Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
5 . H I P Ó T E S E S C O N T E M P O R Â N E A S D E P E S Q U I S A E M C O M U N I C A Ç Ã O Antonio Hohlfeldt Entre os anos 20 e 70, desenvolveram-se um sem-núme ro de teorias ligadas aos processos de comunicação, e que podem ser agrupadas, genericamente, em vários blocos, como sugere Mauro Wolf1: teoria hipodérmica ou de manipulação, teorias empíricas de campo e experimentais, também deno minadas de persuasão, teoria funcionalista, teoria estrutura- lista, teoria crítica-mais conhecida como a Escola de Frank furt, com todos os seus desdobramentos -, teorias culturoló- gicas, cultural studies, teorias comunicativas (a teoria mate mática, a semiótica em sentido estrito, devida a Umberto Eco, e as lingüísticas), etc. Havia, de modo geral, um enorme fosso a separar esse conjunto de teorias em relação às suas fontes, os paradigmas norte-americanos, essencialmente descritivistas e burocráti cos, e os paradigmas europeus, essencialmente sociológicos mas excessivamente ideológicos, segundo seus críticos nor te-americanos. Em ambos os casos, havia em comum o aspecto negativo que caracteriza toda e qualquer teoria: por ser um sistema fe * Doutor cm letras pela PUCRS, professor c coordenador do Programa de Pós-Graduação cm Comunicação Social da 1'AMHCOS/I’UCRS. 1. Mauro Wolf, Teorias da comunicação, Lisboa, Editorial Presença, 1992, p. 17s. 187 chado, ela é excludente. Assim, assumir uma determinada li nha de pesquisa significava, por conseqüência, eliminar toda e qualquer outra alternativa. Foi então que, a partir do final dos anos 60, concentran do-se nos anos 70, surgiram o que hoje se costuma denomi nar de communication research, nos Estados Unidos, através de diferentes pesquisadores que, não apenas se propunham a atuar em equipe, quanto buscavam o cruzamento das dife rentes teorias e, muito especialmente, de múltiplas discipli nas, a fim de compreender o mais amplamente possível a abrangência do processo comunicacional. 1. A hipótese de agenda ou agenda setting Foi o que aconteceu com o norte-americano Maxwell McCombs ou a alemã Elisabeth Noelle-Neumann, responsá veis, respectivamente, por áreas de pesquisa hoje mundial mente conhecidas como agenda setting e espiral do silêncio, isso, para não esquecermos outros caminhos alternativos como o chamado newsmaking que, na verdade, se não tem um au tor específico responsável por seu desenvolvimento, nem por isso possui menor importância no conjunto de estudos em torno da comunicação, tais como hoje em dia se desen volvem em todo o mundo. Vamo-nos ater a linhas de pesquisa denominadas agenda setting, newsmaking e espiral do silêncio que, no Brasil, são as que têm encontrado maior repercussão, já alcançando al guns registros, quer em traduções, quer em obras que, basea das nesta pesquisa, buscam desenvolver reflexões a respeito dos processos comunicacionais em nosso país. A hipótese de agenda setting está bastante documentada em língua portuguesa. Encontramo-la, além do livro já men cionado de Mauro Wolf, cuja primeira edição é de 1987, também na edição brasileira de Teorias da comunicação de massa, de Melvin L. De Fleur e Sandra Ball-Rokeach, refun- dição de uma obra original escrita pelo primeiro autor ape Antonio Hohlfeldt 188 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação nas, em anos anteriores2. Em pouco mais de uma página, De Fleur menciona a hipótese do agendamento que a mídia reali za junto ao receptor, formulada a partir do final dos anos 60, pelos professores Maxwell E. McCombs e Donald L. Shaw. Comecemos por esclarecer por que falamos em hipótese e não em teoria, simplesmente. Ora, antes de mais nada, por que uma teoria, como enfatizei anteriormente, é um paradig ma fechado, um modo acabado e, neste sentido, infenso a complementações ou conjugações, pela qual traduzimos uma determinada realidade segundo um certo modelo. Uma hipó tese, ao contrário, é um sistema aberto, sempre inacabado, ad verso ao conceito de erro característico de uma teoria. Assim, a uma hipótese não se pode jamais agregar um adjetivo que caracterize uma falha: uma hipótese é sempre uma experiên cia, um caminho a ser comprovado e que, se eventualmente não der certo naquela situação específica, não invalida neces sariamente a perspectiva teórica. Pelo contrário, levanta, auto maticamente, o pressuposto alternativo de que uma outra va riante, não presumida, cruzou pela hipótese empírica, fazendo com que, na experiência concretizada, ela não se confirmasse. Aliás, pode-se tomar, na própria aplicação da hipótese do agendamento, um estudo, hoje referencial, de Gladys Engel Lang e Kurt Lang, que buscaram aplicar o princípio do agen damento à situação histórica do episódio de Watergate, nos Estados Unidos. A questão que os pesquisadores se coloca vam era esta: se a hipótese de agendamento é viável, como explicar que, apesar de todo o conjunto de denúncias desen volvidas por The Washington Post, ao longo de 1972, o então Presidente Richard Nixon chegasse a se reeleger com percen tuais altamente significativos para sofrer um processo de im- peachment pouco tempo depois, o que o levaria à renúncia, a fim de não ser derrubado do poder pelo Congresso?3 2. Mclfin L. Dc Flcur, Teorias de comunicação de massa, Rio dc Janeiro, Zahar, 1971. 3. Gladys Lngcl Lang c Kurt Lang, "Walcrgalc - an cxploralion of tlic agenda-building process”, in: G.C. Wilhoit c H. dc Bock (cds.), Mas.s Communication Review Yearbook 2, Bcvcrly Hills, Sagc, 1981, p. 447-468. 189 Antonio Hohlfeldt Os pressupostos da hipótese de agendamento são vários, mas destaquemos alguns principais: a) o fluxo contínuo de informação - verifica-se que o processo de informação e de comunicação não é, como pare cem pressupor as antigas teorias, um processo fechado. Na verdade, as teorias clássicas como que fazem um recorte, fragmentando a realidade, talvez com intuitos didáticos, quan to aos processos comunicacionais. Da manhã à noite, contu do, sofremos verdadeira avalanche informacional que, na maioria das vezes, inclusive, nos leva ao conhecido processo de entropia, ou seja, um excesso de informações que, não trabalhadas devidamente pelo receptor, se perdem ou geram situações inusitadas como aquelas já flagradas no engraça- díssimo Samba do Crioulo doido de Stanislaw Ponte Preta. O que, na verdade, ocorre, é que este fluxo contínuo infor macional gera o que McCombs denominará de efeito de en ciclopédia que pode ser inclusive concretamente provocado pela mídia, sempre que isso interesse, através de procedi mentos técnicos como o chamado box que revistas e jornais muitas vezes estampam junto a uma grande reportagem, vi sando atualizar o leitor em torno de determinado fato. Na maioria dos casos, contudo, consciente ou inconscientemen te, guardamos de maneira imperceptível em nossa memória uma série de informações de que, repentinamente, lançamos mão. É assim que se pode explicar, por exemplo, a reação provocada pela série de episódios em torno do ex-Presidente Collor de Melo, sem o quê, talvez, repetiríamos a experiên cia de Watergate, sem termos jamais chegado à cassação do antigo mandatário nacional; b) os meios de comunicação, por conseqüência, influ enciam sobre o receptor não a curto prazo, como boa parte das antigas teorias pressupunham, mas sim a médio e lon go prazos. Ou seja, é mediante a observação de períodos de tempo mais longos do que os habitualmente até então confi gurados que podemos aquilatar, com maior precisão, os efei tos provocados pelos meios de comunicação. Mais que 190 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação isso, deve-se levar em conta não apenas o lapso ide tempo abrangido por uma determinada cobertura jornalística quan to, muito especialmente, o tempo decorridoentre esta pu blicidade e a concretização de seus efeitos em termos de uma açíão conseqüente por parte do receptor. Tome-se, por exemplo, o exemplo ainda recente da criação do Plano Real e o posterior lançamento do ex-Ministro do Planejamento, Fernando Henrique Cardoso, como candidato à Presidência da República, com o resultado eleitoral que todos conhece mos: eriquanto que em maio daquele ano eleitoral Luís Iná cio Lula da Silva era considerado virtual candidaito prefe rencial^ com mais da metade das intenções de voto., em pou co mais de cinco meses revertia-se a situação, com a vitória de Fernando Henrique, em outubro, ainda em primeiro tur no, o qtfe significava, em termos do sistema eleitoral brasi leiro, ter alcançado mais que a metade dos votois válidos para aquela eleição. Ora, é evidente que houve um efeito de enciclopédia propositadamente buscado por parte; dos res ponsáveis pela campanha de Fernando Henrique, vinculan do o candidato à nova moeda e a seu sucesso enquanto de- terminaidora do controle inflacionário brasileiro, flum pro cesso que, em médio prazo (cinco meses), minou significa- tivamerite o discurso de oposição (independentemente de que se analise os equívocos de avaliação que apostaram no desastre do Plano ou na sua falência pós-eleitoral); c) oS meios de comunicação, embora não sejam capazes de impúr o quê pensar em relação a um determincído tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes de, a mé dio e longo prazos, influenciar sobre o quê pensar e falar, o que motiva o batismo desta hipótese de trabalho. Ou seja, dependendo dos assuntos que venham a ser abordados - agen dados - pela mídia, o público termina, a médio e longo pra zos, pof incluí-los igualmente em suas preocupações. Assim, a agenda da mídia de fato passa a se constituir também na agenda individual e mesmo na agenda social. 