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[A RUA FAZ NOTICIA] O TWITTER PAUTANDO O JORNALISMO

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A RUA FAZ NOTÍCIA - O TWITTER PAUTANDO O JORNALISMO 
IMPRESSO DO CORREIO* 
THE STREET MAKES NEWS - TWITTER GUIDEND THE JOURNALISM OF 
CORREIO* 
 
MENDES, Wévela de Paula 
wevela.oster@gmail.com 
Graduanda em Comunicação Social/Jornalismo - UNIME 
 
RESUMO 
Diante do rumo que a história política e social brasileira vem tomado nos mais recentes 
anos, é observável por muitos estudiosos a presença das mídias sociais como formas de 
interação entre o leitor/telespectador e as redações. Esse fenômeno ficou mais evidente 
durante as manifestações (em sua maioria organizadas através das redes sociais) nem 
mais de 200 cidades brasileiras durante os meses de maio a outubro de 2013. 
O presente artigo se propõe a discutir as interações via Twitter entre usuários da rede 
social presentes nas manifestações acontecidas na capital baiana em junho de 2013, e a 
equipe jornalística do Correio* no mesmo período, avaliando as notícias veiculadas 
entre os dias 21 e 24 de junho de 2013. 
 
Palavras-chave: Twitter, Jornalismo impresso, mídias sociais digitais, teoria ator-rede. 
 
ABSTRACT 
Given the direction the Brazilian social and political history has taken in recent years, 
many scholars is observable by the presence of social media as forms of interaction 
between the reader / viewer and newsrooms. This phenomenon was most evident during 
the demonstrations (mostly organized through social networks) or more than 200 
Brazilian cities during the months from May to October 2013. 
This article aims to discuss the interactions between users via the Twitter social network 
present in acontecidas manifestations in Salvador in June 2013, and the Mail news team 
* in the same period, evaluating the news reported between 21 and 24 June , 2013. 
 
 
Keywords: Twitter, print journalism, digital social media, actor-network theory. 
2 
 
1- INTRODUÇÃO 
A Web 2.01 despontou através da proposta de interação entre seus usuários. Os blogs 
desenvolvem um conceito de webjornalismo participativo, caracterizado pela réplica do 
fato em páginas individuais na rede. Essa forma descentralizada de divulgação da 
informação aos poucos vem fazendo frente ao chamado jornalismo tradicional - da 
televisão, do rádio e dos jornais impressos. Em uma tentativa de adequação ao novo 
mercado, os jornais ganham um novo formato: tornam-se portais de notícias, com 
espaço direto para a opinião e intervenção dos leitores. Pode-se afirmar que a Web 2.0 é 
uma das responsáveis pela queda na impressão de jornais em todo o país. 
 
A promessa da Web 3.02 se torna cada vez mais factível à medida que a internet deixa 
se tornar apenas meio de opinião e réplica, para ser a nova sala de pautas do jornalismo 
moderno. A presença de internet em dispositivos móveis que podem enviar dados de 
qualquer lugar é um aliado do jornalismo. Inicialmente observado nas editorias de 
entretenimento - onde as redes sociais de figuras ditas famosas ajudam a gerar notícias - 
a partir de 2008 nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América observa-se 
outro aspecto: figuras políticas buscam divulgação através das redes sociais, muitas 
delas obtendo êxito em suas eleições, a exemplo da campanha presidencial de Barack 
Obama, e este novo fenômeno se torna mais um vértice de notícia a ser trabalhado. 
 
Nesse meio tempo os veículos de comunicação ganham perfis nas redes sociais - 
sobretudo Facebook e Twitter - onde começam a propagar as notícias veiculadas nos 
sites, propondo chamadas e links diretos. Esses perfis tornam-se também canais por 
onde o usuário da web 3.0 envia suas notícias - um acidente, um engarrafamento, o 
buraco no asfalto da rua - para que os seus acontecimentos cotidianos ganhem a devida 
dimensão que o veículo permite. 
 
