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e TECNOLOGIA INCLUSÃO Universidade Federal de São João del-ReiUniversidade Federal de São João del-Rei NEAD/ UFSJ Educação à Distância Inclusão e Tecnologia E24 Educação à distância : inclusão e tecnologia / Marise Maria Santana da Rocha, Mirtes Zoé da Silva Moura, Joana Alves Fhiladelfio (organizadoras) . – São João del-Rei : UFSJ, 2013. 581p. : il. 1. Educação 2. Educação à distância 3. Ensino à distância 4. Didática 5. Apren dizagem - Técnica 6. Prática de ensino 7. Tecnologia educacional I. Rocha, Ma rise Santana da (org.) II. Moura, Mirtes Zoé da Silva (org.) III. Fhiladelfio, Joana Alves (org.) CDU: 37.018.43 Educação a Distância da UFSJ Inclusão e Tecnologia Marise Maria Santana da Rocha Mirtes Zoé da Silva Moura Joana Alves Fhiladelfio (Organizadoras) Educação a Distância da UFSJ Inclusão e Tecnologia PACC - UAB NEAD - UFSJ São João del-Rei 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI Reitora Valéria Heloísa Kemp Vice-Reitor Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira Pró-Reitor de Administração José Tarcísio Assunção Pró-Reitor de Ensino de Graduação Marcelo Pereira de Andrade Pró-Reitor Adjunto de Ensino de Graduação Márcio Falcão Santos Barroso Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação André Luiz Mota Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação Afonso de Alencastro Graça Filho Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Paulo Henrique Caetano Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Cláudio Sérgio Teixeira de Souza Pró-Reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas Adriana Amorim da Silva Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Dimas José de Resende NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD Coordenação Geral Marise Maria Santana da Rocha Coordenador UAB/UFSJ Carlos Alberto Raposo da Cunha Coordenador UAB Adjunto Leonardo Cristian Rocha Coordenação Acadêmico-Pedagógica José Luiz de Oliveira Coordenadora do Programa Anual de Capacitação Continuada - PACC Mirtes Zoé da Silva Moura COmISSÃO ORGANIzADORA Alexandre Carlos Eduardo – Coordenador do Seminário Joana Alves Fhiladelfio – Coordenadora do Seminário Mirtes Zoé da Silva Moura – Coordenadora do PACC Murilo Haddad – Coordenador de Tecnologia Paulo Sérgio Diniz – Programador Visual Flávia Cristina da Silva Tibúrcio – Secretária COmISSÃO AVALIADORA Adélia Conceição Diniz (UFSJ) Alexandre Carlos Eduardo (UFSJ) Betânia Maria Monteiro Guimarães (UFSJ) Daniel Ribeiro Mill (Ufscar) Eliana Tolentino (UFSJ) Elisa Tuler de Albergaria (UFSJ) Geraldo Roberto de Sousa (UFSJ) José Antônio Oliveira de Resende (UFSJ) Joana Alves Fhiladelfio (UFSJ) Maria Nivalda Carvalho Freitas (UFSJ) Rosângela Maria de Almeida Camarano Leal (UFSJ) Rogério Almeida Alvarenga (UFSJ) Sueli da Fonseca Quintana (UFSJ) REVISÃO Betânia Maria Monteiro Guimarães (UFSJ) Geraldo Tibúrcio de Almeida Luiz Manuel da Silva Oliveira (UFSJ) Sueli da Fonseca Quintana (UFSJ) SUmÁRIO APRESENTAÇÃO ......................................................................................15 Processo de gestão e avaliação na EAD: dificuldades, desafios e perspectivas ................................................. 19 REFLEXÕES SOBRE GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS ....................................................... 21 Daniel Mill (UFSCAR) PROCESSO DE GESTÃO E AVALIAÇÃO NA EAD: DIFICULDADES, DESAFIOS E PERSPECTIVAS .......................................................... 43 Marise Maria Santana da Rocha (UFSJ) AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA TEXTUAL ............................................... 55 José Antônio Oliveira de Resende (UFSJ) ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO .................................. 63 O mUSEU VIRTUAL DA ESCOLA NA ESCOLA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS .................................................................................... 65 Maria Cecília de Medeiros Abras (UFSJ) CONTANDO HISTÓRIAS: ALFABETIZANDO EM TURMAS INCLUSIVAS . 76 Gislaine de Fátima Ferreira da Silva Bruna Iara Silva Sandim Maria Jaqueline de Grammont PRODUÇÃO DE TEXTO E VIVÊNCIA SOCIAL ...................................... 85 Maria José de Souza Bosi ImPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS PARA APRENDIzAGEm INFANTIL: O CASO SHREK ..................................................................... 94 Tatiane Marques de Barcelos EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA ..................................... 105 A ImPORTÂNCIA DO DESIGN INSTRUCIONAL PARA CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA .................................................................... 107 Ana Cristina Botelho Prince Xavier EDUCAÇÃO EmPREENDEDORA: DIFICULDADES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA ......................... 123 Arlete Aparecida de Abreu Bruno César de Melo Moreira Thiago de Sousa Santos RELATO DE EXPERIÊNCIA: A PRÁTICA DE TUTORIA E O PROCESSO DE INTERAÇÃO ENTRE TUTOR, ALUNO E A COMUNIDADE NO CURSO DE ESPECIALIzAÇÃO Em EDUCAÇÃO EmPREENDEDORA POLO DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SÃO PAULO ........................................... 134 Denilson Alves de Araujo Luiz Antônio da Cruz PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO EO EmPREEN- DEDORISMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ............................ 145 Elaine Cristina dos Santos QWLQ-bref, UM INSTRUMENTO DE APOIO A GESTÃO ESCOLAR, NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DE PROFESSORES ..................................................................................... 154 Gustavo Pasqualini de Sousa Denílson de Cássio Silva Cristiane Camille M. S. Guimarães Hérica Emília da Costa Pasqualini EDUCAÇÃO FINANCEIRA INFANTIL ................................................... 166 Jacqueline Cristina Cardoso Vidal Guastil UNESP CORPORATIVA: CURSO DE APERFEIÇOAmENTO Em LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO PÚBLICA – PROJETO PILOTO ............ 174 Maíra da Cunha Darido Maria Cecília Cerminaro José Luís Bizelli Carlos Eduardo Candido Pereira A AGRICULTURA COmO EIXO TEmÁTICO NA EDUCAÇÃO RURAL OUROPRETANA: AÇÕES EmPREENDEDORAS PARA REVITALIzAR COMUNIDADES ..................................................................................... 186 Maria Boaventura de Souza Xavier Jorge Nei Brito MÍDIAS NA EDUCAÇÃO .................................................... 197 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO, A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E A FORmAÇÃO DE CONCEITOS NAS ESCOLAS BÁSICAS DE SÃO JOÃO DEL-REI-MG ........................................................................................... 199 Anna Cristina Corrêa Silveira Vicente de Paula Leão Um RECURSO EDUCACONAL PARA CURSOS PRESENCIAIS: A PRO- DUÇÃO DE UM BLOG SOBRE JOGOS ............................................... 210 Cláudia Alexandra Bolela Silveira João Barreto da Fonseca O USO DAS mÍDIAS NA ESCOLA PARA A DISSEmINAÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA .............................................................. 220 Regina Alves de Assis Macêdo Itacir Marques da Luz A UTILIzAÇÃO DE FERRAmENTA TECNOLÓGICA COm mULTImÍDIAS E REALIDADE AUmENTADA INTEGRADAS NO AMBIENTE ESCOLAR .................................................................. 231 Adriana Simões de Sales Dias e Silva Claudio Kirner EAD E O ENSINO DE HISTÓRIA: DESAFIOS, PROPOSTAS E ARTICULAÇÕES .................................................................................... 241 Alice Conceição Christófaro EDUCAÇÃO/TECNOLOGIA: (RE)mODELAGEm DO ENSINO/APRENDI- ZAGEM ................................................................................................... 249 Carlos Renato Cerqueira Marília Geralda Christófaro NAS ONDAS DO RÁDIO: INFORmAÇÃO EDUCACIONAL E FORmAÇÃO EM SINTONIA .........................................................................................260 Isabel Cristina Aquino dos Santos Joana Alves Fhiladelfio A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA NOS CIBERESPAÇOS ................... 270 Jessica AlineTardivo José Luis Bizelli VÍDEOS NA EAD: NOVAS FORmAS DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ................................................................................... 282 Sayonara Ribeiro Marcelino Cruz Leandro Veloso EDUCAÇÃO AmBIENTAL: TURISmO SUSTENTÁVEL NO CIRCUITO MANTIQUEIRA ....................................................................................... 293 Maria Helena da Silva Wlamir Carlos de Oliveira O USO DE UmA REDE SOCIAL PARA O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: Um RELATO DE EXPERIÊNCIA Em Um PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA .......................................................... 305 Rodolfo Luís Leite Batista Marcos Pereira Feitosa EDUCAÇÃO E PLANEJAmENTO AmBIENTAL: AS TECNOLOGIAS DA INFORmAÇÃO E COmUNICAÇÃO (TICS) NA FORmAÇÃO CONTINUA- DA DOS DOCENTES E CONSULTORES AMBIENTAIS ........................ 319 Bernardino Neves Junior Rosy Mara Oliveira ANÁLISE CRÍTICA DA INFORmÁTICA NA EDUCAÇÃO: A UTILIzAÇÃO DO COmPUTADOR NAS ESCOLAS E O PAPEL DO DOCENTE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM ......................................... 330 Silvia Roberta Ferreira Valéria Alvarenga Pimenta Vilas Boas Amanda Mayra Cardoso Juliana de Freitas Azevedo MATEMÁTICA .................................................................... 