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Direito Civil I aula 09

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ROBERTO GATTI
FATOS e NEGÓCIOS JURÍDICOS
CONTEXTUALIZAÇÃO: 
Até o momento nós já estudamos:
A Codificação Civil brasileira (CC/16 x CC/02)
Os chamados – sujeitos de direitos e deveres (pessoas físicas e jurídicas).
O que ocorre quando as pessoa natural, nasce, adquire a maioridade ou se emancipam se tornam ausentes e morrem.
Os direitos que decorrem da personalidade que o direito atribui a tais sujeitos de direitos (direitos, em regra, não patrimoniais).
Os bens que pertencem ou podem vir a pertencer às pessoas físicas e jurídicas, bens que integram o chamado patrimônio de tais pessoas e que podem ser considerados em si mesmos ou uns em relação aos outros e também tivemos uma noção do que são bens públicos.
A partir dessa aula passamos a estudar os acontecimentos (fatos), naturais (uma árvore que cai em razão de fortes ventos) ou artificiais (um contrato de locação, por exemplo) que podem ocorrer no mundo e que têm relevância para o direito – são os chamados - Fatos Jurídicos ou Jurígenos.
Nesta aula o principal aprendizado será “navegar” para entender este organograma:
	1ª DICA PARA NÃO ERRAR – Está na expressão – “POTENCIAL DE...”, isso é, dentre tudo aquilo que pode ocorrer no mundo, há ocorrências que não causam, porque não têm qualquer potencial para causar, qualquer efeito jurídico e há outros acontecimentos que têm “POTENCIAL DE...” causar efeitos jurídicos.
Quando falo em “POTENCIAL DE...” falo apenas em ter condições de causar efeitos jurídicos, assim, se um acontecimento reúne condições para gerar tais efeitos, ele será um FATO JURÍDICO – por mais que, na prática, não produza efeito jurídico algum.
Exp. Aos 45 minutos do segundo tempo um formiga terminou de descer de uma das traves do campo. 
Pergunto: 1 - Isso é um fato, um acontecimento, algo que se verificou na prática?
2 - Este fato tem algum PONTECIAL DE GERAR EFEITO JURÍDICO, isso é, pode, de alguma forma, ser relevante para o Direito?
Exp. O Sr. Chevrolet da Silva Ford não tem nenhum herdeiro vivo e por isso fez um testamento pelo qual deixará seu único bem (um VW 1962) para uma vizinha, sendo que, dias depois de pronto o testamento, a vizinha vem a falecer. Pergunto:
1 – Elaborar um testamento é um fato, um acontecimento, algo que se verificou na prática?
2 - Este fato, após ter sido concluído, tinha PONTECIAL DE GERAR EFEITO JURÍDICO, isso é, pode, de alguma forma, ser relevante para o Direito?
Obs – Notem que é irrelevante o fato de que este testamento (na prática) não irá produzir efeito algum (em razão da morte da vizinha) o importante é que o mesmo teve POTENCIAL DE produzir efeitos jurídicos, portanto é um Fato Jrd.
Essa noção nos permite as primeiras classificações:
Ex. Um raio que cai em alto mar, uma gota de
Jurídicos.
	Obviamente, o que vai nos interessar são apenas os Fatos Jurídicos (F.Jrds). Antes de continuar, porém, cabe uma segunda dica para evitar confusões:
2ª DICA PARA NÃO ERRAR – A resposta:
 
“DEPENDE” está de volta!
Notem o exemplo do RAIO que cai: Ele é jurídico ou ajurídico?
Resposta: D...
	No primeiro exemplo (raio caiu em alto mar) é um fato ajurídico.
FATOS
 JURÍDICOS
sobre alguém, que vem a morrer; uma
	No segundo exemplo (um raio caiu sobre uma pessoa e a matou) temos que a queda deste raio é um F. Jrd., pois provocou a morte que causa efeitos jrds.
	Logo, se a pergunta for apenas “a queda de um raio é um F. Jrd. ou ajurídico”, a resposta será ...
Antes de continuar é importante nos perguntarmos:
QUAIS EFEITOS O F. Jrd. PODE PRODUZIR?
São 5 os efeitos que os F. Jrds.: Criar, Modificar, Conservar, Transferir ou Extinguir relações jurídicas.
