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introdução ao direito i professores: Márcio GrandchaMp ROTEIRO DE CURSO 2010.1 5ª edição Sumário introdução ao direito i I - ApRESEnTAçãO ..........................................................................................................................................................................3 A. Introdução ................................................................................................................................. 3 B. Orientação para as primeiras aulas ............................................................................................. 3 C. Dificuldades Iniciais .................................................................................................................. 4 II – LEITURAS .................................................................................................................................................................................5 Módulo I: a) Habeas Corpus nº 82.424/RS ................................................................................... 5 Módulo II: a) Estupro .................................................................................................................. 30 Módulo II: b) Propriedade e Função Social .................................................................................. 33 Módulo II: c) Serviço Público ...................................................................................................... 46 QUESTõES SObRE AS LEITURAS ...................................................................................................................................................... 51 Item “A” - Estupro ....................................................................................................................... 51 Item “B” – Propriedade e Função Social ....................................................................................... 51 Item “C” – Serviço Público .......................................................................................................... 52 ApênDICE .................................................................................................................................................................................... 53 3FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I i - apresentação A. Introdução Neste curso estudaremos como as decisões judiciais são tomadas e justificadas no Brasil. Para tanto, nos serviremos primariamente da leitura e discussão de leis e de acórdãos do Supremo Tribunal Federal e outros tribunais superiores. Este volume contém uma seleção de leituras (v. Item . Outros textos serão disponibilizados, ao longo do curso, no Aluno Online. O curso é pautado por dois objetivos: (i) familiarizar o aluno com técnicas e conceitos dogmático-jurí- dicos, tal como empregados por tribunais brasileiros; e (ii) explorar pressupostos não-dogmáticos das decisões estudadas. Serão abordados, entre outros, os seguintes temas: formas de aplicação de normas a casos concretos; a relação entre decisões judiciais e escolhas de “moralidade pública;” indeterminação, divergência, e autoridade nas decisões judiciais; distinção entre direito público e privado; conceitos dogmáticos de eficácia, validade, vigência e vigor; hierarquia normativa e princípios de aplicação da lei no tempo; conceitos jurídicos básicos (direito subjetivo, dever, responsabilidade, sanção, etc). B. orIentAção pArA As prImeIrAs AulAs Para a primeira aula do curso, a leitura prévia é uma seleção de trechos de uma das mais famosas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), o HC 82.424/RS (ver a seleção de leituras nº 1). Você vai se deparar, nessa decisão, com vários termos técnicos e com formas de expressão com as quais não está familiarizado. Não se assuste. Sua preocupação não deve ser a de decorar definições desses termos ou passar a se expressar de forma rebuscada (o que, aliás, Você deveria sempre evitar, apesar da tentação). Sua preo- cupação deve ser a de procurar entender o que está em jogo, isto é, pensar e responder perguntas do tipo: o que aconteceu? O que está sendo decidido? Qual a decisão final? Que razões são utilizadas pelas diferentes pessoas envolvidas no caso para resolvê-lo? Qual sua opinião sobre a decisão final e sobre as diferentes justificativas apresentadas? Especialmente no início, portanto, descobrir o significado de termos que não conhece deve servir apenas na medida em que isso seja necessário para entender o que estiver lendo, não como algo a ser decorado. Nos quatro parágrafos abaixo, é feita uma descrição simples do contexto da decisão, esclarecendo alguns dos termos básicos que aparecem no texto. Você encontrará, também, como apêndice a este material, um “glossário infor- mal” de alguns dos termos técnicos mais freqüentes e básicos utilizados na decisão. Nessa decisão (chamada de “acórdão”, porque é uma decisão coletiva, em que os juízes que a tomam acor- dam, por unanimidade ou não, com seu conteúdo básico [obviamente, acordam no sentido de “concordar”, não “despertar”...]), leremos trechos dos votos de três ministros ( como são chamados os juízes do STF ), em uma ação de habeas corpus (HC). Habeas corpus, que literalmente significa “tome o corpo” em latim, é uma ação em que alguém (chamado de “impetrante” porque a apresenta ou impetra algo) solicita a um juiz ou tribunal que este proteja a liberdade de ir e vir de um indivíduo (chamado de “paciente”), em face de uma autoridade (cha- mada de “coatora”) que está (legalmente ou não, esta é uma das questões) ameaçando essa liberdade (e, portanto, também o “corpo” ou corpus do indivíduo a que se refere). Conforme a decisão, negando (ou, o que dá no mesmo, denegando ou indeferindo) ou aceitando (ou, em outras palavras, deferindo ou concedendo) a solicitação do impetrante, o juiz ou tribunal manda ou ordena (daí que o HC às vezes é chamado de “ordem” ou “mandamus”) que a liberdade do indivíduo seja garantida. 4FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I A transcrição do Acórdão começa com a indicação das partes no caso (o impetrante, a autoridade coatora e o paciente) e do ministro relator, incumbido de fazer um resumo dos fatos do caso e, então, de apresentar as justificativas de sua decisão e seu voto, para discussão e voto dos demais ministros (o STF é composto de 11 ministros e o Acórdão é decidido por maioria de votos). Nesse caso específico, excepcionalmente, estão indica- dos na transcrição do Acórdão dois ministros relatores, porque o ministro Moreira Alves, que era originalmente o relator, aposentou-se antes de concluído o processo e foi substituído, nessa condição, pelo ministro Maurício Corrêa. No trecho que selecionamos, Você lerá trechos dos votos do relator originário (Moreira Alves), do mi- nistro Maurício Corrêa (que foi o relator ao final) e do ministro Marco Aurélio. No início da transcrição do Acórdão é incluída ainda uma ementa, redigida pelo relator, que descreve de maneira bem resumida qual foi a decisão que, ao final, prevaleceu no Tribunal (às vezes chamado de “Corte”). C. dIfICuldAdes InICIAIs Alguns dos textos que estudaremos são difíceis. Seja paciente e perseverante em suas leituras. Lembre-se: a capacidade de entender de imediato o que está em jogo não é pressuposto deste curso; é, ao contrário, algo que buscaremos desenvolver, como resultado do curso. 5FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I ii – Leituras módulo I a) Habeas Corpus nº 82.424/rs [item a. “a decisão”] - Habeas Corpus nº 82.424/RS (ementa, relatório, voto do ministro Moreira Alves, trechos do voto do mi- nistro Mauricio Corrêa e trechos do voto do ministro Marco Aurélio – seleção anexa). 