191 Antonío Hohlfeldt As bases teóricas desta hipótese de pesquisa são bastante antigas. Podemos baseá-las na obra de Gabriel Tarde sobre a opinião pública4, se quisermos expandir um pouco mais a pesquisa fora das fronteiras norte-americanas, onde ela se estruturou, ou no livro de Walter Lippmann sobre o mesmo tema5. Para Lippmann, nossa relação com a realidade não se dá de maneira direta. Ou melhor, embora ela ocorra de modo direto, a percepção que dela temos não é direta, mas sim me diada por imagens que formamos em nossa mente. Desta for ma, percebemos a realidade não enquanto tal, mas sim en quanto a imaginamos. Ora, desde o século passado, graças, dentre outros, a Fer- dinand Tõnnies6, conhecemos a diferença entre as chamadas Gemeinschaften e as Gesellschaften, ou seja, sociedades co munitárias e sociedades anônimas. As primeiras estão liga das às civilizações primitivas, em que as relações se desen volvem de maneira direta, em que todos se conhecem entre si e em que todo o fluxo informacional é absolutamente perso nalizado. Nas sociedades anônimas, contudo, fruto da urba nização, os processos de massificação se tornam necessá rios, uma vez que a maioria dos integrantes de tais socieda des não podem ter acesso direto aos acontecimentos. Assim é que surgem os chamados meios de comunicação de massa ou, como os americanos denominam, os mass media, consti tuídos pelos jornais, revistas, emissoras de rádios, cadeias de televisão e, a cada dia mais, outras redes, dentre as quais, contemporaneamente, a Internet. Assim, numa sociedade urbana complexa, temos neces sidade da mediação dos meios de comunicação: não pode mos ser testemunhas oculares das decisões do Palácio do Planalto ou do Congresso Nacional, ainda que, eventualmen 4. Gabriel Tarde, A opinião e as massas, São Paulo, Martins Fontes, 1992. 5. Walter Lippmann, Public opinion, Nova Iorque, MacMillan, 1922. 6. Fcrdinand Tõnnies, Comunity anil society, East Lansing, Michigan State University Press, 1957 (edição alemã original dc 1887). 192 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação te, numa pequena comunidade, possamos assistir a uma reu nião que culmine em determinada decisão por parte do prefe ito, chefe do Executivo municipal daquela comuna (contudo, com o advento do telefone, inclusive dos celulares, as práti cas de lobbyng ganharam outra dimensão inimaginável até poucos anos...). Portanto, dependendo da mídia, sofremos sua influên cia, não a curto, mas a médio e longo prazos, não nos im pondo determinados conceitos, mas incluindo em nossas preo cupações certos temas que, de outro modo, não chegariam a nosso conhecimento e, muito menos, tornar-se-iam temas de nossa agenda. Para configurar essa hipótese, o professor Maxwell McCombs, em 1968, fez um acompanhamento inicial da campanha eleitoral nacional dos Estados Unidos. Um estudo exploratório foi desdobrado a partir da Universidade da Cali fórnia, na localidade de Chapell Hill, na Carolina do Norte. Concretizado num curto prazo de 24 dias (entre 12 de setem bro e 6 de outubro) que antecederam as eleições nacionais, o pesquisador e sua equipe trabalharam com cerca de 100 (cem) questionários, selecionados na relação de eleitores, de maneira a cobrir um universo variado de posição econômi- co-fínanceira, social e racial, dentre aqueles que se encontra vam ainda indecisos quanto ao voto a ser dado, entre Hubert I-Iumphrey e Richard Nixon. Para cotejar a agenda do públi co com a da mídia, fez-se uma seleção de cinco jornais, dois canais nacionais de televisão e duas revistas semanais (dos jornais, quatro eram regionais: Durham Morning Herald, Durham Sun, Raleigh News and Observer e Raleigh Times, e um nacional, o New York Times)', as duas revistas nacionais foram Time e Newsweek, e os canais de televisão foram a NBC e a CBS, com seus noticiários noturnos nacionais. Os temas foram codificados em quinze diferentes cate gorias, agrupados, por seu lado, cm três grandes blocos, de nominados Temas, Campanha e Candidatos: 193 Antonio Hohlfeldt TEMAS CAMPANHA CANDIDATOS Política Internacional Eleições Humphrey Legislação Eventos de campanha Muskie Política fiscal Análise da campanha Nixon Bem-estar públi co Agnew Direitos civis Wallace Outros Lemay Igualmente tomou-se um critério objetivo para a classifi cação das matérias divulgadas, de maneira a se ter um padrão comparativo entre os três tipos de mídia, classificando-se as matérias em maiores e menores, entendendo-se como maio res aquelas que: a) nos jornais, aparecessem como chamada de capa (incluindo o lead, ou seja, todo o primeiro parágra fo da matéria, com as questões iniciais do modelo tradicional do jornalismo norte-americano traduzi das nos conhecidos five W), matérias com três colu nas nas páginas internas ou matérias em que pelo menos um mínimo de cinco parágrafos estivessem destinados ao tema eleitoral; b) nas revistas, cobrissem pelo menos uma coluna de informação ou que aparecessem com destaque no lead ou abertura de alguma seção da revista; c) nas televisões, alcançassem o tempo de pelo menos 45 segundos ou estivessem entre as três matérias de chamada da edição do noticiário daquela noite. (É evidente que estes critérios foram tomados a partir dos paradigmas do jornalismo norte-americano, mas como o jornalismo brasileiro, desde a dccada de 50, inspira-se neste mesmo modelo, pode-se estendê-lo igualmente como 194 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação paradigma para um eventual estudo brasileiro, sem maio res problemas.) Verificou-se, então, que a mídia, de fato, havia> provo cado um forte impacto e influenciado significativamente o eleitor. A novidade, contudo, é que, mais do que influenciar o eleitor (em princípio, o receptor que estava sendo pesqui sado), verifícou-se que a mídia terminara por influenciar também aos próprios candidatos, fazendo com que; muitosdeles incluíssem em suas agendas temas que, inicialmente, não constavam das mesmas, mas que, ou por terem sido abordados por seus concorrentes, ou porque foram jagenda- dos pela mídia, terminaram por ser considerados pel&s agen das dos candidatos7. Persistiam, contudo, muitas dúvidas para os pesquisado res, de forma que em 1972, quando da nova campanh a eleito ral, Maxwell McCombs aliou-se a Donald L. Shaw, para aprofundar o estudo. Já então, os dois pesquisadores haviam publicado um estudo preliminar8. O novo trabalho pretendia refinar as hipóteses levantadas e, para tanto, escolheu cinco pontos de concentração: a) definição do conceito; b) fontes de informação para a agenda pessoal; c) desenvolvimento temporal como variável maior; d) características pessoais do eleitor; e) política e agendamento. Desta vez, escolheu-se a localidade de Charlotte Ville, na Carolina do Norte, cidade situada a meio caminho entre Washington DC (a capital federal) e Atlanta, na Geórgia, com 354 mil habitantes. Se Chapell Hill era uma cidade pe quenina, conservadora e isolada cm si mesma, Charlotte era exatamente o contrário: ninguém era dali originário, pois se 7. Pesquisa interessante pode ser feita a respeito da campanha eleitoral municipal <lc •’0rt0 Alegre cm 1996: alguns jornais da capital antcccdcram, cm tomo dc maio, a cai'ipanha elei toral, indagando dos eleitores sobre seus principais temas dc preocupação. Na ocasião, avultou a questão da saúde. Vcrificou-sc, posteriormente, que a maioria dos cafldidatos ter minou por agendar esse tema cm seus discursos de campanha. 8. Maxwell E. McCombs c Donald L. Shaw, “The agenda-setting function of rfiass media”, in: Public Opinion Qiuirterly, vol. 36, n. 2, verão dc 1972, p. 176-187. 195 Antonio Hohlfeldt tratava de uma cidade em plena expansão, com verdadeira explosão demográfica. Os moradores isolavam-se na maio ria dos casos em apartamentos, eram oriundos dos mais varia dos pontos do país e isso se tomou inclusive um problema para o desenvolvimento da pesquisa, porque, a partir dos 150 mil eleitores, escolheu-se um conjunto de 380 deles para a pesquisa. No entanto, também o prazo de acompanhamento do trabalho foi ampliado, iniciando-se emjunho e terminan do apenas em outubro, cobrindo, pois, quase cinco meses, o que resultou na perda de muitos dos primeiros pesquisados, chegando-se ao número máximo de apenas 230, porque boa parte destes 39% iniciais simplesmente foram-se mudando da cidade no decorrer dos meses. Para equilibrar a questão dos eleitores negros, que haviam ficado em desvantagem neste conjunto inicial de pesquisa, os cientistas agregaram 41 novos pesquisados, dos quais 24 foram posteriormente considerados, fechando-se o resultado final com um total de 227 questionários convalidados, a partir do mesmo critério: apenas aqueles que de fato ainda se mantinham indecisos quanto ao candidato a ser escolhido, numa campanha forte em que Richard Nixon, concorrendo à reeleição, tinha em George McGovern seu principal adversário. Quanto à primeira questão, em torno da própria concei- tuação da hipótese, verificou-se que, na medida em que a campanha avançava, a atenção dos eleitores amplia-se; mais que isso, os eleitores, através da mídia, passam a constituir um conjunto de informações mais ou menos comuns entre esta audiência; esse conjunto de informações produz a base para a formação de uma atitude ou uma mudança de atitude diante dos candidatos; por fim, esta atitude sociabiliza-se entre os diferentes membros de uma mesma comunidade. É evidente que isso tem um forte reflexo para o resultado elei toral final. Quanto à questão envolvendo a formação das agendas pessoais c as diferentes influências que cias sofrem (além da influência da mídia), verificou-se claramente a importância 196 