 
2- O TWITTER 
 
1 Web 2.0 é um termo popularizado para designar uma segunda geração de comunidades e 
serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo aplicativos baseados 
em redes sociais e Tecnologia da Informação. 
2 A Web 3.0 foi anunciada como a terceira onda da Internet, e pretende estruturar todo o 
conteúdo disponível na rede mundial de computadores dentro dos conceitos de “compreensão 
das máquinas” e "semântica das redes”. 
3 
 
 
A rede de microblog denominada Twitter surgiu como uma proposta de formato 
reduzido dos blogs - microblog - que permite ao usuário postagens de até 140 caracteres 
e/ou fotos. Surgida em 2006, segundo fundadores a proposta inicial é de que o Twitter 
fosse “a SMS da internet”. 
Existem duas possibilidades de publicação no Twitter: o acesso ao site e/ou aplicativo 
em smartphones, e o envio da mensagem para o site através de SMS. 
Grande parte do serviço de réplica e comentários de notícias trabalhados no presente 
artigo provém do Twitter, uma vez que a mídia digital possui ferramentas de uso 
interessantes, como o “retweet” e os “trending topics”. 
 
3.0 A CIDADE NAS RUAS 
 
Na contramão das evoluções tecnológicas, o Movimento Passe Livre surgiu, em 2005 
durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, com a proposta é a de passe livre 
estudantil. Antes disso, em 2003 acontecia em Salvador – BA a Revolta do Buzú. Na 
época a movimentação política, que partiu de lideranças estudantis, surgiu dos boatos de 
aumento da tarifa do transporte público - de R$1,30 para R$1,50. Porém a 
movimentação da Revolta do Buzú ganharia dimensões maiores, como observa 
MANOLO: 
 
 
A Revolta do Buzu muda de aspecto quando vista por uma perspectiva de 
classe: transforma-se de uma manifestação estudantil num ensaio de 
revolta popular, abortada antes que todo seu potencial pudesse ser 
desenvolvido. 
 
Nove anos depois da Revolta do Buzú, em Natal, Rio Grande do Norte, aconteceram as 
primeiras manifestações contra aumento de passagem. Os protestos contra aumentos 
abusivos nas taxas do transporte público desencadearam uma onda de passeatas e 
movimentações que, em 2013 chegam a Porto Alegre (Março/2013) e Goiânia 
(Maio/2013). Em Junho, dessa vez em São Paulo, o Movimento Passe Livre se 
manifesta contra o aumento anunciado das passagens de ônibus. Atuante desde 2006, o 
4 
 
MPL/SP propõe transporte público acessível para toda a população - expressado pelo 
slogan “Por Uma Vida Sem Catracas”. O aumento de 0,20 proposto pela Prefeitura de 
São Paulo foi o estopim para manifestações que provocaram confronto policial. 
 
A legenda do grupo, porém, seria “Não é só por vinte centavos”, agregando aos 
protestos as insatisfações de várias camadas da população, que iriam às ruas demonstrar 
sua insatisfação. Essa primeira parte das manifestações, acontecida durante a primeira 
quinzena do mês de junho, possui pouca cobertura da mídia tradicional, mas ganha 
corpo nas redes sociais através das coberturas via Twitter e outros aplicativos de fotos e 
vídeos. 
 
4.0 SALVADOR NA VOZ DO POVO 
 
As mobilizações ganham espaço também em outras cidades, e chegam a Salvador no dia 
17 de junho de 2013, com uma caminhada pacífica entre o Iguatemi e a Avenida 
Tancredo Neves, e a presença de aproximadamente cinco mil pessoas, em contagem 
oficial da Policia Militar. Segundo o próprio movimento Passe Livre, o número chegaria 
ao dobro da contagem oficial. 
 
As reivindicações, porém, tinham vários focos: a rejeição à PEC 37, o gastos abusivos 
do governo para a Copa das Confederações, o atraso na entrega do Metrô da cidade de 
Salvador, e o passe-livre estudantil. 
 
