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61 UNIDADE 2 SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • compreender as discussões que envolvem modernidade e pós-modernidade; • refletir sobre a influência das ideias modernas e pós-modernas na educação; • compreender as diversas formas de ler e interpretar as organizações; • refletir sobre as instituições de ensino e a gestão escolar, através das metáforas; • analisar o pensamento sistêmico e a necessidade contínua de aprender a aprender. Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encon- trará atividades que o(a) ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados. TÓPICO 1 – EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO TÓPICO 2 – EDUCAÇÃO E ASPECTOS ORGANIZACIONAIS TÓPICO 3 – APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA Assista ao vídeo desta unidade. 62 63 TÓPICO 1 EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Na Unidade 1 você estudou que com a modernidade Deus foi substituído pela ciência. No sentido de que a ciência torna-se o amparo para o homem entender o funcionamento do mundo, e mais, até mesmo alterar muitas das estruturas existentes, com a física e a química, por exemplo. E assim, de certa forma, o homem moderno busca com a razão seguir os seus próprios passos. Todavia, na atualidade muito se tem questionado se o que se postulava na modernidade ainda é plausível de se aceitar. Ou seja, novas ideias estão surgindo, ou já surgiram, e substituem as postuladas na modernidade. Neste sentido, na atualidade tem se postulado, por muitos, que estamos vivendo em um novo período, conhecido como pós-modernidade. É claro que esta posição não é unânime, no entanto é possível encontrarmos referências da pós-modernidade no campo da Sociologia da Educação, na educação ou ainda em outras áreas, com maior ou menor intensidade. 2 PÓS-MODERNIDADE Como já mencionado, não há unanimidade quanto às discussões em torno da pós-modernidade. Outrossim, a grosso modo, a pós-modernidade é nome designado para as mudanças que aconteceram por volta dos anos 50 em diante, em diversos campos, entre eles: as ciências, as artes, avanços tecnológicos (computação, ciências cognitivas...). E, além disso, a pós-modernidade tomou corpo por volta dos anos 60 na Arte Pop e nos anos 70, quando chega à filosofia (FERREIRA, 1987). Para os que postulam o pós-moderno, por exemplo, no campo da economia, alguns aspectos podem ser mencionados, como: a produção de bens em grande escala, tanto duráveis ou descartáveis. A cada dia, marcas novas vão surgindo, novos produtos surgem como um passe de mágica, buscando atender aos mais variados estilos de personalidades. O mercado faz envelhecer os produtos em curto espaço de tempo (tecnologias se tornam obsoletas em espaços de tempo cada vez menores). Este ritmo tem levado as pessoas a consumir cada vez mais, pois fazer parte do mercado, na atualidade, é poder consumir, é ter cartão de crédito, ou seja, UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 64 o mercado reconhece quem consome. Por essa característica, define-se também a pós-modernidade como a era do consumo (FERREIRA, 1987). Além disso, estamos vivendo em um período no qual a privacidade das pessoas está aberta ao público, como, por exemplo, as mídias sociais. Ou ainda, pode-se inclusive, sem maiores dificuldades, saber muitas coisas da individualidade de uma pessoa: seu histórico profissional ou pessoal, até mesmo aspectos da sua conduta moral, que estão abertos ao mundo, que podem estar disponíveis nas mídias sociais. Em seu livro de 1993, “The Moral Sense”, o sociólogo James Q. Wilson escreve que as qualidades morais, universalmente importantes, derivam de e são sustentadas por práticas e relacionamentos locais, na maioria em “famílias, amigos e agrupamentos íntimos”. A despeito do que os cínicos e os pessimistas nos querem fazer acreditar, a situação moral do mundo não está mais ou menos frágil do que outrora. A diferença entre a segunda metade do século XX, particularmente as duas últimas décadas, e todos os períodos anteriores da história é que, atualmente, quando os padrões éticos ou morais são feridos em qualquer lugar, todos ficam sabendo. As comunicações instantâneas globais abriram as portas para todos nós. Uma janela para o mundo, através da qual podemos observar tanto as coisas maravilhosas como aquelas que nos espantam. No decorrer da história, alguns trilham a estrada do elevado padrão moral e outros desafiaram os padrões morais até os últimos limites. Perseguições, “limpezas étnicas”, corrupção, escândalos e falcatruas não são monopólios do século atual (NAISBITT, 1994, p. 169-170). Contudo, é correto dizer que estamos vivendo em um período de constantes mudanças, com avanços científicos extraordinários, e também muitas mudanças de comportamento, como ausência de valores: “cada um faz o que quer, não está nem aí com os outros”, entre diversas manifestações que ocorrem no nosso cotidiano. Atualmente vive-se em um período de imprevisibilidade nos cenários de constantes mudanças. Conforme Drucker (2002), a sociedade, em poucas décadas, tem se organizado e mudado a sua visão de mundo, a respeito de valores básicos fundamentais, a estrutura social e política, as artes, dentre outros aspectos. Para Giddens (2004), os defensores da ideia do pós-modernismo sustentam que a história não tem uma forma, uma direção que conduz ao progresso, ou seja, deixaram de existir quaisquer grandes narrativas ou metanarrativas, concepções globais de sociedade ou de história. Não existe mais uma noção geral de progresso que possa ser defendida, tampouco existe algo como a história. O mundo pós-moderno, como diz Giddens (2004), não está destinado a ser como Marx esperava, ou seja, socialista. Ao invés disso, o mundo é dominado pelas novas mídias, que nos afastam do nosso passado. A sociedade pós-moderna é pluralista e diversificada. Entramos em contato com muitas ideias e valores tendo pouca relação com a história de onde habitamos ou até mesmo da nossa própria história. Tudo está num fluxo constante. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 65 O nosso mundo está sendo refeito. A produção em massa, o consumidor de massas, a grande cidade, o Estado-nação estão em declínio: flexibilidade, diversidade, diferenciação e mobilidade estão em ascensão. Neste processo, as nossas próprias identidades, o nosso sentido do eu (self), as nossas próprias subjetividades estão sendo transformadas. Estamos em transição para uma nova era (S. HALL et al.,1998 apud GIDDENS, 2004, p. 676). Um dos primeiros teóricos da pós-modernidade, Jean-Bauldrillard, argumenta que os meios de comunicação eletrônicos destruíram as nossas relações com o passado e criaram um mundo caótico e vazio. A difusão dos meios de comunicação eletrônica e dos meios de comunicação de massa demonstrou ser verdadeiro o teorema marxista de que as forças econômicas moldam a sociedade (GIDDENS, 2004). No entendimento de Mo Sung (1992), a pós-modernidade é uma crítica radical aos postulados da modernidade. No campo da filosofia, as ideias pós- modernas têm como propósito desmontar, demolir o discurso filosófico da modernidade, o qual tem se sustentado na razão, na felicidade e na liberdade, que são os baluartes da modernidade. De acordo com Sell (2006, p. 230-231): [...] se o projeto da modernidade foi gestado e implementado ao longo da era moderna (séculos XV a XIX), osonho de produzir a emancipação humana a partir da razão começa a ser questionado. Fenômenos como as duas grandes guerras e o questionamento de filósofos como Friedrich Nietszche (2000) e Martin Heidegger (1997), ou mesmo da chamada Escola de Frankfurt (ADORNO e HORKHEIMER, 1985), entre outros, começam a mostrar também o lado regressivo e negativo da razão. Diante deste contexto, teóricos sociais e filósofos como Jean François Lyotard (1988), Jacques Derrida (1973), Michel Foucault (1988), Vattimo (1996), Boaventura Souza Santos (1987), Zigmunt Baumann (1999) e outros apontam para o esgotamento da modernidade. Diante do fracasso do projeto da razão iluminista para construir uma sociedade supostamente livre e emancipada, eles decretam o fim da era moderna. Estaríamos em uma nova etapa da vida social: a “pós-modernidade”. Apesar de aceitarem a crítica aos limites da razão ocidental, encarnada na ciência e na técnica, teóricos sociais como Jürgen Habermas (1985), Anthony Giddens (1991), Ulrich Beck (1997), Alain Touraine e outros discordam deste ponto de vista. Para eles, o processo de autoquestionamento da modernidade não indica que nos deslocamos da modernidade para além do horizonte moderno. Na verdade, as transformações da modernidade não conduzem ao seu fim, a uma relação mais crítica e consistente para o horizonte moderno. Ainda, dentre as mais diversas posições, há quem diga que a pós- modernidade é um movimento de ruptura, de crise ou de incredulidade. E muitos UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 66 dos discursos postulados ou até mesmo sustentáculos do pensamento moderno têm perdido sentido, tais como: a razão, a verdade, progresso, dentre outros. Os adeptos da pós-modernidade postulam que esta traz em si novos estilos de vida e de filosofias. Além disso, perpassam pelo cotidiano ideias, como: o vazio, o niilismo, o nada e, principalmente, a falta de valores e sentido da vida (ou valor à vida). Conforme Castro (2007, p. 195), “o pós-modernismo implica uma ruptura com o passado, imprimindo no espírito humano um estado dominante de ansiedade e confusão”. Ou ainda: as pessoas são a mistura de diversos estilos, ou cada um tem o seu estilo, cada um tem o seu gosto. O que interessa é viver o agora e aproveitar tudo o que a vida tem, sem se preocupar com o futuro. Para ilustrar as divergências quanto à modernidade e a pós-modernidade, leia parte do texto do professor José J. Queiroz que fala sobre: PÓS-MODERNIDADE: SIM OU NÃO? Sobre o pós-moderno pairam mais indagações do que certezas. Quando teve início? Como se caracteriza? Qual a sua abrangência? Rompe com a Modernidade ou é apenas um prolongamento dela? Frente a esses quesitos, variam as posições. Há os críticos que manifestam inteira rejeição ao nome e ao conceito. Segundo Habermas (1985), o projeto da Modernidade não está terminado, o que torna inverídico atribuir o “pós” a uma realidade ainda em construção. Latour (1994) escreve um livro para demonstrar, paradoxalmente, que jamais fomos modernos, e assim coloca em crise o conceito de Modernidade e, por consequência, rejeita as pretensões pós-modernas. Eagleton (1998) estabelece uma crítica radical a todos os aspectos do pós-modernismo. Giddens (1991) não vê nenhuma ruptura ou descontinuidade que justifique um “pós” para além do moderno. Há, entretanto, autores que admitem o pós-moderno como algo que veio para ficar, embora estejam longe de um consenso sobre as suas características. Lyotard (1993) publica, em 1979, a obra considerada pioneira, La condition postmoderne, na qual desconstrói os pilares da ciência moderna e as suas narrativas e indica a ciência pós-moderna como jogo de linguagem, no qual a instabilidade, o paradoxo e o dissenso prevalecem sobre as certezas. Vattimo (1996) acredita que a Modernidade já se extinguiu. Jameson (1997), embora alertando que se trata de um termo “intrinsecamente conflitante e contraditório”, admite que “por bem ou por mal não podemos não usá-lo” (ibid p. 25), e vê o pós-modernismo como a tradução e a expressão da lógica cultural do capitalismo tardio. Maffesoli (2000) analisa o pós-moderno como uma nova forma de tribalismo e o caracteriza como um nomadismo no qual a errância TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 67 se apresenta como “fundadora de todo o conjunto social”. (IDEM, 2001, p.16). Connor (1993) faz um amplo inventário da presença do pós-modernismo na arquitetura, nas artes visuais, na literatura, na TV, em vídeos, em filmes, na cultura popular. Entre a rejeição total e a admissão pura e simples, julgamos plausível caminhar na linha do “tertium inclusum” (o terceiro incluído), assumindo uma posição intermediária que liga os opostos. Termos por certo que não se pode falar de uma era pós-moderna em total ruptura com as estruturas da Modernidade, pois o sistema socioeconômico que a sustenta – o capitalismo - ainda está em vigor, embora se lhe atribua um “neo” (neoliberalismo) e até haja quem já admita um “pós-neoliberalismo” (SADER e GENTILI, org., 2004). Mas é sempre o velho paradigma com novas caras: globalização, flexibilização, descentralização, comunidades mercadológicas. A cultura, também, embora adquira novas conotações, permanece gravitando na esfera do capitalismo, seja para reforçá-lo (cultura de massa, consumismo), seja para contestá-lo (movimentos ecológicos, experiências de economia alternativa), seja para expressar as suas perversidades (cultura da violência, exclusão, limpeza étnica, genocídios, terrorismo). Por isso, não deixam de ter razão os que apontam que a Pós-Modernidade é ainda a Modernidade gerindo e parindo as suas crises (ver HABERMAS, 1980; TOURAINE, 1994). Mas não há como negar que, nas profundezas da crise, algo novo desponta no horizonte, uma realidade híbrida, mesclando verdades e ilusões. Vive-se uma atmosfera de busca, uma fase heurística, que alia ao pessimismo, ao desalento e ao niilismo - sequelas da profunda decepção pelas promessas frustradas da Modernidade - um vislumbre de esperança. Mudança de visão, novas tendências e atitudes caracterizam o que Capra (1997), com base na superação da visão mecanicista e fragmentária de Descartes e Newton, pela teoria da relatividade e da física quântica, indica como um “ponto de mutação”. Isso leva a admitir que já não se pode mais falar de simples Modernidade. Mesmo os que rejeitam o termo pós-moderno não deixam de convir que há algo novo na Modernidade, tanto assim que sentem a necessidade de adjetivá-la. FONTE: Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv2_2006/t_queiroz.htm>. Acesso em: 12 dez. 2011. Caro(a) acadêmico(a), com a leitura do texto de Queiroz você observou que não há consenso sobre o tema em discussão, entre os diversos pensadores, sobre se estamos na modernidade ou pós-modernidade, ou se é que atingimos a modernidade ou é este um período de transição. Entretanto, podemos dizer que a “crise da modernidade”, seja ela entendida em si mesma ou como um processo de passagem para a pós-modernidade, é um momento no qual a sociedade tem buscado afastar-se da racionalização e do UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 68 cientificismo. Porém, há os que defendem que os hostes modernos devem ser seguidos pela sociedade, e por isso, atacam veementemente os postulados das ideias pós-modernidade. Quanto à ideologia presente na vida do homem pós-moderno, algumas questões são apontadas por Barth (2007), dentre as quais: a) Materialismo: na sociedade, o reconhecimento do indivíduo, via de regra, tem se feito pelo poder deste ganhar muito dinheiroe com o qual desfrutar dos benefícios que o mercado oferece, principalmente de produtos com alto valor agregado. E ainda, em termos gerais, o que importa é o ter e não o ser. Em última instância: “consumo, logo existo”. b) Hedonismo: o que tem se postulado é que o prazer se faz presente na vida das pessoas e este tem que se fazer presente a qualquer preço, não importando, muitas vezes, as consequências. c) Permissivismo: de um modo geral, tem se aceitado que tudo é permitido, desde que você se sinta bem. d) Relativismo: neste cenário tem predominado a subjetividade, a qual dita as regras, ou seja, nada é totalmente bom ou mau. Neste sentido, as verdades são oscilantes. e) Consumismo: dentre os ideais predominantes do homem pós-moderno está o consumo. O resultado disto é a cultura do desperdício, onde se vive para consumir, e essa é a única imagem valorizada. f) Niilismo: o homem pós-moderno é aberto, pluralista, transigente, capaz de dialogar com quem defende posturas totalmente distintas e contrárias às suas, o que somente o leva a uma indiferença relaxada. Segundo Barth (2007), o homem pós-moderno configura-se na: pluralidade, novidade, secularização, irracionalidade e imersão no universo. No campo educacional as discussões pós-modernas também se fazem presentes, com maior ou menor intensidade. E ainda podemos encontrar defensores das ideias pós-modernas na educação, como também posições contrárias. A seguir, veja fragmentos do texto de Maria Célia Marcondes de Moraes: O ‘pós-todas-as coisas’, um espírito de época, publicado na Revista PERSPECTlVA. Florianópolis, UFSC/CED, NUP, n. 24 (p. 45 – 59). O discurso pós-moderno e as teorias que o compõem não expressam, por certo, um corpo conceitual coerente e unificado. Ao contrário, quando se quer delimitar o seu sentido, nos deparamos com uma pluralidade de propostas TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 69 e interpretações, muitas vezes conflitantes entre si. Entre seus representantes mais notáveis existem diferenças marcantes e só uma leitura superficial poderia incluí-los em uma mesma corrente de pensamento. Na verdade, o que se convencionou chamar de pós-moderno possui hoje