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221Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM RESUMO O presente estudo propõe analisar as pro- jeções e expectaƟ vas dos ingressantes em um curso de formação docente, que visa superar a fragmentação disciplinar e criar maior aproximação com o mundo do traba- lho. Trata-se de estudo qualitaƟ vo realizado a parƟ r de entrevistas com 33 ingressantes do curso. Para a análise dos dados, pautou- -se na técnica de análise de conteúdo, mo- dalidade temáƟ ca. Os resultados do estudo permiƟ ram elencar as seguintes categorias temáƟ cas: possibilidade de ensinar-apren- der; necessidade de capacitação pedagógi- ca e de constante busca de aprendizagem; possibilidade de mudança da realidade. Conclui-se que os ingressantes vislumbram a transformação da realidade social na qual estão inseridos, considerando a necessi- dade de aquisição de novas habilidades e competências profi ssionais, com intuito de exercer efi cazmente o trabalho e ocupar um espaço compeƟ Ɵ vo no mercado. DESCRITORES Educação em enfermagem Capacitação profi ssional Formação de recursos humanos Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profissional técnica na saúde A R T IG O O R IG IN A L RESUMEN El estudio propone analizar las proyeccio- nes y expectaƟ vas de los ingresantes a un curso de formación docente que apunta a superar la fragmentación disciplinaria y a conseguir una aproximación mayor con el mundo laboral. Estudio cualitaƟ vo realiza- do mediante entrevistas con 33 ingresan- tes al curso. Datos analizados según técnica de análisis de contenido, modalidad temá- Ɵ ca. Los resultados del estudio permiƟ eron enumerar las siguientes categorías temáƟ - cas: posibilidad de enseñar-aprender; ne- cesidad de capacitación pedagógica y de constante búsqueda de aprendizaje, y la posibilidad de cambiar la realidad. Se con- cluye en que los ingresantes vislumbran la transformación de la realidad social en la cual están insertos, considerando la nece- sidad de adquisición de nuevas habilidades y competencias profesionales, con vistas a ejercer efi cazmente su trabajo y ocupar un espacio compeƟ Ɵ vo en el ámbito laboral. DESCRIPTORES Educación en enfermería Capacitación profesional Formación de recursos humanos Maria José Sanches Marin1, Silvia Franco da Rocha Tonhom2, Adriana Paula Congro Michelone3, Elza de Fátima Ribeiro Higa4, Mário do Carmo Martini Bernardo5, Cláudia Mara de Melo Tavares6 PROJECTIONS AND EXPECTATIONS OF STUDENTS ENROLLED IN A TEACHING QUALIFICATION IN A TECHNICAL HEALTH PROFESSIONAL EDUCATION COURSE PROYECCIONES Y EXPECTATIVAS DE INGRESANTES AL CURSO DE FORMACIÓN DOCENTE EN EDUCACIÓN PROFESIONAL TÉCNICA DE SALUD 1 Enfermeira. Pós-Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual Paulista. Docente da Disciplina de Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília. Marília, SP, Brasil. marnadia@terra.com.br 2 Enfermeira. Doutora Doutora em Educação pla Universidade Estadual de Campinas. Docente da Disciplina de Enfermagem em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Marília.Tutora do CFDEPTAS/EAD-FIOCRUZ. Marília, SP, Brasil. siltonhom@gmail.com 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Docente da Disciplina de Enfermagem Clínica do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília. Coordenadora do Núcleo de Apoio Docente do CFDEPTAS/EAD-FIOCRUZ. Maríli, SP, Brasil. adrianap@famema.br 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Docente da Disciplina de Educação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina de Marília – Famema. Doutora em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Tutora do CFDEPTAS/EAD-FIOCRUZ. Marília, SP, Brasil. ribhg@hotmail.com 5 Médico. Mestre em Pediatria pela Universidade Estadual Paulista. Docente da Disciplina de Pediatria da Faculdade de Medina de Marília. Marília, SP, Brasil. mariocmb@famema.br 6 Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense. Orientadora de Aprendizagem do CFDEPTAS/EAD-FIOCRUZ. Niterói, RJ, Brasil. claudiamara@ead.fi ocruz.br Recebido: 04/07/2012 Aprovado: 05/09/2012 Português / Inglês www.scielo.br/reeusp ABSTRACT This research aims at analyzing the pro- jecƟ ons and expectaƟ ons of students enrolled in a teaching qualifi caƟ on in technical health professional educaƟ on course, aiming at overcoming disciplinary fragmentaƟ on and further approaching the working world. This was a qualita- Ɵ ve study that included interviews with 33 students enrolled in the course, and the data analysis was performed using a content analysis technique. The following categories were idenƟ fi ed among the re- sults: the possibility of teaching-learning; the need for pedagogical qualifi caƟ on and the constant search for learning; and the possibility of changing reality. We con- clude that students enrolled in this course foresee the transformaƟ on of their social reality, taking into account the need to ac- quire new skills and professional compe- tences to eff ecƟ vely perform their job and compete within the working world. DESCRIPTORS Human resources qualifi caƟ on Nursing educaƟ on Professional qualifi caƟ on 222 Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM INTRODUÇÃO Desde a década de 80, a ConsƟ tuição brasileira propõe o Sistema Único de Saúde (SUS) e, com ele, a organização do modelo de atenção que implica profundas mudanças. O SUS busca implementar um modelo da vigilância à saú- de, que admite diferentes espaços sociais de estruturação e incorpora o conceito de promoção da saúde e a noção de integralidade, buscando a superação das práƟ cas sani- tárias fragmentadas(1). Salienta-se, nesta proposta, a ne- cessidade de transformação das relações de trabalho da equipe e de incorporação da comunidade ao conjunto de profi ssionais da saúde, entendendo que a população or- ganizada amplia a visão sobre as determinações sociais do processo saúde/doença(2). Nesse contexto, tem-se apontado para a necessidade de instrumentalizar os profi ssionais da saúde nos aspec- tos técnicos, éƟ cos e políƟ cos para a transformação de processos de trabalho arraigados em princípios fragmen- tados do cuidado, o que representa um grande desafi o pa- ra as políƟ cas públicas direcionadas ao SUS. Assim, novas formas de ensino/apren- dizagem são propostas, buscando alcançar, acima de tudo, a formação de um profi ssio- nal críƟ co, cidadão, preparado para apren- der, criar, propor e construir um novo mo- delo de atenção à saúde(3). As proposições de mudanças na forma- ção e qualifi cação dos profi ssionais de saú- de encontram difi culdades para se desen- volverem como modelos inovadores, uma vez que, no atual contexto, o processo de formação sofre fortemente a infl uência da tendência tradicional de ensino, a qual está centrada no professor, como detentor do conhecimento, e nos conteúdos, sem con- siderar a realidade social e a formação de sujeitos críƟ cos. A este problema acrescenta-se, ainda, que na área da saúde o pensamento tecnicista é hegemônico. Concep- ção em que se valoriza a tecnologia, as aƟ vidades são mecânicas e totalmente programadas e o professor é um mero especialista na aplicação de manuais. Tal vertente vem ao encontro do modelo de cuidado fragmentado, biologicista e superespecializado,tornando a formação profi ssional ainda mais desarƟ culada do contexto social e políƟ co das pessoas(4). A dicotomia entre educação e trabalho encontra reforço no processo de industrialização, que pôs em questão a sepa- ração entre instrução e trabalho produƟ vo, dando origem à divisão dos homens em dois grandes campos: aqueles das profi ssões manuais, para as quais se requeria uma formação prática limitada à execução de tarefas; e aquele das profi ssões intelectuais, para as quais se requeria do- mínio teórico amplo a fi m de preparar as elites...(5). O que se pretende, no entanto, é que os trabalhadores disponham de organizações culturais por meio das quais possam parƟ cipar, em igualdade de condições, das dis- cussões dos problemas que afetam a sociedade. Trata-se, portanto, de evitar que a classe trabalhadora caia na pas- sividade intelectual e, ao mesmo tempo, que os universi- tários caiam no academicismo(5). No contexto da críƟ ca à escola tradicional, formula- ram-se as idéias da Escola Nova, a qual tem, como prin- cípio norteador, a valorização do indivíduo como ser livre, aƟ vo e social. O centro da aƟ vidade escolar não deve ser o professor, nem os conteúdos disciplinares, mas sim o alu- no, como ser aƟ vo e curioso. Tal vertente, devido a suas idéias avançadas e consistentes, conƟ nua hoje, orientan- do as reformas no sistema escolar(6). Nas décadas de 70 e 80 com a proposta da aƟ vidade escolar pautada na realidade social imediata, na qual se analisam os problemas e seus fatores determinantes e estrutura-se uma atuação com intenção de transformar a realidade social e políƟ ca. Essa corrente pedagógica tem com referencial teórico- -metodológico o Materialismo Histórico DialéƟ co, formulado por Karl Marx e Frie- drich Engel(7). A teoria críƟ ca defende as idéias de que a escola é o local de lidar com as contradições sociais e problemaƟ zar a realidade; de que a decisão do que saber e do que fazer está na dependência das necessidades sociais vi- vidas; além de superar a dicotomia