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Direito Econômico e Concorrencial 9º S Marco Aurélio Braga

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Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 1 
 
 
15/02/2016. 
Pressupostos preliminares. 
O que será tratado: o Direito Econômico é o ramo do Direito que trata diretamente da atividade 
econômica. Na disciplina será examinada a relação entre a Economia e o Direito, e vice-versa. 
“Toda decisão jurídica tem um valor econômico, e toda decisão econômica depende de um 
contexto jurídico” (pressuposto da Escola de Chicago) 
Exemplo do pressuposto acima: Lei do Bem, que gerou uma demanda por escritórios capazes de 
analisar a legislação e extrair dela os melhores benefícios. 
“Nunca se diz tanta norma para dizer o que tem, como tem, e como se dispõem os bens”: o 
mercado é cada vez mais tutelado pela sociedade, utilizando-se das regras de Direito Econômico. 
Conteúdos tratados: 
• Teorias sobre o surgimento social e jurídico do Direito Econômico; 
• Domínio da Constituição Econômica e leis infraconstitucionais de Direito Econômico; 
• Teoria jurídica de (e sobre) o direito econômico. 
“Tem muito mais de atividade estatal no desenvolvimento tecnológico de qualquer país”: a 
grande maioria das invenções da humanidade recente foram provocadas e influenciadas pelo 
Estado, para depois ser usadas pela iniciativa privada. 
Habilidades e competências: 
• Leitura estrutural de textos científicos, destacando as seguintes perguntas: 
o “de que trata o texto?” 
o “como desenvolver seus argumentos?” 
o “a que conclusão chegamos?” 
• Elaboração de raciocínio jurídico e econômico a partir dos textos 
• Análise crítica dos textos (e da sua problemática) 
 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 2 
 
 
22/02/2016. 
O Direito Econômico e a Organização Jurídica do Capitalismo. 
Epistemologia, conceitos e teoria do Direito Econômico como Ramo e como Método. 
 
P: Do que trata o texto? 
Trata da formação do Direito Econômico, dando ênfase aos momentos em que estes foram mais 
relevantes (I Guerra, Grande Depressão, II Guerra). 
• Crise do Direito: sofrendo impacto desses momentos, relevantes na História da humanidade, o 
Direito como conhecemos sofre uma crise, na qual a teoria se distancia da realidade social. 
• “Novo Direito”: faz-se necessário estabelecer novos paradigmas para o Direito, tendo em vista 
as consequências dos eventos que o impactararm anteriormente. 
 
 
P: Como desenvolve seus argumentos? 
Analisa do ponto de vista histórico o que esses acontecimentos foram, e seus impactos. 
• Primeira Grande Guerra: o grande diferencial desta guerra é que as cidades, e a população civil, 
passam a ser foco das batalhas juntamente com o poderio militar. Toda a organização do Estado 
passa a se voltar ao esforço de guerra, envolvendo, inclusive, a iniciativa privada (que é 
mobilizada totalmente para o conflito). 
• Crise de 1929: como consequência direta da guerra, na qual os Estados tomaram o controle da 
atividade econômica, estes mudam de status (de meros espectadores, árbitros, passam a 
tornar-se mais ativos na intervenção da economia). Tal papel se consolida principalmente por 
conta da Crise de ´29, efeito dos excessos do liberalismo na economia – e que, nos Estados 
Unidos, só começou a esboçar alguma reação utilizando-se das políticas formuladas por Keynes 
e “adotadas” por Roosevelt (New Deal). 
• O Estado é o órgão consciente da sociedade: a burguesia local vê o Estado como instrumento 
de consolidação do mercado nacional e da expansão do capitalismo (reserva de mercado 
interna, estímulo à exportação). Do ponto de vista do proletariado, este vê no Estado condições 
para obter a emancipação e benefícios próprios. 
• Movimentos constitucionais: o proletariado, brigando por seus direitos, pressiona para que 
estes sejam efetivamente constitucionalizados. É naquela época que as Constituições passam a 
ser “cartas de valores”, refletindo não somente as regras, mas os anseios da sociedade (como 
exemplos citamos a Constituição de Weimar e do México, da década de 30). 
 
 
O conteúdo econômico das decisões passa a permear toda a sociedade. 
 
Segunda Guerra Mundial: as “invenções” de Keynes se consolidam neste período, através de dois 
mecanismos relevantes, a saber, captação de poupança (por emissão de títulos da dívida pública) 
e repartição do produto social. 
A captação de poupança teve como objetivo financiar um volume de gastos crescentes do Estado, 
acentuado com a Guerra, mas também trazer de volta para o Estado o controle econômico, através 
da captação de valores na sociedade (que serão redistribuídos pelos entes estatais). 
 
O direito se penetra de conteúdo econômico, 
ao mesmo tempo em que a Economia se torna mais (...) jurídica. 
 
O Direito Econômico contemporâneo passa a organizar e transformar estruturas em função dos 
objetivos do Estado. Dessa época vem a organização supranacional que conhecemos, dividindo os 
Estados em desenvolvidos e subdesenvolvidos, de acordo com sua orientação econômica. 
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Hedemann afirma que trata-se de uma nova concepção dos valores jurídicos, travestida de Direito 
Econômico. Estabelece-se na época divisões na doutrina: alguns declaram que se trata 
simplesmente de um reenquadramento de recursos; entretanto, outra corrente doutrinária prega 
que se está falando de uma nova ordem constitucional econômica, que reordena os recursos da 
sociedade. 
Proposições para um Direito Econômico atual: 
• Toda a economia passa a ser dirigida para o desenvolvimento nacional 
• Função do Estado deixa de ser apenas assegurar a existência de condições gerais de 
manutenção do equilíbrio – o Estado AGE, não fica parado. 
• O processo social passa a ter grande importância. 
Objetivo fundamental: expansão da economia. 
Consequência mais relevante de todo esse processo: a responsabilidade do Estado na vida 
econômica passa a ser um princípio fundamental. 
• Foco nas estruturas jurídicas, que provocam a transformação do estado da técnica e das 
instituições do ordenamento jurídico – a norma jurídica orienta a economia. 
 
O Direito Econômico, como parte da Política Econômica, garante condições suficientes para 
operacionalização da economia (meios para se chegar a um determinado fim). Utiliza-se, para isso, 
de instrumentos específicos, seja por ações unilaterais (“imperium”) ou por entidades públicas 
descentralizadas (empresas públicas). Também pode utilizar-se da colaboração com agentes 
públicos, nos regimes de economia mista (contratos, PPPs, entre outros). 
 
