Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Regência Verbal Estuda as relações que se estabelecem entre o verbo e seus complementos. Para estudarmos regência verbal, é necessário conhecermos, portanto, a predicação dos verbos: Verbo intransitivo: Possui significação completa; Verbo transitivo direto: Pede complemento sem preposição, denominado objeto direto; Verbo transitivo indireto: Pede complemento preposicionado, denominado objeto indireto; Verbo transitivo direto e indireto: Pene complementos sem e com preposição (objeto direto e indireto) Vamos aos exemplos 1) O juiz despachou a Petição Inicial. (verbo transitivo direto) 2) O juiz despachou a carta ao destinatário. (verbo transitivo direto e indireto) 3) O juiz hoje não despachou. (verbo intransitivo) Nos exemplos dados, os verbos adquirem sentidos diferentes na relação que estabelecem com seu complemento ou na falta dele: • Na primeira frase, despachou significa proferiu despacho, deferindo ou indeferindo o pedido. É um verbo transitivo direto, ou seja, necessita de complemento sem preposição (objeto direto), para lhe completar o sentido (a Petição Inicial); • Na segunda frase, tem o sentido de enviar, expedir. É um verbo transitivo direto e indireto, construindo seu sentido por meio de dois complementos: um sem preposição (objeto direto, a carta); o outro com preposição (objeto indireto, ao destinatário); • Na terceira frase, o verbo despachar é intransitivo e tem o sentido de lavrar despacho, resolver, decidir. Não necessita de complemento, pois possui sentido completo em si mesmo. 2 Desse modo, o estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as diversas significações que um verbo pode assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. Analisemos mais estes casos: 1) A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar. 2) A mãe agrada ao filho. -> agradar significa causar agrado ou prazer, satisfazer. Logo, podemos concluir que "agradar alguém" é diferente de "agradar a alguém". Embora as listas de verbos e suas preposições possam ser úteis, devemos ficar atentos às diversas nuanças de sentido que o verbo adquire, situações em que poderá não precisar de complemento preposicionado ou pedir complemento com determinada preposição, e não com outra. Como notamos a transitividade não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes formas em frases distintas. Vamos analisar os casos de regência verbal nas charges a seguir, segundo o padrão culto da língua: Texto I 3 Fonte: <http://soumaisenem.com.br/redacao/lingua-e-linguagem/regencia-verbal-e-marcas-de-oralidade>, acessado em 2/11/16. Notamos que há, na charge, um erro clássico de regência com o verbo chegar. Esse verbo exige a preposição “a”, na indicação de destino e não “em”: ... chegar a casa. Texto II Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28414>, acessado em 2/11/16. No 2º e no 3º quadrinhos da tira, a regência do verbo lembrar está em desacordo com a variedade padrão. Reescrevendo as frases de acordo com as regras gramaticais, teríamos: a) transitivo indireto, com o pronome: Eles nunca se lembram de uma data importante. Lembro-me do dia de nossa primeira briga feia. b) transitivo direto, sem o pronome. Eles nunca lembram uma data importante. Lembro o dia de nossa primeira briga feia. 4 Texto III Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28414>, acessado em 2/11/16. Já aprendemos que a regência verbal estuda a relação de dependência que se estabelece entre o verbo e seus complementos. Como alguns verbos têm mais de um significado, pode ocorrer que a mudança de significado provoque alteração na regência. Esse é o caso do verbo assistir, presente no texto chárgico, pois no sentido de ver, presenciar é transitivo indireto, razão pela qual exige a preposição a. Logo, a regência desse verbo não está de acordo com o padrão culto da língua, embora como já dito, esse