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Substâncias psicotrópicas Prof: Kátia Barbosa O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes concederam um lugar permanente na economia de sua libido (FREUD, 1930) I- Introdução 1- Definição: São substâncias que atuam sobre o SNC provocando modificações do comportamento e de algumas funções biológicas do indivíduo As drogas atuam em outros órgãos do corpo, tais como o coração, os intestinos, fígado, pulmões, vasos sanguíneos e outros São chamadas de psicoativas ou de psicotrópicas (tropismo ou atração pela mente, porque atuam principalmente no cérebro) As alterações psíquicas que as drogas provocam variam, principalmente, de acordo com: O tipo e a quantidade de drogas utilizadas As características pessoais de quem as ingere As expectativas que se têm sobre os seus efeitos As circunstâncias em que são ingeridas e) O tempo de administração f) A via de administração 2- Mecanismo de atuação das drogas no SNC O cérebro é composto por bilhões de células especializadas (neurônios) De cada neurônio saem prolongamentos que conduzem o impulso nervoso neurônio → recebe um impulso (da retina por ex.) → transmite o impulso nervoso para outros neurônios Como ocorre a transmissão? Através das ramificações finais do seu axônio. O neurônio libera uma substância química para dentro do espaço existente entre os neurônios (espaço sináptico) Esta substância química vai reagir com o neurônio seguinte, passando para ele o impulso nervoso que vai caminhar ao longo do axônio até atingir o seu final e novamente o mesmo fenômeno ocorre com o próximo neurônio e assim sucessivamente - Esta substância química que é liberada recebe o nome de neurotransmissor e a região do neurônio seguinte que recebe o neurotransmissor e que com ele interage recebe o nome de receptor Não existe um único neurotransmissor, dependendo da região do cérebro e da função de cada neurônio, existem diferentes substâncias químicas ou neurotransmissores Toda vez que um neurotransmissor é utilizado (liberado por um impulso nervoso): O neurônio fabrica novas moléculas neurotransmissoras para substituir as que foram utilizadas (armazenamento nas vesículas sinápticas) Recupera parte do neurotransmissor que havia sido liberado, rearmazenando-o para futura utilização (receptação) c) O neurotransmissor é eliminado depois que cumpre sua função para que o sistema possa funcionar novamente As drogas psicotrópicas agem diretamente sobre o processo de transmissão da mensagem (impulso nervoso), suas ações se relacionam com os neurotransmissores: Podem aumentar ou diminuir a produção e/ou liberação de neurotransmissores Podem destruir as enzimas responsáveis pela inativação dos neurotransmissores Podem interferir na receptação dos neurotransmissores Podem dificultar o encaixe dos neurotransmissores nos receptores, ou mesmo preenche-los As drogas uma vez ingeridas, interagem com os neurotransmissores (interferindo na síntese, destruição e liberação no receptor), estimulando certas áreas cerebrais, inibindo outras, alterando a interação dos bilhões de neurônios cerebrais As drogas aumentam a liberação do neurotransmissor dopamina gerando sensação de prazer 3- Efeitos das drogas 3.1- Dependência Quando ocorre perda do controle sobre a quantidade do consumo e existem prejuízos decorrentes do uso da droga 3.2- Abuso É o uso com prejuízo, mas sem perda do controle Ex: pessoa sem hábito de beber, mas quando bebe bate com o carro, tem reações violentas, etc. Obs: quem define o prejuízo não é o paciente, é o terapeuta considerando o contexto social e cultural As políticas públicas devem considerar também os usuários abusivos e não dependentes 3.3- Tolerância É a necessidade de aumentar a dose para alcançar o mesmo efeito de antes 3.4-Abstinência São sintomas e sinais que aparecem com a interrupção do uso da droga 3.5- Neuroadaptação O uso frequente da droga, altera os receptores dos neurotransmissores cerebrais; as alterações ocorrem para compensar os efeitos da droga Aumenta o número de receptores para determinada substância → diminui a sensibilidade → aumenta a tolerância A neuroadaptação está envolvida no desenvolvimento dos quadros de tolerância e de abstinência 3.6- Comorbidade Significa coexistência