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4
O afeto e a arte
de cuidar
Ruth Cavalcante
Universidade Aberta do Nordeste 50
O afeto e a arte de cuidar
Ruth Cavalcante
Ao fi nal da leitura deste material espera-se que o cursista seja capaz de:
• Relacionar afeto e convivência;
• Destacar o cuidado como consequência do afeto – cuidar de si, do outro e da Terra;
• Refl etir a afetividade no cotidiano das pessoas – cuidado e relações afetivas;
• Vincular a solidariedade com expressão do afeto – a dimensão espiritual do ser.
O afeto e o cuidado na convivência. O que é cuidar? Como o cuidado inter-
fere em nossas relações afetivas. Cuidar de si, do outro, cuidar da Terra, é possível 
fazer isso? O sentido da afetividade no cotidiano das pessoas. O cuidado como con-
sequência do afeto. A solidariedade como a mais elevada expressão da afetividade.
Introdução
É senso comum a ideia de que a humanidade vive hoje um grande paradoxo, isto é, 
vivemos um tempo contraditório. Por um lado estamos imersos numa crise de ci-
vilização oriunda de uma cultura antropocêntrica1 que apela para o individualismo, 
o consumismo e a competição desenfreada. A visão fragmentada, dicotomizada2 da 
realidade traz como resultado a destruição ambiental e a dissociação das pessoas.
Por outro lado, o avanço cada vez mais acelerado nas comunicações, o desen-
volvimento da informática e da tecnologia espacial se constituem como os principais 
responsáveis pelo surgimento de ambientes onde as pessoas, em rede, interagem em 
tempo real ultrapassando as distâncias. 
O acesso à informação e à socialização do saber foi facilitado. Ao mesmo tem-
po, criou uma perspectiva de urgência. Esse paradoxo gerou uma profunda insegu-
rança, afetando a vida de todos e tornando imprescindível uma nova postura ética. 
Para sair dessa situação, cada pessoa precisa conhecer o seu mundo, os com-
ponentes que habitam este mesmo solo e que se alimentam das mesmas fontes nu-
trientes advindas do nosso planeta Terra. Além do autoconhecimento precisamos co-
nhecer a história do lugar onde vivemos como seres históricos e sociais que somos; 
compreender os mestres, poetas, cantadores, os fundadores da civilização local, atra-
vés da convivência e diálogo com eles criaremos relações e vínculos entre as pessoas.
Afeto e convivência
Afeto é um sentimento terno, de simpatia, uma afi nidade que temos por uma pes-
soa ou um animal. Leva-nos à identifi cação com os demais e, por meio dele, po-
demos aprender a amar, compreender e cuidar com delicadeza da convivência 
humana. Assim, podemos perceber novos horizontes, nos abrirmos para sonhar, 
acreditando no futuro e confi ando que o amanhã poderá ser melhor com a nossa 
ação, procurando tornar melhor o nosso viver e conviver.
1. Antropocen-
trismo: pensa-
mento que coloca 
o ser humano no 
centro
2. Dicotomia é a 
divisão de algo 
em duas partes 
gerando a noção 
de contrários e 
complementares. 
Por exemplo: 
alegria/tristeza; 
homem/mulher, 
ordem/desordem.
volvimento da informática e da tecnologia espacial se constituem como os principais 
responsáveis pelo surgimento de ambientes onde as pessoas, em rede, interagem em 
tempo real ultrapassando as distâncias. 
po, criou uma perspectiva de urgência. Esse paradoxo gerou uma profunda insegu-
rança, afetando a vida de todos e tornando imprescindível uma nova postura ética. 
ponentes que habitam este mesmo solo e que se alimentam das mesmas fontes nu-
trientes advindas do nosso planeta Terra. Além do autoconhecimento precisamos co-
nhecer a história do lugar onde vivemos como seres históricos e sociais que somos; 
compreender os mestres, poetas, cantadores, os fundadores da civilização local, atra-
vés da convivência e diálogo com eles criaremos relações e vínculos entre as pessoas.
Afeto e convivência
Afeto
acreditando no futuro e confi ando que o amanhã poderá ser melhor com a nossa 
Direitos Humanos e Geração de Paz51
Edgar Morin, a pedido da Unesco, fez uma profunda reflexão sobre a edu-
cação do futuro, sistematizada em sua obra Sete saberes necessários à educação do futuro 
(2000). Seu estudo já nos apontava uma direção para melhor entendermos em que 
mundo vivemos. Mostrou-nos os Sete Saberes: 
1. As cegueiras do conhecimento - o erro e a ilusão (todo conhecimento 
comporta o risco do erro e da ilusão);
2. Os princípios do conhecimento pertinente (o conhecimento do mundo 
como é necessidade e ao mesmo tempo intelectual e vital);
3. Ensinar a condição humana (quem somos? é inseparável de “onde esta-
mos?”, de onde viemos? para onde vamos?);
4. Ensinar a identidade terrena (somos produto do desenvolvimento da vida 
da qual a Terra foi matriz e nutriz);
5. Enfrentar as incertezas (o futuro permaneça aberto e imprevisível);
6. Ensinar a compreensão (o problema da compreensão tornou-se crucial 
para os humanos);
7. E a ética do gênero humano (a ética humana deve ser considerada como a 
ética da cadeia dos três termos: indivíduo/sociedade/espécie).