Com a esperança de uma segunda manifestação pacífica, a população baiana foi às ruas 
novamente no dia 20 de junho de 2013, com os mesmos focos, empunhando cartazes. 
Reuniram-se dessavez no Campo Grande, região central da cidade, e rumaram ao 
Estádio da Fonte Nova, onde aconteceria o jogo Nigéria x Uruguai, pela Copa das 
Confederações. Antes de chegar ao estádio, porém, houve repressão policial em todos 
os acessos à Fonte Nova, com uso de bombas de efeito moral e balas de borracha. As 
principais vias de informação que alimentaram os sites e blogs naquela tarde foram 
fotos e vídeos enviados pelos leitores a sites como o Portal Terra e o UOL através das 
redes sociais. O Twitter se tornou a ferramenta mais viável para enviar informações de 
onde aconteciam as manifestações. 
5 
 
 
De acordo com o relatório do site causabrasil.com.br, as maiores reivindicações da 
internet neste dia (quando aconteceram manifestações em mais outras 69 cidades 
brasileiras, destas, 11 baianas), as maiores menções na internet eram por Qualidade no 
Transporte Público, Educação, Preço das Passagens, Segurança, Combate à corrupção, 
Saúde, Moradia e Governo Dilma Rousseff. Vale ressaltar que essas menções são 
totalmente qualitativas, excluindo-se a possibilidade de mensurar se eram positivas, 
negativas ou neutras. Nesse cenário de manifestações e transmissões livestream dos 
confrontos policiais, aconteceram também às coberturas jornalísticas. 
 
O Correio*é o jornal diário impresso que atualmente lidera o mercado na Bahia3. 
Fundado em 1978, hoje o Correio* pertence a um conglomerado de comunicação do 
qual fazem parte TV’s, rádios, sites e outros impressos: a Rede Bahia. O Correio* 
possui uma plataforma online, o Correio24Horas, que é alimentado com notícias ao 
longo do dia, em tempo real. As notícias do Correio24 horas também são replicadas 
pelos perfis no Twitter (@Correio24horas) e Facebook 
(www.facebook.com/correio24horas). 
 
O fenômeno dos protestos nas ruas de centenas de cidades brasileiras chama a atenção 
de estudiosos para a insatisfação popular em forma de revolta. Semelhante a outras 
formas de protesto espalhadas pelo mundo, como Occupy Wall Street e a Primavera 
Árabe, os protestos brasileiros de 2013 possuem aspectos observáveis do ponto de vista 
de quem trabalha com cibercultura. São eles: 
 
 4.1 QUEM PROTESTA 
 
Ao transmitir uma notícia é necessário seguir um lead pré-estabelecido para entender o 
que se passa. No caso das manifestações, saber quem protesta é a primeira questão, que 
podemos adaptar: Quem convoca o protesto? Inegável perceber que a juventude classe 
média foi a responsável pelas primeiras aglutinações contra o aumento das passagens do 
transporte público em Natal, Porto Alegre e São Paulo. Mas as movimentações 
 
3 http://www.anj.org.br/sala-de-imprensa/noticias-dos-associados/pesquisa-aponta-crescimento-de-
leitores-na-bahia 
6 
 
cresceram, e o que se observa nos registros em fotos e vídeos é que a dita periferia 
esteve presente lado a lado com a classe média, protestando pelas suas realidades. 
 
A articulação via internet que resultou em uma aglutinação de pessoas lutando por 
objetivos comuns é um fenômeno tratado por Manoel Castells e Jordi Borja 4. 
De acordo com Castells & Borja (1996, p 152) “Esta articulação se realiza através da 
ação coletiva e conjunta, que pode responder a formas e objetivos diversos: 
— a resistência ou o confronto com um agente externo (por exemplo, uma 
administração superior, uma multinacional etc.); (...) 
— mobilização sócio-política que encontra sua base principal na afirmação da 
identidade coletiva ou na vontade de autonomia política (que se concretiza também em 
objetivos especialmente urbanos).” 
 