6FGV DIREITO RIO 7FGV DIREITO RIO 8FGV DIREITO RIO 9FGV DIREITO RIO 10FGV DIREITO RIO 11FGV DIREITO RIO 12FGV DIREITO RIO 13FGV DIREITO RIO14FGV DIREITO RIO 15FGV DIREITO RIO 16FGV DIREITO RIO 17FGV DIREITO RIO 18FGV DIREITO RIO 19FGV DIREITO RIO 20FGV DIREITO RIO 21FGV DIREITO RIO 22FGV DIREITO RIO 23FGV DIREITO RIO 24FGV DIREITO RIO 25FGV DIREITO RIO 26FGV DIREITO RIO 27FGV DIREITO RIO 28FGV DIREITO RIO 29FGV DIREITO RIO 30FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I módulo II a) estupro – Arts. 213 e 224 do Código Penal (anexos); – Jurisprudência (anexa) – Primeiro Grupo (casos 1 a 3) – Segundo Grupo (casos 1 a 3 e Casos Complementares [4 a 11]) Código penal: [estupro] “Art. 213 – Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 10 (dez) anos.” [presunção de violência] “Art. 224. Presume-se a violência, se a vítima: a) não é maior de 14 (catorze) anos; b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência”. primeiro Grupo de Jurisprudência (ementas): [caso 1.] Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Estupro Real. Pressupõe o sincero dissenso da mu- lher. Não existe, portanto, quando a relação sexual foi consentida. Palavra da ofendida. Se declara que depois de uma resistência inicial tirou ela mesma sua roupa e aceitou passivamente que o réu se deitasse por cima delas ainda juntos do mato, (...) Tais circunstâncias demonstram que não houve a caracterização do estupro” TJRS. Ap. Crime nº686044900. 2ª Cam. Crime. Rel. Ladislau Fernando Rohnelt. J. 13.11.1986. [caso 2.] Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro: “Estupro. Absolvição. Inexistência de prova continua de resistência da suposta ofendida. Consentimento tácito. Valor probatório do Inquérito Policial. O devido Proces- so Penal. Absolvição. 1. A conjunção carnal na configuração típica é a realização do coito praticado por pessoas de sexo oposto, não se exigindo que o ato seja completo, mas que a ´introductio penis intra vas´ ocorra contra a vontade da ofendida, mediante o emprego da violência real ou presumida; 2. Se foi a própria “ofendida”, antiga companheira do réu-apelante, que marcara o encontro ao lado do matagal, não oferecendo qualquer resistência (física ou psicológica), e ainda de forma indireta, colaborara no sentido a afugentar seu atual namorado para que fugisse do local e ludibriado convocara agentes da autoridade para “socorrê-la” e, após, em sede judicial não se mostrou jamais revoltada, retornando inclusive a conviver com o namorado enganado, nada aduzindo sobre o fato, demonstra o consentimento da ofendida em bem disponível que é causa de exclusão da ilicitude; 3. Contudo, a suposta vítima não foi constrangida, praticando o coito por sua livre vontade, razão pela qual inexiste violação de sua liberdade sobre seu corpo e seu prazer sexual. Trata-se, pois, de fato atípico pela ausência do elemento subjetivo do tipo. 4. Recurso provido” TJRJ. ACr 140/95. 2ª C.Crim. Rel. Des. Álvaro Mayrink da Costa. J. 29.08.1995. [caso 3.] Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Estupro. Prova de Violência. Para a caracterização da coação do ato sexual, não se deve exigir provas de uma violência física, pois integra o tipo a violência moral ou 31FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I ameaça. Além disso, não se pode impor à mulher que seja heróica, levando a resistência às últimas conseqüências, para a configuração do seu dissenso. Não consente a mulher que se entrega ao estuprador por exaustão de suas forças, nem a que sucumbe ao medo, evitando a prática de qualquer ato externo de resistência” (RJTJERGS). segundo Grupo de Jurisprudência (ementas): [caso 1.] “PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. VIOLÊNCIA FICTA. CONSENTI- MENTO. VÍTIMA. CARACTERIZAÇÃO. DELITO. 1. No estupro ficto (art. 224, “a”, do Código Penal), com exigência do dolo direto ou eventual sobre a idade da vítima, afastando - em conseqüência - a tese da responsabilidade objetiva, o consentimento da ofendida não descaracteriza a prática do delito. Precedentes. Re- curso especial conhecido e provido.”. Este julgamento corrigiu o decisum que havia sido prolatado pelo TJSC, 2ª Câmara Criminal, rel. Des. Jorge Mussi, nos seguintes termos: “CRIME CONTRA OS COSTUMES” – ESTUPRO – VIOLÊNCIA PRESUMIDA PELA IDADE DA VÍTIMA (PRATICAMENTE 13 ANOS) – OFENDIDA COM COMPLEIÇÃO FÍSICA DE MULHER, QUE ADMITE HAVER SE RELACIONA- DO SEXUALMENTE COM OUTROS DOIS HOMENS ANTES DOS FATOS E QUE, APESAR DE SUA IDADE, NÃO SE APRESENTA INGÊNUA OU INOCENTE, MAS SIM CONSCIENTE DE SEUS ATOS – NATUREZA RELATIVA DA FICÇÃO LEGAL RECONHECIDA – DÚVIDAS, ADEMAIS, QUANTO AO SINCERO DISSENSO OU À SUMISSÃO DA MENOR À VONTADE DO PADRASTO (TEMOR REVERENCIAL) – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO RÉU QUE SE IMPÕE – ABSOLVI- ÇÃO DECRETADA – RECURSO DEFENSIVO PROVIDO. Nos crimes de estupro, praticados contra me- nores de quatorze anos, a presunção de violência é absoluta somente se a vítima for recatada, inocente e ingênua no campo sexual, hipótese em que pode ser facilmente enganada e iludida pelo agente. Se, ao contrário, a menor possuir uma maturidade sexual acima da média da sua idade, tornando-a capaz de discernir acerca de sua con- duta e conseqüências desta, a presunção desta, a presunção do art. 224, alínea a, do CP, passa a ser relativa. Comprovado o desenvolvimento sexual da menor ofendida e havendo dúvidas quanto ao seu sincero dissenso ou à sua submissão à vontade do padrasto (temor reverencial), outra solução não resta senão absolver o acusado, com fundamento no art. 386, VI, do CPP” REsp nº 324.161, Sexta Turma, rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 4.2.2003. [caso 2.] “Estupro. Reconhecimento da Violência Presumida. Impossibilidade. Jovem madura com idade próxima ao limite legal. É induvidoso que, nos dias atuais, não se pode mais afirmar que uma jovem, na pré-adoles- cência, continue como na década de 40, a ser uma insciente das coisas do sexo. Na atualidade, o sexo deixou de ser um tema proibido, para se situar em posição de destaque na família, onde é discutido livremente por causa da AIDS, nas escolas, onde adquiriu o “status” de matéria curricular e nos meios de comunicação de massa, onde se tornou assunto corriqueiro. A quantidade de informações, de esclarecimentos, de ensinamentos sobre sexo flui rapidamente e sem fronteiras, dando as pessoas, inclusive as de menos de 14 anos de idade, uma visão teórica da vida sexual, possibilitando-a a rechaçar as propostas de agressões que nessa esfera se produzirem-se a uma consciência bem clara e nítida da disponibilidade do próprio corpo. Sob pena do conflito da lei com a realidade social, não se pode mais excluir completamente, nos crimes sexuais, a apuração do elemento volitivo da ofendida, de seu consentimento, sob o pretexto de que continua não podendo dispor livremente de seu corpo, por faltar-lhe capacidade fisiológica e psico- ética” TJRS. Apel. Criminal nº 698248671. 