tanta abrangência que se transformou em um tipo de "conceito guarda-chuva", dizendo respeito a quase tudo: de questões estéticas e culturais, a filosóficas e político-sociais. São ditos pós-modernos, por exemplo, determinado estilo arquitetônico ou certos movimentos e expressões artísticas, produções no campo da teoria e da filosofia ou, até mesmo, um suposto novo estágio na história da humanidade. Fala-se que são pós-modernos "uma condição" (Harvey, Lyotard), "um estado da cultura" (Lyotard), "uma poética" ou "uma política" (Hutchon), uma "cultura" (Foster) ou "lógica cultural" (Jameson), uma nova forma "de experienciar o espaço e o tempo" (Jameson, Harvey). De todo modo, o termo entrou definitivamente na linguagem cotidiana e tornou-se uma influente imagem cultural. Talvez porque procure traduzir, no mais das vezes de forma confusa e imprecisa, as mudanças na vida social, política e moral impostas pelas múltiplas formas de reestruturação do capitalismo contemporâneo. Não cabe, neste artigo, interrogar sobre o significado de outros termos derivados do pós-moderno: pós-modernização, pós-modernidade e pós- modernismo. O que, de todo modo, não seria tarefa das mais simples. Basta lembrar que nada há de homogêneo, nem há um consenso sequer sobre a que se referem os conceitos de modernização, modernidade e modernismo. Quanto mais sobre os que a eles se propõem 'pós'! Pode-se adiantar, todavia, que tais termos traduzem a difícil e ingrata luta que o discurso pós-moderno trava com a questão tipicamente moderna da periodização histórica. Optamos, aqui, por um conceito mais inclusivo, o pós-moderno. Não obstante este conceito também estar carregado de ambiguidades, acreditamos ser possível uma caracterização, ainda que aproximada, do horizonte de questões a que se refere. O pós-moderno define-se melhor em sua contraposição às propostas da ilustração, usualmente associadas ao 'mundo moderno'. O sufixo 'pós', neste caso, indica uma inversão de sinais e símbolos, uma negação, muitas vezes grosseira e caricata, daquele momento da história e de suas práticas teóricas, políticas e culturais. A rigor, embora propondo voltar-se para o presente e para o futuro, o discurso pós-moderno mantém seu horizonte fixado por este passado. Assim, coloca sob suspeita a confiança iluminista em uma razão capaz de elaborar normas, construir sistemas de pensamento e de ação e da habilidade racional de planejar de forma duradoura a ordem social e política. Questiona o sentido de uma racionalidade que se proclama fonte do progresso, do saber e da sociedade, racionalidade vista como locus privilegiado da verdade e do conhecimento objetivo e sistemático. Critica a representação e a ideia de que a teoria espelha a realidade, bem como a linguagem como UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 70 FONTE: Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/.../10334>. Acesso em: 1 dez. 2011. Além da professora Marcondes, que acima fez as suas considerações sobre o pós-moderno, o professor Gatti (2005), em seu artigo “Pesquisa, educação e pós- modernidade: confrontos e dilemas”, apresenta alguns pontos característicos da pós-modernidade que foram sintetizados por Azevedo (1993). Veja a seguir: O primeiro ponto é que a pós-modernidade surge pela invalidação histórica e cultural das grandes análises e seus decorrentes relatos de emancipação. O segundo ponto é quando “ocorre a ruptura dos grandes modelos epistemológicos, com suas pretensões de verdade, objetividade e universalidade. Ruptura esta que se faz pela via da ideia, da indeterminação, da descontinuidade, do pluralismo teórico e ético, da proliferação de modelos e projetos” (AZEVEDO, 1993, p. 31). E o terceiro ponto referente à era pós-moderna é que “minimiza” o sentido emancipador da história que o moderno dá ao homem, através dos mitos do progresso, da salvação e da construção da própria história. meio transparente para "ideias claras e distintas". Denuncia a falência do processo de modernização que, longe de cumprir suas promessas de progresso e emancipação, tornou-se força opressora sobre mulheres e homens, dominou a natureza, produziu sofrimento e miséria, Desconfia do humanismo, acusa a arrogância das grandes narrativas e sua pretensão a uma unidade onisciente (Duayer e Moraes, 1996, p. 5). Crítica pertinente, como se vê, mas de inegável caráter idealista: o complexo de forças históricas que determina o desenvolvimento social é omitido e na balança só figuram ideias difusas da frustração, sobretudo as de Kant e Condorcet. Em seu desencanto sobre o que, a seu ver, constituiu o mundo moderno, o discurso pós-moderno põe-se arauto da indeterminação total, do caráter fragmentário, desintegrado, heterogêneo, descontínuo e plural do mundo físico e social, de nossa impossibilidade - até porque tudo o que existe agora são "cacos de pequenas razões particulares" (Veiga-Neto, 1995, p. 13) - de experienciar este mundo como uma totalidade ordenada e coerente e, portanto, de teorizar sobre ele. Nada mais há a ser objetivamente conhecido neste mundo relativo e fugaz, avesso a qualquer 'grand récit' (Lyotard) ou interpretação totalizante. O outro lado desta moeda é a negação do agir e da praxis do sujeito humano e sua redução a uma subjetividade diluída, atomizada em redes flexíveis de jogos de linguagem. Enfim, o que se propõe é a fala e o olhar do desejo eda sensibilidade em contraposição às ilusões da racionalidade e da objetividade. FONTE: Adaptado de: <www.unifacs.br/revistajuridica/arquivo/edicao.../doc05.doc>. Acesso em: 24 abr. 2012. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 71 LEITURA COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO E PÓS-MODERNIDADE: IMPASSES E PERSPECTIVAS Alfredo Veiga-Neto 1. As dificuldades semânticas Palavras tais como educação e pós-modernidade, mesmo tratadas independentemente uma da outra, são permanentes fontes de discussão e desacordo. Com o objetivo de diminuir um pouco suas respectivas riquezas e dispersões semânticas, mas sem com isso pretender esgotá-las e fixar-lhes os sentidos, estou tratando-as respectivamente como: a) educação: conjunto de práticas sociais cujo objetivo principal é trazida dos recém-chegados, crianças, estrangeiros, estranhos etc.— para uma determinada Quanto às discussões de cunho pós-moderno que se fazem presentes no campo educacional, podemos encontrar os mais variados enfoques em livros, revistas científicas do campo educacional ou em pesquisas. Outrossim, as discussões quanto ao empreendimento das ideias pós- modernas na educação não são de consenso. Conforme Goldman (2001, p. 58), [...] “os tempos estão mudando. Em qualquer caso, eu sou um defensor da tradição. Permaneço firme contra os hostes pós-modernismo e do social-construtivismo, que tentam apagar qualquer vestígio de verdade e objetividade”. Enfim, caro(a) acadêmico(a), como você viu, não há consenso quanto às discussões em torno da pós-modernidade. Por isso, a título de sugestão, para que você aprofunde os seus conhecimentos nesta temática, busque investigar o que se tem discutido sobre este tema na sua área específica e, posteriormente, formar sua “opinião” sobre o assunto em tela. Caro(a) acadêmico(a), leia a seguir uma parte do Resumo da Aula Inaugural no Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PPG-Educação/PUC-Rio), em março de 2005, do professor Alfredo Veiga-Neto, intitulada: Educação e pós-modernidade: impasses e perspectivas. UNI UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 72 cultura que “já estava aí”; OBS: o texto foi tirado do artigo “Educação e Pós- Modernidade: Impasses e Perspectivas”, Alfredo Veiga-Neto, ou seja, são ideias do autor, foi ele que escreveu desta forma. b) pós-modernidade: estado ou forma de vida e da cultura contemporâneas, que alguns chamam de hipermodernidade (Lipovestky), modernidade tardia (Rouanet), modernidade avançada, modernidade líquida (Bauman), e que, se descartando das metanarrativas iluministas, ressignifica as percepções e usos do tempo e do espaço. Para Usher & Edwards (1994, p.7): talvez tudo o que possamos dizer com algum grau de segurança é o que o pós-moderno não é. Certamente, não é um termo que designa uma teoria sistemática ou uma filosofia compreensiva. Nem se refere a um sistema de ideias ou conceitos no sentido convencional; nem é uma palavra que denota um movimento social, ou cultural, unificado. Tudo o que podemos dizer é que ele é complexo e multiforme, que resiste a uma explanação redutiva e simplista. 2. Os registros nas relações entre educação e pós-modernidade Reconhecer que o mundo pós-moderno (ou contemporâneo) é diferente do mundo no qual e para o qual a educação (moderna) foi pensada e organizada – para, a partir daí, reconhecer os desencaixes (Giddens) e tentar superá-los ou contorná-los, usando teorias modernas – não é o mesmo que assumir perspectivas teóricas pós-modernas para analisar as relações entre educação e mundo atual. Assim, pode-se examinar o mundo de hoje com ferramentas de ontem, mas não seria melhor tentar construir novas ferramentas para pensá-lo e examiná-lo, agora, a partir de novas bases? Além dessas duas alternativas, resta uma terceira, mais conservadora e, no meu entender, bastante problemática: insistir que o mundo contemporâneo só difere do mundo de ontem em termos quantitativos, isso é, não reconhecer que saímos da Modernidade. Nesse caso, alguém poderia argumentar que a rigor e para usar a conhecida expressão de Latour (1994) - afinal, “jamais fomos modernos”. Mas a questão não é bem essa. A questão é que pensamos, durante um longo tempo, que éramos modernos e bastava pensar isso para que nos sentíssemos como modernos... Pensamos que as metanarrativas iluministas eram “verdades verdadeiramente verdadeiras”, pairando imutáveis acima de nós - porque estariam enganchadas no céu, ou porque repousariam sobre rocha firme. Hoje, é preciso uma boa dose de fé epistemológica para continuar acreditando nisso. Nesse caso, cada um coloque as fichas onde quiser ou puder colocá-las... 3. A Modernidade está em crise? Se mais acima me referi à crise da Modernidade como uma “assim chamada crise” é porque a própria noção de crise é imanente à Modernidade. Nas palavras de Hardt & Negri (2003, p. 93), “a própria modernidade é definida por crise”. De um lado, e como muitos autores já demonstraram, a TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 73 Modernidade já nasceu marcada por uma vontade de ordem, segundo a qual a ambivalência - isto é, “a possibilidade de conferir a um objeto ou evento mais de uma categoria” (BAUMAN, 1999, p. 9) - é vista como algo a ser necessariamente superado. De outro lado, a temporalidade moderna separou-se não apenas da experiência humana imediata, ou seja, se tornou abstrata - como, também, da própria espacialidade, à qual se mantivera fortemente vinculada, ao longo da Idade Média. Como resultado dessa dupla separação, o tempo saiu da ordem do divino e entrou na ordem do humano, o que explica a redução moderna do devir ao futuro. Uma das lições do Humanismo: o futuro deixa de pertencer a Deus e passa a ser de responsabilidade do Homem; um corolário: o futuro está nas mãos do Homem. Junto a tudo isso deve-se acrescentar o conflito que se estabeleceu entre as duas Modernidades, ou seja, entre a primeira Modernidade, centrada na imanência, e a segunda Modernidade, centrada na transcendência. A insistência kantiana na transcendência nunca conseguiu se ajustar bem à imanência que, tendo marcado a ruptura do pensamento moderno em relação ao pensamento medieval, ainda permanece como fonte da permanente crise da Modernidade. Em suma, falar em crise da Modernidade é um truísmo, mas isso não impede que se reconheça que a Modernidade esteja, em seu esgotamento, nos mostrando, mais do que nunca e de modo ameaçador e perturbador, sua face de múltiplas crises. Parece que, agora, o acúmulo de tantas crises acabou por romper o delicado equilíbrio em que sempre esteve o mundo moderno. 4. Mesmo assim: as crises… a) espaço e tempo: a espacialidade e a temporalidade modernas parecem estar chegando ao seu esgotamento. Ao se independizarem da experiência humana imediata e se abstraírem, espaço e tempo se colocaram “à disposição” para serem manipulados, administrados pelo Homem, o que funcionou como condição de possibilidade para essa nova forma de vida, que chamamos de moderna. Trata- se de um modo de vida pautado pelo imperativo da aceleração, a ponto de estarmos vivendo numa sociedade em que espaço e tempo estão se colapsando, numa sociedade que Virilio (2000) adjetivou de dromológica. O que me parece mais interessante, aqui, é relacionar tal colapso com a educação, principalmente a educação escolar, a fim de examinar, por exemplo, que têm diretamente a ver o currículo, os rituais escolares e as políticas educacionais com o desencaixe, a fantasmagoria,a transitoriedade. E se pensarmos em relações indiretas, mas sempre muito próximas [...], que tem tudo isso a ver com a volatilidade, o hiperconsumo, o descarte, a flexibilização, as novas relações de trabalho, a corrupção endêmica? b) teoria: não se trata de reconhecer apenas que estamos vivendo fortes embates entre diferentes teorias, sejam elas antagônicas ou não; são os próprios conceitos UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 74 de teoria que parecem estar em crise. Se entendermos que uma teoria caracteriza- se por “uma ordenação sistemática, sequencial, lógica e hierarquicamente encadeada de enunciados, princípios, leis e respectivos processos metodológicos e recursos instrumentais” (VEIGA-NETO, 2006, s.p.), então boa parte do que está sendo produzido no campo da pesquisa educacional não parte de teoria nem institui alguma nova teoria. Isso em si não é problemático; não significa, absolutamente, uma crise da teorização, mas uma crise do paradigma. Para aqueles que, seguindo estritamente a paradigmatologia kuhniana, veem as ciências duras como exemplos do que consideram ser a boa ciência, tal crise parece um retrocesso. Mas nosso entendimento pode ser outro, de modo que mesmo a crise do paradigma não é, em si, nada a lamentar e, talvez, até mesmo o contrário... Mas, por outro lado, é preciso reconhecer que tal crise tem significado, em muitos casos, a abertura para um tipo de pesquisa e atividades acadêmicas que correm o risco de cair no relativismo epistemológico do “tudo vale” e, em consequência, de cair na falta de rigor, no achismo, na mesmice, no senso comum, na literatice. 5. Os impasses a) A diferença: tudo se passa como se, de repente, as metanarrativas modernas da totalidade e da unidade tenham implodido, povoando o mundo com cacos todos diferentes entre si. As sonhadas igualdade e homogeneidade modernas deram lugar à diferença. De repente, descobriu-se que Nietzsche (1996, § 111) tinha razão: “... pois não há em si nada igual...” Então, se a escola moderna foi pensada e instituída com, entre outros, o objetivo de “equalizar” o mundo, como ficaremos diante do elogio à diferença? E como poderemos garantir, ao mesmo tempo, o direito à diferença e a manutenção da igualdade? b) Novas configurações políticas: qual será o papel da educação, especialmente da educação escolar, frente às novas configurações macro e micropolíticas que se desenharam nas últimas décadas e que cada vez mais invadem o cotidiano de nossas vidas? Entre as muitas questões nas quais essa pergunta se desdobra, três me parecem mais importantes e urgentes: Como pensar as políticas educacionais num mundo em que se assiste à rápida substituição da lógica imperialista pela lógica imperial? Como conduzir o cotidiano das escolas, um cotidiano que a pedagogia moderna se encarregou, nos últimos 300 anos, de centrar na disciplinaridade (dos corpos e dos saberes), agora que as sociedades estão se deslocando da ênfase sobre a disciplina para a ênfase sobre o controle? Como organizar e colocar em funcionamento currículos num mundo “glocalizado”, isso é, um mundo que, ao mesmo tempo, se globaliza e se localiza? Para usar a feliz imagem de Maffesoli (2005), afinal estamos vivendo num mundo em que a “macdonaldização” caminha junto com a reafirmação da feijoada. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO 75 c) As culturas: como educar num mundo em que a palavra cultura não pode mais ser escrita nem no singular nem com inicial maiúscula? Afinal, se já sabemos que há diferenças culturais, mas não há supremacias culturais, que estamos diante de realidades multiculturais, interculturais, transculturais etc., como vamos eleger esses ou aqueles conteúdos culturais para esses ou aqueles grupos? Quem definirá o que é melhor para cada grupo social? E, talvez mais complicado do que isso: como se organizarão os grupos, ou seja, quais os critérios a seguir para formar os grupos sociais, de modo a disponibilizar a eles acessos mais justos e bem distribuídos? d) Como proceder à desconstrução daquilo que costumo denominar “as sete pragas da pedagogia moderna” sem cair nem num tudo vale nem num niilismo pedagógico? As doutrinas subjacentes ao pensamento pedagógico moderno, a saber: o transcendentalismo, o finalismo, o catastrofismo (com seu correlato denuncismo), o salvacionismo, o prometeísmo, o prescritivismo (com seus correlatos metodologismo e reducionismo) e o messianismo (com seu correlato fundamentalismo), estão à espera de uma desconstrução que possa revelar seu caráter não transcendente, mas construído e, por isso, arbitrário. Na medida em que tais pragas interferem no entendimento de vários fenômenos educacionais e até mesmo na consecução de algumas políticas pedagógicas, sua desconstrução poderá ter efeitos práticos interessantes. 