345 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ALINHANDO EXPECTATIVAS, SOMANDO ESFORÇOS ............................................................................................ 347 Gisele Cristina de Boucherville (UFRR) Márcio Fernando Teixeira França (UFRR) A ImPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA A APRENDIzAGEm NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ................................................................... 357 Daniele Cristina de Faria Márcia das Mercês Silveira Nidia Mirian Rocha Felix ALGUNS CRITÉRIOS DE DIVISIBILIDADE .......................................... 370 José Celso Alves Melgaço Francielle Rodrigues de Castro Coelho EAD, TECNOLOGIA E INCLUSÃO ................................... 387 RELATO DE EXPERIÊNCIA DA VISITA TÉCNICA À COmUNIDADE SANTA IZABEL DO RIO TUPANA/AMAZONAS .................................... 389 Maria Lúcia Monteiro Guimarães José Luiz de Oliveira Júnio Adão Ribeiro Leite A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: ALGUMAS REFLEXÕES 402 Aline Oliveira Guidis Luiz Carlos Dias Rocha Otto Carlos Kielblock Júnior Aloísia Rodrigues Hirata Dorothy Campos da Fonseca A SALA DE AULA VIRTUAL NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA REDE E-TEC BRASIL: RESULTADOS PARCIAIS DE Um PROJETO DE EXTENSÃO DO IF SUDESTE MG CAMPUS BARBACENA ................ 413 Charles Tim Batista Garrocho Ana Carolina de Almeida EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COmO POSSIBILIDADE DE CAPACITAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS RURAIS DO SUL DE MINAS ...... 425 Aloísia Rodrigues Hirata Luiz Carlos Dias Rocha Aline Oliveira Guidis Alexandre Augusto Rossini Kurachi Nildo Batista CONCEPÇÕES DE DEFICIÊNCIA E CONFIANÇA: ImPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE UNIVERSITÁRIOS ...................... 440 André Luiz Barreto Simas Maria Nivalda de Carvalho-Freitas Jéssica Faria Souto Victor Dinalli Ornellas Iglesias UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL (UAB): LEVANTAmENTO DE ESTUDOS PRODUzIDOS NO BANCO DE TESES DA CAPES DE 2006 A 2011 ............................................................................................ 451 Carlos Eduardo Candido Pereira José LuisBizelli UTILIzAÇÃO DE CHATs: UmA APROXImAÇÃO DE REALIDADES NA TUTORIA A DISTÂNCIA ........................................................................ 461 Elaine das Graças Frade Cleide Mirian Pereira Juliana de Freitas Azevedo Keila Maria Resende Fonseca Telsuíta Laudomira Pereira Santos CONTANDO HISTÓRIAS: ALFABETIZANDO EM TURMAS INCLUSIVAS . 475 Gislaine de Fátima Ferreira da Silva Bruna Iara Silva Sandim Maria Jaqueline de Grammont UTILIzAÇÃO DE RECURSOS DA EAD COmO FERRAmENTA DE TREINAmENTO PROFISSIONAL E DESENVOLVImENTO DA EQUIPE DE FISIOTERAPIA DO HOSPITAL REGIONAL DR. JOÃO PENIDO - FHEMIG .............................................................................................. 484 Hérica Emília da Costa Pasqualini Larissa Teixeira Santos Gustavo Pasqualini de Sousa DISPOSIÇÃO DE FUTUROS PROFISSIONAIS PARA TRABALHAR COm PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................................................. 492 Jéssica Faria Souto Maria Nivalda de Carvalho-Freitas André Luiz Barreto Simas Victor Dinalli Ornellas Iglesias CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NA EAD NOS ÚLTImOS DEz ANOS: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA REVISÃO BIBLIOGRAFICA ........... 503 Lívia Resende de Miranda Aline Marques Leite Bianca Ferreira Rodrigues Mariana Silva Reis Dener Luiz da Silva ADAPTAÇOES CURRICULARES PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: QUESTIONAR TEORIAS, REINVENTAR PRÁTICAS ............................ 517 Marina de Souza Jacob (UCAM) A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ALGUmAS ABORDA- GENS ...................................................................................................... 531 Otto Carlos Kielblock Júnior Aline Oliveira Guidis Pedro Paulo Oliveira Luiz Carlos Dias Rocha Aloísia Rodrigues Hirata A PRÁTICA DA TUTORIA COmO mEDIAÇÃO E INCLUSÃO: EXPERIÊNCIAS DO POLO UAB FRANCA/SP ............................................................................ 546 Ronaldo Aurélio Gimenes Garcia William Fernando Ferreto INTEGRANDO A EAD À CULTURA INSTITUCIONAL: Um RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................................................................................ 556 Susan Kratochwill Deise Rodrigues INCLUSÃO DE PESSOAS COm DEFICIÊNCIA: BARREIRAS ATITUDINAIS E DE ESCOLARIZAÇÃO EM FOCO ................................ 569 Victor Dinalli Ornellas Iglesias Maria Nivalda de Carvalho-Freitas André Luiz Barreto Simas Jéssica Faria Souto Apresentação A segunda edição do Seminário de Educação a Distância da UFSJ, enfocando tecnologia e inclusão, tornou-se uma realidade em fevereiro de 2013, quando, aproximadamente, 250 participantes se reuniram no Campus Santo Antônio, em São João del-Rei, MG para debater questões em torno da EAD, tecnologia e inclusão. O sucesso do evento foi visível por ter os seus principais objetivos alcançados por meio das palestras, minicursos/oficinas, mesas-redondas e comunicações que propiciaram uma reflexão sobre os desafios das tecnologias de informação e comunicação, na promoção da inclusão de todos e todas na era digital. A divulgação de pesquisas, desenvolvidas por docentes e discentes de Instituições diversas, em torno dos eixos: Alfabetização e Letramento, Educação Empreendedora, Mídias na Educação, Matemática e EAD, Tecnologia e Inclusão referendaram o caráter científico do Seminário e ressaltaram a relevância das ações em EAD para o cenário educacional atual. Além de contribuir para ampliar a visão dos participantes em relação aos meandros do ensino a distância, sanando possíveis dúvidas, esse 2º Seminário proporcionou, também aos participantes, a aquisição de novos conhecimentos acerca das temáticas em questão e um aprofundamento dos conhecimentos já adquiridos a respeito dessa modalidade de educação. A importância da EAD na formação de recursos humanos para uma atuação significativa nos atuais e nos futuros cenários sociais, científicos e tecnológicos, torna-se mais evidente a cada evento dessa natureza que se promove. Sendo assim, a presente obra ganha maior sentido ao propor a divulgação de questões fortemente debatidas no Seminário e enfatizar que a metodologia e a tecnologia vivenciadas na EAD têm provocado um impacto positivo para a política educacional nacional e paraa prática pedagógica dos educadores, tanto do ensino na modalidade a distância quanto do ensino na modalidade semipresencial ou presencial. A experiência da UFSJ e de outras universidades com relação à Educação a Distância fica aqui registrada por palestrantes, participantes de mesas-redondas e, principalmente, por responsáveis pelas comunicações, que abordam tanto o potencial pedagógico quanto o potencial tecnológico à disposição para a construção de uma educação de qualidade, que atenda aos objetivos de uma universidade que trabalha em uma perspectiva emancipatória e inclusiva. Profa marise maria Santana da Rocha Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Líder do Grupo de Pesquisa em EAD (UFSJ) Processo de gestão e avaliação na EAD: dificuldades, desafios e perspectivas 21 REFLEXÕES SOBRE GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS1 Daniel mill2 1. Considerações preliminares: contextualizando a discussão Já demonstramos em vários outros trabalhos que a educação a distância (EAD), no Brasil, passou por uma súbita e visível expansão nestes últimos anos, com dados estatísticos surpreendentes3 e com grande avanço do ponto de vista legal e de regulamentação educacional. Até 1996, com a formalização do Art.80 da LDB 9.394- 96, a EAD nunca havia aparecido na legislação educacional brasileira, e hoje temos um considerável conjunto de documentos legais (BRASIL, 1996). O crescimento da EAD também é perceptível em vários países, mas em praticamente nenhum outro lugar, o fenômeno se deu de modo súbito e dinâmico como no Brasil. Numa década, as percepções e experiências envolvendo a modalidade de EAD mudaram drasticamente. Curiosamente e felizmente, quase sempre essas foram mudanças positivas. Ainda hoje, a modalidade continua em plena expansão no País, especialmente após a instalação da Universidade Aberta do Brasil 1 Trabalho resultante de pesquisas financiadas pela CAPES e CNPq, realizadas no âmbito do Grupo Horizonte (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Inovação em Educação, Tecnologias e Linguagens). 2 Professor Adjunto e Gestor de Educação a Distância da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)mill@ufscar.br 3 A exemplo dos dados do Censo EAD 2007 do INEP (BRASIL, 2007a). 