04 Erosão do Solo

Prévia do material em texto

CAPÍTULO 04
4. EROSÃO DO SOLO
4.1. Introdução
Dentre os recursos naturais, o solo é, sem dúvida, um dos mais importantes e, junto a água, o ar e a luz, são imprescindíveis à vida na terra. Sob um certo aspecto, o solo agrícola pode ser considerado como um recurso natural renovável, partindo-se do princípio que ele desenvolve-se a partir de rochas, sob o efeito de fatores como clima, relevo, organismos vivos e tempo.
Geralmente, o solo em condições naturais apresenta-se coberto pela vegetação natural queo protege do efeito do impacto direto das gotas de chuvas ou das rajadas de vento e, dessa forma, conta com um perfil completo, isto é, apresentando todos os horizontes, mesmo aquele superficial, que além de funcionar como camada amortecedora, está aberto à penetração de fluídos (água e ar) e raízes.
Tanto as áreas agrícolas que se encontram protegidas com vegetação natural, como aquelas exploradas com culturas, podem estar sofrendo perdas de materiais através da erosão, a qual é considerada principal causa de desgaste e empobrecimento do solo. No Quadro 4 abaixo, pode-se verificar que a quantidade de nutrientes retirada do solo pela erosão é bastante superior àquela retirada pela cultura do algodão, o que favorece para o depauperamento mais rápido do solo.
A retirada da vegetação nativa para dar lugar a exploração agrícola, rompe o equilíbrio natural existente, provocando aumentos na velocidade de destruição que, por sua vez, supera a velocidade de formação do solo. A erosão em si, é basicamente uma reação da natureza buscando estabelecer novos equilíbrios.
Quadro 04 - Perdas de nutrientes provocadas pela erosão e retirados pela cultura de algodão.
	Agentes
	Nutrientes
	
	-------------------------------------------------------------------------------------------
	
	N
	P
	K
	Ca
	M. Org.
	
Erosão
Algodão
	-------------------------------------- kg/ha ---------------------------------------------
	