6ª C.Crim. Rel. Sylvio Baptista Neto. J. 15.10.1998. [caso 3.] “Sob pena de conflitarem lei e realidade social, não se pode mais afirmar que se exclui completamen- te, nos crimes sexuais, a apuração do elemento volitivo da pessoa ofendida, de seu consentimento sob o pretexto de continua não podendo dispor livremente do seu corpo, por faltar-lhe capacidade biológica e psico-ética. A pressão exercida pela realidade social tem sido de tal ordem que a presunção de violência decorrente das circunstâncias 32FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I da ofendida dispor de idade inferior de 14 anos se relativizou (...) Em decorrência do exposto, a tais situações de relativização da presunção deve ser acrescida uma outra, ou seja, exclui-se a presunção de violência quando a pessoa ofendida, embora com menos de 14 anos de idade, deixa claro e patente ter maturidade suficiente para exercer a sua capacidadede auto-determinar-se no terreno da sexualidade. Se dela partir a iniciativa ou a provocação do ato sexual, ou se ela adere prontamente ao convite de caráter sexual, que o agente lhe dirige, constitui um verdadeiro contra senso entender que sofreu uma violência”. TJSP. Ap. Crime nº 93117-3. Rel. Des. Márcio Bartoli. Casos Complementares: [caso 4.] ”Estupro. Menor de Quatorze Anos. Violência Relativa. O entendimento prevalecente, na juris- prudência e na doutrina, é no sentido de que a presunção de violência prevista no CP, Art. 224, “a” é relativa, cedendo diante da prova contrária” STJ. RESP. nº 161.284-RS. Rel. Min. Edson Vidigal. J. 21.03.2000. [caso 5.] ”Estupro. Violência Presumida. Absolvição. Consentimento. Se a vítima consentiu no ato sexual e tendo conhecimento do assunto, já que fora alertada pela mãe da possibilidade de engravidar e sobretudo por- que freqüentava barzinhos à noite com outras adolescentes, demonstrando que não era moça ingênua e recatada, deve prevalecer a sentença absolutória que afastou a ´inocentai consilii´, que é relativa” TJMS. Acr. nº 58.753-3. 2ª T. Rel. Des. Carlos Stephanini. J. 10.06.1998. [caso 6.] “Estupro. Menor de Quatorze Anos. Presunção de Violência. Consentimento. Consoante o entendimento pretoriano, na hipótese de crime de estupro cometido contra menor de 14 anos, nem mesmo o consentimento da vítima ou a sua anterior experiência elidem a presunção de violência” STJ. HC nº 9.056. 6ª Turma. Rel. Min. Fernando Gonçalves. J. 30.06.1999. [caso 7.] “(...) É incabível a alegação de que houve o consentimento por parte da vítima, eis que sendo esta menor de 14 (quatorze) anos, a violência é presumida”. TJDFT. Ap. Crime nº 1999085003969-4. 1ª Turma. Re. Des. Otávio Augusto. J. 24.02.2000.. [caso 8.] “Estupro. Presunção de Violência. Vítima menor de 14 anos de idade. Sequer elide a presunção de violência o alegado fato do consentimento da vítima quanto à relação sexual. A violência ficta, prevista no art. 224, letra “a”, do Código Penal, é absoluta e não relativa” STF. HC nº 72.575-9. 2ª Turma. Rel. Min. Néri da Silveira. J. 04.08.1995. [caso 9.] “Estupro Ficto. Menor de quatorze anos de idade não possui discernimento para, com vontade válida, entregar-se sexualmente ...” TJRS. Ap. Crime nº 694006651. 1ª C.Crim. Rel. Guilherme Oliveira de Souza Castro. J. 30.03.1994. [caso 10.] “Estupro. Se a ofendida é menor de 13 anos de idade não pode consentir e se consentir não e válido” TJRS. Ap. Crime nº 686049156. 1ª C.Crim. Rel. Paulo David Torres Barcellos. J. 09.09.1987. [caso 11.] “Estupro. Violência Presumida Confirmada. Vítima Menor de 14 anos de Idade. Falta de cons- ciência plena para validar com seu consentimento o ato que cometeu. Sentença recorrida amparada na provados autos. Recurso improvido a unanimidade” TJSE. ACr 008/94. Ac. 0406/94. C.Crim. Rel. Des. Rinaldo Costa e Silva. DJSE 26.05.1994. 33FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I módulo II b) propriedade e função social – Jurisprudência (anexa) – Primeiro Grupo (casos 1 a 4) – Nota Breve Sobre Processo Expropriatório – Segundo Grupo (casos 1 a 4) – Legislação: – Constituição Federal: Arts. 1º, 3º, 5º (inc. XXII, XXIII, LIV e LV), 170, 182, 183, 184, 185 186 – Código Civil de 1916 Arts. 75, 77, 78, 159, 524, 589, 620, 675 e 1518 (e correlatos no Código Civil de 2002) – Lei n. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 Arts. 2º, 5º, 6º 9º e 12 primeiro Grupo de Jurisprudência (ementas): [caso 1.] [inteiro teor do acórdão transcrito abaixo] APELAÇÃO CÍVEL N. 212.726-1-4 - SÃO PAULO EMENTA Ação reivindicatória. Lotes de terreno transformados em favela dotada de equipamentos urbanos. Função social da propriedade. Direito de indenização dos proprietários. Lotes de terreno urbanos tragados por uma favela deixam de existir e não podem ser recuperados, fazendo, assim, desaparecer o direito de reivindicá-los. O abandono dos lotes urbanos caracteriza uso anti-social da propriedade, afastado que se apresenta do princípio constitucional da função social da propriedade. Permanece, todavia, o direito dos proprietários de pleitear inde- nização contra quem de direito. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos... Acordam, em 8ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, dar provimento ao Recurso dos réus, prejudicado o Recurso Adesivo, de conformidade com o relatório e o voto do Relator, que ficam fazendo parte do acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores Osvaldo Caron (Presidente) e Walter Theodósio, com votos vencedores. São Paulo, 16 de dezembro de 1994 José Osório, Relator Ação reivindicatória referente a lotes de terreno ocupados por favela foi julgada procedente pela r. sentença de fls., cujo relatório é adotado, repelida a alegação de usucapião e condenados os réus na desocupação da área, sem direito a retenção por benfeitorias e devendo pagar indenização pela ocupação desde o ajuizamento da demanda. As verbas da sucumbência ficaram subordinadas à condição de beneficiários da assistência judiciária gratuita. 34FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Apelam os sucumbentes pretendendo caracterizar a existência do usucapião urbano, pois incontestavel- mente todos se encontram no local há mais de 5 (cinco) anos, e ocupam áreas inferiores a 200 (duzentos) metros quadrados, sendo que não têm outra propriedade imóvel. Subsidiariamente, pretendem o reconhecimento da boa-fé e consequentemente direito de retenção por benfeitorias e, alternativamente, ainda, o deslocamento do dies a quo de sua condenação da data da propositura da demanda para a data em que se efetivou a citação. Os autores contra-arrazoam, levantando preliminar de intempestividade do Recurso e, no mérito, pugnan- do pela manutenção da sentença; e interpõem Recurso Adesivo, pretendendo a execução imediata das verbas de sucumbência em que foram condenados os réus. O Recurso Adesivo também foi respondido. O Relator determinou diligência a respeito da publicação de sentença. É o relatório. O Recurso é tempestivo. Conforme se vê de cópia do DOU, de 30.11.1992, constaram da publicação da sentença apenas os nomes dos advogados dos autores. O Doutor Procurador da Assistência Judiciária, que defende os réus, tomou ciência da decisão somente em 20.1.1993. Apresentado o Recurso em 26.1, é ele tempestivo. A alegação da defesa de já haver ocorrido o usucapião social urbano, criado pelo artigo 183 da CF/88, não procede, porquanto, quando se instaurou a nova ordem constitucional, a ação estava proposta havia 3 (três) anos. Ainda assim, o Recurso dos réus tem provimento. Os autores são proprietários de 9 (nove) lotes de terreno no Loteamento..., subdistrito..., adquiridos em 1978 e 1979. O loteamento foi inscrito em 1955. A Ação Reivindicatória foi proposta em 1985. Segundo se vê do laudo e das fotografias de fls., os 9 (nove) lotes estão inseridos em uma grande favela, a ‘Favela..., perto do Shopping... Trata-se de favela consolidada, com ocupação iniciada há cerca de 20 (vinte) anos. Está dotada, pelo Poder Público, de pelo menos 3 (três) equipamentos urbanos: água, iluminação pública e luz domiciliar. As fotos de fls. mostram algumas obras de alvenarias, os postes de iluminação, um pobre ateliê de costureira, etc., tudo a revelar uma vida urbana estável, no seu desconforto. O objeto da Ação Reivindicatória é, como se sabe, uma coisa corpórea, existente e bem definida. Veja-se, por todos, Lacerda de Almeida: “Coisas corpóreas em sua individualidade, móveis ou imóveis, no todo ou em uma quota-parte, constituem o objeto mais freqüente do domínio, e é no caráter que apresentam de concretas que podem ser reivindicadas (...)” (Direito das coisas, Rio de Janeiro, 1908, p. 308). No caso dos autos, a coisa reivindicada não é concreta, nem mesmo existente. É uma ficção.Os lotes de terreno reivindicados e o próprio loteamento não passam, há muito tempo, de mera abstração jurídica. A realidade urbana é outra. A favela já tem vida própria, está, repita-se, dotada de equipamentos urba- nos. Lá vivem muitas centenas, ou milhares, de pessoas. Só nos locais onde existiam os 9 (nove) lotes reivindi- cados residem 30 (trinta) famílias. Lá existe uma outra realidade urbana, com vida própria, com os direitos civis sendo exercitados com naturalidade. O comércio está presente, serviços são prestados, barracos são vendidos, comprados, alugados, tudo a mostrar que o primitivo loteamento hoje só tem vida no papel. A diligente perita, em hercúleo trabalho, levou cerca de 4 (quatro) anos para conseguir localizar as duas ruas em que estiveram os lotes, Ruas... e... Segundo a perita: “A Planta Oficial do Município confronta com a inexistência da implantação da Rua... a qual foi indicada em tracejado”. 35FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Na verdade, o loteamento, no local, não chegou a ser efetivamente implantado e ocupado. Ele data de 1955. Onze anos depois, a planta aerofotogramétrica da... mostra que os 9 (nove) lotes estavam coberto por “vegetação arbustica”, a qual também obstruía a rua... Inexistia qualquer equipamento urbano. Mais de 6 (seis) anos e a planta seguinte (1973) indica a existência de muitas árvores, duas das quais no leito da rua. Seis barracos já estão presentes. Essa prova casa-se com o depoimento sereno do Padre M.B.: “Foi pároco no local até 1973, quando já havia o início da favela do... Ausentou-se do local até 1979. Quando lá retornou, encontrou a favela consolidada”. Por aí se vê que, quando da aquisição, em 1978/1979, os lotes já compunham favela. Loteamento e lotes urbanos são fatos e realidades urbanísticas. Só existem, efetivamente, dentro do con- texto urbanístico. Se são tragados por uma favela consolidada, por força de uma certa erosão social, deixam de existir como loteamento e como lotes. A realidade concreta prepondera sobre a “pseudo-realidade jurídico-cartorária”. Esta não pode subsistir, em razão da perda do objeto do direito de propriedade. Se um cataclismo, se uma erosão física, provocada pela natureza, pelo homem ou por ambos, faz perecer o imóvel, perde-se o direito de propriedade. É o que se vê no artigo 589 do Código Civil, com remissão aos artigos 77 e 78. Segundo o artigo 77, perece o direito perecendo o seu objeto. E nos termos do artigo 78, I e III, entende-se que pereceu o objeto do direito quando perde as qualidades essenciais, ou o valor econômico; e quando fica em lugar de onde não pode ser retirado. No caso dos autos, os lotes já não apresentam suas qualidades essenciais, pouco ou nada valem no comér- cio; e não podem ser recuperados, como adiante se verá. É verdade que a coisa, o terreno, ainda existe fisicamente. Para o direito, contudo, a existência física da coisa não é o fator decisivo, consoante se verifica dos men- cionados incisos I e III do artigo 78 do CC. O fundamental é que a coisa seja funcionalmente dirigida a uma finalidade viável, jurídica e economicamente. Pense-se no que ocorre com a denominada desapropriação indireta. Se o imóvel, rural ou urbano, foi ocupado ilicitamente pela Administração Pública, pode o particular defender-se logo com Ações Possessó- rias ou dominiais. Se tarda e ali é construída uma estrada, uma rua, um edifício público, o esbulhado não conseguirá reaver o terreno, o qual, entretanto, continua a ter existência física. Ao particular, só cabe Ação Indenizatória. Isto acontece porque o objeto do direito transmudou-se. Já não existe mais, jurídica, econômica e social- mente, aquele fragmento de terra do fundo rústico ou urbano. Existe uma outra coisa, ou seja, uma estrada ou uma rua, etc. Razões econômicas e sociais impedem a recuperação física do antigo imóvel. Por outras palavras, o jus reivindicandi (art. 524, parte final, do CC) foi suprimido pelas circunstâncias acima apontadas. Essa é a Doutrina e a Jurisprudência consagradas há meio século no Direito brasileiro. No caso dos autos, a retomada física é também inviável. O desalojamento forçado de 30 (trinta) famílias, cerca de 100 (cem) pessoas, todas inseridas na comuni- dade urbana muito maior da extensa favela, já consolidada, implica uma operação cirúrgica de natureza ético- social, sem anestesia, inteiramente incompatível com a vida e a natureza do Direito. É uma operação socialmente impossível. E o que é socialmente impossível é juridicamente impossível. Ensina L. Recaséns Siches, com apoio explícito em Miguel Reale, que o Direito, como obra humana que é, apresenta sempre três dimensões, a saber: 36FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I “A) Dimensión de hecho, la cual comprende los hechos humanos sociales en los que el Derecho se gesta y se produce; así como las conductas humanas reales en las quales el Derecho se cumple y lleva a cabo. B) Dimensión normativa (...). C) Dimensión de valor, estimativa, o axiológica, consistente en que sus normas, mediante las cuales se trata de satisfacer una série de necessidades humanas, esto intentan hacerlo con las exigencias de unos valores, de la justicia y de los demás valores que esta implica, entre los que figuran la autonomía de la persona, la seguridad, el bien común y otros. (...) pero debemos precatarnos de que las tres (dimensiones) se hallan reciprocamente unidas de un modo inescindible, vinculadas por triples nexos de esencial implicación mutua” (Introducción al estudio del derecho, México, 1970, p. 45). Por aí se vê que a dimensão simplesmente normativa do Direito é inseparável do conteúdo do ético-social do mesmo, deixando a certeza de que a solução que se revela impossível do ponto de vista social é igualmente impossível do ponto de vista jurídico. O atual direito positivo brasileiro não comporta o pretendido alcance do poder de reivindicar atribuído ao proprietário pelo artigo 524, do CC. A leitura de todos os textos do CC só pode se fazer à luz dos preceitos constitucionais vigentes. Não se con- cebe um direito de propriedade que tenha vida em confronto com a Constituição Federal, ou que se desenvolva paralelamente a ela. As regras legais, como se sabe, se arrumam de forma piramidal. Ao mesmo tempo em que manteve propriedade privada, a CF a submeteu ao princípio da função social (arts. 5º, XXII e XXIII; 170, II e III; 182, 2º; 184; etc.). Esse princípio não significa apenas uma limitação a mais ao direito de propriedade, como, por exemplo, as restrições administrativas, que atuam por força externa àquele direito, em decorrência do poder de polícia da Administração. O princípio da função social atua no conteúdo do direito. Entre os poderes inerentes ao domínio, previstos no artigo 524 do CC (usar, fruir, dispor e reivindicar), o princípio da função social introduz um outro interesse (social) que pode não coincidir com os interesses do proprietário. Veja-se, a esse propósito, José Afonso da Silva, Direito constitucional positivo, 5. ed., p. 249-250, com apoio em autores europeus. Assim, o referido princípio torna o direito de propriedade, de certa forma, conflitivo consigo próprio, ca- bendo ao Judiciário dar-lhe a necessária e serena eficácia nos litígios graves que lhe são submetidos. No caso dos autos, o direito de propriedade foi exercitado, pelos autores e por seus antecessores, de forma anti-social. O loteamento pelo menos no que diz respeito aos 9 (nove) lotes reivindicados e suas imediações – ficou praticamente abandonado por mais de 20 (vinte) anos; não foram implantados equipamentos urbanos; em 1973, havia árvores até nas ruas; quando da aquisição dos lotes, em 1978-1979, a favela já estava consolidada. Em cidade de franca expansão populacional, com problemas gravíssimos de habitação, não se pode prestigiar tal comportamento de proprietários. Ojus reivindicandi fica neutralizado pelo princípio constitucional da função social da propriedade. Perma- nece a eventual pretensão indenizatória em favor dos proprietários, contra quem de direito. Diante do exposto, é dado provimento ao Recurso dos réus para julgar improcedente a ação, invertidos os ônus da sucumbência, e prejudicado o Recurso dos autores. (FIM DO ACÓRDÃO DO CASO 1) [caso 2.] (ementa). “Área ocupada há longo tempo - Favela: Nada obstante o respeito que a tese da destina- ção social da ocupação do imóvel urbano para fins residenciais, empolgante, por sem dúvida, possa merecer, sua aplicação é inaceitável em face do Direito vigente. Aplicá-la ao arrepio da lei importaria, em verdade, transposição para o campo do Direito Civil da figura do uti possidetis do Direito Internacional, via do qual se reconheceria ao 37FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I posseiro ou mero ocupante a garantia da posse por decorrência de suposta soberania oriunda exclusivamente do fato da ocupação. A questão, se é grave no aspecto social e está a merecer atenção e solução, em caráter urgente, pelo Poder competente, não pode ser decidida senão segundo os critérios que disciplinam a posse, seus efeitos e sua proteção.” RT 565/105. [caso 3.] “(...) 