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GESTÃO DE PESSOAS 01

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EAD – Falando claramente
Prof. Adriano José Teiga* 
A mais de trinta anos venho trabalhando com alunos e cada vez mais me sinto apaixonado por esta atividade, pois nossos alunos nos propiciam o desafio necessário para sempre ir um pouco mais a frente, a conhecer um pouco mais sobre algum tema, a perceber um tema antigo sob um novo ângulo e tudo isto faz nosso cérebro manter-se ativo. Aqui a gente encontra uma verdadeira fonte da juventude.
Faz algum tempo fui desafiado a participar de um projeto de ensino a distância e e-learning, aceitei imediatamente, pois além de gostar de coisas novas, tenho um verdadeiro fascínio pela área de informática aplicada ao nosso dia-a-dia e a educação em especial. 
A partir justamente desta experiência e com está energia escrevo este pequeno texto, seu objetivo é compartilhar com os alunos um pouco do que recolhi nesta estrada, por vezes asfaltada, por vezes empoeirada, mas normalmente com uma bela vista e com boas companhias. Alias aqui já vem à primeira lição, a companhia e a vista não dependem da estrada.
A segunda lição é que, tal qual em uma construção civil, nada se constrói sobre uma base frágil, imagine uma bela casa sobre um areal, vai durar pouco, logo as rachaduras tomarão conta e a colocarão no chão. Aqui a base forte que mantém qualquer grupo humano aglutinado é um processo de comunicação de boa qualidade, que tenha pelo menos três características básicas, afetividade, transparência e reciprocidade. 
Parafraseando o presidente norte-americano da década de 60 John F. Kennedy, que em sua posse fez um discurso memorável e a certa altura disse, “Não pergunte o que seu país pode fazer por você e sim o que você pode fazer por seu país”. Eu lhe digo não pergunte o que o EAD pode fazer por você e sim o que você pode fazer por você mesmo. Isto mesmo, o que você pode e deve fazer por você para que obtenha sucesso neste tipo de atividade. 
Se eu tivesse que escolher uma única palavra para ilustrar EAD eu escolheria sem a menor sombra de dúvida AUTONOMIA. 
O estudante na modalidade EAD deve ser autônomo, nesta modalidade de aprendizado cada um tem em si mesmo a chave do sucesso ou de seu fracasso, visto que o espaço para o professor é muito menor do que no ensino presencial. 
Quando compramos um jogo para um computador sempre há na caixa uma indicação da configuração mínima exigida para que o mesmo funcione, não é verdade? Pois bem, imagino que em toda disciplina apresentada na modalidade de EAD (e-learning), deveria haver na matrícula um documento onde se exigisse esta configuração mínima, não só da máquina obviamente, mas também e principalmente do aluno, pois ele é o centro e o objetivo de todo o processo, nada deveria ser pensado ou feito em educação com outro foco qualquer.
Se não vejamos:
Imagine uma partida de futebol sem bola. Impossível! Pois bem seria a mesma coisa que um aluno sem ter acesso regular a um computador e a uma conexão de Internet. Impossível! Mas a bola é apenas uma condição necessária, mas não suficiente, há que saber jogar, portanto de pouco vale um computador de última geração e uma conexão rápida se não houver conhecimento, habilidade ou motivação para o seu uso.
Já disse alguém! Nossa mente é igual a um pára-quedas, só funciona quando abre. Pois o aluno em EAD tem que ter uma mente aberta, estar disposto a trocar informações com os demais companheiros de viagem. Afinal EAD, a exemplo do futebol, é coletivo.
Aqui encontramos um grande paradoxo, alias parece que nossa vida é feita de paradoxos. O aluno tem que trabalhar coletivamente, interagindo e trocando informações com os demais colegas e com o professor (professor ou facilitador?) via mails, chats, etc. Ao mesmo tempo tem que ser individual, pois há uma parte importantíssima das atividades que são feitas de maneira individual, e ai novamente volta à ênfase na necessidade de AUTONOMIA.
Você já ouviu dizer que um atalho é o pior caminho entre dois pontos? Pois o EAD não deve ser visto como um atalho para a aprovação em uma disciplina, ele é apenas mais uma forma de chegar lá, tem suas facilidades e suas dificuldades próprias. Se alguém está pensando em atalho, está na estrada errada.