	46,5
13,8
	7,0
4,5
	12,3
6,5
	90,2
1,9
	780,0
-
Fonte: Grohmann&Catani, 1949
4.2. Definição de erosão
A erosão é definida como o arrastamento de partículas constituintes da camada superficial do solo, onde se encontram os elementos essenciais à nutrição das plantas, pela ação da água e do vento. É portanto, um processo de suavização da superfície terrestre. Assim, tanto as rochas como os solos são desagregados e decompostos. Seus componentes são arrastados, suspensos, solubilizados e transportados pelos agentes de erosão.
Apesar de ser um problema em escala mundial, a erosão dos solos ocorre de forma mais séria em regiões com regime de chuvas tropicais. Embora a erosão seja um problema relacionado com a agricultura em áreas tropicais e semi-árida, também tem ocorrido em países de clima temperado.
4.3. Agentes responsáveis pela erosão
Os agentes naturais responsáveis pela erosão são: água, vento, variação de temperatura e agentes biológicos. Dentre estes, os dois primeiros são considerados agentes ativos, enquanto os dois últimos atuam de forma indireta no processo erosivo.
A água, provavelmente é o agente mais importante que atua no processo erosivo. Ela age na forma de chuvas, cursos de água, enxurradas, ondas, mares ou qualquer forma em movimento, podendo agir como desagregador e transportador de material.
O vento, por si só, não tem capacidade de desgastar as rochas, porém, transportando material em suspensão, tem sua capacidade de abrasão aumentada e, dessa forma pode atuar tanto sobre as rochas como nos solos.
A variação de temperatura, pode atuar de duas maneiras: no fendilhamento e na desagregação das rochas. Quando as mudanças de temperatura são rápidas, como é o caso da variação de temperatura entre o dia e a noite, o fendilhamento é apenas superficial, entretanto, quando a variação de temperatura é lenta, como no caso das variações estacionais, os efeitos são mais profundos.
A ação biológica tem efeito pouco significativo no processo erosivo, uma vez que seu efeito é de condicionar o de outros agentes ou por acelerar a intemperização. A ação dos liquens e musgos se verifica através da destruição biológica. Já as formigas e minhocas, aumentam a erosão, por favorecer a oxidação das rochas, acelerando o processo de conversão de materiais resistentes em solos erosáveis. Enquanto que os animais maiores, caminhando nas superfícies não planas, desagregam rochas e solos, facilitando a ação dos outros agentes da erosão.
4.4. Classificação da erosão quanto a origem
Dependendo da origem, a erosão pode ser classificada em erosão normal, natural ou geológica e erosão acelerada.
A erosão normal, natural ou geológica é aquela causada pelos fenômenos naturais que agem constantemente sobre a superfície terrestre, independente da ação do homem, fazendo parte da própria formação do solo, constituindo-se dessa forma, fenômeno de tendência niveladora da superfície terrestre. Esse tipo de erosão iniciou quando foi soprada a primeira brisa e quando caíram as primeiras gotas de chuva. Quando o equilíbrio natural não é perturbado, o processo se desenvolve de maneira tal, que a remoção de partículas se equilibra com a formação do novo solo. Em termos gerais, a erosão geológica é caracterizada por ter uma intensidade menor do que a intensidade com que os solos se formam, salvo alguns pontos da terra, como é o caso dos deltas dos grandes rios. A exemplo tem-se o Grand Canyon, uma imensa garganta escavada pelo rio Colorado nos planaltos do noroeste do Arizona (EUA). As gargantas do Grand Canyon, com 300 km de extensão, chegam em alguns pontos a mais de 20 km de largura e mais de 1500 m de profundidade.
A erosão geológica é causada pelos agentes erosivos naturais agindo sobre longos períodos de tempo, em seu meio natural, sem a interferência do homem. Ela é responsável pelos desgastes das rochas e montanhas, formação de planícies aluviais e rochas sedimentares. É a responsável pela formação dos solos, pois os processos de desgaste atuam em equilíbrio com os processos de formação dos solos.
No Nordeste, a parte correspondente ao polígono das secas, que abrange mais da metade dessa região, a erosão geológica é elevada devido às condições locais que a favorece. Essas condições são: solos rasos, com baixo teor de matéria orgânica, com baixa capacidade de armazenamento de água, topografia acidentada, baixa permeabilidade de seus horizontes de subsuperfície ou mesmo de superfície, por se encontrar desnudos na época das primeiras chuvas, e ainda, por estar sujeito a chuvas de elevadas intensidades e de distribuição irregular.
À medida que o solo é submetido à exploração agrícola, a vegetação natural que o protege é destruída e a camada superficial é revolvida para receber espécies vegetais capazes de atender as necessidades alimentares da população, este fica predisposto à erosão. O cultivo sucessivo provoca alteração nas propriedades físicas, acarretando diminuição da infiltração de água e aumentando o escorrimento superficial e, o processo erosivo que antes era lento, passa a ser rápido.
A erosão acelerada é a erosão causada pelos agentes erosivos naturais agindo sobre curtos espaços de tempo, com a interferência do homem. Este tipo de erosão se superpõe à erosão geológica e se deve às atividades do homem que altera a cobertura natural e as condições do solo quando utiliza a terra para fins agrícolas ou embasamento para construções. Dessa forma, o equilíbrio natural entre as forças de desgaste e de formação dos solos é rompido, causando a erosão acelerada do solo.