Assim: A assinatura de um contrato de seguro de carro, cria relação jrd., a inclusão posterior de item inicialmente não coberto (como a de um kit gás), modifica a relação jurídica inicial (o seguro fica mais caro), a renovação automática a cada 12 meses de vigência do contrato, em caso de silêncio das partes, conserva a relação jurídica, já a troca do seguro para um outro veículo adquirido transfere o direito de cobertura de riscos e o pagamento da cobertura, em razão do furto do veículo, extingue a relação jurídica. 
Visto isso podemos continuar: Então, temos os fatos ajurídicos (que em nada nos interessam) e temos os F. Jrds., sendo que dois dos exemplos já dados nos permitem perceber uma diferença entre eles. Vamos relembrar:
	O Sr. Chevrolet da Silva Ford fez um testamento.
	Um raio que cai sobre uma pessoa causando sua morte.
Qual a diferença entre estes exemplos?
Exatamente! Um decorre de uma ação humana o outro de um fato da natureza.
	Essa diferença nos permitirá uma segunda e terceira classificação nesta aula (ambas referentes a – F.Jrd.).
	Tudo o que gera efeitos jurídicos é chamado de – F.Jrd. – e como há mais de um tipo de F.Jrd. dizemos que F.Jrd. é gênero que comporta espécies ou que existe o F.Jrd. EM SENTIDO AMPLO (e se falamos “em sentido amplo” é porque logo iremos falar em “sentido estrito”).
Notem: 
O que diferencia é a existência ou não da VONTADE HUMANA.
FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
Obs – Os F. Jrds. Humanos também seriam “F.Jrds.” em Sentido Estrito”, po-rém, como decorrem da vontade humana, não são meros acontecimentos aleatórios e, por isso eles são chamados de “ATOS Jrds.” e como há mais de um tipo de Ato Jrd., ele se torna - Ato Jrd. – AMPLO. Mas a frente trataremos dele. Agora vamos ver os tipos de “F. Jrd. Natural em sentido estrito”. 
*
*
Existe mais de um tipo de “F. Jrd. Natural em Sentido Estrito”, conforme se vê abaixo:
		 Obs – “Caso Fortuito” e “Força Maior” são matérias que vocês 		 irão estudar em outro semestre.
FATO – Porque acontece no mundo / JURÍDICO – Porque é relevante para o Direito / NATURAL – Porque é a natureza quem causa / ORDINÁRIOS – Porque é uma questão de tempo para que ocorram.
EXTRAORDINÁ-
RIOS – Porque ocorrem mas não ocorrem sempre.
Também existe mais de um tipo de “(F)Ato Jrd. Humano em Sentido Amplo”:
Obs.1 – Como já dito, a doutrina prefere chamar o “Fato Jrd. Humano” por “ATO Jrd. Humano”, pois “fato” é um acontecimento qualquer e “ato” é um acontecimento decorrente da ação humana, logo, é um ATO humano. Não obstante o Ato Jrd. não deixa de ser uma espécie de Fato Jurídico.
Obs.2 – Os A. Jrds. Lícitos são os “A.Jrds. em sentido estrito” (pois estes são os atos ideias para o Direito) mas a doutrina não usa essa nome para eles.	
F.Jrd. em SENTIDO AMPLO
Obs – Uma dúvida que pode surgir aqui (e uma corrente minoritária da doutrina assim defende) é se faz sentido falar em “ATO JRD. ILÍCITO” ou seja: - algo que é “jurídico” pode ser, ao mesmo tempo “ilícito”?
O que vocês dizem?
	Esta questão não faz sentido aqui, pois, quando falamos em “jurídico” nessas classificações, não se temos em mente o termo “jurídico” como sinônimo de “correto” de “a favor da lei” mas sim de algo RELEVANTE OU NÃO PARA O DIREITO, assim, não importa se o Ato ocorrido é lícito ou ilícito, mas sim, que ele é relevante para o direito.
	
Em Resumo:
Obs – A partir deste slide vou usar, para “Ato Jurídico”, a sigla – A. Jrd.