verbo venha sofrendo gradativamente migração de regência. Texto IV Vamos, agora, verificar a regência dos verbos preocupar-se, preparar e pensar na tira. O verbo preocupar-se é transitivo indireto, na tira, e exige a preposição "em"; o verbo preparar é transitivo direto e indireto com dois complementos (lasanha e para você) e pensar é transitivo direto (seu complemento não é ligado a ele por preposição). Mas, 5 quando digo: Pensei em você hoje, o verbo pensar exige a preposição em e passa a ser transitivo indireto. Texto V Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28414>, acessado em 2/11/16. Segundo o padrão culto da língua, teríamos ... ir à escola, pois o verbo ir exige a preposição a. Usamos a preposição para quando houver intenção de permanecer, de fixar residência ou ficar por tempo indeterminado em um local. Não havendo intenção de não se demorar, de não fixar residência, usamos a preposição a. Analisemos novos exemplos de regência verbal: 1. As novas medidas agradaram/desagradaram aos contribuintes. 2. A reportagem agradou/desagradou à maioria dos leitores. 3. Agradava aos estranhos e desagradava aos familiares. 4. Agradou o neto Paulo Elísio. 5. Gostava muito de agradar os seus cachorros. 6. Aspirava ao cargo de presidente. 7. Preferia aspirar o doce perfume do amante. 6 8. Os fiéis assistiram à missa. 9. O médico assistiu o enfermo. 10. O médico assistiu ao enfermo. 11. A direção já avisou (informou) os funcionários das mudanças na universidade. 12. A direção já avisou (informou) aos funcionários as mudanças na universidade. 13. Informei o peticionário do andamento do processo. 14. Informei-o do (sobre o) andamento do processo. 15. Informei-lhe o andamento do processo. 16. Informei ao peticionário (informei-lhe) o andamento do processo. 17. Chamavam-lhe de tolo. 18. Chamavam-lhe tolo. 19. Ele chegou a uma conclusão inesperada. 20. Sua tolerância chegara ao limite. 21. Fui ao (e não no) cinema. 22. O árbitro favoreceu o (e nunca ao) time da casa. 23. Lembrou os ensinamentos do pai. 24. Lembrou-se da infância, com muita saudade. 25. Esqueceu que era o dia do aniversário do chefe. 26. Esqueceu-se de fazer o trabalho. 27. Os alunos preferiam jogar futebol a (e não: do que) praticar atletismo. 28. Prefiro vinho a leite. 29. Aspiramos o ar frio da manhã. 30. Ele aspira ao cargo. 31. Não simpatizei com ele nem com as suas ideias. 32. Há pessoas com quem não simpatizamos. 33. Visavam um ponto na parede. 34. Visava à felicidade de todos. 35. O programa visa facilitar o acesso ao ensino gratuito. 36. Paguei ao empregado. 7 37. Perdoei ao amigo. 38. Pediu ao dirigente uma solução. 39. Cheguei a Fortaleza. 40. Morava na Rua Carlos Góis. 41. Eles moram (residem) no campo. 42. Ela namorou aquele artista. 43. Obedeço ao comando. 44. Fui à cidade. 45. Foram para França. 46. Ele investe parte dos lucros em pesquisas científicas. 47. Investir em tecnologia, na compra de ações, em imóveis. 48. O touro enfurecido investiu contra (ou com) o toureiro. 49. Entrei na loja e saí dela. Nota Alguns verbostransitivos indiretos, mesmo pedindo a preposição a, não admitem o pronome lhe como objeto. Exemplos: Assistiu ao filme. Assistiu-lhe. (errado) Assistiu a ele. (certo) Aspiro à promoção. Aspiro-lhe. (errado) Aspiro a ela. (certo) Visava ao concurso. Visava-lhe. (errado) Visava a ele. (certo) Aludi ao preconceito. Aludi-lhe. (errado) Aludi a ele. (certo) Anuiu ao pedido. Anuiu-lhe. (errado) Anuiu a ele. (certo) Procedeu ao inquérito. Procedeu-lhe. (errado) Procedeu a ele. (certo) Presidimos à reunião. Presidimos-lhe. (errado) Presidimos a ela. (certo) Em síntese: a regência verbal estuda a relação estabelecida entre o verbo, chamado termo regente, e seu complemento, chamado termo regido. Essa relação pode se dar por meio de uma preposição ou não. Dependendo do sentido que o verbo tenha no contexto, a regência pode ser diferente.
Compartilhar