A erosão que se processa rapidamente, caracteriza-se por possuir uma intensidade de perda de solo maior que aquela com que o solo se forma. Enquanto a erosão geológica não pode ser controlada e nem há interesse de se controlá-la, a erosão acelerada, ao contrário, deve ser controlada, uma vez que suas consequências são prejudiciais à produção de bens para satisfazer as necessidades básicas do homem ou comprometer a qualidade ambiental e o equilíbrio ecológico.
4.5. Classes de erosãoCom relação ao agente causador, a erosão pode ser classificada em eólica, hídrica e glacial. A erosão eólica é aquela causada pelo vento, enquanto a erosão hídrica é provocada pela água e a glacial é causada pelo gelo.
A erosão eólica se estabelece numa área em consequência da energia cinética do vento sobre o solo, provocando desagregação, transporte e deposição de material. Este tipo de erosão se faz presente em regiões de superfície uniforme, de topografia plana e suficientemente extensa na direção do vento, com solos secos, pouco coesos e de textura fina, sujeita a temperatura elevada, ventos fortes e clima seco e, ainda, quando a cobertura vegetal é insuficiente para proteger o solo.
Em nossa região, a erosão eólica atua com mais intensidade nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão, principalmente na zona costeira, onde as dunas marítimas estão sempre deslocando-se, demonstrando assim, a ação do vento como agente causador da erosão.
Dependendo do tamanho das partículas que constituem o solo, estas são transportadas pelo vento de três formas: a) suspensão – responsável pelo transporte de partículas com diâmetro inferior a 0,1 mm a grandes distâncias; b) salto – movimento que antecede os dois anteriores, sendo responsável pelo movimento de partículas com diâmetro entre 0,1 e 0,5 mm e; c) rolamento – tipo de movimento responsável pelo transporte de partículas de dimensão entre 0,5 e 3,0 mm de diâmetro. A distância em que as partículas são transportadas pelo vento, dependo do seu tamanho, densidade e forma.
A erosão causada pela água, denominada de erosão hídrica atua em toda a superfície terrestre, com exceção das regiões desérticas e aquelas com gelo permanente. Essa erosão depende da ação de forças ativas tais como: características das chuvas, declividade, comprimento do declive e capacidade de absorção dos solos e; por resistências do solo à dispersão e ao movimento, que são dependentes das propriedades físicas e químicas do solo, das práticas de controle à erosão e, da a cobertura vegetal. Os efeitos da erosão hídrica na desagregação, transporte e deposição de material são muito mais intenso que aqueles da erosão eólica.
4.6. Fases do processo erosivo
As fases do processo erosivo são: desagregação, transporte e deposição.
a) Desagregação – Consiste no desprendimento ou ruptura dos grânulos de rocha ou solo da massa que os contêm pela ação de um agente de erosão. É a primeira e a mais importante fase do processo erosivo. Pode-se dizer, que se não houver a desagregação inicial das partículas de solo ou rocha, as outras fases do processo não ocorrerão.
b) Transporte – É a segunda etapa no processo de erosão do solo. Ocorre quando as partículas de solo ou rocha são desagregadas de sua massa pelos agentes erosivos. Esses mesmos agentes (água e vento) as transportam sobre a superfície do solo para outro lugar diferente do original.
c) Deposição – É a terceira e última fase do processo erosivo. É o fim do transporte. Esta fase consiste na parada do material desagregado e transportado, isso acontece, face a resistência do material arrastado tornar-se superior à ação do transporte.
Diferentes solos, comportam-se de maneira completamente diferente em cada uma dessas fases. As partículas de areia, são as mais facilmente desagregadas que as de argila, entretanto estas últimas, são mais facilmente transportadas que as de areia.
4.7. Formas de erosão causada pela água
A água em seu processo de desgaste do solo, pode provocar diferentes formas de erosão. Entre essas, destacam-se as seguintes formas:
a) Erosão por embate – é aquela provocada pela ação do impacto direto das gotas de chuva sobre a superfície do solo desnudo, destruindo os agregados e, provocando ainda, transporte por salpicamento. Verifica-se que no processo de desagregação pela ação da energia das gotas de chuva sobre o solo, os agregados tem seus tamanhos diminuídos, tornando-se mais fáceis de serem transportados pela enxurrada. O material desagregado, quando transportado, pode sofrer infiltração, diminuindo a taxa de infiltração de água do solo, pelo entupimento da porosidade natural do solo, provocando consequentemente, aumentos no volume de escorrimento superficial.
b) Erosão vertical – também denominada de percolação ou eluviação acelerada, é causada pelas gotas de chuvas que atingem o solo, quando este já se encontra coberto por uma camada fina de água, provocando suspensão das partículas coloidais. Essa suspensão formada se infiltra e, as partículas suspensas vão sendo depositadas em camadas profundas do solo, dando origem a horizontes adensados ou se depositam na própria superfície, formando crostas superficiais que diminuem a infiltração, predispondo o solo às outras formas de erosão.
c) Erosão laminar – também denominada de erosão entressulcos, ocorre nas porções mais ou menos lisas do terreno, em que há a ocorrência de um fluxo delgado de água, denominado de fluxo laminar. De uma certa forma, essa erosão ocorre quando a precipitação supera a taxa de infiltração e, se caracteriza pela desagregação e transporte das partículas superficiais do solo em camadas uniformes, destruindo consequentemente, o horizonte superficial.