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Politica Agraria no Brasil contextos e analises

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POLÍTICA AGRÁRIA NO BRASIL: contextos e análises 
 
 
Brenda Rayanne Sampaio de Oliveira
1
 
Tainá Rocha dos Santos
2
 
 
 
Resumo 
 
Este trabalho tem por objetivo salientar a Política Agrária no Brasil, 
visando ressaltar seus contextos e implicações na realidade social do 
país. Para tanto, parte de análises em torno do levantamento sobre o 
que vem a ser a Questão Agrária, para assim, salientar a instituição 
da Reforma Agrária como campo da reivindicação concreta da 
sociedade. Dessa forma, tem por objetivo salientar a necessidade de 
articulação do movimento rural com a classe operária, visando 
propostas da Reforma Agrária que perpassem os interesses de 
classe que não se delimitam no campo, mas são constituídos pelo 
ideal de uma nova Política Agrária. 
Palavras-chave: Questão Agrária; Reforma Agrária; Política Agrária; 
Desigualdade social. 
 
 
Abstract 
This paper aims to highlight the Agrarian Policy in Brazil, aiming to 
highlight their contexts and implications in the social reality of the 
country. To do so, part of the analysis about the survey on what is to 
become the Agrarian Question, to emphasize the institution of 
Agrarian Reform as a field of concrete claim to society. In this way, it 
aims to emphasize the need to articulate the rural movement with the 
working class, aiming at Agrarian Reform proposals that pervade 
class interests that are not delimited in the countryside, but are 
constituted by the ideal of a new Agrarian Policy. 
 
Keywords: Agrarian Question; Land reform; Agrarian policy; Social 
inequality. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Discente do 8º período em Serviço Social, pela Universidade Federal de Alagoas, Campus 
Arapiraca, Unidade de Palmeira dos Índios. Email: (rayannnesampaio@gmail.com). 
2
 Discente do 8º período em Serviço Social, pela Universidade Federal de Alagoas, Campus 
Arapiraca, Unidade de Palmeira dos Índios. Email: (taina.rds@hotmail.com) 
 
 
I. INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa busca analisar a Política Agrária no Brasil, ressaltando seus 
contextos e implicações na realidade social do país. Para tanto, parte de análises em torno 
do levantamento sobre o que vem a ser a Questão Agrária, para assim, salientar a 
instituição da Reforma Agrária como campo da reivindicação concreta da sociedade, 
particularizando a realidade brasileira. 
Em relação à compreensão da Reforma Agrária, retrataremos sobre um 
necessário levantamento histórico, compreendendo seu processo de evolução, ao levar em 
consideração as circunstâncias de sua efetivação desde 1950 até a Constituição Federal de 
1988, e salientando, ainda, a caracterização da Reforma como um conjunto de reformas 
setorizadas, direcionadas à melhoria das condições de vida no campo, principalmente para 
os trabalhadores rurais. 
Partindo do exposto no MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO 
(BRASIL, 2015b) e no INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA 
(BRASIL, 2015c), buscaremos analisar e contribuir para a discussão em torno da 
implementação da Política Agrária, como a ação da Reforma aplicada nos marcos da 
legislação. 
Contudo, tem por objetivo salientar a discussão em torno do papel sociopolítico 
da Reforma Agrária e de sua implementação através da Política Agrária, levando em 
consideração as expectativas e limitações postas socialmente. 
 
II. A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL COLONIZADO E A REFORMA AGRÁRIA 
 
Segundo Galeano (2010), em um contexto latino-americano, o Brasil não foi 
apenas colonizado, mas o ouro e a prata encontrados nessas terras eram “chaves que o 
renascimento usava para abrir as portas do paraíso no céu e as portas do mercantilismo 
capitalista na Terra” (p. 32). Nesta passagem um novo mundo econômico surge através da 
crescente intensificação de exportação das riquezas do Brasil e de uma mão de obra barata 
na produção agrícola. Como reflexo disso, a questão agrária se desenvolve, a terra passou 
a ser distribuída pelos portugueses de acordo com seus interesses, a fim de ocupar as 
terras desabilitadas e auxiliar no controle territorial e produção de alimentos extremamente 
 
