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DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS E O DIREITO DO TRABALHO Carlos Henrique Bezerra Leite Doutor e Mestre em Direito (PUC/SP) Professor de Direitos Humanos Sociais Metaindividuais e Direito Processual do Trabalho (FDV) Desembargador do Trabalho (TRT/ES) Ex-Diretor da Escola Judicial do TRT/ES Ex-Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho/ES Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho Ex-Coordenador Estadual da Escola Superior do MPU/ES Autor Livros e Artigos Jurídicos Período Axial - entre os sécs. VIII e II a. C. • Entre 600 e 480 a. C. coexistiram Zaratrusta (Pérsia), Buda (Índia), Lao-Tsê e Confucio (China), Pitágoras (Grécia) e Isaías (Israel) • abandono das explicações mitológicas e elaboração dos grandes princípios e diretrizes fundamentais da vida humana, até hoje em vigor. “é a partir do período axial que o ser humano passa a ser considerado, pela primeira vez na História, em sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência de direitos universais, porque a ela inerentes” (Fábio K. Comparato, Afirmação Histórica dos DH). Breve Histórico 1776 - Declaração de Independência dos EUA (Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia) 1789 - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Revolução Francesa) 1848 - A Constituição Francesa 1917 - A Constituição Mexicana 1918 - Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado 1919 - A Constituição Alemã 1919 - Criação da OIT, fruto do Tratado de Versalhes 1929 - Convenção Relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra, Genebra 10.12.1948 - DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (caráter recomendatório?) 1950 - Convenção Européia de Direitos Humanos (Roma) 1966 - Pactos Internacionais de 1966 - Direitos Civis, Políticos, Sociais, Econômicos e Culturais 1969 - Convenção Americana de Direitos Humanos (São José da Costa Rica) Breve Histórico DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS Exaltação do Indivíduo e suas liberdades civis e políticas (direitos de liberdade – igualdade formal) Direitos sociais, econômicos e culturais (direitos de igualdade real) Direito dos Povos, Globais, interesses difusos (direitos de solidariedade ou fraternidade) 1ª Dimensão 2ª Dimensão 3ª Dimensão 1ª DIMENSÃO Direitos Civis e Políticos Revoluções Burguesas (séc. XVII e XVIII) Liberdades individuais - individualismo Propriedade privada como direito natural e absoluto Liberalismo - iluminismo racionalista Estado absenteísta (status negativus) Igualdade Formal perante a lei Individualismo, Autonomia da vontade – contratualismo Formalismo, legalismo, conceitualismo CONCEPÇÃO JUSNATURALISTA 2ª DIMENSÃO Direitos Sociais, Econômicos e Culturais Revolução Industrial Constitucionalismo social (séc. XIX e XX) Função social da propriedade Direitos de participação com política pública Estado interventor - prestações estatais positivas (status positivus) Igualdade substancial - piso vital mínimo Melhoria das condições de vida da pessoa humana CONCEPÇÃO JUSPOSITIVISTA 3ª DIMENSÃO Interesses Metaindividuais · Meio ambiente, consumidor, desenvolvimento sustentado · Direito à democracia, ao pluralismo, à informação, à paz Direitos das minorias · Rompimento com as dicotomias direito público X direito privado / direito X interesse = JUS-REALISMO · Explosão demográfica mundial e Multiplicação dos direitos sociais · Sociedade de massa = Lesões de massa · Síntese liberdade e igualdade = fraternidade · Garantia de acesso coletivo ao Judiciário, com ações coletivas e sentenças com eficácia erga omnes Justicialidade dos Direitos Humanos Direitos ou Interesses Metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos) 4a. DIMENSÃO Direitos da Bioética Biotecnologia, Bioética, biodireito Regulação da engenharia genética Manipulação do Patrimônio genético da pessoa Clonagem, inseminação artificial, transplantes de órgãos, eutanásia Direitos de natureza polêmica, complexa e transdisciplinar Necessidade de legislação regulamentadora e teoria jurídica para preservar a dignidade humana 5ª DIMENSÃO Direitos Virtuais Tecnologia de informação (internet), do ciberespaço e da realidade virtual em geral Transição da sociedade industrial para a sociedade da era virtual Transformação da pessoa humana em “internauta” Aplicação da lei e da jurisprudência no âmbito do ciberespaço Direito de informática (civil, trabalhista, penal) Necessidade de normas e teoria jurídica sobre punição à pornografia, à pedofilia, à violência via internet ou e-mail A DUDH E OS DIREITOS TRABALHISTAS Artigo 23º - 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições eqüitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração eqüitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. A DUDH E OS DIREITOS TRABALHISTAS Artigo 24º - Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e às férias periódicas pagas. Artigo 25º - 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. OS PACTOS DE DIREITOS HUMANOS O problema da força normativa da DUDH o Pacto dos Direitos Civis e Políticos - PIDCP, bem como o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC, foram ratificados pelo Brasil em 1991 (Decreto Legislativo n. 226, de 12.12.1991, e promulgados pelos Decretos 591 e 592, de 6.7.1992. Os tratados de DH e os §§ 2º e 3º do art. 5º da CF. Características dos DH Universalidade Indivisibilidade Interdependência Inter-relacionalidade item 5º, Parte I, da Declaração e Programa de Ação adotada pela Conferência Mundial sobre DH das Nações Unidas (Viena, 1993): “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter- relacionados”. Características dos DH Conferência Internacional de Teerã, em 1968, item 13: “Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos, sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, torna-se impossível”. PIDESC: “os direitos sociais, culturais e econômicos são inerentes à dignidade da pessoa humana e que o ideal do ser humano livre, liberto do temor e da miséria, só pode ser concretizado à medida em que se criem condições que permitam a cada um gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais, assim como de seus direitos civis e políticos”. Conceito de Direitos Humanos JUSNATURALISTAS: existência de direitos naturais do indivíduo, originários e inalienáveis,em função dos quais concebe-se o Estado, a quem não incumbe outorgá-los, mas tão-somente reconhecê-los e aprová-los formalmente. Jus divinum (Tomás de Aquino) e Contrato Social (Russeau). Idéia de anterioridade dos DH. Plano Filosófico. JUSPOSITIVISTAS: Os direitos são fundamentais e essenciais, desde que reconhecidos pelo Estado, pelo Poder Político; esta concepção identifica o direito com a lei formalmente posta. Nasce, assim, a idéia dos DH como direitos públicos subjetivos. Idéia constitutiva dos DH. Plano Jurídico. JUS-REALISTAS: preocupam-se com a efetividade dos DH. São as condições sociais que determinam o sentido real dos direitos e liberdades, pois delas depende sua garantia e proteção. A proteção processual (garantismo) dos DH como fator-chave de sua significação. Plano Político. Conceito de DH “conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional” (Pérez Luno, Los derechos humanos). “conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana” (Alexandre de Morais, Direitos humanos funamentais) Conceito de DH “uma expressão do séc. XX para o que foi tradicionalmente conhecido como direitos naturais,ou, numa frase mais estimulante, os direitos do homem” (Maurice Cranston, O que são direitos humanos?) José Afonso da Silva reconhece a dificuldade de se conceituar direitos humanos, mas prefere o termo “direitos fundamentais do homem”, porque “além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de um convivência digna, livre e igual de todas as pessoas” (Curso de direito constitucional positivo). DH como Direitos Morais André de Carvalho Ramos busca a concliacão entre os direitos humanos entendidos como exigências éticas ou valores e os direitos humanos entendidos como direitos positivados” (Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional). Direitos Humanos são direitos morais, porque tal fundamentação ética, tem por objeto a efetivação dos princípios da dignidade, liberdade, igualdade e solidariedade, conciliando, assim, as formulações dos jusnaturalistas, juspositivistas e jus-realistas, pois, como diz Bobbio, o problema não é justificá- los, e sim garanti-los. Trata-se de um problema jurídico, filosófico e político. Terminologia Direitos Humanos, Direitos Fundamentais, Direitos Humanos Fundamentais, Direitos da Pessoa Humana, Direitos do Homem, Direitos Naturais, Direitos de Liberdade, Liberdades Públicas, Direitos Subjetivos, Direitos de Cidadania .Será que os Direitos Fundamentais contidos no Título II da CF são sinônimos de direitos humanos? .Há distinção entre direitos fundamentais e garantias fundamentais? Valores Orientam a ordem jurídica Interrogam a ordem existente Propõem uma Utopia Objeto dos Direitos Humanos Objeto dos DH Construção e manutenção dos pressupostos elementares de uma vida na liberdade, na igualdade, na solidariedade e na dignidade humana Promoção do bem de todos sem discriminação por motivos como raça, cor, sexo, idade, estado civil, origem etc. Direito à diferença Efetivação dos objetivos fundamentais da República Ver Preâmbulos dos Pactos de 1966 Ver CF, arts. 3º e 4º