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Paulo Mendes da Rocha por Danieli Pisani - Artigo - Revista Design, NOV 13.

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PAULO 
MENDES 
DA ROCHA
A CONSTRUÇÃO DE UM HORIZONTE DISCURSIVO 
NO INICÍO DA CARREIRA DO ARQUITETO
Em março de 1958, Paulo Mendes da Rocha foi eleito vencedor do concurso para o Club 
Athletico Paulistano. Recém-inaugurado, em 1961, o edifício recebeu o prestigioso Grande 
Prêmio Presidente da República, na 6ª Bienal de São Paulo, concedido por um júri de que 
fez parte Affonso Eduardo Reidy. Nesse meio tempo, em agosto de 1960, Mendes da Rocha 
- recomendado, entre outros, por Rino Levi, um dos jurados no certame do Paulistano, 
e por Ícaro de Castro Mello - foi contratado pela FAU/USP como assistente de João 
Batista Vilanova Artigas no curso Composição de Arquitetura - Grandes Composições 2.
POR DANIELE PISANI
Com pouco mais de 30 anos, então, Paulo Mendes 
da Rocha já realizara uma obra que marcaria época, 
prontamente reconhecida como tal, e tinha sido 
chamado a colaborar com o líder da arquitetura 
paulista. É tentador acreditar que o arquiteto 
começava a carreira tão maduro profissionalmente, 
sobretudo quando se considera que, antes de 
se matricular na Faculdade de Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Mackenzie, havia 
passado dois anos estudando na Escola Naval do 
Rio de Janeiro. Mas a extraordinária maturidade 
do Paulistano é uma conquista trabalhosa; e o 
único modo de mostrá‑lo é analisar os primeiros 
projetos da carreira de Mendes da Rocha, 
anteriores, no tempo, ao que se convencionou 
considerar o início da sua produção.
São projetos elaborados em meados dos anos 
1950, entre a graduação e o concurso para o 
Paulistano, não construídos e até agora inéditos 
(leia a entrevista nesta edição, sobre o livro 
“Paulo Mendes da Rocha: obra completa escrito 
por Daniele Pisani), embora não seja menor o 
papel que desempenharam na formação do 
arquiteto. Eles nos permitem acompanhar o 
desenvolvimento, em curto período de tempo, 
de uma obra de surpreendente originalidade.
REFERÊNCIAS DO MODERNISMO LOCAL
Os primeiros projetos de Mendes da Rocha de 
que se tem notícia revelam claramente as marcas 
do ambiente de sua formação. A capela que ele 
desenhou por volta de 1955 para o Jardim Virgínia, 
no Guarujá, litoral paulista, que pela síntese do 
sistema estrutural e configuração espacial antecipa 
o trabalho dos anos seguintes, revela, por exemplo, 
referências difusas entre os arquitetos da sua 
geração no Mackenzie. Em particular, parece ter 
lugar um diálogo com obras como o projeto da 
capela do Hospital do Jaçanã, de Eduardo Kneese 
de Mello, publicada no número 124/125 da Revista 
de Engenharia Mackenzie. Ainda a 1955 remonta o 
projeto, notável pela dialética estabelecida com o 
cenário natural, do Iate Clube Ponta da Enseada, 
que tem afinidades com uma série de casas de 
praia concebidas por Oswaldo Bratke, outra 
grande figura da cena contemporânea paulista.
A ênfase nas afinidades desses primeiros projetos 
com obras de outros arquitetos paulistas não 
parte da convicção de que simpatias individuais 
ou referências pessoais explicam a formação de 
um universo discursivo e figurativo. No entanto, 
o que esses projetos evidenciam é que, no 
primeiro momento, as referências para Mendes 
da Rocha foram as obras das principais figuras 
do modernismo local, no mais formadas pelo 
Mackenzie e com trabalhos publicados, sobretudo 
a partir do número 111/112, de 1952, na Revista 
de Engenharia Mackenzie. Naquele ano, alguns 
estudantes de arquitetura conquistaram seu 1
1 Seções transversal e longitudinal da capela no 
Jardim Virgínia, Guarujá (datação hipotética: 
1955). Do projeto existem apenas dois desenhos: 
os cortes, aqui apresentados, e a elevação-planta 
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Paulo Mendes da Rocha
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ARTIGO - PROJETO DESIGN NOV ‘13
3
1
espaço no periódico oficial de uma escola em 
que Christiano Stockler das Neves impunha 
um ensino de belas‑artes, fundamentado na 
harmonia e equilíbrio compositivos, baseado, 
é verdade, na eficaz preparação no campo 
técnico e estrutural (graças à presença de 
figuras como Roberto Rossi Zuccolo) em vez da 
imposição de determinado partido formal.
