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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Ciências Econômicas Introdução à Economia II 1º. semestre 2014 Nota de aula 11 – Oferta agregada Honorio Kume A curva de oferta agregada indica a quantidade de bens e serviços, medida pelo desvio ou hiato do produto, que as empresas produzem e vendem a uma dada taxa de inflação. Há duas curvas de oferta agregada, segundo o período de tempo em questão. No longo prazo, a curva de oferta agregada é vertical. No curto prazo, a curva de oferta agregada é inclinada positivamente. 1. Curva de oferta agregada de longo prazo (OALP) A curva de oferta agregada é vertical no longo prazo, isto é, para qualquer nível de inflação a quantidade ofertada será igual ao produto potencial, conforme mostrado no gráfico 4, Gráfico 4 – Curva de OALP O que determina o PIB real no longo prazo? O PIB real no longo prazo depende do PIB potencial. S PIB real OALP Y = YP S1 S2 S0 2 Então, o que determina o PIB potencial no longo prazo? Quando estudamos crescimento econômico, vimos que o PIB potencial depende das quantidades de trabalho, de capital e dos recursos naturais e da tecnologia disponível usada para transformar os fatores de produção em bens e serviços. A disponibilidade de trabalho, de capital, dos recursos naturais e da tecnologia em uma economia não depende da taxa de inflação. Por isso, a curva de OALP é vertical, com o produto efetivo igual ao produto potencial. Como vimos anteriormente, se analisamos a evolução dos PIBs efetivo e potencial ao longo de vários anos, o PIB efetivo flutua em torno do PIB potencial. Assim, quando se estuda as variações de ano para ano, é importante analisar a curva de OACP e para um período de vários anos, o relevante é a curva de OALP. 2. Deslocamentos da curva de OALP O PIB efetivo igual ao PIB potencial é denominado de produto de pleno emprego ou taxa de natural de produção. A taxa natural de produção ocorre quando o nível de desemprego é igual a taxa natural de desemprego. O que pode deslocar a curva de OALP? a) variação na quantidade de trabalho Por exemplo, um aumento da imigração de estrangeiros eleva o número de trabalhadores na economia e eleva a capacidade de produção do país. A maior disponibilidade de trabalhadores também pode ser provocada por uma redução da taxa natural de desemprego. Por exemplo, uma política de qualificação dos trabalhadores desempregados pode levar a absorção destas pessoas por parte das empresas reduzindo o desemprego estrutural. A maior disponibilidade de trabalho desloca a curva de OALP para a direita. 3 b) variação na quantidade de capital Um aumento no estoque de capital da economia, seja via investimento estrangeiro, seja via investimento doméstico, eleva a produtividade do trabalhador e aumenta a quantidade ofertada de bens e serviços. Note que a definição de capital aqui inclui o capital físico e o capital humano. Assim, uma maior qualificação dos trabalhadores aumenta o produto potencial. A maior disponibilidade de capital desloca a curva de OALP para a direita. c) alteração dos recursos naturais A capacidade produção de uma economia depende também dos recursos naturais, tais como a quantidade de terra agriculturável, minerais e clima. Por exemplo, a descoberta de novos poços de petróleo desloca a curva de OALP para a direita. d) estado da tecnologia O aumento do conhecimento tecnológico aumenta a produtividade dos fatores de produção, elevando o produto potencial. Por exemplo, a difusão dos recursos de informática na produção de bens e serviços desloca a curva de OALP para a direita. O deslocamento da curva de OALP para a direita e para a esquerda é ilustrada no gráfico 5. Gráfico 5 – Deslocamentos da curva de OALP S PIB real OALP1 YP1 YP2 YP0 OALP2 OALP0 4 3. Curva de oferta agregada de curto prazo (OACP) A curva de OACP mostra uma relação positiva entre o PIB real e a variação no nível de preços – inflação (S). O PIB real é medido