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4 TRABALHO DE PSICOLOGIA TIPOS DE GUARDAS E VARAS DE FAMÍLIA 1. Vara de família e suas atribuições Como falar em Vara de Família, sem explicar de imediato o mais importante, o que é Família? Família é um sistema no qual cada componente tem um papel, uma função, não existe o individuo isolado, qualquer um de nós, sempre pertence a algum tipo de família algum tipo de organização familiar, até os meninos de rua ou órfão pertencem a algum tipo de instituição que funciona para eles como família, e hoje temos vários tipos de organização familiar, desde a família tradicional, família divorciada ou as chamadas famílias uni parentais onde cada núcleo tem um pai ou apenas a mãe, que lidera este núcleo familiar e que depois cada um deste núcleo poderá se recasar ou não, chamadas de famílias recasadas. E há também famílias homo parentais, que é a adoção realizada por dois iguais que se amam não acarretando prejuízos ao adotando, ao contrário, ressalva-se que o que realmente faz mal as crianças e adolescentes é a falta de amor e de afeto. Assim, em decorrência do número de pesquisas realizadas que versam sobre o tema e em virtude dos resultados desses estudos, pode-se afirmar, com absoluta propriedade, que a adoção homo parental não afeta o desenvolvimento do adotando. Hoje não se pode apenas falar apenas em família tradicional, pois temos diversos tipos de família. Na Vara de Família tramitam processos decorrentes de situações ocorridas em razão de ter sido constituída uma família e a vara de família possui um foco diferenciado para tratar questões que não tem característica essencialmente econômica e envolve diversos sentimentos, as varas de família possuem atribuições para julgar casos referentes ao casamento e união estável, aos direitos relativos aos filhos, à obrigação alimentar dos pais para com os filhos e entre cônjuges ou companheiros, convívio dos pais com os filhos, divergências na educação dos filhos, logo, por analogia, também tratam de ações relativas a união homo afetivas, entre outros processos. 5 Hoje é comum que essas varas possuam equipes Inter profissionais compostas por psicólogos e assistentes sociais, os quais subsidiam a decisão judicial através dos respectivos estudos e laudos. Compete aos Juizes especializados em Varas de Família, processar e julgar as causas relativas ao casamento, divórcio e estado civil, bem como regime de bens e patrimônio dos cônjuges e as causas que tenham relações aos direitos e deveres entre os cônjuges. E da mesma forma é tratada ações de união estável entre pessoas de sexos diferentes ou iguais. Isso porque o STF, na sua recente decisão, reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, não cabendo fazer distinção e processar estes feitos em Vara Cível, o que seria totalmente discriminatório. Todas as pessoas podem ingressar com uma ação judicial em Vara de Família desde que tenha alguma ameaça ou lesão ao seu direito. Para isso precisam conhecer seus direitos. A primeira regra que deve ser conhecida é de que tanto o homem quanto a mulher são iguais em direitos e deveres. Essa regra geral está na Constituição Federal e também é aplicada no direito de família. Por isso, deve-se ter a certeza de que nenhum dos gêneros tem menos direito do que o outro. Isso significa que o pai ou a mãe, podem ter a guarda do filho, podendo haver pedido de pensão tanto pelo homem como pela mulher, que a mãe pode ter que pagar a pensão do filho não só o pai. Na pratica o que se verifica é que dificilmente a mãe é acionada para pagar a pensão do filho, que a guarda dos filhos raramente é concedida ao pai e que pensão alimentícia para ex-cônjuge normalmente é pedida pela mulher para o homem. Entretanto se os requisitos legais estiverem presentes, não pode haver distinção de gênero para concessão de direitos. Um dos problemas mais comuns é com relação à guarda dos filhos que na sua maioria é concedida para a mãe. Muitas vezes o próprio pai desconhece que pode pedir a guarda. Na vara de família não se resolvem problemas, resolvem-se pessoas. Por isso os conflitos de família surgem na vara de família. Quando se trata de separação há de se vivenciar algum tipo de conflito, e às vezes, não necessariamente a ausência de conflito significa que os pais se dão bem, isto às vezes vai aparecer nas disputas de guarda, nas disputas na hora da visitação, e neste momento o psicólogo vai ser acionado. 