Ou seja, a mobilização depende de uma identidade, de uma sensação de pertencimento a 
determinado grupo, pois o cidadão deve lutar apenas pelas causas em que acredita. No 
caso dos protestos no Brasil, todos eles foram inicialmente motivados por aumentos 
abusivos no transporte público, que afeta diretamente a maioria das camadas da 
população. 
 
 4.2 COMO PROTESTAM 
 
Os protestos acontecidos no Brasil em 2013 tiveram uma causa e um agente em comum: 
o aumento das tarifas de transporte público foi a causa das movimentações, e o agente 
aglutinador foi a internet, através de redes sociais digitais. O Facebook se apresenta 
como forma de discussão e de movimentação política, enquanto o Twitter surge como 
meio de disponibilizar online os acontecimentos dos protestos. 
 
Quando, no Rio Grande do Norte em agosto de 2012, grupos de estudantes se reuniram 
para protestar conta o aumento na tarifa de ônibus na capital, eles queriam que o 
aumento fosse revogado, o que aconteceria dias depois. No ano de 2013 em Porto 
Alegre o aumento chegou a entrar em vigor, mas foi julgado abusivo pela 5ª Vara da 
Fazenda Pública, e reajustado por ordem judicial posteriormente. Na terceira onda de 
 
4 http://www.acsmce.com.br/wp-content/uploads/2012/10/AS-CIDADES-COMO-ATORES-
POL%C3%8DTICOS.pdf 
7 
 
manifestos, dessa vez em Goiânia. Após um mês de maio conturbado, com confrontos 
policiais, no dia 13 de junho, as tarifas voltaram a custar R$ 2,70, após liminar expedida 
pelo juiz Fernando de Mello Xavier, da 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual5. Na 
decisão, o juiz argumentou que desde o dia 1º de junho as empresas de transporte 
coletivo deixaram de pagar os impostos PIS e COFINS, porém essa isenção não foi 
repassada ao usuário. As manifestações, assim, se tornaram a voz do usuário de 
transporte público que busca a manifestação como forma de exprimir sua insatisfação 
com o serviço e a taxa cobrados. 
 
Em Salvador o primeiro protesto no dia 17 de Junho foi totalmente pacífico, sem 
confronto policial. A partir do segundo protesto a repressão policial se fez presente, para 
impedir que os manifestantes chegassem ao Estádio da Fonte Nova, onde acontecia o 
jogo Nigéria x Uruguai, pela Copa das Confederações. O mesmo aconteceria em outras 
capitais que sediaram jogos, a exemplo de Fortaleza - CE e Belo Horizonte - MG. 
 
5.0 O QUE AS RUAS RELATAM? 
 
 
Durante as manifestações pelo Brasil e principalmente em Salvador, os protestos 
inicialmente não receberam atenção da mídia tradicional. Telejornais negligenciaram ou 
deram pouca importância á marcha do Iguatemi no dia 17 de Junho, enquanto que nos 
manifestos e confrontos com policiais no dia 20, a pouca atenção que foi dada ao 
assunto nas TV’s ressaltava os manifestantes como agentes causadores de desordem 
pública. 
 
Utilizando os mecanismos tecnológicos disponíveis – smartphones, câmeras, tablets - os 
manifestantes alimentaram as redes sociais com fotos e vídeos dos confrontos. Algumas 
imagens chegavam ao Youtube quase instantaneamente, enquanto outros links 
direcionavam para transmissões ao vivo dos protestos via livestream.6 
 