de duas doenças Pode ser: Patogênica: quando determinada doença leva a outras doenças com as quais está etiologicamente relacionada Ex: instalação da agorafobia secundária ao transtorno de pânico b) Diagnóstica: as manifestações da doença associada simulam as da doença índex Ex: dificuldade de concentração → depressão c) Prognóstica: quando há doenças que predispõe o paciente a desenvolver outras doenças Ex: risco maior de alcoolismo em pacientes com transtorno de pânico e depressão 4- Classificação das drogas Depressoras Atuam diminuindo a atividade do SNC Álcool Barbitúricos(hipnóticos) Benzodiazepínicos (ansiolíticos) Opiáceos (narcóticos) Inalantes (solventes) Intoxicação por álcool, benzodiazepínicos e barbitúricos Fala confusa; incoordenação motora; marcha instável; rubor facial; desinibição dos impulsos agressivos ou sexuais; instabilidade do humor; prejuízo do julgamento, da atenção e da memória; sonolência Em altas doses: depressão respiratória, arritimia cardíaca, convulsões, coma e morte Abstinência por álcool, benzodiazepínicos e barbitúricos ansiedade; depressão; irritabilidade; cefaleia; insônia; náuseas; vômitos; mal estar; fraqueza; sudorese; tremores; taquicardia; aumento da pressão arterial; convulsões; delirium e coma Alucinações (visuais, táteis e auditivas) A abstinência ao álcool varia desde as formas mais leves (tremores nas mãos, inquietação, insônia, irritabilidade) até o delirium tremens que pode levar à morte No delirium tremens o usuário perde sua orientação no tempo e no espaço, os tremores se generalizam para todo o corpo, tem delírios, alucinações e convulsões A síndrome de abstinência alcoólica pode durar de 1 semana a 2 meses (maioria entre 10 e 12 dias). Em idosos tem curso mais prolongado com maior risco de complicações e mortalidade Intoxicação por opiáceos A intoxicação por opiáceos tem os mesmos sintomas da intoxicação por álcool, benzodiazepínicos e barbitúricos, mas apresenta também constrição das pupilas e constipação intestinal Abstinência por opiáceos Tem o mesmo caráter de gravidade que a do álcool, porém, o tempo necessário para que ela se manifeste é menor. Com pouco tempo de uso (algumas semanas de uso continuado) a parada brusca da droga pode levar à síndrome de abstinência Sintomas da abstinência: Graves distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos, cólicas intensas, diarreia) que podem levar à desidratação e perda de peso; dores musculares; dor nos ossos; piloereção; bocejos; cãibras abdominais A abstinência provoca muitas dores, sendo necessário utilização de medicação sintomática Intoxicação por inalantes Tem os mesmos sintomas da intoxicação por álcool, barbitúricos e benzodiazepínicos, mas apresenta também: Vertigem; tonteiras; percepções errôneas; zumbido nos ouvidos; irritação ocular; irritação das mucosas do nariz e da boca A longo prazo ataca o fígado, coração, rins, medula óssea, SNC e SNP Abstinência por inalantes Tem sintomas desconhecidos Na intoxicação por drogas depressoras do SNC utiliza-se antagonistas para evitar parada respiratória O álcool não tem antagonista, então utiliza-se medicação sintomática Na abstinência por drogas depressoras do SNC utiliza-se agonistas Álcool 90% do álcool é metabolizado no fígado, transformando-se em acetaldeído ou aldeído acético devido à ação da enzima desidrogenase Muitos efeitos observados após a ingestão de bebidas alcóolicas são efeitos do acetaldeído que permanece no sangue por mais tempo do que o álcool O dissulfiram é um aversivo que inibe a enzima aldeído desidrogenase, responsável pela eliminação de acetaldeídoO consumo prejudicial de bebidas alcóolicas é aquele que mais danos produz à saúde e ao bem-estar, sendo o mais grave do ponto de vista da saúde pública O consumo do álcool provoca muitas doenças: hepatite, pancreatite, transtornos neurológicos, tuberculose, pelagra, anemia (por déficit de vitamina B12 e ácido fólico), câncer (fígado, mama e estômago), baixa de proteínas, alterações na formação do feto O marcador biológico da doença é a macrocitose (o alcoolista tem menor número de hemácias e elas são maiores) Encefalopatia de Wernicke: associada à deficiência de tiamina (vitamina B1) Transtornos automotores, ataxia cerebelar e confusão mental. No final ocorre