Hoje, mais de dez anos depois, ele dá destaque para o Saber “ensinar a com-
preensão”:
Lembremos-nos de que nenhuma técnica de comunicação, do 
telefone à internet, traz por si mesma a compreensão. A compre-
ensão não pode ser quantificada. Educar para compreender a ma-
temática ou uma disciplina determinada é uma coisa; educar para 
a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a missão pro-
priamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as 
pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e 
moral da humanidade (Morin, 2000, p. 93)
Dessa forma, não basta estarmos acompanhando o progresso da era das co-
municações, pois seguramente não será por aí que chegaremos a compreender o 
outro e a nós mesmos. Assim, qualquer pensamento, atitude ou movimento nos-
so, deve ter como princípio a compreensão humana que se expressa no cuidado e 
no respeito à vida.
Vivemos também uma crise de percepção da realidade Para solucioná-la, uma 
única razão ou verdade não é suficiente. Para enriquecê-la, devemos inserir muitas 
dimensões: procurar novo sentido de viver e atuar numa atitude de ternura e cui-
dado para com a vida; estabelecer uma nova aliança de paz com todas as espécies; 
estabelecer nova convivência entre os humanos e demais seres vivos. Essa nova 
visão apresenta-se biocêntrica, ecológica e espiritual, com base numa percepção de 
interação e unidade de todas as coisas.
Universidade Aberta do Nordeste 52
A visão biocêntrica está baseada na ideia de que o ser humano é, ao mesmo 
tempo, criatura e criador, com capacidade de transformar e recriar espaços, saberes, 
histórias. Mudar nossa forma de ser e de estar no mundo. De nos reconhecermos 
como ser-no-mundo (sentimento de pertencimento com os demais seres vivos) e 
ser-do-mundo (capacidade de transformá-lo). Pode-se redesenhar nossa ação no 
mundo, refazendo caminhos de conexão com a vida. O ser humano, como ser his-
tórico, nunca está pronto, está sempre se refazendo. 
O escritor João Guimarães Rosa diz, através do seu personagem Riobaldo: 
“o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre 
iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam 
ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou”. O crescimento está na 
convivência e nos vínculos conosco, com os outros e com o entorno que envolve a 
natureza, o sagrado, a totalidade.
Nossa humanidade é despertada com a redescoberta do motivo para o qual 
existimos. A partir de pequenos ou grandes acontecimentos poderemos enxergar e 
enriquecer o nosso cotidiano. Despertar a compaixão pelo social, a vontade de aju-
dar e a solidariedade que todos nós carregamos em nossos corações.
Reconhecendo a sacralidade da vida, torna-se mais fácil sanar os problemas 
que nos atormentam e reconhecer também que a vida é um presente que nos foi 
dado e que deve ser muito bem guardado.E onde podemos encontrar a fonte para nos tornarmos mais cuidadosos? A 
banalização do significado do sentimento de amor dificulta à grande maioria das 
pessoas compreenderem que a fonte de tudo é o amor.
A compreensão e o cuidado se nutrem do amor, da ternura e dos vínculos 
que desenvolvemos nos gestos mais simples. Gestos como a gentileza, a confiança 
no outro, o acolhimento nos momentos necessários. Gestos que se manifestam 
mesmo através de um simples olhar acolhedor. Tudo pode vir de forma natural, 
mas podemos também aprender, pois todo ambiente social é um ambiente de 
aprendizagem. Maria Cândida Moraes (2003) nos traz as teorias de Humberto 
Maturana, biólogo chileno, que nos diz que o amor “é um fenômeno biológico 
básico e cotidiano. Como seres vivos, agimos a partir do amor e somos dependen-
tes dele” (p. 268).
Sem amor não podemos nos considerar seres sociais. Ele é a força de agregação 
que nos faz sentir em comunhão com o outro. O que vale para as pessoas vale tam-
bém para a comunidade e para o planeta. Paulo Freire, nosso maior educador de todos 
os tempos, lutou a vida toda para construir “um mundo onde amar seja possível”.
Na sua última entrevista, ele afirma que gostaria de ser lembrado como um 
sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as 
águas, a vida. Ele não tinha receio de falar de amor, nem de política. Considerava a 
educação como um ato político.
Direitos Humanos e Geração de Paz53
Como um ser relacional, também considerando a temporalidade, podemos 
rever o ontem, reconhecer o presente e descobrir e construir o nosso amanhã crian-
do e recriando a nossa realidade. De acordo com as relações que estabelecemos, 
podemos transformar a nossa própria história sem medo de cultivar o amor apon-
tado como o caminho do encontro humano. Não podemos separar o intelecto, a 
construção do conhecimento, das nossas relações afetivas. Sabemos que a afetivi-
dade ainda se constitui uma das funções psicológicas mais perturbadoras e reprimi-
das dentro do mundo racional, quer no âmbito educacional, social, político, como, 
muitas vezes, até no âmbito familiar.