apreciados pelos Europeus. Devido ao não cultivo dessas terras, as mesmas foram 
devolvidas aos colonizadores portugueses. 
 Silva (1981), afirma que foi com a expansão da produção de café em 1850, e 
com a criação da Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro, o governo 
incentivou a entrada de imigrantes europeus para substituição do trabalho escravo. Nesse 
mesmo ano o governo criou a Lei de Terras que permitia a venda das terras em leilões, 
tornando as terras que foram devolvidas se tornavam propriedade do Estado, o capital pago 
por elas deveria custear a vida dos imigrantes europeus e asiáticos que vinham ao Brasil 
com o promessas de obtenção de terras, todavia isso não acontecia, quando chegavam ao 
Brasil pois essa lei os impedia de comprar as terras os obrigando a trabalhar com baixos 
salários o que os levou a procurar empregos nas fazendas, os únicos lugares que o 
ofereciam. 
Devido essa nova estrutura, dada pelo valor econômico atribuído as terras, a 
desigualdade fundiária se acentuou no país. Através disso começou no Brasil, a escravidão 
por dívida, que atingiu os imigrantes estrangeiros e as pessoas de baixa renda, em 1872, o 
governo alemão proibiu a imigração para o Brasil. Apenas em 1988 a constituição passou a 
prever a expropriação das terras, e utilizar a reforma agrária em fazendas que utilizavam da 
mão de obra escravas, momento em que a escravidão foi reconhecida no país. 
Todavia, para compreensão da Política Agrária é preciso assimilar a diferença 
entre Reforma Agrária e Questão Agrária: a Questão Agrária, segundo Martins (2001) 
representa a dificuldade que a propriedade apresenta ao desenvolvimento capitalista. Essa 
dificuldade se apresenta de várias formas, como por exemplo, através da redução da taxa 
média de lucro, que é baseada na importância que a renda fundiária pode ter no 
ordenamento da mais-valia. Já a Reforma, em termos legais, é considerada como: 
 
[...] § 1° [...] o conjunto de medidas que visem a promover melhor 
distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse 
e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento 
de produtividade. (JUSBRASIL, 2015, p.1). 
 
Se fazendo necessário um levantamento sobre o processo de evolução da 
Reforma no cenário brasileiro. 
 
II.i O processo de evolução da Reforma Agrária 
 
Segundo Polinski e Pinto (2015), foi a partir do final dos anos 1950 e início dos 
anos 1960 que o debate a respeito da questão fundiária surge, por parte da sociedade, 
 
como impedimento no processo de industrialização e urbanização em que o Brasil passava, 
restringindo-o ao campo intelectual e político-partidário. Tornando a reforma agrária uma 
reivindicação concreta por parte da sociedade, que se fortalece em diversos lugares do 
Brasil, fazendo que o governo passe a dar importância ao debate se tornando um elemento 
de grande relevância para o progresso econômico e social que o país passava naquele 
momento. 
Assim, em busca da efetivação da reforma agrária como primeira iniciativa em 
1962 o Governo Federal implanta o decreto da Superintendência de Política Agrária 
(SUPRA) e no ano seguinte, em 1963, é acrescentada à Legislação Trabalhista a regulação 
das relações de trabalho no campo, com aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural. 
De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Brasil, 
2015c), é com a chegada do regime militar em 1964 que o governo inicialmente apresenta 
um posicionamento favorável à reforma agrária a partir de medidas tomadas pelo Presidenteda República João Goulart, de acordo com o §1°, do art. 1°, que se encontra na Lei 
4.504/64: o objetivo era de atender aos interesses sociais com a desapropriação de terras 
que se localizavam ao longo das rodovias, ferrovias e açudes que pertenciam 
exclusivamente à União. Também foi realizado pelos militares o primeiro documento oficial 
sobre a reforma agrária com a aprovação da Lei n° 4.504 de 1964 no Estatuto da Terra3, e 
com a criação do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de 
Desenvolvimento Agrário4 (INDA) com o objetivo de substituir a SUPRA. 
No período do primeiro governo militar, regido por Marechal Humberto de 
Alencar Castelo Branco, a efetivação da reforma agrária passa a ser deturpada, pois, a 
respeito da questão fundiária, começa a se utilizar de medidas que não provocassem 
prejuízos ao direito de propriedade. 
Segundo Polinski e Pinto (2015), é em 1969 que grandes mudanças ocorrem: os 
ministérios passam a ser regidos por ministros com interesses opostos aos propostos pela 
reforma agrária, com o objetivo de implantar grandes empresas no campo. Assim, esse 
novo objetivo se torna a mecanização do processo produtivo e a promoção da cultura de 
exportação, contribuindo com o aumento numeroso de latifundiários. Diante dessas 
circunstâncias em 1970 “[...] A reforma agrária baseou-se num modelo de colonização da 
Amazônia, incentivado pelos agropecuários atraídos por incentivos fiscais que tinham a 
intenção de ‘substituir’ a reforma agrária” (POLINSKI; PINTO, 2015, p.1), com a criação de 
novos projetos que tem como intuito se sobrepor a reforma agrária, difundidos pelo Governo 
 