6 Pensando em conflito, que conflitos seriam estes, primeiro temos que pensar no processo de desrealização deste casamento, pois ninguém se casa para separar, as pessoas se casam por que têm um projeto juntas, porque querem ficar unidas, permanecer, montar uma família, e ao longo do processo muitas coisas vão acontecendo e evoluindo, onde as vezes não há outra possibilidade a não ser a separação. E no meio desta separação toda, sobram exatamente os filhos que são as partes mais afetadas na separação, porque uma criança não tem o aparelho psíquico adulto e amadurecido para poder dar conta de tanta pressão, de tantas brigas, muitas vezes, e os pais não se dão conta que existe uma criança naquele meio, por que muitas vezes os próprios pais ficam mexidos com toda esta historia. E por isto procuram o judiciário, certamente por que elas não tiveram outra possibilidade de lidar com estas situações fora do âmbito da justiça. Então se faz necessário a ajuda de terceiros para dar conta disto e ajudá-los a resolver estes conflitos. Estes conflitos tem uma carga de afetividade enorme, são pessoas que construíram coisas, construíram a família, estes conflitos podem mobilizar ou imobilizar o processo. O psicólogo está no judiciário por que sua experiência clinica vai ajudar justamente a entender estes sujeitos que estão ali sofrendo, passando por momentos difíceis, a captar algo ali, além disto quando estas pessoas começam a falar sobre seus conflitos elas tem uma chance de se ouvirem falando, então isto pode dar outro destino, elas podem tomar mais consciência daquilo que esta acontecendo (as vezes sim, as vezes não). Quando se esta em uma vara de família, e tem um analista ou um psicólogo ouvindo, isto é uma terapia? Não, isto não é, mas não se pode deixar de pensar que é alguma coisa do ponto de vista terapêutico, onde as pessoas encontram, de alguma forma, alguém que possa ouvir a sua dor, ouvir seu sofrimento, alguém que possa traduzir isto para o judiciário. O psicólogo passa muito tempo estudando sobre o desenvolvimento emocional, sobre todos os conflitos que podem ser vivenciados, então o mesmo vai estar, justamente podendo ter uma escuta diferenciada de outros profissionais. O assistente social trabalha dentro de um ponto de vista centrado no âmbito social, 7 ligando o ambiente a esta questão, já o psicólogo vai estar com o foco no sujeito, no sofrimento, tentando entender o que possa estar acontecendo com aquele sujeito. Dentro da vara de família, existe um grupo que faz um trabalho de reconciliação. Já não é o trabalho que um psicólogo faz na vara de família, seu objetivo não é buscar exatamente a conciliação, seu objetivo é apenas ouvir, entender e transformar aquela demanda em um laudo para que este possa orientar o juiz, espera-se que as pessoas possam justamente pensar sobre aquilo que elas estão falando e que possam dar um novo sentido a aquele sofrimento todo. É importante pensar que as questões que surgem na vara de família, estão praticamente sempre vinculadas a uma criança, e uma criança é alguém que ainda não tem condição de lidar com a sua própria dor, entãoas crianças transbordam, demonstrando os seus sintomas (medo, vícios, apego, desapego, revolta e entre outros), as crianças precisam da família que as acolha, este momento de separação é um momento difícil onde necessariamente vão precisar de todo apoio e de toda atenção, e então, viram objeto de disputa. Uma criança para viver bem e ter o seu desenvolvimento o melhor possível vai precisar sempre do pai e da mãe, e não existe nada que comprove que às vezes o pai é melhor, ou a mãe é melhor que o pai, cada um tem a sua função, cada um tem o seu trabalho com a criança, a criança vai precisar sempre dos dois, então é sempre muito melhor que a criança possa conviver neste processo de separação com a mãe e o pai servindo de alicerce, por isto tem toda uma questão de visitação, porém, diante de um processo de separação toda criança vai sofrer, então se deve pensar que todos que estão envolvidos estão sofrendo no mesmo nível, no entanto não há muito o que fazer neste sentido. O psicólogo tem que tentar entender o que esta acontecendo com este sentimento e tentar dar o melhor encaminhamento possível. 