22 (UAB) 4, quando praticamente todas as instituições públicas de ensino superior brasileiras investiram intensamente na modalidade de EAD. Desde 2006, com a instalação da UAB, as instituições públicas de ensino superior experimentam a modalidade de educação a distância e, geralmente, isso tem sido feito de forma amadora, pela falta de gestores preparados para a função. Assim, a gestão da EAD no Brasil tem sido feita com bases nos princípios da gestão empresarial ou da gestão educacional em geral, mas (quase) nunca do ponto de vista específico da gestão de sistemas de EAD. A gestão educacional no âmbito da EAD guarda para si diversas especificidades que exigem e promovem um tipo de gestão muito diferente da gestão de outras atividades. A profissionalização da gestão de EAD está ainda em processo de consolidação e emerge como um desejo/angústia dos responsáveis pela EAD. O Grupo Horizonte (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Inovação em Educação, Tecnologias e Linguagens ― UFSCar) tem- se esforçado para compreender esse e outros aspectos da EAD. Por ser demasiadamente dinâmica e complexa, nós ― educadores, pesquisadores, estudantes e demais interessados nessa temática ― ainda estamos por entender diversos aspectos que constituem a modalidade de Educação a Distância (EAD). Há muitas lacunas teórico- práticas (e de entendimento mais geral) que, sobretudo no contexto brasileiro, tem dificultado a concepção e realização de boas práticas de formação pela EAD. São perceptíveis as lacunas no entendimento de ensino-aprendizagem na perspectiva da aprendizagem (estudante), do ensino (docente), das tecnologias (materiais didáticos e mídias) e da concepção/gerenciamento da EAD (gestores). Temos observado muitas lacunas na literatura voltada 4 Com o programa da Universidade Aberta do Brasil (UAB), amplia-se significativamente a oferta de vagas à população, e permite-se o acesso ao ensino público e gratuito, estimulando a discussão sobre os processos de garantia de qualidade na EAD. Para saber mais sobre a Universidade Aberta do Brasil, acesse www.uab.capes.gov.br. 23 à realidade brasileira com foco na análise da prática da gestão educacional em experiências de educação a distância. Uma rápida consulta às produções científicas sobre Gestão da EAD língua portuguesa, francesa, inglesa e espanhola identifica pouca preocupação com a formação de gestores ou com as especificidades das exigências da modalidade, seja no seu planejamento e gerenciamento seja na execução das atividades e processos da EaD para a realidade brasileira. Há escassez de análises que auxiliem os gestores de iniciativas de EaD em suas dificuldades cotidianas. Se há estudos significativos, voltam-se mais para realidades de outros países ― que, por mais que possam ser utilizados para sustentar teoricamente as experiências brasileiras, não comportam todas as especificidades aqui vividas. Seja em termos geográficos, demográficos, histórico-culturais, socioeconômicos ou diversos outros, a realidade brasileira é singular em termos educacionais, e isso deve ser levado em conta por gestores e pela literatura da área. Questões como as relações de trabalho dos docentes virtuais, evasão por distribuição geográfica, institucionalização da modalidade, entre outros temas, praticamente não aparecem nos estudos já feitos do ponto de vista dos gestores ― embora representem dificuldades e desafios aos gestores de EAD. Quando aparecem, não atendem às particularidades da EAD no Brasil ou são demasiadamente superficiais. No sentido de suprir parte da lacuna nos estudos, buscando maior aproximação de experiências estrangeiras com a modalidade de EAD, os pesquisadores do Grupo Horizonte têm realizado estudos sobre a gestão estratégica de sistemas de educação a distância em alguns países, com foco na democratização do conhecimento e nos principais desafios postos aos gestores. A seguir, apresentamos algumas reflexões sobre a EAD na perspectiva dos gestores da modalidade. 24 2. Gestão na Educação a Distância: estratégias e desafios De início, merece atenção aspectos mais gerais do processo de gestão de sistemas de EAD: quem é o gestor da EAD? O que deve saber? Como a gestão da EAD é composta? A gestão da EAD é similar à gestão tradicional? Que particularidades podem ser indicadas para a gestão da educação a distância virtual? Que aspectos um bom gestor deve gerenciar ou estar atento? A proposta de Referenciais de Qualidade para Educação a Distância (BRASIL, 2007b) endossada pelo Ministério da Educação brasileiro destaca a importância do processo de gestão para o desenvolvimento de um bom sistema de educação a distância. Todavia, é perceptível que a gestão dos sistemas de EAD tem sido feita de forma amadora por falta de gestores preparados para a função. Geralmente, tal gestão é feita com base nos princípios da gestão empresarial ou, no máximo, da gestão educacional; mas quase nunca do ponto de vista da gestão de sistemas de EAD ― embora a EAD tenha diversas especificidades em relação a outras atividades. Neste cenário, ganhou importância a profissionalização da gestão de sistemas de EAD e impulsionou a busca pela melhor compreensão dos elementos constitutivos da gestão educacional em EAD. Como se configuram os sistemas de gestão na modalidade de EAD? Qual a melhor configuração da gestão para EAD em condições brasileiras? Por exemplo, numa investigação sobre as experiências de EAD brasileiras e portuguesas, buscamos: analisar estratégias gestoras de sistemas deeducação a distância portugueses para superação de dificuldades críticas e ainda vigentes nos sistemas de EAD de universidades públicas brasileiras, com especial atenção aos aspectos: institucionalização da EAD, flexibilidade da proposta pedagógica, evasão/permanência nos cursos, uso de sistemas 25 telemáticos, sistemas logísticos, implicações trabalhistas no teletrabalho e sistema de avaliação (rigor e burla). Nesses estudos, percebemos que, embora seus fundamentos sejam relativamente antigos, os processos de gestão ou administração institucional contemporâneos são extremamente complexos e organizados: conceber/planejar, sistematizar/organizar, coordenar/ dirigir e supervisionar/controlar processos e recursos têm sido um desafio também na EAD. Todos os tipos principais de decisões (planejar, organizar, dirigir e controlar) e de recursos (instalações, espaço, tempo, dinheiro, informações e pessoas) estão claramente presentes na gestão da educação em geral e, particularmente, na gestão da EAD (BELLONI, 2001; MILL, 2006). No caso da gestão da EAD, certas especificidades devem ser analisadas com atenção (MILL et al., 2010). Como afirma Rumble (2003, p.16), assim como na educação presencial, a função do gestor na modalidade a distância é dirigir o trabalho dos membros da instituição por meio de planejamento, da organização, direção e controle através da elaboração de estratégias, definições de objetivos e execução dos planos de coordenação de atividade, além de solucionar conflitos e detectar supostas falhas e erros com relação ao plano. Além disso, o gestor da EAD precisa compreender que a natureza do processo educativo não se confunde com a natureza do processo produtivo (HORA, 1994, p.47) e, também, que a natureza do processo educativo virtual (a distância) distingue-se do processo educativo presencial (MILL et al., 2010). Todavia, em qualquer tipo de gestão (inclusive na EAD) estão previstas decisões de planejamento, organização, direção e controle semelhantes àquelas da educação presencial do ensino superior e também se preocupa com instalações, espaço, tempo, dinheiro, informações, pessoas etc. Simonson et al. (2009, p.321) afirmam que uma coisa é 26 participar da educação a distância como aluno ou professor; outra coisa é liderar e fazer a gestão de um programa de EAD. Para os autores, esta última requer uma perspectiva um pouco diferente do tema. Como afirmam Shelton e Saltsman (2005, p.ix), administrar sistemas de EAD é tarefa complexa. Não que a gestão da educação presencial não o seja, mas há alguns complicadores na gestão da EAD. Moore e Kearsley (2007, p.1) dizem que a ideia de EAD é muito simples (alunos e professores estão em locais diferentes durante todo ou grande parte do tempo em que aprendem e ensinam, comunicando-se por meio de tecnologias diversas). Entretanto, ressaltam que, quando começamos a pensar a respeito de todas as implicações do distanciamento entre alunos e professores, uma ideia que em princípio parece muito simples se torna, na realidade, muito complicada. Os autores propõem a análise da EAD como sistema orgânico, composto por partes ou fatores articulados entre si e constituídos como subsistemas. Simonson et al. (2009, p.320) também discutem a gestão e organização da EAD como um sistema composto por subsistemas. Afirmam, ainda, que as competências de um gestor de EAD pode ser categorizada pelos subsistemas. Com base em experiências brasileiras e portuguesas com educação a distância, buscamos compreender os principais desafios da gestão da EAD. Nossos parâmetros de interesse em investigações baseiam-se em dilemas de gestores de sistemas de EAD (em termos de gestão de sistemas, concepção de EAD e de proposta pedagógica) e em possíveis benefícios de experiências consolidadas para a gestão da EAD brasileira (planejamento, organização, direção e controle nos processos da EAD). Como pano de fundo, nosso interesse era contribuir para a otimização dos (poucos) recursos (recursos humanos, tecnológicos, financeiros e 27 materiais ou infraestrutura) disponíveis no Brasil para a realização de um programa de formação democrático (baseado na fl exibilização dos processos em termos de espaços e tempos da educação, da matriz pedagógica, dos processos comunicacionais etc.), concebido como formação personalizada do ponto de vista dos educandos. Pensar essas questões requer uma organização estratégica de como olhamos o processo educacional na EAD, tendo como ponto de análise a gestão do sistema como um todo. A Figura 1 representa sinteticamente alguns dos elementos básicos da gestão da EAD, que podem ser vistos como categorias de análise para observar como se dá a gestão em determinado sistema de EAD . Figura 1. Elementos de análise do processo de gestão da EAD, com vistas à democratização do conhecimento5. 