3
 A partir do momento em que a o regime militar passa a desfavorecer as contribuições para a 
efetivação da reforma agrária, o Estatuto da Terra passa a ter suas funções direcionadas para a 
política agrícola. 
4
 Posteriormente o IBRA e o INDA irão se unir e formar o INCRA, a partir do Decreto n° 1.110. 
 
Federal para promover o crescimento regional do país como o Programa de Integração 
Regional (1970), o Programa de Redistribuição de Terras e de Estimulo a Agroindústria do 
Norte e Nordeste (1971), o Programa Especial para o Vale do São Francisco (1972), o 
Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais na Amazônia (1974) e o Programa de 
Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste (1974)5, no entanto nenhum destes 
obtiveram algum êxito. 
Com o estabelecimento do regime militar muitos progressos adquiridos para a 
efetivação da reforma agrária foram obrigatoriamente bloqueados, assim como 
organizações que tinha isso como finalidade. De acordo com Polinski e Pinto (2015), a 
participação da Igreja Católica como promotora da reforma agrária se dá a partir da 
fundação do Movimento de Educação de Base (MEB), constituído por agentes pastorais e 
militantes que tinham como finalidade promover uma organização sindical e alfabetizar a 
população e teve sua mobilização interrompida pelo regime militar. Mas, em 1975 a 
Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) cria a Comissão da Pastoral da Terra 
(CPT) com o lema “Terra para quem não trabalha” e tinha por finalidade retomar as lutas 
pela reforma agrária através da resistência, proporcionando espaços e infraestrutura para 
reuniões que favorecessem o combate aos interesses contrários à reforma. 
A partir da luta contra a ditadura, que tem início no final dos anos 1970 e 
chegada dos anos 1980, a fim de promover a redemocratização do país, houve uma 
mudança no quadro de luta pela busca da reforma agrária. Com o final do período de 
repressão, mais intensa se mostra a aparição de novos grupos sociais constituídos pelas 
famílias sem-terra, indígenas, remanescentes de quilombos e ribeirinhos prejudicados pelas 
barragens, ocasionando a formação de alguns grupos sociais – estes tinham como 
finalidade a busca pela efetivação dos direitos trabalhistas e acesso à terra, sendo 
constituídos por assalariados, lavradores, pequenos arrendatários, etc. 
Para Polinski e Pinto (2015), além dos movimentos sociais, com o objetivo de 
prover os interesses da classe dos trabalhadores rurais, existiram outros movimentos 
independentes, como os posseiros (trabalhadores rurais que ocupam as terras sem nenhum 
título ou amparo legal), grileiros de terra (aqueles que falsificam documentos para 
adquirirem a posse de terras ou prédios de modo ilegal, por meio de falsas procurações 
conseguindo obter várias propriedades), madeireiros, arrendatários e produtores rurais que 
defendiam seus próprios interesses. 
De acordo com Brasil (2015c), em 1985 foi instituído o novo Plano Nacional de 
Reforma Agrária (PNRA), a partir do Decreto nº 97.766, que tinha como propósito atingir as 
metas ao propor o desígnio de 43 milhões de hectares de terra para o assentamento de 1,4 
 