Dupla instrumentalidade: o Direito Econômico pode ser analisado em duas perspectivas. Como 
ramo do Direito, serve para esclarecer os instrumentos e as estruturas jurídicas que organizam o 
processo econômico capitalista do mercado. Por outro lado, também pode servir como um método 
em si, um instrumento para traduzir os fundamentos da política econômica do Estado. 
 
A estrutura jurídica fornece instrumentos e meios para a expansão do sistema econômico. Esta 
função, no decorrer da História, foi delegada ao Estado, para que ele a consolide, usando o Direito. 
 
Exemplos de tais mecanismos de Estado: 
• Mecanismos de proteção à propriedade privada; 
• Garantia das liberdades individuais (inclusive a liberdade de contratar); 
• Regulação econômica dos modos de produção. 
 
 
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29/02/2016. 
Mudanças de paradigmas econômicos através da Constituição. 
Dois pontos a ressaltar: 
• Uma Constituição pode mudar radicalmente o modelo econômico, alterando seu foco do 
modelo individual para o coletivo (e vice-versa) 
• A CF/88 tentou efetuar essa mudança, mas ficou no meio docaminho, gerando como 
consequência um Estado em crise. 
 
Direitos individuais vs direitos sociais: 
• “Liberdade, igualdade, fraternidade: o mote da Revolução Francesa mudava radicalmente 
a ênfase em quem detém o poder. Anteriormente todos os direitos eram privilégio do rei; 
como efeito da burguesia que toma o poder, os direitos individuais se fortalecem: 
o Garantias individuais: o indivíduo está protegido dos excessos do Estado; 
o Lei / Justiça (tutela): a Lei garante que o indivíduo estará protegido; caso não seja 
dessa forma, o Judiciário fará com que seus direitos sejam preservados; 
o Tutela reativa: o indivíduo pede a ação do Estado (ele não age sem provocação do 
cidadão, reagindo à ofensa); 
o Prestação negativa: o que se exige do Estado é uma obrigação a ser cumprida, 
quase sempre de NÃO fazer. 
• Revolução Industrial: com a capacidade de produzir muito mais com muito menos, 
especificamente na França e na Inglaterra, o uso de trabalho pelo capitalista chega a um 
nível exorbitante (12, 16 horas de labor contínuo). Os trabalhadores passam a lutar por seus 
direitos, que envolvem a libertação da exploração do homem pelo homem; como resposta 
do Estado, e da sociedade da época, são concedidos direitos, de caráter social. 
o Caráter prestativo: o Estado passa a prestar serviços, garantindo os direitos sociais, 
caracterizando um papel mais proativo dos entes estatais. 
o Constituição: a fim de se forçar que sejam cumpridos tais objetivos, estes são 
inseridos no texto constitucional (obrigando-se a garantir os direitos). 
o Planejamento: toda prestação de serviços do Estado passa a ser planejada, para 
curto, médio e longo prazo. 
o Prestação positiva: o Estado FAZ, não só deixa de fazer. 
 
 
O Estado que prioriza direitos individuais não é o mesmo que garante direitos sociais. 
 
Os principais mecanismos que permitem escolher entre um Estado mais “individualista” ou um 
Estado mais “socializado” são a Constituição econômica e a Constituição financeira. 
• Constituição econômica: são os instrumentos disponibilizados ao Estado para efetivação da 
ordem econômica (CF, art. 170 - 192). 
• Constituição financeira: são os mecanismos que fazem a consolidação da ordem econômica 
no tocante ao orçamento público, à moeda e ao crédito. Do ponto de vista efetivo, fazem a 
organização do excedente da economia. 
 
Desenvolvimento sócio-econômico: Celso Furtado define desenvolvimento econômico como “a 
capacidade de desenvolver de forma autônoma a tecnologia de um país, e, com os frutos de tal 
progresso, tornar a sociedade mais homogênea”. 
 
 
“(...) a partir do momento em que eu escolho uma trajetória de desenvolvimento 
eu doto o meu Estado de mecanismos para viabilizá-la” 
 
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No caso específico do Brasil (década de 80-90), a escassez súbita de recursos da época, aliada com 
um sistema cada vez mais perdulário, faz com que o Brasil tenha que adotar um recurso, o dos 
títulos da dívida pública, que derruba a economia como um todo. 
 
Várias soluções foram tentadas para tentar ajustar corretamente a equação (“pegar dinheiro no 
mercado para financiar a geração de dinheiro”) – seja pela reforma gerencial dos tempos de FHC 
ou pela retomada desenvolvimentista dos “anos Dilma”. O problema maior, referente aos juros da 
dívida (47% do total), persiste: como deixar de financiar uma dívida pública insistente? 
 
 
“... passadas três décadas, os problemas estruturais ainda estão à nossa janela.” 
 
 
 
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07/03/16. 
Formação do Direito Econômico. Formação do Estado Social-econômico e seu desenvolvimento. 
Função promocional do Direito (Norberto Bobbio): há uma distinção entre os papéis do Estado no 
decorrer da História, ora agindo com proteção, ora com repressão. 
• Caráter repressivo: comando negativo; tendência à punição (refletindo-se na norma); baseia-
se, sobretudo, em obrigações de “não fazer” (proibir); 
• Caráter protetivo: promoção de comportamento; uso de prêmios (comando que leva ao 
comportamento), tendo foco no encorajamento de condutas. 
 
É bom que se entenda que ambas as formas de se ver o Direito estão carregadas de ideologia, seja 
agindo com caráter repressivo ou protetivo. No caso do Estado protetor, vale afirmar que este é 
mais efetivo, pois se encontra em constante movimento, ou transformação. 
 
“Não fazemos Direito neutro”: o Direito vai responder a um determinado momento histórico pelo 
qual passa um país, uma sociedade ou uma realidade. O Estado é ora liberal, ora social, 
dependendo das necessidades e exigências de um determinado momento da História. 
 
1930: Getúlio Vargas firma pactos com a elite da época, para transformar o Brasil de sociedade 
agrária em economia industrializada. Politicamente, utiliza-se da centralidade das decisões 
políticas, resumida em três fundamentos: Estado forte, financiamento público e planejamento. 
 
 
Esse é o tempo da organização burocrática do Brasil, através do DASP, e o gerenciamento dos bens 
do Estado, principalmente o minério (e que, posteriormente, foi implantada como sucesso em 
indústrias como o petróleo e a indústria automobilística). 
A legislação passa a impor que o Estado é dono do que está no seu subsolo, que o gerencia através 
de autarquias específicas, como o DNPM, chegando, inclusive, à operação direta, por empresas 
como a CSN, Vale do Rio Doce – e, num momento posterior, a Petrobras. 
 