Voltando à Classificação, temos que os A. Jrds. Lícitos se dividem em 3 categorias e é com base na noção de direito objetivo e subjetivo que vamos entender cada uma delas e, para isso, vamos ter que separar cada Ato Jrd. em duas fases: Fase 1 (exercício ou não do Ato Jrd.) e Fase2 (produção dos efeitos) e analisar cada fase de acordo com a noção de direito objetivo e subjetivo:
Fase 1 – É Subjetiva - se escolhe ou não praticar o ato. Fase 2 – É Objetiva – os efeitos do ato praticado (se realmente produzidos) estarão todos os previstos em lei.
Fase 1 – É Subjetiva - se escolhe ou não praticar o ato. Fase 2 – É Subjetiva - a lei permite às partes escolher (se não todos, ao menos, a grande maioria) (d)os efeitos.
Momento 1 – É irrelevante a análise. Momento 2 – É Objetivo - a lei determina os efeitos se, no caso de pratica do Fato previstoem lei.
Gera certa dificuldade de compreensão e tem subdivisões.
Vejamos cada um deles:
A. Jrd. EM SENTIDO ESTRITO – Toda vez que algo é tomado em “sentido estrito”, temos uma “rigidez de conceito”, isso é, para se encaixar no conceito é necessário apresentar, exatamente, as características exigidas no conceito.
Exp. Se meu conceito é de “líquido” tudo o que existir na forma líquida se encaixa neste conceito, porém, se meu conceito for o de “agua” nele só se encaixa aquilo que tiver em sua estrutura química, exclusivamente os componentes “H2O”, assim ficam excluídos deste conceito coisas como:					
 										 e								
										
E se os efeitos produzidos pelo A. Jrd. estão todos previstos na lei não é dado a quem o prática escolher quais efeitos quer que sejam produzidos e quais não quer. Exp. – Se alguém reconhece a paternidade de uma criança não pode escolher que não terá responsabilidade por prover alimentos, pois, no “pacote” do “reconhecimento de paternidade” se encontra este dever inafastável.
H2O2
No caso do A. Jrd. em Sentido Estrito, o “conceito rígido” é - todo A.Jrd. cujos efeitos estejam 100% previstos em lei. 
Obs – Alguém poderia perguntar: Mas se a paternidade for determinada em ação de investigação de paternidade, o investigado nada escolhe – nem reconhecer a paternidade nem assumir seus efeitos.
	É verdade, porém, neste caso a escolha já havia ocorrido em momento anterior (cerca de 9 meses) quando o futuro genitor escolheu fazer algo, mesmo sabendo que isso tinha potencial para colocá-lo na condição de genitor. Uma vez que esta escolha venha a gerar os efeitos que dela se espera, tais efeitos serão obrigatórios e estarão todos previstos em lei.
	Voltando à explicação dada no início, se separarmos os A.Jrd. estrito sensu em duas fases, temos que a primeira é SUBJETIVA onde há liberdade de escolha em praticar ou não o ato que pode gerar efeitos e se tais efeitos se efetivarem, nasce a segunda fase, a fase OBJETIVA onde é a lei quem determina todos os efeitos.
	Exp. – Reconhecimento a União Estável – Se alguém vai a um cartório e registra que está vivendo em união estável com outrem (Fase Subjetiva), todos os efeitos deste reconhecimento são impostos pela lei (Fase Objetiva).
NEGÓCIO JURÍDICO – Esta é a classificação que mais nos interessa (que nada mais são que os - contratos) pois é a “espinha dorsal” do direito civil e na continuidade desta e das próximas duas aulas é dela que iremos tratar! 
	Como dito na explicação inicial, aqui, ambas as fases são subjetivas e assim são porque estamos tratando de - negociação dentre partes.
Obs – Não podemos pensar, porém, que “A LEI NÃO TEM QUE SE METER NA NEGOCIAÇÃO DAS PARTES”, pois, em primeiro lugar, foi a própria lei que “resolveu” que ambas as fases seriam subjetivas e, de qualquer forma, são subjetivas nos limites da lei, assim, se uma pessoa contrata outra para matar uma terceira, a lei tem tudo a ver com isso, pois, por meio das sanções que impõem (civis e penais) proíbe tal “negociação”.