5
 Respectivamente PIN, PROTERRA, PROVALE, POLOAMAZÔNIA, POLONORDESTE. 
 
milhões de famílias até o ano de 1989, através do Ministério Extraordinário para o 
Desenvolvimento e a Reforma Agrária (MIRAD). Porém, os planos fracassam devido as 
metas irreais que, de fato, só atingiram numa quantidade mínima daquilo que foi proposto 
com 82.689 famílias assentadas em menos de 4,5 milhões de hectares de terra. 
Posteriormente vai ser extinta a MIRAD atribuindo a responsabilidade da reforma agrária ao 
Ministério da Agricultura. 
Para Silva Filho (2015), com a instituição da Constituição de 1988 a política 
agrária passa a ter a finalidade de promover e priorizar a justiça social conceituando6 a 
Reforma como “[...] O conjunto de medidas que visam a promover melhor distribuição da 
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios 
de justiça social e ao aumento da produtividade” (SILVA FILHO, 2015, p.1), ao fornecer uma 
divisão igualitária de terras para as pessoas obterem uma propriedade e uma renda 
fundiária, e para incentivar uma maior produtividade. 
De acordo com o art. 184 da Constituição a desapropriação ocorre quando se 
consegue a declaração de que o imóvel rural não está exercendo sua função social, ou seja, 
não está sendo utilizado; assim é necessário realizar a desapropriação por interesse social, 
tomando o imóvel para objetivar a reforma agrária, oferecendo ao proprietário uma 
indenização em títulos de reforma agrária de acordo com os critérios apresentados nos 
incisos de I a V, §3 °, do art. 5° da lei nº. 8.629/93. 
A Constituição de 19887 apresenta que a desapropriação de imóveis rurais não 
pode ser realizada ao se constatar que “[...] são insuscetíveis de desapropriação para fins 
de reforma agrária: a pequena e média propriedade rural desde que seu proprietário não 
possua outra; e a propriedade produtiva” (CRUZ, 2015, p.1). 
Cruz (2015), afirma que não convém realizar a desapropriação de uma 
propriedade pequena e média, pois seria tirar a propriedade de um indivíduo para repassá-la 
a outro que também não possui, impedindo a produtividade e a concessão do direito à 
propriedade. Assim, a reforma agrária é caracterizada como um sistema de medidas 
direcionadas a fornecer melhorias aos trabalhadores rurais e à vida no campo, a partir da 
utilização coesa da terra. Ela também vai apresentar em seus objetivos um aspecto político 
social (acessibilidade à propriedade da terra, aos trabalhadores que nela trabalham e 
consequentemente garantir a permanência do trabalhador do campo e suprimir as 
desigualdades sociais) e econômico (descentralizando a renda e ocasionando no aumento 
da produtividade na agricultura). 
 
6
 Está contido no Art. 1º, § 1º, Lei 4504/64 do Estatuto daTerra. 
7
 De acordo com o art. 185. 
 
A reforma agrária é constituída por um conjunto de reformas que envolve 
diversos setores e cada um deles compõe uma reforma parcial. O primeiro deles é a 
Reforma Fundiária que se trata da redistribuição de terras realizada pelo governo, através 
da desapropriação de terras do próprio governo (terras devolutas8 , da Federação, dos 
Estados e dos Municípios) e a divisão dos latifúndios, caracterizados como terras 
improdutivas em áreas de agricultura tradicionais e de produtividade baixa. 
A segunda é a Reforma Agrícola que é um agrupamento de medidas 
direcionadas ao aumento da produtividade das terras e da mão-de-obra agrícola, como 
iniciação de técnicas avançadas de cultivo, assistência técnica, crédito fácil e acessível, fácil 
acesso a mercadorias e a preços compensatórios, escolas, serviços médicos e etc., 
fornecendo infraestrutura, assistência social e consultorias. 
A terceira é a Reforma Rural: para entendê-la primeiramente é necessário 
compreender a terra como uma empresa rural, onde as grandes propriedades são as 
grandes empresas com melhores condições de uso da terra, maiores chances de alcançar o 
mercado e inovar suas técnicas e instrumentos; já as pequenas propriedades são como 
pequenas empresas rurais que se assemelham aos operários, que vão buscar um meio de 
subsistência digno, além de ser parte do suporte da prosperidade agrícola do país. A 
Reforma Rural tem como propósito a implantação de um sistema de produção que reúna 
essas pequenas propriedades como cooperativas e que possuam um único fim, obtendo os 
mesmos níveis de vantagens que as grandes propriedades rurais possuem, com vantagens 
sociais que elas não ofertam. 
A quarta medida é o Regime das Relações de Poder, que se trata da 
reformulação de leis que concedam aos trabalhadores rurais um aparato legal para realizar 
suas reinvindicações, exigindo seus direitos e facilitando a organização sindical dos 
trabalhadores rurais. 
 