Todo esse movimento tem como objetivo fortalecer uma indústria de base genuinamente brasileira, 
em um processo que se intensifica bastante na década de 50, e que sempre teve um objetivo: fazer 
com que o povo brasileiro viesse a usufruir dos bens comuns da pátria em seu favor. 
 
“Hoje (2016) a participação da indústria nacional é de 9%. O mesmo percentual de 1929”. 
 
O Estado nacional se cria em um processo repressivo, mas se modifica em um caráter protetor e 
persiste assim até o golpe de 1964, onde há uma ruptura. Em 1988, nova Constituição tenta retomar 
o caráter protetor e nacionalista do governo – deixando-nos com diversos dilemas a respeito. 
 
 
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14/03/16. 
“Um sonho intenso”. 
 
Economia e política desejadas → mecanismo institucional → política legal 
 
 
“... é só quando prevalecem as forças que lutam pela efetiva melhoria das condições de vida da 
população que o subdesenvolvimento se torna em desenvolvimento.” (Celso Furtado) 
 
Carlos Lessa: 
• O que é ser Brasil? O que é ser brasileiro? 
• I Guerra Mundial: o Brasil aprendendo a entender o Brasil, em todos os seus detalhes. 
• “... você tem uma redescoberta do Brasil, porque abandonamos o paradigma europeu.” 
• “Economia sozinha não vai para lugar algum”. 
 
1930: o Brasil, então uma república dependente do café, não era exatamente uma “banana 
republic”. O café era nossa única riqueza – mas era nosso. 
• Com o “crash” de 29, Getúlio começa pela defesa da cafeicultura, impedindo que seu preço 
fosse totalmente deteriorado. Foi a época da queima do café. 
• A velha oligarquia estava quebrada. Os novos gestores – Vargas e os tenentes – veem a 
oportunidade para reciclar o país, através do reinvestimento. 
 
João Manuel Cardoso de Mello: 
• Getúlio e o mote do novo tempo: “nós precisamos montar a indústria pesada”. 
• Prioridade para aço, petróleo e outros insumos. 
Maria da Conceição Tavares: 
• Desenvolvimento de São Paulo, ainda ocorrido nos tempos do café; 
• A partir de 30, ascende a burguesia média paulista, permitindo a industrialização visando 
ao mercado interno; 
 
1937: o fechamento do Congressoe o início do Estado Novo anunciam, ao mesmo tempo, uma 
proposta de desenvolvimento para o país. Nesse contexto, um grande paradoxo: Vargas, apesar de 
ditador, é o grande construtor do Estado brasileiro. 
• O Estado construtor proposto por GV tem pouco paralelo no contexto mundial. 
 
Digno de nota: a mobilização do povo, em torno do sindicato e da condição das pessoas como parte 
de um plano maior (“Trabalhadores do Brasil ...”). 
II Guerra Mundial: Vargas troca a neutralidade brasileira, e o posterior apoio aos aliados, por 
investimentos na área siderúrgica; prepara-se a redemocratização. 
 
Getúlio, presidente democrático: 
• Escolha do modelo rodoviário para o país; 
• Petrobras (o petróleo, efetivamente, nosso); 
• PNDE 
 
O que sustentava o esquema: a aliança entre PTB e PSD, que gera o Estado desenvolvimentista e 
moderno para uns, e extremamente atrasado para outros. 
 
“... não deve ser eleito; se eleito for, não deve ser empossado; se empossado, deve ser deposto.” 
 
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Competição entre GV e o exército, altamente anticomunista: 
• “a paranoia anticomunista foi, em grande parte, responsável pelo suicídio de Vargas” 
• Vargas, com sua morte, deu o último golpe político de sua História. 
 
Juscelino Kubitschek: 
• A conciliação entre todos os setores da economia brasileira; 
• O resplendor da cultura brasileira – “a civilização original dos trópicos” 
• Brasília, o símbolo dos “50 anos em 5”, a “marcha para Oeste” que Getúlio tentou e não 
conseguiu (indo além de Tordesilhas, e integrando o país). 
• O GEA: capital estrangeiro e nacional, trabalhando debaixo da batuta do Estado. 
• “Um projeto de Estado, mas não um projeto de sociedade”, que não seria possível sem as 
conquistas proporcionadas pelo trabalhismo getulista. 
 
 
“O projeto de Juscelino é o de Getúlio, sob as condições possíveis”. 
 
Junto com o desenvolvimento econômico, avança o subdesenvolvimento: 
• O país das cidades se separa, divorcia-se, do país rural, pobre; 
• Um Estado voltado às classes médias; 
• Amplia-se o fosso, posteriormente, pelos governos militares e pelo neoliberalismo (FHC). 
 
 
“O desenvolvimentismo foi conservador. Ponto. Parágrafo.” 
 
Jânio Quadros e a crise que desembocou em 64: 
• JK deixou um governo com alta inflação; 
• Jânio acelerou o processo inflacionário (de 30% para 50% a.a.); 
• Progressista externamente, conservador internamente 
• Não agradou a gregos, nem a troianos. Tentou a renúncia, falhou politicamente. 
João Goulart: 
• A crise e a introdução do parlamentarismo, derrotado em plebiscito; 
• Com plenos poderes, Jango tenta implementar as reformas de base, projeto capitalista que 
envolvia, em suma, as reformas urbana e rural; 
• Não estava em jogo a revolução social. Não havia condições objetivas para isso. 
 
“Para aprofundar o capitalismo, temos que ter uma reforma agrária.” 
 
Uma reforma agrária era vista como um projeto essencialmente comunista. Os militares viam nisso 
a porta da revolução, aquilo que jamais poderia ocorrer. 
 
“64 aconteceu porque as elites que contam quiseram: Rio, São Paulo, Brasília. 
A classe média foi que deu o golpe, mais até do que os militares.” 
 
Desde a década de 30 os militares se construíram como uma força autônoma, disposta a assumir o 
governo quando chegasse a hora – e a não larga-la tão cedo. 
 
“O que é paradoxal é que do ponto de vista da Reforma do Estado não foi feito diferente do que 
estava previso no Plano Trienal”: exceção é a falta de controle de capitais, que persiste até hoje. 
 
