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Telhados verdes Coberturas verdes projetadas no Brasil oferecem sistemas diferenciados para proporcionar conforto térmico colaborando com o meio ambiente Renata D'Elia Na era do aquecimento global, em que o planeta corre sérios riscos ambientais, nada mais acertado do que investir no uso de tecnologias sustentáveis, principalmente na construção civil. Criados na Alemanha, os telhados verdes ganharam espaço em toda a Europa a partir da década de 1960 e viraram sinônimo de requinte e bem-estar no topo de cidades como Nova York. Aliando paisagismo à redução das temperaturas internas das edificações, os green roofs - também conhecidos como telhados vivos - podem ajudar a controlar o efeito estufa, melhorar a qualidade do ar por meio da fotossíntese, reduzir o escoamento de águas pluviais para as vias públicas e atenuar efeitos dos bolsões de calor das metrópoles. Para o arquiteto alemão Jörg Spangenberg, doutorando pela Bauhaus em convênio com a USP (Universidade de São Paulo), o custo- benefício da solução compensa. De acordo com sua pesquisa aplicada no Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da Página 1 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a utilização em larga escala dos telhados verdes poderia reduzir 1oC ou 2oC a temperatura nas grandes cidades. "O cálculo depende da direção e intensidade do vento, entre outros fatores. Mas essa redução já é suficiente para impactar na qualidade de vida da população e das pessoas que habitam esses ambientes", afirma. Segundo Spangenberg, a redução da temperatura da superfície das lajes após a instalação das coberturas diminui cerca de 15°C, o que influencia na sensação de conforto térmico dos ambientes. A diferença também é sentida no consumo de energia elétrica. Dependendo do tipo de telhado, capacidade de área, vegetação utilizada e do sombreamento, estima-se que, no andar de cobertura, a redução da carga térmica para o condicionador de ar seja de aproximadamente 240 kWh/m², proporcionado pela evapotranspiração. No Brasil, embora a oferta específica de tecnologias tenha aumentado na última década, existem ainda poucas opções no mercado. "No Brasil, a solução precisa ainda ser popularizada. Creio que as prefeituras devam pensar em estratégias de incentivo", diz Spangenberg. A busca pelas certificações LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida para edifícios sustentáveis, deve aumentar expressivamente essa demanda. De olho nesse mercado, empresas especializadas oferecem coberturas verdes inteligentes e adequadas para diferentes tipos de lajes e estruturas. Biotelhado Premium A instalação do Biotelhado Premium consiste em encaixar os módulos já montados e plantados na superfície da laje. Acompanhe as etapas 1- Grelhas de drenagem 2- Instalação dos módulos de grama 3- Biotelhado recém-instalado 4- Biotelhado após dois meses Página 2 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Sistema Alveolar Ecotelhado As fotos ao lado mostram a visão geral do sistema desmontado, antes da instalação, com cada uma das camadas do módulo: 1- Membrana Ecotelhado antirraízes (preta 200 micras) 2- Membrana Alveolar Ecotelhado (2 cm) para drenagem e retenção de água 3- Membrana Filtrante Ecotelhado 4- Módulo Ecotelhado (8 cm) que evita erosão, a compactação e aeração 5- Substrato Leve Ecotelhado (1 cm ou mais, dependendo da análise) 1- O primeiro passo é colocar a membrana de retenção sobre a membrana antirraízes 2- A seguir, vemos a colocação da membrana de retenção 3- A membrana alveolar é cortada e aplicada 4- Ecotelhado recém-colocado em Niterói (RJ) Página 3 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Vantagens e cuidados especiais Para o arquiteto Fred Seigneur, consultor em conforto ambiental, as coberturas verdes podem garantir a longevidade das camadas de impermeabilização, contanto que haja cuidados especiais nessa etapa da implantação. A