2. A atuação do psicólogo na vara de família A equipe de profissionais que atua na vara de família conta com a participação de um psicólogo, este atua na vara da família por determinação judicial. Essa atuação é uma interdisciplinaridade muito importante, pois visa o bem estar da 8 criança ou adolescente em meio ao fato. Sem a participação deste profissional, a ação do Juiz torna-se insuficiente para regular as relações existentes na família, visto a insuficiência do conhecimento que determinados casos exigem, nesses casos, o psicólogo atua como um norteador ético, para uma melhor tomada de decisão. O profissional da psicologia utiliza toda a sua técnica e seu conhecimento para subsidiar uma melhor fundamentação da decisão do magistrado, como por exemplo, em uma decisão de guarda, é feito uma entrevista individual, onde o psicólogo e a criança ficam a sós em uma sala e a criança expressa através do desenho, da dramatização, e da observação todo o sentimento dela, para o psicólogo concluir seu posicionamento e indicá-lo ao juiz, assim uma melhor decisão poderá ser tomada. Outro exemplo de atuação do psicólogo é o depoimento sem dano, onde o psicólogo com um ponto eletrônico fica junto à criança depoente em uma sala especial conectada por equipamento de vídeo e áudio à sala de audiência, em tempo real, onde o juiz definirá as perguntas a serem feitas à criança. O trabalho do psicólogo é fundamental também na realização de uma mediação familiar, de modo a solucionar de forma pacifica e consensual o conflito, fazendo os mediados refletirem sobre o papel de pai e mãe ou de casal, nas relações homo afetivas, de modo a não prejudicarem a criança em nenhum aspecto. 3. Atividades práticas do psicólogo na vara de família Se tratando das práticas que o psicólogo realiza cotidianamente em sua maioria são voltadas para o atendimento à família, que se dão na forma de: casais, pais, famílias, adolescentes e crianças. O trabalho é complexo e muito variável, mas a problemática é sempre voltada para os assuntos de família. No dia-a-dia muitas das ações são realizadas em parceria com outro profissional da equipe, sendo a assistente social mais frequentemente citada. É importante observar que os casos são encaminhados pelo poder judiciário, porém o trabalho dos psicólogos é organizado dentro de cada unidade de vara de família de acordo com as necessidades locais. 9 Quando um processo é iniciado, a primeira fase visa realizar uma investigação social nas residências das partes envolvidas no processo. A partir disso são agendadas as perícias, sendo que cada pessoa comparece em um período com o perito designado. No dia da perícia dos menores, os pais são chamados para que seja realizada uma observação conjunta de cada pai com as crianças. Após a perícia, que envolve testes psicológicos e a realização de entrevistas, os peritos têm um período de uma semana para finalizar o laudo que será encaminhado ao juiz responsável pelo processo. Dentre as principais atividades e atendimentos os psicólogos citam: 1. Trabalho com famílias; 2. Trabalho com casais; 3. Atendimento psicológico; 4. Perícia psicológica; 5. Visitas domiciliares; 6. Atuação específica com crianças e adolescentes em processos judiciais de guarda, tutela e adoção; 7. Estudo de casos e elaboração de laudos e pareceres psicológicos. 