 
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Do ponto de vista social, conquistas importantes: 
• INSS (primeiro esforço na unificação dos programas sociais); 
• Esforço constante pelo desenvolvimentismo, que desemboca no “milagre brasileiro”. 
 
O milagre brasileiro foi, acima de tudo, um milagre perverso: durou enquanto o petróleo estava 
barato; mas, enquanto isso, garantiu a estabilidade da classe média brasieira. 
 
A “ilha de prosperidade” brasiieira: o desenvolvimento era extremamente necessário para manter 
viva a chama do autoritarismo. Em uma ironia gritante, repete-se, em escala gritante, o que JK tinha 
feito, com investimentos maciços na infraestrutura e na indústria pesada. 
 
Observe-se que o rompimento de acordos com os Estados Unidos foi fruto não só do 
desenvolvimento da indústria nuclear brasileira, mas de questionamentos sobre os direitos 
humanos. Fazia-se necessário uma indústria forte, e a solução foi o desenvolvimento pelo Estado. 
 
 
“A esquerda nunca esteve no poder. Foram os militares que fizeram o desenvolvimentismo”. 
 
II PND: acentua-se o autoritarismo, e o controle do capital sob a batuta insuportável do Estado. Em 
consequência disso, surpreendentemente, os empresários passam a buscar a democracia. 
 
“Não se compreende o ressurgimento do movimento político sem o movimento operário”. 
 
As condições da indústria automobilística da época, extremamente desgastantes, proporcionavam 
o surgimento de um movimento operário atuante. 
 
“... anistia ampla, geral e irrestrita ...” 
 
1979: segunda crise do petróleo. 
• Pagando juros e mais juros, e endividando-se cada vez mais, o Brasil quebra. 
• O resultado: uma crise de crescimento violenta, que durou duas décadas. 
 
“Os militares descobriram que só não podiam fazer uma coisa: sentar na baioneta.” 
 
1984: após grande luta pela redemocratização, Tancredo é eleito, mas não toma posse. Morre 
pouco depois, deixando Sarney, seu vice, como o novo presidente. 
 
O grande legado da época: a Constituição de 1988. 
 
 
 
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21/03/2016. 
Constituição dirigente, Constituição econômica e Ordem econômica. 
 
As Constituições do pós-guerra possuem uma característica marcante: são declarações de direitos 
sociais, atendendo ao princípio da igualdade material. Conforme Lassalle, estas são forças ativas 
que se movem em direção ao objetivo social da carta. 
 
Constituição Econômica: 
• Natalino Irti: toda Constituição tem uma unidade em seus vários campos, inclusive o 
econômico. Deve-se ler a carta observando o todo, não somente uma parte. 
• Não se pode interpretar a Constituição Econômica de forma isolada. Ela é parte integrante, e 
não autônoma, da Constituição total – e a partir desta presença (o econômico contido no texto 
constitucional) é que se elabora a política econômica do Estado. 
 
Ordem Econômica nas Constituições brasileiras: 
• 1934: Ordem Econômica e Social, no Título V (art. 115 a 140) 
o Prevê as atividades que são monopólio do Estado 
o Fomento da economia popular (pequenas empresas) 
o Proteção da concorrência 
o Separação da propriedade do solo do subsolo (o Estado é dono do que está debaixo 
da terra → é possibilitada a atuação proativa do Estado no uso dos recursos naturais). 
o Federalismo cooperativo para combate à seca. 
• Desde 1934, todas as Constituições passam a incorporar capítulos referentes à Ordem 
Econômica e Social, com os seguintes objetivos: 
o Instrumentos para a intervenção do Estado na economia; 
o Previsão de Direitos Trabalhistas. 
o Questão social: vinculação do trabalho com a cidadania (a Carteira de Trabalho, 
símbolo da integração à sociedade – “eu sou trabalhador, dotô”) 
• 1937: intervenção da economia “para cuidar dos interesses da nação” 
o Conselho de Economia Nacional: articulação dos interesses nacionais; 
o Repressão aos crimes contra a economia popular. 
• Observação relevante: o Direito Concorrencial nasce não como consequência do liberalismo, 
mas como protetordo consumidor (Dec. Lei 1716/39). 
• “Lei malaia” (Dec. Lei 7666/45): 
o Define as formas de abuso do poder econômico; 
o Procedimentos para fusão e incorporação de empresas definidos pelo Estado; 
o Tudo passava pela CADE, cuja composição era mais extensa do que hoje 
(representantes do Ministério do Trabalho e da Fazenda, e das classes produtoras). 
Possui interferência setorial, participação política e assistência técnica. 
• Funções da CADE: 
o Verificar atos contrários aos interesses da economia nacional; 
o Notificar as empresas para cessação de atos ilícitos apontados; 
o Em caso de não cumprimento, aplicar intervenção nas empresas; 
o Em casos extremos, desapropriação. 
• Decreto-Lei 8162/45: altera a CADE substancialmente. 
 
Constituição de 1946: ênfase forte na redução dos desequilíbrios regionais, gerados por séculos de 
exploração voltada para a exportação junto às metrópoles. 
 
Marcha para o Oeste: seu símbolo máximo era a transferência da capital (fundação de Brasília), que 
faz sentido como projeto de integração do território nacional. 
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Retornando à Constituição de 1946: ênfase forte na redução dos desequilíbrios regionais, tendo 
como instrumentos principais: 
• Favorecimento à cooperação e integração nacional; 
• Atuação do Estado e planejamento como elementos essenciais ao desenvolvimento. 
• Intervenção do Estado, com os seguintes objetivos: 
o Correção dos desequilíbrios causados pelo mercado; 
o Criação de alternativas para o desenvolvimento de setores com pouco interesse da 
iniciativa privada. 
• Proteção à concorrência (art. 146) 
 
Exemplos de planejamento econômico da época: 
• Planos Econômicos: 
o SALTE (Saúde, Alimentos, Transporte e Energia); 
o Planos de Metas; 
o Plano Trienal; 
o PND (I e II) – já na época dos militares. 
• Indústria automobilística: 
o Criação das indústrias de base → Mercado interno robusto → Autopeças 
o Não houve condições de terminar o processo, a fundação de uma fábrica nacional. 
 
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina: fonte dos grandes planos de desenvolvimento 
da época (ainda ativa). Influenciou bastante a Constituição de 46 (de prestador de serviços se tornou 
agente responsável pela transformação das estruturas econômicas, promotor da industrialização). 
• O principal ponto: foco no mercado interno como elemento dinâmico e unificador de um 
sistema econômico nacional. 
• A ideia: “Vamos criar um mercado e produzir aqui o que queremos. Vamos proteger a nossa 
indústria da concorrência predatória estrangeira”. 
 