pelo desvio do PIB real (Y) em relação ao PIB potencial (YP). A variação no nível geral de preços é medida pelas alterações anuais no deflator implícito do PIB ou nos preços ao consumidor. O gráfico 1 ilustra uma típica curva de OACP. Se a taxa de inflação é π1, o PIB real efetivo é igual ao PIB potencial, isto é, o desvio ou hiato do produto é zero. Gráfico 1 – Curva de OACP Por que a curva de OACP tem inclinação positiva? Para responder, vamos considerar três situações: S PIB real OACP 0 S1 5 n a) Y = YP desvio ou hiato do produto nulo Neste contexto, as empresas estão vendendo a produção realizada com sua capacidade normal. Assim, as firmas não têm incentivos para aumentar ou diminuir seus preços em relação aos preços de outros bens e serviços (mudar o preço relativo). No entanto, apesar das empresas estarem satisfeitas com suas vendas não implica que a inflação seja zero. Por que a inflação não seria 0%? Qual seria a taxa de inflação? Suponha que a inflação nos anos anteriores tem sido de 6% ao ano. Logo, as firmas tendem a esperar uma inflação de 6% ao ano, se não há previsões de mudanças na política econômica do governo e de ocorrência de choques, tais como efeitos climáticos que afetem a produção agrícola ou alterações bruscas no preço do petróleo e na taxa de câmbio. Diante desta expectativa de inflação, as empresas considerarão normal um aumento de preços de 6% do seu produto e dos seus insumos e os trabalhadores pleitearão um incremento nos salários Nota: alguns livros texto preferem apresentar a curva de OACP com nível de preços (P) no eixo vertical e o valor do PIB real em unidades monetárias (bilhões de dólares, bilhões de reais, etc.) no eixo horizontal. Note que a interpretação econômica é idêntica. Por exemplo, se o Y efetivo for maior do que o Y potencial, o desvio ou hiato do produto será positivo e o nível de preços será mais elevado de modo que ocorrerá inflação. OACP P Y (PIB real) P1 YP = 6 de 6% mais um ganho corresponde à elevação da produtividade. Se todos os preços de bens e serviços aumentam na mesma proporção, os preços relativos permanecerão constantes. Assim, a taxa de inflação será de 6% ao ano mesmo com desvio ou hiato do produto nulo. b) Y > YP desvio ou hiato do produto positivo ou expansionista Se há um hiato de produto expansionista, significa que as empresas estão produzindo e vendendo acima da sua capacidade de produção normal. Quando a demanda é excessiva – as vendas estão acima do esperado – as empresas tentarão elevar seus preços relativos. Para fazer isso, elas aumentarão seus preços mais do que o aumento nos custos de produção. Se todas as empresas adotarem este procedimento, o nível geral de preços aumentará mais rapidamente do que antes, gerando maior inflação. Portanto, na presença de um hiato expansionista, a tendência é de aumento na taxa de inflação. No entanto, fica uma pergunta: por que todas as empresas e os trabalhadores não aumentam os preços e os salários no mesmo percentual? Se isto ocorresse, o lucro de cada empresa permaneceria constante e não haveria estímulo para aumentar a produção. Há três explicações, todas se baseiam em imperfeições específicas de mercado. i) salários nominais rígidos Devido a contratos de trabalho (dissídios coletivos), os salários se ajustam lentamente.Em países com histórico de baixa inflação, os contratos têm duração de 2 a 3 anos. Em países que experimentaram inflações elevadas, como é o caso do Brasil, os contratos duram geralmente 1 ano. Portanto, ao aumentarem os preços sem que os salários se elevem simultaneamente, as empresas ganham lucros maiores, o que estimula a maior produção. ii) preços rígidos Neste argumento, algumas empresas demoram para reajustar os preços mesmo com demanda elevada. Há custos de reajustar o preço, tais como o custo de imprimir e distribuir nos catálogos de preços e a troca de etiquetas com novos preços. 