4. A guarda e suas definições O conceito de guarda tem sua origem etimológica no germânico wardem e no latim guardare, cujos significados estão voltados para proteger, conservar, vigiar e observar. Portanto, a guarda de filhos é um direito, e ao mesmo tempo um dever, de prestar assistência psicológica e material ao menor que se encontra sob poder familiar. O legislador buscou assegurar não apenas interesses materiais, mas também morais, emocionais, mentais e espirituais do menor, em que, na dissolução do matrimonio, o mesmo seria afetado de forma direta. Por este princípio, leva-se em consideração o interesse da criança mesmo que em detrimento do direito dos pais. Este princípio está embasado na Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 5. Tipos de guarda 10 Guarda comum É aquela em que os pais exercem em conjunto, na estrutura familiar, ou seja, a guarda é dividida de forma igualitária entre os pais na constância do casamento ou da união estável, com o intuito de atender ao interesse do menor. Sua origem não é judicial nem legal, mas natural, decorrente da paternidade e da maternidade, é a forma mais simples de guarda, pois está inserido no conjunto de hábitos sociais. Guarda Derivada Surge da lei e corresponde a quem exerça a tutela do menor (arts. 1729 a 1734), seja um particular, de forma dativa, legítima ou testamentária, seja por organismo oficial, cumprindo, assim, o Estado, a função social, conforme o art.30 do ECA. Guarda de Fato É chamado de guarda de fato o tipo de guarda em que uma pessoa traz para si a responsabilidade da educação e assistência de um menor, sem uma decisão judicial ou uma atribuição legal. não é necessário ser o pai ou a mãe do menor, mas de ter consigo o exercício do poder de educação e de assistência do mesmo. Esse tipo de guarda ocorre de modo informal, naturalmente, quando os avós, parentes e até terceiros, acabam por assumir a criação de um menor, sem se importar com a legabilidade da situação. Guarda Provisória É também chamada de temporária, surge da necessidade de atribuir a guarda a um dos genitores na pendência dos processos de separação ou do divórcio, modo primeiro de organizar a vida familiar. Trata-se de uma medida provisória, tornando- se definitiva, após serem examinados todos os critérios para atribuição da guarda a um dos genitores, ao que for considerado mais apto. 11 Guarda Definitiva Surge a partir da sentença, que homologa ou decreta a dissolução do vínculo conjugal, fornecendo assim a guarda certa estabilidade. A guarda definitiva possui seu grau de definição relativo, pois havendo a necessidade poderá ser modificada a qualquer tempo, desde que possua expressa fundamentação do magistrado, pois sua concessão não faz coisa julgada. Guarda por Terceiros Esse tipo de guarda apresenta características próprias, sendo que cada caso é uma situação diferente. Não se trata de eleger o genitor ideal, mas o magistrado somente deverá tomar a decisão de separar os filhos de seus paisem casos extremos, recorrendo à entrega da guarda e um estranho, parente ou não. O terceiro que deter a guarda é obrigado a prestar ao menor assistência moral, material e educacional. É conferido também ao guardião o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais, que, segundo o art. 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não ficam dispensados de seus deveres de assistência. Guarda Jurídica e Guarda Material O processo da formação dos filhos exige, em regras, a presença de ambos os genitores. Durante o casamento e até mesmo na união estável, o pátrio poder, atual, se concentra nas pessoas dos pais. Com a separação, nenhum dos dois perde o poder relativo aos filhos menores, o que ocorre é que a guarda dissocia-se. Como regra, a guarda tem sido atribuída a um dos genitores, restando ao outro o direito de visita. Assim, o pai que fica com a guarda do filho menor, não apenas a guarda material, mas também a guarda jurídica, tendo o direito de reger a pessoa dos filhos, decidindo todas as questões de interesse do menor, cabendo ao outro pai o direito de fiscalizar essas decisões tomadas pelo genitor que detém a guarda. Guarda Alternada 12 Entende-se por guarda alternada aquela em que a criança mora um período de tempo com o pai e outro período com a mãe alternadamente. Este período poderá ser anual, mensal, semestral ou até diário, ou seja, aquele que as partes acordarem. Nesta modalidade, o genitor que estiver com a posse do menor, no tempo preestabelecido, irá exercer, de forma exclusiva, os direito e deveres referentes ao menor. A vantagem encontrada nesta modalidade de guarda é a possibilidade dos genitores passarem o maior