6. As perspectivas As perspectivas se estabelecem sempre uma função de três condições fundamentais: a) de onde se parte para empreender a análise; b) por quais perspectivas se caminha e; c) qual a disposição de trabalhar num e para um presente melhor, sabendo que é nesse presente que se estabelecem as condições de possibilidade para esse ou aquele devir. Isso nada tem a ver com a pretensão de modelar o devir, na vã tentativa de transformá-lo em futuro, isso é, em devir administrado. Não se trata de tentar uma engenharia para modelar o devir, mas de viver o presente sabendo que é a partir dele que o devir se transformará em futuro, sempre sabendo que tal transformação só acontecerá em ato. Já discuti, ainda que sucintamente, a maior parte do que considero serem as perspectivas no entrecruzamento da educação com a pós- modernidade. Entre todas, as que me parecem mais importantes são a prática da hipercrítica, com o correlato afastamento do niilismo, o desconstrucionismo e, talvez acima de tudo, o “estar preparado”. UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 76 Não é raro ouvirmos o argumento de que todas essas discussões têm pouca aplicação num país como o nosso, pois, ainda lutando contra carências tão gritantes, profundas e dramáticas, estaríamos ainda distantes dos problemas e impasses que discuti. Atropelados pelos muitos e enormes desafios que temos pela frente, não são poucos os que preferem se dedicar a resolvê-los “à moda antiga”, como se já não estivéssemos vivendo num mundo globalizado, dromológico, presentificado etc. Eis aí um bom exemplo de silogismo erístico: apesar da verossimilhança das premissas, pelo menos uma delas é falsa; logo, a conclusão também o é. De fato, mesmo que ainda estejamos lutando contra carências tão básicas, disso não se pode concluir que não estejamos também mergulhados nesse estado ou forma de vida que chamamos de pós-moderna. Num mundo globalizado e apesar da celebração da feijoada - o “estar preparado” vale para todos, em qualquer lugar. FONTE: Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/acessoConteudo. php?nrseqoco=25993>. Acesso em: 20 de jul. 2011. 77 RESUMO DO TÓPICO 1 Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que: • Não há consenso sobre se estamos na modernidade ou pós-modernidade. • Segundo Habermas (1985), o projeto da Modernidade não está terminado, o que torna inverídico atribuir o “pós” a uma realidade ainda em construção. • De acordo com Latour (1994), jamais fomos modernos, e ele rejeita as pretensões pós-modernas. • Giddens (1991) não vê nenhuma ruptura ou descontinuidade que justifique um “pós” para além do moderno. • A obra “A condição pós-moderna”, de Lyotard, desconstrói os pilares da ciência moderna e as suas narrativas. • As ideologias na vida pós-moderna,segundo Barth, são o materialismo, o hedonismo, permissivismo, relativismo, consumismo e niilismo. • Para Moraes, o discurso pós-moderno, bem como as suas teorias, não expressam um corpo conceitual coerente e unificado. 78 AUTOATIVIDADE 1 A partir do estudo deste tópico, aponte as principais características da modernidade e pós-modernidade. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2 Em sua opinião, estamos na pós-modernidade? Justifique com três argumentos. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 3 Pesquise um texto na sua área que tenha como discussão modernidade ou pós-modernidade e depois: a. Escreva as principais ideias discutidas. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ b. Escreva se você concorda ou não com as ideias discutidas no texto que você pesquisou. Justifique com três argumentos. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 79 4 Sintetize as ideias ou argumentos a favor e contra a pós-modernidade. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 5 Sintetize as principais ideias do texto do professor Alfredo Veiga-Neto sobre Educação e pós-modernidade: impasse e perspectivas. 80 81 TÓPICO 2 EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), sobre as diversas percepções que podemos ter no campo educativo, seja do professor, aluno, formas de ensinar e finalidades da educação, não podemos deixar de mencionar sobre todo o aparato organizacional que existe para que o sistema educacional funcione, em termos de infraestrutura e recursos humanos. Então, não podemos negar que há toda uma organização para que a escola funcione, desde a secretaria da própria escola, como as secretarias municipais e estaduais de Educação, ou ainda, a própria forma de gerir uma escola, que pode adotar diversos modelos. Assim, nesta unidade você estudará inicialmente uma das formas de se conceber as organizações. No caso, como máquinas e posteriormente outras formas, tendo como guia as postuladas por Morgan na obra “Imagens das organizações”. E neste sentido podemos nos perguntar: Qual a melhor forma de administrar uma instituição de ensino para assegurar os objetivos educacionais? 2 ORGANIZAÇÕES: DIVERSIDADES DE METÁFORAS As organizações não podem ser observadas sob mais de um único ponto de vista, pois devido à complexidade de cada qual, cada vez mais demanda um esforço sempre maior para compreendê-las. Nas organizações existem diversos elementos que a compõem, a exemplo: máquinas, pessoas, finanças, tecnologia, contabilidade, missão e visão, e ainda as necessidades do mercado. Frente a este cenário, muitas organizações podem crescer e prosperar e outras, simplesmente, desaparecer. Já no meio educacional, muitas escolas, no decorrer da história, e muitas instituições de ensino, fecharam as suas portas. Outras, atualmente, têm dificuldades para se manter e auto-organizar-se. Outras, ainda, não têm recursos financeiros para manter o seu funcionamento. Então, cada vez mais é primordial conhecer as organizações, bem como as instituições de ensino, sejam seus pontos fracos ou fortes, seus limites, sua real capacidade de adaptação e inovação. Por isso, é necessário usar o maior número de instrumentos para conhecer e planejar estas organizações, a fim de que as mesmas alcancem o que se propõem e minimizem as possibilidades de erros na tomada de decisão ou planejamento. E para isso é salutar que os mentores ou gerenciadores, 82 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO diretores das instituições de ensino, tenham conhecimento prévio, ou sejam assessorados por pessoas de outras áreas do conhecimento para que possam atingir com excelência os seus propósitos. Neste sentido, Morgan (1996) postula que é necessário ler as organizações das mais variadas formas e, para isso, na sua obra “Imagens da Organização”, apresenta metáforas para as organizações, as quais são: *As organizações vistas como máquinas. *As organizações vistas como organismos. *As organizações vistas como cérebros. *As organizações vistas como cultura. *As organizações vistas como unidades políticas. *As organizações vistas como prisões psíquicas. *As organizações vistas como fluxo e transformações. *As organizações vistas como instrumento de dominação. Essas formas de conceber as organizações podem, de certa forma, auxiliar, juntamente com as próprias discussões educacionais, sobre as melhores formas de gerir uma instituição de ensino. Entretanto, salienta-se que focalizaremos os estudos nas organizações vistas como máquinas, organismos, cérebros e cultura, unidades políticas e instrumentos de dominação. Somente em virtude da obra vasta de Morgan é que, em paralelo, refletiremos sobre as possíveis formas de se gerir uma instituição de ensino. “Administradores eficazes e profissionais de todos os tipos e estágios, não importa sejam executivos, administradores públicos, consultores organizacionais, políticos ou sindicalistas, precisam desenvolver suas habilidades na arte de “ler” as situações que estão tentando organizar ou administrar” (MORGAN, p. 1999, p.15). 2.1 ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO MÁQUINAS A divisão do trabalho postulada por Adam Smith, no seu livro “A Riqueza das Nações” (1776), evidenciou-se no desenrolar da Revolução Industrial. Tornou- se crescentemente especializada, à medidaque os fabricantes buscavam aumentar a eficiência, reduzindo a liberdade de ação dos trabalhadores em favor do controle exercido por suas máquinas e supervisores. IMPORTANT E 83 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS No âmbito militar, pelo menos desde os tempos de Frederico, da Prússia, foi um dos protótipos de organização mecanicista. Frederico, fascinado pelo funcionamento dos brinquedos mecânicos e na busca de tornar o exército um instrumento confiável e eficiente, introduziu muitas reformas que serviram para reduzir os seus soldados a autômatos. Dentre as reformas estavam: - a introdução de soldados rasos e uniformes; - padronização de regulamentos; - especialização de tarefas; - o uso de equipamento padronizado; - linguagem de comando e treinamento sistêmico que envolvia exercícios de guerra e disciplina. Sua tentativa visava transformar o exército em um mecanismo eficiente, que funcionasse por meio de peças padronizadas. Com o passar do tempo, aprendemos a usar a máquina como uma metáfora para nós mesmos e a nossa sociedade, adaptando o nosso mundo em concordância com princípios mecânicos. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que na organização moderna. Pode-se perceber isso na vida organizacional moderna, a qual é constantemente rotinizada com a precisão exigida de um relógio. Espera-se das pessoas que cheguem ao trabalho em determinada hora, façam um conjunto predeterminado de atividades, descansem em horas marcadas e, então, retomem as suas atividades até que o trabalho termine. Em muitas organizações, um turno de trabalho substitui outro de maneira metódica, de tal forma que o trabalho possa continuar continuadamente 24 horas por dia, todos os dias do ano. Desse modo, o trabalho se torna, frequentemente, mecânico e repetitivo. Ao agir mecanicamente, o indivíduo enfatiza a rapidez (tempo) para o controle de tarefas (produção). Sendo assim, o profissional é uma engrenagem e sua potencialidade corporal, neste momento, fica engessada e o raciocínio semibloqueado. Qualquer indivíduo pode observar o trabalho de produção em massa, ou em algum grande “escritório-fábrica” que processa formulários de papel, tais como: pedidos de seguro, devoluções de impostos e serviços bancários. Percebe-se a maneira maquinal pela qual tais organizações operam de forma mecanizada, devido ao ordenamento sistematizado dos processos. Estas IMPORTANT E 84 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO organizações são planejadas de acordo com o funcionamento das máquinas, e se espera que seus integrantes se comportem como se fossem engrenagem de máquinas. FONTE: Adaptado de: <http://student.dei.uc.pt/~jaimemc/org.htm>. Acesso em: 25 abr. 2012. As organizações planejadas e operadas como se fossem máquinas são comumente chamadas de burocracias. Quando se fala de organização, habitualmente se pensa num estado de relações ordenadas entre partes claramente definidas, que possuem alguma ordem determinada. Embora a imagem não possa ser explícita, fala-se de um conjunto de relações mecânicas. Verificam-se organizações como se fossem máquinas e, consequentemente, existe uma tendência em esperar que operem como máquinas: de maneira rotinizada, eficiente, confiável e previsível. Assim, em algumas organizações, o modo de ser mecânico da organização pode oferecer as bases para uma operação eficaz. Em outras, porém, pode ter consequências muito infelizes. Portanto, é importante compreender como e quando se está engajado em uma forma de pensar mecanicista. E como tantas teorias populares e ideias tidas como certas sobre a organização apoiam esse tipo de pensamento. Um dos maiores desafios com que se deparam muitas organizações modernas é substituir esse tipo de pensamento por ideias e enfoques novos. FONTE: Disponível em: <http://student.dei.uc.pt/~jaimemc/org.htm>. Acesso em: 25 abr. 2012. A contribuição mais importante a essa teoria foi do sociólogo alemão Max Weber, concluindo que as formas burocráticas rotinizam os processos de administração, exatamente como a máquina rotiniza a produção. Weber definiu, primeiramente, a organização burocrática como uma forma de organização que enfatiza a precisão, a rapidez, a clareza, a regularidade, a confiabilidade e a eficiência, atingidas através da criação de uma divisão de tarefas fixas, supervisão hierárquica, regras detalhadas e regulamentos. Para Weber, o tipo puro de organização burocrática é o mais eficiente no sentido técnico e o melhor aparelhado para exercer dominação sobre os seres humanos. Pode ser aplicado a qualquer tipo de situação e contexto. O seu traço mais racional é o exercício do poder com base no saber técnico. UNI 85 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS No entanto, Morgan (1996) aponta algumas forças e limitações da metáfora da máquina. Nesse contexto, para Morgan, o enfoque mecanicista da organização funciona bem somente sob condições nas quais as máquinas operam bem, ou seja: a) quando existe uma tarefa contínua a ser desempenhada; b) quando o ambiente é suficientemente estável para assegurar que os produtos oferecidos sejam os apropriados; c) quando se quer produzir sempre exatamente o mesmo produto; d) quando a precisão é a meta; e) quando as partes humanas da máquina são submissas e comportam- se como foi planejado que façam (MORGAN, 1996, p. 37). Entretanto, mesmo que se pense que as organizações sob o enfoque da metáfora mecânica têm os seus pontos fortes, também há limitações. Em particular, elas podem ser: a) criar formas organizacionais que tenham grande dificuldade em se adaptar a circunstâncias de mudança; b) desembocar num tipo de burocracia sem significado e indesejável; c) ter consequências imprevisíveis e indesejáveis, à medida que os interesses daqueles que trabalham na organização ganhem precedência sobre os objetivos que foram planejados para serem atingidos pela organização; d) ter um efeito desumanizante sobre os empregados, especialmente sobre aqueles posicionados em níveis mais baixos de hierarquia organizacional (MORGAN, 1996, p. 38). Enfim, caro(a) acadêmico(a), é comum no seu dia a dia observar organizações conforme os moldes mecanicistas. Diante disso, reflita se no campo educacional, principalmente nas instituições de ensino, temos exemplos que podem estar em consonância com a metáfora mecanicista. E ainda: se há exemplos, quais seriam os pontos fortes e as limitações? PENSE SOBRE ISSO! Caro(a) acadêmico(a), para efeito de ilustração, sugiro que assista ao filme: “Vida de inseto”. No filme pode-se ver as forças e as fraquezas da metáfora mecanicista. Sinopse: No mundo dos insetos, as formigas são manipuladas pelos gafanhotos, que todos os anos exigem uma quantia de comida, ameaçando atacar o formigueiro. É quando Flik, um inseto (formiga) cansado da vida oprimida, sai em busca de outros insetos dispostos a ajudar o formigueiro a combater os gafanhotos. Flik é um inseto cheio de ideias que, em nome dos oprimidos de todo o mundo, precisa contratar guerreiros para defender sua colônia de um faminto bando de gafanhotos liderado por Hopper. O inseto Flik recruta uma trupe de artistas de um circo de pulgas, tomando-os por destemidos mercenários... FONTE: Disponível em: <http://www.toymagazine.com.br/dvd-vida- inseto-p-294.html>. Acesso em: 25 abr. 2012. DICAS 86 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO 2.2 AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO ORGANISMOS Você já estudou que, mesmo com as forças apontadas por Morgan (1996), há uma série de limitações. Neste sentido, a metáfora vista como máquina também sofre críticas,principalmente em virtude de inibir a liberdade e a criatividade. No âmbito organizacional, também tem se levado em consideração os aspectos culturais. Para Morgan (1996), as questões culturais envolvem: valores, crenças, ritos, mitos do lugar e das pessoas que rodeiam a empresa. Neste contexto, pode-se dizer que os aspectos culturais influenciam o comportamento, a forma de agir e pensar e até mesmo de planejar a organização. Desta forma, se observarmos o histórico da natureza, veremos que diversas espécies, sejam de animais ou de vegetais, deixaram de existir, enquanto outras surgiram devido às suas adaptações. Ainda, há outras que estão em fase de extinção devido à dificuldade de adaptar-se, ou em virtude de circunstâncias externas, que são mais fortes do que a sua capacidade de adaptação. A metáfora vista como organismo teve como inspiração a biologia, principalmente em virtude da teoria da evolução de Darwin, da qual é possível se abstrair algumas analogias. Se no mundo da natureza a lei da sobrevivência ou do mais forte impera, e somente os que se adaptam às contingências internas e externas conseguem sobreviver, no caso específico das organizações isso também pode acontecer. Por isso, neste ambiente de competição, para as organizações sobreviverem, precisam desenvolver novas habilidades para adaptar-se e inovar, pois, de certa forma, somente as mais adaptadas sobrevivem. Para aprofundar seus conhecimentos, recomendo que assista ao filme: PATCH ADAMS - O AMOR É CONTAGIOSO (1998). Patch Adams: Um estudante de Medicina começa a usar amor e carinho como armas para ajudar as pessoas hospitalizadas, até que começa a despertar desconfiança e ciúme dentro da própria classe médica. Título Original: Patch Adams. Origem: Estados Unidos, 1998. Diretor: Tom Shadyac. Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica Potter, Philip Seymour Hoffman. Duração: 114 minutos. 1998. FONTE: Disponível em: <http://www.portaldecinema.com.br/Filmes/patch_adams_o_ amor_e_contagioso.htm>. DICAS 87 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS Desta forma, como analogia, ao olharmos para o mundo dos negócios, ou até mesmo nas instituições de ensino, veremos que algumas conseguem adaptar-se com mais facilidade e flexibilidade às contingências externas ou internas, e outras simplesmente desaparecem por não conseguir adaptar-se ou encontrar novos meios para sobreviver no seu habitat. Assim, de acordo com Morgan (1999, p. 44): descobre-se que organizações burocráticas tendem a funcionar mais eficazmente em ambientes que são estáveis ou, de alguma forma, protegidos, e que tipos muito diferentes são encontrados em regiões mais competitivas e turbulentas, tais como: empresas de alta tecnologia, nos campos aeroespacial e microeletrônica. Enfim, as organizações vistas como organismo são uma forma de verificar que certas organizações devem estar atentas às condições externas, para acompanhar as mudanças e a fim de inovar-se adequadamente e atender às necessidades externas ou internas. Caro(a) acadêmico(a), o que foi mencionado tem impactos no mundo dos negócios, nos dias atuais. Então, leia atentamente o texto a seguir e faça a sua análise no sentido de confrontar o que foi mencionado anteriormente com o que postula o texto. AS EMPRESAS VIVEM Se a sua parece não respirar, revitalize-a: basta que pessoas e grupos descubram e incorporem conceitos arquetípicos ao seu jeito de ser e à sua atuação e, portanto, ao seu processo de gestão. Esse é o segredo dos deuses. Jair Moggi As empresas são organismos vivos por excelência. Em primeiro lugar, porque, sendo uma criação do ser humano, o ser vivo que é a obra-prima da natureza, podemos dizer –, tem com ele uma ligação ontológica, ou seja, a criatura divide aspectos comuns com o criador. [...] Influência no Modelo de Gestão Podemos comprovar, com facilidade, que algumas qualidades predominantes nos seres vivos jamais estarão presentes em modelos organizacionais baseados em princípios de rigidez que negam a vida, como a hierarquia tradicional ou os modelos mecanicistas de gestão, que moldaram nossa civilização e nossa cultura empresarial atual. Quando as empresas trabalham com base nos princípios do modelo de gestão orgânico, elas metamorfoseiam e incorporam na cultura empresarial as 88 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO qualidades e características típicas de um ser vivo, passando a responder com agilidade e flexibilidade às necessidades do mundo externo, usando a intuição com a razão nas decisões e enfrentando as dificuldades de forma criativa. Assim como nos demais organismos vivos, as células empresariais (indivíduos primeiro e grupos em segundo) têm no mesmo DNA os genes que orientam as pessoas e os grupos em direção à “chama sagrada da empresa”, à razão da sua existência, à sua missão, mesmo que cada uma pertença a um sistema ou processo organizacional diferente. Isso é o que possibilita às empresas condições de sobrevivência, crescimento e desenvolvimento em um ambiente de competitividade acelerada, à semelhança dos seres vivos que fazem isso ao longo de todo o seu processo evolutivo. Para as pessoas, o modelo celular ou de gestão orgânica cria condições e oportunidades concretas para o real aprendizado existencial individual e organizacional, revelando novos talentos, novas habilidades, agregando novas competências à cultura organizacional. FONTE: HSM Management Update nº 52 – Janeiro, 2008. Disponível em: <www.adigo.com.br/ UserFiles/.../Artigo_HSM_update_jan_08.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2012. Caro(a) acadêmico(a), reflita e pense sobre: quais são as contingências externas e internas que, de certa forma, exigem das instituições de ensino que quiserem sobreviver, desenvolver novas habilidades para poder se adaptar? Ou ainda, quanto ao professor, quais as novas habilidades que deve desenvolver para se adaptar às novas contingências internas (da escola) e externas (da sociedade, leis, propostas pedagógicas)? Pense sobre isso! É UMA SELVA POR AÍ Entre os mitos e metáforas mais danosos da linguagem dos negócios estão os conceitos darwinianos machistas de “sobrevivência do mais apto” e “é uma selva por aí”. A ideia subentendida, é claro, é que a vida de negócios é competitiva e nem sempre justa. No entanto, esse óbvio par de ideias é muito diferente das imagens “pega-pra-capar” e “cada um por si”, rotineira no mundo dos negócios. É verdade que os negócios são e devem ser competitivos, mas não é verdade que precisam ser implacáveis ou canibalísticos, ou que “as pessoas têm de fazer qualquer coisa para sobreviver”. Algumas metáforas de animais são, sem dúvida, encantadoras. Um chefe ocasional pode ser um “ursinho de pelúcia” e um negociador combativo é um “tigre” -, mas a maioria das vezes elas são aviltantes. Empregados, executivos e concorrentes são descritos como 89 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS cascavéis, ratos e uma ampla variedade de roedores. As corporações, por sua vez, são associadas a tanques de peixes, ninhos de cobra e brigas de gato e, às vezes, as imagens da flora da própria selva são invocadas. Mas, além de implicarem em um uso errado da biologia e serem injustas com os animais, as metáforas da selva são ruins, em particular para os negócios, que são (ou deveriam ser) tudo, menos incivilizados, desprovidos de regras e governados pelo instinto assassino. FONTE: SOLOMON, Robert. Ética e excelência: integridade e cooperação e integridade nos negócios. São Paulo: Civilização, 2006, p. 52. 2.3 AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO CÉREBRO Atualmente é comum, em diversasáreas, inclusive na educação, se falar sobre neurociência, cérebro artificial, ciências cognitivas, neuromarketing, dentre outras áreas ligadas ao cérebro. Os estudos sobre o cérebro têm demandado esforços de diversos estudiosos em diversas áreas. Entretanto, destaca-se que o cérebro também serviu e serve de metáfora para entendimento das organizações. Veja o que diz Morgan (1996, p. 83): o cérebro, dessa forma, oferece uma metáfora óbvia para a organização. Particularmente, se a preocupação é melhorar a capacidade de inteligência organizacional. Muitos administradores e teóricos organizacionais apenas tocaram superficialmente neste ponto, limitando a sua atenção à ideia de que a organização necessita de um cérebro ou uma função semelhante ao do cérebro [...] que sejam capazes de pensar para o resto da organização, controlar e integrar, sobretudo, atividade organizacional. Entretanto, diante deste contexto, postula-se que o sucesso de uma organização está no ser humano, designado por muitos de capital humano. E este “ser humano” que pretende fazer parte do mundo do trabalho tem se deparado com o fato de que é necessário conhecer a si mesmo, seus limites e suas potencialidades, e, além do mais, estar sempre aprendendo. E isso vale também para as organizações, que precisam saber seus pontos fortes, seus limites e precisam, acima de tudo, estarem aptas a aprender a aprender. No caso das instituições de ensino, podemos citar o exemplo dos professores, ou até mesmo dos dirigentes. Diante disso, algumas questões se apresentam: - As instituições de ensino são capazes de aprender? - O professor e os dirigentes são capazes de aprender a aprender constantemente? - Quais as principais barreiras para a aprendizagem? - Qual é o melhor momento para aprender? 90 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Reflita sobre isso, caro(a) acadêmico(a)! Diante deste contexto, a metáfora do cérebro é uma das formas de pensar as organizações, e também as instituições de ensino, principalmente no sentido de processar informações e ainda ser capaz de aprender. Portanto, de certa forma pode-se auferir que as organizações são sistemas de processamento de informações, assim como o cérebro humano. A partir dessa concepção, pensou-se na ideia de que é possível planejar tais organizações, de forma que elas possam aprender a auto- organizar-se, como um cérebro em completo funcionamento (MORGAN, 1996). A ideia postulada nesta metáfora é de que a organização, tendo capacidade de aprender, será capaz de inovar, encontrar soluções e superar os desafios vigentes, neste ambiente de constantes mudanças em que vivemos. Pelo menos assim se espera. Neste sentido, o cérebro tem mostrado ter capacidade para se auto- organizar de diversas maneiras e de acordo com as necessidades postas. Conforme Morgan (1996, p. 101), “o cérebro tem essa interessante capacidade de organizar e reorganizar a si mesmo para lidar com as contingências que enfrenta. [...]. Os conhecimentos levam a ver o cérebro como um sistema, no qual este desempenha parte importante em se autoplanejar no curso da evolução”. Enfim, para o âmbito educacional, mais do que nunca, a necessidade de aprimorar a capacidade de aprender, inovar e encontrar soluções é primordial, face ao contexto histórico em que vivemos. Além disso, em virtude das novas exigências e cobranças que se têm feito presentes na educação, e o perfil das crianças e adolescentes que fazem parte da escola (como veremos na Unidade 3), os desafios apresentados aos gestores educacionais e professores serão inúmeros. Por isso, a metáfora do cérebro pode apresentar algumas ideias relevantes. PENSE SOBRE ISSO. 2.4 AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO CULTURAS Caro(a) acadêmico(a), você tem percebido que com a “globalização” houve sobremaneira aumento do comércio internacional e, também, pessoas de diversas culturas circulando por diversos países, seja fazendo negócios, turismo, estudando, ou ainda fazendo um curso em EAD por uma instituição de outro país. Desta forma, salienta-se que os profissionais de diversas áreas estão atentos à cultura das empresas de outros países com os quais terão contatos, ou, até mesmo, à cultura individual de cada membro que compõe a organização. Por isso é importante perceber como cada indivíduo pensa ou raciocina, de que escola de pensamento é oriundo, ou ainda, que aspectos culturais são importantes para aquele com quem se deseja negociar ou entrar em contato. 91 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS Neste sentido, uma das formas de se ver as organizações é através da metáfora da cultura. Em ressalva, destaca-se que a cultura deriva do verbo latino colore, que significa cultivar, ideia de cultivo, do processo de arar a terra. Atualmente, a palavra cultura pode ser utilizada de forma genérica e com muitos sentidos. Ou seja, cada povo pode ter, em períodos históricos diferentes, mudado a sua maneira de pensar, ver e agir no mundo. Ou também, podemos encontrar culturas milenares e, por outro lado, outras que passam rapidamente. Se assim podemos dizer, em forma de modismo. O cientista político Robert Presthus sugeriu que vivemos, atualmente, numa “sociedade organizacional”. Seja no Japão, na Alemanha, Hong- Hong, Inglater- ra, Rússia, Estados Unidos ou Canadá. Grandes organizações são capazes de influenciar a maior parte do dia a dia das pessoas, de maneira completamente estranha àquela encontrada numa remota tribo nas selvas da América do Sul. Isso parece óbvio, mas muitas culturas não parecem óbvio. Por exemplo, porque tantas pessoas constroem as suas vidas em torno de conceitos distintos de lazer e trabalho. Seguem rígidas rotinas de cinco ou seis dias por semana. Vivem em um lugar e trabalham em outro lugar. Usam uniformes; aceitam autoridade e gastam tanto tempo em um único lugar, desempenhando um único conjunto de atividades. Para alguém de fora, a vida diária em uma sociedade organizacional é cheia de crenças peculiares, rotinas e rituais que identificam como uma vida cultural distinta, quando comparada com aquela em sociedades tradicionais (MORGAN, 1996, p. 116). Assim, numa instituição de ensino podemos ter pessoas oriundas de diversas culturas. Entretanto, em momentos de decisão ou de necessidades de mudanças ou, ainda, nas ações do dia a dia, podem entrar em conflito, em virtude de suas percepções culturais. Veja um exemplo exposto por Morgan (1996, p. 133): uma pessoa de negócios em uma visita internacional, ou mesmo visitando um cliente ou outra organização no seu país, pode muito bem ser aconselhada a aprender as normas que lhe permitirão sentir- se “nativo”. Por exemplo, visitando um estado árabe, é importante compreender os diferentes papéis desempenhados pelo homem e pela mulher em uma sociedade árabe e as regras locais que dizem respeito à natureza flexível do tempo. Em geral, os árabes, no seu país de origem, têm reservas em negociar com mulheres. Eles também gostam de usar o tempo para construir a confiança nos negócios e sondar os relacionamentos, antes de tomarem decisões, recusam-se a ser apressados e não necessariamente veem um compromisso das duas horas da tarde como significando duas horas da tarde. Agora, no campo educacional tais reflexões podem ser cada vez mais instigantes, por observarmos que, além de termos uma instituição de ensino, professores e dirigentes de diferentes culturas, ainda, no caso específico da sala de aula, temos um professor oriundo de uma determinadacultura, que pode ter alunos de diversas culturas, principalmente no Brasil, onde há uma diversidade cultural. 92 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Nos últimos anos é perceptível, devido a diversos fatores, encontrarmos em sala de aula alunos de diversas culturas. Inclusive, os aspectos culturais têm suscitado pesquisadores a refletirem sobre o tema. Um exemplo disso é o interculturalismo (que você estudará no Tópico 1 da Unidade 3). 2.5 AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO SISTEMAS POLÍTICOS Caro(a) acadêmico(a), você leu sobre quatro metáforas e agora estudará sobre os aspectos políticos que envolvem as organizações, no nosso caso, as instituições de ensino. No dia a dia dos professores e dirigentes é frequente falar sobre autoridade, disputa de poder e relações entre superior-subordinado. No meio organizacional ou instituições de ensino, tais assuntos, às vezes, não são tão evidenciados ou, outras vezes, são encobertos ou ignorados. No entanto, podem suscitar conflitos de diversas ordens, como disputa de autoridade, ou o poder de influenciar. A política de uma organização é tão mais claramente manifestada nos conflitos e jogos de poder que, algumas vezes, ocupam o centro das atenções, bem como nas incontáveis intrigas interpessoais que promovem desvios do fluxo da atividade organizacional. [...] A política organizacional nasce quando as pessoas pensam diferentemente (interesses) e querem agir também diferentemente. Essa diversidade cria uma tensão que precisa ser resolvida por meios políticos (MORGAN, 1996, p. 152). Os possíveis laços entre as organizações e instituições de ensino e os sistemas de regras políticas têm suscitado discussões de cientistas políticos interessados em compreender o significado e as consequências dos aspectos políticos nas organizações e as possíveis relações entre as organizações e a metáfora da política. De acordo com Morgan (1996), os objetivos de uma organização, a sua estrutura, estruturação de cargos, os estilos de lideranças e outros aspectos do funcionamento da mesma têm uma dimensão política, da mesma forma que o mais óbvio jogo de poder e conflito. Caro(a) acadêmico(a), nas instituições de ensino, além dos propósitos educacionais, podemos encontrar aspectos políticos, como formas de gestão, interesses (particulares, profissionais, cargos) ou até mesmo relações de poder. Por isso, pense como estas disputas políticas podem beneficiar ou até mesmo impedir que os propósitos educacionais de uma instituição de ensino se efetivem. 