Há um antigo ditado que diz que se conselho fosse bom não era dado e sim vendido. Isto na prática é apenas uma meia verdade, visto que devemos distinguir entre conselho, informações repassadas a partir de uma base empírica, normalmente por amadores e consultoria que são as informações repassadas por profissionais, a partir de uma base cientifica. Podemos assim dar uma pequena “consultoria” ao leitor.
Pelo que tenho visto por ai os alunos com maior sucesso no EAD são aqueles que são flexíveis, abertos ao novo, mantém um diálogo com seus pares, são críticos, mas não de forma sistemática, possuem uma boa capacidade para receber e dar feedback, são disciplinados e investem tempo e energia no processo, ou seja, são motivados. Creio que estas palavras falam por si mesmas, porém sinto a necessidade de comentar um pouco mais a questão de disciplina e de motivação. 
Tenho visto muitas pessoas que nem sabem o porquê matricularam-se em uma disciplina em EAD ou imaginam que o assim fazendo estão entrando numa moleza. Engano, ledo engano, uma atitude efetivamente ingênua. Lembre-se a vida perdoa muitas coisas, mas podes ter certeza que a ingenuidade normalmente não está entre elas. Portanto sempre tenha em vista que antes de matricular-se ou iniciar a disciplina, é necessário observar se você possui os requisitos mínimos que citamos acima. Tudo numa visão de médio e longo prazo. Será que você tem ou poderá manter o uso regular do equipamento e a conexão ao longo de um semestre inteiro? Será que o custo será suportável? Que problemas poderão surgir? Por quanto tempo você imagina que se manterá “motivado”? Se as respostas não forem positivas ou pelo menos claras, sugiro que você pense pelo menos três vezes antes de ir a diante com o projeto.
E quanto à disciplina e ao tempo, também algumas perguntinhas básicas. O quanto de tempo você tem e/ou está disposto a investir no projeto? Ele é suficiente? O quanto você consegue se organizar no tempo? E como você costuma organizá-lo? Você tem a autodisciplina necessária? Pergunto, pois muitas pessoas imaginam que dando uma olhadinha de vez em quanto no conteúdo ou fazendo visitinhas a plataforma terão sucesso. Outro engano, ledo engano. Na prática o EAD exige a mesma ou até mais disciplina e esforço do que o ensino tradicional, quanto ao tempo também, apenas ele é utilizado de maneira diferente, no ensino tradicional normalmente a instituição e o professor organizam grande parte do tempo, o dia, horário e cronograma da disciplina. Lembra da autodisciplina? Mais uma vez aqui fica claro seu papel fundamental, cada um é sujeito e não objeto do processo.
Puxa, você deve estar pensando!
Até parece que não me querem aqui, se isto está ocorrendo, parabéns, já atingimos alguns de nossos objetivos: Pensamento crítico, reflexão, e principalmente autonomia, visto que a decisão é sua. E obviamente a responsabilidade também. Sentiu como funciona? 
Se pular para fora e desistir, ótimo, o EAD não foi feito para todos ou para todos em determinado momento. Estamos economizando seu dinheiro, seu tempo e seu esforço e ainda protegendo-o contra frustrações desnecessárias.
Se pular para dentro e assumir, ótimo, você está se ligando a um dos mais fantásticos instrumentos de ensino já desenvolvidos. Ele é flexível, respeita, dentro de limites razoáveis, o ritmo de cada um, nele a criatividade virtualmente é o limite de cada um, é bem mais econômico, barato e democrático do que qualquer outra forma de ensino já apresentada. Se for esta sua proposta junte-se a nós, pois ela é a nossa.
Seja qual for a sua resposta, parabéns! A opção foi e sempre será sua. Aqui temos outra grande lição, o exercício e o respeitado da AUTONOMIA.
Dizem que quem sonha sozinho tem apenas um sonho, mas quem sonha em conjunto tem uma realidade... Vem vamos juntos continuar a escrever este presente-futuro...Bibliografia:
FROMM, E. Analise do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1974
PALLOFF, R.; PRATT, K. O aluno virtual: Um guia para trabalhar com estudantes on-line. Porto Alegre: Artmed, 2004.
OTTO, P. A educação a distância em transição. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.
* Professor na Universidade Luterana do Brasil, psicólogo, especialista em metodologia de ensino superior, doutorando na área de educação e psicologia evolutiva na Universidade de Santiago de Compostela, diretor da Link Consultoria em EAD.

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