trabalho intelectual e trabalho manual com a proposta de formar o homem pelo e para o trabalho(8). Referindo-se à educação para o traba- lho, idenƟ fi ca-se dois aprendizados que se devem esperar dos educandos: saber lutar e saber construir, pautando-se nas relações da escola com a realidade atual e na auto-organização dos estu- dantes. Os educandos precisam de fi rmeza ideológica e políƟ ca, com muita autonomia e criaƟ vidade para ajudar a recriar as práƟ cas e as organizações sociais(9). Neste contexto, a relação trabalho e ciência é intrínse- ca, não se separa, ou seja, a práƟ ca deve se basear em leis teóricas. Portanto, é práxis, é ação-refl exão-ação, a parƟ r dos conhecimentos cienơ fi cos e com o fi m de transformar a realidade(8). Compreende-se, assim, que a base da Peda- gogia social da Escola do trabalho é a realidade atual, num plano social, que determina a seleção dos temas, tendo como referência o método dialéƟ co, na qual interdiscipli- naridade, transversalidade e transdisciplinaridade se inte- gram para dar senƟ do e signifi cado social e histórico aos conhecimentos e à realidade(10-11). Verifi ca-se, então, que os princípios da educação crí- Ɵ ca e da educação para o trabalho, os quais se pautam no materialismo histórico dialéƟ co, consƟ tuem uma im- O que se pretende, no entanto, é que os trabalhadores disponham de organizações culturais por meio das quais possam participar, em igualdade de condições, das discussões dos problemas que afetam a sociedade. 223Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM portante referência do projeto pedagógico do Curso de Formação Docente em Educação Profi ssional Técnica na Área da Saúde, desenvolvido sob a coordenação nacional da Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), infl uenciam direta- mente a construção dos ideais educacionais. É importante considerar que a formação do técnico de enfermagem vem sofrendo transformações impulsio- nadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a edu- cação profi ssional, por meio da concepção orientada por competência que busca o desenvolvimento de habilida- des inerentes ao mundo do trabalho(12). A exigência de buscar estratégias que possibilitem a formação de um profi ssional congruente com as propos- tas do SUS, de forma rápida e com possibilidade de abar- car um grande número de pessoas, valoriza a modalidade de educação a distância (EAD) como uma potência e, cada vez mais, ela tem ganhado espaço na sociedade brasileira. Propõe-se, portanto, a seguir um percurso inovador e de- safi ador, na medida em que busca arƟ cular o mundo do trabalho com a educação, sabendo que a maioria dos pro- fi ssionais apresenta formação técnica na área de atuação, sem fundamentação dos princípios pedagógicos e, muitas vezes, sem a consciência críƟ ca do seu potencial enquan- to sujeito inserido no mundo do trabalho. O Curso de Formação Docente em Educação Profi ssional Técnica na Área da Saúde é desenvolvido no Estado de São Paulo, por meio do estabelecimento de parcerias com cinco InsƟ tuições de Ensino Superior (IES) públicas, as quais dispo- nibilizam espaço İ sico para as aƟ vidades presenciais, bem como os recursos de informáƟ ca e de biblioteca, consƟ tuin- do nos Núcleos de Apoio ao Docente (NIAD). Destes núcleos, um encontra-se sediado na Faculdade de Medicina de Marí- lia (Famema), o qual atende à macro região da Diretoria Re- gional de Saúde (DRS) IX e XI. Os trabalhos Ɵ veram início com a seleção e capacitação dos tutores, tanto no que refere-se ao conteúdo proposto como às ferramentas de EAD. Durante o processo de capacitação tutorial muito se discuƟ u e se quesƟ onou sobre quem seriam os especiali- zandos ingressantes do curso? Quais as suas experiências prévias? Que idéias de processo pedagógico eles teriam? Qual o signifi cado do trabalho docente na vida deles? Quais suas expectaƟ vas? Quais suas projeções para atuar na formação profi ssional em nível médio? Frente a isso, os tutores, como mediadores do processo de ensino, tam- bém quesƟ onavam se teriam condições de manter a moƟ - vação e interesse dos especializandos pelo curso. Embora exisƟ ssem muitas dúvidas, a certeza era de que todos estariam inseridos no processo de formação de profi ssionais para a área da saúde e a crença de que, ao resgatar as suas vivências e problemaƟ zar a realida- de, fundamentados por um referencial que analisa criƟ - camente a historicidade da organização do processo de trabalho, do processo educacional e do sistema de saúde, seria possível o enfrentamento das adversidades. Frente a uma proposta que vislumbra mudanças na forma de ensinar e na sua estrutura