93 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS 2.6 AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO INSTRUMENTOS DE DOMINAÇÃO Caro(a) acadêmico(a), você observou que podemos analisar as organizações sob o prisma de várias metáforas, e para encerrarmos esta seção estudaremos sobre o que para muitos é o lado nefasto das organizações. Ao observarmos no cotidiano, muitas organizações têm impactos negativos sobre as pessoas ou na natureza, mesmo que para muitos elas tragam o progresso, a geração de empregos e riquezas. Ou ainda, o domínio de certos setores empresariais na esfera econômica e inclusive no aspecto político. As organizações poderão contribuir de forma negativa na vida dos seus colaboradores. Conforme Morgan (1996, p. 301): o trabalho torna-se um vício e uma muleta, levando a um desequilíbrio do desenvolvimento pessoal e criando muitos problemas para a vida familiar. O “maníaco pelo trabalho” tende a estar constantemente sob pressão, ter pouco tempo para a esposa e os filhos e estar, frequentemente, em casa. [...]. O impacto negativo na vida familiar e na incidência de divórcios é, sem dúvida, enorme. [...]. Basta lembrar os rituais de intimidação praticados por Harold Geneen da ITT. Esperava que os seus executivos estivessem prontos para o trabalho, mesmo quando estavam em casa dormindo. Muitas organizações necessitam e exigem que os seus executivos sejam homens e mulheres totalmente devotos à organização, vivendo e sonhando com a vida organizacional. Ainda podemos encontrar organizações que têm como único interesse aumentar o faturamento e patrimônio dos acionistas. Custe o que custar, mesmo que dependa da exploração e cobrança sobre os seus colaboradores. O que importa é o resultado financeiro, não importando as consequências para os colaboradores. Entretanto, podemos encontrar diversas organizações que têm a preocupação com a responsabilidade social, o meio ambiente, a ética, a saúde e o bem-estar dos colaboradores. Morgan (1996) menciona que esta perspectiva demonstra que até mesmo nas organizações racionais e democráticas pode haver resultados dos modelos de dominação. Caro(a) acadêmico(a), ao analisar as organizações você poderá enumerar diversos benefícios e malefícios, seja para os colaboradores, a natureza e a economia. Neste sentido, você pode também refletir sobre como esta metáfora pode se fazer presente nas instituições de ensino. Por isso, reflita sobre quais são os benefícios e os malefícios das instituições de ensino, tanto para os professores como para os alunos. 3 GESTÃO ESCOLAR Para concluir este tópico, traremos algumas reflexões sobre as maneiras de gerir uma instituição de ensino. Você já estudou algumas das metáforas propostas 94 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO por Morgan e algumas reflexões para o campo da educação. Pois as instituições de ensino, para atingir os seus propósitos educacionais, precisam de professores, infraestrutura, proposta pedagógica, material didático, dentre outros. Neste âmbito, um aspecto que também tem recentemente ganhado espaço nas escolas brasileiras é o aspecto da gestão escolar. Explicitar claramente o que representa a educação, a escola, o ensino, o papel do diretor e dos professores na promoção do processo educacional é fundamental para que se possa atuar de forma consistente no contexto educacional. Quando uma mesma fundamentação e entendimento são compartilhados por várias pessoas, empenhadas na mesma tarefa, elas passam a manifestar comportamentos convergentes e a adotar representações semelhantes sobre o seu trabalho, reforçando uns o trabalho dos outros e, dessa forma, construindo um processo educacional unitário. Mediante orientação por uma concepção comum de ver o universo educacional e atuando a partir de objetivos comuns, reconhecidos como valiosos por todos os que compartilham da mesma visão, a educação ganha efetividade (LUCK, 2009. p. 24). Um dos fatores que tem contribuído para tais mudanças é em virtude das solicitações da nova Lei de Diretrizes e Bases, a qual prescreve, principalmente em âmbito público, a necessidade de que cada instituição de ensino estabeleça o seu Projeto Pedagógico e seu Regimento Escolar. E que também a gestão das instituições escolares seja democrática e participativa. Para reforçar, veja o que prescreve a LDB. Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público (BRASIL, 2012). Em face das exigênciascada vez maiores no campo educacional, seja por um melhor desempenho dos alunos ou até mesmo a cobrança da sociedade, é de primordial importância compreender o funcionamento da estrutura de uma instituição de ensino, bem como as suas responsabilidades civis, penais ou, até mesmo, as leis que a regem. Além disso, buscar as melhores formas de gerir todo este aparato que faz parte de uma organização escolar pode ser determinante para o sucesso da mesma. Entretanto, de acordo com Teixeira (2000, p. 7): [...] a organização escolar continua pouco conhecida [...] grande parte dos estudos realizados tem se caracterizado pela adoção de uma perspectiva burocrática da instituição, padecendo de uma visão parcial 95 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS e acrítica de sua realidade, o que obstaculiza a compreensão holística da escola, como unidade dinâmica, e das relações sociais que ela encerra. As discussões sobre gestão escolar têm tomado caminhos em prol de aspectos democráticos e participativos, com o intuito de procurar soluções e alternativas para o sistema atual de ensino. Em virtude disso, e de outros fatores, tem se postulado que o gestor escolar pode ser um propagador de ideias que tornem possível a transformação do ambiente escolar num local democrático, participativo e que possibilite que novas concepções a respeito da educação se tornem realidade. Por isso, conforme Alonso (1998, p. 11): repensar a escola como um espaço democrático de troca e produção de conhecimento é o grande desafio que os profissionais da educação, especificamente o gestor escolar, deverão enfrentar neste novo contexto educacional, pois o gestor escolar é o maior articulador deste processo e possui um papel fundamental na organização do processo de democratização escolar. No decorrer da história da educação brasileira é possível encontrar diversos momentos da vida das instituições de ensino em que os aspectos democráticos e participativos foram negligenciados, principalmente no período da ditadura militar. Entretanto, recentemente a temática tem suscitado pesquisas e debates. Segundo Lück (1998, p. 19): a literatura sobre a gestão participativa reconhece que a vida organizacional contemporânea é altamente complexa, assim como seus problemas. No final da década de 1970, educadores e pesquisadores de todo o mundo começaram a prestar maior atenção ao impacto da gestão participativa na eficácia das escolas como organizações. Ao observar que não é possível para o diretor solucionar sozinho todos os problemas e questões relativas à sua escola, adotaram a abordagem participativa, fundada no princípio de que, para a organização ter sucesso, é necessário que os diretores busquem o conhecimento específico e a experiência dos seus companheiros de trabalho. Os diretores participativos baseiam-se no conceito de autoridade compartilhada, por meio da qual o poder é delegado a representantes da comunidade escolar e a responsabilidade é assumida em conjunto. Para a efetivação da gestão democrática e participativa é necessário que todos os segmentos da instituição de ensino tenham interesse na elaboração de uma proposta coletiva dos projetos educacionais que deverão ser desenvolvidos pela escola. É claro que estes projetos têm que estar de acordo com a legislação educacional e outras leis que tenham influência no processo educativo. Além disso, que se contemplem a proposta mínima de conteúdos e temas transversais. Por isso, a elaboração de projetos tendo como farol a gestão democrática e participativa é um desafio. Projetos que funcionam são aqueles que correspondem a um projeto de vida profissional dos que são envolvidos em suas ações e que, por 96 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO isso mesmo, já no seu processo de elaboração, canalizam energia e estabelecem orientação de propósitos para a promoção de uma melhoria vislumbrada. Há de se ressaltar, ainda, que problemas e soluções envolvem pessoas, passam pelas pessoas e são delas decorrentes (LÜCK, 1998, p. 58). Caro(a) acadêmico(a), para que este processo se efetive é necessário que existam líderes capazes para orientar e conduzir. Entretanto, se observarmos a formação de educadores e até mesmo em curso de licenciaturas, são raros os casos em que há preocupação com conteúdos desta natureza, ou até mesmo para formação de gestores educacionais, exceto em caso específico de cursos de pós- graduação. Leia com atenção a entrevista a seguir, com a educadora Heloísa Lück. LEITURA COMPLEMENTAR 1 HELOÍSA LÜCK FALA SOBRE OS DESAFIOS DA LIDERANÇA NAS ESCOLAS Para a educadora paranaense, somente uma escola bem dirigida obtém bons resultados. HELOÍSA LÜCK. "A escola deve ser uma comunidade de aprendizagem também em liderança, tendo em vista a natureza do trabalho educacional." A escola é uma organização que sempre precisou mostrar resultados - o aprendizado dos alunos. Porém, nem sempre eles são positivos. Para evitar desperdício de esforços e fazer com que os objetivos sejam atingidos ano após ano, sabe-se que é necessária a presença de gestores que atuem como líderes, capazes de implementar ações direcionadas para esse foco. A concepção de que a liderança é primordial no trabalho escolar começou a tomar corpo na segunda metade da década de 1990, com a universalização do ensino público. A formação e a atuação de líderes, até então restritas aos ambientes empresariais, foram adotadas pela Educação e passaram a ser palavra de ordem para enfrentar os desafios. Na comunidade escolar é recomendável que essa liderança seja exercida pelo diretor. Mas a educadora paranaense Heloísa Lück, diretora educacional do UNI 97 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba, e consultora do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), vai além. Ela defende o estímulo à gestão compartilhada em diferentes âmbitos da organização escolar. Onde isso ocorre, diz ela, nasce um ambiente favorável ao trabalho educacional, que valoriza os diferentes talentos e faz com que todos compreendam seu papel na organização e assumam novas responsabilidades. Doutora em Educação pela Universidade Columbia e pós-doutora em Pesquisa e Ensino Superior pela Universidade George Washington, ambas nos Estados Unidos, Heloísa falou à NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR sobre as ações necessárias para o exercício da liderança. Segundo ela, o primeiro passo é tornar claros os objetivos educacionais da escola. Só assim, as expectativas dos profissionais com relação à Educação permanecem elevadas, contribuindo para a construção do que ela chama de "comunidade social de aprendizagem". Quando conceito de liderança, antes restrito ao âmbito empresarial, migrou para a Educação? Heloísa Lück - Há algumas décadas, o ensino público era destinado a poucos e orientado por um sistema administrativo centralizador. Nesse modelo, a qualidade era garantida com mecanismos de controle e cobrança. A sociedade mudou e passou a exigir a Educação para todos. Com isso, o ser humano se tornou o elemento-chave no desenvolvimento das organizações educacionais, tanto como alvo do trabalho educativo como na condução de processos eficientes e bem-sucedidos. É nesse contexto que surgiu a necessidade de haver uma ou mais pessoas para dirigir as ações que encaminham a escola para a direção desejada. Como diferenciar uma escola que conta com essas pessoas de outra que não tem? Heloísa - É fácil perceber isso. Onde não existe liderança,o ritmo de trabalho é frouxo e não há a mobilização para alcançar objetivos de aprendizagem e sociais satisfatórios. As decisões são orientadas, basicamente, pelo corporativismo e por interesses pessoais. Geralmente, são instituições cujos estudantes apresentam baixo desempenho. Além dessas características, há outras menos visíveis, mas que têm grande impacto. Uma estrutura de gestão debilitada contribui para a formação de pessoas indiferentes em relação à sociedade. É alarmante observar como os apelos destrutivos estão cada vez mais fortes, com os jovens se envolvendo em arruaças e gangues e usando drogas. Isso se dá pela absoluta falta de modelos. A escola deveria oferecê-los, pois é a primeira organização formal, depois da família, que as crianças conhecem. Sem a canalização de esforços para que a aprendizagem ocorra e haja melhoria e desenvolvimento contínuos, o ambiente escolar se torna deseducativo. É possível aprender a liderar? Heloísa - Com certeza. Existem indivíduos que despontam naturalmente para exercer esse papel e certamente o farão se o ambiente favorecer. Mas mesmo eles precisam de orientação para empregar essa habilidade e toda a energia 98 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO em nome do bem coletivo. Trata-se de um exercício associado à consciência de responsabilidade social. Onde a gestão é democrática e participativa, há a oportunidade de desenvolver essa característica em diversos agentes. Somente governos e organizações autoritários e centralizadores não permitem isso. E a escola, é claro, não deve ser assim. Quais são as principais características de um líder? Heloísa - Geralmente, é uma pessoa empreendedora, que se empenha em manter o entusiasmo da equipe e tem autocontrole e determinação, sem deixar de ser flexível. É importante também que conheça os fundamentos da Educação e seus processos, pois é desse conhecimento que virá sua autoridade, que compreenda o comportamento humano e seja ciente das motivações, dos interesses e das competências do grupo ao qual pertence. Ele também aceita os novos desafios com disponibilidade, o que influencia positivamente a equipe. Que questões do cotidiano costumam assustar o gestor que é líder de sua comunidade? Heloísa - Os dirigentes que desenvolveram as competências de liderança nunca se deixam paralisar diante dos desafios. Os que não as têm, contudo, se sentem imobilizados diante de pessoas que resistem às mudanças, sobretudo aquelas que manifestam de forma mais veemente seu incômodo com situações que causam desconforto. Em vez de colocar energia em atividades burocráticas e administrativas, fazendo fracassar os propósitos de criação de uma comunidade de aprendizagem, cabe aos gestores e a todos os educadores, na verdade - promover o entendimento de que as adversidades são inerentes ao processo educacional. O enfrentamento delas implica o desenvolvimento da compreensão sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o modo como o desempenho individual e coletivo afeta as ações da organização. O diretor deve ser o principal orientador das diretrizes da escola? Heloísa - Sim. Mas, apesar disso, essa atuação não deve ser exclusividade dele. A escola precisa trabalhar para se tornar ela própria uma comunidade social de aprendizagem também no quesito liderança, tendo em vista que a natureza do trabalho educacional e os novos paradigmas organizacionais exigem essa habilidade. Para que isso aconteça, é primordial a atuação de inúmeras pessoas, mediante a prática da coliderança e da gestão compartilhada. Em vista disso, atuar como mentor do desenvolvimento de novas lideranças na escola é uma das habilidades fundamentais para um diretor eficiente. FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/toda-forca- lider-448526.shtml>. Acesso em: 20 mar. 2012. No cotidiano escolar, muitas vezes, pessoas assumem os cargos de gerência sem conhecer aspectos legais do seu cargo, aspectos financeiros e, por vezes, não são possuidores de conhecimentos e competências para gerenciar uma instituição de ensino, ocasionando, às vezes, não conduzirem sua função de acordo com ideais democráticos e participativos. 