Direitos Humanos e Utopia “Utopia deriva do grego, e significa "que não existe em nenhum lugar". Para João Baptista Herkenhoff, a utopia "é a representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização." E continua dizendo que a Utopia é a consciência antecipadora do amanhã. "O mito ilude o homem e retarda a História. A utopia alimenta o projeto de luta e faz a História". Herkenhoff vê o pensamento utópico como o grande motor das Revoluções. Herrera Flores: Direitos Humanos são direitos de luta A CF E OS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS (Título II) · Direitos, deveres e garantias individuais e coletivos (Cap. I) · Direitos sociais (Cap. II + Título VIII): Educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, cultura, desporto, ciência e tecnologia, comunicação social, proteção do meio ambiente, família, criança, adolescente, idoso e índio · Direitos de nacionalidade (Cap. III) · Direitos políticos (Cap. IV) · Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos (Cap. V) · Outros direitos previstos em Tratados Internacionais (CF, 5º, §§ 2º e 3º) Classificação dos DH na CRFB Alexandre de Moraes direitos individuais e coletivos direitos sociais direitos de nacionalidade direitos políticos Manoel Gonçalves Ferreira Filho direitos de liberdade (status negativus) direitos de crédito (prestações positivas) direitos de situação (meio ambiente equilibrado) Princípios dos Direitos Humanos DUDH-art.1º - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Dignidade da Pessoa Humana Liberdade Igualdade (formal, material, discriminação e ações afirmativas) Solidariedade Eficácia dos Direitos Fundamentais Sociais Trabalhista Eficácia plena e imediata (CF, art. 5º, § 1º) Eficácia vertical – os direitos fundamentais são passíveis de cobrança em face do Estado. Eficácia horizontal - os direitos fundamentais são passíveis de cobrança em face de outros particulares (STF-RE 201.819). Hermenêutica dos Direitos Fundamentais Sociais Trabalhistas • O Estado Democrático de Direito inverteu os papéis da lei e da Constituição (Nova hermenêutica do Direito), pois a legislação deve ser compreendida a partir dos princípios constitucionais e dos direitos fundamentais (filtragem constitucional). • Deveres de o juiz interpretar a lei de acordo com a Constituição, de controlar a constitucionalidade da lei, especialmente atribuindo-lhe novo sentido para evitar a declaração de inconstitucionalidade, e de suprir a omissão legal que impede a efetividade de um direito fundamental. • Ampliação dos poderes do juiz (ativismo judicial) - CDC 84 e CPC 461. Nova Hermenêutica (Enunciado 2 da 1ª Jornada) DIREITOS FUNDAMENTAIS – FORÇA NORMATIVA. I – ART. 7º, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. EFICÁCIA PLENA. FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO. DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DEVER DE PROTEÇÃO. A omissão legislativa impõe a atuação do Poder Judiciário na efetivação da norma constitucional, garantindo aos trabalhadores a efetiva proteção contra a dispensa arbitrária. II – DISPENSA ABUSIVA DO EMPREGADO. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL. NULIDADE. Ainda que o empregado não seja estável, deve ser declarada abusiva e, portanto, nula a sua dispensa quando implique a violação de algum direito fundamental, devendo ser assegurada prioritariamente a reintegração do trabalhador. III – LESÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS. ÔNUS DA PROVA. Quando há alegação de que ato ou prática empresarial disfarça uma conduta lesiva a direitos fundamentais ou a princípios constitucionais, incumbe ao empregador o ônus de provar queagiu sob motivação lícita. Violações corriqueiras aos Direitos Fundamentais Sociais Trabalhistas • Trabalho em Condições de Escravidão • Exploração do Trabalho Infanto-juvenil e do trabalho indígena • Discriminações por motivo de gênero, raça, cor, sexo, idade, religião, listas negras etc. • Degradação ao Meio Ambiente do Trabalho • Improbidade Administrativa (contratação sem concurso público) • Cooperativas e Terceirizações Fraudulentas. • Assédio moral e sexual. • Desvirtuamento de estágios etc. CONCLUSÃO Para implementar a concretude dos direitos humanos, em especial os direitos sociais trabalhistas, é condição necessária exigir do Estado e seus agentes, bem como da sociedade, especialmente dos mais ricos e poderosos, o respeito à democracia, aos princípios e objetivos fundamentais da República. Afinal, enquanto existir um direito humano desrespeitado não haverá liberdade, igualdade, paz e democracia para as presentes e futuras gerações. Muito Obrigado! www.carloshenriquebezerraleite.com
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