Ditadura militar: desvirtua-se o modelo de desenvolvimento ancorado no mercado interno, 
conforme a Doutrina da Segurança Nacional. O objetivo passa a ser aperfeiçoar a economia para 
desenvolver a “indústria nacional”, seja ela de capital nacional ou estrangeiro. Outras políticas 
relevantes dessa época “internacionalizante” foram: 
• Concentração de capital: 
• Congelamento de salários; 
• Limitação de créditos ás pequenas empresas; 
• Alta intervenção estatal para expandir o setor privado estrangeiro; 
• Reforço à dependência estrutural da economia. 
Os Planos Nacionais de Desenvolvimento reforçaram essa visão, beneficiando as grandes empresas 
(na maioria multinacionais), ampliando, na prática, a visão dependente do mercado externo. 
 
Cartas de 1967 e 1967: 
• Recepcionam a Lei 4137/62; 
• Na prática, dificultam a concorrência, concentrando o mercado. 
Outro fato relevante dessa época: a focalização da poupança para financiar o consumo das classes 
média e alta. É mais importante consumir o que está na moda, o que vem de fora, do que investir 
na produção (“o que vale é APARENTAR riqueza, não GERAR riqueza”). 
 
“Consequência de todo esse processo: o Brasil quebrou.” 
 
 
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Constituição de 1988: 
• Voltada para transformar as estruturas sociais e econômicas; 
• Art. 170: os princípios da Ordem Econômica; 
• Art. 171 a 181: estruturação da Ordem Econômica, definindo o papel do Estado no domínio 
econômico, com o objetivo de organizar a economia em função do social. 
Ordem econômica no espaço: 
• Política urbana (art. 182 e art. 183); 
• Política agrícola, fundiária e reforma agrária (art. 184 a 191) 
Ordem econômica no tempo: 
• Organização do crédito e da distribuição dos recursos (art. 192). 
 
 
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04/04/2016. 
Direito e subdesenvolvimento. O ornitorrinco ... 
Caso da SUDENE: juntar todos os governadores oligarcas com o objetivo de se criar um sistema de 
desenvolvimento para a região. 
 
“Será que não dá para desenvolver um país sem esses dois lados exacerbados? O país que 
consegue produzir tecnologia médica avançada, e não consegue desapropriar uma fazenda?” 
 
O ornitorrinco: urbanizado, com força de população no campo; infraestrutura de serviços 
extremamente diversificada, mas sem cultura e serviços; por um lado, extremamente desenvolvido, 
mas por outro, altamente subdesenvolvido. 
Bancos: 
• 1/10 da produção do PIB do Brasil, mas apenas 28% dos empréstimos da economia; 
• Nos países desenvolvidos, proporção de 106 a 140% 
• Setor financeiro, que serve para ganhar muito dinheiro, mas não para distribui-lo. 
População: 
• Extremamente urbana, mas voltada apenas a serviços; 
• Desestrutura das funções produtivas, tanto urbanas quanto rurais. 
 
“Até hoje, vimos as tentativas de desenvolvimento de Estado Nacional, mas todas fracassaram; 
porque isso ocorreu? Quais os efeitos ruins para a sociedade?” 
 
 
O Direito é uma forma de superar o subdesenvolvimento? É possível colocá-lo na Constituição? 
 
Informações esparsas a respeito do assunto: 
• “75% do PIB brasileiro é exposto a algum tipo de ‘royalties’, transfere lucro” 
• Sistema de patentes na Saúde: a posição do Brasil no respeito às patentes do produto 
farmacêutico acabou deteriorando toda a indústria. “Quebramos o sistema brasileiro por 
conta do Trips”. 
• Celso Furtado e a aposta na criatividade do Brasileiro: quilombos, samba, movimento 
artístico-cultural (Bossa Nova, produto de maior valor agregado). 
• Lincoln: a escravidão é uma desculpa histórica para esfumaçar a criação do Império 
americano. A Guerra de Secessão foi um pretexto para industrializar o país. 
• “Para o Estado o gasto público é uma bênção” (Alexander Hamilton) 
• “Faz falta um projeto nacional.” 
• “A gente precisa entender como os instrumentos políticos influenciam o Direito.” 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 14 
 
 
“O ornitorrinco”. Comentários a respeito do texto. 
 
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/514122-o-capitalismo-brasileiroornitorrinco-gera-o-brasil-
invertebrado-entrevista-especial-com-reinaldo-goncalves 
 
IHU On-Line – De que maneira Chico avalia o moderno capitalismo brasileiro? 
 
Reinaldo Gonçalves – O subdesenvolvimento brasileiro era e é uma “produção” do capitalismo. O 
“subdesenvolvimento é uma formação capitalista e não simplesmente histórica”. Como mostrou Chico de 
Oliveira, se, por um lado, é verdade que fatores endógenos sejam determinantes dos padrões de dominação, 
acumulação e distribuição (como ocorreu na Era desenvolvimentista, 1930-79), também é verdadeiro que o 
capitalismo brasileiro é subdesenvolvido, subordinado. Não é por outra razão que neste capitalismo o capital 
estrangeiro tem papel protagônico. O desenvolvimento brasileiro é caudatário. Por exemplo, nos últimos anos 
a desindustrialização e a reprimarização da economia brasileira refletemexatamente esta situação. 
 
 
IHU On-Line – De que forma Chico define “O Ornitorrinco”? Em que sentido este conceito ajuda a qualificar 
a espécie de capitalismo que se gerou no Brasil? 
 
 
Reinaldo Gonçalves – O capitalismo subdesenvolvido da Era desenvolvimentista gerou, em fase posterior do 
seu ciclo de vida, um capitalismo “malformado, a meio caminho”. É o que Luiz Filgueiras chama de Modelo 
Liberal Periférico. Este modelo caracteriza-se por: “liberalização, privatização e desregulação; subordinação e 
vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro. O modelo é liberal porque é 
estruturado a partir da liberalização das relações econômicas finternacionais nas esferas comercial, produtiva, 
tecnológica e monetário-financeira; da implementação de reformas no âmbito do Estado (em especial na área 
da previdência social) e da privatização de empresas estatais, que implicam a reconfiguração da intervenção 
estatal na economia e na sociedade; e de um processo de desregulação do mercado de trabalho, que reforça 
a exploração da força de trabalho. O modelo é periférico porque é uma forma específica de realização da 
doutrina neoliberal e da sua política econômica em um país que ocupa posição subalterna no sistema 
econômico internacional, ou seja, um país que não tem influência na arena internacional, ao mesmo tempo 
em que se caracteriza por significativa vulnerabilidade externa estrutural nas suas relações econômicas 
internacionais. E, por fim, o modelo tem o capital financeiro e a lógica financeira como dominantes em sua 
dinâmica macroeconômica”. 
 