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação do chamado duplo fluxo informacional, já conhecido desde as antigas teorias empíricas experimentais dos anos 30, se gundo as quais a maior parte das informações não transita di retamente de uma mídia para o receptor, mas é também me diada através dos chamados líderes de opinião, com os quais estabelecemos relações emocionais as mais variadas. É também evidente que há maneiras diversas de encarar uma mesma agenda, ou uma questão genérica pode receber conotações muito particulares. Foi o que se descobriu, por exemplo, quando, esmiuçando o tema Política internacional, que não tivera grande destaque na pesquisa anterior, desdo- brando-se o item em várias questões mais particulares, de imediato a questão Guerra do Vietnã, que era então um tema momentoso (e do qual Nixon tratava de se livrar, urgente mente, quer para evitar o desastre de uma derrota, quer para cabalar votos, garantindo uma paz honrosa, iniciada com aquela famosa e inesperada primeira visita de um Presidente norte-americano à China de Mao Tsé-Tung, amplamente co berta pela mídia norte-americana, pouco antes de iniciada a campanha eleitoral) alcançou índices extremamente signifi cativos, pelo simples fato de que, como se verificava então, o eleitor norte-americano não entendera a Guerra do Vietnã como um tema da Política Internacional, até porque, para ele, levando-se em conta que a maioria das famílias nor- te-americanas tinha alguém em sua relação direta ou de ami gos, como soldado na guerra, quando não ferido ou morto, o problema era diverso, talvez de Política interna, não menci onada na primeira pesquisa. Assim, os estudiosos deram-se conta de que a precisão de um questionário pode evidenciar particularidades da agenda do receptor que questões mais gerais não deixam perceber. No que toca à questão da seqüência temporal, levando-se em conta que o agendamento se dá necessariamente no tem po, verificou-se que se estabelece uma verdadeira correlação entre a agenda da mídia e a do receptor, mas também a agen da do receptor pode e acaba influenciando a agenda da mí 197 Antonio Hohlfeldt dia. Mais do que isso, descobriu-se que também havia um in- teragendamento entre os diferentes tipos de mídia, chegan do-se mesmo a perceber que a mídia impressa possui certa hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto no que toca ao agendamento do receptor em geral (pela sua maior perma nência e poder de introjeção através da leitura) quanto sobre as demais mídias (que, por sua vez, evidenciam maior dina- micidade e flexibilidade para expandir a informação e com plementá-la). Estabelece-se, desta maneira, uma espécie de suíte sui generis, em que um tipo de mídia vai agendando o outro (lembremos o episódio Collor de Melo, em que as re vistas IstoE e Veja terminaram por agendar literalmente as televisões e os jornais, ainda que tivessem apenas edições se manais, graças às entrevistas que alcançaram, com o moto rista ou a secretária, capazes de trazer novos enfoques ao tema. Por outro lado, não se pode esquecer, ainda no mesmo episódio, que foi unânime a avaliação de tantos quantos acompanharam o caso que, não fosse a rnídia nacional e o Congresso Nacional, jamais teria chegado à decisão que to mou, tendo encerrado o caso bem antes de ter qualquer con clusão sobre o assunto. Pode-se ainda relembrar episódio an terior que foi o agendamento, pela opinião pública, da TV Globo, quando da chamada Diretas Já, em que aquela rede tentou esquivar-se o quanto pôde à cobertura do evento, mas acabou rendendo-se à pressão do receptor e do restante da mídia, com destaque ao jornal Folha de S. Paulo e ao noti ciário noturno da TV Manchete). Quanto às características pessoais do receptor e à for mação dc uma agenda, tudo depende dos graus de percep ção da relevância ou importância do tema, além dos dife rentes níveis de necessidade de orientação que, em torno daquele tema, observará o receptor. Assim, pode-se dizerque a percepção de relevância poderá ser alta, média ou bai xa. Sendo baixa, evidentemente o receptor não demonstrará nenhum grau de interesse em adquirir qualquer tipo de in formação em torno daquele tema. No entanto, se houver um 198 Hipóteses contemporâneas de ptesquisa em comunicação níviel médio de relevância ao assunto, haverá, em conse- qüê-ncia, um interesse mínimo na aquisição de informação sobre tal acontecimento, ainda que seu reflexo em termos de agendamento seja, ainda, mínimo. O agendamento so mente ocorrerá de maneira eficiente quando houver um alto nív<el de percepção de relevância para o tema e, ao mesmo temipo, um grau de incerteza relativamente alto em relação ao (domínio do mesmo, levando o receptor a buscar infor- maf-se com maior intensidade a respeito daquele assunto. Enc'ontramo-nos, pois, ao nível de uma cogniição racionali zada, considerada a mais alta hierarquia no clássico quadro constituído por Wilbur Schramm num estudo já conhecido (os demais são o nível instintivo e o emocional)9. Enfim, quanto à questão da política em si, no que toca ao agendamento, verificou-se que o político é extremamente sen sível a tal processo e, assim, cm sociedades em que, como a norte-americana, a atividade política é extremamente valori-10zada , a mídia alcança uma importância superior na consti tuição das relações políticas. O estudo de McCombs e Shaw, por exemplo, evidenciou que os eleitores aumentavam a bus ca de informações à medida que a campanha eleitoral se de senvolvia e aproximava-se a data da eleição, o que podemos confínnar com absoluta facilidade acompanhando, por exemplo, no Brasil, a audiência aos chamados programas obrigatórios de nossas campanhas eleitorais; essa procura por informações contribui eficientemente para a definição do ('leitor cm relação aos temas que o levam a decidir-se pelo candidato a quem confiará seu voto e, conseqüentemente, in fluencia o próprio resultado eleitoral; cada mídia desenvolve um tipo diferenciado de influência, graças às especifícidades que1 apresenta, mas o que fica bastante claro c que, graças a este envolvimento da mídia, e seu posterior agendamento, amplia-se também a comunicação fora do circuito estrito da 9. wilbur Schramm (cd.), The process and lhe effects of ma.ts communication. Urbana, Ui,jversity of Illinois, 1954. 10. Robcrt li. Lane c David Sears, A opinião pública. Rio dc Janeiro, Zahar, 1966. 199 mídia, isto é, as pessoas aumentam, no coiijunto de suas rela ções sociais, as mais variadas, do círculo familiar aos amigos do clube ou aos companheiros de trabalhe) ou escola, a troca de opiniões e informações, dinamizando o processo infor- macional-comunicacional. Conclui-se, assim, que a influência dc> agendamento por parte da mídia depende, efetivamente, do grau de exposição a que o receptor esteja exposto, mas, mais que isso, do tipo de mídia, do grau de relevância e interesse que este receptor venha a emprestar ao tema, a saliência que ele lhe reconhecer, sua necessidade de orientação ou sua falta de informação, ou, ainda, seu grau de incerteza, além dos diferentes níveis de comunicação interpessoal que desenvolver. Por ser uma hipótese de trabalho, corno salientei, e não uma teoria fechada, diferentes experiências, extremamente ricas, têm-se desenvolvido neste campo sempre aberto a es peculações. A partir do livro que McComt>s e Shaw publica ram11, multiplicaram-se os estudos, quer por outros pesqui sadores, quer pelos próprios pioneiros, corno o evidencia um texto mais recente de Maxwell McCombs em que ele apro funda questões como a exploração da informação, seus rela tos, as imagens provocadas pela mídia e, enfirn, a criação da opi nião pública12. Por outro lado, novas hipóteses de trabalho se desenvolveram complementarmente a esta. Por exemplo, a antes mencionada Elisabeth Noelle-Neuiriann, ao constituir sua hipótese da espiral de silêncio, refere explicitamente a hipótese de agendamento na introdução dei seu estudo, aliás, cujas pesquisas iniciaram contemporaneafnente ao trabalho dc McCombs13. No Brasil, Clóvis de Barrds Filho tem sido o Antonio Hohlfeldt 11. Donald L. Shaw c Maxwell li. McCombs, The emergence ofomerícan political issues: The ugenda-settingfunction oflhepress, Saint Paul, Minncsotta, West Publisliing Co., 1977. 12. Maxwell McCombs, lidna liinsicdcl e David Wcavcr, ContemporalyPu^‘coP'n'on: lssl ex and lhe news, Hillsdalc, Nova Jerscy, Lawrcncc Erlbaum Associates, Publishcrs, 1991. 13. Hlisabelh Nocllc-Ncumann, “Rclum Io lhe conccpt of powei í»! mass media”, comuni cação apresentada no XXlh International Congrcss of Psychology. cm Tóquio, cm agosto dc 1972. Publicado posteriormente cm Sludies of Broadcasting, 9 (1973). 