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O GOLPE MILITAR DE 1964 E A LEI DA ANISTIA DE 1979

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O GOLPE MILITAR DE 1964 E A LEI DA ANISTIA DE 1979
Brasil, 31 de março de 1964. Uma série de eventos políticos e institucionais, culminou, no dia 1 de abril de 1964, na deposição (à força) do presidente eleito, dois anos antes, João Goulart (o Jango), pelas Forças Armadas Brasileiras.
Quase 50 anos depois, esse período de nossa história ainda permanece sob uma nuvem de segredos e até mesmo a sua conceituação é controversa, já que para  muitos, o episódio tratou-se de uma revolução, enquanto que para outros tantos, o que se vivenciou naquele momento foi um autêntico golpe de estado.
Os defensores do movimento alegam sua legitimidade em face do relativo apoio popular que recebeu. Há época, de fato havia expressiva mobilização de setores mais tradicionalistas da sociedade, contrários às reformas propostas por Jango  e à participação política de setores populares, tradicionalmente excluídos do pacto de poder.
Posteriormente, prestaram apoio político ao movimento, o empresariado, a grande imprensa e a cúpula da Igreja Católica, o que inviabilizou o governo João Goulart e ao mesmo tempo forneceu o argumento que faltava para o desencadeamento do golpe que já vinha sendo gestado dentro da caserna desde os anos 40.
Como forma de justificar o rompimento com a ordem estabelecida, os militares alegaram a necessidade de romper com a legalidade para defendê-la da ameaça comunista representada pelo programa de reformas de João Goulart, que incluía reforma agrária, estatizações e nacionalizações. A proposta militar cumpria fielmente a imposição dos EUA, que através de seu Plano Marshall, ditou a política latino-americana do pós-guerra.
O conceito de revolução supõe transformações políticas, sociais e culturais no ordenamento jurídico-institucional e na estrutura econômica. Isso de fato ocorreu em 64. Mas só se pode falar de revolução quando a ruptura com a velha ordem estabelece novos padrões sociais que tenham por princípio assegurar a liberdade e a igualdade entre os homens.
Nesse ponto cai por terra o argumento revolucionário, já que o período inaugurado em abril de 1964, é dos mais tristes e funestos de nossa História, durante o qual a tortura, as prisões irregulares e o assassinato de inocentes promovidos pelo Estado, se tornaram rotineiros e cotidianos.
Contudo, após 15 anos de tirania o Regime Militar mostrava sinais de enfraquecimento. Em 28 de agosto de 1979, o então presidente João Figueiredo promulgou a (possivelmente) mais polêmica lei  de nossa história - a lei n° 6.683, popularmente conhecida como a Lei da Anistia.
Concebida e organizada pelos próprios responsáveis pela ditadura,, fica claro no texto da Lei, que não houve intenção alguma de se fazer justiça. Na verdade os donos do poder, diante da iminente derrocada do regime, trataram de garantir, de antemão, a sua própria impunidade.
Esta anistia, longe de buscar a reparação do mal realizado e responsabilizar os órgãos do Estado que se voltaram contra a população que deveria proteger, foi decretada com a clara intenção de evitar qualquer futura tentativa de se buscar a justiça.
O esquecimento mascarado de perdão, varreu para “debaixo do tapete” a violência sistemática e oficial praticada pelo Estado, escondeu as execuções e práticas ilícitas realizadas nos porões dos quartéis e delegacias, longe da vista da população.
Esta cadeia de disfarces e mentiras sustenta a Lei da Anistia. Embora ela  tenha servido para costurar a passagem pacífica do governo militar para um regime democrático, isto não significa que a sociedade deva se submeter ao seu arbítrio para sempre.
É preciso perceber que a Lei da Anistia, tal como ela foi feita, significou apenas mais um dos incontáveis arbítrios políticos e jurídicos da Ditadura.
O maior argumento dos defensores da Lei é que houve um “perdão mútuo”, já que os opositores ao regime também teriam cometido crimes.
Ocorre que não podemos considerar as torturas e homicídios de prisioneiros do Estado como crimes conexos aos crimes políticos dos opositores. Estes os cometeram em situação de combate. O Estado torturou e matou pessoas sob sua tutela, descumprindo a lei que deveria proteger.
Pessoas  que agiram com violência em defesa de sua liberdade não podem ser comparadas ao covarde aparato de violência estatal, que torturava e matava com o mero intuito de manter toda uma sociedade aterrorizada e em silêncio.
O verdadeiro sentido da anistia seria o de perdoar aqueles que usaram da violência pessoal como legítima defesa contra o terrorismo estatal e não para acobertar bandidos de farda.
Temos aí também a proposta de “esquecer e perdoar”. Como se pode estabelecer por decreto o esquecimento de torturas e humilhações? Como decretar que familiares esqueçam seus desaparecidos? Em que medida a história é esquecimento?
Muito ao contrário, um verdadeiro Estado Democrático tem um dever de memória e de justiça de reparar os danos de quem sofreu na carne os desmandos do passado.
Se um Estado se “esquece oficialmente” da ações criminosas de seus agentes, se torna cúmplice deste criminosos.
A Ordem dos Advogados do Brasil, propôs em 2010 Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (a ADPF nº 153), junto ao Supremo Tribunal Federal, questionando a aplicação da Lei de Anistia aos torturadores, já que, segundo a ação “a tortura não se inscreve entre os crimes políticos e conexos previstos naquela Lei” e, portanto, não poderia ficar impune.
O STF julgou improcedente esta ação. Na prática, o STF reproduziu o discurso da época em que se vivia sob a égide do medo e, além disso, criou um enorme débito para com a nossa história e com o nosso povo.
Anistia é perdão. Mas não se pode perdoar aquilo que não conhecemos. Para além das discussões jurídicas em torno da aplicabilidade lei a torturadores homicidas, vale o fato de que a Lei de Anistia não pode isentar o Estado de seu dever de investigar os fatos, nem retirar o direito fundamental dos familiares das vítimas da ditadura de saberem a verdade.

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