tempo possível com seus filhos, e estes de manterem uma maior convivência com ambos os pais, mesmo que por períodos alternados. Aninhamento ou Nidação Nesta modalidade os pais se revezam, mudando-se para a casa onde moram os menores, alternando os períodos de tempo. Este acordo não costuma perdurar, em razão do alto custo para a manutenção, pois exige três residências, uma para a mãe, uma para o pai e uma para o filho, onde este acolhe os pais de tempos em tempos, alternadamente. É uma situação muito pouco aplicada na prática, em virtude da falta de praticidade, como também pode provocar instabilidade no desenvolvimento do menor. Guarda Compartilhada Significa que ambos os pais possuem os mesmos direitos e as mesmas obrigações em relação aos filhos menores. Por outro lado, é um tipo de guarda no qual os filhos recebem dos tribunais o direito de terem ambos os pais, dividindo de forma mais equitativa possível, as responsabilidades de criarem e cuidarem dos filhos. A guarda compartilhada baseia-se no modelo em que o menor possui uma residência fixa, devendo ser compartilhados somente os direitos e deveres entre os pais. É o meio onde ambos os pais que assim desejam, possam continuar exercendo seus papeis em relação aos seus filhos, em que pese à ruptura da separação do casal. 13 Um dos conceitos que precisa ser rapidamente ser entendido é o de que ambos os pais devem continuar centralmente e igualmente envolvidos e responsáveis pelo cuidado com o interesse e bem estar de seus filhos mesmo e talvez especialmente, após a separação do casal.” A Guarda Compartilhada surgiu como solução à lacuna existente em relação ao interesse do menor, que ao ser guardado por somente um dos cônjuges, consequentemente, afastava-se do outro, pois este não conseguia exercer participação significativa em sua vida, devido ao pouco tempo de convívio. Viu-se necessário, então, o equilíbrio entre as relações familiares, para que a figura do pai e da mãe continuem presentes, apesar da ruptura do casal. 6. Alienação parental A partir do momento em que ocorre o divórcio ou separação de um casal todo um ambiente conturbado se impõe perante a vida de todos os envolvidos nessa situação e em geral quem mais sofre são as crianças, pois é nesse período de crescimento que as crianças fundamentam seus pensamentos, personalidade, moral e cultural baseados em seus pais. Mas em algumas situações a separação é o menor dos problemas, pois junto de toda essa nova situação apresenta-se a alienação parental que em suma baseia-se na utilização da criança como “ferramenta” para prejudicar um dos pais. Em 1985 o pesquisador e professor Richard Gardner descreveu uma síndrome, a qual chamou de Alienação Parental, em que o menor era manejado por um adulto para deixar de ter afeição por outro, ou seja, o genitor, em razão do fim do relacionamento, manipulava a criança para que ela deixasse de gostar do outro genitor. E, consequentemente, devido a sua frequência e seu grau de influência, a questão da alienação parental tornou-se assunto destacado, vindo a estacionar na questão do direito fundamental da criança, ou do adolescente, em ter uma convivência familiar saudável, razão da Lei nº 12.318. 14 As situações mais frequentes de alienação parental estão ligadas ao momento em que há uma ruptura da vida conjugal e que gera em um dos pais um sentimento de vingança. Quando este não consegue assimilar a separação, começa um processo de vingança, desmoralização, descrédito do ex-companheiro. Nesse processo, a criança é utilizada como instrumento da raiva direcionada ao ex- cônjuge. Somente no ano de 2010 a alienação parental foi introduzida no direito brasileiro, e chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) como tema de processos. A alienação parental é conceituada na Lei 12.318/10 como “a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. O dispositivo prevê punições aos praticantes da alienação parental e entre outras exemplificações o dispositivo também caracteriza o que é a alienação parental. Nas situações identificadas como alienação parental, um dos pais busca a exclusão do outro da vida dos filhos, deixando de incluí-lo nas