200 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação principal divulgador desses estudos, inicialmente em alguns papefs isolados e agora em obra volumosa14, aluno que foi do próprio autor desta pesquisa. ffá alguns conceitos básicos em tomo deste estudo que, para encerrar, quero repassar para o leitor: Acumulação - capacidade que a mídia tem de dar re levância a um determinado tema, destacando-o do imenso conjunto de acontecimentos diários que se rão transformados posteriormente em notícia e, por conseqüência, em informação; Consonância — apesar de suas diferenças e especifici- dades, os mídias possuem traços em comum e se melhanças na maneira pela qual atuam na transfor mação do relato de um acontecimento que se toma notícia. Conseqüentemente, alguns princípios gerais podem ser aplicados, independentemente de suas idiossincrasias; Onipresença - um acontecimento que, transformado em notícia, ultrapassa os espaços tradicionalmente a ele determinados se toma onipresente. Por exemplo, quando a página policial acaba por se ocupar de um assunto desportivo (o recente episódio envolvendo a corrupção de juizes por dirigentes de futebol); Relevância - ela é avaliada pela consonância do tema nos diferentes mídias, ou seja, se um determinado acontecimento acaba sendo noticiado por todos os diferentes mídias, independentemente do enfoque que lhe venha a ser dado, ele possui evidente rele vância; Frame temporal - quadro de informações que se for ma ao longo de um determinado período de tempo da pesquisa e que nos permite a interpretação con- 14. C|lóv's Harros l:ilho, Etica na comunicação da informação ao receptor, São Paulo, Modc:ma’ l995- 201 Antonio Hohlfeldt textualizada do acontecimento; ele cobre todo o pe ríodo de levantamento de dados das duas ou mais agendas (isto é, a agenda da mídia e a agenda dos receptores, por exemplo); Time-lag-é o intervalo decorrente entre o período de levantamento da agenda da mídia e a agenda do re ceptor, isto é, como se pressupõe a existência de um efeito de influência da mídia sobre o receptor, ela não se dá mágica e imediatamente, mas necessita de um certo tempo para se efetivar e ser constatável. A este intervalo de tempo se denomina time-lag; Centralidade — capacidade que os mídias têm de co locar como algo importante determinado assunto, dando-lhe não apenas relevância quanto hierarquia e significado. Há muitos assuntos que são noticia dos constantemente mas que não são conscientiza dos como centrais (isto é, decisivos) para a nossa vida, enquanto que outros assim se tornam. Por exemplo, a questão do Plano Real e a queda da in flação como um elemento alternativo de redistribui- ção de riqueza; Tematização - é o procedimento implicitamente liga do à centralidade, na medida em que se trata da ca pacidade de dar o destaque necessário (sua formu lação, a maneira pela qual o assunto é exposto), de modo a chamar a^tenção. Um dos desdobramentos da tematização é a chamada suíte de uma matéria, ou seja, os múltiplos desdobramentos que a informação vai recebendo, de maneira a manter presa a atenção do receptor naquele assunto; Saliência - valorização individual dada pelo recep tor a um determinado assunto noticiado, que se tra duz pela percepção que ele venha a emprestar à opinião pública; 202 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação Focalização - a maneira pela qual a mídia aborda um determinado assunto, apoiando-o, contextualizan- do-o, assumindo determinada linguagem, tomando cuidados especiais para a sua editoração, inclusive mediante a utilização de chamadas especiais, cha péus, logotipias, etc. Por outro lado, da mesma forma com que a hipótese de agendamento pode ser articulada com as mais diferentes teo rias no campo da comunicação social ou mesmo de outras áreas disciplinares, ela pode ser também combinada com as demais hipóteses antes mencionadas. Por exemplo, se o agendamento se preocupa com a relação mídia-receptor e as interinfluências desse processo, poderemos aprofundar um estudo, através do newsmaking, verificando quais as rotinas que as mídias de senvolvem para alcançarem determinado agendamento. Ou, sob perspectiva diversa, a partir de uma perspectiva de agen damento, buscar entender os mecanismos pelos quais houve uma espiral de silêncio sobre outros tantos temas que, apesar de hipoteticamente significativos, foram marginalizados pelas mídias. Em síntese, as alternativas de trabalho são infinita mente múltiplas e, também neste caminho, alguns de nossos alunos têm-se ensaiado, com bons resultados. 2. A hipótese de newsmaking Outra perspectiva importante foi a do newsmaking, corre tamente destacado por Mauro Wolf como um estudo ligado à sociologia das profissões, no caso, o jornalismo. E, portanto, mais uma teoria do jornalismo do que propriamente da comu nicação, mas tem sido estudada genericamente sob a perspec tiva comunicacional, c vamos aqui manter esta tradição. A hipótese de newsmaking dá especial ênfase à produção de informações, ou melhor, à potencial transformação dos acontecimentos cotidianos em notícia. Deste modo, é especi almente sobre o emissor, 110 caso o profissional da informa ção, visto enquanto intermediário entre o acontecimento e 203 Antonio Hohlfeldt sua narratividade, que é a notícia, que está centrada a atenção destes estudos, que incluem sobremodo o relacionamento entre fontes primeiras e jornalistas, bem como as diferentes etapas da produção informacional, seja ao nível da captação da informação, seja em seu tratamento e edição e, enfim, em sua distribuição. No horizonte do newsmaking se colocam, dentre os vá rios temas possíveis, os conhecidos estudos sobre gatekee- ping ou filtragem da informação, que se distingue totalmente da censura, por sua perspectiva distinta da ideologia e mais vinculada às rotinas de produção da informação, verificá veis, assim, tanto entre a mídia capitalista quanto na socialis ta, por exemplo. Na verdade, os estudos em tomo do newsmaking - que em uma tradução livre seria os fazedores de notícia ou a criação da notícia — surgiram exatamente em tomo dos pro cessos de gatekeeping verificados por Kurt Lewin já em 194715. Naquela ocasião, estudando o fluxo informativo de um importante órgão de imprensa norte-americano, na rela ção entre a chegada de notícias pelos telexes da época e a uti lização daquelas mesmas informações na edição posterior do jornal, Lewin levantou a seguinte estatística: de 1333 negati vas de publicação: - 800 deixaram de ser editadas por alegada falta de es- paço; - 300 por pretensa sobreposição de tema ou falta de interesse junto ao público; - 200 por falta de qualidade do material enviado; - 33 por constituírem infonnações situadas em áreas demasiadamente distantes dos campos de interesse dos leitores mais tradicionais do jornal. 15. Kurt l.cwin, ‘Tronticrs in group dynamics II: Channels ofgroup life - social planning and action research”, in: lluman Relations, 1947, vol. 1, n"2, p. 143-153, citado por Mauro Wolf, op. cit., p. 159. 204 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação Lewin concluiu na época que, de cada dez notas de telex chegados àquela redação, apenas uma era transformada efe tivamente em notícia na edição seguinte. Estabeleceu-se, assim, o conceito de que existem normas profissionais que superariam distorções subjetivas na sele ção das informações, mas descobriu-se, ao mesmo tempo, que a seletividade infonnacional não acontecia apenas na reda ção do jornal. Caberia, portanto, tentar verificar onde mais esta interferência - esta filtragem - se dava, bem como o modo pelo qual ela ocorria. Algumas pesquisas feitas entre profissionais indicavam que a recusa ou aceitação de um acontecimento enquanto no tícia dependeria muito de uma espécie de conceito difuso do que seja a informação — entenda-se, a informação considera da de interesse jornalístico - vigente entre os profissionais. As referências implícitas dos profissionais pesquisados aos grupos de colegas e ao sistema de fontes foram dois dos ele mentos mais presentes nestas pesquisas, ultrapassando em muito qualquer preocupação ou referência ao público, ao lei tor que seria, em última instância, enquanto receptor, o ver dadeiro motivo daquela atividade profissional. As primeiras conclusões admitiram, então, que os pro cessos de comunicação têm em si mesmos uma função de controle social desenvolvido a partir do estabelecimento de práticas socializadas entre seus profissionais, os jornalistas. A função de gatekeeping, por seu lado, dependeria de urna gama de perspectivas e influências, dentre as quais as mais comuns seriam: - a autoridade institucional e suas eventuais sanções; - sentimentos de fidelidade e estima para com os superiores; - aspirações à mobilidade social da parte do profis sional; - ausência de fidelidade de grupo contrapostas; 205 - caráter agradável do trabalho; - o fato de a notícia ter-se transformado em valor16. O gatekeeping constituir-se-ia, portanto, em uma distor ção involuntária - na medida em que não se trata de uma in tervenção consciente, sensorial - da informação, devida ao modo pelo qual se organiza, institucionaliza e desenvolve a função jornalística, as chamadas estruturas inferenciais, que não significam manipulação, pura e simplesmente, eis que não são distorções deliberadas, mas involuntárias, inconsci entes, que podem chegar, por isso mesmo, a níveis bem mais radicais e perigosos, na medida em que omitem ou margina lizam acontecimentos que, por vezes, poderiam ser efetiva mente importantes e significativos ao menos para determina das coletividades. Tais distorções, por conseqüência, somar-se-iam a outras motivações para que se buscasse compreender a influência dos processos informacionais de largo ou longo prazo, eis que a omissão constante, ou, ao contrário, a ênfase permanente em determinados temas, chegaria a interferir diretamente na per cepção do mundo externo por parte dos receptores. Considerar-se-ia, deste modo, haver uma lógica especí fica dos meios de comunicação de massa, que escapa aos di tames e interesses do receptor, que se expressam nas exigên cias de produção e expressão informacional, graças à criação de uma espécie de atmosfera e um conjunto de interexpecta- tivas profissionais que predetermina o contexto de interpre tação e valorização dos fatos. De modo geral, as pesquisas no campo do newsmaking exigem a chamada pesquisa participante, ou seja, o pesquisa dor junta-se à equipe pesquisada mas não faz parte dela pro priamente, pois ali se encontra provisoriamente, o tempo ne Antonio Hohlfeldt 16. Todos os profissionais dc imprensa conlicccm ainda as velhas expressões noticia 500, por exemplo, indicando alguma daquelas matérias feitas por encomenda, especialmente doDepartamento Comercial ou da direção da publicação... 