conceitual, uma vez que se propõe uma formação mais críƟ ca e menos téc- nica, este estudo tem como objeƟ vo analisar as expecta- Ɵ vas dos estudantes/docentes ingressantes no Curso de Formação Docente em Educação Profi ssional Técnica na Área da Saúde e suas projeções para o desenvolvimento do trabalho docente. MÉTODO Trata-se de um estudo qualitaƟ vo que visa analisar as projeções e expectaƟ vas dos ingressantes do Curso de Formação Docente em Educação Profi ssional Técnica na Àrea da Saúde, em nível de especialização, na modalidade a distância com momentos presenciais, promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/ FIOCRUZ) em arƟ culação com InsƟ tuições de Ensino Su- perior (IES) do Estado de São Paulo, com a fi nalidade de qualifi car trabalhadores para o SUS(13). A ENSP/FIOCRUZ, por meio da Escola de Governo em Saúde, vem confi gurando, nos úlƟ mos anos, um modelo de formaçãode profi ssionais para o SUS em conformida- de com as demandas imprescindíveis para tal construção. Nessa perspecƟ va, o Curso propõe-se complementar o iƟ nerário educaƟ vo dos profi ssionais graduados nas di- versas subáreas da saúde, situando-se no conjunto de iniciaƟ vas que materializam a relação intersetorial e inter- disciplinar entre saúde e educação, indispensável tanto à promoção da qualidade de vida quanto ao cuidado presta- do pelo Sistema Único de Saúde(14). As IES selecionadas consƟ tuem pólos que abrigam os Núcleos Interdisciplinares de Apoio Docente – NIAD, os quais confi guram uma instância de realização do Curso no interior do Estado, com coordenação local e base de apoio docente, acadêmico e administraƟ vo. A Famema sedia um NIAD que atende à região das DRS IX e XI e conta atualmente com sete escolas credenciadas de formação de técnicos de enfermagem, com um total de 40 profi ssionais ingressantes para a primeira turma do curso. Assim, os sujeitos da pesquisa são os alunos-docentes, que fi zeram parte da primeira turma do Curso de Forma- ção Docente em Educação Profi ssional Técnica na Área da Saúde, em nível de especialização, do NIAD locado na Fa- mema. Dos 40 alunos do curso obteve-se a devoluƟ va de 33 deles. Para garanƟ r o sigilo, as entrevistas receberam código alfa numéricos, sendo a letra F para feminino e M para masculino, seguido pelo número referente à idade dos parƟ cipantes. Para a coleta de dados foi elaborado um quesƟ onário semi-estruturado com dados de idenƟ fi cação como sexo, idade e renda familiar; informações sobre a formação pro- fi ssional e as condições de trabalho. As questões abertas referenciam-se aos moƟ vos que levaram o especializando 224 Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM a atuar na área do ensino, os aspectos posiƟ vos, e as difi - culdades na aƟ vidade docente e as expectaƟ vas frente ao curso que seria desenvolvido. Após efeƟ vadas as inscrições dos especializandos no Curso e disponibilizados os dados da fi cha cadastral dos ingressantes ao NIAD de Marília, foi enviado, via email, o instrumento de coleta de dados, juntamente com o Ter- mo de ConsenƟ mento Livre e Esclarecido e solicitado a colaboração deles para parƟ cipar do estudo. Este envio ocorreu na semana que antecedeu o primeiro contato dos especializandos com a proposta do curso. Foi solici- tada a devolução dos instrumentos devidamente preen- chidos ao coordenador da pesquisa, na data do primeiro encontro presencial. A análise dos dados foi realizada pela técnica de aná- lise de conteúdo, modalidade temáƟ ca(15). Inicialmente realizamos a leitura compreensiva do material transcrito de forma exausƟ va, buscando ter uma visão do conjun- to, apreender os núcleos ou eixos que estruturassem os depoimentos nos quais se agruparam caracterísƟ cas co- muns. Após essa etapa, idenƟ fi camos as temáƟ cas em torno das quais os dados foram discuƟ dos. Ressalte-se que, em cumprimento da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa foi de- senvolvida após a aprovação do Comitê de ÉƟ ca em Pes- quisa da Faculdade de Medicina de Marília, que recebeu o nº394/10. Com base nessa resolução, todos os sujeitos da pesquisa só seriam envolvidos caso concordassem com o Termo de ConsenƟ mento Livre e Esclarecido (TCLE) que deveria ser lido pelo (a) pesquisador (a) e compreendido, aceito e assinado, garanƟ ndo aos informantes o sigilo e anonimato das respostas. RESULTADOS Na Tabela 1 encontram-se dispostos os dados sócio- -demográficos, de formação profissional e condições de trabalho dos ingressantes do Curso de Especializa- ção em Formação Docente em Educação Profissional Técnica na Área da Saúde. Quanto ao sexo, observa-se que 30 (90%) são do sexo feminino. A faixa