicidade que a Gestão Social preconiza encontra convergências neste processo que o país ainda vivencia. As disparidades sociais e as desigualdades abissais que marcam a realidade brasileira buscam em articulações como os Fóruns Regionais um equilíbrio e um papel de corresponsabilidade nas ações governamentais. 
Mesmo perante às fragilidades, abrir espaços e mobilizar atores regionais em prol do desenvolvimento do Estado deveria ser parte do planejamento de qualquer esfera governamental. A experiência estudada neste artigo analisou um fenômeno de bases associativistas, trata-se de um processo ainda em andamento sendo impossível afirmar se um ideário político-partidário de poder prevalecerá. No entanto, não se pode negar a importante ação do governo estadual em regionalizar a administração pública de Minas Gerais tornando as políticas públicas mais coerentes e direcionadas. 
A experiência dos Fóruns Regionais foi contemplada com a indicação do prêmio da ONU para o Serviço Público, o projeto competiu com iniciativas de outros 33 países da América Latina e Caribe. Para o governador do estado é chancela de que o modelo de “ouvir para governar” de forma descentralizada, territorializada, deu certo em Minas Gerais.
Ações políticas de participação social seja em qual for o projeto empregado pelo governo representa um avanço ou melhoria mínimo em articulações efetivadas junto à população. Historicamente a gestão pública pouco recorreu à participação popular para processos decisórios relativos à distribuição de recursos. Esta constatação remete à consideração de que as experiências participativas, como a analisada neste trabalho, representam a possibilidade de evolução do processo participativo.
Experiências efetivas de representatividade política civil que sejam abrangentes à sociedade colhendo informações levantando demandas e opiniões geram um planejamento governamental onde programas e projetos se tornam capazes de diagnosticar os reais problemas e direcionar os gastos públicos em áreas e locais com maior necessidade e prioridade. Essas ações quando praticadas com excelência tendem a reduzir a disparidade econômica e social de municípios, regiões, estados e até mesmo de uma nação.
As fragilidades de uma experiência desta natureza podem ser constatadas, dentre elas a dificuldade de circulação e disseminação de informação e o desafio da participação da sociedade, neste caso especificamente os encontros, em sua maioria, aconteceu em dias, horários e locais fora do cotidiano da maioria da população. Isso implicou em uma participação popular reduzida se tornando um empecilho de uma maior efetividade do projeto de governo.
A Gestão Social trata a relação Estado e sociedade destacando o protagonismo da sociedade, ou seja, o processo decisório estatal ao ser compartilhado com as demandas sociais se torna participativo e há a possibilidade de acordo alcançado por meio de uma discussão crítica. Na visão desta teoria um processo intersubjetivo e dialógico, onde todos têm direito à fala.
Pode-se considerar que a participação popular se transformou em uma política de estado. Ainda trata-se de um processo em desenvolvimento que merece uma análise mais aprofundada em seu término, está é grande questão que este trabalho deixa para futuras pesquisas. Há um rico campo de investigação para compreender como estes canais de diálogo efetivamente geraram resultados e qual será seu legado. 
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