206 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação cessário para desenvolver seus estudos, sob pena de também envolver-se com os valores do grupo estudado. Os dados são colhidos por observação sistemática e diretamente pelo pes quisador junto aos pesquisados, quer verbalizando e conscien tizando as práticas observadas já no momento em que elas ocorrem, levando pesquisador e pesquisado a um debate e a uma conscientização, quer apenas observando e registrando os procedimentos, sem neles interferir diretamente. O convívio com os pesquisados é fundamental, porque leva à familiarização com o grupo e às rotinas ali desenvolvi das, numa perspectiva de naturalidade, até o momento em que, tendo-se identificado plenamente com o grupo, deve distan ciar-se do mesmo para poder manter o espírito observador e crítico sobre tais práticas, descrevendo-as, analisando-as e eventualmente criticando-as, na constituição do que se pode ria denominar de uma etnografia da comunicação. Em anos posteriores, os estudos sobre o newsmaking le varam ao agrupamento das diferentes rotinas e causas moti- vacionais para as mesmas em dois grandes blocos: a) a cultu ra profissional dos jornalistas, genericamente considerada e b) a organização específica do trabalho e dos processos pro dutivos da informação, em suas relações e conexões, consi deradas em cada veículo em especial. De modo geral, admite-se que os meios de comunicação de massa devem: a) tornar possível o reconhecimento de um fato desconhecido como algo notável de ser noticiado; b) ela borar relatos capazes de retirar do acontecimento seu nível de particularidade (idiossincrático), tornando-o generalizá- vel (contextualizado); c) organizar temporal e espacialmen- te este conjunto de tarefas transformadoras, de modo que os eventos noticiados fluam e possam ser explorados racional e planificadamente. A cultura profissional, nesta perspectiva, é um emaranha do dc retóricas e táticas, códigos, estereótipos c símbolos rela tivos aos meios de comunicação de massa, que criam e man- 207 Antonio Hohlfeldt acontecimentos sobre os quais, de fato. nem o profissional nem o órgão de comunicação tem efetivamente qualquer controle; e) qualidade - o material disponível deve ter um mínimo de qualidade técnica compatível com o veículo em que será transmitido. Isso vale quanto ao ritmo narrativo, ao equilí brio da ação dramática apresentada, àquele conjunto de in formações disponíveis, às características do som, da imagem, do foco, à clareza de linguagem, etc.; f) equilíbrio (balance) - semelhantemente ao item da ca tegoria anterior, é mais restritivo e tem a ver apenas com aquela determinada edição que deve ser igualmente equili brada em relação ao conjunto de informações, mesclando adequadamente diferentes temas, da política à economia, ao lazer, ao cotidiano, ao internacional e ao local, etc. 3) categorias relativas aos meios de informação - têm a ver com a quantidade de tempo usado para a veiculação da informação. Depende menos do assunto e mais do como a in formação é veiculada: a) bom material visual x texto verbal - deve haver um equilíbrio entre ambos os aspectos, quer na imprensa, quer nos meios eletrônicos: um bom texto com imagens ruins tem menor interesse do que se houver texto e imagens condizen tes, etc.; b) freqüência - a acessibilidade à fonte ou ao local do acontecimento pressupõe a possibilidade da continuidade daquela cobertura e, por conseguinte, o planejamento da uti lização daquelas informações e sua distribuição pelos dife rentes espaços ou edições. No caso das empresas que atuam como grandes redes, mantendo diferentes veículos como jor nais, revistas semanais, emissoras de rádio e canais de televi são, além do noticiário on line da Internet, hoje em dia, esta categoria ganhou enorme importância; 212 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação c) formato — há uma formatação prévia a que deve aten der a narrativa jornalística, com sua introdução, desdobra mento e conclusão ou projeção de desdobramento. Cada veí culo estabelece características específicas para sua narrabili- dade, constantes quase sempre dos manuais de redação que devem ser seguidos pelos profissionais e que pré-delimitam o modo pelo qual a informação será relatada. 4) categorias relativas ao público - referem-se à imagem que o profissional ou o veículo possuem de seus receptores e o modo pelo qual se preocupam em (bem) atendê-lo. Na ver dade, pesquisas evidenciam que o jornalista conhece muito mal o seu público. Mais que isso, o profissional em geral se sente auto-suficiente e imagina que seu interesse é informar, indiferentemente ao interesse do público sobre o quê deseja ser informado. Por isso, este aspecto é dos mais polêmicos e mais desconhecidos ainda: a) estrutura narrativa — a narrativa deve ter clareza para o receptor, de modo a: 1) permitir a plena identificação dos personagens envolvidos e do fato narrado; 2) atender ao inte resse de informações de serviço (do tipo quais os serviços que funcionam em um feriado, etc.); 3) o conjunto de infor mações de fait divers que servem para distração e entreteni mento do receptor; b) protetividade — evita-se noticiar o que pode criar trau mas, pânico ou ansiedade desnecessária ou inconseqüente, como, por exemplo, acidentes sem detalhes, catástrofes na turais, pestes, etc.; 5) categorias relativas à concorrência - os meios dc comu nicação, enquanto empresas, concorrem entre si e buscam saber, antecipadamente, qual a pauta de seu concorrente, com a qual buscam competir ou à qual tentam neutralizar: a) exclusividade ou furo - cada veículo busca ser o único ou o primeiro a narrar determinado acontecimento ou, ao menos, detalhes e desdobramentos do mesmo; 213 Antonio Hohlfeldt b) geração de expectativas recíprocas - uma decisão im portante sobre a publicação ou não de determinado fato pode ser decidida sobre a expectativa de que o veículo concorrente também irá (ou não) divulgar aquele mesmo fato; c) desencorajamento sobre inovações — os veículos mais tradicionais relutam em narrar acontecimentos que venham a atingir ou contestar os valores pressupostos de seus leitores, desenvolvendo-se, assim, um conservadorismo de conteúdo que também pode ser formal, quando os veículos relutam em promover mudanças substanciais em seus aspectos gráficos gerais; d) estabelecimento de padrões profissionais, ou de mo delos referenciais — os novos profissionais tendem a copiar os comportamentos dos mais velhos, do mesmo modo que novos veículos tomam como referência os veículos mais tra dicionais, ainda que seja para combatê-los. A produção de informação jornalística importa em três diferentes fases, que podem ser assim caracterizadas: a) recolha ou captação de informações, que dependerá de fontes variadas, agências noticiosas ou agendas de serviço; b) seleção de informações, dentre aquelas todas disponí veis; c) apresentação ou edição (editing); a que eu acrescentaria uma outra: d) distribuição, que implica na seleção daquilo que vai ser mais ou menos distribuído, atingindo a todos os veículos vinculados a uma determinada agência ou só a alguns deles. A recolha ou captação de informações sofreu forte mo dificação ao longo da história do jornalismo. Antigamente, dizia-se que o jornalista saía ã caça de informações e a figu ra do enviado especial e, sobretudo, do correspondente de guerra contribuía para uma certa visão mítica do jornalismo, 214 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação aventuresco e audacioso. Hoje em dia, de modo geral, a in formação chega à redação sem maior esforço do profissional que deve, sobretudo, distinguir e selecionar do conjunto aquelerol de informações a serem transformadas efetiva mente em noticiário. Tecnologias como o telefone ajudaram muito a estas modificações. De modo geral, é por meio de um telefone, efetivamente, e de um telefone celular, hoje em dia, que o jornalista constrói sua matéria. De outro lado, o departamento de pesquisas de um jornal ganhou importân cia. O agendamento de um tema, a busca do efeito de enci clopédia dependem fundamentalmente do departamento de pesquisa, que atualiza e, sobretudo, relaciona acontecimen tos e temas. A posse de um conjunto significativo de informações, além do mais, pode ser trabalhado editorialmente mediante a fragmentação da informação, que permite a atração da aten ção do leitor diário através da manchete sensacionalista. A questão do relacionamento da fonte, institucional ou in dividual, com o profissional da informação, tem sido constan temente questionada. A agenda de um jornalista é extrema mente valorizada - aliás, o seu acesso a determinadas fontes determina sua contratação. Hoje, veículos exigem que a agen da seja propriedade do veículo e não do profissional... O aces so à fonte determina a informação em ojfc a possibilidade de o profissional ou o órgão de comunicação antecipar informa ções com uma certa margem de segurança aos informantes e aos próprios profissionais e veículos. No entanto, esta prática tem sido questionada sob a perspectiva da ética jornalística, porque assim como um profissional desenvolve uma prática de informação em ojf dependendo da confiabilidade que te nha da fonte, uma fonte poderá manipular o profissional, plantando determinada informação que lhe interesse, através do ojf em situações-limite como disputas político-partidárias, mercados de capital, etc. Além do mais, o jornalista fica de pendente da fonle, de modo que passa a haver uma relativida de em toda a informação que venha