Chico Buarque, ícone da música brasileira, compôs canções que imediata-
mente se tornavam sucesso. Em 1989, Tom Jobim, outro importante compositor 
brasileiro, em carta a Chico Buarque, o descreveu como: “Homem do povo, Fla 
flu, calça Lee, Carradas de Razão, Mamão, Jacarandá, Macuco, Pierrot e Arlequim. 
Você é tanta coisa que nem cabe aqui. Inovador preservador, reencarnado, redivo, 
Mestre da Língua...”. Aos 22 anos, em 1967, compôs A Banda que se relaciona com 
esse tema: Exalta o amor com muita simplicidade.
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Todos saíram de sua rotina e se irmanaram “cantando coisas de amor”.
Quais são meus gestos e atitudes do meu dia a dia que dão sentido ao meu viver?
Inteligência afetiva
A afetividade dá estrutura à inteligência que o cientista chileno Rolando Toro 
(2012) chamou de “inteligência afetiva”. Ele acredita que todas as inteligências – 
motora, espacial, interpessoal, etc; têm uma fonte comum, que é a afetividade. 
Entendendo que a inteligência se constrói socialmente, concluímos que a in-
teligência afetiva se desenvolve através dos vínculos. Destacamos três vínculos fun-
damentais: conosco mesmo, com o outro e com a totalidade. Chamamos totalidade 
a algo maior a que pertencemos. Pode ser uma família, um grupo de trabalho, uma 
turma na escola, uma empresa, uma comunidade. Mas também podemos pensar na 
totalidade como uma nação, o planeta Terra e o cosmos! 
O vínculo conosco mesmo gera uma força que impulsiona nossa existência, 
nos capacitando a escutar nossas emoções e sentimentos, saber o que queremos, 
nossas necessidades. Reconhecemos qual o caminho queremos, criando condições 
de segui-lo (Cavalcante, 2007).
Universidade Aberta do Nordeste 54
Como potencializar os níveis de vinculação consigo mesmo, com o outro e 
com a totalidade? 
Ora, no nosso cotidiano todos temos hábitos, costumes, criamos rotinas, mas 
o que produz mudanças no nosso modo de ser são os rituais de vínculos, ou seja, 
simples gestos ou cerimônias que tornam o momento pleno de sentido e fortalecem 
nossos laços afetivos. Quanto mais vínculos criamos, mais desenvolvemos nossa 
inteligência afetiva.
Os rituais de vínculos do nosso cotidiano possibilitam uma maior percepção 
do que é essencial da vida humana e do universo como um todo e nos permitem 
uma verdadeira conexão com o sagrado, o que nos levará a uma nova sensibilidade 
frente ao viver e ao conviver.
É ainda Rolando Toro (2008) quem nos faz uma refl exão sobre esse tema:
Os rituais de vínculos vêm se perdendo nas comunidades hu-
manas em meio da banalidade e precipitação de nossos compor-
tamentos atuais. Os rituais são atos que unem os grupos sociais 
na invocação de uma permanência essencial de certos comporta-
mentos de vínculos para senti-los em profundidade com pureza 
ética. Os rituais implicam assumir uma responsabilidade frente à 
vida para consolidar um sentido de sacralidade. 
A inteligência afetiva se constrói no sentido elaborado, na construção de senti-
do vivido. Por isso damos ênfase ao sentido. A qualidade da inteligência se organiza 
na fonte afetiva. Ela aproxima a percepção a um sentido da realidade e conecta a vida 
com o signifi cado essencial dos fatos. O vínculo afetivo cria a necessidade da ação 
coletiva e potencializa nossa inserção na comunidade.
O cuidado como consequência do afeto 
Cuidar é uma atitude de envolvimento afetivo com algo que vai além de nós mes-
mos, alcançando dimensões da esfera pessoal, social, ecológica e espiritual. É parte 
da essência do ser humano, a sua raiz primeira. O homem é o único ser vivo que 
tem uma dependência fundamental do cuidado. Desde o seu nascimento é total-
mente dependente do cuidado do outro. Sem ele pode vir a morrer. O cuidado é 
um parâmetro para se compreender o que é humano.
O ato de cuidar é um aprendizado contínuo. Podemos aprender a cuidar de 
nós mesmos atendendo as nossas necessidades autênticas; ter coragem de pedir e 
aceitar ser cuidado; cuidar do outro buscando uma sintonia que requer entrar em 
intimidade para captar as necessidades do outro numa convivência amorosa; cuidar 
do nosso planeta Terra e da vida em todas as suas manifestações como propõe a cul-
tura biocêntrica (Góis, 2008).
É ainda Rolando Toro (2008) quem nos faz uma refl exão sobre esse tema:
A inteligência afetiva se constrói no sentido elaborado, na construção de senti-
do vivido. Por isso damos ênfase ao sentido. A qualidade da inteligência se organiza 
na fonte afetiva. Ela aproxima a percepção a um sentido da realidade e conecta a vida 
com o signifi cado essencial dos fatos. O vínculo afetivo cria a necessidade da ação 
coletiva e potencializa nossa inserção na comunidade.