Com o Modelo Liberal Periférico, os países geram o capitalismo malformado-ornitorrinco que tem os vícios e 
defeitos do capitalismo liberal e os defeitos e vícios das estruturas econômicas, sociais, políticas e 
institucionais da periferia. 
 
O capitalismo brasileiro – ornitorrinco – gera o Brasil invertebrado! 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 15 
 
 
 
IHU On-Line – No que consiste a nova classe social brasileira, para Chico? 
 
 
Reinaldo Gonçalves – Outra importante contribuição de Chico de Oliveira é a ideia de hegemonia às avessas, 
que é fundamental para se compreender o Brasil invertebrado. Nos últimos anos, “parece que os dominados 
dominam, pois fornecem a ‘direção moral’ e, fisicamente até, estão à testa de organizações do Estado, direta 
ou indiretamente, e das grandes empresas estatais. Parece que eles são os próprios capitalistas, pois os 
grandes fundos de pensão das estatais são o coração do novo sistema financeiro brasileiro, e financiam 
pesadamente a dívida interna pública. Parece que os dominados comandam a política, pois dispõem de 
poderosas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado”. Nos governos Lula e Dilma, “enquanto as classes 
dominadas tomam a ‘direção moral’ da sociedade, a dominação burguesa se faz mais descarada”. 
 
IHU On-Line – Em que medida as críticas de Chico de Oliveira ao desenvolvimentismo nos anos 1930-72 
podem ser estendidas ao novo desenvolvimentismo no século XXI? 
 
 
Reinaldo Gonçalves – Chico alertou sobre o desvio criado pelo pensamento desenvolvimentista: “a teoria do 
subdesenvolvimento sentou as bases do ‘desenvolvimentismo ’ que desviou a atenção teórica e a ação 
política do problema da luta de classes, justamente no período em que, com a transformação da economia 
de base agrária para industrial-urbana, as condições objetivas daquela se agravaram”. 
 
 Nos últimos anos, o novo desenvolvimentismo está fazendo a mesma manobra desviacionista ao focar nos 
problemas macroeconômicos de curto prazo e negligenciar questões importantes para o desenvolvimento: 
mudanças na estrutura de propriedade; estrutura tributária e distribuição de riqueza; vulnerabilidade externa 
estrutural nas esferas comercial, produtiva e tecnológica; influência de setores dominantes (agronegócio, 
mineração e bancos); e viés no deslocamento da fronteira de produção na direção do setor primário. 
 
O novo desenvolvimentismo desconhece o conteúdo de classes e os interesses dos setores dominantes 
(bancos, agronegócio, empreiteiras e mineradoras) que configuram os padrões de dominação, acumulação 
e distribuição no Brasil no século XXI. 
 
 
IHU On-Line – As contribuições de Chico de Oliveira são importantes para a análise da atual realidade 
brasileira? 
 
 
Reinaldo Gonçalves – Elas são fundamentais, não somente pela questão do método como das ideias-chave. 
 
No início do século XXI, o Brasil é a simbiose entre o moderno e o arcaico, é o capitalismo malformado-
ornitorrinco marcado por ineficiência sistêmica, que depende cada vez mais do setor primário-exportador e 
que se sustenta com a hegemonia às avessas. 
 
O Modelo Liberal Periférico no Brasil se caracteriza, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; 
crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta 
ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de 
longo prazo. 
 
Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observa-se: invertebramento da 
sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições e sistema político corrupto e clientelista. 
 
É o país do desenvolvimento às avessas. 
 
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Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 16 
 
 
18/04/2016. 
Aspectos do financiamento de longo prazo. 
 
Para falarmos de limitação à soberania, precisamos entender o que é soberania econômica. Num 
primeiro aspecto, esta tem a ver com a capacidade de autodeterminação: um Estado soberano 
deve garantir economicamente sua “independência” dos demais. 
 
O Brasil pode ser considerado um país soberano? 
• Quais os elementos que constrangem a soberania de um país? 
• Quais as estruturas que podem constranger a soberania brasileira? 
 
Retornando ao Ornitorrinco ... 
• O setor financeiro lucra horrores no Brasil, MAS não empresta o suficiente; 
• Setor financeiro deficiente significa: 
o Crédito escasso; 
o Dificuldade em correr riscos. 
• Estímulo ao lucro: colocando o dinheiro no banco, um investidor pode ganhar 4% a mais do 
que a inflação (muito melhor do que investir na produção brasileira). 
 
 
Mas não é só o dinheiro que justifica a falta de soberania ... 
• Economia agrária (atividade minerária, agropastoril): grande utilização, mas de baixo valor 
agregado. Como os produtos de alto valor agregado são desejados, o que ocorre é que se 
exporta cada vez mais para comprar cada vez menos. 
• Um dos efeitos mais nefastos desta política é a segregação, utilizada para proteger o seu 
patrimônio, já que a disputa de classes gera insegurança. 
• O motivo central: desigualdade social, que gera injustiça. 
 
 
Outro fator relevante é a pouca geração de excedente ... 
• O dinheiro que sobra não consegue ser investido no país, pois tudo está sendo enviado para o 
consumo (“mal se ganha para pagar o almoço, ou as despesas”). 
 
 
Como nossa sociedade só valoriza o consumo, não há poupança ... 
• Em consequência de tal aspecto, o dinheiro que sobra no mercado é baixo; 
• Como efeito imediato, temos alta dos juros e concentração de crédito. 
o Cartão de crédito: juros de 250% a. a.; 
o Duplicata: 450% ao ano de juros. 
 
 
“Pai rico, filho nobre, neto pobre” 
(o que foi ganho pelas primeiras gerações é “queimado” pelas seguintes) 
 
 
Industrialização tardia ou demorada: 
• A geração de riqueza, mesmo com o processo industrial, é insuficiente para atender às 
demandas, tanto da sociedade como do país. 
• O único instrumento possível para se romper o ciclo do desenvolvimento seria a adoção de 
uma política de Estado voltada ao desenvolvimento. 
Direito Econômico e Concorrencial9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 17 
 
 
 
 
“A gente tenta neutralizar as questões de política econômica” 
(como se não existisse elemento político envolvido em tais questões) 
 
Desenvolvimentismo vs monetarismo – a receita da nossa tragédia: 
• O Estado financiava a expansão da indústria através da criação de estatais (Getúlio); 
• JK faz os “50 anos em 5”, prosseguindo com a espiral do desenvolvimento; 
• Os militares rompem o processo, internacionalizando a dívida interna para manter 
artificialmente o sucesso do “milagre econômico brasileiro”. 
• Passando a responder pelo crédito da dívida pelos credores privados, o Estado se endivida. 
 