a ser por ele divulgada, 215 sendo difícil distinguir entre aquelas que interessam, de fato, ao receptor ou, ao contrário, ao jornalista ou ao público. Isso se aplica, especialmente, aos colunistas, como se depreende da leitura cotidiana destes profissionais19. Seja como for, costuma-se distinguir entre fontes insti tucionais e oficiosas, no que tange ao relacionamento com as instituições de administração pública ou empresarial. A fonte ou agência institucional é aquela que fala formal e le galmente em nome de alguém ou alguma instituição, en quanto que a fonte oficiosa em geral é aquela que não gosta ria de ser identificada e que, embora integrante da estrutura administrativa, dela pode vir a discordar, fazendo vazar uma informação que pode chegar a gerar constrangimento junto à autoridade. Quanto à prática de fornecimento de informações, as fon tes podem ser ativas ou passivas. As ativas são aquelas que tomam a iniciativa da informação, e aí se distinguem, dentre outras, as chamadas ONGs. Há, aliás, estudos interessantes a respeito deste tipo de organização que, embora considere preconceituosamente os profissionais da comunicação, não deixam de buscá-los em sua tentativa de tornar públicos suas avaliações, seus posicionamentos e suas ações. As fontes passivas são aquelas que se manifestam apenas quando pro curadas ou provocadas. Quanto à continuidade de suas atividades, as fontes po dem ainda ser classificadas enquanto provisórias e estáveis. Fontes provisórias são aquelas que se constituem diante de um fato ou acontecimento isolado. Por exemplo, um incên dio em um prédio pode transformar o porteiro em uma fonte provisória. A fonte permanente, contudo, é aquela a que re corre o profissional ou o órgão de comunicação, sempre que necessite, segundo determinado tipo de informação ou tema. Antonio Hohlfeldt 19. Ver, a propósito, John L. Hultcng, Os desafios chi comunicação: problemas éticos, Floria nópolis, EDUI-SC, 1978, cm cspccial o capítulo 6, intitulado: “Os repórteres c suas fontes”. 216 Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação Enfim, quanto à localização espacial, que interfere em seu funcionamento e no peso e importância de suas informa ções, temos as fontes centrais, constituídas por aqueles que integram os grandes centros de decisão ou as agências situa das nos grandes centros globalizados de hoje em dia; as fon tes territoriais ou regionais, que se situam em territórios pro visoriamente importantes diante do desdobramento de deter minados acontecimentos: por exemplo, o Mercosul, ou o Mercado Europeu, etc. E, enfim, as fontes de base, que são aquelas particulares, ou relativas a eventos e episódios, por exemplo, boa parte das ONGs que atuam em certos campos específicos de informação, como a resistência ecológica do Green Peace, etc. Há um evidente e perigoso relacionamento entre fontes e jornalistas que tem sido motivo constante de debates, sobre tudo no campo da ética profissional. Nem por isso tem sido diminuída a relação entre tais profissionais ou organismos e tais fontes, até porque é através delas, sobretudo, que flui o maior conjunto e informações do jornalismo internacional. O risco de se dar vazão ao boato ou à informação plantada é enorme, mas tais riscos fazem parte, naturalmente, do pró prio fluxo informacional característico do processo da infor-90mação jornalística . Por fim, ecoando alguns estudos que a hipótese de agen damento tem esboçado, pode-se sugerir uma espécie de hie rarquia entre os meios de comunicação. De modo geral, a te levisão e o jornal ouvem o rádio; mas a televisão e o rádio lêem o jornal. Ou seja, há um relacionamento permanente e alternativo entre os diferentes veículos, de modo que o fluxo informacional é, ao mesmo tempo, constante, e alternada 20. É dc sc observar, por outro lado, que nem sempre as relações entre jornalistas e fontes primárias, como as ONGs, são necessariamente tranqüilas. Mais que isso, uma pesquisa cvidcncia que tanto estas fontes quanto os jornalistas desconfiam uns dos outros c os jul gam negativamente, segundo seus próprios parâmetros, ainda que necessitem manter este relacionamento. Veja-se Walter Gieber, “Two communicators of tlic ncws: a study of tlic roles of sourees and reporters”, in: Social Forces, vol. 39, outubro dc 1960, p. 76-83. 217 Antonio Hohlfeldt mente qualificado de modo diverso, conforme as caracterís ticas de cada veículo e suas potencialidades de atualização informativa. Há, por certo, outras categorias de seleção de captação informacional, do mesmo modo que há outras categorias po tenciais quanto às fontes de informação. Enfim, poder-se-ia ainda aprofundar as questões vinculadas à editoração e à distribuição informacionais, mas elas serão sempre meno res que as de captação, até porque, dependendo do ponto de vista do debate, elas podem ser deslocadas para aquela pri meira categoria que é, por isso mesmo, a mais discutida, es tudada e valorizada. Um campo ainda em construção, enfim, mas de extrema importância na área, é o da editoração ou editing, porque abrange a descontextualização e recontextualização da in formação, tema que tem sido crescentemente questionado. Nesta perspectiva, questiona-se tanto a chamada dramatiza ção da notícia quanto a highlighting, ou seja, a iluminação ou processo de seleção informacional, que leva em conta to das aquelas categorias de noticiabilidade antes examinadas. Por fim, vale ainda relembrar a imagem que o profissional tem do próprio receptor ou de si próprio. E interessante ob servar como os profissionais da comunicação distinguem-se dos demais trabalhadores, enquanto uma categoria à parte, superior e diferenciada, por exemplo, em uma greve. Por outro lado, o jornalista às vezes sente-se tutor e peda gogo, como em momentos em que uma sociedade enfrente uma ditadura - caso do Brasil dos anos 70, por exemplo - ou situações em que os meiosde comunicação têm, não apenas denunciado, mas promovido e julgado o processo. Agindo dessa forma, ele tem quase sempre condenado as personali dades públicas eventualmente envolvidas em questões polê micas da administração, em flagrante desacordo com as de cisões judiciais posteriores; casos em que autoridades con denadas pela Imprensa foram posteriormente absolvidas pelo 218 Judiciário porque, contra elas, não se levantaram quaisquer dados concretos, a não ser ilações e suposições de responsa bilidade. É evidente que, neste caso, o jornalista dependerá muito de sua credibilidade, valendo então lembrar conheci do estudo sobre o tema21. Em síntese, a perspectiva do newsmaking evidencia uma espécie de auto-suficiência do jornalismo, em que o proces so comunicacional se coloca com absoluta autonomia em re lação às demais categorias sociais, o que, sabidamente, é equivocado. Por outro lado, do ponto de vista da teoria da co municação, a hipótese de estudo é importante porque ajuda a entendermos o modo pelo qual a informação flui, neste caso, de uma fonte primeira para o intermediário ou mediador, que é o jornalista - profissional da informação - e deste até o re ceptor final. A perspectiva das chamadas teorias empíricas, em especial aquelas de campo, já levavam em conta, de certo modo, tais perspectivas, ao chamarem a atenção para o fato de que o processo informacional, mais do que uma relação equilibrada entre emissor e receptor, ampliava-se, a partir do emissor primeiro, em uma série de receptores transforma dos, por seu lado, em tantos mais emissores segundos e ter ceiros, e assim sucessivamente. Mais que isso, ao chamar a atenção para o fato de que um receptor não dispõe unicamen te de uma só fonte, sublinhava-se o papel dos diferentes veí culos de comunicação e sua evidente e lógica competição por chamar a atenção e o consumo do receptor, na medida em que, constituídos enquanto empresas, dependem desta consumação para sobreviverem no mercado comunicacio nal. Vale a pena, por isso mesmo, a leitura de um recente li vro de Alfredo Eurico Vizeu Pereira Jr.22. Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação 21. Carl Hovland, Irving L. Joncs c Harold H. Kelly, Communication andpersuasion, New Havcn, Yalc Univcrsity, 1953, cap. 2: “Crcdibility of tlic commmiicator", p. 19-55. 22. Alfredo Eurico Vizeu Pereira Jr., Decidindo o que é noticia. Porto Alegre, ED1PUCRS, 2000. 219 3. A perspectiva da espiral de silêncio Uma das mais importantes e curiosas linhas do chamado campo das pesquisas em comunicação tem sido desenvolvi da, desde 1972, pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Nas cida em 1916, Noelle-Neumann especializou-se em demos- copia, em 1940. A demoscopia é um termo ainda não dicio- narizado, salvo em obras especializadas. Trata-se de uma pa lavra composta: demos (povo) + copia (translado literal), o que significa pesquisar a opinião do público para tomá-la co nhecida. Dito de outra forma, a demoscopia é a pesquisa de opinião pública sob organização científica. Forçada a exilar-se da Alemanha pelos nazistas, Noel- le-Neumann retornaria depois da guerra e, com o marido Erich Peter Neumann, fundou o Instituto de Demoscopia 23Allensbach, que dirige até hoje, com a Dra. Renate Kõcher . O Instituto possui, atualmente, 90 empregados, tendo reali zado, no correr dos anos, cerca de oitenta mil entrevistas para mais de cem diferentes pesquisas. Suas principais teorias es tão desenvolvidas no livro A espiral do silêncio - Opinião pública: nossa pele social, publicado nos Estados Unidos em 198424. A primeira vez em que se falou a respeito foi em 1972. Noelle-Neumann participava do XXth International Con- gress of Psychology, em Tóquio, apresentando um paper de nominado Return to theconceptofpowerfulmassmedia'5. A pesquisadora começava a chamar a atenção para o poder que a mídia possuía, muito especialmente a televisão, para influir sobre o conteúdo do pensamento dos receptores. Revisava ela, desta maneira, as teses então correntes de que a mídia afe Antonio Hohlfeldt 23. Janct Schayan, “Elisabeth Nocllc-Ncumann: a União Huropcia c um caso dc sorte para a Alemanha”, in: llamboldt, Berlim. 