99 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS Um sistema hierárquico, que, pretensamente, coloca todo o poder nas mãos do diretor. Não é possível falar das estratégias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola, em direção a uma efetiva participação de seus diversos setores, sem levar em conta a dupla contradição que vive o diretor de escola, hoje. Esse diretor, por um lado, é considerado autoridade máxima no interior da escola, e isso, pretensamente, lhe daria um grande poder e autonomia; mas, por outro lado, ela acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável último pelo cumprimento da lei e da ordem na escola, em mero preposto do Estado (PARO, 1997, p. 11). Neste tópico estudamos sobre as metáforas e gestão escolar. Neste sentido, é pertinente pensar sobre as diversas maneiras de lermos e interpretarmos, principalmente, sobre o papel das instituições de ensino, a fim de que, buscando as melhores práticas da gestão escolar, estudemos as ideias e os melhores propósitos educativos, para que estas práticas possam efetivar-se. FILME: QUANDO TUDO COMEÇA Título: Quando Tudo Começa Gênero: Drama Origem/Ano: FRA/1999 Duração: 105 min Direção: Bertrand Tavernier Sinopse: A trama focaliza a história do professor Daniel Lefebvre (Philippe Torreton), que ensina crianças em Hernaing, uma pequena cidade que sofre com o fechamento das minas de carvão e enfrenta uma taxa alarmante de 34% de desemprego. Daniel e os outros professores são aconselhados a não se envolver com os problemas crônicos da comunidade, mas é impossível para Daniel permanecer imune à miséria, à falta de assistentes sociais, à indiferença do governo e aos sérios problemas domésticos que suas crianças enfrentam. Depois de um trágico incidente na escola, Lefebvre decide comandar uma campanha contra o governo local, reivindicando condições mínimas de vida e dignidade para a população. Além de dificuldades pessoais, como a doença do pai, um ex-mineiro que sofre de enfisema, ele irá enfrentar enormes dificuldades burocráticas e a maquinação das autoridades educacionais, que farão de tudo para colocar o professor na linha. FONTE: Disponível em: <www.webcine.com.br/filmessi/quandotu.htm>. DICAS 100 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO LEITURA COMPLEMENTAR 2 PRINCÍPIOS DA GESTÃO ESCOLAR A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos. A gestão escolar, como área de atuação, constitui-se, pois, em um meio para a realização das finalidades, princípios, diretrizes e objetivos educacionais orientadores da promoção de ações educacionais com qualidade social, isto é, atendendo bem a toda a população, respeitando e considerando as diferenças de todos os seus alunos, promovendo o acesso e a construção do conhecimento a partir de práticas educacionais participativas, que fornecem condições para que o educando possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e de dar continuidade permanente aos seus estudos. Em caráter abrangente, a gestãoescolar engloba, de forma associada, o trabalho da direção escolar, da supervisão ou coordenação pedagógica, da orientação educacional e da secretaria da escola, considerados participantes da equipe gestora da escola. Segundo o princípio da gestão democrática, a realização do processo de gestão inclui também a participação ativa de todos os professores e da comunidade escolar como um todo, de modo a contribuírem para a efetivação da gestão democrática que garante qualidade para todos os alunos. O significado da gestão escolar Gestão escolar é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político-pedagógico e compromissado com os princípios da democracia e com os métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, no âmbito de suas competências), de participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta e efetivação de resultados) e autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de informações). A gestão escolar constitui uma dimensão e um enfoque de atuação em educação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino orientados para a promoção efetiva da aprendizagem dos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade complexa, globalizada e da economia centrada no conhecimento. Por efetividade entende-se, pois, a realização de objetivos avançados, em acordo com as novas necessidades de 101 TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS transformação socioeconômica-cultural, mediante a dinamização do talento humano, sinergicamente organizado. Compete, pois, à gestão escolar estabelecer o direcionamento e a mobilização capazes de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, para realizar ações conjuntas, associadas e articuladas, sem as quais todos os esforços e gastos são despendidos sem muito resultado. O que, no entanto, tem acontecido na educação brasileira, uma vez que se tem adotado, até recentemente, a prática de buscar soluções tópicas, localizadas, quando, de fato, os problemas são globais e inter-relacionados. A gestão escolar constitui uma dimensão importantíssima da educação, uma vez que, por meio dela, se observa a escola e os problemas educacionais globalmente e se busca, pela visão estratégica e as ações interligadas, abranger, tal como uma rede, os problemas que, de fato, funcionam e se mantêm em rede. Cabe ressaltar que a gestão escolar é um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo. O fim último da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola, desenvolvam as competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam: pensar criativamente; analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizada; expressar ideias com clareza, oralmente e por escrito; empregar a aritmética e a estatística para resolver problemas; ser capaz de tomar decisões fundamentadas e resolver conflitos. A formação de gestores escolares O movimento pelo aumento da competência da escola exige maior habilidade de sua gestão, em vista do que a formação de gestores escolares passa a ser uma necessidade e um desafio para os sistemas de ensino. Sabe-se que, em geral, a formação básica dos dirigentes escolares não se assenta sobre essa área específica de atuação e que, mesmo quando a tem, ela tende a ser genérica e conceitual, uma vez que esta é, em geral, a característica dos cursos superiores na área social. Não se pode esperar mais que os dirigentes enfrentem suas responsabilidades baseados em “ensaio e erro” sobre como planejar e promover a implementação do projeto político-pedagógico da escola, monitorar processos e avaliar resultados, desenvolver trabalho em equipe, promover a integração escola-comunidade, criar novas alternativas de gestão, realizar negociações, mobilizar e manter mobilizados atores na realização das ações educacionais, manter um processo de comunicação e diálogo aberto, planejar e coordenar reuniões eficazes, atuar de modo a articular interesses diferentes, estabelecer unidade na diversidade, resolver conflitos e atuar convenientemente em situações de tensão. O trabalho de gestão escolar exige, pois, o exercício de múltiplas competências específicas e dos mais variados matizes. A sua diversidade é um desafio para os gestores. Dada, de um lado, essa multiplicidade de competências 102 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO e, de outro, a dinâmica constante das situações, que impõe novos desdobramentos e novos desafios ao gestor, não se pode deixar de considerar como fundamental para a formação de gestores um processo de formação continuada em serviço, além de programas especiais e concentrados sobre temas específicos. FONTE: LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009, p. 23 a 25. 103 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: • Para Morgan (1996), é necessário desenvolver habilidades na arte de ler as situações que se está tentando organizar e administrar. • A vida organizacional social, de acordo com os propósitos mecanicistas, é constantemente rotinizada com a precisão exigida de um relógio. Aguarda-se que as pessoas cheguem ao trabalho em determinada hora, façam um conjunto predeterminado de atividades, descansem em horas marcadas, e então retomem as suas atividades até que o trabalho termine. • Na educação e também nas sociedades, embora alguns teóricos e pensadores já tenham acenado para novas concepções de mundo, ainda permanece o pensamento mecanicista - o retalhamento do ser, do saber e do fazer humanos. • A metáfora vista como organismo teve como inspiração a biologia, principalmente em virtude da teoria da evolução de Darwin, da qual é possível se abstrair algumas analogias. • A metáfora do cérebro é uma das formas de pensar as organizações e também as instituições de ensino, principalmente no sentido de processar informações e, ainda, ser capaz de aprender. • Morgan menciona que até mesmo nas organizações racionais e democráticas pode haver resultados dos modelos de dominação. • Gestor escolar é o maior articulador deste processo e possui um papel fundamental na organização do processo de democratização da escola. 104 AUTOATIVIDADE 1 Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Orgânica. II- Mecanicista. III- Cérebro. ( ) As empresas são organismos vivos por excelência. ( ) Cada organização terá ambientes que lhe serão mais propícios para a sua existência, assim como, na natureza, algumas espécies se adaptam mais em determinados ambientes do que em outros. ( ) DNA da empresa. ( ) Aprender a aprender. ( ) Há uma divisão de tarefas fixas, supervisão hierárquica, regras detalhadas e regulamentos. ( ) Funciona bem, quando tem uma tarefa contínua a ser desempenhada. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – I – I – III – II – II. b) ( ) I – II – I – III – II – I. c) ( ) II – I – I – III – III – II. d) ( ) I – I – I – II – III –II. 2 Paulo, no primeiro dia como dirigente de uma determinada escola, reuniu os colaboradores e professores e pronunciou as seguintes palavras: “Devemos superar os desafios vigentes neste ambiente de constantes mudanças em quevivemos, por isso devemos mostrar a nossa capacidade de aprender a aprender, e de ter capacidade para organizar e reorganizar a si mesmo, para lidar com as contingências que nos desafiam neste ambiente de mudanças constantes, principalmente, que cada vez mais, os nossos alunos nos trazem novos desafios”. A afirmação de Paulo está em consonância com a metáfora... Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Do organismo. ( ) Da cultura. ( ) Da máquina. ( ) Do cérebro. Assista ao vídeo de resolução da questão 2 Assista ao vídeo de resolução da questão 1 105 3 A Pizza Hut, uma das maiores cadeias americanas de fast-food, alterou seu cardápio padrão internacional para incorporar na Bahia e em Pernambuco a “pizza baiana”, com temperos picantes que a aproximam da apimentada culinária regional. Já a Kibon produz, exclusivamente na região, sorvetes fabricados com frutas típicas, como: cajá, mangaba, graviola e acerola. Tais sorvetes são os mais vendidos pela empresa no Nordeste. FONTE: Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rae/v41n4/v41n4a08.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2012. Frente à afirmação anterior, é correto dizer que as duas empresas, ao adequarem os seus produtos, estão em consonância com as ideias da organização vista como: a) ( ) Cérebro. b) ( ) Cultura. c) ( ) Máquina. d) ( ) Organismo. 4 Observe uma instituição de ensino, depois escreva aspectos que estão em consonância com cada uma das metáforas a seguir: a) Mecanicista: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ b) Organismo: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ c) Cultura: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Assista ao vídeo de resolução da questão 3 106 d) Cérebro: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ e) Política: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ f) Dominação: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 5 Escreva, segundo a sua opinião, quais as maneiras de um gestor educacional garantir o que prescreve os artigos14 e 15 da LDB. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 6 Na sua opinião, dado o cenário em que vivemos, qual deve ser o perfil ideal do professor e de um gestor de instituição de ensino? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 107 TÓPICO 3 APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A área de educação vem crescendo muito no Brasil. Os investimentos para melhorar o desempenho das instituições de ensino são crescentes, pelo menos é o que tem se divulgado. Assim, é importante que a gestão de pessoas (como você observou no tópico anterior) também seja incorporada ao dia a dia dos profissionais que atuam no campo da educação. Neste campo, alguns movimentos novos estão acontecendo, principalmente a consciência de que todo profissional deve aprender a aprender e a necessidade de adaptar-se para atingir melhores resultados. Em contrapartida, espera-se que os profissionais da educação sejam valorizados. Por isso, neste tópico você estudará sobre o “aprender a aprender: a quinta disciplina”, com o intuito de superar os velhos modelos existentes e, na medida do possível, relacionar com o campo educativo. Caro(a) acadêmico(a), lembre-se: É fácil listar inúmeras práticas que os gerentes insistem em levar adiante, mesmo que tenham de admitir que não têm validade pragmática alguma. (Graham Cleverley, em “Managers and Magic”). 2 A QUINTA DISCIPLINA Podemos dizer que desde o nosso nascimento aprendemos a separar e dividir os problemas para facilitar a execução de tarefas e o tratamento de assuntos complexos. Com isso, frequentemente deixamos de ver as consequências dos nossos atos e perdemos também o sentido de conexão com o todo maior. Precisamos resgatar a nossa capacidade de ver o mundo como um sistema de forças entrelaçadas e relacionadas entre si. Ao fazermos isso, estaremos em condições de formar as organizações em aprendizagem, nas quais as pessoas colocarão para si objetivos mais altos e aprenderão os resultados desejados, usando novos e elevados padrões de raciocínio; enfim, onde as pessoas aprenderão, continuamente, a aprender em grupo (PETER M. SENGE). FONTE: Disponível em: <https://sites.google.com/a/cacadoresdeoportunidades.com.br/open/>. Acesso em: 26 abr. 2012. UNI 108 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO FIGURA 10 – PETER M. SENGE FONTE: SOMOGGI, Laura. A difícil dança das mudanças. Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/edi19/entrevista.shl>. Acesso em: 2 ago. 2004. Para facilitar a inovação nas organizações em aprendizagem, segundo as ideias postuladas aqui, são cinco disciplinas, a saber: 1. Domínio pessoal. 2. Modelos mentais. 3. Objetivo comum (visão compartilhada). 4. Aprendizado em grupo. 5. Pensamento sistêmico (quinta disciplina). Contudo, vale salientar que, mesmo que estas disciplinas estão desenvolvidas em separado, é crucial que cada uma delas faça parte do todo. Aprender mais rápido é muito importante, tanto é verdade que as empresas do futuro serão aquelas que descobrirão a capacidade de aprender das pessoas. 109 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA O ser humano gosta de aprender e todos nós já fizemos parte de um grupo de pessoas, de uma “grande equipe” que, na busca de um objetivo comum, conseguiu produzir bons resultados. A isso se dá o nome de organizaçãoem aprendizagem, isto é, a equipe aprendeu a produzir bons resultados, e para isso precisamos superar as barreiras que bloqueiam nossa capacidade de aprender. Para que as organizações em aprendizagem possam se desenvolver, é necessário o domínio de certas disciplinas básicas, tais como: a) Domínio pessoal: através dele aprendemos a concentrar nossas energias, desenvolver nossa paciência e encarar a realidade objetivamente, levando-nos a viver de acordo com nossas aspirações. É a base espiritual da organização em aprendizagem. Este domínio implica um alto grau de proficiência e capacidade de produzir os resultados desejados. Através dessa disciplina aprendemos a esclarecer e a aprofundar continuamente nosso objetivo pessoal, a concentrar nossas energias, a desenvolver paciência e, em geral, a abordar a vida como o artista aborda o trabalho de criação. Neste sentido, para que se faça presente o domínio pessoal em uma disciplina, dois passos devem ser seguidos: a) esclarecer e determinarmos continuamente o que é importante para a nossa vida; b) aprender continuamente a observarmos com mais clareza a realidade do momento da nossa vida. b) Modelos mentais: são imagens ou ideias que influenciam nosso modo de encarar o mundo e nossas atividades. Por exemplo, o que pode ou não ser feito na área administrativa, onde muitas modificações não sejam postas em prática por serem conflitantes. Em termos gerais, os modelos mentais são ideias que estão profundamente enraizadas, que influenciam a forma de cada pessoa encarar o mundo e as suas atitudes. Inclusive, vale destacar que, às vezes, não temos consciência de quais são os modelos mentais ou influências destes sobre nosso comportamento. c) Objetivo comum: é necessário que exista um objetivo concreto e legítimo para as pessoas darem tudo de si e aprenderem. Para tanto, é preciso desenvolver a capacidade de transmitir aos outros a imagem do futuro que pretendemos criar e, com isso, os resultados serão positivos, porque os objetivos não foram impostos. Ele pode ser inspirado por uma ideia, tornando-se concreto quando esta ideia for aceita por mais de uma pessoa, ganhando assim força e focalizando suas energias para algo comum a ser atingido. O objetivo comum dentro de uma organização é vital, pois é ele que definirá o sucesso ou fracasso dentro da organização e que o objetivo comum seja compartilhado por pessoas que trabalhavam em todos os níveis, sem distinção. 