Também parece orbitar o mundo do Mackenzie 
o projeto (sem data) para os interiores da casa 
de Luiz Stringari, realizada por uma gigante do 
desenvolvimento de São Paulo, a multinacional 
Cia. City. Uma delicada cortina, de um lado, 
um elegante mobiliário, do outro, e a citação 
à escultura de Alberto Giacometti, o jovem 
Mendes da Rocha é chamado a dar expressão ao 
gosto da fatia mais educada da elite paulista, que 
começava a adotar a causa modernista. Segue, 
evidentemente, a sintonia com o que desejam 
realizar alguns dos melhores colegas de faculdade 
que, conhecedores da carência do mercado 
paulista de mobiliário adequado aos seus projetos, 
começam a produzi‑lo e a vendê‑lo eles mesmos, 
culminando com a inauguração, em 1952, do espaço 
expositivo Branco e Preto. Como testemunho 
do precoce interesse de Mendes da Rocha pelo 
design, por outro lado, é importante lembrar que 
a famosa cadeira Paulistano foi projetada em 1956, 
bem antes da sua participação no concurso para 
o ginásio e, portanto, sem vínculos com o clube.
Mais ou menos contemporânea, aparece a 
primeira versão, não datada, do projeto para a casa 
Virgílio Lopes da Silva, expressão máxima de um 
modernismo elegante que se vale do uso de pedra ‑ 
comum nas casas contemporâneas de Lucio Costa, 
Gregori Warchavchik, Bratke e Levi, assim como 
em Artigas ‑, no qual parece evidente a presença 
da obra de Richard Neutra (de quem Mendes 
da Rocha disse recentemente ter prontamente 
comprado e lido o livro Arquitetura social em países 
de clima quente, publicado em São Paulo em 1948).
Por volta de 1956 deve‑se buscar outro projeto, 
também sem data exata, que ajuda a lançar luz 
em outro lado do imaginário do arquiteto, aquele 
para o RSL, sigla que é a abreviação do nome Rua 
São Luiz. Ele se resume, com base na lição de 
Mies van der Rohe (e talvez mais ainda da Lever 
House, de SOM), em uma malha de superfícies 
de vidro ritmada por elementos verticais que, 
coerentemente com a linguagem arquitetônica 
adotada e à luz do entusiasmo pela recente 
inauguração da siderúrgica de Volta Redonda, 
deveria assumir a sua constituição em aço.
O PAPEL DE ARTIGAS
Em 1957 ocorre, então, a primeira vitória em um 
concurso público, para a concepção da Assembleia 
Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis, 
com a qual os jovens Mendes da Rocha, Pedro Paulo 
de Melo Saraiva e Alfredo S. Paesani ganharam a 
capa da edição 232 da revista Acrópole. O projeto 
não é particularmente original, mas um detalhe 
assinala outro caminho de enriquecimento do 
universo figurativo então em curso: seus pilares são 
4
2
1 Fachada do edifício RSL, na 
República, em São Paulo (datação 
hipotética: 1956). O projeto do 
prédio de escritórios, ao lado da rua 
São Luís e perto da praça D. José 
Gaspar, ocuparia o mesmo terreno 
onde Salvador Candia e Gian Carlo 
Gasperini construíram a Galeria 
Metrópole (1960) 
2 Sala de estar da residência Luiz 
Stringari, no bairro do Butantã, São 
Paulo (1956). A casa, da qual Mendes 
da Rocha projeta a decoração dos 
interiores, faz parte do loteamento 
Butantã, da Cia. City 
3 Face para a rua da primeira 
versão do projeto para a residência 
Virgílio Lopes da Silva, no Alto 
de Pinheiros, São Paulo (datação 
hipotética: 1956). Em seguida, 
a casa foi construída segundo 
outro projeto, de 1960, de autoria 
conjunta de Mendes da Rocha e 
João Eduardo de Gennaro
4 Seção transversal e fachada 
lateral da primeira versão do 
projeto para a residência Gaetano 
Miani, no bairro paulistano de 
Santo Amaro (datação hipotética: 
1958). A datação é sustentada não 
só porque é anotada em todos os 
três desenhos, mas também porque 
o projeto está assinado apenas 
por Paulo Mendes da Rocha, não 
aparecendo o nome de De Gennaro, 
sóciodele de 1958 até os primeiros 
meses de 1968. A casa será 
construída segundo outro projeto, 
de 1961, de Mendes da Rocha e 
De Gennaro, com cálculo estrutural 
de Siguer Mitsutani, desde então 
amigo e fiel colaborador de 
Mendes da Rocha
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ARTIGO - PROJETO DESIGN NOV ‘13
51
Paulo Mendes da Rocha
uma explícita e precoce reformulação daqueles do 
Palácio da Alvorada, rendendo, assim, homenagem 
à capital federal, então em fase de construção.