II.ii A implementação da Política Agrária 
 
A ação da Reforma Agrária é aplicada legalmente através da Constituição 
Federal de 1988, com o objetivo de assegurar os direitos sociais e individuais, partindo de 
uma visão fundiária que busca a garantia do direito à propriedade da terra, ao atender sua 
função social; do Estatuto da Terra (implementado em 1964), que busca a regulamentação 
do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA, desde 1985), visando a promoção da 
distribuição mais igualitária da terra, partindo de princípios de justiça social, ao refutar o 
 
8
 São terras não aproveitadas, que pertencem ao patrimônio jurídico de direito público que podem ser 
concedidas a particulares. 
 
aumento de produtividade; e através do Código Civil Brasileiro e suas leis complementares 
(que entraram em vigor a partir de 2003), que visam estabelecer os direitos e deveres na 
sociedade, partindo do ideal, no caso fundiário, de que o proprietário poderá apenas ser 
privado de seu direito à terra quando do pagamento de indenização da mesma, em caso de 
desapropriação (seja por interesse social ou ambiental). Segundo Polinski e Pinto (2015), a 
finalidade de tal aplicação legal pretende fomentar a regulamentação de atividades quanto 
ao uso, distribuição e redução da concentração de terras no Brasil. De acordo com as 
autoras supracitada, a Política Agrária possui uma estrutura estabelecida em torno do 
controle democrático e dos atores ou instituições envolvidas na sua efetivação, que partem 
de legislações aplicadas desde de 1850 até a Constituição de 1988 e suas emendas. 
Segundo o MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (BRASIL, 2015b), 
frente a necessidade de legitimação das questões agrárias e fundiárias, a partir de políticas 
de Estado, e da busca por respostas as demandas apresentadas pela sociedade quanto às 
políticas de Reforma Agrária e desenvolvimento rural, é instituído o Ministério do 
Desenvolvimento Agrário (MDA) que possui competências tais quais: a reforma agrária; o 
desenvolvimento sustentável do rural; a delimitação, reconhecimento e demarcação das 
terras ocupadas por quilombolas e seus remanescentes; e a regulamentação fundiária na 
Amazônia (a partir da Lei nº 11.952/09). Em relação aos programas do MDA, suas ações se 
encontram estabelecidas em cinco secretarias, cada qual com seus respectivos sistemas e 
ações. 
A instância federal que possui a missão de executar a Reforma Agrária e 
estabelecer o ordenamento fundiário no país, no formato legal, é o Instituto Nacional de 
Colonização e Reforma Agrária, o INCRA, criado a partir do Decreto nº 1.110, de 09 de julho 
de 1970. Com o intuito de implantar um modelo de assentamento rural que vise a viabilidade 
econômica, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento territorial, tal autarquia 
procura utilizar instrumentos adequados a cada singularidade social, em âmbito regional, 
buscando realizar intervenções rápidas e eficientes quanto a institucionalização e 
normatização desses instrumentos (BRASIL, 2015c). Para tanto, a atuação do INCRA se 
refere a instituição da igualdade de gênero na reforma, ao direito à educação, à cultura e à 
seguridade social, com fins a contribuir com o Estado quanto aos instrumentos e à aplicação 
de métodos necessários no trato nacional, referente a Política Agrária. 
Segundo o INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA 
(Ibid.), com o objetivo de promover a Reforma de maneira sistematizada e igualitária, num 
espaço de tempo de médio e longo prazo, o INCRA possui diretrizes que procuram 
democratizar o acesso e o direito à terra, de modo a implantar assentamentos sustentáveis 
e regularizar as terras públicas para que sejam destinadas a esses assentamentos, 
 