5 Esta imagem é uma tentativa didática de representar a dinâmica dos elementos do processo de gestão da EAD, com vistas à democratização do conhecimento. Por ser apenas uma tentativa de organização didática para análise, deve ser vista como uma perspectiva particular e, claro, limitada ou empobrecida. As relações dialéticas entre os elementos da imagem devem ser consideradas na análise e, também, é importante notar a existência de diversos outros possíveis elementos não indicados no diagrama. Enfi m, trata-se de um diagrama como representação didática de um complexo processo, a gestão do ensino-aprendizagem na EAD. 28 Assim, observamos que a Figura 1 indica que a gestão de um sistema de EAD deve considerar, no mínimo, quatro aspectos: a noção que o grupo tem da modalidade (concepção de EAD), sua finalidade última (democratizar o conhecimento e flexibilizar as formas de socializá-lo), a disponibilidade de recursos para desenvolver um bom trabalho, e também a estrutura organizacional da EAD na instituição (gestão organizacional). Esses quatro aspectos podem ser assim detalhados: a) Concepção de Educação a Distância: a gestão é influenciada pela (e também a influencia) concepção de EAD nas seguintes perspectivas, entre outras: pela estrutura e funcionamento das atividades de EAD da instituição; pelos fundamentos de gestão adotados; pela proposta pedagógica que conduz os cursos oferecidos; e pelas políticas educacionais, sejam aquelas mais amplas (governamentais) ou mesmo internas (institucionais); b) Democratização e flexibilidade (princípios da EAD): a finalidade ou missão da proposta educacional também afeta a gestão educacional. Entre os princípios básicos da EAD, estão a democratização do conhecimento e a flexibilização das formas de acesso ao conhecimento. Assim, é importante que o gestor esteja atento à organização espaço-temporal afeitas aos cursos oferecidos, à estrutura organizacional da matriz pedagógica (ou outra forma de organização curricular), aos processos de comunicação entre os sujeitos envolvidos na EAD e, também, na proposição e efetivação de uma formação que respeite as particularidades de cada 29 educando. Geralmente, esses aspectos são ignorados ou subestimados pelos educadores e gestores, mas representam um ponto-chave do sucesso da formação, além de trazer implicações profundas para todo o resto das iniciativas/decisões dos gestores. c) Gestão organizacional da Educação a Distância: do mesmo modo, a gestão organizacional, numa perspectiva mais geral, influencia os processos de gestão da EAD. Aspectos como a cultura organizacional e a mentalidade das pessoas da instituição sobre a Educação a Distância, assim como a incorporação (ou não) dos processos e atividades rotineiros da instituição, afetam diretamente o processo de institucionalização da modalidade na instituição. Nossas pesquisas têm demonstrado que, apesar da sua importânciae grande esforço dos gestores envolvidos, praticamente nenhuma das instituições públicas brasileiras de ensino superior (IES) tem a EAD integralmente institucionalizada na IES. Há níveis distintos de institucionalização da EAD e há incorporação de certos aspectos nas rotinas da instituição, evidenciando que a institucionalização é um processo em graus ou níveis progressivos ― o que pressupõe diferentes formas e níveis distintos de incorporação da EAD na vida acadêmica cotidiana da instituição. Do ponto de vista da gestão organizacional, a institucionalização é essencial para superação dos desafios frequentemente postos aos gestores e demais educadores, e isso requer o desenvolvimento de estratégias de gestão educacional. d) Recursos disponíveis para fazer Educação a Distância: o quarto aspecto disposto na figura acima é igualmente importante aos gestores de EAD, pois as condições de 30 trabalho dos educadores e técnicos, bem como as condições de estudos dos educandos, estão diretamente relacionadas aos recursos disponíveis para fazer EAD. A infraestrutura e os recursos materiais, tecnológicos, financeiros e humanos são centrais na definição de uma proposta de EAD e na melhor qualidade da formação possibilitada pelas escolhas feitas pelos gestores e educadores. Enfim, esses elementos dispostos no diagrama da Figura 1 podem ser compreendidos como categorias de análise para entendimento da modalidade de EAD. Uma experiência de EAD de sucesso parte desses elementos. Nesse sentido, é importante o fato de que, no Brasil, predominam a oferta de cursos EAD por instituições híbridas, aquelas tradicionalmente voltadas para educação presencial e que desejam enveredar por novos caminhos metodológicos (um dos tipos postulados por TRINDADE, 2001). Como ressaltam Shelton e Saltsman (2005, p.13), a infraestrutura de uma institucional já existente há anos exige uma reengenharia, a fim de acomodar os estudantes de EAD. Portanto, os gestores de EAD no Brasil enfrentam o desafio da reengenharia das universidades presenciais para adequação às necessidades da modalidade de educação a distância. Como dirigentes/gestores de sistemas de EAD podem viabilizar condições para implementação de experiências de sucesso? Na busca por respostas a questões desta natureza, o Grupo Horizonte buscou caracterizar algumas das atuais experiências de EAD das instituições públicas brasileiras. Foram indicados dois modelos de organização da EAD no seio institucional: Modelo 1. Núcleos ou centros de EAD autônomos: representa aquelas experiências de EAD organizadas 31 de modo isolado ao restante da instituição. Numa espécie de gueto, o setor de EAD é mais autônomo, mas se instala como um “elemento estranho” aos outros setores da instituição. Geralmente, há duplicidade de setores essenciais da instituição, o que representa grande possibilidade de desperdício de verbas públicas (no caso de EAD pública); e Modelo 2. Secretarias ou núcleos de suporte/apoio a setores tradicionais da instituição: representa iniciativas de EAD organizadas numa parceria capilarizada com os diversos setores da instituição. Num plano ideal, as disciplinas são ofertadas pelos departamentos que já oferecem disciplinas presenciais e as atividades de docência virtual também entram na contabilidade do esforço docente. Esse modelo visa enraizar a modalidade de EAD na instituição em toda sua estrutura e busca maior qualidade na formação por meio de melhor emprego das verbas destinadas à EAD. Cada um desses dois modelos de organização da EAD apresenta vantagens e desvantagens em relação a um ou outro aspecto da gestão educacional. Também representam, cada um por seu lado, desafios de natureza diversa ― seja em termos de cultura organizacional e relação com outros setores da instituição seja em termos de implementação da determinada proposta pedagógica. Nesse sentido, estão em jogo os elementos indicados na Figura 1, especialmente os recursos disponíveis. Moore e Kearsley (2007, p.201) dedicam um capítulo do seu livro aos dirigentes e administradores de sistemas de EAD, em que descrevem algumas das atividades das pessoas responsáveis pelos 32 recursos (humanos, materiais, tecnológicos, financeiros etc.) necessários para veicular programas de EAD de qualidade. Segundo os autores, essas atividades podem ser agrupadas em planejamento estratégico, administração do programa, quadro de colaboradores, centros de apoio ao aluno, bibliotecas e locais de teleconferência, avaliação da qualidade, desenvolvimento de políticas institucional, estadual e federal, política docente e política de letramento digital etc. Para os mesmos autores, a maior parte das instituições educacionais compartilha três problemas significativos ao introduzir a Educação a Distância: 1. Uma cultura acadêmica que considera o ensino como a atuação de uma pessoa em uma sala de aula. 2. Uma estrutura de formação de políticas dominada por colaboradores que estão satisfeitos com o sistema que lhes trouxe poder. 3. Um sistema administrativo em que os recursos tecnológicos e humanos estão fragmentados em uma estrutura formada por diversas camadas de professores e departamentos, cada um dos quais protegendo seus próprios interesses. Mansur (2001, p.62) também relata desalinhamento entre a rigidez/hierarquia administrativa da instituição tradicional e a dinamicidade e complexidade típicas da modalidade EAD. Segundo Dias e Gomes (2004), o planejamento de cursos pela EAD é um processo complexo e não pode ser dissociado do contexto mais geral. Também no Brasil, os responsáveis pelos sistemas de EAD enfrentam o desafio de fazer a gestão das mudanças e da flexibilidade, tão necessárias à institucionalização da EAD. Como afirma Rosenberg (2008, p.264), a gestão da mudança trata de entender e trabalhar a cultura. O processo de mudança exige do gestor a percepção da 33 necessidade de mudar, a mobilização da instituição para a mudança e a integração das mudanças nas operações da organização (SHELTON e SALTSMAN, 2005, p.10). Enfim, as discussões existentes sobre gestão da educação a distância auxiliam bastante o trabalho de gestores de sistemas de EAD, inclusive no Brasil. Entretanto, ainda tem sido insuficiente para atender a todas as especificidades da realidade brasileira para gestores EAD. Algumas questões decorrentes das particularidades das experiências de gestão da EAD no âmbito de instituições públicas de educação ainda merecem atenção, o que aumenta a importância de investigações sobre a gestão da EAD. 3. Alguns desafios postos aos gestores de sistemas de EAD no Brasil A título de exemplo, levantamos alguns desafios frequentes postos a gestores da EAD, como resultado de uma investigação comparativa entre a