7 Estas empresas conquistam novos consumidores e elevam a produção. iii) percepções equivocadas Em períodos curtos, as empresas confundem aumento no nível geral de preços com elevação no preço relativo. Quando o nível geral de preços se expande, os preços do seu produto e dos insumos e os salários aumentam aproximadamente na mesma proporção de modo que o lucro unitário permanece constante. Neste caso, não há incentivo para elevar a produção. No caso de um aumento no preço relativo, o seu produto tornou-se mais lucrativo gerando um estímulo a maior produção. Posteriormente, a empresa torna-se ciente que todos os preços aumentaram e a produção retorna ao nível anterior. c) Y < YP desvio ou hiato do produto negativo ou recessivo Se há um hiato de produto recessivo, as empresas estão conseguindo produzindo abaixo da sua capacidade de produção normal devido a fraca demanda. Nesta situação, há um incentivo para as firmas aumentarem seus preços menos do que o necessário para cobrir as elevações nos custos determinadas pela taxa de inflação vigente. Portanto, quando há um hiato recessivo, a tendência é de queda na inflação. As três explicações dadas no caso do hiato expansivo valem também para este caso. A análise feita anteriormente permite escrever a seguinte equação: S = SE + hiato do produto onde S representa a inflação vigente e SE indica a inflação esperada. De acordo com o hiato do produto, desenhamos três pontos da curva de OACP: Hiato do produto = 0 Y1 = YP S1 = SE Este caso é indicado pelo ponto A no gráfico 2. Hiato do produto > 0 Y2 > YP S2 > S1 8 Representado pelo ponto B. Hiato do produto < 0 Y3 < YP S3 < S1 Indicado pelo ponto C. Gráfico 2 – Derivação da curva de OACP 4. Deslocamentos da curva de OACP Vamos focar em dois tipos de fatores que deslocam a curva de OACP. a) mudanças na expectativa de inflação Suponha que os preços e os salários em certos setores comecem a aumentar mais rápido do que o esperado pelas empresas e pelos trabalhadores. Como resultado, a taxa de inflação vigente será maior do que a taxa de inflação esperada. Diante disso, a expectativa de inflação se elevará de S1 para S2, mais compatível com a nova realidade. Assim, a equação da taxa de inflação vigente passará de: S1 = S1 + hiato do produto S2 = S2 + hiato do produto Este efeito deslocará a curva de OACP para cima, conforme ilustrado no gráfico 3. S Hiato do produto OACP Y1 = YP S1 Y2 Y3 S2 S3 B A C 9 Gráfico 3 – Impacto de um aumento na expectativa de inflação sobre a curva de OACP b) choques inflacionários Choque inflacionário é uma mudança repentina na taxa de inflação não originária do hiato do produto. Exemplo 1: um grande aumento no preço do petróleo no mercado internacional que provoca uma elevação no preço dos derivados de petróleo, tais como gasolina, óleo diesel e nafta. Isto provoca um aumento em todos os bens e serviços que utilizam como insumo básico produtos derivados do petróleo. Exemplo 2: um evento climático adverso que afeta negativamente a produção de agrícola, aumentando os preços de alimentos. Exemplo 3: uma elevada desvalorização da taxa de câmbio que eleva os preços dos bens comercializáveis: importáveis e exportáveis. Um choque inflacionário provoca um deslocamento para cima da curva de OACP semelhante ao aumento na expectativa de inflação (gráfico 3). Por último, considerar que todos os fatores que deslocam a OALP também deslocam a OACP na mesma direção. Por exemplo, um aumento no estoque de capital na economia eleva a produtividade do trabalho e a curva de OACP se desloca para a esquerda. Isto significa que para um mesmo desvio ou hiato do produto, a taxa de inflação será menor. S Hiato do produto OACP1 Y1 = YP S1 S2 OACP2 10 Referências bibliográficas Frank, R. H. e Bernanke, B. S. Princípios de Macroeconomia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2012 (4ª. edição), cap. 25, p. 719-725. Mankiw, N. G. Princípios de Macroeconomia. São Paulo: Cengage Learning, 2013 (6ª. edição), cap. 20, p. 412-420.
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