24. Elisabeth Nocllc-Ncumann, La espiral dei silencio - Opiniòn pública: Nuestra piei so cial, Barcelona, l’aidós, 1995. 25. Elisabeth Nocllc-Ncumann, “Rctum to thc concept of powerful mass media”, in: Studi- es of Broadcasting 9 (1973), p. 67-112. 220 PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Linha Hipóteses contemporâneos de pesquisa em comunicação tava apenas parcialmente o público, contrapondo que, na verdade, haveria uma tendência dos jornalistas em produzi rem o que ela denominava então de uma consonância irreal quando relatam os acontecimentos. Partindo do conceito de percepção seletiva e retomando o de acumulação provocada pela mídia, conceito aliás que a então ainda recente hipótese de agenda setting havia coloca do em circulação, Noelle-Neumann destacava a onipresença da mídia como eficiente modificadora e formadora de opinião a respeito da realidade. Sua atenção para o fato fora provocada um pouco casual mente, ao observar diferentes pesquisas que se acumulavam nos arquivos do Instituto Allensbach. Ela se dava conta de que, a uma mesma indagação periodicamente feita aos ale mães sobre si mesmos e sua auto-imagem, as respostas vi nham se deteriorando dc ano para ano. Objetivamente, a per gunta era: De modo geral, que qualidades positivas você di ria serem as dos alemães? Pesquisas iniciadas em julho de 1952 e que culminaram em junho de 1976 evidenciavam que a resposta Não conheço boas qualidades nos alemães cres cera assustadoramente, evidenciando uma auto-imagem e, conseqüentemente, uma auto-estima decrescente entre os ger mânicos: de 96% dos pesquisados que reconheciam terem os alemães boas qualidades, em julho de 1952, caíra-se para 80% em maio de 1972 e chegara-se a 86% cm junho de 1976. Paralelamente, a mesma pergunta feita a jornalistas alemães, por amostragem, no verão de 1976, atingira a média de 78% de respostas positivas, apenas. Quanto à visão negativa, su bira de 4%, em julho de 1952, para 20% em maio de 1972 e baixara para 14% em junho de 1976, ficando cm 22% no ve rão do mesmo ano, a média da mesma resposta quando entre os jornalistas. Noelle-Neumann buscou então pesquisar os programas televisivos deste mesmo período, e descobriu algo surpreen dente: das 39 menções ao caráter alemão feitas generalizada- 221 PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce Antonio Hohlfeldí mente nos diferentes programas, 32 eram negativas; da mes ma forma, ampliando a pesquisa a toda a mídia alemã, ela chegou a um total de 82 referências, sendo 51 delas negati vas e apenas 31 positivas. A pesquisadora passou a intuir que a influência da mídia sobre o receptor não seria, portanto, assim tão tênue. Pelo contrário, o efeito de acumulação, levantado pela hipótese de agenda setting, poderia ter outros resultados: era bem mais forte a influência da mídia sobre o público do que se poderia imaginar, ainda que não se quisesse cair na antiga perspecti va da teoria hipodérmica26. Esta influência, ao contrário do que se dissera nas últimas décadas, não se limitava apenas ao sobre o quê pensar ou opinar, como afirmava a hipótese de agenda, mas também atingiria o quê pensar ou dizer. Elisabeth Noelle-Neumann, contudo, não estava interes sada em apenas evidenciar os resultados. Ela queria, na ver dade, saber como se chegava a tais resultados que as pesqui sas mostravam. Assim, se ela chamava a atenção para o fato de uma possível conexão entre a mídia e a mudança de opi nião, na verdade queria entender como esse processo se dava, e para isso retomou boa parte dos estudosque giravam em torno da opinião pública, e passou a desenvolver um sem-nú mero de pesquisas sobre temas os mais variados27. Entre 1966 e 1967, por exemplo, promoveu uma pesqui sa em tomo da influência que a aquisição e entronização da 26. A teoria hipodérmica dos anos 20 afirmava o absoluto poder da mídia sobre o receptor, concebido como vítima indefesa dc toda c qualquer mensagem emitida por alguma fonte, lista teoria considerava o conceito dc massa informe c indefesa, oriunda sobretudo das ex periências da Ia Grande Guerra c dos sistemas políticos autoritários então vigentes. Esquer da c direita visualizavam esta perspectiva, ainda que sob angules c motivos diversos: para a esquerda, era importante acreditar 110 poder absoluto das fontes, diante da teoria do papel dc vanguarda que as lideranças partidárias deveriam desenvolver perante a massa. Quanto à dircila, era uma boa desculpa para desqualificar o público, considerado anonimamente, jus tificando os sistemas ditatoriais c as práticas sensoriais. 27. Hlisabetli Noelle-Neumann, “Mass media and social cliangc in dcvelopcd societies", in: E. Katz c T. Szccsko (org.), Mass media and social change, Hcvcrly Mills, Sagc, 1981, p. 137-165. 222 PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce NÃO - o que pensar ou opinarnullSIM - o que pensar ou dizer PosMNT Realce Como se dava o processo de mudança de opinião pública e conexão com a mídia. Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação televisão, em lares em que até então esta mídia não estivera disponível, provocara. Ela notou, por exemplo, que o interesse pela política cres cera de 36% para 44% entre aqueles que haviam adquirido a televisão, mas, em compensação, as conversas entre marido e mulher, em casa, a respeito do emprego daquele, haviam se reduzido, a despeito da diferente percepção de tal fenômeno, entre os maridos e as esposas. Enquanto os maridos mostra vam não ter-se apercebido disso (40% antes de possuírem a televisão e 39% após), as mulheres indicaram percentuais de 54% antes da televisão e 46% após a presença da mídia em suas casas. Entre aquele primeiro enfoque de 1972 e o de 1979, Noelle-Neumann enfatizava algumas questões: a discussão so bre os métodos de pesquisa em torno da influência da mídia sobre os receptores precisava ser reaberta; mais do que traba lhar a questão da percepção seletiva que até então se desen volvera, Noelle-Neumann dava-se conta de que, na verdade, a influência da mídia dependia sobretudo da característica da audiência ou do receptor, na medida em que a consonân cia provocada, consciente ou inconscientemente, pela mídia, acabava por dificultar a prática de tal seleção. A pesquisado ra terminava, então, por relativizar o conceito mais clássico de opinião pública enquanto a média de opiniões veiculadas num determinado grupo social, buscando historiar a evolu ção desse conceito e re-situá-lo diante de suas pesquisas. A noção de opinião é extremamente antiga c se iniciou com Platão - para quem a dóxa era a maneira primária de co nhecimento. Mas, a partir desta, Clóvis dc Barros Filho clas sifica como indiretas e diretas as diferentes fontes levanta das por Noelle-Neumann para a sua conceituação revisionis ta de opinião pública2*. 28. Clóvis liarros Filho, Etica na comunicação - da informação ao receptor, São Paulo, Moderna, 1995, p. 207-227. 223 PosMNT Realce PosMNT Realce Antonio Hohlfeldt Entre as fontes indiretas, ele coloca pensadores como Rousseau, Locke, Hume e Madison. Cada qual, em determi nado momento, levantou uma questão que, na combinação dos conceitos buscados por Noelle-Neumann, terminou por contribuir para a constituição de sua hipótese de trabalho. Poderíamos completar, citando Aristóteles, Hobbes, os fede- ralistas norte-americanos e, mais recentemente, de Gabriel Tarde e Gustave le Bon a Ortega y Gasset e Stuart Mill. Jean-Jacques Rousseau é o primeiro filósofo a valer-se conceitualmente do termo opinião pública. Para ele, o Esta do se estrutura em três tipos de leis: o direito público, o pri vado e o civil. Mas reconhece que além dessas três classes de leis há uma quarta, a mais im portante, que não está gravada em mármore e bronze e sim no coração dos cidadãos; uma verdadeira constitui ção do Estado cuja força se renova a cada dia, que dá vida às outras leis e as substitui quando envelhecem ou desaparecem (...) Refiro-me à moral, aos costumes e, so bretudo, à opinião pública29. Um intérprete da hipótese da espiral do silêncio, como denomina Noelle-Neumann a sua conceituação, explica que, para Rousseau, a opinião pública representa uma transação entre o consenso social e as convicções individuais30. Bem antes de Rousseau, John Locke, no Ensaio sobre o entendimento humano, de 1671, também abordara a mesma questão: Há que distinguir três tipos de leis, diz Locke. A primei ra, a lei divina; a segunda, a lei civil; c a terceira, a lei da virtude e do vício, da opinião ou da reputação ou - Locke emprega o termo indistintamente - a lei da moda. E prossegue a autora na citação: Para compreendê-la cor retamente, há que se levar cm conta que, quando os ho 29. Op. <■/1., p. 217. 30. F. Bocckclmann, Fonnuciôn y funciones sociales de la opinión publica, Barcelona, Gustavo Gilli, 1983. 