Algo crucial no processo de maturação do arquiteto 
é revelado em dois projetos de 1958. Em paralelo ao 
Paulistano, deve‑se também considerar a primeira 
versão, não realizada, da casa de Gaetano Miani, 
com a relação com o solo e a interpenetração do 
espaço externo no edificado já pertencendo, sem 
dúvida, à poética de Mendes da Rocha. A iluminação 
zenital pelas duas aberturas na cobertura da 
residência mostra uma propensão a “pensar em 
corte”, e o sistema estrutural, composto por duas 
paredes laterais portantes que se dobram para 
formar a cobertura, precede aquilo que à primeira 
vista parecia ser a principal referência nesse 
projeto, a casa Taques Bittencourt, de Artigas. A 
datação precoce da casa Miani é um dado sobre o 
qual é preciso refletir: ela é anterior à entrada de 
Mendes da Rocha na órbita de Artigas, e anterior 
ainda aos projetos de Artigas que fariam escola.
A casa Miani e, em par com ela, o Paulistano são 
obras sem igual no horizonte contemporâneo 
paulista e, portanto, suficientes para refutar a ideia, 
já muito repetida, de que Artigas foi o “mestre” de 
Mendes da Rocha. Os dois projetos comprovam, 
ao contrário, que o amadurecimento de Mendes da 
Rocha não segue o de Artigas, mas corre paralelo 
ao desenvolvimento da obra deste. Da mesma 
forma, o projeto para a Faculdade de Direito de 
Sorocaba (1959), concebido em corte e articulado 
por uma série de níveis intermediários, reúne todas 
as funções em um único edifício, em torno de um 
espaço aberto, apresentando muitos dos traços do 
contemporâneo ginásio de Itanhaém, de Artigas. 
Com isso não se quer negar nem subestimar o papel 
vital desempenhado por Artigas na carreira de 
Mendes da Rocha. Deve‑se, no entanto, admitir que 
não foi com os seus projetos que Artigas orientou a 
arquitetura do jovem colega ‑ o corpo compacto de 
concreto aparente do Paulistano fala, de fato, uma 
linguagem rude, sintética e elegante, de que não 
se tinha notícia em São Paulo, mesmo na obra do 
arquiteto paranaense. Aquilo que Artigas oferece a 
Mendes da Rocha, ao contrário, é um quadro teórico 
e político; e é precisamente por essa razão que ele 
sempre agradece a Artigas por ter operado um 
complemento “da minha visão com sua habilidade 
crítica” e “uma revisão dos meus parâmetros”.
Se a influência de Artigas em Mendes da Rocha 
não pode dar fruto até o início dos anos 1960, 
quando eles trabalharam lado a lado na FAU e no 
Plano de Ação de Carvalho Pinto, surge, então, um 
problema: se não provém de Artigas, quais são os 
estímulos que Mendes da Rocha recebe e elabora 
no curto espaço de tempo transcorrido entre os 
primeiros projetos, aqui rapidamente examinados, 
e a dupla Paulistano/casa Miani? Qual é a diferença 
entre os primeiros trabalhos, sem dúvida já muito 
promissores e testemunhos da obra de um jovem 
que olha ao redor em busca de suas raízes, e a sua 
arquitetura, que, a partir de 1958, revela já um 
súbito e inconfundível universo figurativo?