Exp. – Posso querer ou não vender meu carro (1ª Fase – Subjetiva). Se quiser e encontrar um comprador posso negociar com ele, sem interferência da lei: o preço, se os acessórios instalados ficam ou serão retirados, se o pagamento será a vista ou em parcelas... (2ª Fase – Subjetiva)
ATO – FATO Jrd. – A falta de previsão legal deste tipo de Ato faz com que muitos doutrinadores o ignorem (Flavio Tartuce, por exemplo, na série de livros que tratam de todo o Direito Civil, sequer o menciona), porém, eles existem e são relevantes e por isso cabe conhecê-los.
Gagliano e Pamplona Filho assim o define:
 “Ato-Fato Jrd. nada mais é que um FATO Jrd. qualificado pela atuação humana”
	Para que este conceito faça sentido é importante lembrar que embora o Ato Jrd. seja uma espécie de Fato Jrd., os chamamos de ATO Jrd. porque, nascem na ação humana (característica que lhes tornam especiais em relação aos demais Fatos Jrds. - que nascem de eventos aleatórios da natureza).
	Não obstante, no Ato – Fato Jrd., a vontade humana é irrelevante para a lei, o “peso” está no FATO Jrd. que nasce a partir de uma ação humana (e não importa se tal ação foi intencional ou acidental). 
	Daí o nome “Ato-Fato” pois, embora o ato gere o fato, é só a partir da geração do fato que o Direito se importa, e não com a causa (ato humano) que lhe deu origem, embora não se desconheça que nasceu da ação humana (que se torna um detalhe).
Vamos aos tão esperados exemplos: 1 - Art. 1263 CC (Ocupação):
Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
	Algo sem dono, enquanto permanecer sem dono ou se nunca for “assenhorado” é irrelevante para o Direito, que só se preocupa em regular a situação a partir do “assenhoramento” (que tem que ser de coisa sem dono e a apropriação não pode ser proibida pelo Direito).
 O “assenhoramento” é um ato humano, logo, o ato humano não é 100% irrelevante aqui, porém, o “peso” da regulamentação legal se encontra após a coisa ter sido encontrada ou notada e ter sido considerada útil para quem a encontrou ou notou. É em razão disso que irá se dar o “assenhoramento” e é aí que o Direito entra para dizer o que pode o que não pode ser “assenhorado” (repito - ser coisa sem dono e a posse da coisa não ser proibida pela Direito).
2 - Art. 1264 CC (Tesouro - enterrado ou escondido - que vem a ser encontrado):
O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente.
O que a lei disciplina é o “tesouro encontrado” antes do encontro deste ou se este permanecer não encontrado a lei nada tem a dizer. 
Um tesouro encontrado só será percebido como tal se for encontrado por um humano (que tenha condições de saber que encontrou um tesouro, ainda que com a ajuda de outra ou de outras pessoas - se um cachorro o encontrar um diamante enterrado não lhe dará nenhum valor), portanto, não é 100% irrelevante a descoberta, pois, esta só é valida se ocorrer por um ato humano e pela consciência de que aquilo que se encontrou é um tesouro, mas, o “peso” da regulamentação legal não está no ATO de encontrar que, aqui, via de regra, é acidental - mas no FATO do tesouro, por ter sido descoberto, atrair o disciplinamento jurídico.
	Notem que lei não se preocupou em afirmar que aquele que encontra tem que ser maior e capaz, assim, se uma criança encontrar um tesouro e souber ou for alertada de que tratasse de um tesouro, será dela a propriedade de metade do tesouro e isso ocorre porque a lei não se preocupa em disciplinar o ato do encontro ou quem pode e não pode se tornar proprietário de metade do tesouro se o encontrar.
Como esclarecido no início, no Ato-Fato Jrd. a análise “objetivo” ou “subjetivo” na primeira fase não importa, pois, não importa para a lei as razões que levaram à prática do Ato ou quem encontrou, o importante são os efeitos gerados a partir da prática, que é a segunda fase sendo esta é OBJETIVA pois vale aquilo que a lei determinar.
Antes de estudar os Negócios Jrds. como maior profundidade vou relembrar o primeiro organograma que vimos nesta aula a fim de fazermos uma rápida revisão.
CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (N.Jrds.)