1. O caso em exame envolve grave problema social, o qual não compete ao Poder Judiciário resolvê-lo, por não se encontrar na esfera de suas atribuições e sim determinar o cumprimento da lei, inclusive de norma constitucional que assegura o direito de propriedade. (...)”TJ/PR, Pedido de Intervenção n° 0014086-9, Catanduvas, Ac. n° 2028, Órgão Especial unân., j. 01.07.94, DJPR, 15.08.94, p. 28. [caso 4.] “Deferir-se em favor de quem não tem direito a posse de um imóvel somente porque se trata de uma vila popular, para obviar-se uma crise social e porque não é moralmente justo, é praticar-se o confisco através da jurisdição. E o confisco aberra à lei, ao direito e à justiça. Com a devida vênia, a pior das ditaduras é a ditadura do Judiciário. No momento em que o Judiciário se contrapõe ao ordenamento jurídico, para realizar a reforma social de que este país está necessitando, subverte a ordem jurídica que lhe cumpre defender e extrapola os limites de sua função.” TA/RS, Emb. Infr n° 100287119, 1° Grupo Cível, j. 18.11.83, voto vencido. nota Breve sobre processo expropriatório (por livia fernandes) O segundo grupo de casos, abaixo, trata de processos de expropriação, para fins de reforma agrária. De ma- neira bem resumida, a desapropriação ou expropriação é a retirada, regulada em lei, de um bem de um particular para, ao destiná-lo ao poder público, atender a interesse da comunidade (por exemplo, assentando famílias). Atualmente, apenas imóveis rurais improdutivos de grande extensão ou pertencentes a proprietários de ou- tros imóveis rurais podem ser desapropriados. O processo expropriatório exige, entre outros requisitos, vistoria prévia comprobatória da ociosidade da propriedade (este requisito é discutido nos acórdãos indicados). A expro- priação do imóvel somente ocorrerá mediante uma indenização prévia, justa e em títulos da dívida agrária. Alguns dos principais requisitos legais de processos expropriatórios, mencionados nos casos, estão transcri- tos no item sobre “LEGISLAÇÃO” abaixo. segundo Grupo de Jurisprudência (ementas): [caso 1.] “CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. DECLARATÓRIA. LEI 8629/93. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. NULIDADE ATO ADMINISTRATIVO. ART. 5º, LV, CF/88. LEGITIMIDADE UNIÃO. - À UNIÃO, ATRAVÉS DO IN- CRA, É CONFERIDO CONSTITUCIONALMENTE O PODER DE DESAPROPRIAR POR INTERES- SE SOCIAL, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. O INCRA AGIU POR DELEGAÇÃO DA UNIÃO, PORTANTO, HÁ DE SE PRESUMIR SUA LEGITIMIDADE PASSIVA “AD CAUSAM”. O PARÁGRAFO 2º, DO ART. 2º, DA LEI 8629/93, DETERMINA A NOTIFICAÇÃO PRÉVIA AO PROPRIETÁRIO, A FIM DE ASSEGURAR A ESTE O DIREITO DE ACOMPANHAR OS PROCEDIMENTOS PRELIMI- NARES PARA O LEVANTAMENTO DOS DADOS FÍSICOS PARA QUE SE POSSA DESAPROPRIAR UM IMÓVEL. - A NOTIFICAÇÃO É PRÉVIA E NÃO PODE SER DURANTE OU DEPOIS DA VISTO- RIA. O CONHECIMENTO PRÉVIO QUE SE DÁ AO PROPRIETÁRIO É DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO, E SUA AUSÊNCIA OCASIONA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA GARANTIDOS NO ART. 5º, LV, DA CARTA MAGNA. - APELAÇÕES NÃO 38FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I CONHECIDAS. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. (TRF 5ª Região. AC 220016. – 1ª T. - Rel. Desembar- gadora Federal Margarida Cantarelli . DJ 06.07.01, p. 303). [caso 2.] MS 22613-7 PE (STF): EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA DE NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O §2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA: INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERI- DO. 1. A desapropriação por interesse social visando à reforma agrária não dispensa a notificação prévia a que se refere o parágrafo 2º, do artigo 2º, da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, de tal modo a assegurar aos seus proprietários o direito de acompanhar os procedimentos preliminares para o levantamento dos dados físicos ob- jeto da pretensão desapropriatória. 2. O conhecimento prévio que se abre ao proprietário consubstancia-se em direito fundamental do cidadão, caracterizando-se a sua ausência patente violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa (CF, artigo 5º, inciso LV). 3. Não se considera prévia a notificação entregue ao proprietário do imóvel no mesmo dia em que se realiza a vistoria. Mandado de Segurança deferido. [caso 3.] MS 22.319-7 (STF): EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA DE NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O §2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA: INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERI- DO. 1. A propriedade selecionada pelo órgão estatal para o fim de desapropriação por interesse social visando à reforma agrária não dispensa a notificação prévia a que se refere o parágrafo 2º, do artigo 2º, da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, de tal modo a assegurar aos seus proprietários o direito de acompanhar os procedimen- tos preliminares para o levantamento dos dados físicos objeto da pretensão desapropriatória. O conhecimento prévio que se abre ao proprietário consubstancia-se em direito fundamental do cidadão, caracterizando-se a sua ausência patente violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa (CF, artigo 5º, inciso LV). 2. Não se considera prévia a notificação entregue ao administrador do imóvel “quando da vistoria.” 3. Na falta da notifica- ção prévia como preliminar do processo, o edito de expropriação por interesse social para os efeitos de reforma agrária torna-se plenamente nulo. [caso 4.] MS 22193-3. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA DE NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O § 2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA: INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. TERRA PRODUTIVA. COMPROVAÇÃO MEDIANTE LAU- DO DO PRÓPRIO INCRA OFERECIDO EM PROCEDIMENTO EXPROPRIATÓRIO ANTERIOR E POSTERIORMENTE NÃO CONSUMADO. VERIFICADO QUE O IMÓVEL RURAL É PRODUTIVO TORNA-SE ELE INSUSCETÍVEL DE DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO PARA OS FINS DE REFORMA AGRÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. Resumo do caso: O STF concedeu mandado de segurança que considera nulo decreto expropriatório que determinava a desapropriação do latifúndio de Antônio Southal, em São Gabriel/ RS. Por oito votos a dois, o STF decidiu contra a desapropriação. A maioria dos votos entendeu que a vistoria do INCRA que precede o procedimento de desapropriação não foi precedido de notificação ao proprietário tornando nulo todo o processo de desapropriação, que culminou no decreto. A maioria dos juízes do STF entendeu que a discussão sobre a pro- dutividade das terras não era relevante para a decisão.Os alunos lerão: Ementa e Acórdão (2 páginas). Relatório e voto da Ministra Ellen Gracie (excetopágina 631-2 do processo, que tratam das preliminares) (22 páginas). Voto do Ministro Carlos Britto (contrário à desapropriação) (14 páginas). 39FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I leGIslAção Constituição federal TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta- mente, nos termos desta Constituição. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for- mas de discriminação. TÍTULO II Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Cons- tituição; (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o con- traditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (...) TÍTULO VII Da Ordem Econômica e Financeira CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; 40FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucio- nal nº 42, de 19.12.2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente- mente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. (...) CAPÍTULO II DA POLÍTICA URBANA Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme di- retrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de orde- nação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. CAPÍTULO III DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. 41FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I § 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cum- primento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo cri- térios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Código Civil de 1916 (lei nº 3.071, de 1º de Janeiro de 1916) - Vigência até 10 de janeiro de 2003 Art. 75. A todo o direito corresponde uma ação, que o assegura. (ver artigo 189, CC/2002) Art. 77. Perece o direito, perecendo o seu objeto. Art. 78. Entende-se que pereceu o objeto do direito: I - quando perde as qualidades essenciais, ou o valor econômico; II - quando se confunde com outro, de modo que se nãopossa distinguir; III - quando fica em lugar de onde não pode ser retirado. Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. (ver artigos 186 e 927, CC/2002) Art. 524. A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua. (ver artigo 1.228, caput, CC/2002) Art. 589. Além das causas de extinção consideradas neste Código, também se perde a propriedade imóvel: I - pela alienação; II - pela renúncia; III - pelo abandono; IV - pelo perecimento do imóvel. § 1º Nos dois primeiros casos deste artigo, os efeitos da perda do domínio serão subordinados a transcrição do título transmissivo, ou do ato renunciativo, no registro do lugar do imóvel. § 2º O imóvel abandonado arrecadar-se-á como bem vago e passará ao domínio do Estado, do Território ou do Distrito Federal se se achar nas respectivas circunscrições; (Redação da Lei nº 6.969, de 10.12.1981) a)10 (dez) anos depois, quando se tratar de imóvel localizado em zona urbana; 42FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I b) 3 (três) anos depois, quando se tratar de imóvel localizado em zona rural. (ver artigos 1.275 e 1.276, CC/2002) Art. 590. Também se perde a propriedade imóvel mediante desapropriação por necessidade ou utilidade pública. § 1o Consideram-se casos de necessidade pública: I - a defesa do território nacional; II - a segurança pública; III - os socorros públicos, nos casos de calamidade; IV - a salubridade pública. § 2o - Consideram-se casos de utilidade pública: I - a fundação de povoações e de estabelecimentos de assistência, educação ou instrução pública; II - a abertura, alargamento ou prolongamento de ruas, praças, canais, estradas de ferro e, em geral, de quaisquer vias públicas; III - a construção de obras, ou estabelecimentos destinados ao bem geral de uma localidade, sua decoração e higiene; IV - a exploração de minas Art. 620. O domínio das coisas não se transfere pelos contratos antes da tradição. Mas esta se subentende, quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório (art. 675). (ver artigo 1.267, CC/2002) Art. 675. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição (art. 620). (ver artigo 1.226, CC/2002) Art. 1.518. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se tiver mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação. (ver artigo 942, CC/2002) Artigos correspondentes no CódIGo CIVIl de 2002 (lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) - vigência a partir de 10 de janeiro de 2003 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vi- vos, só se adquirem com a tradição. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 43FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam ani- mados pela intenção de prejudicar outrem. § 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela hou- verem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto pos- sessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: I - por alienação; II - pela renúncia; III - por abandono; IV - por perecimento da coisa; V - por desapropriação. Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. § 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. § 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. leI n. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 (dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, título VII, da Constituição federal.) Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de desapropria- ção, nos termos desta lei, respeitados os dispositivos constitucionais. § 1º Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social. § 2º Para fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a ingressar no imóvel de propriedade particular, para levantamento de dados e informações, com prévia notificação (Vide Me- dida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01). § 3º Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita mediante edital, a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na capital do Estado de loca- lização do imóvel. (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01). Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável aoimóvel rural que não cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. (...) 44FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. § 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo ín- dice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. § 3º Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com produtos vegetais; II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental; IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições esta- belecidas pelo órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01) (...) § 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão compe- tente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie. Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. § 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei. § 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz res- peitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade. § 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. § 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrenda- mento e parceria rurais. § 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel. 45FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I § 6º (Vetado.) Art. 12. Considera-se justa a indenização que permita ao desapropriado a reposição, em seu patrimônio, do valor do bem que perdeu por interesse social. (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01) 1º A identificação do valor do bem a ser indenizado será feita, preferencialmente, com base nos seguintes referenciais técnicos e mercadológicos, entre outros usualmente empregados: I - valor das benfeitorias úteis e necessárias, descontada a depreciação conforme o estado de conservação; II - valor da terra nua, observados os seguintes aspectos: a) localização do imóvel; b) capacidade potencial da terra; c) dimensão do imóvel. 46FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I módulo II c) serviço público – Legislação: – Constituição Federal: Arts. 9, parágrafo 1º, Art. 175 parágrafo único – Código do Consumidor Arts. 3º, 22, 42 e 71 – Lei 8987/95 Art. 6º, par. 3º, inc. II e Art. 7º, “a” – Lei 9427/97 Art. 17 – Lei 7783/89 Art. 10 – Jurisprudência (casos 1 a 5, anexos) 47FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Constituição Brasileira: “Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. (...)” “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o ca- ráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.” lei 8.078/90 - Código do Consumidor – “dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências” “Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante re- muneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.” “Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequa- dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações re- feridas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.” “Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridí- culo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mo- netária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.” “Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nosartigos seguintes. (...) 48FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificada- mente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um ano e multa.” lei 8.987/95 – lei de Concessões – “dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição federal, e dá outras providências” “Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. § 2o A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua con- servação, bem como a melhoria e expansão do serviço. § 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.” “Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários: I - receber serviço adequado; (...)” lei 9.427/96 – lei de Instituição da Aneel (Agência nacional de energia elétrica) – “Institui a Agência nacio- nal de energia elétrica - Aneel, disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e dá outras providências” “Art. 17. A suspensão, por falta de pagamento, do fornecimento de energia elétrica a consumidor que pres- te serviço público ou essencial à população e cuja atividade sofra prejuízo será comunicada com antecedência de quinze dias ao Poder Público local ou ao Poder Executivo Estadual. Parágrafo único. O Poder Público que receber a comunicação adotará as providências administrativas para preservar a população dos efeitos da suspensão do fornecimento de energia, sem prejuízo das ações de responsa- bilização pela falta de pagamento que motivou a medida. lei 7.783/89 – “dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendi- mento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências” “Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; 49FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI – compensação bancária.” Jurisprudência (ementas): [caso 1.] STJ . RESP 337965 / MG ; RECURSO ESPECIAL. 2001/0098419-1 Data do Julgamento: 02/09/2003. DJ 20.10.2003 p.00244 (Relatório e Voto – Eliana Calmon e dois votos vista): ADMINISTRATI- VO - SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ÁGUA - PAGAMENTO À EMPRESA CONCESSIONÁRIA SOB A MODALIDADE DE TARIFA - CORTE POR FALTA DE PAGAMENTO: LEGALIDADE. 1. A re- lação jurídica, na hipótese de serviço público prestado por concessionária, tem natureza de Direito Privado, pois o pagamento é feito sob a modalidade de tarifa, que não se classifica como taxa. 2. Nas condições indicadas, o pagamento é contra prestação, e o serviço pode ser interrompido em caso de inadimplemento. 3. Interpretação autêntica que se faz do CDC, que admite a exceção do contrato não cumprido. 4. A política social referente ao fornecimento dos serviços essenciais faz-se por intermédio da política tarifária, contemplando eqüitativa e isonomicamente os menos favorecidos. 5. Recurso especial improvido. [caso 2.] STJ. RESP Nº 617.588 - SP (2003/0235399-9). (Relatório e Voto) ADMINISTRATIVO. CORTE DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR. LEGALIDADE .1. A 1ª Seção, no julgamento do RESP nº 363.943/MG, assentou o entendimento de que é lícito à conces- sionária interromper o fornecimento de energia elétrica, se, após aviso prévio, o consumidor de energia elétrica permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (Lei 8.987/95, art. 6º, § 3º, II). 2. Ademais, a 2ª Turma desta Corte, no julgamento do RESP nº 337.965/MG entendeu que o corte no fornecimento de água, em decorrência de mora, além de não malferir o Código do Consumidor, é permitido pela Lei nº 8.987/95. 2. Não obstante, ressalvo o entendimento de que o corte do fornecimento de serviços essenciais - água e energia elétrica - como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou multa, extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade humana, porquanto o cidadão se utiliza dos serviços públicos posto essenciais para a sua vida, curvo-me ao posicionamento majoritário da Seção. 3. Em primeiro lugar, en- tendo que, hoje, não se pode fazer uma aplicação da legislação infraconstitucional sem passar pelos princípios constitucionais, dentre os quais sobressai o da dignidade da pessoa humana, que é um dos fundamentos da República e um dos primeiros que vem prestigiado na Constituição Federal. 4. Não estamos tratando de uma empresa que precisa da energia para insumo, tampouco de pessoas jurídicas portentosas, mas de uma pessoa miserável e desempregada, de sorte que a ótica tem que ser outra. Como disse o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins noutra ocasião, temos que enunciar o direito aplicável ao caso concreto, não o direito em tese. Penso que tínhamos, em primeiro lugar, que distinguir entre o inadimplemento de uma pessoa jurídica portentosa e o de uma pessoa física que está vivendo no limite da sobrevivência biológica. É mister fazer tal distinção, data máxima venia. 5. Em segundo lugar, a Lei de Concessões estabelece que é possível o corte considerado o inte- resse da coletividade, que significa não fazer o corte de energia de um hospital ou de uma universidade, não o de uma pessoa que não possui 40 reais para pagar sua conta de luz, quando a empresa tem os meios jurídicos legais da ação de cobrança. A responsabilidade patrimonial no direito brasileiro incide sobre patrimônio devedor e, neste caso, está incidindo sobre a própria pessoa! 6. No meu modo de ver, data maxima venia das opiniões cultíssimas em contrário e sensibilíssimas sob o ângulo humano, entendo que ‘interesse da coletividade’ refere-se aos municípios, às universidades, hospitais, onde se atinge interesse plurissubjetivos. 7. Por outro lado, é preciso analisar que tais empresas têm um percentual de inadimplemento na sua avaliação de perdas, evidentemente. 50FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Pelo que se houve falar, e os fatos notórios não dependem de prova, a empresa recebe mais do que experimenta tais inadimplementos. Tenho absoluta certeza que, dos dez componentes da Seção, todos pagamos a conta de luz diuturnamente. Então, é uma forma da responsabilidade passar do patrimônio do devedor para sua própria pessoa. 8. Com tais fundamentos, e também outros que seriam desnecessários alinhar, sou radicalmente contra o corte do fornecimento de serviços essenciais de pessoa física em situação de miserabilidade e absolutamente favorável ao corte de pessoa jurídica portentosa, que pode pagar e protela a prestação da sua obrigação, apro- veitando-se dos meios judiciais cabíveis. 9. Recurso especial provido, por força da necessidadede submissão à jurisprudência uniformizadora. [caso 3.] STJ RESP 525500 AL Decisão:16/12/2003 DJ:10/05/2004 (Ementa): ADMINISTRATIVO - SERVIÇO PÚBLICO - CONCEDIDO - ENERGIA ELÉTRICA - INADIMPLÊNCIA. 