Não existe, naturalmente, uma solução única e 
simples para esse dilema inevitável. Para se tentar 
chegar a uma resposta, deve‑se observar como os 
anos em questão são particularmente relevantes para 
a arquitetura no Brasil. Foi exatamente por volta de 
1956 que começaram, assim, a circular nas páginas 
de revistas brasileiras (e não só) os dois projetos 
que devem ser considerados os principais pontos 
de referência de Mendes da Rocha nessa fase de 
definição da sua poética pessoal: o Museu de Arte 
Moderna de Caracas, que ele costuma ainda hoje 
definir como “o melhor projeto de Oscar Niemeyer”, 
e, sobretudo, o Museu de Arte Moderna do Rio 
de Janeiro, de Affonso Eduardo Reidy, que outros 
colegas da faculdade, como Fábio Penteado e Pedro 
Paulo de Melo Saraiva, consideram, de própria 
palavra, sua principal referência naquela fase.
A CONVOCAÇÃO DO MAM/RJ
É principalmente o MAM/RJ que se destaca aos 
olhos de Mendes da Rocha como a indicação de uma 
tarefa a ser realizada, um exemplo de “convocação”, 
já que “quando se pensa em uma questão”, ele 
afirma, “deve‑se mobilizar tudo o que se sabe”. 
Com o seu nítido e monumental sistema estrutural 
de pórticos enfileirados, o corpo expositivo do 
MAM/RJ constitui, de fato, o emblema de uma 
arquitetura cuja configuração formal é inseparável da 
organização espacial e da função estrutural. E com 
essa abordagem, totalmente desenvolvida tanto no 
Paulistano quanto em outro projeto contemporâneo 
‑ menor mas igualmente sintomático ‑, o da 
Westingbras, Mendes da Rocha vai tirar uma lição.
Mas o MAM/RJ se impõe como exemplo também 
por outro motivo. Reidy, em seu papel de técnico 
da prefeitura do Rio de Janeiro, durante anos 
contratado para elaborar um plano que incluía 
a escavação do morro de Santo Antônio (com 
o redesenho da área que seria liberada para 
descongestionar uma zona nevrálgica da cidade), 
cujo solo removido seria usado para aterrar uma 
faixa ao longo da costa, encontrava‑se nas melhores 
condições para tirar proveito do valor estratégico 
que o novo museu poderia assumir. E que de fato 
vai assumir quando se consegue realizar, junto 
com Roberto Burle Marx, o parque do Flamengo.
Além de estabelecer um diálogo com a paisagem, o 
MAM/RJ quer modificá‑la radicalmente. E é nesse 
sentido que a obra se coloca como um manifesto: é 
o ato de fé na capacidade do homem de empregar 
recursos técnicos a seu favor, para transformar 
o seu país. Precisamente por esse motivo, no 
amadurecimento de Mendes da Rocha é legítimo 
atribuir ao MAM/RJ, e à obra de Reidy no geral, um 
papel importante: a seus olhos, com a extraordinária 
síntese orientada à estrutura, como símbolo do 
domínio da técnica, mobilizada para construir, da 
origem, um espaço de uso público, o museu funde 
o desenvolvimento mais promissor da arquitetura 
brasileira com uma lição que só a partir desse 
momento Mendes da Rocha parece retomar, aquela 
do pai, o grande engenheiro civil Paulo de Menezes 
Mendes da Rocha (que por anos ensinou Navegação 
Interior e Portos Marítimos e, entre 1943 e 1947, foi 
diretor da Escola Politécnica de São Paulo), a quem 
2
1
1 A pirâmide e o MAM de Caracas, como pirâmide invertida, aparecem neste desenho sem título e sem data. A relação 
estabelecida por Mendes da Rocha entre as pirâmides egípcias e o projeto de Niemeyer apoia-se na convicção de que, neste 
trabalho, o arquiteto carioca foi capaz de “aproveitar as virtudes da forma” para obter uma engenhosa solução estrutural. Em 
seus projetos, por vezes Mendes da Rocha faz referências ao projeto do MAM, como numa primeira versão da proposta para a 
Biblioteca Pública do Rio de Janeiro (1984). Outro exemplo frequentemente mencionado pelo arquiteto é a Catedral de Brasília, 
também de Niemeyer, enquanto cúpula invertida / 2 Fachada do projeto para a indústria Westingbras, de aparelhos domésticos 
(1958). Deve se tratar de um dos primeiros projetos dos sócios Mendes da Rocha e De Gennaro. A fábrica seria a primeira etapa 
realizada de um conjunto do qual fariam parte também um restaurante para os operários, um centro social e futuras (mas 
ainda não projetadas) ampliações 
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Paulo Mendes da Rocha
ele costumava acompanhar como um jovem repleto 
de curiosidade de visitar os estaleiros. Foi ao lado do 
pai, relata o arquiteto, “que aprendi que a natureza 
‑ para nós, homens ‑ (...) é uma coisa fabricada (...).Eu nunca olhei a paisagem, até mesmo quando 
criança, como um puro e simples fato natural”.