CONCEITO – É, na verdade, a junção dos efeitos do F. Jrd. que vimos no início da aula, conceito que o CC/16 trazia no Art. 81 (para definir F. Jrd.) mas que, também, conceitua N. Jrd. (dispositivo não repetido no CC/02) e que afirma:
Todo ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos,...“
Obs – Estes são os mesmos 5 efeitos do F. Jrd. que indiquei no início da aula, porém, em ordem diferente e com uso de alguns sinônimos):
Criar, Modificar, Conservar, Transferir ou Extinguir
CLASSIFICAÇÃO – Como é muito comum no Direito, aqui também não há perfeita unanimidade de classificação entre os doutrinadores e por isso vou usar a classificaçãoque se encontra no livro de estudo que lista os N. Jrds. de 9 formas diferentes e que se subdividem em outras, de acordo com cada critério utilizado.
1 – Quanto à Manifestação de Vontade:
- UNILATERAIS: São os N. Jrds. formados pela declaração de vontade de uma só pessoa (exp.: testamento, e promessa de recompensa). Subdividem-se em: 
a) receptícios: aqueles em que a declaração de vontade deve ser levada ao conhecimento do destinatário para que produza efeitos (p. ex.: promessa de recompensa);
b) não receptícios: aqueles em que o conhecimento do destinatário é irrelevante (exp.: testamento).
- BILATERAIS: aqueles em que há duas manifestações de vontade. Os contratos, por exemplo, exigem, ao menos, dois contratantes, duas manifestações de vontade.
- PLURILATERAIS: São os N. Jrds. em que há duas ou mais pessoas com interesses coincidentes em um ou ambos os polos do negócio (essa situação é comum em contratos de incorporação imobiliária de compartilhamento de pacote de internet).
2 – Quanto à Vantagens Para as Partes: 
- GRATUITOS: são os N. Jrds. representados por atos de liberalidade, isto é, atos que outorgam vantagens sem exigir uma contraprestação. 
Exp.: contrato de doação pura, contrato de comodato, testamento etc.
- ONEROSOS: são aqueles que envolvem sacrifícios e vantagens patrimoniais para todos os envolvidos. Exemplos: contrato de compra e venda, contrato de locação etc.
BIFRONTES: são os N. Jrds. que, de acordo com a vontade das partes, podem ser gratuitos ou onerosos. Exemplos: contrato de depósito, contrato de mútuo, contrato de mandato etc.
- NEUTROS: são aqueles que não podem ser enquadrados nem como gratuitos nem de onerosos pois se caracterizam-se pela ausência de atribuição patrimonial. Exp: instituição de bem de família (CC, arts. 1.711 a 1.722), cláusula de inalienabilidade, incomunicabilidade ou impenhorabilidade etc.
3 - Momento da Produção dos Efeitos:
- INTER VIVOS: são os N. Jrds. que têm por objetivo a produção de efeitos durante a vida dos participantes. 
Exp. - os contratos, a promessa de recompensa, o pacto antenupcial. Eventualmente, podem continuar produzindo efeitos após a morte, como ocorre com alguns contratos.
- CAUSA MORTIS: são aqueles que somente produzem efeitos após a morte da pessoa que manifestou a vontade. A morte é considerada requisito de eficácia do negócio jurídico. 
Exp.: testamento e codicilo (este último - ato simplificado de disposição de última vontade para a atribuir bens de pequeno valor).
4 – Forma:
- SOLENES OU FORMAIS: são os N. Jrds. que devem seguir as solenidade ou formalidades impostas pela lei para que sejam válidos.
a) Formalidade - exigência de forma escrita
b) Solenidade - exigência de instrumento público (feito em Cartório). 
	Obs – A não observância causa a nulidade do N. Jrd., conforme previsão do art. 166 do Código Civil (exp.: testamentos, contrato de compra e venda ou doação de imóvel com valor superior a trinta salários mínimos).
- NÃO SOLENES OU INFORMAIS: são os N. Jrds. que têm forma livre e no CC a regra é os negócios serem não solenes e informais, conforme dispõe o Art. 107: 
“a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. 
Exp.: os contratos de comodato e de locação podem ser celebrados verbalmente.
5 – Autonomia:
- PRINCIPAIS (OU INDEPENDENTES): são os N. Jrds. que têm existência própria, não dependendo de qualquer outro para que tenham validade ou eficácia.