proteção pode ser feita com manta de PEAD (polietileno de alta densidade), cimento polimérico ou manta geotêxtil, para citar alguns exemplos. E, ao contrário do que se imagina, a solução pode funcionar como camada de isolamento, prevenindo o rompimento da impermeabilização ao se eliminarem os efeitos destrutivos da constante dilatação e contração das superfícies, dadas as mudanças de temperatura e à insolação. Mas para que a água da chuva não se acumule, provocando infiltrações, transbordamentos, trincas estruturais ou até o colapso da estrutura, a resistência da laje deve ser equivalente ao acúmulo de água e ao peso total da cobertura verde, incluindo o substrato das plantas e o sistema de drenagem. De acordo com Seigneur, as estruturas subjacentes, como vigas e pilares, também precisam ser estudadas em edifícios tanto em fase de projeto quanto de reformas, respeitando a sobrecarga a ser acrescentada à laje de cobertura e ao sistema específico que se pretende inserir, providenciando-se reforço estrutural caso necessário. Telhados verdes podem ser extensivos ou intensivos. Os extensivos são mais leves, com espessura do substrato de 5 cm a 15 cm. De manutenção mais baixa, são compostos de espécies vegetais herbáceas e gramíneas, na maioria dos casos. De acordo com a Igra (International Green Roof Association), a sobrecarga total da cobertura pode variar de 60 kgf a 150 kgf/m2. Já os intensivos funcionam como jardins suspensos. São coberturas mais pesadas, cuja espessura do substrato fica entre 15 cm e 50 cm, em que se utilizam plantas gramíneas, arbustivas e arbóreas. Nesse caso, a Igra recomenda que a sobrecarga considerada se situe entre 180 kg/m2 e 500 kg/m2, incluindo o sistema saturado de água. "O sistema de drenagem pode ser diferente de acordo com o porte da vegetação", afirma Adriana Brito, arquiteta do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Segundo ela, o mecanismo de drenagem, em contato com o substrato, onde os vegetais se desenvolvem, deve filtrar a água e promover a aeração do sistema. Também deve funcionar como barreira mecânica às raízes e escoar a água através das instalações de águas pluviais do edifício, sempre de Página 4 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp acordo com as normas vigentes. Sistemas diferenciados Sistemas modulares, alveolares, laminares e projetos especiais fazem parte do hall de tecnologias mais modernas de coberturas verdes disponíveis no mercado. Duas das principais empresas do ramo - a Ecotelhado, de Porto Alegre (mas com representantes em várias cidades brasileiras), e o Instituto Cidade Jardim, de Itu (SP) - já realizaram centenas de obras e oferecem opções customizadas para diferentes edifícios. Um desses sistemas é o Biotelhado I Cidade Jardim, sistema modular composto por material biodegradável, que pode ser usado em coberturas planas ou inclinadas. A versão Premium do produto conta com reservatório interno de água, implicando menor necessidade de irrigação para manutenção, com peso saturado de 80 kg/m2, dimensões de 0,40 m x 0,50 m x 0,05 m e capacidade de armazenamento de 16 l/m2 por módulo. Segundo o engenheiro agrônomo Sérgio Rocha, diretor do Instituto Cidade Jardim, o reservatório interno disponibilizao dobro da água que um sistema similar sem reservatório consegue manter, eliminando a necessidade de irrigação complementar durante os meses de seca (estimativas aplicáveis à região Sudeste). Rocha diz que os módulos são fabricados com fibra de coco, que se decompõe naturalmente após a instalação e se incorpora ao substrato de baixo teor orgânico, onde as mudas são plantadas. As espécies disponíveis são as suculentas herbáceas do tipo forração, que não formam raízes lenhosas, consomem pouca água, não precisam de podas e demandam pouca adubação complementar. As plantas não podem ser pisadas. O preço do produto é de R$ 173,13/m2, mais os custos de instalação. "O Biotelhado garante oferta de água