paralisia completa do olhar. - Psicose de Korsakoff: déficit de memória principalmente para fatos recentes; desorientação no tempo; confabulação Síndrome de Wernicke-Korsakoff: associação entre a encefalopatia de Wernicke (quadro agudo) e a psicose de Korsakoff (quadro crônico) Os alcoolistas procuram tratamento por questões clínicas tardiamente Os custos decorrentes do consumo de álcool são de grande magnitude (transtornos clínicos e psiquiátricos) e agravos decorrentes de acidentes e violência Opiáceos O ópio é extraído da papoula, planta que é especialmente cultivada nos países asiáticos Várias substâncias orgânicas (alcaloides) são extraídas do ópio: morfina; heroína; dolantina; metadona; codeína (xarope) Pode ser fumado, injetado ou administrado oralmente São analgésicos potentes, inibem o reflexo da tosse e a diarreia As drogas opiáceas agem no cérebro, liberando substâncias chamadas endorfinas, responsáveis por todos os efeitos dos opiáceos As endorfinas são moduladores (substâncias que fazem com que os neurotransmissores atuem de maneira perfeita) de pelo menos três neurotransmissores: dopamina, noradrenalina e serotonina 1- Opiáceos naturais: morfina e codeína 1.1- Morfina É um dos mais potentes analgésicos e é o principal constituinte do ópio Só está disponível em soluções injetáveis Vias comumente utilizadas: oral e intravenosa (IV) Produz contrações (espasmos) nos músculos lisos de vários órgãos, levando-os a um estado de paralisia tônica (pupila dos olhos em contração: miose; prisão de ventre) A abstinência dura de 10 a 15 dias (sintomas) Medicação para abstinência (agonista: clonidina) Medicação para intoxicação (antagonista: naloxone) 1.2- Codeína Obtida do ópio Utilizada como antitussígeno, especialmente para tosses irritativas sem expectoração (tosse seca) Até novembro de 86 sua venda não era controlada 2- Opiáceos semi-sintéticos (resultantes de modificações parciais das substâncias naturais) Heroína Obtida a partir da morfina, sendo de 3 a 5 vezes mais potente que ela Foi sintetizada para ser utilizada como produto de substituição da morfina Atualmente não tem qualquer indicação médica Pode ser aspirada ou fumada, mas a via preferida pelos usuários é a IV Produz intensa sensação de prazer A síndrome de abstinência da heroína tem o mesmo caráter de gravidade que a do álcool, porém o tempo necessário para que ela se manifeste é muito menor A overdose de heroína provoca morte por depressão respiratória 3- Opiáceos sintéticos 3.1- Meperidina Ação semelhante à da morfina Empregada no combate à dores intensas Administrada por via oral ou injetada 3.2- Metadona Efeitos analgésicos semelhantes aos da morfina, sendo menos sedativa Utilizada no tratamento de dependentes de heroína (a tolerância desenvolve-se com menor intensidade do que à morfina) → efeito mais prolongado e menor Ansiolíticos (benzodiazepínicos) - Drogas empregadas no combate à ansiedade, induzindo o sono, reduzindo o estado de alerta Acentuam os efeitos depressores do álcool e de outros sedativos São utilizados como anti-convulsivantes Prejudicam o desempenho psicomotor Dificultam os mecanismos de memória Hipnóticos (barbitúricos: fenobarbital) Deprimem o SNC, induzindo ao sono Até a década de 60 eram empregados como sedativos, mas após o aparecimento dos benzodiazepínicos suas indicações se restringiram para uso anticonvulsivante, no tratamento de epilepsias Os benzodiazepínicos são mais utilizados como indutores de sono porque têm uma margem de segurança maior, pois a dose tóxica é muitas vezes maior do que a dose terapêutica São usados por via oral ou por injeção Inalantes ou Solventes São substâncias que dissolvem outras Cola de sapateiro; gasolina; acetona; lança perfume; vernizes; removedor de tinta; clorofórmio; éter O uso constante pode levar à degeneração dos nervos periféricos, que leva à paralisia dos músculos das pernas B) Drogas estimulantes Alteram o funcionamento do cérebro no sentido de deixá-lo mais ativado Aumentam o estado de alerta e a atenção e suprimem o sono e a fadiga Como efeito colateral o apetite é inibido Cocaína (crack); xantinas (cafeína, nicotina); anfetaminas (anorexígenos, ecstasy, rebite) Nos quadros de intoxicação instala-se a paranoia com predominância de delírios persecutórios