110 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Os objetivos não devem ser necessariamente gerados pelos altos níveis hierárquicos e repassados a seus inferiores, mas sim, ser feito um trabalho de sincronismo de objetivo geral, pois, ao contrário, não será comum. Este trabalho é lento, devido à complexidade de objetivos diversos interagir entre si. Um grande passo entre o engajamento e a obediência está na participação, que é o processo de tornar-se parte de alguma coisa por livre escolha. Para se buscar o objetivo comum existem alguns pré-requisitos, como: ser participativo, ser sincero e respeitar a liberdade de escolha. O objetivo comum flui através deste ambiente e não em ambiente de hipocrisia. As fontes de motivação devem ser geradas pelo bem-estar de todos e o rumo ao sucesso, e não gerado através do medo ou aspiração. O objetivo comum não deve ser lançado de maneira compacta e desconhecida, pois gerará assim problemas em sua proliferação, tais como: discordância ideológica, desânimo e outros. Este objetivo deverá ser algo mais forte, que seja feito através de um pensamento sistêmico e introduzido como objetivo pessoal de cada um. d) Aprendizado em grupo: baseia-se no diálogo que permite a um grupo de pessoas o raciocínio em grupo. É uma técnica que está sendo redescoberta na atividade. O aprendizado em grupo é essencial nas modernas organizações, porque o que se visa é o grupo e não o indivíduo. Para tanto, é necessário que o grupo seja capaz de aprender. O principal objetivo do trabalho em grupo é aprender a canalizar o potencial de muitas mentes, de maneira que a inteligência em conjunto seja maior que a individual, através da técnica do diálogo e discussão. O aprendizado coletivo é possível e vital para realizar o potencial da inteligência humana. Em grandes equipes, ao contrário do que se pensa, não é caracterizada ausência de conflito. Nas grandes equipes, o conflito é produtivo. Em equipes medíocres, o conflito não se manifesta na superfície, ou existe uma fonte de polarização. A diferença entre uma grande equipe e uma equipe medíocre está na maneira como elas enfrentam o conflito e lidam com as rotinas de defesa que, invariavelmente, acompanham o conflito. Não é fácil expor as rotinas defensivas, temos que reduzi-las enfraquecendo a solução sintomática, ou seja, diminuindo a ameaça emocional que dá origem à resposta defensiva, ou reforçar a solução fundamental. As equipes de aprendizagem precisam de “campos de treinamento”, meios de praticarem em conjunto para poderem desenvolver suas técnicas de aprendizagem em grupo. Na aprendizagem em grupo, a perspectiva e os instrumentos do pensamento sistêmico são figuras centrais. Da mesma forma, a abordagem tomada pelas equipes de aprendizagem em relação às rotinas defensivas é intrinsecamente sistêmica. Os instrumentos do pensamento sistêmico também são importantes, porque as tarefas primordiais das equipes envolvem enfrentar uma imensa complexidade, 111 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA a qual não é estática, pois cada situação encontra-se em contínuo estado de fluxo. e) Pensamento sistêmico: a chuva, por exemplo, provoca uma série de consequências, todas elas interligadas, de modo que só se entenderá o sistema de chuvas se observarmos o conjunto, não somente uma das partes. Tem por objetivo tornar mais claro todo o conjunto, mostra-nos as modificações a serem feitas para melhorá-lo. Muitas organizações têm perdido seu rumo e seu foco, pois não conseguem fazer com que as cinco disciplinas sejam multiplicadas entre seus colaboradores. A não aplicabilidade de uma delas pode levar uma organização ao fracasso. Eis uma das mais desafiantes metas ao novo administrador: conseguir manter sua equipe rendendo bem, psicologicamente bem, satisfeita com o que faz através da inserção e multiplicação das cinco disciplinas. As cinco disciplinas precisam funcionar em conjunto e isso é um grande desafio, porque é mais difícil integrar do que simplesmente aplicar novos instrumentos separadamente. De todas as disciplinas, é o pensamento sistêmico que integra as demais e mostra que o todo pode ser maior que a soma das suas partes. Entretanto, é a quinta disciplina que precisa das outras quatro. É o pensamento sistêmico que torna compreensível a maneira como os homens se veem a si mesmos e ao mundo, isto é, como partes integrantes do mundo e não separados dele. Pela organização em aprendizagem, o homem aprende a criar e mudar sua realidade. 2.1 METANOIA: MUDANÇA DE MENTALIDADE No transcorrer dos tempos, vários foram os significados da palavra metanoia, isto é, aquilo que acontece em uma organização em aprendizagem. Para compreendê-la, é preciso aprender o significado de aprendizagem. A verdadeira aprendizagem está relacionada com o significado de ser humano. Por seu intermédio o homem se cria, torna-se capaz de fazer o que jamais conseguiu, adquirindo uma nova visão do mundo e da sua relação com ele. Portanto, trata-se de uma organização que está continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro. Nãobasta sobreviver, é preciso adaptação e capacidade criativa. Muitas empresas desaparecem muito depressa, mostrando a existência de dificuldades que precisam ser sanadas. Porque são sintomas de problemas mais profundos que afetam a todas elas, indistintamente. O primeiro passo para sanar deficiências de aprendizagem é identificar as sete deficiências de aprendizagem: 1. Eu sou meu cargo: todos somos treinados para sermos leais ao cargo que ocupamos. Quando se pergunta a uma pessoa em que ela trabalha, geralmente ela descreve a tarefa que executa no seu dia a dia, por exemplo, “eu sou um torneiro mecânico”, considerando apenas sua responsabilidade limitada à área 112 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO de sua função. Elas não se sentem responsáveis pelos resultados quando todas as funções atuam em conjunto. Pode-se apenas presumir que “alguém fez uma bobagem”. 2. O inimigo está lá fora: quando algo não dá certo, o normal é procurarmos alguém para culparmos. Em algumas empresas isso é lei, sempre haverá um agente externo para culpar. Na área de marketing é a produção. Dizer que o “inimigo está lá fora” é encontrar um subproduto para “eu sou meu cargo”, que apresenta uma visão muito limitada do mundo que nos cerca. Esse inimigo pode ser tanto o nosso concorrente, como os sindicatos, as medidas do governo ou mesmo os clientes que compram produtos de concorrentes. 3. Ilusão de assumir o comando: a ordem é enfrentar as dificuldades e não esperar que alguém faça alguma coisa antes de surgirem as crises. A produtividade é um produto do nosso modo de pensar, não do nosso emocional. 4. A fixação em eventos: os assuntos em uma organização giram sempre em torno de eventos: as vendas do mês, os cortes no orçamento, o faturamento do trimestre etc., para os quais sempre temos explicações imediatas. Não vemos as consequências que estão por trás de tudo e não compreendemos as verdadeiras causas. 5. A parábola do sapo escaldado: consiste em aprendermos a identificar as sutilezas dos processos lentos e graduais. Na verdade, precisamos conseguir reduzir a velocidade do nosso ritmo de ação, quando então poderemos perceber detalhes. A parábola do sapo escaldado nos mostra que o seu mecanismo interno está ajustado para mudanças bruscas em seu meio ambiente e não lentas e graduais. O sapo não percebe as mudanças lentas e acaba sucumbindo. O mesmo aconteceu com a indústria automobilística americana em relação à japonesa que, lentamente, conseguiu conquistar 30% do mercado americano em 1989. 6. A ilusão/desilusão de aprender com a experiência: aprende-se experimentando diretamente e vendo as consequências dessa ação. Muitas de nossas mais importantes decisões não são experimentadas diretamente. Nas empresas isto acontece quando, por exemplo, ocorrem investimentos em novos equipamentos e processos da mesma forma. A promoção de funcionários influenciará na estratégia, no clima da organização por vários anos. Algumas empresas preferem dividir-se em componentes para superar as dificuldades que surgem como resultado de decisões, mas um novo problema surge porque acaba acontecendo a perda de contato entre as diversas funções. 7. O mito da equipe administrativa: a função da equipe administrativa é superar as deficiências de aprendizagem, mas nem sempre isso acontece. Raramente alguém é recompensado por trazer questões que busquem dificultar seu entendimento. As maiores partes das equipes trabalham abaixo do QI mais baixo 113 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA de qualquer de seus membros. O resultado são especialistas incompetentes, ou seja, pessoas que foram treinadas na crença de que existem respostas para todos os problemas e que devem encontrá-las. Enfim, caro(a) acadêmico(a), pense sobre o que é possível abstrair das ideias até aqui expostas para o campo educacional e depois continue os seus estudos sobre as leis da quinta disciplina. DICA DE FILME FILME: Billy Elliot Título original: (Billy Elliot) Lançamento: 2000 (Inglaterra) Direção: Stephen Daldry Atores: Julie Walters, Jamie Bell, Jamie Draven, Gary Lewis. Duração: 111 min Gênero: Drama Sinopse: Garoto de 11 anos mora numa pequena cidade inglesa, detesta esporte, principalmente luta de box, a qual é obrigado a praticar com outros garotos. Um dia descobre as aulas de dança, dadas para as meninas da escola. Fascinado, pede para a professora a permissão para poder participar. Quando seu pai descobre, surge um constante e agressivo conflito que engloba preconceito e intolerância, tanto quanto à dança, como a sexualidade do menino Billy. 2.1.1 Algumas das leis da quinta disciplina 1. Os problemas de hoje provêm das soluções de ontem: devemos verificar que soluções foram dadas a outros problemas no passado para sabermos a causa dos problemas de hoje. O fato é que as pessoas que “resolveram” o problema no passado não são as mesmas que estão com o novo problema. 2. Quanto mais se insiste, mais o sistema resiste: Senge (1990) cita o exemplo da mãe que luta para que seu filho se dê bem com os colegas na escola e vive interferindo nos problemas que surgem, sem deixar que o filho aprenda a resolvê-los. É um caso de “feedback de compensação”, que é uma forma comum de reduzir os efeitos de uma intervenção. 3. O comportamento melhora antes de piorar: o feedback de compensação nos traz um período entre o benefício de curto prazo e o prejuízo de longo prazo, e DICAS 114 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO isto quer dizer que nesse período intermediário pode parecer que um problema tenha sido resolvido, mas, ao contrário, pode voltar ainda pior. 4. A saída mais fácil geralmente nos conduz de volta à porta de entrada: costuma- se aplicar soluções conhecidas para solução de problemas, e isso é um sinal de que se está usando pensamento não sistêmico. Isso acontece quando se procura uma chave perdida em determinado local, somente porque ali está mais claro. 5. A cura pode ser pior que a doença: uma solução fácil e ineficaz pode criar dependência. É um típico caso de transferência de responsabilidade, onde os resultados não são os melhores. Quando, por exemplo, usamos uma calculadora para realizarmos uma operação de soma aritmética de dois algarismos, estamos iniciando uma transferência de responsabilidade para a calculadora. 6. Mais rápido significa mais devagar: de nada adianta acelerar o ritmo do crescimento se o ritmo não suportar o crescimento. Devemos, portanto, tentar descobrir qual é o ritmo de crescimento ideal. 7. Causa e efeitos não estão intimamente relacionados no tempo e no espaço: causa e efeito andam lado a lado. A origem de nossas dificuldades está em nós mesmos, isto é, na nossa maneira de encarar a realidade. Numa empresa é prudente, portanto, que o administrador não procure a causa de um problema de produção na linha de produção, ou de um problema de vendas, criando incentivos de venda. 8. Pequenas mudanças podem produzir grandes resultados: mas as áreas de maior alavancagem são geralmente as menos evidentes: pelo princípio da “alavancagem”. Concluímos que a solução de um problema difícil é uma questão de ver onde aplicá-lo para fazer a mudança que, com um mínimo de esforço, produz grandes resultados. Como exemplo, o autor cita o trabalho executado pelo leme de um navio que, com um pequeno esforço, influencia no seu movimento; assim, pequenas mudanças no compensador causam grandes modificações no curso do navio. No entanto, não existem regras simples para fazer alavancagem nas organizações. É preciso descobrir a estruturado que está acontecendo, em vez de meramente ficar observando os acontecimentos. 9. Dividir um elefante ao meio não produz dois elefantes pequenos: para se entender os mais complicados problemas de uma empresa, é preciso ver por inteiro o sistema que gera o problema. Para isso, é necessário que as pessoas percebam como as diretrizes de seus departamentos interagem com as dos outros setores da empresa. O pensamento sistêmico é uma disciplina que vê o conjunto, as inter- relações de uma estrutura, padrões de mudança e não coisas estáticas. É cada vez mais evidente o fato de que o pensamento sistêmico é importante porque o mundo, hoje, está se mostrando cada vez mais complexo, a ponto de acelerar mudanças com tanta velocidade que o homem não pode acompanhar. 115 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA É o pensamento sistêmico a solução para a sensação de impotência que se sente ao entrarmos na “era da interdependência”. A quinta disciplina envolve uma mudança de mentalidade quando deixamos de ver somente as partes para vermos o todo, de reagir ao presente para criar o futuro. A realidade é feita de círculos, mas nós só vemos linhas retas, e é aí que começam nossas limitações ao pensamento sistêmico. Para vermos as inter-relações de um sistema, precisamos de uma linguagem feita de círculos. A intenção de encher o copo de água cria um sistema que faz a água fluir para o copo quando o nível está baixo e interrompe o fluxo quando o copo está cheio. O processo de feedback faz com que se regule a posição do registro que ajusta o fluxo e altera o nível da água. 2.1.2 Feedback de reforço e balanceamento São tipos distintos de feedback. O de reforço sempre acontece quando as coisas vão bem, estão crescendo. Poderá também acelerar o declínio. Já o de balanceamento atua como o freio de um carro se o objetivo é ficar parado. Se pretendermos andar a 100 km/h, ele provocará uma aceleração até 100 km/h, não mais que isso. O feedback pode ser entendido de duas formas: é positivo quando se refere a elogios e negativo quando se refere às más notícias. Acontece um feedback de reforço se um produto é bom, aumentam as vendas, mais clientes satisfeitos e mais propaganda boca a boca. Se o produto não é de boa qualidade, as vendas resultam em menos clientes satisfeitos, menos propaganda e menos propaganda boca a boca. Processos de feedback de balanceamento são comuns e encontrados em toda parte. Contratar um funcionário é um exemplo típico, é um processo que tem por objetivo uma certa força de trabalho ou ritmo de crescimento. Também é um processo de feedback e balanceamento quando processos de produção e compra de matéria-prima ajustam-se, constantemente, de acordo com as mudanças nos pedidos recebidos. 2.1.3 Solução sintomática x solução fundamental ● Solução sintomática: normalmente vem pronta, basta que se aplique. Ela mostra resultados rapidamente e transfere a responsabilidade para outras pessoas ou para mais tarde. É um tipo de solução que, como sugere o nome, age somente sobre os sintomas do problema. Sabe-se que agindo somente sobre os sintomas não se cura a origem do problema. Um exemplo claro de solução sintomática é 116 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO a contratação de determinados consultores, que apenas aplicam regras prontas. Eles só resolvem problemas sintomáticos. Quando eles vão embora, o problema reaparece ou persiste. ● Solução fundamental: é aquela que busca sanar as dificuldades na origem do problema. Ela é mais demorada, precisa de mais conhecimento e tempo para aplicá-la, porém, normalmente, faz com que o mesmo problema não ocorra novamente. No texto da professora e gestora educacional Marilda Regiani Olbrzymek, no livro “O Despertar da Inteireza”, de 2001, encontramos, no capítulo II (p. 61-65), um texto muito importante, que coloca em destaque as “Consequências do Paradigma Mecanicista”. Boa leitura! CONSEQUÊNCIAS DO PARADIGMA MECANICISTA Não resta a menor dúvida de que o paradigma mecanicista trouxe avanços científicos e tecnológicos, jamais vistos na história das civilizações. Surgiu num momento em que era necessário romper com dogmatismos e democratizar o conhecimento. Contudo, de alguma forma, a ciência e o racionalismo quase se transformaram numa religião e, como todo radicalismo é doente, o paradigma mecanicista trouxe também algumas consequências drásticas para a humanidade. A ciência investe exorbitâncias em armamentos, enquanto uma grande parte da humanidade vive sem atendimento às necessidades básicas de sobrevivência, expressa na ineficiência das políticas públicas de saneamento básico, saúde e educação adequada, falta de condições de moradia e ausência de respeito à condição humana. O comprometimento ambiental, causado pelo lixo atômico e industrial, pelo vazamento de reatores nucleares, pelo uso de agrotóxicos e pesticidas, pela destruição de florestas, degenera em grandes proporções o ar, a água e os alimentos, atingindo a espécie humana com altos índices de doenças nutricionais e infecciosas crônicas, cânceres, doenças genéticas e degenerativas. É o próprio homem destruindo o sistema ecológico do qual depende e, consequentemente, destruindo a si mesmo e à própria espécie. [...]