buscando organizar o campo fundiário do país quanto a desconcentração da atual estrutura 
latifundiária. 
Todavia, Polinski e Pinto (2015) salientam o caráter burocratizado da atuação do 
INCRA e de seus programas, que vem a ser fortemente relacionada às práticas 
assistenciais, muitas vezes “[...] cumprindo [um] papel subalterno à política econômica, 
mostrando-se tímida e ineficaz para os sem-terra e assentados de reforma agrária” (p.1), 
fomentando uma discussão quanto ao significado social e político da Reforma e sua 
implementação pela Política Agrária. 
 
III. AS IMPLICAÇÕES DA POLÍTICA AGRÁRIA BRASILEIRA E AS PROPOSTAS DA 
REFORMA AGRÁRIA 
 
A questão agrária brasileira, ascendente no período de 1950 a 1960, é 
ressaltada na pauta política como uma das propostas das Reformas de base9 no governo de 
João Goulart. As Reformas propostas pelo governo como uma das saídas para a atual crise 
desencadearam as mais diversas discussões teóricas acerca do posicionamento política 
frente a constituição de uma "nova sociedade". 
Em 1964, quando se instaura um outro momento político na história do Brasil, a 
ditadura militar, que sufoca o debate e as organizações de trabalhadores que encontravam 
na Reforma agrária uma solução para o fim da injustiça social e da escravidão tão presentes 
no meio rural na relação entre proprietários e lavradores, "[...] A política agrícola implantada 
resultou na chamada 'modernização conservadora', com mudanças na base técnica e 
integração aos mercados internacionais" (POLINSKI; PINTO, p.1, 2015). 
Essa tomada de mudanças provocou um retrocesso para a população rural 
quando o Estado deu início ao processo de desapropriação das terras que não tinham a 
‘função econômica’ estabelecida pelo governo ditatorial, que era o investimento no sistema 
financeiro internacional, por essa razão se inicia um processo de concentração de terras, 
onde a manutenção do grande latifúndio e a expulsão do campesinatodas terras para a 
zona urbana tornam-se as prioridades estatais: 
 
Esse modelo de desenvolvimento provocou transformações na 
agricultura gerando desemprego e migração dos camponeses para 
 
9
 Medidas de caráter desenvolvimentista que almejavam a manutenção da política em termos 
econômicos e sociais através do resgate de recursos externos para a sua realização, e sua pretensão 
era redirecionar o Estado para maior intervenção na economia. Essas medidas reformistas incluem 
vários setores econômicos e sociais, são eles, bancário, fiscal, urbano, eleitoral, educacional e 
agrário. 
 
as cidades. Essa tendência é uma das bases do acelerado processo 
de urbanização da sociedade brasileira, transformando os 
camponeses em 'exércitos industriais de reserva', assalariados 
urbanos e 'boias-frias' (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 277). 
 
Sendo assim, a modernização capitalista no campo traz consigo profundos 
prejuízos, além do empobrecimento dos trabalhadores rurais o que caracteriza a "nova" 
questão agrária 10 são embates como, a diversificação do trabalho escravo, mortes por 
exaustão, prejuízo para a segurança alimentar e afins. Desta forma, 
[...] As implicações negativas do processo de modernização 
capitalista no campo, por si só, justificariam a volta da questão 
agrária ao debate nacional. Todavia, quem de fato o fez foi os sem-
terra, que reivindicavam o acesso à terra e lutam por direitos sociais. 
Os camponeses se organizaram, por exemplo, no Movimento dos 
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e confrontaram a estrutura 
agrária colocando a questão agrária na pauta política nacional. 
(POLINSKI; PINTO, p.1, 2015). 
 
