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1 Nematóides Caenorhabditis elegans Max-Plank-Gesellschaft/France Press, 7.out.2002 Nematóides Nematóides são vermes cilíndricos, com extremidades afiladas, ou filiformes que compreendem mais de 500.000 espécies diferentes, a maioria de vida livre. 50 já foram encontradas como parasitos do homem. 12 merecem destaque por serem importantes agentes de doença. Evoluem de ovo a verme adulto, passando por 4 mudas ou ecdises, durante as quais trocam de cutícula e sofrem reestruturação interna. O crescimento tem lugar entre as ecdises. Tamanho comparativo dos nematóides: a) Dracunculus medinensis; b) Onchocerca volvulus; c) Wuchereria bancrofti; d) Ancylostoma duodenale; e) Trichuris trichiura; f) Enterobius vermicularis; g) Trichinela spiralis; h) Strongyloides stercoralis; i) Ascaris lumbricoides (Segundo Piekarski, 1962). 3 Organização dos nematóides (4) Aparelho digestório Todos os nematóides possuem um aparelho digestório semelhante, com a boca provida de lábios e papilas sensoriais, um esôfago muscular (geralmente com um bulbo dotado de mecanismo valvular) e um intestino simples, que termina no ânus (♀) ou na cloaca (♂). A extremidade anterior em diversos gêneros de helmintos nematóides: a) lábios b) cavidade bucal; c) esôfago; d) estiletes; e) dentes quitinosos. Passagem do alimento pelo esôfago: p) lábio; q) alimento; r) válvulas bulbares. 4 Organização dos nematóides (5) Aparelho reprodutor Nas fêmeas (A), é geralmente formado por 2 ovários (j) e ovidutos (k) contendo os óvulos (l); 2 úteros (m) e uma vagina (p), que termina na abertura vulvar (p). Nos machos (B), o testículo é quase sempre um tubo único, continuado pelo vaso deferente (t-u) que pode dilatar-se em uma vesícula seminal. Segue-se o canal ejaculador musculoso que se abre na cloaca. Os anexos são: as asas caudais (v), 1 ou 2 espículos (x), e as papilas sen- soriais (y). A, fêmea e B, macho: a) lábios; b) boca; c) canal do esôfago; d) bulbo médio; e) esôfago; f) anel nervoso; g) glândula e poro excretor; h) bulbo posterior; i) intestino; j) ovário anterior; k) oviduto; l) óvulos; m) útero; n) espermatozóides; o) ovos; p) vagina; q) oviduto; r) reto; s) ânus; t) testículo; u) deferente; v) asas caudais; x) espículo; y) papilas sensoriais; z) cauda. Rhabditis Fisiologia dos nematóides (1) Nutrição Quanto à forma de alimentação, estes helmintos podem ser sepa- rados em 4 grupos: 1 - Os que vivem no interior do tubo digestivo de seu hospedeiro (Ascaris, Ascaridia, Enterobius, p. ex.), nutrindo-se de microrganis- mos e materiais aí existentes. 2 - Os que se alimentam da mucosa do tubo digestivo (como Ancylostoma, Necator etc.) e são dotados de cápsulas bucais com estruturas dilacerantes ou pungi- tivas para sangrá-la e sugá-la. 3 - Os da cavidade intestinal, (sem cápsula bucal) que pene- tram parcialmente nos tecidos da mucosa, produzem histólise e aspiram o produto (Trichuris, p. ex.) 4 - Os que vivem nos tecidos do hospedeiro, e aí se alimentam, causando histólise; ou ingerem sangue, linfa e produtos inflamatórios (como os estrongilóides, as filárias e as larvas de várias espécies, ao fazerem migrações pelo organismo). 6 Fisiologia dos nematóides Reprodução Os sexos são sempre separa- dos, mas em algumas espécies de Strongyloides, p. ex., os machos são raros, só promovem a segmentação do óvulo ou são desconhecidos. A reprodução faz-se então por partenogênese, como ocorre na estrongiloidíase humana. Ovos Variam quanto a forma e es- trutura, podendo ter 3 envol- tórios: - o mais interno, impermeável à água, é de natureza lipídica; - o 2º, quitinoso (e por vezes único), pode formar opérculos ou rolhas polares. - o 3º, que pode estar presente, é protéico e formado pela parede uterina. Apresenta aspecto irre- gular bem