Nos anos 90, o desafio se impõe: tentar domesticar a economia dos Estados. Os entes da federação 
passam a ter dificuldades imensas para honrar seus compromissos, devido à espiral crescente dos 
juros da dívida pública, que consomem a maioria do dinheiro público. 
 
Esta espiral dos juros, aliados à Lei de Responsabilidade Fiscal (que impede o Estado de se 
endividar) torna a situação econômica dos Estados praticamente insustentável. 
 
A visão da economia do Estado como uma economia doméstica (em que toda conta deve fechar) e 
de que a despesa deve ser mantida no nível mais baixo possível, traz consequências para o 
gerenciamento dos recursos públicos: 
• Privatização de empresas estatais (sucateamento do sistema de desenvolvimento); 
• Redução do tamanho do Estado para se adequar à despesa; 
• Esforço total para o pagamento dos juros (e não para a prestação de serviços). 
Políticas públicas foram desenvolvidas recentemente para fazer determinados setores da economia 
(os “campeões nacionais”) sustentarem a economia, sem sucesso. 
 
A condição do Estado como prestador de serviço público (e como viabilizador daquilo que foi 
“prometido ao país pela Constituição de 1988) vai se inviabilizando, já que tudo o que o país 
arrecada é utilizado para pagar a dívida pública. 
 
“A estrutura no Brasil é moldada única e exclusivamente para financiar os países do Centro” 
(conhecidos também como países desenvolvidos) 
 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
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25/04/2016. 
Aspectos do financiamento de longo prazo. Limitadores internos. 
 
Inúmeras são as limitações externas que um país pode sofrer, no tocante à sua soberania, tais como 
adesão a tratados e o respeito às cortes internacionais e seus códigos (como o Pacto de San José da 
Costa Rica). Os maiores limitadores para o desenvolvimento, contudo, são de ordem interna. 
 
 
“Toda norma jurídica tem um contorno de instituto econômico” 
 
O exemplo do Código Civil de Napoleão: todos passam a ser sujeitos de direitos, podendo ter as 
relações jurídicas que desejarem. A herança passa a ser objeto do comércio; aqueles que quiserem 
arriscar-se nos negócios tem todo o direito a fazer isso. 
 
“Quando eu introduzo uma mudança na norma, o impacto econômico é gigantesco”. 
 
A primeira pergunta a se fazer, ao observar uma norma, é: “qual seu objetivo?” Toda norma deve 
ter uma finalidade, servindo a um planejamento estatal prévio. 
 
O segundo passo, ao observar uma norma, é “perguntar-lhe”: 
• Qual seu contexto histórico? 
• Qual sua função? A que se destina? 
 
A dívida pública, na História econômica americana, serviu à expansão do capitalismo. Todos os 
movimentos que os Estados Unidos fizeram foram utilizando dinheiro público , desde a Marcha 
para o Oeste até as guerras (começando pela própria guerra de Secessão), que financiaram 
indiretamente o desenvolvimento tecnológico americano. 
 
E no caso brasileiro? 
• Vimos que a dívida pública brasileira não serviu ao desenvolvimento do Estado , mas ao 
consumo e ao financiamento da máquina estatal. 
• Com o aumento dos juros da dívida pública, estes foram tomando o espaço do investimento 
produtivo do Estado – e o gasto do Estado não tem como meta o investimento!!! 
 
O resultado da política é que o Estado vive para pagar juros de sua própria dívida e financiar os 
serviços básicos. Como instrumento dessa política, aumenta a taxa de juros, e gera superávit 
primário que não se reverte em nada, a não ser pagamento desta dívida. 
 
Fins do direito público + Estrutura atual = Impedimento ao direito econômico 
 
Outros fatores a ressaltar: 
• Autonomia do Bacen: deixar de controlar a própria economia, é bom ou é um erro colossal? 
• Taxa de juros: qual a finalidade? Apenas segurar a inflação? Ou garantir o desenvolvimento? 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 19 
 
 
02/05/2016. 
Ordenamento econômico. Constituição Federal, art. 171 a 192. 
 
Quando se vai debater a ordem econômica de um determinado país, devemos situá-la em dois 
planos, o do “ser” (a situação presente, formatada pelo ordenamento legal) e o do “dever ser” 
(aquilo que é desejado e fomentado pela legislação). 
 
 
A ordem econômica é o título da Constituição que mais sofreu mudanças na história recente. 
 
CF, art. 171: revogado pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995, o artigo estabelecia o conceito de 
“empresa brasileira de capital nacional”, à qual se davam certos privilégios, pelo capital investido 
nela ser pertencente a brasileiros. Em consequência da falta de uma definição específica, o capital 
disponível para a organização do mercado interno brasileiro (e do sistema de crédito) deixa de ser 
vinculado à sua função original, de trazer desenvolvimento em função do interesse nacional. 
 
“A grande questão é que a regulação do capital estrangeiro no Brasil ainda não existe”. 
 
CF, art. 176: como distinguir corretamente o capital especulativo daquele que realmente pode gerar 
desenvolvimento para o país? Efetuando controle de capitais, referente às entradas e saídas de 
divisas do Brasil - dispositivo previsto na Constituição, mas nunca implementado. 
 
CF, art. 173: quando necessário, por imperativo de segurança nacional ou para atender a relevante 
interesse coletivo, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado será permitida. Neste 
caso, terão um estatuto jurídico específico (idem, § 1º) mas concorrerão em igualdade de condições 
com a iniciativa privada (ibidem, § 2º). 
 
CF, art. 173, § 5º: a lei, sem prejuízo da responsabilidade individual do dirigente da pessoa jurídica, 
estabelecerá a responsabilidade destas nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira 
e contra a economia popular. 
 
CF, art. 174: o Estado é o único ente soberano capaz de produzir norma, exercendo as funções de 
fiscalização, incentivo e planejamento, inerentes aos fins do Direito Econômico. 
 