reservada durante até 44 dias nos meses de inverno, considerandose estimativas da região Sudeste. Algumas plantas suculentas suportam até 88 dias sem irrigação. Essas ocasiões são raras, por isso praticamente não há necessidade de irrigação artificial", diz Sérgio Rocha. Em regiões áridas, como Brasília (com mais de cinco meses consecutivos sem chuva), irão sempre demandar irrigação complementar e devem receber orientações específicas. A manutenção recomendada pelo Cidade Jardim deve ocorrer a cada seis meses e inclui adubação de reforço, retirada de eventuais plantas invasoras, e limpeza das caixas de drenagem. O custo da visita em São Paulo é de cerca de R$ 1.500 para cada 100 m2 de Biotelhado. A empresa trabalha também com projetos especiais de coberturas intensivas. Nesse caso, Rocha afirma que é possível utilizar praticamente qualquer tipo de planta. "Podemos trabalhar tanto com uma maior diversidade de plantas suculentas, se o objetivo for estética e baixa manutenção, como também com um gramado, e praticamente qualquer árvore ou arbusto. Tudo depende do objetivo de uso e do quanto o cliente quer investir em seu telhado", esclarece. O volume de substrato é maior e as plantas são mais pesadas, por isso é preciso definir caso a caso qual será a sobrecarga e então pensar no dimensionamento estrutural necessário para esses projetos. Tanto nos projetos especiais quanto na instalação dos módulos de Biotelhado, Rocha enfatiza cuidados para evitar a compactação do substrato, e assim evitar a formação de pontos alagados ou lamacentos no telhado. "Devemos manter o substrato elevado, afastado da estrutura base. Por isso os sistemas possuem espaço livre para escoamento interno da água, bem como um fluxo constante de ar para a aeração do sistema." Quando se tratarem de arbóreas, com raízes lenhosas, será necessário avaliar a necessidade de utilização de uma membrana antirraízes sem herbicidas sintéticos, que comprometem a qualidade da água Página 5 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp efluente do telhado. "Caso se deseje um jardim suspenso com espécies lenhosas, optamos pela utilização de uma camada de proteção mecânica contra raízes - utilizamos chapas metálicas ou plásticas, dependendo da agressividade da planta e da sua velocidade de crescimento", explica o agrônomo. Sistema Modular Biotelhado As fotos detalham sequência de instalação de um jardim suspenso, uma cobertura intensiva. Os projetos de telhados verdes intensivos são mais complexos e costumam ser planejados com exclusividade. 1- Impermeabilização e proteção mecânica 2- Elementos de drenagem 3- Camada de filtragem e separação 4- Caixa de proteção para drenos 5- Substrato de argila expandida 6- Bordas de drenagem com acabamento em pedra São Tomé 7- Plantio de mudas "in loco" 8- Mudas recém-plantadas 9- Jardim suspenso com seis meses após plantio 10- Jardim suspenso um ano após plantio Página 6 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Sistema Laminar Ecotelhado 1- Os módulos de piso elevado são colocados sobre laje impermeabilizada 2- Em seguida, a membrana de retenção é colocada 3- Colocação de substrato leve fibroso 4- Leivas de grama são encaixadas Página 7 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp 5- Detalhe da lâmina de água subterrânea com dreno lateral 6- Sistema instalado. A foto compara o sistema laminar e o lote testemunha após 30 dias de seca 7- Sistema recém-colocado numa residência em Porto Alegre (RS) Reúso de água Os módulos 1 são posicionados sobre a laje impermeabilizada com os vasos para baixo, e depois cobertos com uma manta que os separa das raízes, sobre a qual se dispõe uma camada de substrato fibroso 2 . Ali se planta a grama. Porosos, eles são feitos de um material rígido que retém a umidade e os nutrientes e permite a passagem da água. Regulada por um ladrão 3 , a lâmina de água mantém-se em 4 cm. Para facilitar a manutenção, que deve ocorrer duas