A abstinência das drogas estimulantes provoca angústia, medo, depressão, pânico, ideias de perseguição 1- Anfetaminas São drogas sintéticas Interferem nos neurônios dopaminérgicos e nos noradrenérgicos liberando mais neurotransmissores dopamina e noradrenalina e, além disso, também inibem a captação desses neurotransmissores ao nível da sinapse Esses dois sistemas de neurônios ficam mais estimulados que o normal Utilizadas na segunda guerra mundial com o objetivo de resistir à fadiga do combate O Brasil é um dos maiores consumidores de anfetaminas do mundo (anorexígenos: para emagrecimento, utilizado através de “fórmulas” prescritas pelos médicos e feitas em farmácias de manipulação) Outra forma de utilização das anfetaminas é o rebite ou arrebite, muito usada por motoristas As anfetaminas são usadas também para tratamento do déficit de atenção (Ritalina) O ecstasy é um derivado da anfetamina e tem efeitos estimulantes e perturbadores do SNC e riscos pelo uso abusivo (morte por esgotamento, desidratação) 2- Cocaína Extraída da coca Pode ser usada sob forma de pó, aspirado pelo nariz, fumada como crack ou pasta base ou por via injetável Atua também como as anfetaminas, liberando e inibindo a recaptação tanto da dopamina como da noradrenalina Atua em outro neurotransmissor cerebral, a serotonina Tem o poder de anestesiar mucosas Atua por um período menor que as anfetaminas Nas intoxicações pode-se utilizar neurolépticos (anti- psicóticos) Na abstinência não há necessidade de agonistas mas, por conta da depressão utiliza-se anti - depressivos e estabilizador de humor A overdose por cocaína provoca convulsões, crises de hipertensão, hemorragia cerebral, ataque cardíaco C) Drogas perturbadoras (psicodélicas) São substâncias que nem aceleram nem diminuem a atividade do cérebro, mas a perturbam Podem ser obtidas de fontes naturais ou sintéticas Têm capacidade de provocar sintomas semelhantes aos observados na loucura porque atuam nas áreas do comportamento e da senso percepção Provocam a “viagem”: distorções qualitativas no funcionamento do cérebro, como delírios, alucinações e alterações na capacidade de discriminar medidas de tempo e espaço Alucinógenos LSD (ácido); mescalina; psilocibina 1- LSD É um derivado de uma substância encontrada em um fungo que cresce no centeio Produzem delírios, ilusões, alucinações que duram de 4 a 12 horas É um líquido claro e a forma mais comum de ser encontrado é em selos que são molhados e depois secos, bastando serem depois colocados na boca 2- Mescalina É um alucinógeno sintetizado a partir de um cacto (peiote), natural do México e outros países da América Central Utilizado em cerimônias religiosas 3- Psilocibina Presente em alguns cogumelos Os maiores riscos estão nas “viagens más” em que ocorre reação de pânico, perda de identidade e experiência de despersonalização que podem levar ao suicídio Cânhamo O ingrediente ativo do cânhamo é o THC, presente em alta concentração na resina produzida pelasfolhas da parte superior da planta e pelas flores Conforme o material usado para prepará-los, os derivados são: maconha: composta de folhas e flores Ganja: composta apenas de flores (é mais potente que a maconha) Haxixe: composta da resina obtida da planta (é a mais potente das preparações de cannabis) Usualmente as preparações são fumadas, mas podem ser ingeridas com alimentos ou bebidas Os efeitos duram de 2 a 3 horas A mais grave consequência do uso continuado da maconha e de seus similares é a síndrome de desmotivação Hoasca (vegetal) e Ayahuasca (daime) São os nomes dados ao chá alucinógeno utilizado pelas seitas União do Divino Vegetal (UDV) e Santo Daime (SD) Segundo os adeptos das seitas, promove a capacidade de ver, sentir ou viajar a outros mundos e ter contato com outros seres Beladona Usada na forma de chá (extraída de uma planta nativa da Europa) Efeitos: excitação inicial precedida de euforia e sonolência Pode provocar alucinações e delírios II- Panorama Nacional para álcool e outras drogas De acordo com a OMS, cerca de 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente substâncias psicoativas, independentemente de idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo O uso indevido de álcool e tabaco tem a maior prevalência global, trazendo