 
5 http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/06/liminar-cancela-reajuste-da-tarifa-de-onibus-em-
goiania.html 
6 http://comunicaisalvador.wordpress.com/2013/06/29/smarthphones-sao-usados-para-transmissao-
de-protestos-em-salvador/ 
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Foi através de links disponibilizados e replicados no Twitter que os primeiro confrontos 
entre a Polícia Militar e os manifestantes chegaram a conhecimento público. Entre 16 e 
19 de junho, a participação no Twitter atinge seu ápice ─ quase 170 mil perfis 
participam das discussões. "O acesso à internet 3G era fundamental para registrar e dar 
visibilidade ao protesto", diz o pesquisador Fabio Malini, professor adjunto do 
Departamento de Comunicação, da Universidade Federal do Espírito Santo, onde 
coordena o Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura(LABIC/UFES). "Os 
movimentos sociais aprenderam que a internet é estratégica para dar força de comoção 
às suas lutas. Em compensação, todo um conjunto de protestos foi eclipsado pela falta 
de acesso a banda larga e rede 3G de qualidade”, de acordo com Malini. 
O coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) 7 se destacou no 
período disponibilizando pequenas equipes e gadgets para as transmissões em todo o 
país, inclusive em Salvador. Com uma estrutura descentralizada e baseada na 
divulgação via Facebook, o Mídia Ninja foi responsável por grande parte dos arquivos 
sobre os protestos de junho/2013. 
O Twitter, como ferramenta de mensagens curtas com fácil acesso através de 
smartphones foi a principal ferramenta utilizada para replicar os links de relatos feitos 
no Facebook, de vídeos do Youtube dos protestos, e de transmissões online via 
Twitcam, ou livestream. 
Vale ressaltar que mesmo havendo uma cobertura imparcial dos fatos ocorridos nas 
manifestações, ainda assim uma grande parcela da população que não tinha acesso à 
internet ficou alheia aos acontecimentos. Outra grande parcela provavelmente deixou de 
participar das passeatas por todo o Brasil por não estarem conectadas às redes sociais. 
Enquanto a grande imprensa omitiu as transmissões, fazendo recortes nas notícias que 
na maioria das vezes não condiziam com o que as transmissões online (e 
consequentemente sem edição) disponibilizavam, a transmissão online alcançou picos 
de 80 mil acessos, equivalente a um ponto do IBOPE (dados do Mídia Ninja). 
 
 
 
7 Transmissões disponíveis em http://twitcasting.tv/midianinja 
9 
 
6.0 O QUE O CORREIO* RELATOU? 
Nas edições do Correio* entre os dias 18 e 23 de junho (fase em que os protestos em 
Salvador estiveram mais fortes) o Correio* limitou-se a manter a postura de não 
comentar sobre os acontecimentos em Salvador. 
Na capa do dia 18 de Junho, depois da passeata pacífica na Avenida Tancredo Neves, a 
capa do Correio* mostrava a imagem emblemática da incursão de protestantes no 
Congresso Nacional em Brasília, mas não fez nenhuma referência à passeata pacífica 
que havia acontecido no dia anterior. 
Na capa e edição do dia 19 de Junho, o Correio* contribui para a formação da imagem 
do manifestante vândalo. Tanto a capa com cores e discurso provocativo quanto as 
matérias tentam tornar evidente que os protestos buscam destruição e violência. Mais 
uma vez na edição do dia 19 o Correio* não faz menções a protestos ou mobilizações na 
capital soteropolitana, concentrando-se nas notícias do eixo Rio-São Paulo. 
No dia 21 de Junho pela primeira vez a capa do jornal Correio* traz uma manchete de 
Salvador, desde o início dos protestos. Nela, um ônibus em chamas e a chamada que 
evidencia a presença de vândalos nos protestos. 
No dia 22 o destaque da capa é para a seleção brasileira de futebol e o pacto pelo 
Transporte público assinado proposto pelo Governo Federal. 
 
No dia 23 de Junho o jornal Correio* volta a falar sobre os protestos em Salvador na sua 
capa, com uma foto de um manifestante imobilizado por um policial, com chamada que 
deixa claro que os manifestantes se tornaram ameaças para a população. 
 