vezes ao ano, o ralo sifonado fica dentro de uma caixa de inspeção 4 . A água dos chuveiros e das pias é filtrada num reservatório e então bombeada até o telhado para a rega da grama, responsável por uma nova filtragem. Então, escoa para o sistema laminar, que a redireciona para as descargas. Página 8 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Alvéolos e lâminas A Ecotelhado, por sua vez, apresenta como diferenciais os sistemas alveolar e laminar. Segundo um dos sócios da empresa, o engenheiro agrônomo João Manuel Lick Feijó, o valor do investimento nos produtos vai de R$ 90,00 a R$ 160,00/m2, dependendo da complexidade do paisagismo a ser adotado, sem contar o plantio de leivas em grama, forração e instalação. A empresa fornece serviços de manutenção e oferece orientação específica sobre a irrigação em caso de seca prolongada. O sistema alveolar também consiste em módulos, com dimensões externas de 70 cm de comprimento x 35 cm de largura e 7 cm de espessura, subdivididos em oito compartimentos de 11 cm x 11 cm e 4 cm de profundidade. Feitos de resíduos de EVA (etil vinil acetato) moídos e aglutinados com cimento, são preenchidos com substrato nutritivo e funcionam como um xaxim artificial. A diferença é que vêm acrescidos de três membranas: antirraízes de polietileno de alta densidade, alveolar e filtrante. Retém 12 l/m2, boa parte em seus alvéolos. "Quando saturada a planta, ela deixa vazar o excedente pelas laterais da placa, que possui espaços vazios na parte inferior, conduzindo esse excedente em toda a extensão da laje até o ralo de drenagem. Assim, a laje se mantém sem umidade ficando a água toda retida na parte superior da placa", afirma Feijó. Os módulos podem ser plantados com grama ou forrações de baixo porte, proporcionando a possibilidade de paisagismo. O sistema é recomendado para laje plana e telhados com pequena declividade e pesa de 60 kg a 80 kg, dependendo do tipo de planta empregado, em geral, vegetação xerófila, de forração. Existem aqueles projetados para baixa manutenção, perenes, rústicos, com aspecto natural e outros bastante sofisticados com topiagem, plantas anuais, corte de grama e outras opções. "Apesar da membrana, procuramos evitar as que podem ocasionar problemas como bambu, fícus e plantas de maior porte", afirma Feijó. O Sistema Laminar Ecotelhado caracteriza-se por utilizar uma lâmina d'água sob um piso elevado feito de módulos de sustentação, e só pode ser instalado sobre telhados completamente planos. Vem acompanhado de membrana antirraízes e de retenção de nutrientes. A capacidade de retenção de água é de 40 l/m2, além do volume no substrato e nas plantas, somando até65 l/m2. O peso, porém, é de 120 kg/m2, variando de acordo com a vegetação escolhida. Ideal para grama, que mantém a umidade para conservação das lâminas, o sistema suporta grande diversidade de plantas arbóreas. "Esse sistema é recomendado para obras novas, em regiões sujeitas a longos períodos de estiagem. Se usarmos água cinza para irrigação acaba sendo muito prático por manter o reservatório embaixo da planta, que é irrigada por evaporação", explica Feijó (ver figura). O arquiteto Fred Seigneur, no entanto, ressalta que para qualquer cobertura verde, a impermeabilização deve ser checada a cada cinco anos. Já o manejo de massa de vegetação, para qualquer sistema e fabricante, requer manutenção a cada 12 meses, no máximo, para manter a eficiência dos sistemas. SERVIÇO Instituto Cidade Jardim: www.institutocidadejardim.com.br Ecotelhado: www.ecotelhado.com.br Colocação de bordas de acabamento com pedras São Tomé e jardim suspenso com forração herbácea Página 9 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp Conteúdo online exclusivo: >>> Veja mais fotos de projetos com cobertura verde Página 10 de 10Revista Téchne 28/08/2010http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/148/imprime144157.asp
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