224 PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce opinião pública - consenso social, convicções individuais. PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Linha PosMNT Sublinhado PosMNT Sublinhado PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação mens se unem em sociedades políticas, ainda que entre guem ao público a disposição sobre toda a sua força, de modo que não possam empregá-la contra nenhum conci dadão além do que permita a lei de seu país, conservam sem dúvida o poder de pensar bem ou mal, de aprovar ou censurar as ações dos que vivem e mantêm alguma rela ção com eles '. Clóvis de Barros Filho destaca, por sua vez, uma outra passagem significativa: Quanto aos castigos conseqüentes das leis do Estado, criam-se ilusões com a esperança da impunidade. Mas ninguém que atente contra a moda e a opinião das com panhias que freqüenta se livra do castigo da censura e do desagrado desta (p. 218). Para Locke, assim, deve haver um consenso tácito e se creto entre os cidadãos e a sociedade de que fazem parte. Outro pensador que se preocupa com o tema é David Hume. Em seu Tratado da natureza humana (1739), Hume recolhe as idéias de Locke e as transfere para uma teoria do Estado. Ele reitera o princípio de que a sociedade, ainda que renunciando ao uso da força bruta, não entrega sua capacida de de aprovar ou desaprovar algo e como as pessoas tendem naturalmente a prestar atenção às opiniões e a amoldar-se às opiniões do meio, a opinião é essencial para os assuntos do Estado. O poder concentrado de opiniões semelhantes mantidas por pessoas particulares produz um consenso que constitui a base real de qualquer governo, explica Noel le-Neumann (p. 103). Não por acaso, o capítulo em que ele desenvolve o conceito de opinião pública se denomina Do amor à fama, em que reconhece ser o espaço público a arena na qual se reconhecem os logros e que, por isso, o governo só se baseia na opinião, o que tomar-se-ia doutrina funda mental para os pais da pátria norte-americana, dentre os 31. Elisabclh Nocllc-Ncumann, La espiral dei silencio, op. cit., p. 98. 225 PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Linha PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce Antonio Hohlfeldt quais James Madison, conforme se lê em seu O federalista (1788): Se bem pode ser correto que todo o governo se baseie na opinião, não o é menos que o poder da opinião sobre cada indivíduo e sua influênciaprática sobre sua condu ta depende em grande medida do número de pessoas que ele acredita tenham compartilhado da mesma opinião. A razão humana é, como o próprio homem, tímida e preca vida quando se a deixa sozinha. E adquire fortaleza e confiança em proporção ao número de pessoas com as quais está associada. Alexis de Tocqueville, segundo Clóvis de Barros Filho, seria a fonte direta dos estudos de Elisabeth Noelle-Neu mann. Trata-se do primeiro estudioso a aperceber-se plena mente da força da opinião pública e da maneira pela qual ela funciona. Por isso, a ensaísta alemã faz longas transcrições de seu livro A democracia na América, de 1835-1840, em que o pensador francês, de certo modo, alcança uma síntese do que já se dissera anteriormente, ao mesmo tempo em que aprofunda aquelas perspectivas: Quando as classes sociais são desiguais e os homens di ferentes uns dos outros cm sua condição, há alguns indi víduos que dispõem do poder de uma maior inteligência, saber e ilustração, enquanto que a multidão está mergu lhada na ignorância e no preconceito. Os homens que vi vem nestas épocas aristocráticas são por isso induzidos naturalmente a configurar suas opiniões segundo o mo delo dc uma pessoa superior, ou de uma classe superior dc pessoas, e se opõem a reconhecera infalibilidade da massa do povo. Nas épocas dc igualdade succde o con trário. Quanto mais se aproximam os cidadãos ao nível comum de uma posição igualitária e semelhante, tanto menos disposto está cada um a ter uma fé absoluta em um determinado homem ou em uma classe determinada de homens. Mas sua inclinação a crer na multidão au menta, c a opinião é mais que nunca dona do mundo... Em períodos de igualdade, os homens não têm fé nos ou 226 PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Sublinhado A opinião é tímida quando sozinha, porém com um número grande de pessoas com a mesma opinião, adquire confiança. PosMNT Sublinhado PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce Situação que corresponde ao Nordeste do Brasil. (Eleições 2014) PosMNT Realce CLASSES SOCIAIS DESIGUAIS - Homens induzidos naturalmente a ter suas opiniões segundo a opinião de uma pessoa superior, ou classe superior de pessoas. PosMNT Sublinhado IGUALDADE acontece o contrário: com a posição social igualitária diminui a crença em uma classe determinada e passa-se a crer na multidão. "juizo comum do povo".null"Porque pareceria provável que, como todos contam com os mesmos elementos de juízo, a maior verdade deveria ser a da maioria." (TOCQUEVILLE.) Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação tros devido à sua semelhança; mas essa mesma seme lhança lhes dá uma confiança quase ilimitada no juízo comum do povo. Porque pareceria provável que, como todos contam com os mesmos elementos de juízo, a maior verdade deveria ser a da maioria (p. 124). Outra passagem significativa de Tocqueville é aquela em que o pensador europeu aborda a sensação de solidão que in vade o homem em meio à massa: Quando o habitante de um país democrático se compara individualmente com todos os que o rodeiam, sente com orgulho que é igual a todos eles. Mas quando considera a totalidade dc seus iguais e se compara com um conjunto tão grande, sente-sc imediatamente abrumado pela sen sação dc sua própria insignificância c debilidade. A mes ma igualdade que o indepcndentiza dc cada um de seus concidadãos, tomados cm conjunto, expõc-no sozinho e inerme à influência da maioria (...) Sempre que as cir cunstâncias sociais são igualitárias, a opinião pública pressiona as mentes dos indivíduos com uma força enor me. Rodeia-os, dirige-os c os oprime. E isto sc deve muito mais à própria constituição da sociedade que às suas leis politicas. Quanto mais sc pareçam os homens, mais débil se torna cada um deles cm comparação com todos os demais. Como não pcrccbe nada que o eleve consideravclmcntc por cima ou o distinga dclcs, perde a confiança cm si mesmo quando o atacam. Não apenas desconfia dc sua força, como inclusive duvida dc seu di reito. E se acha muito próximo dc rcconhcccr estar equi vocado quando a maioria dc seus compatriotas afirma que o esteja. Dando um salto no tempo, chegamos ao ano de 1922, quando o norte-americano Walter Lippmann publica Public opinion32. Segundo ele, as pessoas avaliam a realidade exter na enquanto imagens pintadas em seus cérebros que rara mente correspondem ao que a realidade efetivamente é. Para 32. Walter Lippmann, Public opiniun, Nova Iorque, The Frce Press, 1922. 2?7 PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Sublinhado PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce Antonio Hohlfeldt Lippmann, de qualquer forma, essas imagens vão-se toman do, com o passar do tempo, cada vez mais estabelecidas, es- tandardizadas, ou seja, estereótipos, o que N. Luhmann vai explicar como o resultado da economia entre a percepção e a técnica de sua comunicação que se traduz enquanto a bus ca de redução da complexidade [da realidade]. Para Lippmann, assim, a opinião pública seria a média das opiniões circundantes em uma determinada sociedade, num momento determinado. Poucos anos antes, o francês Gabriel Tarde escrevera Le public et la foule33, em que mostrava a necessidade que os se res humanos sentem de mostrar-se em público num comporta mento de acordo com o dos demais. Explicava-se, assim, a tendência aos comportamentos massificadores, propiciados não apenas pelo anonimato que o indivíduo experimenta quan do em meio à multidão, quanto por se sentir, de certo modo, pressionado a comportar-se de tal maneira e. ao mesmo tem po, protegido em meio à massa. Gabriel Tarde preocupava-se com esse anonimato massificador e chegava a considerar o jornal como o grande responsável por uma espécie de solidão em meio à multidão que caracterizaria nosso século: A partir destas multidões dispersas, era contacto íntimo, ainda que distante, por sua consciência da simultaneida- dc c da interação criadas pela notícia, o jornal criará uma multidão imensa, abstrata e soberana, a que sc chamará opinião. O jornal completou assim a obra ancestral inicia da pela conversação, estendida pela correspondência, mas que sempre permaneceu em um estado de esboço disperso e insinuado: a fusão das opiniões pessoais nas opiniões locais, e destas na opinião nacional c mundial, a grandiosa unificação da mente pública... este é um po der enorme que só pode aumentar, porque a necessidade dc estar de acordo com a opinião faz-se mais forte c irre sistível à medida que o público se torna mais numeroso, 33. Gabriel Tarde, “O público c a multidão”, in: La Révue de Paris, Paris, 1898, vol. 4. No Brasil, há tradução pela editora Martins Fontes, 1992. 228 PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Linha PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce PosMNT Realce Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação a opinião mais imponente e a necessidade se satisfaz mais amiudadamente. Retomemos agora, depois desta excursão histórica, aos parâmetros e conceitos levantados e estabelecidos pela pró pria Elisabeth Noelle-Neumann. Sua pesquisa indicou que as pessoas são influenciadas não apenas pelo que as outras dizem mas pelo que as pes soas imaginam que os outros poderiam dizer. Ela sugeriu que, sc um indivíduo imagina que sua opinião poderia es tar em minoria ou poderia ser recebida com desdém, essa pessoa estaria menos propensa a expressá-la.34 Isso porque, segundo ela, para o indivíduo, o não-isola- mento em si mesmo é mais importante que seu não-julga- mento. Parece ser esta a condição da vida humana em socie dade; caso contrário, não será concretizada uma integração suficiente (p. 118).
Compartilhar