etária va- riou de 24 a 60 anos e a renda familiar da maioria deles era de até cinco salários mínimos. Quanto aos dados de formação profissional disposto na Tabela 1, constata- -se que no grupo de ingressantes quase a totalidade é de enfermeiros, contando apenas com um dentista. Identifica-se que 27,3% dos entrevistados não têm cur- so de especialização, com um percentual de 30,9 % com menos de um ano desenvolvendo atividades na área de ensino. Em relação ao tempo destinado ao ensino tem-se 33,3% com uma carga horária que varia de 11 a 20h semanais, com a maioria (75,8%) desenvolvendo atividades além de ensino e, ainda, 45,5% deles com contrato de trabalho temporário. Tabela 1 - Distribuição percentual dos participantes do estudo de acordo com dados sócio-demográfi cos, formação profi ssion- al e condições de trabalho - Marília, 2010 Dados N % Dados sócio-demográfi cos Sexo Feminino 30 90,9 Masculino 03 09,1 Idade 24 -30 08 24,2 31 -35 10 30,3 36 – 40 02 06,1 41 – 45 05 15,1 45 ou mais 08 24,2 Renda familiar Até 5 Salários Mínimos (SM) 18 54,5 De 5 a 10 (SM) 09 27,3 10 ou mais (SM) 06 18,2 Dados da formação profi ssional Área de formação Dentista 01 03,0 Enfermeiro 32 97,0 Pós graduação (especialização) Nenhuma 09 27,3 Saúde Pública 08 24,2 Urgência e Emergência 07 21,2 Especialização em UTI 05 15,2 Formação didático-pedagógica/licenciatura 03 09,1 Outras 14 42,4 Dados das condições de trabalho Tempo de trabalho na área de ensino Não respondeu 13 39,4 Até um ano 10 30,3 2 a 5 anos 03 09,1 6 anos ou mais 07 21,2 Área de atuação Instituição de ensino e área hospitalar 12 36,4 Instituição de ensino e atenção básica em saúde 13 39,4 Instituição de ensino 03 09,1 Não respondeu 05 15,2 Carga horária semanal destinada ao ensino Até 10 horas 05 15,2 De 11 a 20 11 33,3 Mais de 20 horas 03 09,1 Não respondeu 14 42,4 Contrato de trabalho Efetivo 09 27,3 Temporário 15 45,5 Não respondeu 09 27,3 225Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM Na abordagem dos ingressantes sobre as expectaƟ - vas e projeções frente à realização do curso, idenƟ fi cam- -se três categorias temáƟ cas: a possibilidade de ensinar e aprender; a necessidade de capacitação pedagógica e de constante busca de aprendizagem e a possibilidade de mudanças na realidade. A possibilidade de ensinar e aprender Frente à possibilidade de ensinar e aprender encontra- -se, descrita na fala dos ingressantes, a ideia de troca e comparƟ lhamento entre os sujeitos do processo de ensi- no e aprendizagem. O poder de trocas entre o grupo, as experiências. O edu- cador não é apenas um disseminador da informação, do conhecimento, mas também um receptor de informações (F, 27 anos). Considero extremamente positiva a relação educador/ educando, com trocas de vivências, culturas, possibilida- des de ampliar os conhecimentos e ação de uma forma extremamente sinérgica (F, 54 anos). Destaca-se, assim, que, ao ingressarem no curso, já descartam em algum senƟ do, o papel tradicional do pro- fessor a quem caberia a transmissão do conhecimento, uma vez que a complexidade e o crescente conhecimento colocam o professor em uma postura mais fl exível e num movimento dialógico. A necessidade de capacitação pedagógica e de constante busca de aprendizagem Os parƟ cipantes do estudo reconhecem as suas fragili- dades no campo da docência e projetam as contribuições do curso para sua formação. A exigência do Conselho associada à necessidade sen- Ɵ da de formação específi ca para a função docente tam- bém foi o que levou os ingressantes a se interessarem pe- lo curso, conformese observa nas falas abaixo. Me preparar pedagogicamente para a educação profi ssio- nal (F, 39 anos). ...o curso irá me proporcionar (...) possibilidades de re- visão de conceitos e teorias, posturas e estratégias, na construção/descontrução na sala de aula (F, 54 anos). ...exigência do Conselho Regional de Enfermagem e da demanda de escolas de cursos técnicos que está crescen- do na área da enfermagem e a oportunidade de dar aula... (M, 24 anos). Aumentar as habilidades nas relações interpessoais e in- tergrupais, aprimorar o planejamento... (M, 25 anos). Na descrição dos especializandos encontra-se também a preocupação com a aprendizagem constante e aperfei- çoamento profi ssional, o que para eles representa moƟ vo de superação de barreiras na área docente e atualização profi ssional. Tal preocupação tanto evidencia o compro- misso deles com a profi ssão, como uma forma de manter a inserção na aƟ vidade docente e, assim, poder lidar com a má remuneração imposta aos profi ssionais da saúde. ...para me aperfeiçoar, me qualifi car, porque sempre de- vemos estar em