O que o Estado deveria fazer, baseado no art. 174 da Constituição Federal? 
• Definir boas práticas, regulamentadas de acordo com o processo; 
• Proporcionar rastreabilidade ao produto (uma “grife” para o produto); 
• Controlar a atividade, para manter a qualidade do produto. 
 
Fiscalizar é fácil. PLANEJAR e INCENTIVAR é difícil. 
 
 
CF, art. 175: o Poder Público deve prestar serviços públicos. Observe, a esse respeito, que é o Estado 
que deve prestar os serviços públicos, diretamente ou sob concessão/permissão. 
• O Estado deve “privatizar” serviços de saúde e educação, como as OSCIP´s? 
 
CF, art. 176-177: a União é proprietária das jazidas minerais (como o petróleo) e potenciais de 
energia hidráulica. Sua exploração é monopólio da União, nos termos do art. 177 da CF, 
especificamente no tocante ao petróleo (pesquisa, lavra, refino, importação, exportação, 
transporte marítimo) e os minérios e minerais nucleares e seus derivados. 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 20 
 
 
Para refletir: em caso de malversaçãodos recursos públicos, temos o artigo 173, § 5º para punir os 
dirigentes, nos termos de lei específica. Este artigo é aplicável? 
 
“O Estado não funciona: vamos privatizar tudo”. 
VS 
“Só o Estado funciona: vamos estatizar tudo”. 
 
 
O grande passo, na verdade o grande desafio: 
criar mecanismos no Direito Econômico que permitam que a economia trabalhe para o país. 
 
CF, art. 177, §§ 1º e 2º: a União “poderá” contratar empresas estatais ou privadas para realizar as 
atividades deste artigo (extração do petróleo). O legislador quis dizer “poder” ou “dever”? 
• A interpretação constitucional do texto pelo Min. Eros Grau– “poder” é “dever” – permitiu que 
se abrisse o mercado para empresas privadas, no tocante à exploração do petróleo. 
 
CF, art. 178, 179 e 180: refere-se às condições de transporte aéreo, aquático e terrestre, e a 
legislação que deverá regulamentar o assunto: 
• Art. 179: incentivo à microempresa e pequeno porte; 
• Art. 180: incentivo ao turismo como fator de desenvolvimento social e econômico. 
 
CF, art. 181: refere-se ao atendimento de requisições de documentos ou informações de natureza 
comercial (cartas rogatórias ou cooperação em matéria penal). 
 
 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 21 
 
 
09/05/2016. 
Ordenamento econômico. Constituição Federal, art. 171 a 192 (continuação). 
Política urbana. Política agrária. 
 
Referência: “Da Ordem Econômica na Constituição de 88”, pág. 90-137, Eros Grau. 
 
Como já foi visto, a Constituição de 1988 foi feita pensando-se numa visão de Brasil, determinando 
os planos gerais para que sejam aplicadas as políticas públicas que modelarão o Estado. Existem 
situações específicas nas quais se faz necessário agir, mexendo na lógica tradicional que rege as 
relações da sociedade a fim de se atingir o resultado que a sociedade deseja. 
 
Esse é o caso da política urbana e da política agrária, e dos artigos da CF que tratam do assunto. 
 
CF, art. 182: a política de desenvolvimento urbano é executada pelo Poder Público municipal, 
conforme diretrizes fixadas em lei. Tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das 
funções sociais da cidade, garantindo o bem-estar de seus habitantes. 
• § 1º: o Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão 
urbana (cujas diretrizes gerais são reguladas pelo Estatuto das Cidades). 
• § 2º: a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências 
fundamentais de ordenação da sociedade expressas no Plano Diretor. Note que uma 
propriedade não existe por si só: ela serve ao bem comum. Desapropriações de imóveis urbanos 
podem ser feitas, com prévia e justa indenização em dinheiro (§ 3º). 
• § 4º: faculta-se ao Poder Público municipal que exija, nos termos da lei federal, que o dono da 
propriedade promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: 
1. Parcelamento ou edificação compulsória 
2. IPTU progressivo no tempo 
3. Desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. 
 
 
“O Estado serve para cuidar de gente.” 
 
CF, Art. 183: permite usucapião para aquele que possuir como sua área urbana de até 250 m² por 
cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia, desde que não 
possua outra propriedade urbana ou rural. 
 
Política agrária fundiária: o art. 184 da CF dá o direito à União de desapropriar, para fins de 
interesse social, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante indenização 
prévia em TDA (títulos da dívida agrária), resgatáveis no prazo de 20 anos. 
 
Observe-se, porém, que há duas condições para que não se desaproprie, de acordo com o art. 185 
da CF: ser pequena e média propriedade rural (definida em lei); ou ser propriedade produtiva. 
Entretanto ... 
• Como determinar o que é propriedade produtiva, em um país que produz cada vez mais, mas 
cujos parâmetros sobre produção estão obsoletos? 
• Como determinar se a propriedade atende à função social, atendendo a TODOS os requisitos 
do art. 186? 
• Seguem os requisitos do artigo 186 da CF: 
o Aproveitamento racional e adequado; 
o Utilização adequada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente; 
o Observância das disposições que regulamentam as relações de trabalho; 
o Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
Direito Econômico e Concorrencial 9º S 
Prof. Marco Aurélio Braga 
Por Fábio Peres da Silva 22 
 
 
CF, art. 187: não basta dar a terra, é preciso dar condições para que a família possa cuidar dela, e 
produzir nela. Para isso, é necessário que o Estado promova a atividade, nos termos do artigo. 
 
<inserir artigo aqui> 
 
CF, art. 189: todos esses parâmetros são utilizados por base para a reforma agrária. Os títulos são 
inalienáveis (§ 1º), não podendo ser vendidos nem transacionados pelo prazo de dez anos. 
 
CF, art. 190: a lei deve regular e limitar a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por 
pessoa física ou jurídica estrangeira, estabelecendo os casos que dependerão de autorização do 
Congresso Nacional. Em tese, a terra NÃO deveria estar em posse de estrangeiros. 
 
CF, art. 191: a usucapião rural é regulamentada por esse artigo. 
 
Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos 
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, 
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á 
a propriedade. 
 
Parágrafo único. 
Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 
 
 
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09/05/2016. 
 Sistema Financeiro Nacional. 
 
CF, art. 192: regulamenta o sistema financeiro nacional, determinando os objetivos e 
subordinando-o aos interesses do Estado. Revogado pela EC nº 13, retornou na EC nº 40, 
praticamente sem incisos (e sem lei que regulamente efetivamente o sistema financeiro).

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