O cuidado como consequência do afeto 
Cuidar é uma atitude de envolvimento afetivo com algo que vai além de nós mes-Cuidar é uma atitude de envolvimento afetivo com algo que vai além de nós mes-Cuidar
Direitos Humanos e Geração de Paz55
Góis (2012) fala do cuidado na educação:
Cuidar da educação é cuidar da germinação humana, é cuidar 
do amor. Não é um caminho fácil, é preciso sentir o coração 
da natureza e perceber a profunda e sutil realidade do desdo-
bramento do mundo em diversidade, conexão, complexidade, 
autocriação e transcendência. Entendemos a educação desse 
modo, uma educação permanente, biocêntrica, um vínculo de 
diálogo e amor gerado e sustentado na vida. Educar assim é par-
ticipar inteiro. Quem educa é mestre e este, antes de tudo, é a 
natureza em nós. (p. 53)
A nossa tarefa é promover o direito à vida como base de todos os direitos e 
valores universais.Dar centralidade ao cuidado, significa colocar em primeiro plano 
o interesse coletivo da sociedade, da nossa comunidade mais próxima e de todos os 
organismos vivos assim como do planeta Terra.
A maior vivência do ser humano acontece quando ele consegue aprofundar 
seus sentimentos manifestados no afeto e no cuidado trazendo consequentemente 
compromisso com os outros e com o mundo. É o sentimento que nos faz sensível 
a tudo que nos rodeia, nos envolvendo, nos emocionando e nos encantando com 
os nossos semelhantes, com as plantas, com os animais e todas as manifestações da 
natureza.
Ao cultivar em nós o afeto, podemos com mais facilidade detectar as expres-
sões doentias da afetividade e nos enchermos de indignação diante da discrimi-
nação social, dos preconceitos contra os marginalizados, os deficientes, repressão 
política, o racismo e toda forma de injustiça que resulta em pessoas abandonadas 
vivendo na mais absoluta miséria, muitas vezes presas e torturadas. O afeto nos 
deixa tocar o universo da consciência humana nos tornando a voz dos excluídos, 
sonhando com um mundo de justiça e paz. 
A afetividade é responsável por dar origem a nossos sentimentos que inspiram 
atitudes de cuidado com o amor indiferenciado a todos os seres vivos. Mas também 
com amor diferenciado dirigido às pessoas que elegemos para viver junto, forman-
do um par amoroso ou mesmos elegendo e construindo as amizades. Podemos de-
senvolver uma cultura orientada pela vivência do afeto, da alegria diante do outro, 
da igualdade e justiça, da cooperação com respeito à diversidade gerando uma con-
vivência harmoniosa. Criando rede de cuidados e atuação solidária em ambientes 
comunitários, nas escolas, organizações e comunidades irmanados pela libertação e 
transformação profunda a favor da promoção da vida.
Somos dotados de razão, mas as emoções e sentimentos se refletem inclusive 
nas nossas respostas racionais. Mas, como seres de razão e sentimentos, poucas ve-
zes nos deixamos levar pela lógica do coração, onde habita o afeto. Alguém vivendo 
sob a emoção de raiva intensa poderá agir de modo que não faria se estivesse no seu 
Universidade Aberta do Nordeste 56
estado normal. Fazemos uma diferenciação entre emoções e sentimentos. As emo-
ções básicas como alegria, tristeza, raiva e medo não se manifestam apenas no ser 
humano, mas também em outros seres vivos.
Já a afetividade, expressa pelos sentimentos de amor, amizade, empatia, so-
lidariedade, indignação, consciência ética, é própria da evolução humana e surge 
a partir de afinidades profundas. Esses sentimentos se diferenciam das emoções. 
Estas são passageiras e se produzem no momento presente, necessitam de um 
estímulo especifico para desencadeá-las com atitudes de aceitação ou rejeição. Os 
afetos têm funções mais complexas, transcendem o espaço e o tempo dando aces-
so à transcendência e induzem sentimentos como os citados e ainda aceitação, 
compromisso e generosidade.
Um exemplo de sentimentos que duram por toda a vida é a maternidade e 
a paternidade, tanto biológica quanto a da escolha sócio-afetiva. Já o altruísmo e a 
solidariedade nos impulsionam a cuidar do outro que, muitas vezes, nem conhe-
cemos. Também pode se ter sentimentos opostos a todos esses, porém quando es-
tamos imbuídos de um ideal de harmonia, alimentamos aqueles sentimentos que 
geram vida dentro da vida. 
Madre Tereza de Calcutá é um dos arquétipos3 do cuidado e foi contemplada 
com o prêmio Nobel da Paz. Leonardo Boff diz que o cuidado era sua característica: 
“ela cultiva um carisma de tocar as pessoas com ternura, em sua pele, seus corpos e 
em suas chagas e conclama a tocá-los, lavá-los, alimentá-los. A mão que toca porque 
leva carícia, devolve a confiança, oferece acolhida e manifesta cuidado. A mão faz 
nascer a essência humana naqueles que são tocados”. (p. 170)
O ser humano, como todo ser vivo, é orgânico e se reconhece na sua corpo-
reidade. E quando estamos num estado de sensibilidade diante do outro, isso se 
torna evidente. Por isso, onde há pessoas marginalizadas por causa da cor, religião, 
origem, língua, sexo ou sexualidade, nos sentimos identificados com eles e zelamos 
pelo seu direito à vida digna.
A base de todos os direitos é o direito à vida além de outros valores universais 
que cuidam da vida.
Hoje sabemos que temos um compromisso universal a ser respeitado no “aqui, 
agora” e no futuro da vida humana e de todos os seres vivos. É o compromisso de 
cuidar do planeta Terra. Estamos cada vez mais conscientes que não só pertencemos 
à Terra, mas que somos a Terra. Daí a necessidade urgente de alimentarmos a nossa 
intimidade com ela para alcançarmos a harmonia que surge desse sentimento de 
unidade e pertencimento. A Terra, como um organismo vivo e em evolução, onde 
os seres humanos se organizam como uma única comunidade compartilhando a 
mesma morada com outros seres e coisas.
3. Arquético: 
modelo ao qual 
se atribuem 
perfeição ou 
sublimidade
Direitos Humanos e Geração de Paz57
Criando redes de cuidado – núcleos afetivos
É urgente criarmos redes de cuidado e atuação solidária integrando o nosso pensar, 
sentir e agir com uma linguagem afetiva sabendo que todos os seres vivos estão in-
terligados nutrindo uns aos outros. 
O núcleo afetivo da existência está vinculado à essência da nossa identidade, 
essa forma singular de ser de cada um de nós. A estrutura da existência tem suas ba-
ses na resposta da nossa própria identidade a três enigmas: onde quero viver, com 
quem quero viver e o que quero fazer.
Os três grandes componentes afetivos do núcleo existencial, que chamamos “Projeto 
Existencial”, estão profundamente ligados e são a força que impulsiona a nossa existência.
Fazemos uma pergunta para cada núcleo. E não é fácil respondê-las. Muitas 
vezes encontramos obstáculos e medos existenciais que nos paralisam, comprome-
tendo a nossa coragem de superá-los. 
Entramos em confl ito com os valores e crenças que, muitas vezes, nos são 
impostos pela família, religião, visão política e também pela sociedade. Todo pro-
cesso de mudança implica reconciliar nossos hábitos, atitudes e comportamentos. 
Precisaremos de coragem para vencer os desafi os que um novo estilo de vida vai 
exigir. Todas as nossas escolhas trazem consequência, mas podemos recebê-la com 
determinação e alegria.
Quem está saudável escuta suas emoções e sentimentos, sabe o que quer da 
vida, quais as reais necessidades do seu cotidiano, reconhece seu caminho e segue 
por ele até quando surgem novas possibilidades. Recebe pouca infl uência da mí-
dia que procura manipular nossos desejos, necessidades e valores. Para alcançar 
tal autonomia temos que buscar sempre responder a estas perguntas sabendo que 
a gênesis deste projeto existencial se inicia nas emoções e sentimentos e não no 
pensamento.
1° núcleo afetivo: Onde quero viver
Onde procurar disposição para sair do lugar (físico ou emocional) que não me agra-
da e buscar outro espaço? É nossa necessidade de útero, de ninho, que nos conduz 
a uma espécie de eterno retorno à procura de nossas origens. O espírito de caverna 
está vinculado ao útero, guarida, casa. Esse lugar é diferente para cada um. É a terra 
da promissão. É um modo de ser no mundo que tem como componente essencial a 
afetividade e a consciência. Tem a coragem de pôr limites à violência, aos ambientes 
e situações tóxicas, sem perder a compaixão.
Diz respeito à casa de morada, o país-nação onde nasceu, ao planeta Terra. 
Contudo temos liberdade de escolher onde queremos viver. Buscar um lugar que 
nos ofereça maior ressonância com nosso ser, onde nos sintamos confortáveis e 
seguros. Manuel Bandeira expressou esse desejo de buscar um lindo lugar no seu 
poema “Vou-me embora pra Pasárgada”. Vamos ler um trecho:
Os três grandes componentes afetivos do núcleo existencial, que chamamos “Projeto 
Existencial”, estãoprofundamente ligados e são a força que impulsiona a nossa existência.
Fazemos uma pergunta para cada núcleo. E não é fácil respondê-las. Muitas 
vezes encontramos obstáculos e medos existenciais que nos paralisam, comprome-
Entramos em confl ito com os valores e crenças que, muitas vezes, nos são 
impostos pela família, religião, visão política e também pela sociedade. Todo pro-
cesso de mudança implica reconciliar nossos hábitos, atitudes e comportamentos. 
Precisaremos de coragem para vencer os desafi os que um novo estilo de vida vai 
exigir. Todas as nossas escolhas trazem consequência, mas podemos recebê-la com 
Quem está saudável escuta suas emoções e sentimentos, sabe o que quer da 
vida, quais as reais necessidades do seu cotidiano, reconhece seu caminho e segue 
por ele até quando surgem novas possibilidades. Recebe pouca infl uência da mí-
dia que procura manipular nossos desejos, necessidades e valores. Para alcançar 
tal autonomia temos que buscar sempre responder a estas perguntas sabendo que 
a gênesis deste projeto existencial se inicia nas emoções e sentimentos e não no 
Onde procurar disposição para sair do lugar (físico ou emocional) que não me agra-
da e buscar outro espaço? É nossa necessidade de útero, de ninho, que nos conduz 
Universidade Aberta do Nordeste 58
“[...] Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada
E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
— Lá sou amigo do rei — 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada.”
