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CONSTITUINTE 88 Bom, a constituinte de 88 tem uma característica curiosa: ela trabalhou em cima de nada. É uma constituinte inédita na história brasileira pq é uma constituinte q não trabalha em cima de nenhum anteprojeto, não há um anteprojeto, o governo não manda um anteprojeto pra ela, nem o anteprojeto da comissão de notáveis, nem outro anteprojeto qualquer, ela trabalhou no vazio. A meu ver o ideal teria sido que ela trabalhasse em cima, pelo menos, de uma constituição anterior. Tivesse trabalhado em cima da constituição de 67/69, tudo bem; ou tivesse trabalhado em cima da constituição de 46. Mas tivesse usado um texto como ponto de partida para as mudanças q a lei ia fazer, para as alterações q a lei ia fazer. Esse fato de trabalhar sem anteprojeto, como tudo na vida, é uma circunstância que tem aspectos positivos e aspectos negativos. Isso tem um mérito, isso permite q a constituição possa realmente inovar em muitos assuntos e ela inovou em muitos assuntos. Porém tbm tem o defeito de ela desprezar certos assuntos q já estavam com uma certa consolidação constitucional, a exemplo da questão dos municípios, que já estava consolidada e recebe um tratamento diferente na const. De 88. Ela organiza 24 subcomissões, divide a matéria da constituição em 24 subcomissões. Todos os deputados estão envolvidos em alguma destas subcomissões, deputados, senadores; depois ela reúne 8 comissões temáticas. Essas subcomissões, o trabalho delas é agrupado em alguns temas, em alguns grandes temas, em 8 comissões temáticas. E depois vc tem uma comissão central, uma comissão de sistematização, a “grande comissão”. E esse foi o problema, o problema da grande comissão, pq o projeto que saísse dessa comissão de sistematização ele seria aprovado ou emendado, ou alterado pelo plenário, mas o plenário não tinha mais o direito de apresentar emendas a esse projeto, de apresentar modificações a esse projeto. E aí foi q houve a grande reação dos deputados que estavam excluídos desta comissão de sistematização: começaram a denunciar que havia constituintes de 1º nível e constituintes de 2º nível. Os constituintes verdadeiros eram os constituintes da comissão de sistematização, cujo trabalho ia ser aprovado ou não aprovado pelo plenário. Mas os outros eram constituintes de 2º nível pq eles não podiam apresentar emendas a este trabalho. Esta foi a reação do chamado “centrão”, e me parece que essa reação foi muito boa. Pq não é razoável que houvesse um grupo de privilegiados, cujo texto seria aprovado ou não seria aprovado, mas não podia mais ser objeto de novas emendas pelos demais constituintes. É admirável, é notável, é fantástico isso, o grau de participação popular que houve na constituinte de 87/88 e que não houve nas constituições anteriores. Não somente agora a gente está em uma época de muito maior facilidade de comunicações, e nesse tempo nem internet havia, mas já havia facilidade de transporte aéreo, de outras comunicações (telefone, correio, etc.), e portanto ela é uma constituição muito mais participada que as anteriores. O Brasil viveu esses 2 anos de 87/88 em um ânimo cívico, em uma agitação cívica semelhante a eleição do diretório da Faculdade de Direito. Esse tipo de história, de passagem em sala de aula, de debate... Foi o q o Brasil viveu nos anos de 87/88. Todo mundo discutindo o país, aspectos do projeto; o próprio congresso nacional convocando especialistas, inúmeros especialistas, não só juristas, especialistas de outras áreas tbm, foram convocados pelo congresso e lá foram dar seus depoimentos, suas posições; grupos organizados fizeram pressões, lobby’s à vontade lá no congresso. Foi, realmente, uma época de extrema participação na vida brasileira.
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