Exp. - Locação é um exemplo clássico de contrato principal.
- ACESSÓRIOS (OU DEPENDENTES): são aqueles cuja existência está subordinada a outro negócio jurídico. 
Exps.: Como visto na aula passada a fiança é um tipo contrato dependente (que segue o principal pelo Princípio da Gravitação Jrd).
 
6 - Condições Pessoais dos Negociantes
- IMPESSOAIS: são os N. Jrds. que independem da condição pessoal dos envolvidos. Se uma das partes não cumprir a obrigação assumida, outra pessoa poderá cumpri-la. 
Exp. - Compra e Venda - havendo a morte de um dos contratantes, seus herdeiros são obrigados a cumprir o contrato. (explicar)
- PESSOAIS (também conhecidos como personalíssimos ou intuitu personae): são os N. Jrds. que dependem de condição pessoal dos negociantes, havendo obrigação infungível (insubstituível). 
	Em caso de morte, os herdeiros não são obrigados a cumprir o contrato (p. ex.: contratação do jogador de futebol “x” para jogar no time “y”).
7 – Causa Determinante
- CAUSAIS (OU MATERIAIS): são os N. Jrds. em que o motivo de sua realização é expressamente indicado. 
Exp.: termo de separação ou divórcio.
- ABSTRATOS (OU FORMAIS): são aqueles em que a razão de sua ocorrência não está e nem precisar estar expressamente indicada.
Exp.: termo de transmissão da propriedade; emissão de título de crédito etc.
8 - Momento da Eficácia:
- CONSENSUAIS: são os N. Jrds que se consideram formados a partir do momento em que há acordo de vontades. 
Exp.: compra e venda pura.
- REAIS: são os negócios que somente se aperfeiçoam após a entrega do objeto. 
Exp.: contrato de comodato, contrato de depósito e contrato estimatório (conhecido como “venda em consignação”.
9 - Extensão dos Efeitos:
CONSTITUTIVOS: são os N. Jrds. que geram efeitos ex nunc (não retroativos), isso é, a partir de sua celebração para o futuro. 
Obs - Em geral os contratos (compra e venda, comodato, estimatório...) têm eficácia constitutiva.
DECLARATIVOS: são aqueles que produzem efeitos ex tunc (retroativos), a partir do momento em que ocorreu o fato que constitui seu objeto.
Exp. - Como exemplo de negócio declarativo, temos a partilha de bens na sucessão de uma pessoa, que retroage ao momento da morte.
INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
Obs – Descobri que este tema irá se repetir em aula futura, embora seja mencionada nesta, assim, vou deixar os slides mas não as vou considerar nesta aula.
Interpretar o N. Jrd. nada mais é que determinar o que, realmente, pretendiam as partes contratantes e isso se faz necessário, pois, o ideal é que na prática ocorra aquilo que era a vontade as partes quando resolveram celebrar o N. Jrd.
Como já dito em aula anterior, embora o CC/16 fosse uma lei extremamente patrimonialista (isso é, que tinha o patrimônio por “sagrado”) e o atual CC seja adepto da Boa Fé Objetiva e das “clausulas abertas”, ainda hoje, se não houver nenhuma abuso no exercício do direito – O CONTRATO FAZ LEI ENTRE AS PARTES (pacta sunt servanda) e portanto deve procurar ser respeitado.
Ocorre que a partir do próprio contrato (mesmo que escrito) nem sempre é fácil concluir o que queriam as partes e a principal razão disso ocorre quando o N. Jrd. acaba fazendo surgir uma discórdia entre os contratantes pois, neste caso, cada um irá dar ao contrato (em especial se este for mal redigido) a interpretação que lhe for mais favorável.
Assim como a lei (que faz lei para todos) precisa ser interpretada de acordo com
critérios (conhecidos com Hermenêutica) o contrato (que faz lei entre as partes) também precisa de critérios para ser interpretados e é disso de que tratam algumas disposições legais, dentre as quais é necessário destacar:
1 – Art. 112 do CC/02 (muito usado pelos advogados para justificar seus erros de escrita:-):
“nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.
