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Do Adimplemento e Extinção das Obrigações Da Dação em Pagamento ⌘ Conceito : A dação em pagamento é um acordo de vontades entre credor e devedor, por meio do qual o primeiro concorda em receber do segundo, para exonerá-lo da dívida, prestação diversa da que lhe é devida. Em regra, o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (CC, art. 313). No entanto, se aceitar a oferta de uma coisa por outra, caracterizada estará a dação em pagamento. Tal não ocorrerá se as prestações forem da mesma espécie. Preceitua o art. 356 do CC: “O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida”. Essa substituição conhece várias modalidades. Pode haver datio in solutum (dação em pagamento) mediante acordo; com substituição de dinheiro por bem móvel ou imóvel (rem pro pecúnia); de coisa por outra (rem pro re); de uma coisa pela prestação de um fato (rem pro facto); de dinheiro por títulos de crédito; de coisa por obrigação de fazer e etc. As obrigação se estingue mediante a execução efetiva de uma prestação, de qualquer natureza, distinta da devida (CC, art. 356). Se a dívida é em dinheiro, obviamente não constituirá datio in solutum (dação em pagamento) o depósito de numerário em conta corrente bancaria, indicada ou aceita pelo credor, porém, pagamento normal. A conclusão é a esma quando o devedor expede uma ordem de pagamento ou entrega um cheque ao credor. Todavia, o depósito, a ordem de pagamento e a entrega de um cheque podem configurar dação em pagamento se a prestação devida era diversa (entrega de um veículo ou um animal, p.ex.) e o credor concorda com as referidas formas de cumprimento, em substituição à convencionada. ⌘ Elementos Constitutivos: Do conceito de dação em pagamento como acordo liberatório, em que predomina a ideia da extinção da obrigação, decorrem os seus elementos constitutivos: Existência de uma dívida; Animus solvendi; Concordância do credor, verbal ou escrita, tácita ou expressa; Diversidade da prestação oferecida em relação à dívida originária. Não se exige coincidência entre o valor da coisa recebida e o quantum da dívida nem que as partes indiquem um valor. Pode, assim, o credor receber objeto de valor superior ou inferior ao montante da dívida, em substituição da prestação devida, fornecendo a quitação por um ou por outro. O que é da essência da dação “pro solutio” é a entrega de coisa que não seja a “res debita” em pagamento da dívida. ⌘ Natureza Jurídica: Denota-se pela redação do art. 356 do CC que a dação em pagamento é considerada uma forma de pagamento indireto. Não constitui novação objetiva, nem se situa entre os contratos. A dação em pagamento é essencialmente contrato liberatório, ao contrário dos demais contratos, cujo efeito é gerar uma obrigação. Tem a mesma índole jurídica do pagamento, com a diferença de que este consiste na prestação do que é devido, enquanto dação em pagamento consiste no solvere aliud pro alio, no prestar coisa diversa da devida. Trata-se, efetivamente, de negócio jurídico bilateral de alienação, pois o devedor dá o objeto da prestação para satisfazer a pretensão do credor, havendo um plus, que é solver a dívida. Constitui, assim, negócio oneroso e, em regra, real, pois se aperfeiçoa com a entrega de determinado bem em pagamento da dívida, com a finalidade de extingui-la por adimplemento, salvo quando a prestação substitutiva for de fazer ou não fazer. ⌘ Disposições Legais: Dação em pagamento e compra e venda: Dispõe o art. 357 do CC: “Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda”. Quando a prestação consiste na entrega de dinheiro e é substituída pela entrega de um objeto, o credor não recebe por preço certo e determinado, mas, sim, como satisfação de seu crédito. Todavia, caso se prefixe o preço da coisa, cuja propriedade e posse se transmitem ao credor, o negócio será regido pelos princípios da compra e venda, especialmente os relativos à eventual nulidade ou anulabilidade e os atinentes aos vícios redibitórios e à interpretação. Nessa hipóteses, a dação não se converte em compra e venda, mas apenas regula-se pelas normas que a disciplinam, pois se distinguem por diversas razoes. A aplicação dos princípios da compra e venda conduz à ilação (conclusão, dedução, entendimento) de que deve ser proclamada a sua anulabilidade quando feita por ascendente a descendente sem o consentimento dos demais e do cônjuge do alienante (art. 496) ou em fraude contra credores (arts. 158 e s.). Dação em pagamento de título de crédito: Dispõe o art. 358 do CC: “Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão”. Se tal hipótese ocorrer, deverá o fato ser notificado ao cedido, nos termos do art. 290 do CC, para os fins de direito, ficando o solvens responsável pela existência do crédito transmitido (CC, art. 295). A dação em pagamento, neste caso, sob a forma de entrega de título de crédito, destina-se à extinção imediata da obrigação, correndo o risco da cobrança por conta do credor. Se, no entanto, a entrega de títulos for aceita pelo credor não para a extinção imediata da dívida, mas para facilitar a cobrança do seu crédito, a dívida se extinguirá à medida que os pagamentos dos títulos forem sendo feitos, configurando-se, então, a datio pro solvendo. Evicção da coisa recebida em pagamento: Dispõe, por fim, o art. 359 do CC: “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros”. Como ocorre na dação em pagamento uma verdadeira compra e venda, como foi dito, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras desta, responde o alienante pela evicção, a qual funda-se no mesmo princípio de garantia aplicável aos contratos onerosos, em que se assenta a teoria dos vícios redibitórios, estendendo-se, porém, aos defeitos do direito transmitido. Constitui a evicção a perda da coisa em virtude de sentença judicial, que a atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato (CC, art. 447 e s.). Se quem entregou bem diverso em pagamento não for o verdadeiro dono, o que a aceitou tornar-se-á evicto. A quitação dada ficará sem efeito e perderá este o bem para o legítimo dono, restabelecendo-se a relação jurídica originária, inclusive a cláusula penal, como se não tivesse havido quitação, ou seja, o débito continuará a existir na forma inicialmente convencionada. 1
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