. Além da ciência como instrumento de controle da natureza, o paradigma mecanicista fragmentou o pensamento humano, supervalorizou o trabalho mental em detrimento do manual, enfatizou a especialização e o especialismo. Produziu um mundo de certezas e previsibilidades e valorizou o conhecimento utilitário e funcional. Enfim, produzimos tecnologia tão sofisticada que agora somos movidos pelo medo e a impotência de lidar com tudo isso. Na educação e também nas sociedades, embora alguns teóricos e pensadores já tenham acenado para concepções de mundo, ser humano e conhecimentos mais dinâmicos, o que vivenciamos na prática tem origens e 117 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA permanece de acordo com o pensamento mecanicista - o retalhamento do ser, do saber e do fazer humanos. A escola reproduziu e ajuda a manter as estruturas dessa sociedade caótica. No sentido teórico, através da pedagogia tradicional, que valoriza as aptidões inatas e defende a transmissão e assimilação do conhecimento acumulado pela humanidade; ou pela pedagogia humanista, que valoriza o homem no seu aspecto "integral" e o conhecimento das coisas tal como são na natureza; ou ainda, através de tendências pedagógicas como a tecnicista, que entende o homem como uma tábula rasa, na qual o comportamento pode ser instalado, e o conhecimento é visto como instrução programada com objetivo funcional e utilitário; ou como a interacionista, que privilegia o aspecto cognitivo do indivíduo e defende a construção do conhecimento pela interação do mesmo com o objeto de conhecimento, de acordo com a maturação biológica; seja ainda por tendências sociointeracionistas, que veem o homem numa dimensão mais dinâmica e, tal como o conhecimento, construído de forma histórica e social. [...]. O que se observa na realidade escolar é o desencantamento do educador que continua a reproduzir uma prática que não traz prazer nem a ele, nem ao educando. Mas como falar de prazer para esse educador, geralmente fruto de uma formação deficiente, que o levou à reprodução de uma política educacional que emperra iniciativas, favorece o corporativismo e colabora para a baixa da autoestima, marginalizando econômica, cultural e socialmente a pessoa do educador? A esse respeito, Hugo Assmann nos revela que: Não dá mais para silenciaro fato de que, também em instituições educativas, há tanta gente encalhada no mero negativismo que esse até parece ter virado um pretexto frívolo para a omissão e estagnação na mediocridade corporativista. Está na hora de fazermos, sem ingenuidades políticas, um esforço para reencantar deveras a educação, porque nisso está em jogo a autovalorização pessoal do professorado, a autoestima de cada pessoa envolvida, além do fato de que a privação da educação representa, sem dúvida, na sociedade do conhecimento na qual já entramos, uma verdadeira causa mortis (ASSMANN, 1996, p. 19). A educação, hoje, acontece de forma muito mais interessante fora da escola, através dos meios de comunicação e das necessidades reais da vida, do que dentro da escola, a qual continua a reproduzir modelos antiquados que se propõem a instruir e adestrar. Enquanto se cumpre tarefas mecanicamente e seguem-se regras sem questionar, atrofia-se a capacidade de pensar, refletir, comparar, sintetizar e emitir opiniões. Precisamos descortinar o potencial humano, a tecnologia nos permite alçar voos inimagináveis, mas é preciso colocá-la a serviço do ser humano, com o objetivo de tornar sua existência plena de prazer e satisfação. A questão é que nem mesmo o aspecto instrucional se está conseguindo atingir. 118 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Caro(a) acadêmico(a), a escola foi vista por muito tempo conforme os moldes mecanicistas, e com diversas consequências para a sociedade. Senge (2005) também faz as suas reflexões em torno do tema, como tão bem foi apontado por Olbrzymek (2001). Senge (2005) analisa que a escola está ancorada, conforme o sistema da Revolução Industrial, com o propósito de amortecer ou impedir a consciência crítica dos atores do processo educativo. Por isso, sugere que uma das alternativas é uma revolução no âmbito sistêmico, no qual as escolas deveriam organizar-se em torno do conceito de sistema vivo e não conforme os moldes mecanicistas. Entretanto, para tanto seria necessário, principalmente, que a aprendizagem fosse centrada no aluno, não no professor; o respeito aos diversos estilos de aprender e o envolvimento de todos os implicados no processo educativo. Assim, segundo Senge (2005, p. 16): A ideia de que a escola possa aprender tornou-se cada vez mais proeminente nos últimos anos. Está ficando claro que as escolas podem ser recriadas, vitalizadas e renovadas de forma sustentável, não por decreto ou ordem nem por fiscalização, mas pela adoção de uma orientação aprendente. Isso significa envolver todos do sistema em expressar suas aspirações, construir sua consciência e desenvolver suas capacidades juntos. Caro(a) acadêmico(a), as ideias aqui postadas de Senge podem colaborar para pensarmos a educação além do modelo mecanicista, bem como buscar pensar novas propostas para a área educacional. Por isso, as ideias de Senge podem ser uma alternativa para pensarmos a educação. Entretanto, pesquise sobre as mesmas, principalmente sobre “Escolas que aprendem: um guia da quinta disciplina para educadores, pais e todos os que se interessam pela educação”, a fim de fazer as suas análises e críticas necessárias. Leia o trecho extraído da p. 60/64 da dissertação de mestrado intitulada: “Peter Senge, Paulo Freire e a Gestão Escolar Democrática”, de Ivan Figueiredo Ambrogi, defendida em 2009 para a obtenção do título de Mestre em Educação, junto ao Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Campus de Americana, sob a orientação do Prof. Dr. Luís Antonio Groppo. LEITURA COMPLEMENTAR PETER SENGE E A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA Ivan Figueiredo Ambrogi Peter Senge e seu ideário oriundo de um estreito vínculo com uma concepção sistêmica e não reducionista da realidade, assentada no complexo, causou grande impacto na esfera empresarial, desde o início dos anos noventa do século passado. No que se refere à educação em específico, as ideias de Senge 119 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA foram aplicadas em vários casos relatados pela bibliografia estudada. A interface entre escola e comunidade e sua maximização ficou evidenciada. Embora não mostre uma diferenciação explícita entre administração e gestão educacional, devido, quiçá, à sua formação na esfera empresarial, Senge mostra um apreço explícito pela participação comunitária no processo decisório da escola ou dos sistemas escolares. Um conceito claro em seus escritos é o do diálogo. A perspectiva freireana também é dialógica por excelência, não obstante há uma distinção entre o diálogo para Freire e o diálogo para Senge, embora existam muitas similaridades. Senge assenta sua perspectiva de diálogo na visão do físico David Bohm. Ele perpassa pelas cinco disciplinas de aprendizagem. Disciplinas como visão compartilhada, aprendizagem em equipe e modelos mentais pressupõem o ato dialógico por excelência. Contrastando com a discussão, a palavra “diálogo” vem do grego diálogos. Dia significa através. Logos significa palavra ou, de forma mais abrangente, significado. Bohm sugere que o significado original de diálogo era “significado passando ou movendo-se através... um fluxo livre de significado entre as pessoas, no sentido de uma corrente que flui entre duas margens”. No diálogo, argumenta Bohm, um grupo acessa um grande “conjunto de significado comum”, que não pode ser acessado individualmente. “O todo organiza as partes”, em vez de tentar encaixar as partes em um todo (SENGE, 2004, p. 268.) A perspectiva dialógica explícita no excerto supracitado levanta a relação com o pensamento de Freire, embora com evidente respaldo na Física Quântica. A capacidade de vislumbrar uma visão em comum, com uma descentralização gestora, com participação de todos os níveis hierárquicos organizacionais. Um outro tema abordado por Senge é o da autogestão, assentando-se em estudos de Maturana e Varela sobre sistemas orgânicos, em específico o da autopoiésis, teorizando sobre a necessidade de constante troca com o meio por parte da gestão escolar, sob vista de que não haja a retroalimentação do sistema, o que implicaria em um sistema fechado. Peter Senge, possuidor de sólida formação pela MIT, com um bacharelado em Engenharia pela Universidade de Stanford, e mestrado em modelagem de sistemas sociais e Ph.D. em Administração pelo MIT, tornou-se mundialmente famoso no início da década de noventa do século passado. [...] Senge, com um livro considerado impactante para a esfera da Administração, intitulado “A Quinta Disciplina”, apresentou as cinco disciplinas de aprendizagem organizacionais, apregoando as “learning organizations” . Partindo do “Pensamento Sistêmico”, a mais importante disciplina para Senge, pois se liga a todas as outras, tem-se os “Modelos Mentais”, o “Domínio Pessoal”, a “Visão Compartilhada” e a “Aprendizagem em Equipe”. 120 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Tal pensamento é visto por Senge como aplicável a todos os tipos de organizações, inclusive a escola. Em um livro específico, intitulado “Escolas que Aprendem”, Senge e seus colaboradores desenvolvem a questão da aplicabilidade das cinco disciplinas e a relação das mesmas com a gestão escolar, ante os desafios da contemporaneidade. Além do autor, alguns de seus colaboradores chegam a aventar a possibilidade de confluência entre a teorização de Peter Senge e a de Paulo Freire, no que tange à melhoria da relação escola-comunidade, principalmente em locais com poucos recursos. A formação de Sengenão é a de pedagogo, e sim a de engenheiro, com toda a sua carreira plasmada e delineada no MIT norte-americano. O mesmo aborda a educação em conformidade com as mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX. A sua concepção de Pensamento Sistêmico corrobora essa assertiva, haja vista que o âmbito educacional tem ganhado, nos últimos anos, outras contribuições teóricas, como o pensamento complexo de Morin (2000) e a Teoria das Múltiplas Inteligências de Howard Gardner (2002), dentre outras perspectivas. Isso aponta para uma tentativa de ruptura com uma concepção fragmentadora do conhecimento. Nos casos analisados por Senge nos EUA, a interface com o comunitário fez-se presente na medida em que o mesmo apregoa que a escola é um sistema “aberto” dentro de uma perspectiva orgânica, assentado fundamentalmente nas pesquisas de Maturana e Varela. Nos casos com fulcro em precedente, a saber, em que houve uma melhora nos resultados da escola, mediante a relação entre a mesma e a comunidade, pode- se aventar certa congruência com a praxiologia freireana, embora Senge e Freire partam de lógicas distintas (sistêmica em Senge, dialética em Freire). Peter Senge, na bibliografia analisada, parte de um modelo de gestão em que o fulcro fundamentalmente assenta-se na concepção de cinco disciplinas de aprendizagem, das quais uma é primordial, a saber, o pensamento sistêmico, que apregoa uma visão holística da organização e de sua dinâmica, ao assentar-se em análise de sistemas complexos oriunda do campo da informática. Seu embasamento ideológico é nitidamente pragmático. Nota-se que, embora fale em autogestão escolar, com base em estudos de sistemas orgânicos, principalmente advindos dos estudos de Maturana e Varela, em Escolas que Aprendem, no seu primeiro livro “A Quinta Disciplina” há um apreço a um modelo voltado mais para a esfera empresarial, o qual tenta transpor para a esfera educacional. Senge, no seu livro que aborda a especificidade da gestão escolar, historiciza e faz análises sobre as ideias que deram substrato para que a escola se consolidasse tal como a conhecemos no presente momento. 121 TÓPICO 3 | APRENDER A APRENDER: A QUINTA DISCIPLINA Parte, pois, da relação entre administração organizacional e a militar, como explicitado no primeiro capítulo, apregoando que a gestão da escola é, em relação à gestão empresarial, mais fixa e resistente a mudanças. Segundo a sua perspectiva, é imperioso que as escolas mudem sua forma de pensar, assentando-se na complexidade inerente ao mundo contemporâneo. No mesmo livro, Senge e alguns de seus colaboradores veem certa aplicabilidade do construto freireano em confluência com o da organização aprendente no que concerne à escola pública. Senge tenta traçar um paralelo em seu ideário, a saber, as cinco disciplinas de aprendizagem, e a pedagogia crítica freireana: Que valor, então, a pedagogia crítica oferece àqueles que praticam as cinco disciplinas? Pessoas em escolas e outras organizações muitas vezes criam equipes que conduzem discussões profundas sobre seu propósito, a natureza de suas organizações, seus objetivos e valores compartilhados. Ainda assim, parecem não ter consciência das forças políticas e sociais que moldaram o sistema que as rodeia. Portanto, não conseguem entender as interconexões de suas ações e onde podem influenciar. Nem mesmo entendem que ajudam a criar o sistema, como compreenderam os trabalhadores brasileiros nos círculos de cultura. De maneira semelhante, alguns grupos usam regularmente a linguagem da visão e do pensamento sistêmico, mas omitem tentativas sérias de identificar e questionar de forma crítica os modelos mentais sobre as forças políticas e sociais que moldam seu sistema – seus próprios modelos mentais e os de pessoas em posições de autoridade. Nesses casos, a aprendizagem em equipe se reduz a formar grupos, e as pessoas continuam a operar em circuitos de ignorância que se reforçam (SENGE, 2005, p. 125). Senge tenta, na esfera administrativa, romper com o modelo mecanicista newtoniano, que muito influenciou Taylor na concepção de Administração Científica do final do século XIX. Outras teorias, como a da Relatividade Geral de Einstein e também a Mecânica Quântica, plasmadas no início do século XX, contribuíram para uma ruptura com o fisicalismo e também para a exacerbação de que somente com o conhecimento do tipo propalado pela Física newtoniana poderiam abarcar a totalidade do mundo (SANTOS, 1987). Em contrapartida, para um entendimento sistêmico amplo, há a necessidade de consubstanciarem-se áreas até então seccionadas, tais como Física e Biologia. Daí o seu interesse pelos estudos de Maturana e Varela, pesquisadores chilenos, em especial para com o conceito de autopoiésis. Peter Senge vê a gestão escolar como algo que historicamente relaciona-se como algo estanque e, em suas próprias palavras, com um fisicalismo a toda prova desde a eclosão da Física como ciência. Essa perspectiva de gestão educacional, segundo o autor estadunidense, deveria ser mudada em outra, em que não o estanque, o padrão e o formalismo excessivo fossem as regras. 122 UNIDADE 2 | SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E EDUCAÇÃO Segundo Senge (2005), deve-se ir além dos padrões, muitas vezes, subjacentes. Isso implica, evidentemente, na capacidade do gestor escolar ver a escola como um sistema aberto e orgânico, em constante troca com o meio externo. O veio democrático vem de tal prática, na medida em que há uma inter-relação entre pais, alunos, professores, corpo gestor e comunidade, partindo-se da premissa de que todos são interdependentes sob a ótica do sistêmico. Numa contemporaneidade altamente complexa, volúvel e dinâmica, tal medida é imperiosa. FONTE: Disponível em: <http://www.farolnet.com.br/unisal/sistema/uploads/centro_publicacoes/ arq_centro_publicacoes_000033.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2011. 123 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você viu que: • Mais do que criarmos pessoas agindo como máquinas, devemos desenvolver nas pessoas a capacidade de aprender sempre. • Os responsáveis pela aprendizagem organizacional são os indivíduos. As organizações podem criar um ambiente que permita que esses indivíduos aprendam, mas são os indivíduos que têm a capacidade ou a competência de aprender a fazer algo. • Precisamos resgatar a nossa capacidade de ver o mundo como um sistema de forças entrelaçadas e relacionadas entre si. Ao fazermos isso estaremos em condições de formar as organizações em aprendizagem, nas quais as pessoas colocarão para si objetivos mais altos e aprenderão os resultados desejados e a usar novos e elevados padrões de raciocínio, enfim, onde as pessoas aprenderão continuamente a aprender em grupo. • São cinco disciplinas que vêm convergindo para facilitar a inovação nas organizações em aprendizagem. • A verdadeira aprendizagem está relacionada com o significado de ser humano. Por seu intermédio, o homem se cria, torna-se capaz de fazer o que jamais conseguiu, adquirindo uma nova visão do mundo e da sua relação com ele. • As escolas podem ser recriadas, vitalizadas e renovadas de forma sustentável, não por decreto ou ordem nem por fiscalização, mas pela adoção de uma orientação aprendente. 124 1 Reflita sobre a capacidade do ser humano de adaptar-se a condições adversas. Quais são as suas principais “armas” para essa adaptação? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2 Escreva quais as ideias que você considerou relevantes neste tópico. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 3 Escreva sobre as consequências do paradigma mecanicista na educação. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ AUTOATIVIDADE