decisões mais significativas sobre a vida da criança. O alienante também interfere nas visitas que o alienado tem com as crianças, controlando os horários e o impedindo de exceder seu tempo com os filhos. Além disso, a criança é envolvida no conflito que ocorre entre os pais, denegrindo a imagem do outro genitor e, às vezes, até fazendo falsas acusações. Com mais frequência do que se supõe, diversas barreiras são impostas pelo genitor portador da guarda com relação às visitas. No centro desse conflito, o filho passa a ter sentimentos negativos em relação ao pai ou mãe, além de guardar experiências e memórias exageradas ou irreais. As crianças ficam sujeitas a sofrer de ansiedade, depressão, baixa autoestima e problemas de relacionamento no futuro. É de suma importância notar que a educação de uma criança através da alienação parental é uma forma de abuso emocional, porque pode consideravelmente conduzir ao enfraquecimento contínuo da ligação psicológica entre o filho e o pai ou mãe alienado. Em muitas situações pode inclusive conduzir à destruição total dessa ligação, com alienação por toda a vida. 15 Então se tem que os principais prejudicados não são o genitor alienado, e sim da criança. Os sintomas mais comuns em crianças alienadas são: medo, falta de organização, ansiedade, insegurança, isolamento, depressão, comportamento agressivo, dificuldade na escola, dupla personalidade. E como reflexodo tratamento alienante que a criança sofre todas as outras pessoas que estão inseridas em seu convívio também sofrem como: professores, amigos e familiares. 7. Danos causados à criança vítima de alienação parental De acordo com Pinho em seu trabalho sobre alienação parental há uma série de danos que a criança sofre em decorrência desse abuso psicológico e emocional, esses danos foram catalogados pela IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família. 1) Isolamento-retirada: A criança se isola do que a rodeia, e centra-se nela mesma, não fala com quase ninguém e se o faz, é de forma muito concisa, preferindo estar sozinha no seu quarto, em vez de brincar com outras crianças, mormente se filho único, perdendo o único outro referencial e passando a viver somente com o pai ou com a mãe, sentindo-se literalmente sozinha e abandonada, abandono e vazio a que nos referimos que não pode ser suprido por qualquer figura senão a do próprio pai. 2) Baixo rendimento escolar: Por vezes associado a uma fobia à escola e à ansiedade da separação - a criança não quer ir à escola, não presta atenção nas aulas, mas também não incomoda os seus companheiros, não faz os deveres com atenção, apenas quer sair de casa, a apatia que mostra relativamente às tarefas que não são do seu agrado alarga-se a outras áreas.... e isto é detectado a posteriori, não de imediato, mormente quando na fase das visitações. 3)Depressão, melancolia e angústia: Em diferentes graus, mas em 100% dos casos ocorre e infelizmente é recorrente. 4)Fugas e rebeldia: Produzem-se para ir procurar o membro do casal não presente, por vezes para que se compadeça do seu estado de desamparo e regresse ao lar ou pensando que será mais feliz ao lado do outro progenitor. 5)Regressões: Comporta-se com uma idade mental inferior à sua, chama a atenção, perde limites geralmente impostos pela figura paterna, perde o ‘referencial’, e mesmo pode regredir como ‘defesa psicológica’ em que a criança trata de ‘retornar’ a uma época em que não existia o conflito atual, e que recorda como feliz. 6)Negação e conduta anti-social: ocorrem em simultâneo - por um lado a criança, (e mesmo as mães quando em processo de separação ou recém separadas, o que pode levar até mais de 5 anos para ‘superar em parte’) nega o que está a ocorrer (nega que os seus pais se tenham separado apesar da situação lhe ter sido explicada em diversas ocasiões e finge compreender e assimilar e mesmo negar e ignorar mas internaliza), e, por outro lado sente consciente ou inconscientemente que os seus pais lhe causaram dano, o que lhe dá o direito de o fazer também, provocando uma conduta anti-social. 