O que até agora parecia um ponto de inflexão é assim, 
mais precisamente, a conquista de um contexto mais 
amplo onde se enquadrar a arquitetura. Um cenário 
que, desse momento em diante, significou ‑ como 
num lampejo entre a lição do pai e tendências da 
arquitetura contemporânea brasileira, como aquela 
expressa no MAM/RJ ‑ a reconfiguração do território.
Tal conquista, então, ocorre no momento em 
que o Brasil, tomando a via do desenvolvimento 
por meio da industrialização “forçada”, acolhe o 
concurso para a construção da nova capital federal 
no coração do sertão, com base no Plano de Metas, 
ou seja, quando o Brasil, mais do que nunca, 
parece mestre do seu próprio destino. E é próprio 
dessa confiança que a arquitetura de Mendes da 
Rocha ganhe expressão a partir do Paulistano.
Além do desejo de se aproveitar ‑ com base no 
exemplo de obras como o Copan e o Conjunto 
Nacional, e como será um pouco mais tarde o 
Masp ‑ de uma encomenda privada para doar um 
espaço público à cidade, evidente na configuração 
do grande terraço, o Paulistano já revela sutilmente 
uma tendência a transformar o solo, a reconfigurar 
a topografia. A parcial escavação do campo 
esportivo no solo e a construção, com o terraço, de 
um solo artificial são explícitas a esse respeito.
Um simples ginásio para um cliente privado vem, 
assim, a se formatar como fragmento de uma 
reconfiguração global da superfície da Terra, a 
emergência pontual de uma infraestrutura universal 
do território, realizada com o propósito de fazer a 
“geografia habitável para além do edifício isolado”. 
A clareza da estrutura e a sua audácia constituem, 
ao mesmo tempo, o instrumento e o emblema de 
tal objetivo. A sólida preparação técnica recebida 
no Mackenzie por Mendes da Rocha está aqui, pela 
primeira vez, a servir como um valioso recurso 
de articulação de um discurso. A técnica se revela 
o meio pelo qual se pode e se deve transformar 
o mundo: é a convicção de que é possível 
dominar, graças à inteligência, as leis que regem 
o funcionamento do planeta e empregá‑las com 
engenhosidade que fica na base dos seus projetos 
‑ como de fato acontece em belos e ligeiramente 
recentes desenhos, inéditos, em que o aquilão 
parece constituir uma metáfora da arquitetura.
De resto, a partir do Paulistano, na obra de Mendes 
da Rocha os problemas formais e técnicos não 
são autônomos, porque não são e não podem ser 
pensados isoladamente. O projeto não é concebido 
senão em termos estruturais: arranjo espacial e 
configuração estrutural nascem um em relação ao 
outro. O projeto não é confrontado com os limites 
impostos pela técnica em determinada fase do 
desenvolvimento, mas parte deles e a eles pertence; 
neles é constituído e, então, pode se desenvolver 
livremente em qualquer direção. E se permite assim 
a carregar o puro ‑ mas não gratuito ‑ gesto poético.
32
1
1 Seções de anteprojeto do ginásio do Club Athletico Paulistano (1958). O projeto de Mendes da Rocha e De Gennaro previa, nessa 
fase inicial, uma série de intervenções bem mais articulada do que a que foi construída: além do ginásio, que sofreria significativas 
transformações sobretudo na conformação do seu embasamento, estava previsto um auditório, um jardim de infância e uma pista 
de atletismo, com arquibancada coberta. Em seus traços principais, porém, o ginásio ficou inalterado: um “templo” assentado 
sobre um pódio, com o espaço interno conquistado através da escavação do terreno / 2 e 3 Projeto da Faculdade de Direito de 
Sorocaba, SP (1959). De Gennaro é coautor do projeto. Além dos desenhos em 1:100, existem algumas fotos da maquete
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Paulo Mendes da Rocha

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