(Texto extraído do livro Bandeira a Vida
Inteira, Rio de Janeiro: Editora Alumbramen-
to, 1986, p. 90)
2° núcleo afetivo: Com quem quero viver 
É o desejo de nos identificar com o outro, de nos sintonizar com a forma de ser do 
outro frente à complexidade do ser humano, de desenvolvermos a confiança em nós 
mesmo e nos outros. É uma comunhão com a espécie. Estabelecer compromisso 
afetivo, de sentir amor, amar e ser amado. A busca de uma convivência harmoniosa 
pelo prazer de estar junto.
É uma peregrinação em busca de uma comunicação essencial, autêntica e en-
cantadora com outra ou outras pessoas. Uma busca do encontro humano até descobrir 
uma ressonância única, capaz de entrar em intimidade de forma espontânea que gera 
prazer na companhia. Superar o drama existencial de não encontrar o companheiro(a) 
ou não o(a) reconhecer. Desenvolver a empatia, a capacidade de identificar-se com o 
outro, de entrar na situação do próximo é a condição essencial da consciência ética. 
A verdadeira evolução consiste na sacralização da relação com o outro, na ter-
nura e no vínculo. Ativar a sensibilidade que vincula a nossa existência à essência do 
outro. Escolher com quem quer viver exige uma sabedoria para buscar as pessoas 
com quem gostaria de estar, e reconhecer nesse encontro as afinidades profundas. 
Adquirir mais confiança em si mesmo. Ter uma boa comunicação com as pessoas, 
aprender a expressar as emoções e sentimentos.
3° núcleo afetivo: O que quero fazer
O que quero fazer em meio a uma infinidade de opções e possibilidades? Adquirir 
mais confiança em nós mesmos, termos uma boa comunicação com as pessoas, 
aprendermos a expressar nossas emoções e sentimentos. Qual é a minha vocação? (a 
Direitos Humanos e Geração de Paz59
voz que vem de dentro, o chamado “divino”). Qual é a minha verdadeira profi ssão? 
Como posso contribuir para melhorar o mundo com o meu ofício? Encontrar o 
ofício que mais atenda as nossas potencialidades.
Quando trabalhamos com a Educação Biocêntrica, mais diretamente relacionados 
com a ação pedagógica, fazemos as mesmas perguntas e refl exões voltadas para 
o ato de aprender:
Com quem quero aprender?
Onde quero aprender?
O que quero aprender?
A solidariedade como expressão do afeto – a dimensão
espiritual do ser
Quando crianças, sabíamos ler a linguagem da natureza. O que nos diziam as plan-
tas, os animais. Com o tempo esquecemos essa linguagem simbólica da diversidade. 
Fomos perdendo o sentido da percepção da natureza. Mas podemos reaprender o 
pleno sentido de tudo que foi criado. 
Nas palavras de Paulo de Tarso, em carta escrita aos Coríntios, no Novo Testa-
mento, encontramos a importância dada pelo apóstolo ao amor:
“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava 
como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a 
face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A 
maior delas, porém, é o amor.”
1 Coríntios Cap. 13, 11-13.
Somos um embrião de luz em meio a muitas sombras. Estamos em perma-
nente busca da vivência iluminadora. Essa religação é a dimensão espiritual do 
humano. O sentimento de estar ligado a tudo dando sentido ao viver e conviver. 
Impulsionando-nos a ter cuidado com a vida. Para que esta espiritualidade possa ser 
cultivada, precisamos vivenciar o signifi cado sagrado de tudo que existe. A espiritu-
alidade liga, religa e une-se a tudo. As instituições educacionais deveriam reservar 
espaços de interação e interiorização dos que estão sob sua responsabilidade para 
possibilitar a expressão desse sentimento inerente a todos nós.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), organismo ligado à ONU, com 
início em 1948, defi ne que saúde não é a ausência de sintomas e, sim, a presença de 
um estado pleno de bem-estar somático (corpo físico), psíquico e social. Posterior-
mente acrescentou o fator ambiental e o espiritual.
A espiritualidade não consiste na prática de uma religião que oferece um con-
junto de regras e crenças. É uma capacidade inata de todo ser humano e que se 
Universidade Aberta do Nordeste 60
desenvolve e se manifesta em todos os momentos da vida cotidiana. É o encontro 
profundo com nosso mundo interno sem perder o contato com tudo o que nos 
cerca, possibilitando a transcendência, isto é, ir além de nós mesmos.
A vivência espiritual muitas vezes surge no contato com a arte de um modo 
geral, com a poesia, a dança, a música e o canto.
Voltamos com a citação de Coríntios cap. 13, 11-13, agora em forma de canto, 
adaptado pela banda Legião Urbana, chamado Monte Castelo, que foi uma compila-
ção do trecho bíblico com o poema de Luís de Camões:
“Ainda que eu falasse
A língua dos homens 
E falasse a língua dos anjos, 
Sem amor eu nada seria.
É só o amor! É só o amor 
Que conhece o que é verdade. 
O amor é bom, não quer o mal, 
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói e não se sente; 
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer...”