busca de novos conhecimentos, princi- palmente porque na nossa área sempre tem descobertas (F, 26 anos). admiração pelo ensino, aprimoramento e superação das minhas barreiras, pois tenho muita vontade de saber co- mo ensinar (F, 25 anos). Me interessei primeiramente em aumentar a renda... (F, 31 anos). Iniciou a cobrança obrigatória do curso para lecionar e aca- bei perdendo aulas. Sem as aulas não pude pagar já que minha renda diminuiu. Assim que surgiu esta oportunidade, decidi fazer o curso e retornar às aulas (F, 31 anos). A possibilidade de mudança da realidade Na perspecƟ va dos especializandos, também foi apon- tado que, ao realizar o curso, teriam a possibilidade de mudanças da realidade do cuidado em saúde de forma integral, com vistas a serem aƟ ngidos os princípios e di- retrizes do SUS. Acredito que o curso irá me proporcionar inúmeras pos- sibilidades de refl exões fi losófi cas, pedagógicas, lúdicas, com possibilidades infi nitas de revisão de conceitos e teo- rias, posturas e estratégias na construção e reconstrução do saber (F, 54 anos). ... sempre quis ensinar além da matéria que a escola ofe- recia para eles, queria que eles percebessem o quanto tudo aquilo (com uma visão mais ampla) seria importante na vida deles, uma vida de valores e ética dentro de uma sociedade (F, 45 anos). ...o conhecimento na área do SUS vai nos pôr à frente para capacitar os trabalhadores do SUS (F, 35 anos). O posicionamento dos ingressantes aproxima-se do senƟ do da educação para o trabalho quando considera que os conhecimentos cienơ fi cos têm como fi m único transformar a realidade. As falas relacionadas, ao salien- tarem o trabalho docente frente ao trabalhador do SUS, revelam a compreensão da necessidade de aquisição de habilidades disƟ ntas das bases tradicionais que direciona- ram o modelo de ensino em que a maioria dos profi ssio- nais foi formada. DISCUSSÃO O predomínio feminino encontrado no presente es- tudo, refl ete uma condição sócio-histórica persistente na enfermagem, que relaciona a profi ssão à sua origem pautada na ordem sacra, na infl uência européia do século XIX e na fi gura da mulher ligada ao cuidado domésƟ co às crianças e aos idosos(16). 226 Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM A maioria dos entrevistados tem alguma pós-gradua- ção em nível lato senso, no entanto, destaca-se o invesƟ - mento na formação técnica e acúmulo de experiências na atuação como enfermeira (o), em detrimento da forma- ção docente para atuar junto aos alunos trabalhadores. O tempo de experiência acadêmica dos responden- tes também variou de 10 anos a menos de um, sendo que aproximadamente um terço deles tem menos de um ano de atuação na área. Este dado, quando associado à idade dos respondentes, leva a depreender que estão inseridos no pro- cesso pedagógico profi ssionais com pouco tempo de forma- do e, consequentemente, com pouca experiência, tanto no aspecto técnico da profi ssão como na área acadêmica. Chama a atenção, ainda, o grande número de respon- dentes que, além da aƟ vidade acadêmica, exercem outras aƟ vidades, seja na atenção básica ou na área hospitalar. Em consequência disso, dedicam ao ensino um pequeno período e seu contrato de trabalho nas insƟ tuições de en- sino é temporário. Sobre este aspecto pode se considerar que, embora o contato com diferentes contextos da práƟ - ca profi ssional possibilite maior legiƟ midade com o fazer da profi ssão, é possível que o tempo limitado dedicado ao ensino impeça um maior envolvimento com o projeto pe- dagógico do curso, tornando a sua construção fragmenta- da e deslocada do seu contexto geral. Esse dado assemelha-se ao que foi encontrado no es- tudo que analisou as condições de trabalho do professor de enfermagem em fase iniciante, uma vez que mais da metade dos parƟ cipantes ministravam até 10 aulas sema- nais, o que se consƟ tuía em uma forma de complemen- tação salarial e o exercício da aƟ vidade era realizado nos períodos vagos, implicando professores cansados e sem tempo para preparar suas aƟ vidades docentes. Além dis- so, salienta-se que eles não tenham Ɵ do na sua formação o preparo adequado para o desenvolvimento saƟ sfatório da docência(17). Destaca-se, assim, que, ao ingressarem no curso, já vislumbram que cabe ao professor uma postura mais fl exí- vel e um movimento de ensino e aprendizagem dialógico. Depreendem-se, desta forma, avanços na compreensão de que na atualidade é preciso ultrapassar a concepção de ensino tradicional, na qual cabe ao professor e transmis- são de conhecimentos, muitas vezes descontextualizados. O preceito dialógico encontra-se implícito na peda- gogia histórico-críƟ ca, na qual a educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzi- da histórica e coleƟ vamente pelo conjunto dos homens. Compreende-se, portanto, que a práƟ ca social é posta como ponto de parƟ da e ponto de chegada, enquanto a educação é a forma de mediação. O professor e aluno, cada qual com seu papel, encontram-se compromeƟ dos com o encaminhamento da solução dos problemas en- contrados na práƟ ca social(5). Embora essa perspecƟ va já perpasse pelo desejo dos ingressantes do curso, para que seja possível uma atua- ção coerente, acredita-se na necessidade da compreen- são dos fundamentos teóricos que permeiam o papel do professor nas diferentes correntes pedagógicas de forma a instrumentalizá-lo para a qualifi cação desejada e neces- sária frente às atuais demandas sociais. Imbuídos do desejo de fazer diferença nas ações docen- te, por meio de intervenções que consideram os saberes dos sujeitos integrantes do processo, tendo no diálogo a possibi- lidade de confronto com realidades disƟ ntas, vislumbram-se mudanças nos processos de ensino e sua arƟ culação com a transformação da realidade do cuidado em saúde. Reforça-se, no entanto, a parƟ r da fala dos sujeitos, que para a concreƟ zação do desejo é preciso percorrer uma trajetória que contemple intenso processo refl exi- vo sobre as práƟ cas de ensino e de saúde que temos e aquela que queremos respaldados por princípios e dire- trizes que direcionam para o atendimento das necessi- dades da sociedade. A falta de capacitação para o exercício da aƟ vidade do- cente no campo da formação profi ssional em saúde cons- Ɵ tui signifi caƟ vo entrave no avanço das necessárias mu- danças no processo de ensino e aprendizagem. Pela falta de formação, os docentes acabam repeƟ ndo velhos mo- delos,o que não condiz com a atual necessidade social, a qual se encontra em franco processo de globalização e de consolidação da democracia(18). Visando à formação pedagógica dos docentes que atuam no ensino, o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo, por meio da portaria COREN-SP/ DIR/26/2007, deixa explícita a obrigatoriedade de a enfer- magem comprovar capacitação pedagógica para atuar na formação profi ssional(19). Salienta-se, assim, que eles vislumbram um processo de formação que supere a visão tradicional, pois apontam para a necessidade de novos conceitos, posturas e estra- tégias que os auxiliem na construção/desconstrução da práƟ ca pedagógica. Pontuam também a necessidade de habilidades interpessoais e intergrupais, dando a idéia de uma construção parƟ cipaƟ va e coleƟ va do conhecimento. Ao constatar nas falas a valorização das relações, de- preende-se mais uma vez o desejo de avanços no desen- volvimento profi ssional, pois a crescente produção de co- nhecimento e o processo de globalização têm ocasionado transformações na dinâmica das relações humanas, exi- gindo maior proximidade, troca e arƟ culação das informa- ções. Para contemplar todas essas condições, há necessi- dade de transformação no modo de agir, de interagir e de ver o outro sujeito, numa verdadeira ação de reviravolta nas relações profi ssionais da equipe de saúde. O enfrentamento dessa nova forma de agir e intera- gir na equipe de saúde deve ser iniciado por mudanças 227Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM no processo de formação dos profi ssionais, a qual deve se organizar de forma a instrumentalizá-los nos aspectos téc- nicos, éƟ cos e políƟ cos por meio de caminhos inovadores, pressupondo que na atualidade não basta a transmissão do conhecimento. Reforça-se, em vista disso, a necessida- de da formação de um profi ssional críƟ co, cidadão, pre- parado para aprender, criar, propor e construir um novo modelo de intervenção sobre a realidade(3). Compreende-se, assim, que a necessidade de cons- tante busca de conhecimento e aprimoramento profi s- sional está relacionada com a necessidade de preparo para a compeƟ Ɵ vidade existente no mercado de traba- lho, uma vez que desenvolver habilidades e competên- cias profi ssionais aumenta a empregabilidade diante de um mercado cada vez mais compeƟ Ɵ vo e exigente de capacidades complexas(20). Uma das falas também indica a necessidade de conhe- cimento na área do SUS, relatando, desta forma, que o entendimento dos princípios e diretrizes propostos para o enfrentamento das demandas do atual modelo de aten- ção são importantes nessa construção. Frente a tais falas, pode-se compreender que as pro- jeções dos ingressantes condizem com a proposta do curso, já que no seu desenvolvimento foram propostos três eixos considerados relevantes num processo de aprendizagem com vistas à