gestão da EAD no Brasil e em Portugal. No âmbito das universidades públicas federais, observamos que o súbito crescimento da modalidade de EAD vem exigindo estratégias de gestão emergenciais e diferenciadas daquelas tradicionalmente utilizadas na educação presencial ou em empresas. Há semelhanças, divergências e, principalmente, há especificidades. Muitos aspectos que compõem a gestão de sistemas de Educação a Distância nessas instituições públicas carecem de fundamentação e entendimento aprofundado. Neste cenário, sugerimos reflexões sobre as atividades de gestores da EAD que se preocupam em democratizar o conhecimento com a mesma qualidade de formação, tradicionalmente atribuída aos cursos presenciais. Um universo ainda pouco conhecido compõe esse cenário da prática pedagógica cotidiana da EAD e apresenta-se 34 repleto de desafios aos gestores de sistemas de EAD. Especialmente nas universidades públicas federais que carregam consigo o desejo e a responsabilidade de oferecer cursos presenciaise virtuais nos padrões de qualidade atribuídos à instituição, gestores de EAD de todo o País têm enfrentado dificuldades críticas, ainda não superadas. Entre os principais desafios, a gestão da EAD convive com os seguintes dilemas: a) Qual a infraestrutura essencial à IPES pública para ofertar cursos pela EAD? Como institucionalizar adequadamente a EAD numa universidade federal? Que mudanças culturais são necessárias para comunidade acadêmica incorporar a EAD como educação efetiva e de qualidade? b) Por que a evasão na EAD é tão alta? Que novas estratégias podem ser implementadas para aumentar a permanência dos estudantes? c) Como aumentar o caráter de flexibilidade dos espaços e tempos educacionais, essencial à modalidade de EAD? É possível flexibilizar a proposta pedagógica dos cursos de EAD de modo a atender aos horários e lugares de estudo dos alunos, articulando os (geralmente escassos) recursos humanos, físicos, materiais e financeiros? d) Como institucionalizar a mão de obra necessária ao bom andamento das atividades de EAD? Que implicações legais decorrem do trabalho flexível, temporário e precarizado típico da docência virtual (em especial do trabalho dos tutores virtuais)? O teletrabalho representa problemas trabalhistas? 35 e) Como estruturar um sistema de avaliação que atenda às diretrizes legais e pedagógicas na modalidade de EAD, concebendo aspectos essenciais ao processo avaliativo: com rigor, seriedade, sigilo, identidade etc.? Como evitar as recorrentes tentativas de burla (cola) na EAD? Logisticamente, como gerenciar a aplicação das provas nos Polos de Apoio Presencial? f) Existem sistemas informáticos adequados às especificidades da estrutura organizacional das instituições públicas brasileiras? Em que a telemática tem contribuído para a gestão do conhecimento e dos processos logísticos na EAD? Se a EAD virtualiza os tempos e espaços de ensino-aprendizagem, que estratégias são possíveis para a comunicação e mediação entre docente-educando e para o enriquecimento da construção do conhecimento? g) Numa proposta de EAD que incorpora Polos de Apoio Presencial, mantidos por terceiros, como institucionalizar um ambiente fora da jurisdição da IPES? Quais as melhores estratégias de gestão dos processos logísticos e da relação IPES- Polos, considerando o polo como espaço multi- institucional e fora da jurisdição da universidade? Essas são apenas algumas questões postas quando nos colocamos como gestores da EAD e que podem nortear investigações e práticas pedagógicas em EAD. Respostas, mesmo que parciais, a essas questões servem de base para compor um modelo de 36 gestão para a EAD, em complemento ao que já vem sendo feito de positivo em cada IES brasileira. Também no caso da mencionada investigação feita nos sistemas de EAD Brasil-Portugal, buscamos caracterizar os modelos de EAD centrando esforços na compreensão do sistema gestor da EAD, com especial atenção nos desafi os que os responsáveis pela EAD brasileira têm enfrentado para realizar uma educação de qualidade, democrática e fl exível. Para isso, estruturamos um mapa conceitual (Figura 2) com os elementos básicos ou as categorias de análise de um sistema gestor de EAD. Cada uma dessas categorias constitutivas do diagrama deve ser considerada na organização e caracterização de um sistema de EAD. Figura 2. Mapa (simplifi cado) de conceitos envolvidos na dinâmica de educação a distância (EAD). Fonte: adaptado de MILL (2012)6. 6 Esse mapa conceitual sobre um sistema EAD, elaborado com base detalhada discussão 37 Cada elemento indicado na Figura 2 afeta diretamente as diferentes perspectivas de análise de qualquer aspecto envolvido pelo ensino-aprendizagem no âmbito da EAD e, por isso, devem ser considerados em tentativas de compreender a modalidade parcial ou totalmente. Assim, essa tentativa de mapeamento dos principais elementos/conceitos envolvidos numa proposta de EAD visa a contribuir para a melhor compreensão do todo e suas partes, tendo como foco uma perspectiva ampliada e uma visão de totalidade dos processos da EAD. Sem a pretensão de abarcar todos os elementos envolvidos nos sistemas de EAD e, tampouco, sem a ambição de esgotar a discussão, a Figura 2 é uma tentativa de trazer à baila uma visão panorâmica da modalidade de EAD no atual contexto brasileiro. Essa ousada tentativa de elaboração de um mapa de conceitos tangentes à educação a distância buscou organizar, num diagrama didático, grande parte da dinâmica e complexidade dessa modalidade segundo os quatro elementos constitutivos da educação: ensino (docência), aprendizagem (educandos), gestão e tecnologias (materiais didáticos). Vale ressaltar que essa Figura 2 apresenta apenas uma forma grosseira e sistematizada de alguns conceitos mais recorrentes na literatura e nas experiências de EAD. Além disso, apesar de o diagrama já revelar uma estrutura conceitual com relações bastante complexas, sabemos que outros tantos elementos apareceriam em um mapa conceitual mais bem elaborado e mais fiel ao complexo e dinâmico processo de ensino-aprendizagem da educação virtual. A Figura 3 traz um recorte da parte de conceitos mais relacionados à gestão da EAD. feita em Mill (2012), traz novos elementos em relação àquele publicado pelo autor e, do mesmo modo, novos elementos poderão ser incorporados em versões futuras do referido mapa. 38 Figura 3. Detalhe do mapa conceitual, destacando aspectos mais diretamente relacionados à gestão da EAD. Nesse sentido, a Figura 4 auxilia a entender a relação entre a EAD em sentido amplo (que se mostra mais dinâmica e complexa do que a modalidade presencial), a gestão da EAD (atualmente repleta de desafi os, difi culdades e exigente de estratégias diferenciadas) e a profi ssionalização da gestão dos processos educacionais. Figura 4. Relação entre a complexidade e dinamicidade da EAD e a profi ssionalização da gestão da EAD. 39 Tendo essa organização em mãos, os especialistas em EAD (gestores e educadores) podem eleger aspectos mais importantes para amenizar as suas dificuldades com a instalação de atividades de EAD numa instituição. Podemos considerar essas reflexões que apresentamos até aqui como o ponto de partida para a necessária profissionalização da gestão da Educação a Distância. 4. Considerações finais - Sobre a gestão da EAD Já foi dito e vale reforçar: por ser demasiadamente dinâmica e complexa, nós ― educadores, pesquisadores, estudantes e demais interessados nessa temática ― ainda estamos por entender diversos aspectos que constituem a modalidade de Educação a Distância (EAD). São evidentes as muitas lacunas teóricas e de entendimento mais geral que, sobretudo no contexto brasileiro, têm dificultado a concepção e realização de boas práticas de formação pela EAD. São perceptíveis as lacunas no entendimento de ensino-aprendizagem na perspectiva da aprendizagem (estudante), do ensino (docente), das tecnologias (materiais didáticos e mídias) e da concepção/ gerenciamento da EAD (gestores). Enfim, parece-nos essencial a busca pela compreensão da EAD numa perspectiva macro ou ampla, partindo da noção conjunta dos processos de ensino-aprendizagem e do fenômeno pedagógico, suas tecnologias e o papel dos gestores educacionais. Temos buscado tal compreensão num movimento de análise da totalidade para o particular, do macro para o micro, pela melhor compreensão do fenômeno educativo na EAD, dos processos e elementos do ensino- aprendizagem virtual e sua relação com certos fundamentos da EAD. A ideia é compreender o fenômeno educacional contemporâneo, vendo-o pela maior quantidade de perspectivas possíveis. 40 Para o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Inovação em Educação, Tecnologias e Linguagens (Grupo Horizonte),isso pode representar um primeiro passo ou uma lacuna a menos, mas certamente ainda há muitas outras lacunas por preencher, o que indica que a modalidade de EAD reafirma-se como um fértil campo de estudos. Fica, portanto, o convite a todos para futuras investigações. 5. Referências BELLONI, M.L. Educação a Distância. Campinas: Autores Associados, 2001. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994. BRASIL. Censo brasileiro de educação a distância ― Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Brasília: INEP/MEC, 2007a. Disponível em: www.inep.gov.br/superior/censosuperior BRASIL. Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: D.O.U., nº. 248 de 23.12.96. 1996. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília: MEC-SEED, 2007b. DIAS, A.A.; GOMES, M.J. (Eds.). E-learning para e-formadores. Minho: TecMinho, 2004. HORA, D.L. Gestão democrática na escola. Campinas: Papirus, 1994. MANSUR, A. A gestão na educação a distância. In: LiTWIN, E. (org.). Educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2001, p.39-52. MILL, D. Docência virtual: uma visão crítica. Campinas: Papirus, 2012. MILL, D. Educação a distância e trabalho docente virtual. 322f. Tese (Doutorado em Educação). Belo Horizonte: FAE/UFMG, 2006. 41 MILL, D. et al. Gestão da Educação a Distância (EaD): noções sobre planejamento, organização, direção e controle da EAD. Vertentes (UFSJ), v. 35, p.9-23, 2010. MOORE, M. G.; KEARSLEY, G. Educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2007. ROSENBERG, M. J. Além do e-learning. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008. RUMBLE, G. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Brasília: UnB - UNESCO, 2003. SHELTON, K.; SALTSMAN, G. An administrator’s guide to online education. Greenwich: USDLA/IAP, 2005. SIMONSON, M. et al. Teaching and learning at a distance. Boston: Pearson, 2009. TRINDADE, A. R. (coord.). New learning. Lisboa: UAb, 2001. 42 43 PROCESSO DE GESTÃO E AVALIAÇÃO NA EAD: DIFICULDADES, DESAFIOS E PERSPECTIVAS marise maria Santana da Rocha1 Resumo O artigo apresenta uma reflexão baseada em questões relativas à gestão e à avaliação “no” e “do” processo de ensino e aprendizagem na educação a distância, abordando as dificuldades que se configuram no desenvolvimento dessa modalidade bem como os desafios que se colocam em suas diversas fases. Destaca, ainda, as perspectivas de melhoria da qualidade das ações administrativas e pedagógicas na EAD, na busca pela inclusão social e pela construção da cidadania. Palavras-chaves: EAD, Gestão, Avaliação. 1 Introdução A Educação a Distância nos últimos anos tem tomado corpo e se instalado definitivamente no cotidiano da maior parte das instituições de ensino superior públicas, uma vez que: Longe de ser um derradeiro recurso para a instrução obrigatória, o ensino a distância tornou- se uma livre escolha para a maioria de seus usuários. E essa é uma tendência que aumenta de maneira irreversível. Ela influi sobre as escolhas das disciplinas, sobre a construção dos programas de curso, sobre as preferências metodológicas. Influi também sobre os beneficiários do ensino, que se abre para todos os públicos, seja qual for 1 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora-geral do Nead/UFSJ 44 sua idade, nível de instrução ou categoria sócio- profissional (AUTHIER, 2012, p. 40). Diante desse cenário, duas vertentes se configuram como pontos de debates entre os profissionais que hoje militam nessa modalidade de ensino: a gestão e a avaliação. Esses dois elementos são indissociáveis no processo da EAD, já que a relação entre eles é tão próxima que se torna impossível pensar uma forma de gestão na qual não esteja inserida uma sistemática avaliativa. De forma semelhante, não se pode pensar o processo de avaliação desvinculado das implicações da e na gestão dessa modalidade de ensino. Diante disso, serão apresentadas neste artigo considerações relevantes sobre a avaliação DA Educação a Distância e NA Educação a Distância, entendendo-se que nessas abordagens estará implícita a questão do seu processo de gestão. 1.1 Avaliação da EAD Com a ampliação crescente da oferta de vagas em cursos na modalidade a distância, faz-se necessária uma avaliação das ações e relações que se estabelecem em todo esse processo de ensino e aprendizagem. Para que essa avaliação se concretize, devem ser considerados três aspectos, a saber: as dificuldades encontradas antes, durante e depois das ações; os desafios que se apresentam em função dessas dificuldades e, finalmente; as perspectivas que se abrem para a aceitação definitiva das ações em EAD. 1.1.2 Dificuldades Dentre as dificuldades que se apresentam na implementação de 45 cursos e ações a distância, uma das que mais vem sendo combatida ao longo do tempo está relacionada ao preconceito contra essa modalidade. O discurso que tenta desqualificar a EAD ainda persiste na sociedade e na academia, mesmo diante de todo o avanço tecnológico conquistado nos últimos tempos, para o qual Moran (2013) aponta as seguintes utilidades: É possível criar usos múltiplos e diferenciados para as tecnologias. Nisso está o encantamento. O seu poder de sedução.Os produtores pesquisam o que nos interessa e o criam adaptam e distribuem para aproximá-los de nós. A sociedade, aos poucos, parte do uso inicial, previsto, para outras utilizações inovadoras ou inesperadas. Uma outra dificuldade que se percebe no processo do ensino a distância é a falta de recursos humanos suficientemente capacitados para a ampliação das ações em todos os âmbitos. Diante da enorme demanda por formação inicial e continuada em todo o sistema educacional brasileiro, o número de profissionais preparados para atuar especificamente no ensino a distancia ainda é insuficiente. Configura-se, ainda, como uma grande dificuldade na EAD, o não reconhecimento dessa modalidade como uma prática educativa possível e legítima, por parte das próprias instituições públicas de ensino superior. 1.0.3 Desafios Mediante as dificuldades destacadas acima, assim como outras mais que frequentemente emperram o processo de ensino e aprendizagem a distância, certos desafios se colocam aos atores atuantes na modalidade. A busca por investimentos em capacitação é um dos desafios 46 a ser enfrentado, pois profissionais devidamente habilitados podem transformar a realidade educacional no campo do ensino a distância tanto no âmbito da gestão, como no da docência, ou ainda da tutoria. Gestores bem preparados representam a ampliação de ações, bem como uma forma mais adequada de resolver situações-problema. Consequentemente, professores efetivamente capacitados terão plenas condições de dar rumos criativos e inovadores ao processo pedagógico desenvolvido na EAD, o que encontra eco nas palavras de Daniel Mill, quando ele afirma que: Sendo esse gestor responsável pelo planejamento, organização, direção e controle dos processos de formação pela modalidade, é importante que ele saiba das implicações decorrentes da subordinação da EaD à modalidade presencial, especialmente da sua subordinação a uma gestão central (que geralmente vê a educação a distância como subcategoria de educação). Há muitas questões daí decorrentes que merecem atenção dos gestores, com destaque para as condições de disponibilidade dos recursos do processo administrativo: instalações, espaço, tempo, dinheiro, informações e pessoas (MILL, 2013, on-line). No entanto, ainda se deve frisar que nesse processo devemos lembrar que o êxito de qualquer atividade de tutoria dependediretamente da boa preparação dos profissionais envolvidos nessa tarefa. Sobre o papel do tutor na Educação a Distância, Preti (1996) ressalta que o mesmo é o grande responsável por viabilizar e articular os elementos do processo de ensino e aprendizagem na interação com o seus alunos, ao que Bernal (2008, p. 60) adiciona o seguinte: Para a educação a distância a tutoria se concebe como um serviço que uma instituição oferece por 47 meio de seus tutores para o acompanhamento durante o processo de formação de um sujeito (estudante). Tal acompanhamento se realiza no contexto da formação integral, portanto, o tutor é o sujeito que personaliza a Educação a Distância mediante o apoio organizado ou sistemático de um processo que compreende, em primeiro lugar, o conhecimento da filosofia institucional e os objetivos disciplinares, conteúdos, metodologia e critérios de avaliação da matéria que dirige. Outro desafio que precisa ser encarado está na necessidade de se promover uma aproximação das modalidades a distância e presencial de ensino. O planejamento e a aceitação de um modelo híbrido de ensino representaria um grande avanço no sistema educacional em todos os seus segmentos. Diante desses desafios a serem vencidos por aqueles que militam na educação a distância, a grande realização estaria na concretização da institucionalização dessa modalidade, tendo em vista o seu reconhecimento em cada instância do sistema educacional, por meio de mecanismos legais. A completa institucionalização da EAD garantirá ao público que dela se beneficia direitos e deveres similares aos já conquistados pelo público da modalidade presencial, passando também pela conquista de recursos financeiros e humanos necessários ao bom êxito das atividades e pelo respaldo institucional a todas as ações a serem desenvolvidas. Para que isso possa se concretizar, Mill diz ser necessário que: A qualidade da formação que se pretende num sistema de educação a distância deve ser capaz de atender às demandas/expectativas dos interessados/clientes (estudantes). Além disso, a satisfação desses estudantes com o produto (conhecimento em construção) move todo o sistema de gestão de qualidade da formação (MILL, 2013). 