também as mais graves consequências para a saúde pública mundial De acordo com o Ministério da Saúde, entre as drogas lícitas e ilícitas, o consumo prejudicial do álcool é o que mais danos produz à saúde e ao bem estar, sendo o mais grave do ponto de vista da saúde pública Existe uma tendência mundial que aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool, sendo que o uso também ocorre de forma cada vez mais pesada → altos índices de abandono escolar O uso de drogas, inclusive álcool e tabaco, tem relação direta e indireta com uma série de agravos à saúde dos adolescentes e jovens (acidentes de trânsito; agressões; depressões clínicas; distúrbios de conduta; risco no âmbito sexual) III- Modelos de tratamento Modelo médico Define a toxicomania como doença, a droga como vetor e o contexto sócio cultural como permissivo Modelo jurídico-moral - O uso de drogas ilícitas é considerado crime e o discurso sobre os perigos decorrentes do seu uso é usado para justificar as leis repressivas à sua utilização O contexto sócio cultural é permissivo e todos os indivíduos são vulneráveis ao uso de drogas Tanto no modelo médico quanto no modelo jurídico-moral enfatiza-se a importância do produto (droga), considerado como fator determinante na evolução do uso para a dependência e ressalta-se a não responsabilidade do sujeito pelos seus atos Modelo sócio cultural Enfatiza o contexto sócio cultural como responsável pelo mal, sendo assim, as mudanças devem ocorrer neste contexto Modelo psicossocial Não privilegia o produto nem o contexto social, uma vez que as substâncias psicoativas sempre fizeram parte da nossa sociedade Trata-se de fortalecer a capacidade de tomar decisões Política de Atenção Integral aos Usuários de álcool e outras drogas O Ministério da Saúde instituiu, em 2002, no âmbito do SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos usuários de álcool e outras drogas, a partir da necessidade de definir estratégias específicas de enfrentamento visando fortalecer a rede de assistência aos usuários de álcool e outras drogas Enfatiza a reabilitação e a reinserção social Desconstrução do senso comum de que todo usuário de drogas é um doente que requer internação, prisão ou absolvição O Ministério da Saúde propõe em 2002, a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS ad), dispositivo assistencial abrigando em seus projetos terapêuticos, práticas de cuidados que contemplem a flexibilidade e a abrangência possíveis e necessárias a esta atenção específica, dentro de uma perspectiva estratégica de redução de danos sociais e à saúde - A atenção psicossocial a estes usuários deve se basear em uma rede de dispositivos comunitários, integrados ao meio cultural e articulados à rede assistencial em saúde mental e aos princípios da Reforma Psiquiátrica Os CAPS ad devem oferecer atendimento diário, nas modalidades intensiva, semi-intensiva e não-intensiva, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua A rede proposta se baseia em serviços comunitários, apoiados por leitos psiquiátricos em hospital geral e outras práticas de atenção comunitária de acordo com as necessidades da população-alvo A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a usuários de álcool e outras drogas estabelece a prevenção como um processo de planejamento, implantação e implementação de estratégias voltadas para a diminuição da vulnerabilidade/redução de fatores de risco específicos e fortalecimento dos fatores de proteção Redução de danos É um movimento internacional que surgiu em resposta à crescente crise da AIDS na década de 80 e, coloca-se como uma alternativa de Saúde Pública para os modelos moral/criminal e de doença do uso e da dependência de drogas Entende que os efeitos das drogas devem ser avaliados, principalmente em termos de serem prejudiciais ou favoráveis ao usuário e à sociedade como um todo, e não pelo comportamento considerado moralmente certo ou errado A redução de danos parte do princípio de que muitas pessoas usam drogas e apresentam outros comportamentos de risco e que não é possível manter visões idealistas de uma sociedade livre de drogas Reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita alternativas que reduzam os danos A lógica da redução de danos que permeia o