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Exercícios texto e discurso

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UNIARAXÁ
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ
Telegrama ao ministro
	Era sábado. O presidente e seus assessores sentaram-se em volta da mesa de reuniões. Precisavam encontrar uma forma de demitir o ministro sem ferir suscetibilidades. Afinal, já era o quarto ministro que o presidente trocava nessa área em menos de oito meses. Alguém sugeriu um telegrama:
	- É a forma mais impessoal, presidente. Assim ninguém fica tão diretamente envolvido.
	- Sim, mas com que texto? Eu gosto muito dele. Sou presidente, mas não estou aqui para magoar ninguém – disse o presidente.
	- Isso é fácil – falou outro assessor. – Basta colocar: VENHA URGENTE BRASÍLIA. SUA DEMISSÃO IMEDIATA.
	Todos leram e alguém em volta da mesa, não se sabe ao certo qual dos assessores, comentou:
	- Eu acho que não está bom. Afinal de contas, vocês sabem que o ministro já está meio estressado com todas as denúncias de favorecimento, de repente pode ter um enfarte e o governo fica mal.
	[...]
	Foi a vez de outro assessor tentar redigir uma forma mais amena que não assustasse o ministro em passeio de fim de semana. Sentou-se e escreveu: INTERROMPA FIM DE SEMANA E VOLTE CORRENDO. Novamente o telegrama não foi aprovado. Um dos assessores observou:
	- Não sejamos infantis. Se ele está descansando no fim de semana e recebe essa notícia, vai sacar imediatamente que se trata de demissão. Se por acaso tiver algum jornalista com ele, amanhã mesmo a notícia já está nos jornais.
	- Também concordo – falou preocupado o presidente. Então, um assessor mais intelectual aproximou-se. Pegou no bloco de papel e rabiscou rapidamente: INTERROMPA FIM DE SEMANA IMEDIATAMENTE E VOLTE BEM DEVAGAR PARA BRASÍLIA. TUDO MAIS OU MENOS BEM NO MINISTÉRIO. Um assessor, que até então não tinha se manifestado, declarou:
	- Vocês acham que o ministro é bobo? Se estiver escrito tudo mais ou menos bem e que ele pode voltar devagar, ele já vai adivinhar que todas essas precauções são para anunciar sua demissão. Nunca vi uma frase tão idiota com “tudo mais ou menos bem”. Ele não é bobo. Ninguém trabalha anos junto a uma grande empreiteira sendo bobo.
	- Concordo plenamente. Ele pode ser descuidado, mas não é bobo – pensou alto o presidente. Mais um assessor, formado em Letras e Filosofia, resolveu redigir o telegrama: AQUI TUDO ÓTIMO. BRASÍLIA TRANQÜILA. CLIMA MAGNÍFICO. VOLTE ASSIM QUE PUDER. SAUDADES. SEMPRE TEU, PRESIDENTE. De todas as formas apresentadas até então, essa foi a que causou mais revolta.
[...]
	Um assessor de mais idade, conhecido em Juiz de Fora pela habilidade com que arbitrava discussões sobre os mais variados temas, sentou-se, pensou bem, ponderou, molhou a ponto do lápis na língua e caprichou: SE POSSÍVEL VOLTE. NENHUM MOTIVO PARA APREENSÃO. PRESIDENTE MORTO DE SAUDADES. PEQUENA SURPRESA AO CHEGAR.
	- Realmente, esse bate todos os recordes! – disse um jovem assessor muito invejoso. – Em primeiro lugar, não é “se possível”, ele tem que voltar mesmo. Em segundo lugar, é uma total falta de respeito dizer que o presidente está morto de saudades. Além de ser mentira. E, finalmente, todo ministro ligado à área econômica conhece muito bem o significado da palavra “surpresa”. Colocar a palavra “surpresa” no telegrama chega a ser um requinte de crueldade.
	Abandonaram a idéia rapidamente. Seguiu-se um longo período de silêncio em que os assessores andavam de lá para cá. Serviu-se mais um cafezinho. Finalmente o presidente se sentou à mesa e ele mesmo redigiu o telegrama: 
	APROVEITE BEM O FIM DE SEMANA! AQUI TU NA MESMA. TUDO ÓTIMO. NÃO ESQUENTE. E DIVIRTA-SE. 
(SOARES, Jô. Revista Veja, 19 de maio de 1993.)
No texto, o presidente precisa enviar um telegrama a um de seus ministros, transmitindo-lhe a informação de que está demitido; contudo, algo preocupa o presidente. Qual é a sua preocupação?
Ao ser feita a primeira tentativa, um dos assessores se mostra contrário à redação do telegrama, alegando dois motivos: o ministro anda meio estressado e que ele pode ter um enfarte e o governo, no caso, ficar mal diante da opinião pública. Quando o assessor levanta esses problemas, qual deve ser a opinião dele acerca da mensagem redigida?
Com que o presidente se revela estar mais preocupado: com a clareza e a objetividade do texto ou com o contexto discursivo, ou seja, com o interlocutor, seu estado de saúde, por quem estará acompanhado?
Na última tentativa, escreve-se “pequena surpresa ao chegar”. E um dos assessores lembra: “todo ministro ligado à área econômica conhece muito bem o significado da palavra ‘surpresa’ . Colocar a palavra ‘surpresa’ no telegrama chega a ser um requinte de crueldade”. Qual é a “surpresa” a que se refere o telegrama?
Considerando que já houve a troca de quatro ministros em menos de oito meses, o que o assessor do presidente lembra: que o interlocutor (o ministro) sempre participa da situação discursiva com seu conhecimento lingüístico e seu conhecimento de mundo, ou que o locutor (o presidente) deve participar da situação discursiva com seu conhecimento lingüístico e seu conhecimento de mundo?
Compare a primeira tentativa de redação do telegrama à última: qual é a diferença entre elas? O texto é adequado à intenção comunicativa do presidente e à situação discursiva?

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