48 1.0.4 Perspectivas Apesar das dificuldades e desafios presentes em todas as etapas da educação a distância, algumas perspectivas que serão elencadas a seguir já podem ser vislumbradas no cenário acadêmico atual. A oferta de cursos a distância de qualidade, por um número cada vez maior de instituições educacionais públicas, fará com que essa modalidade de ensino tenha um reconhecimento cada vez maior da academia e da população em geral. O envolvimento maior das universidades federais provocará a consolidação das políticas públicas voltadas para essa modalidade educacional, o que consequentemente representará mais investimentos e vagas para alunos e profissionais da área. Nesse sentido, são interessantes as seguintes ponderações de Mill (2013, on-line): Sem entrar no mérito da discussão acerca do significado do termo “autonomia”, sabe-se que a estrutura administrativa, tecnológica, financeira e humana/intelectual exigida para constituição de uma instituição que ofereça exclusivamente cursos pela modalidade de educação a distância é extremamente complexa, de alto custo e de difícil aquisição/manutenção. Apesar das implicações pedagógicas pertinentes ao fato, aproveitar a estrutura de funcionamento de uma instituição de ensino já constituída torna-se uma saída estratégica, inteligente e economicamente viável, pois essa iniciativa reduz muito os esforços e os custos de instalação dos programas de EaD. Além disso, o avanço da oferta de cursos livres em várias áreas do conhecimento tende a inaugurar uma nova concepção de formação acadêmica, a partir do momento em que permitirão uma ampla flexibilização curricular, pois, como afirma Magrone (2012, p. 60): 49 Parece fora de questão que os processos de produção dos saberes sociais e os processos sociais de formação nestes saberes estabelecem uma relação solidária no quadro da cultura moderna. De fato, seria muito difícil conceber o acelerado desenvolvimento dos conhecimentos em nossa época na ausência de poderosos recursos educacionais. 1.1 Avaliação na EAD Levando-se em conta um outro prisma, a avaliação pode também ser considerada em estrita relação com o processo pedagógico desenvolvido e, portanto, configurando-se a partir de agora numa análise da avaliação “Na” EAD. Em vista disso, Authier ressalta que: A educação ao se tornar uma indústria, a relação com o conhecimento obriga a pensar por completo o problema da avaliação. Praticada no ensino clássico essencialmente como um procedimento de validação, no ensino a distância a avaliação tende a se tornar o que ela é em qualquer outra economia: o processo mediante o qual se estabelece o valor (AUTHIER, 2012, p. 41). As questões a serem colocadas a seguir sobre a prática avaliativa, embora sejam abordadas numa perspectiva da modalidade de ensino a distância, não devem ser compreendidas de forma isolada, considerando-se que tendem a ser semelhantes nas diversas modalidades de ensino. 50 1.2 Dificuldades A avaliação na educação a distância tem sido motivo de pesquisas e estudos devido à necessidade de se identificarem os instrumentos mais adequados a essa prática. Porém, algumas dificuldades se configuram nesse campo, porque uma concepção tradicional, voltada para um tipo de avaliação eminentemente classificatória, tem dominado as práticas escolares ao longo da história da educação. Esse tipo de prática avaliativa, com foco na promoção, dificulta a compreensão da real função da avaliação da aprendizagem, tornando o processo na educação a distância tão deturpado quanto o desenvolvido na modalidade presencial. Uma avaliação com foco na promoção acaba por eleger também como único instrumento para verificação da aprendizagem a prova, seja no seu formato escrito ou oral. Ao priorizar a prova como único instrumento de avaliação, os professores atuantes na educação a distância acabam por ferir princípios fundamentais dessa modalidade, porque, na maioria das vezes, desrespeitam os tempos e os espaços de estudos dos cursistas. 1.3 Desafios Considerando as dificuldades comentadas anteriormente, desafios se configuram na busca pela resolução das mesmas. Uma concepção interacionista do processo de ensino e aprendizagem representaria uma ruptura com uma visão tradicional do processo de ensino e com uma prática equivocada da avaliação da aprendizagem. A partir de uma concepção interacionista de educação um novo modelo de prática avaliativa passaria a ser adotado. Em oposição a uma prática classificatória de avaliação, deveria entrar em cena um modelo de avaliação formativa e mediadora, que passe a valorizar 51 todo o percurso pedagógico do estudante, trabalhando as suas fragilidades, valorizando suas potencialidades, mediando conflitos e conhecimentos e formando atitudes positivas para a construção da cidadania. Um modelo de avaliação formativa e mediadora não pode se apoiar em provas e testes descontextualizados, mas sim assumir um enfoque voltado para a construção de competências. Nessa direção, o que mais importa é o processo de aprendizagem, e não a avaliação simplesmente como um fim em si mesma. Então, o que realmente importa em qualquer modalidade é aprender e não avaliar. 1.4 Perspectivas A mudança da sistemática da avaliação para a Educação a Distância passa a representar também uma mudança de paradigma, pois, como arrazoa Perrenoud (2000, p. 125): Uma nova compreensão de escola não pode ignorar o que se passa no mundo. Ora, as novas tecnologias da informação e comunicação(TIC ou NTIC) transformam espetacularmente não só nossas maneiras de comunicar, mas também de trabalhar, de decidir e de pensar. Contudo, para que um novo paradigma se configure, algumas mudanças nas práticas avaliativas na EAD, que foram herdadas dos cursos presenciais, precisam acontecer. A esse respeito, Luckesi (2008, p. 28) alerta que: Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que procuramos fazer, temos de necessariamente situá-la num outro contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente, colocar a avaliação 52 escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de transformação social. A avaliação precisa ser de todo o processo e em todas as direções, e não apenas um evento de final de disciplina ou módulo. Por essa razão, Campos afirma que: Na avaliação da aprendizagem, numa aprendizagem autônoma, o aluno é avaliado não só com relação ao seu desempenho em termos acadêmicos, mas também avalia-se o processo desenvolvido na sua aprendizagem (CAMPOS, 2010, p. 125). O medo que permeia qualquer momento avaliativo, que pode vir a ter inclusive certa perversidade, deve ser substituído pela coragem de professores e alunos em assumir que o erro é um componente construtivo no processo de aprendizagem. Com relação a esse aspecto, Luckesi (2008, p. 48) destaca que: A visão culposa do erro, na prática escolar, tem conduzido ao uso permanente do castigo como forma de correção e direção da aprendizagem, tomando a avaliação como suporte da decisão. Todavia, uma visão sadia do erro possibilita sua utilização de forma construtiva. A negociação entre as partes deve ser exercitada, tendo em vista que atitudes impositivas são sempre impróprias em qualquer situação. Todos os atores envolvidos na avaliação precisam estar abertos ao diálogo e à aceitação de posições diversificadas. O autoritarismo deve ser descartado, tendo em vista que não se aplica em nenhum espaço educacional e de formação, e ser substituído pelo incentivo à participação de todos os estudantes no seu próprio processo avaliativo, uma vez que: ( ) a prática da avaliação nas pedagogias preocupadas com a transformação deverá estar 53 atenta aos modos de superação do autoritarismo e ao estabelecimento da autonomia do educando, pois o novo modelo social exige a participação democrática de todos (LUCKESI, 2008, p. 32). Numa avaliação formativa e mediadora não cabe mais o segredo em torno do como e o que será avaliado, tendo em vista que a transparência passa a ser praticada a partir do momento em que os objetivos de qualquer ação são comunicados com clareza e o planejamento é feito de forma participativa. 1.3 Considerações Finais Diante das mudanças de concepção e de práticas sugeridas nesse artigo, os alunos, os docentes, os tutores e os gestores atuantes na modalidade a distância precisariam entender que a avaliação deve se dar de forma processual e ter caráter diagnóstico, que o erro pode ser construtivo e que o aluno também deve ter participação ativa no seu próprio processo de aprendizagem. Numa visão formativa e mediadora de avaliação, o seu momento de realização precisa ser encarado tanto pelos agentes educativos quanto pelos discentes como um momento também de aprendizagem, no qual avaliador e avaliado estarão ainda aprendendo. O processo de construção das competências não pode se reduzir a um conteúdo específico ou ser limitado a um tempo comum e único, mas deve vir revestido de respeito às diferenças e individualidades. Seja na modalidade a distância ou na modalidade presencial, o que mais importa em termos de processo avaliativo deve ser a certeza de que todo o trabalho pedagógico tem sido desenvolvido em prol da construção da cidadania e da inclusão social. 54 Referências AUTHIER, Michel. Ensino a Distância: cartografia e árvores de conhecimentos. In. DAMIANO, Gilberto A. et al. (Orgs). EAD, Cultura e produção da subjetividade. Juiz de Fora: Ed. UFSJ, 2012. BERNAL, E. G. Formação do tutor para a Educação a Distância: fundamentos epistemológicos. Revista Eccos, São Paulo, v. 10, n.1, p. 55-88, jan/jun, 2008. CAMPOS, Aline Ferreira. Novos rumos da tutoria em Educação a Distância. In. ROCHA, M. M. S. et al. Educação a Distância: textos e contextos, São João del-Rei, UFSJ, 2010. LUCKESI, Cipriano C. 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Acesso em: 10 de maio de 2013. 