trabalho realizado pelos CAPS ad, contempla um conjunto de medidas de saúde que buscam minimizar as consequências do uso e da dependência de substâncias psicoativas O uso dessas medidas permite a elaboração de projetos terapêuticos mais flexíveis e de menor exigência , consequentemente adequados às necessidades de cada usuário dos serviços O planejamento de ações preventivas deve buscar minimizar a influência de fatores de risco e o reforço de fatores de proteção, sendo fundamental perceber a importância da educação em saúde como estratégia fundamental para a prevenção Reconhece a fragilidade do ser humano que não é só individual, é coletiva e construída socialmente IV- Contextualização O consumo de drogas está presente na maioria das culturas, diferenciando-se quanto aos padrões de uso, funções e frequência O homem sempre utilizou substâncias psicoativas por diversos motivos: ∙Na antiguidade as drogas alucinógenas eram usadas com fins religiosos, facilitando a comunicação com os seres divinos ∙ Nas sociedades indígenas as substâncias psicoativas são usadas nos rituais - O consumo de drogas adquire as características próprias de cada época e de cada segmento social: pode agregar ou marginalizar; tem caráter religioso ou profano; de comunhão ou contestador; coletivo ou individual - Na análise do uso lícito ou ilícito das drogas psicoativas pelo homem, o contexto sócio cultural é um fator muito importante (ocorrem mudanças quanto à aceitação de algumas sociedades em relação ao uso de determinada droga) O consumo de drogas acarreta prejuízos sociais, dificuldades nas relações do indivíduo (na família, no trabalho, na escola) Os problemas nos relacionamentos resultam das mudanças nos comportamentos causadas pelo uso da droga e pelo grau de dependência A dependência não é apenas a ligação à substância, mas a perda de todas as outras ligações (emocionais, afetivas, intelectuais) Importante perceber a interação que os indivíduos assumem com as drogas, analisando os processos de degradação dos seus laços afetivos, de suas relações sociais e familiares Não é a dependência em si que devemos considerar, mas os danos físicos, mentais e sociais provocados pelo uso contínuo de drogas A escolha pela droga percorre uma trajetória onde existe um somatório de implicações pessoais e sociais anteriores ao consumoO consumo abusivo de drogas pode ser entendido como uma saída encontrada para a tristeza e para os sentimentos de perda que toda sociedade vive (segundo Freud seria um amortecedor de preocupações/Mal estar na civilização 1930) Quanto mais se recorre ao consumo de drogas por dificuldades de auto regulação, maior é o prejuízo de que o consumo se interiorize como parte indispensável da vida do indivíduo (Lorencini, 1988) O prazer da droga é um prazer excludente O que determinará a dependência ou não do sujeito em relação às drogas é o seu contato subjetivo com ela, dentro do seu percurso de vida estritamente pessoal (Olivestein, 1997) Começar a tomar drogas significa estar a procura de algo diferente, algo que seja competente o suficiente para preencher uma falta (Bucher, 1992) Para entender porque algumas pessoas usam drogas e outras não, ou porque umas usam e se tornam dependentes e outras não, é preciso “um olhar” mais detido sobre as diferenças mais profundas entre os indivíduos (Cruz, 2001) Referências BUCHER, Richard. Drogas e drogadição no Brasil. Porto alegre: Artes Médicas, 1992. CRUZ, Marcelo. Práticas médicas e modelos conceituais na abordagem das toxicomanias. In: Caderno de textos da XV jornada do Centro Mineiro de Toxicomania. Belo Horizonte: CMT/Secretaria de Estado de Saúde, 2001, p 59-71 FREUD, Sigmund. O mal estar na civilização (1930). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, Júlo1980 LORENCINI, Júnior, Álvaro. Enfoque estrutural das drogas : Aspectos biológicos, culturais e educacionais. In: Groppa, Júlio A. (org.). Drogas na escola – alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998, p.31-43 OLIVESTEIN, Claude. Toxicomania, exclusão e marginalidade. In: INEM, Clara Lúcia; Baptista, Marcos (org.). Toxicomanias, abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro, NEPAD/UERJ Sette Letras, 1997, p. 17-23
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