No fim dos anos de 1970 houve a acentuação de movimentos por parte das 
famílias dos trabalhadores rurais, que se organizaram reivindicando o direito a terra: devido 
o apoio político-sindical e partidário da CUT e do PT, a massa ganhou força e obteve 
espaços políticos importantes de reivindicação, a saber, a materialização do mesmo no 1º 
Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Foi a partir daí que a 
questão agrária é recolocada em pauta na discussão da política brasileira. 
 Com tais desdobramento, a Constituição de 1988 foi formulada com diretrizes 
que aparentemente se comprometiam com a questão agrária e suas implicações, isto é, "[...] 
um sistema normativo adequado para a redução do grau de injustiça nas relações entre 
lavradores e proprietários capitalistas do solo rural; nos últimos anos verificou-se, em todo o 
país, um alastramento sensível da violência no campo"11 (ESCOLA, 2015, p.1). É evidente 
que questões como o apossamento ilícito de terras públicas estão presentes no meio rural 
com o apoio do Estado em favor dos membros das oligarquias locais, a defesa do 
agronegócio transformou-se como uma justificativa para o apossamento dessas terras. 
Segundo Cruz (2015), 
 
 
10
 O que se pode compreender por "nova questão agrária" é na verdade o agravamento dos efeitos 
contundentes e brutais do avanço do capital em detrimento dos trabalhadores e camponeses, a 
diferença é que agora o Estado passa a legitimar no sentido de proteger à burguesia rural através de 
forte investimento no agronegócio. 
11
 Segundo dados apurados pela Comissão Pastoral da Terra, da Confederação Nacional dos Bispos 
do Brasil, em 2007 ocorreram homicídios ligados a conflitos agrários em 14 Estados da federação, 
seis a mais do que no ano anterior. Análogo espraiamento territorial registrou-se quanto à expulsão 
de famílias do campo: enquanto em 2006 tais incidentes ocorreram em 10 unidades da federação, em 
2007 eles foram registrados em 14 Estados (ESCOLA, p.1, 2015). 
 
[...] as políticas governamentais de acesso à terra no Brasil não 
conseguem promover um pacto político de sustentação para um 
projeto de redistribuição de terras, apesar de possuir um dos mais 
belos diplomas sobre a questão agrária (...) Reforma agrária não 
consiste apenas na entrega da terra a quem não a tem e a quer, 
precisamos sim de uma reforma acoplada à política agrícola, que 
responda aos anseios do homem sem terra (p.1). 
 
Ao deparar-se com a realidade do campo frente os embates do MST com os 
grandes latifúndios e a luta por condições dignas de trabalho e pelo fim da violência e 
escravidão no campo, é fácil perceber que a autêntica Reforma Agrária ainda não foi 
alcançada pelos trabalhadores rurais, e que a Política Agrária brasileira nos dias de hoje é 
incapaz de reconhecer a importância do trabalhador rural e fazer a articulação entre a 
agricultura familiar e agricultura do agronegócio. 
 
IV. CONCLUSÃO 
 
A luta dos trabalhadores rurais, apesar de fortes expressões nas manifestações 
representativas no quadro de conquistas, desapropriou-se do vínculo com os direitos 
trabalhistas, e se expressa através de manifestações diretas e autônomas. Segundo 
Montaño e Duriguetto (2010), os trabalhadores do campo foram historicamente excluídos 
das leis trabalhistas conquistadas pelos trabalhadores urbanos e do direito de organização 
sindical. Por isso os Movimentos do campesinato ainda sofrem tamanha dificuldade na 
conquista da garantia de direitos em meio a desordem no que se refere à ocupação de 
terras brasileiras por estrangeiros e no cumprimento de uma autêntica reforma agrária. 
À vista disso, compreende-se a necessidade da articulação do movimento rural 
com a classe operária, pois as propostas da Reforma Agrária vão além de interesses de 
caráter corporativo sindical, elas perpassam interesses de classe que não se delimitam no 
campo, mais é constituída pelo ideal de uma nova Política Agrária que atenda não apenas 
aos interesses da burguesia rural, mais que também viabilize as condições necessárias e 
justas para o trabalhador mesmo em tempos de modernidade no campo. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. [Página inicial]. 
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso 
em: 16 nov. 2015a. 
 
 
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. [Página inicial]. Disponível em 
<http://www.mda.gov.br/sitemda/>. Acesso em: 16 nov. 2015b. 
 
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária. [Página inicial]. Disponível em <http://www.incra.gov.br/>. Acesso em: 16 
nov. 2015c. 
 
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