7.0 TEORIA ATOR-REDE E AS PAUTAS DO CORREIO* 
A Teoria Ator-Rede foi desenvolvida por Bruno Latour, Jhon Law e outros 
pesquisadores, e propõe uma visão construtivista de que o ser humano não é o único 
responsável pelos processos sociais. Pela Teoria Ator-Rede, todos os atores sociais 
estão interligados pelas suas necessidades, e o conhecimento é, por esse fato, um 
produto social do meio, e não o resultado de um método científico. 
10 
 
 
Para Law e Latour, não há diferença entre atores humanos e não humanos. O ator-rede 
é humano e não humano, e estes permanecem ligados por uma rede de ideias que não 
necessariamente explica os interesses que geram fatos. O não humano é representado 
pela tecnologia, mas pode ser também uma situação econômico-política que provoca 
reações, tem a mesma força de um ator humano. O poder das ideias e das máquinas 
equipara-se á voz humana. 
 
É com os atores não humanos que as necessidades dos humanos tomam corpo e criam 
voz. A partir dessa teoria ator-rede podemos pensar as necessidades de transmissão dos 
protestos - muitas vezes em tempo real. A ausência de cobertura dos fatos pela mídia 
tradicional provocou a necessidade de uma mídia alternativa (Midia Ninja) e também 
dos manifestantes (mesmo não fazendo parte de nenhum veículo de comunicação) 
comunicarem ao mundo o que acontecia nos protestos em Salvador. 
 
 
 
8.0 TEORIA DO AGENDAMENTO E AS PAUTAS DO CORREIO* 
 
A agenda setting é a teoria da comunicação que pensa a forma como a mídia escolhe o 
que deve e como será veiculado. No caso das manifestações, é notório de que havia uma 
agenda pré-determinada a evitar mostrar ao mundo os confrontos entre manifestante e 
policiais ocorridos durante a Copa das Confederações. O foco das emissoras de 
televisão e da mídia corporativa em geral era “abafar” as insatisfações populares, ao 
passo que a internet naturalmente transmitia ara todo o mundo as imagens do confronto. 
 
Essa grande dimensão que a internet gerou com as transmissões livestream, postagens 
de fotos e vídeos, e principalmente tweets e retweets alterou a agenda prevista, 
colocando na capa dos principais jornais os embates entre a Polícia Militar, a Força 
Nacional e os manifestantes. A agenda pública foi alterada também, com 
pronunciamentos dos governos estaduais, federal, e até mesmo da FIFA. 
 
11 
 
No Correio* não foi diferente. As capas dos dias 21 e 23 de Junho tiveram imagens que 
destacaram a presença de vândalos nas manifestações. De toda a cobertura analisada, 
somente a capa do dia 19 de Junho buscava elucidar as ideias das manifestações. 
 
 
 
9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A internet neste processo atua como estruturante do pensamento, pois através dela se 
produz conteúdo, se comunica fatos (os protestos), desenvolvem-se discussões e 
principalmente inclui grupos, ao promover a aglutinação de pessoas em prol de uma 
causa e, mais, possibilitando o acesso à informação. 
Neste contexto, o jornal Correio* atuou como retransmissor de informações, 
reproduzindo conteúdos feitos para a internet, imagens, e disponibilizando em seu canal 
na internet os vídeos de manifestantes. Porém nas edições impressas o Correio* se 
limitou a manter a linguagem de caracterização dos manifestantes como baderneiros e 
vândalos, que poderiam oferecer risco à população. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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10.0 ANEXOS 
 
Figura 1 - Jornal Correio* - 18 de Junho de 2013 
13 
 
 
Figura 2 - Jornal Correio* 19 de Junho de 2013 
14 
 
 
Figura 3 - Jornal Correio* 21 de Junho de 2013 
15 
 
 
Figura 4 - Jornal Correio* 22 de Junho de 2013 
16 
 
 
Figura 5 - Jornal Correio* 23 de Junho de 2013

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