55 A AVALIAÇÃO COmO PRÁTICA TEXTUAL José Antônio Oliveira de Resende Departamento de Letras, Artes e Cultura Universidade Federal de São João del-Rei Enfatizando aspectos relacionados à textualidade, este artigo discute a prática da avaliação escrita enfatizando a coesão, a coerência, a leitura e a interlocução. Procura também mostrar que, quando a avaliação escrita é concebida e exercitada como texto, o sentido do conteúdo problematizado passa a ser construído no dinamismo dialógico. Isso faz da avaliação escrita uma intervenção pedagógica livre das cristalizações conceituais. Palavras-chave: Avaliação Escrita, Texto, Cristalização Conceitual 1. Introdução Existe a prova que apenas resulta em aprovação ou reprovação, fechando os olhos para os fatores que levaram a esses resultados, tradicionalmente aplicada de modo terminal, somente ao final do ensino de determinado conteúdo. Por outro lado, há muito que se afirma a necessidade de se considerar a avaliação como prática pedagógica, diagnóstica e continuada. Pedagógica, pois seu compromisso é com a otimização do ensino e da aprendizagem, a partir dos acertos e desacertos diagnosticados em sua aplicação contínua. No caso da avaliação escrita – que é o objeto de discussão deste artigo –, para que os intentos acima mencionados sejam devidamente obtidos, é fundamental que ela seja exercida como texto, ou seja, estruturada com coesão e coerência, engajada com a leitura e propiciadora da interlocução. 56 Entretanto, mesmo que a avaliação seja considerada assim, ela corre o risco de se estagnar em seu próprio conceito, refratando o seu compromisso histórico, discursivo e textual. Trata-se perigo da cristalização conceitual, que esvazia da linguagem o seu dinamismo. 2. Discussão do conceito Existem palavras e expressões que, de tão usadas, tornam- se cristalizadas. O cristal, segundo o dicionário “Aurélio” da língua portuguesa, é uma substância sólida, cujas partículas constituintes mantêm um equilíbrio regular.1 Em outras palavras, é a regularidade do equilíbrio das partículas que faz com que o cristal seja sólido. Daí que, entre outras acepções, cristalizar é fazer com que algo se solidifique, torne-se imutável, não passível de transformações. E quanto à cristalização de palavras e expressões? Quais são, metaforicamente falando, as suaspartículas constitutivas que se mantêm como que em um equilíbrio regular, propiciando a própria cristalização? São várias. Dentre elas, ressaltem-se aqui apenas duas: o significado e o uso. No fenômeno de uma cristalização linguística, significado e uso se intercondicionam de modo tão sólido que um se confunde no outro. Por sua vez, essa amalgamação dificulta o afastamento crítico que possibilita a reflexão sobre aspectos específicos tanto do significado quanto do uso, assim como sobre a inter-relação entre eles. Nas práticas pedagógicas, uma dessas expressões cristalizadas é a “atividade de avaliação”. Porém, o que pode ser pensado como atividade? E no caso da avaliação, como é essa atividade? Trata-se, em princípio, de uma atividade textual. 1 FERREIRA, Marina Baird Ferreira; Margarida dos Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa; coordenação Anjos. – 4. ed. – Curitiba: Ed. Positivo, 2009. 57 Propõe-se aqui entender “atividade” como algo diferente de “ação”. Não se trata de uma distinção conceptual técnica, mas de uma proposta de diferenciação que possa servir de base para as discussões doravante apresentadas. Uma vez que existem diferentes tipos de ações, como, por exemplo, ações instintivas, ações da natureza, ações mecânicas, considere-se a atividade como um tipo diferenciado de ação. A atividade é movida por um propósito, é planejada e atua sobre algo. No caso da avaliação, se afirmamos ser ela uma atividade, então ela é um processo intencional, planejada segundo seus objetivos e atua sobre algo; no caso, sobre a dinâmica didático-pedagógica do ensino e da aprendizagem. Além disso, a avaliação como atividade se desenvolve com vistas a resultados que possam ser interpretados qualitativamente com base no senso reflexivo e crítico. Além de ser uma atividade, a avaliação é, como colocado anteriormente, uma atividade textual. Logo, suas demandas de coesão, coerência, interlocução e leitura devem ser observadas. Quanto à coesão, vamos entendê-la de modo um tanto simplificado e prático: o emprego adequado dos recursos linguístico- gramaticais. Essa coesão da prática textual da avaliação diz respeito à atenção do professor elaborador quanto à sua maneira de redigir as questões. Regras de pontuação não respeitadas, ortografia falha, uso vago de palavras como “tudo”, “isso”, “o qual”, “a qual”, dentre outras são fatores que podem causar ambiguidades e mal entendidos na leitura da avaliação escrita. Pode ser que alguém levante a objeção de que tal zelo não esteja relacionado a elementos a serem avaliados em primeira instância no indivíduo enquanto aluno. Mas não se pode negar que 58 são elementos a serem avaliados em primeira instância no indivíduo enquanto professor. Se o professor pretende obter dados que orientem se determinado processo de ensino e aprendizagem deve continuar ou se deve ser reconsiderado e transformado, esse professor tem que aprimorar o seu instrumental de coleta dos dados. No caso da avaliação escrita, esse instrumental é a linguagem empregada no texto da avaliação. Além da coesão, a avaliação como atividade textual demanda coerência. Se a coerência pode ser entendida como derivada da lógica interna do texto2, possibilitando que ele seja passível de interpretação, por outro lado, um texto coerente é também aquele que apresenta sintonia com aspectos extratextuais que ele evoca. A prática textual da avaliação parece se afastar da lógica interna do texto quando suas questões não se comprometem umas com as outras. Em outras palavras, a primeira questão instiga algo que não se comunica com o que é provocado na segunda questão, sendo que a primeira e a segunda questões, por sua vez, também não estabelecem um diálogo com o que é problematizado na terceira e quarta questões, por exemplo. Cada questão se direciona para um lado diferente, dificultando bastante a unidade textual da avaliação. De igual maneira, a sintonia com aspectos extratextuais também parece não observada quando a avaliação não presentifica o conhecimento problematizado. Isso acontece quando o texto da avaliação recorre a questões já passadas, elaboradas em momentos que não sejam aqueles em que o conteúdo foi ensinado. Há casos de professores que mantêm um banco de questões 2 COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 59 disponíveis a serem aplicadas repetidamente em suas provas. Certos elementos dos conteúdos são universais, mas o momento de seu ensino é único. Daí a necessidade de o professor sempre verificar a adequabilidade de tais questões arquivadas em suas respectivas transposições para as avaliações em seus respectivos momentos históricos. Quando tal adequabilidade não é considerada, ocorre o confronto entre o enunciado e a avaliação: enquanto a avaliação se dá numa enunciação de agora, voltada para o ensino de agora, seu enunciado se mantém preso a uma enunciação que não existe mais. Esses impasses, como consequência, não deixam de complicar uma outra demanda da avaliação como texto: a leitura. Ler envolve processos como associação, retomada, antecipação e averiguação. Mas, para que isso ocorra, é necessário que o texto apresente uma conectividade satisfatória entre as ideias que veicula assim como com o contexto no qual está inserido. Ora, se o texto da avaliação apresenta problemas de coesão e de coerência, tropeços de escrita e uso inadequado de recursos linguístico-gramaticais, assim como o desmantelamento de sua unidade enquanto texto, obviamente a leitura será prejudicada. De igual modo, a leitura é prejudicada quando a avaliação não se coloca numa relação condizente com o contexto de sua realização enquanto texto. Outro fator importante para a textualidade da avaliação é a sua possibilidade de interlocução. Escrita e leitura se completam na seguinte dinâmica: quem escreve quer ser lido. É frustrante quando o escrito alcança o leitor, mas o leitor não alcança o autor. O sentido de alcançar o autor aqui proposto é fazer do texto um espaço de interlocução. 60 Isso significa retornar por escrito, sempre que possível, o que o aluno também escreveu. Esse diálogo se configura como uma importante prática discursiva, uma vez que o sentido será configurado na interação professor-aluno. O que não está satisfatório – ou mesmo incorreto – quanto ao conteúdo passa ser objeto de discurso, objeto textual, objeto de envolvimento cognitivo. Da mesma maneira, o que está satisfatório quanto à resposta escrita do aluno também passa ter condições de ser melhor compreendido e reforçado quando o texto desse aluno é contemplado pela interlocução. Tal postura do professor quanto ao texto do aluno (resposta de questão aberta também é texto) tende a fazer com que o aluno se conscientize de que aquilo que ele escreve tem valor, já que foi motivo de interesse do professor enquanto leitor. 3. Considerações finais O significado de certas expressões que orientam as práticas didático-pedagógicas deve ser constantemente revisitado a fim de que o seu uso não se torne uma prática mecânica e repetitiva. Quando o significado dessas expressões é refletido, discutido e ressituado, o uso delas se torna um trabalho em perene diálogo com a sua própria estruturação e com o seu contexto. Por sua vez, a atividade de avaliação, quando considerada como prática textual, requer uma postura didática e pedagógica mais engajada quanto à sua aplicação. Isso se traduz em olhá-la e exercê- la como gênero textual, o que pede a atenção para a sua organização linguístico-gramatical e sua inter-relação com as particularidades do seu espaço de circulação. Além disso, é importante também que a avaliação escrita 61 esteja sempre atenta às condições de sua leitura
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