	É verdade que este artigo pode ser “usado para o mal”, seja na hora de elaborar o contrato (usando linguagem dúvida de propósito para depois invocar este artigo) ou por tentar alterar o que está escrito alegando que aquilo que está escrito não corresponde a intenção existente no momento da contratação (quando, na verdade, corresponde), porém, por mais que possa (assim quase tudo) ser usado para o “mal” é melhor ter este artigo do que não tê-lo. 
2 – Art. 113 do CC/02:
“os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”
	Este artigo é de grande importância em razão do uso da cláusula aberta “boa-fé” quepermite ao Juiz desconsiderar o próprio contrato para tentar ler, nas alegações das partes em conflito, quem está faltando com a boa-fé.
 	Nos grandes centros esta parte final do artigo não é muito útil mas em regiões mais afastadas é comum as pessoas terem costumes (que é uma das fontes subsidiárias do direito) ao fazerem negócios que podem auxiliar muito a interpretação de um contrato, em especial, quando tal contrato foge àquilo que ali é costume se fazer.
Obs – Neste sentido é importante chamar a atenção para a extensão deste artigo, criada pelo Enunciado 409 do CJF:
“os negócios jurídicos devem ser interpretados não só conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração, mas também de acordo com as práticas habitualmente adotadas entre as partes”.
3 - Art. 114 CC/02:
 “os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”. 
N. Jrds. benéficos (ou gratuitos), são aqueles em que uma das partes pratica uma liberalidade a favor de outra pessoa sem que exista uma contraprestação por parte desta. 
Exp.: doação pura (será que inclui os Imóveis por acessão intelectual ou as pertenças, se o termo de doação nada mencionar quanto a estes bens?)
	 A renúncia é a manifestação de vontade pela qual se abre mão de direitos sendo desnecessário indicar os motivos (se pudesse esta renúncia ser interpretada ampliativamente, em bem provável que o dispoente acabará perdendo direitos dos quais não pretendia “abrir mão”). 
4 – Artigos na Parte Especial: Além das regras acima tratadas (que estão todas na parte geral do CC) há ainda artigos da parte especial que também trazem regras de interpretação. É o que segue: 
Art. 423: “quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente”
Art. 819: “a fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva”
Art. 843: “a transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos”; e 
Art. 1.899: “quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador”.
CORREÇÃO E COMENTÁRIOS DOS CASOS CONCRETOS:
AULA 7
Caso concreto
Os irmãos José e Pedro receberam por doação de seus pais um terreno loteado com área de 210 m2. Pretendendo cada qual construir uma residência no terreno, firmaram escritura pública de divisão, em que ficou localizada a parte de cada um, com 105m2, sendo levada ao Serviço de Registro de Imóveis. Ocorre que, pelo art. 4°, II, da Lei 6.766/79, a área mínima exigida é de 125 m2.
Com base na disciplina jurídica dos bens, responda JUSTIFICADA E FUNDAMENTADAMENTE:
A) Levando em consideração a classificação dos bens considerados em si mesmos, classifique o bem em questão. 
B) Você, na qualidade de funcionário do Serviço de Registro de Imóveis, faria o registro? Justifique a sua resposta com base no princípio da autonomia privada e na disciplina dos bens considerados em si mesmos.
Levando em consideração a classificação dos bens considerados em si mesmos, classifique o bem em questão. 
R - Bem Imóvel e Indivisível por força de lei 
B) Você, na qualidade de funcionário do Serviço de Registro de Imóveis, faria o registro? Justifique a sua resposta com base no princípio da autonomia privada e na disciplina dos bens considerados em si mesmos.
R - Só se fosse maluco
Questão objetiva:
 Marcos ganhou como presentes de casamento, um quadro assinado por seu autor; um liquidificador de marca conhecida e disponível no mercado, um relógio de parede, único, que havia pertencido a seu bisavô, e certa quantia em dinheiro. São considerados bens infungíveis o:
a) quadro, o relógio e o dinheiro.
b) dinheiro, apenas.
c) relógio, apenas.
d) relógio e o liquidificador.
e) quadro e o relógio. 
(não pode ser a letra “c” porque, mesmo não especificando se o pintor do quadro está vivo ou não, nem ele mesmo poderia fazer um quadro absolutamente igual – a única forma de se ter uma cópia exata seria por meio diversos da forma como o quadro foi feito (isso é, pintado), logo, o quadro também é infungível. 