A espiritualidade surge também quando reconhecemos as qualidades dos outros, 
e quando temos consciência de nós mesmos, seja de nossas próprias qualidades, seja de 
nossas limitações. É a busca pela paz interior, a paz de espírito que pode se desenvolver 
através da meditação, da oração, da contemplação da natureza, do relaxamento, da in-
trospecção. A busca pela paz mundial, que surgirá da ação cotidiana, do amor e respeito 
por todos os seres vivos. Ter sentimento de compaixão que promove o comportamento 
de humanização. Portanto, não se trata apenas de satisfazer um bem-estar pessoal.
Frei Betto (1999)diz que o jesuíta e filósofo francês Teilhard de Chardin, com 
seu pensamento filosófico, considerado inclusive um dos pioneiros do estudo da 
complexidade, afirma não existir fronteira entre o mundo concreto e o mundo espi-
ritual. Chardin organizou um método, um modo de ver as coisas sobre a harmonia 
do universo, que se contrapõe à visão fragmentada do pensamento cartesiano, frag-
mentado. Considerou que tudo está interdependente e que tudo é sagrado. Cha-
mou de “Ponto Ômega” o grau máximo de amadurecimento e aperfeiçoamento do 
universo, síntese total da evolução do universo e do ser humano.
Ele aproximou o pensamento filosófico da ciência e da fé. Concluiu que não ne-
cessitamos apenas nos aproximamos do ponto de vista do conhecimento teórico e cul-
tural. Necessitamos também ampliar a nossa intuição, desenvolver nosso afeto e ter 
vivência espiritual. Indica três fatores importantes sobre a evolução da humanidade:
A ascensão da humanidade ao Ponto Ômega seria pelo desenvol-
vimento espiritual, baseado em três fatores fundamentais:
1°. O amor, que Teilhard, qualifica de a mais universal, a mais 
formidável e a mais misteriosa das energias cósmicas;
Direitos Humanos e Geração de Paz61
2°. A unidade entre os seres humanos numa solidariedade que 
resguardaria cada originalidade;
3°. A sede de conhecimento, a partir da procura do sentido do 
universo. (BETTO, 1999, p. 114-5)
Um novo entendimento e compreensão de paz extrapola o conceito de apenas 
depor armas, mas buscar a paz social, religiosa, de gênero, ético e político. Para tanto 
precisamos exercitar a tolerância, o respeito e a dignidade humana, acolhendo as 
diferenças de todos os níveis. Diferença de classe, de idade, de gênero, de religião, 
de cultura. É a justiça que possibilita a paz.
Precisamos ter coragem e ousadia no nosso pensar, agir, sem nos afastarmos 
do comportamento ético, com extremo respeito para com o outro, a natureza e o 
mundo sustentadas nas nossas intuições, emoções, sentimentos e conhecimentos. 
Devemos estar alertas com a dicotomia entre o que somos e o que fazemos. Bus-
cando a coerência existencial entre o pensar, sentir e agir, pois nos formamos nas 
relações sociais em mudanças constantes podendo sempre descobrir e fazer coisas 
novas, diferentes. Estarmos dispostos para trocar experiência, para escutar, para dia-
logar, pois todos nós somos produtores de cultura e de conhecimento.
Precisamos reconquistar a dimensão espiritual, o novo projeto sagrado que 
esquecemos. Quando tornamos a vivenciá-la notamos que nossas ações passam a 
gerar um novo estilo de viver que influencia nossas relações e convivências com o 
outro e com a totalidade.
A ética do gênero humano aponta para uma cultura de cuidado e de paz com a 
vida em família, com a comunidade e com o planeta Terra. Permite uma integração 
conosco mesmos e com o social.
Se a sociedade é produto da criação do ser humano, significa que podemos 
mudá-la. Onde coabitem a responsabilidade e o prazer de viver existe alegria e har-
monia. Praticar a tolerância não é ser conivente com a falta de cuidado do outro. 
Cultivar o diálogo e a participação como elementos centrais para a integração do ser 
do ponto vista pessoal, social, ecológico e espiritual.
Religar os saberes acadêmicos com os saberes da vida prática e poética num 
diálogo com a vida vivida, integrando conteúdos afetivos e transcendentes. Cons-
truir uma sociedade mais justa, cooperativa e igualitária. Se for esse nosso sonho, 
nossa utopia de viver, temos de contribuir para sua realização.
Terminamos esta reflexão convidando para uma roda em um movimento sen-
sível, cantando junto com Maria Bethânia.
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Brincar de Viver
Guilherme Arantes / Jon Lucien
Quem me chamou? 
Quem vai querer 
Voltar pro ninho 
Redescobrir seu lugar...
Prá retornar 
E enfrentar o dia a dia 
Reaprender a sonhar...
Você verá que é mesmo assim 
Que a história não tem fim 
Continua sempre que você 
Responde “sim” 
A sua imaginação 
A arte de sorrir 
Cada vez que o mundo 
Diz “não”...
Você verá 
Que a emoção começa agora 
Agora é brincar de viver...
Não esquecer 
Ninguém é o centro do universo 
Assim é maior o prazer..
Você verá que é mesmo assim 
Que a história não tem fim 
Continua sempre que você 
Responde “sim” 
A sua imaginação 
A arte de sorrir 
Cada vez que o mundo 
Diz “não”...