transformação da práƟ ca profi ssional em saúde. A organização de tais eixos com- preende trabalho, saúde e educação; o SUS e os proces- sos de trabalho em saúde e a organização pedagógica do trabalho docente em saúde e visa superar, acima de tudo, o distanciamento teoria/práƟ ca e ensino/serviço comum no coƟ diano das escolas. No entanto, para caminhar nessa direcionalidade, é importante atentar para os apontamentos que, ao anali- sar a educação pelo trabalho, antecipa duas formas pos- síveis de distorções nessa arƟ culação, conforme destaca: Na primeira, o trabalho é transformado em objeto de ensino, uma vez que o objetivo da escola é preparar os alunos para um determinado tipo de trabalho e, por isso, não atende às necessidades da sociedade mo- derna. Na segunda, o trabalho é um método ou meio de ensino para ensejar aos alunos o estudo de outras disciplinas visto que ele não se constitui como objeto de ensino(21). Como se percebe, essas abordagens da educação pe- lo trabalho servem apenas como meio de repeƟ r e copiar lições já sabidas(21), revelando-se como alienantes e inca- pazes de promover a necessária transformação exigida no mundo atual. Nesse contexto, o trabalho deve consƟ tuir a matéria prima, ou seja, o ponto de parƟ da e, a parƟ r de uma refl exão críƟ ca sobre a realidade, chega-se novamen- te ao ponto de parƟ da com novas formulações e propos- tas inovadoras e transformadoras. Concebe-se, assim, uma proposta pedagógica que se disƟ ngue da práƟ ca tradicional de ensino, a qual centra sua ação na formação intelectual e na transmissão do co- nhecimento, com consequente assimilação de conteúdos pelo aluno(5). A necessidade e novos perfi s de formação e qualifi ca- ção profi ssional decorrentes das transformações no mun- do produƟ vo, ou seja, no mundo do trabalho, exigem ca- pacidade de solucionar problemas, liderar, tomar decisões e adaptar-se a novas situações. Revela-se que a educação se propõe a preparar para o exercício da cidadania social e para a compeƟ Ɵ vidade(18). CONCLUSÃO Ao analisar as projeções e expectaƟ vas dos ingressan- tes do Curso de Formação Docente foram explicitados valores, projetos e signifi cados que revelam o verdadeiro senƟ do dos invesƟ mentos nessa formação: a de preparar os profi ssionais para atuar em conformidade com os prin- cípios e diretrizes do SUS, com vista a se implementar um novo modelo de atenção à saúde. No entanto, é preciso atentar para as condições de tra- balho dessas pessoas e principalmente para as condições em que irão realizar o curso, uma vez que, embora estejam desejosos e conscientes da sua importância para a realiza- ção profi ssional e manutenção no mercado de trabalho, re- alizar o curso será mais uma tarefa a ser assumida por eles, no complexo contexto de múlƟ plas jornadas de trabalho. Os dados sócio-demográfi cos e as condições de traba- lho dos ingressantes evidenciam a dupla jornada de tra- balho e os baixos salários, além da própria condição de docente que exige, acima de tudo, um preparo coƟ diano que extrapola a carga horária contratada. As falas dos sujeitos revelam que eles percorrem cami- nhos e vislumbram a transformação do processo de tra- balho, considerando a necessidade de novas habilidades e competências para exercer efi cazmente o seu trabalho e ocupar um espaço no compeƟ Ɵ vo mundo do trabalho. Ao projetar a formação de profi ssionais em consonân- cia com os preceitos da atualidade, pode-se depreender que os respondentes assentam-se no desenvolvimento da cidadania, de princípios éƟ cos e humanísƟ cos, além dos meios para uma aprendizagem permanente. Num momento em que se faz urgente a discussão po- líƟ ca que vislumbre a formação técnica na área da saúde, acredita-se que as expectaƟ vas e projeções dos especiali- zandos entrevistados possam consƟ tuir pistas para a ade- quação de propostas que venham ao encontro de suas necessidades. No entanto, pressupõe-se a necessidade de novos estudos, especialmente com os egressos do Curso de Formação Docente, com a fi nalidade de se compreende- rem os seus resultados. 228 Rev Esc Enferm USP2013; 47(1):221-8www.ee.usp.br/reeusp/ Projeções e expectativas de ingressantes no curso de formação docente em educação profi ssional técnica na saúde Marin MJS, Tonhom SFR, Michelone APC, Higa EFR, Bernardo MCM, Tavares CMM Correspondência: Maria José Sanches Marin Av. Brigadeiro Eduardo Gomes, 1886 CEP 17514-000 – Marília, SP, Brasil REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Atenção à Saúde, De- partamento de Atenção Básica. PolíƟ ca Nacional de Atenção Básica. 4ª ed. Brasília; 2007. 2. 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