característico. Ascaris 25 µm Trichuris Necator Ciclo biológico dos nematóides Dentro de seus envoltórios, quando expulso pela fêmea, o ovo pode encontrar-se na fase de célula única ou já encontrar-se em fase de segmentação. Há casos em que a larva já está formada ou é parida como tal pelas fêmeas, devendo sofrer uma primeira muda para adquirir capacidade infectante. As larvas de algumas espécies eclodem no solo, desde que completado seu desenvolvimento e reunidas condições favoráveis de temperatura e umidade ambiente. Mas só se tornam infectantes no 3º estádio larvário. Os helmintos podem penetrar em seu hospedeiro, seja passiva- mente (sendo seus ovos ingeridos com alimentos, água ou através das mãos sujas), seja ativamente, como larvas, através da pele. Larvas, como as das filárias, são veiculadas por insetos hema- tófagos. Ovo de Necator embrionado Migração das larvas Antes de atingir a fase adulta, muitos parasitos migram através do organismo, quer tenha sido a penetra- ção cutânea, quer oral. Larvas de Necator (L 3 ) que entram pela pele vão pela circulação venosa ou linfática ao coração e aos pulmões, onde tem lugar a 3ª ecdise (trajeto azul). Penetram nos alvéolos e bronquí- olos, sendo arrastadas pela corrente de muco da árvore respiratória até a faringe (fim do ciclo pulmonar) e deglutidas (trajeto vermelho). Nos intestinos sofrem a 4ª e última ecdise passando a vermes adultos. Seus ovos saem com as fezes. Migração larvária pela circulação (trajeto azul) e pelos órgãos cavitários: árvore respiratória, faringe, esôfago, estômago e intestinos (trajeto vermelho). Migração das larvas Os ovos de Ascaris, que penetram por via digestiva, eclodem no intestino, mas suas larvas invadem a mucosa, ganham a circulação e fazem o ciclo pulmonar. Só completam o desenvolvimento e alcançam a maturidade quando chegam no intestino. Vários vermes adultos de Ascaris lumbricoides eliminados por um paciente, após tratamento. Ascaris lumbricoides e ascaríase Ascaris lumbricoides É um helminto nematóide da família Ascarididae e o maior parasito habitual do homem. Os áscaris são conhecidos, popular- mente, como lombrigas ou bichas. Localizam-se de preferência no duodeno e no jejuno, onde produzem um quadro clínico variado denominado ascaríase. Ascaris lumbricoides: A, fêmea; B, macho Ascaris lumbricoides Em geral, há em torno de 6 vermes por paciente. Mas esse número pode elevar- se a 500 ou 700 em alguns casos. Um único helminto introduzindo-se, p. ex., no apêndice, nas vias biliares ou pancreáticas, ou em um brônquio chega a produzir um estado grave e por vezes fatal. Mais comum, em crianças, é a obstrução intestinal por um bolo de áscaris, determinando o quadro de abdome agudo. Ascaris lumbricoides Fisiologia dos Ascaris Os ovos férteis são ovais ou quase esféricos e medem em torno de 60 x 45 µm (A). No solo, embrionam em 2 semanas (entre 20 e 30ºC) e se tornam infectantes dentro de outra semana (B). Mas podem permanecer aí infectantes durante um ou mais anos. Os ovos de áscaris são abundantes no chão do peridomicílio poluído com fezes humanas, e podem ser suspensos no ar, com a poeira, pela ação dos ventos. A infecção por Ascaris Ovos de áscaris podem ser ingeridos com os alimentosou a partir das mãos sujas. Mas, também, serem aspirados e depois deglutidos com o muco das vias aéreas. No cecum do hospedeiro, os ovos embrionados eclodem, liberando uma larva de 2º estádio. Invade a mucosa intestinal e vai pela circulação até o pulmão, onde chega em 4 ou 5 dias. Cresce e sofre nova muda, passando a larva de 3º estádio após 8 ou 9 dias. As larvas de 3º estádio penetram nos alvéolos, onde ocorre a 3ª muda. Medindo agora 1 a 2 mm (E), são arrastadas pela corrente de muco dos bronquíolos e brôn- quios, sobem pela traquéia e laringe, sendo