E eu desejo amar 
A todos que eu cruzar 
Pelo meu caminho 
Como eu sou feliz 
Eu quero ver feliz 
Quem andar comigo...
Vem! 
Agora é brincar de viver! 
Agora é brincar de viver!...
Síntese do fascículo 
Diante do avanço e do progresso científico e tecnológico contemporâneo, o 
ser humano encontra-se num paradoxo: um volume de informações que, por 
um lado, facilitaria a comunicação, por outro lado, desenvolve um sentimento 
de isolamento, além de uma crescente violência contra as pessoas, a sociedade 
e a natureza agravando as desigualdades sociais em todos os países do mundo.
O processo histórico nos coloca hoje estas reflexões e nos impõe novos 
desafios e novas tarefas diante do tumultuado e potente momento contem-
porâneo. Como vimos, o momento atual requer uma abertura para o diálogo, 
para ouvir outras opiniões sobre nossos compromissos e ações. Entendendo a 
vida como uma entrelaçada teia de relações, sabemos que toda ação tem sérias 
implicações para o presente e o futuro da humanidade e da sobrevivência do 
nosso planeta Terra.
A qualidade da inteligência se organiza na fonte afetiva. Por isso, a deno-
minação de “inteligência afetiva”. Ela aproxima a percepção a um sentido da 
Direitos Humanos e Geração de Paz63
realidade e conecta a vida com o significado essencial dos fatos. O vínculo 
afetivo cria a necessidade da ação coletiva e potencializa nossa inserção na 
comunidade.
Hoje estamos frente a novos e grandes desafios diante da generalização da 
informação, daí a importância de cuidarmos das relações pessoais permeadas 
pelo cuidado e pelo diálogo com profundo respeito à pessoa, inclusive quando 
discordamos de suas ideias e pensamentos. Hoje estamos sendo convidados a 
despertar em nós a capacidade de sonhar com um mundo mais justo que atenda 
aos desejos e necessidades de libertação pessoal e social e de um vida em paz. 
Atividades 
1. Aprender a conhecer: Como tenho construído meu conhecimento?
2. Aprender a fazer: Como tenho atuado no mundo? Como tem sido minha ação 
no mundo?
3. Aprender a conviver: Como são minhas relações afetivas?
4. Aprender a ser: Como tenho cuidado da minha formação e da minha espiritu-
alidade?
Referências
BETTO, Frei. Sinfonia Universal: A cosmovisão de Teilhard de Chardin. São Paulo: 
Ática, 1999.
BOFF, Leonardo. Ethos mundial, um consenso mínimo entre os humanos. Brasília: 
Letraviva, 2000.
CAVALCANTE, Ruth. Educação Biocêntrica: um movimento de construção dialógica. 
4ª. Ed. Fortaleza: CDH, 2007.
CAVALCANTE, Ruth. Revista do Pensamento Biocêntrico. Pelotas, nº 6. P. 9-30. ju-
lho/dez de 2006.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da comis-
são internacional sobre educação para o século XXI.10ª. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, 
DF: MEC; Unesco, 2006.
Educação Biocêntrica um Portal de Acesso à Inteligência Afetiva. Disponível em: http://
www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/pensamento_biocentrico_06.pdf.
GÓIS, Cezar Wagner de Lima. Psicologia clínico-comunitária. Fortaleza: Banco do 
Nordeste, 2012.
MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 2003.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cor-
tez, DF: Unesco, 2000.
TORO, Rolando. La inteligência afectiva: la unidad de la mente com el universo. Toro, 
Cecilia (org). Santiago, Chile: Editorial Cuarto Própio, 2012.
Autora
Ruth Cavalcante: Psicopedagoga, graduada na Escolade Pedagogia Social de Colô-
nia, Alemanha. Pós-graduada em Educação Biocêntrica e em Psicologia Transpes-
soal. Professora dos cursos de pós-graduação em Relações Humanas e Dinâmicas 
Grupais e em Educação Biocêntrica na Universidade Estadual Vale do Acaraú e na 
Universidade Estadual do Ceará. Facilitadora didata em Biodança, formada pelo 
criador do sistema Biodança, Rolando Toro. Recebeu o Diploma “Mulher-Cidadã 
Bertha Lutz”, prêmio instituído pelo Senado Federal pela relevante contribuição 
na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no país. Agraciada com a 
Medalha Paulo Freire, em 2001, outorgada pela Câmara Municipal de Fortaleza. É 
Diretora Pedagógica do Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), desde 1981. 
Professora (aposentada) da Escola Pública do Município de Fortaleza, desde 1981.
Presidente João Dummar Neto | Coordenação do Curso Rosamaria de Medeiros Arnt | Coordenação Acadêmico-Administrativa | 
Ana Paula Costa Salmin | Editora Regina Ribeiro | Editor Adjunto Raymundo Netto | Coordenador de Produção Editorial Sérgio Falcão | 
Editor de Design Amaurício Cortez | Projeto Gráfi co e Capas Amaurício Cortez e Welton Travassos | Ilustrações Karlson Gracie | 
Editoração Eletrônica Welton Travassos | Revisão Tarcila Sampaio | Catalogação na Fonte Kelly Pereira
Expediente ISBN: 978-85-7529-572-4
Realização Apoio Cultural
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