CORREÇÃO E COMENTÁRIOS DOS CASOS CONCRETOS:
AULA 8
Caso concreto
Otavio e Thalita emprestaram de Pedro um imóvel para fins residenciais por três anos. Durante o tempo que passaram no apartamento, Otavio e Thalita consertaram algumas infiltrações, colocaram um forno a lenha daqueles inamovíveis, e aplicaram papel de parede em todos os quartos. Findo o prazo do contrato, Otavio e Thalita foram notificados para deixar o bem.
Nesse caso, e conforme a disciplina jurídica dos bens no Código Civil, responda:
A) Classifique cada espécie de bem acessório que aparece no comando da questão. Justifique a sua resposta.
B) O que Otávio e Talita podem fazer com os bens acessórios identificados no item anterior? Cabe direito de retenção? Justifique a sua resposta.
 
A) Classifique cada espécie de bem acessório que aparece no comando da questão. Justifique a sua resposta.
R - Os bens acessórios que aparecem no enunciado são:
- conserto das infiltrações: benfeitorias necessárias, pois destina-se à conservação do bem.
- forno a lenha: benfeitora útil, pois trará maior facilidade para utilização do bem.
- papel de parede: benfeitoria voluptuária, pois serve para embelezar os quartos 
Obs – Tive uma divergência inicial com o gabarito no item “papel de parede”, pois, o enunciado não afirma que o papel é caro e luxuoso, portanto, ele equivaleria à pintura das paredes e, portanto, seria uma benfeitoria necessária (á conservação da estética do bem) e não voluptuária, mas, fui alertado (pelos alunos da turma da manhã) que papel de parede é algo muito caro. 
Sendo assim ele se torna um luxuoso substituto da pintura da parede e, como tal, se torna voluptuário.
 
B) O que Otávio e Talita podem fazer com os bens acessórios identificados no item anterior? Cabe direito de retenção? Justifique a sua resposta.
Obs – Não tivemos tempo de estudar o direito de indenização de retenção por benfeitorias feitas e por isso faço um pequeno resumo:
Direito de Retenção se dá quando aquele que realizou (certas) benfeitorias em bem principal alheio, tem direito de reter (não sair, não entregar) o bem principal até que seja indenizado pelas benfeitorias que fez:
O Art. 1219 do CC determina:
O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
	Todas as benfeitorias feitas dão direito a INDENIZAÇÃO e se não forem indenizadas, geram efeitos diferentes: duas geram direito de retenção e a outra de retirada da benfeitoria caso isso não danifique o bem principal.
	Se a benfeitoria “voluptuária” não for indenizada ele pode ser retirada desde que não cause prejuízo ao bem principal (e portanto a seu proprietário). Se não for possível retirar sem causar dano ao imóvel (ou sem que se repare este dano – o que pode tornar inviável a retirada) – “perdeu playboy”.
	Se as benfeitorias úteis e necessárias (que nunca podem ser retiradas) não forem indenizadas, haverá para o casal direito de retenção, como forma de coagir o pagamento das mesmas.
	
Questão objetiva
(OAB - XVI EXAME UNIFICADO/2015) O prédio que abrigava a Biblioteca Pública do Município de Molhadinho foi parcialmente destruído em um incêndio, que arruinou quase metade do acervo e prejudicou gravemente a estrutura do prédio. Os livros restantes já foram transferidos para uma nova sede. O Prefeito de Molhadinho pretende alienar o prédio antigo, ainda cheio de entulho e escombros. Sobre o caso descrito, assinale a afirmativa correta.
a) Não é possível, no ordenamento jurídico atual, a alienação de bens públicos.
b) O antigo prédio da biblioteca, bem público de uso especial, somente pode ser alienado após ato formal de desafetação.
c) É possívela alienação do antigo prédio da biblioteca, por se tratar de bem público dominical.
d) Por se tratar de um prédio com livre acesso do público em geral, trata-se de bem público de uso comum, insuscetível de alienação.
Obs – O prédio público desativado e sem condições de uso perde, naturalmente, sua afetação e por isso é considerado bem dominical – que chamamos de “patrimônio privado, da pessoa jurídica de direito publico)

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