deglutidas com as secreções brônquicas. Ao chegarem ao intestino, dá- se a 4ª e última muda que as transforma em adultos jovens. O crescimento continua até a maturidade, ao fim de 2 meses. Resistência aos Ascaris Na fase invasiva, as lesões dependem do número de larvas, do tecido em que se encontrem e da resposta do hospedeiro. Se as larvas forem poucas e não houver hipersensi- bilidade, as reações hepá- ticas serão insignificantes e as pulmonares discretas. Se forem muitas, haverá focos hemorrágicos e ne- cróticos no fígado, com inflamação em torno das larvas aí retidas ou des- truídas. Nos pulmões ocorrerá a síndrome de Loeffler, com febre, tosse, alta eosinofilia e quadro radiológico com manchas isoladas ou con- fluentes nos campos pulmo- nares. Normalmente, esses sin- tomas desaparecem em poucos dias sem deixar traços. Mas, em crianças pequenas e em pessoas hipersensíveis, a gravidade pode ser alta. Complicações na fase crônica Espasmos, volvo, intussuscepção (invaginação de um segmento intestinal em outro), obstrução intestinal por um bolo de áscaris, peritonite etc., são complicações dramá- ticas que podem levar o paciente à morte. Peça com obstrução intestinal por áscaris Segundo as es- tatísticas hospi- talares, cerca de 45% das obstru- ções por bolo de áscaris ocorrem em crianças com menos de 2 anos de idade. Diagnóstico da ascaríase Os quadros clínicos não permi- tem distinguir a ascaríase de outras helmintíases intestinais O exame parasitológico das fezes é a melhor forma de se diagnosticar esta helmintíase. Ovos de áscaris vistos ao microscópio: 1 e 2, normais; 3 e 4 inférteis (OMS). Barras negras = 25 µm. 1 2 3 4 21 Tratamento da ascaríase A – Piperazina, B – Pamoato de pirantel C – Levamisol do grupo do mebendazol. D – Mebendazol, Cura próxima de 100%. E – Flubendazol, do mesmo grupo que o mebendazol. Anti-helmínticos recomendados: Essas drogas não agem sobre larvas ou adultos fora dos intestinos. Controle e educação sanitária Os programas de ação contra essas parasitoses devem ter por objetivo, inicialmente, apenas o controle e, só tardiamente, como no Japão, a erradicação. O tratamento dos grupos mais afetados inclui, de regra, apenas as crianças em idade escolar. Por razões logísticas preferem- se os esquemas de tratamento com dose única e via oral. A repetição periódica dos tra- tamentos é indispensável, visto permanecerem no solo, por muito tempo, os ovos infectantes. Mas, também, por haver na comunidade geralmente casos não curados, reinfectados ou importados de outras áreas endêmicas. Para consolidar os resultados, é necessário mudar o comportamento das populações de modo a reduzir a poluição do solo e as reinfecções, em cada domicílio. Educar as crianças e os adultos que delas cuidam (e devem dar o exemplo) implica em habituar: - ao uso constante das instalações sanitárias; - a lavar as mãos após defecar, antes de comer ou de preparar alimentos; e sempre que sujas de terra; - lavar as frutas e legumes consumidos crus; e proteger os alimentos contra as poeiras, os insetos e outros vetores de infecção. 23 Leituras complementares ACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales. 2a edição. Washington, Organización Panamericana de la Salud, 1997. MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas]. REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2002 [380 páginas]. REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2 a edição, ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003 [950 páginas]. REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856 páginas]. THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. – Diagnosing helminthiasis by coprological examination. Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986.
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