7)Culpa: Por mais de 75% das vezes, a criança se sente culpada, hoje ou amanhã, em regra mais tarde, pela situação, e pensa que esta ocorre por sua causa, pelo seu mau comportamento, pelo seu baixo rendimento 16 escolar, algo cometido, e pode chegar mesmo a auto castigar-se como forma de autodirigir a hostilidade que sente contra os seus pais, inconscientemente. 8)Aproveitamento da situação-enfrentamento com os pais: Por vezes, a criança trata de se beneficiar da situação, apresentando-a como desculpa para conseguir os seus objetivos ou para fugir às suas responsabilidades ou fracassos. Por vezes, chega mesmo a inventar falsas acusações para que os pais falem entre si, apesar de saber que o único resultado destas falsas acusações será piorar o enfrentamento entre os seus genitores. E se o ‘exemplo’ vem de casa, o que dizer de uma mãe que nem sequer tenta dialogar e tentar conciliar em prol do filho... 09)Indiferença: A criança não protesta, não se queixa da situação, age como se não fosse nada com ela, sendo esta outra forma de negação da situação.(PINHO, 2009) 8. Conclusão A alienação parental se mostra pouco difundida teoricamente em meio a população, mas sua utilização, e, consequentemente sua devastação, já sobrevoa as relações familiares há muito tempo. A partir do momento que temos conhecimento das características e também da amplitude dos casos podemos identificar que a pessoa que mora na casa ao lado da minha é um alienador. E ainda na esteira dos reflexos causados pela alienação começamos a entender o comportamento de crianças que estão em nosso convívio, ou seja, nós podemos estar em contato com algum caso de alienação parental e não tínhamos ciência disto. Sabe-se que esse abuso psicológico e emocional sobre a criança será o motivo e a base para diversos problemas, tanto no primeiro momento enquanto a criança ainda é vitima da alienação, como também no futuro em várias situações da sua vida adulta. Um grande passo para a redução dos casos de alienação parental está na criação da lei que regulamenta, reconhece e pune os casos de alienação. Mas acima de tudo o passo mais importante esta na conscientização dos genitores em relação ao que acontece na vida familiar, os pais que encontram problemas pessoais de relacionamento devem resolvê-los de forma unitária e responsável, não se deve envolver uma criança em conflitos adultos e que ainda por cima não tenham fundamento lógico e racional. O filho deve ser um elo de ligação que representa a fraternidade e amor que duas pessoas tiveram em algum momento da vida, o filho é a perpetuação de duas vidas que estiveram juntas e nunca deve ser usado como ferramenta de destruição, e essa destruição começa primeiro com a criança e se espalha para todos em sua volta. 17 Referências bibliográficas BARROS, G. S. Análise poliédrica da alienação parental e da síndrome de alienação parental. Disponível em: < http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12243>. Acesso em: 06/05/2013 BASTOS, R. Conflitos em Vara de Família & Perícia Psicológica. Disponível em: <http://www.psicologica.tv/doispontos/conflito-vara-familia-pericia-psicologica-renata-barros>. Acesso em: 06/05/2013 BHONA, F. M. de C.; LOURENÇO, L. M. Síndrome de Alienação Parental (SAP): uma discussão crítica do ponto de vista da Psicologia. Rev. Virtú, n. 10, 2010, ICH - UFJF. ISSN - 1808-9011. Disponível em:< http://www.ufjf.br/virtu/files/2011/09/S%C3%8DNDROME-DE- ALIENA%C3%87%C3%83O-PARENTAL-SAP-UMA-BREVE-REVIS%C3%83O.pdf>. Acesso em: 09/05/2013 BRITO, Leila Maria Torraca de; SOUSA, Analícia Martins de. Síndrome de alienação parental: da teoria norte-americana à nova lei brasileira. Revista Psicologia: ciência e profissão, vol. 32, n. 2, 2011, p. 268-283. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141498932011000200006&lng=en&nrm=iso >. Acesso em: 11/05/2013 BRUM, A. N. A família homoparental e o registro civil de nascimento. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. Disponível em: < http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10019&revista_cadern o=14 >. Acesso em: 07/05/2013 BUONO, S. Alienação parental da síndrome ao fênome jurídico. Instituto de Ciências Jurídicas – UVA. Monografia. 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