1. Os serviços públicos podem ser próprios e gerais, sem possibilidade de identificação dos destinatários. São financiados pelos tributos e prestados pelo próprio Estado, tais como segurança pública, saúde, educação, etc. Podem ser também impróprios e individuais, com destinatários deter- minados ou determináveis. Neste caso, têm uso específico e mensurável, tais como os serviços de telefone, água e energia elétrica. 2. Os serviços públicos impróprios podem ser prestados por órgãos da administração pública indireta ou, modernamente, por delegação, como previsto na CF (art. 175). São regulados pela Lei 8.987/95, que dispõe sobre a concessão e permissão dos serviços público. 3. Os serviços prestados por concessionárias são remunerados por tarifa, sendo facultativa a sua utilização, que é regida pelo CDC, o que a diferencia da taxa, esta, remuneração do serviço público próprio.4. Os serviços públicos essenciais, remunerados por tarifa, porque prestados por concessionárias do serviço, podem sofrer interrupção quando há inadimplência, como previsto no art. 6º, § 3º, II, da Lei 8.987/95, Exige-se, entretanto, que a interrupção seja antecedida por aviso, existindo na Lei 9.427/97, que criou a ANEEL, idêntica previsão. 5. A continuidade do serviço, sem o efetivo pagamento, quebra o princípio da igualdade da partes e ocasiona o enriquecimento sem causa, repudiado pelo Direito (arts. 42 e71 do CDC, em interpretação conjunta). 6. Recurso especial provido. [caso 4.] RESP 278532 RO Decisão:16/11/2000 DJ:18/12/2000 Ementa: NÃO É POSSÍVEL O CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA AO MU- NICÍPIO INADIMPLENTE (unânime) [caso 5.] RESP Nº 291.158 - PB (2000/0128219-0) Ementa: POSSIBILIDADE DE CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA EM CASO DE INADIMPLEMENTO DO MUNICÍPIO, EXCETO QUANDO FOR REALIZADO DE MA- NEIRA INDISCRIMINADA CAUSANDO PREJUÍZO À POPULAÇÃO LOCAL. NECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DAS UNIDADES CONSUMIDORAS INADIMPLENTES 2ª T - RESP 291158 PB Decisão:04/03/2004 DJ:14/06/2004 (unânime) 51FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I Questões sobre as Leituras módulo I – Habeas Corpus n° 82.424/RS 1) Quais são as partes e os fatos do caso? Que condutas do “paciente” estão sendo analisadas? 2) Quais são as normas jurídicas mencionadas no Acórdão? 3) O que está sendo decidido? Quais são as questões controvertidas? 4) Houve decisões anteriores do mesmo caso? Quais foram? 5) Os ministros do STF, em seus votos, divergem tanto em suas opiniões sobre os assuntos debatidos quanto em qual seria o aspecto principal a ser discutido. Em relação a cada um dos ministros, responda: a) Quais foram as questões controversas expostas pelo ministro? b) Como ele as decidiu? c) Em relação a elas, que justificativas ele utilizou? 6) Você concorda com a decisão do caso? Como Você justifica seu entendimento? módulo II Item “A” - estupro – Primeiro conjunto de decisões 1) No caso 1, como decidiu o juiz? Baseado em que justificativa? 2) Caso 2: Em que consiste “conjunção carnal”, prevista no tipo penal? Qual seria, então, a diferença entre a “conjunção carnal” e o “estupro”? 3) Ainda em relação ao caso 2, para o juiz, que fatos demonstram o consentimento da ofendida? 4) Caso 3: Para o juiz, por que não é necessária a prova de violência física? 5) Em cada um dos casos, de que termo específico da lei tenta-se encontrar o sentido? 6) Além da definição de termos isolados do texto da norma, que outros elementos os juízes não levaram em conta em cada caso, e que, se levados em conta, poderiam ter levado a decisões diferentes? Pense nas dis- cussões realizadas em sala de aula durante a discussão do caso do lixo na praia. – Segundo conjunto de decisões 1) Na opinião do desembargador relator Jorge Mussi, a presunção legal de inocência é absoluta ou relativa? O que quer dizer isso? 2) Houve dúvida acerca do fato de ter havido realmente resistência, por parte da supostamente ofendida. Como decidiu o tribunal? Por quê? Item “B” – propriedade e função social - Primeiro conjunto de decisões 1) Caso 1: Por que a reapropriação, na opinião do desembargador, é inviável? 2) “... o abandono da propriedade por mais de vinte anos caracteriza um exercício anti-social do direito de propriedade”. O que Você pensa dessa afirmação? Como as normas jurídicas citadas afetam sua resposta? 52FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I 3) No segundo caso apresentado, quais os dois princípios ou direitos confrontados? Qual deles é considerado mais importante? Justifique sua resposta. 4) No terceiro caso, afirma-se que, apesar de se tratar de um grave problema social “Não cabe ao Judiciário resolvê-lo”. Que problema é esse e por que não caberia ao Judiciário resolvê-lo? 5) Como decidiu o órgão julgador, nesse terceiro caso? 6) Caso 4: Compara-se, em certo momento, a usucapião ao confisco. Explique essa comparação. – Segundo conjunto de decisões 1) Por que se considera nulo o processo de desapropriação sem a notificação prévia, segundo as argumenta- ções apresentadas? 2) Qual a importância dessa notificação ser prévia? 3) No caso 4, outra discussão é considerada importante, a da produtividade da propriedade. Qual a diferença entre essa consideração e os critérios considerados relevantes nas decisões anteriores? Item “C” – serviço público 1) Segundo a decisão do STJ, o serviço de fornecimento de água pode ou não ser interrompido? Em que casos? Por quê? 2) Explique a analogia feita entre o fornecimento de água e o de energia elétrica. Essa analogia lhe parece plausível? 3) Caso 2: Segundo a decisão, é lícito interromper o fornecimento de energia, desde que cumprido um re- quisito. Qual é ele? Entretanto, no caso, um princípio constitucional sobrepõe-se a essa interrupção lícita, segundo entendimento exposto na decisão. Qual é ele? 4) O ministro relator diferencia uma “pessoa miserável e desempregada” de uma empresa inadimplente. Essa diferença é juridicamente importante? 53FGV DIREITO RIO INTRODUÇÃO AO DIREITO I apêndice GlossárIo InformAl de termos téCnICos utIlIzAdos no HC 82.424/rs [elaborado por livia fernandes. o propósito deste glossário é explicitar, com palavras menos técnicas, o sen- tido de termos técnicos mais importantes e básicos encontráveis no HC 82.424/HC, não abrangendo todos os termos técnicos ali mencionados. nesse sentido, serve como ponto de partida. Qualquer dúvida adicional poderá ser esclarecida em sala ou com a própria livia.] Acórdão – Nome que se dá ao resultado do julgamento proferido pelos tribunais. É uma decisão coletiva, em que os juízes que a tomam acordam (concordam), por unanimidade ou não, com seu conteúdo básico. Deferir – Aceitar, conferir, conceder (um pedido feito em processo judicial). Denegar – Negar, indeferir (um pedido feito em processo judicial). Disposição – Determinação legal, regra (ex., o artigo 5º é uma das disposições constitucionais). Ementa – Sumário, resumo. Texto que descreve de maneira abreviada qual foi a decisão que, ao final, pre- valeceu em caso discutido por Tribunal. Habeas Corpus - Literalmente significa “tome o corpo” ou “tenha o corpo”, em latim. É uma ação em que alguém (chamado de “impetrante” porque a apresenta ou impetra algo) solicita a um juiz ou tribunal que este proteja a liberdade de ir e vir de um indivíduo (chamado de “paciente”), em face de uma autoridade (chamada de “coatora”) que está (legalmente ou não, esta é uma das questões) ameaçando essa liberdade (e, portanto, também o “corpo” ou corpus do indivíduo a que se refere). São sinônimos, entre outros: “writ”, “ordem” e “mandamus”. Impetrar - Pedir em juízo. Requerer a decretação de certas medidas
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