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Prof. Gustavo Mello Knoplock www.gustavoknoplock.com.br DECRETOS REGULAMENTARES E DECRETOS AUTÔNOMOS (Baseado no livro MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO – PROF. GUSTAVO MELLO KNOPLOCK – EDITORA CAMPUS/ELSEVIER): DECRETOS São atos do chefe do Poder Executivo do ente federativo (Presidente da República, Governador ou Prefeito), podendo ser atos gerais ou individuais. Será um decreto geral quando se dirigir indistintamente a todas as pessoas que se encontrem em determinada situação, de forma abstrata (nesse caso, um decreto normativo) ou será um decreto individual quando se dirigir a pessoas determinadas, gerando para essas um efeito concreto. Então: GERAL Ato normativo. Exemplo: decreto DECRETO regulamentar; INDIVIDUAL Ato não normativo. Exemplo: decreto de nomeação. O decreto regulamentar é aquele pelo qual são dispostas normas e procedimentos com o objetivo único de explicar e assessorar, tanto os administrados quanto os próprios agentes públicos, no correto cumprimento das leis, não podendo ultrapassá-las. Sua previsão se encontra no artigo 84, IV da Carta Magna, que determina que “Compete privativamente ao Presidente da República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”. Assim, esses decretos normativos servem para colocar em vigor um regulamento que é um “manual de procedimentos”, sendo por isso chamados de decretos regulamentares ou de execução. Decreto autônomo, ou independente, de forma diversa, é aquele, existente em determinados países, que trata de matéria não regulada em lei. A doutrina e a jurisprudência eram unânimes em afirmar não haver esse tipo de decreto no Brasil, vez que apenas a lei poderia tratar de forma originária qualquer questão, entretanto, atualmente, após a emenda constitucional nº 32/01, existe a previsão excepcional desse tipo de decreto no artigo 84 VI da Constituição: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: ... VI – dispor, mediante decreto, sobre: a)organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b)extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;” Entende-se que esse tipo excepcional de decreto, por tratar diretamente de assunto não regido por lei, é um decreto autônomo, sendo que a alínea (a) demonstra um ato geral Prof. Gustavo Mello Knoplock www.gustavoknoplock.com.br (organização da Administração), sendo assim um decreto autônomo com caráter abstrato, regulamentar, chamado de regulamento autônomo, enquanto a alínea (b) prevê um ato individual, de efeitos concretos (extinção daquele cargo), podendo, portanto, ser chamado de decreto autônomo, mas não de regulamento autônomo. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA !!! Não há dúvidas de que a situação criada pela emenda constitucional supracitada reflete um tipo de decreto excepcionalíssimo, diferente dos moldes tradicionais, entretanto, há divergência entre a doutrina se esse novo tipo pode ser considerado um decreto independente ou autônomo, conforme se demonstra a seguir. A doutrina majoritária entende que esse novo tipo de ato é um regulamento autônomo, como nas palavras da professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro ao afirmar que “no direito brasileiro, a Constituição de 1988 limitou consideravelmente o poder regulamentar, não deixando espaço para os regulamentos autônomos, a não ser a partir da Emenda Constitucional nº 32/01. ... Com a alteração do dispositivo constitucional, fica restabelecido o regulamento autônomo no direito brasileiro, para a hipótese específica inserida na alínea a.” O mestre Hely Lopes Meirelles segue a mesma linha, entretanto, o professor Celso Antônio Bandeira de Mello discorda ao afirmar que esse tipo excepcional de regulamento não configura um regulamento autônomo, com uma lição que devemos transcrever: “Advirta-se que vem se disseminando entre algumas pessoas – inclusive entre estudiosos ilustres – o equívoco de imaginar que o art. 84, VI, da Constituição do País introduziu em nosso Direito os chamados “regulamentos independentes” ou “autônomos” encontradiços no Direito europeu. Pedimos vênia para expressar que, a nosso ver, este entendimento não é minimamente exato. O regulamento previsto no art. 84, VI, “a”, da Constituição Brasileira – segundo o qual compete ao Presidente da República dispor, mediante decreto, sobre ‘organização e funcionamento da Administração Federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos’ – confere, como resulta de sua disposição textual, poderes muito circunscritos ao Presidente, ao contrário do que ocorre nos regulamentos independentes ou autônomos do Direito europeu. Com efeito, se o Chefe do Executivo não pode nem criar nem extinguir órgãos, nem determinar qualquer coisa que implique aumento de despesa, que pode ele, então, fazer, a título de dispor sobre ‘organização e funcionamento da Administração federal’ ? ... ”. Prof. Gustavo Mello Knoplock www.gustavoknoplock.com.br QUESTÃO COMENTADA AFRF 2005 - ESAF Em relação ao poder administrativo normativo, assinale a afirmativa verdadeira. a) Admite-se, no sistema jurídico brasileiro, o regulamento autônomo. b) O poder normativo das agências reguladoras pode ter caráter inovador em Relação à lei. c) Denomina-se regulamento o ato normativo interno de funcionamento dos órgãos colegiados. d) O regulamento executivo manifesta-se por meio de decreto. e) O poder normativo tem caráter vinculado. COMENTÁRIO O gabarito original da ESAF foi a letra D, vez que não há dúvidas de que o regulamento manifesta-se por meio do decreto. Não foi considerada como resposta certa a letra A, o que parecia mostrar a tendência da banca da ESAF a concordar com o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, entretanto, posteriormente, essa questão foi anulada pela mesma banca, por entender que a letra A também estaria certa, havendo duas respostas. Resumindo, a ESAF concordou com a doutrina majoritária ao entender que existe sim, ainda que de forma excepcional, regulamento autônomo no Brasil. CUIDADO !!! Ainda com relação à letra A da questão anterior, independentemente de correntes doutrinárias nesse ou naquele sentido, vimos que aquele regulamento é uma exceção. Normalmente, em questões de concurso devemos dar preferência às regras e não às exceções, ou seja, ainda para os que admitem existir o regulamento autônomo, esses o admitem excepcionalmente, sendo a regra a não existência deles, o que faz com que a afirmativa A não seja uma boa opção. O candidato deveria optar pela letra D que é indiscutível. Por final, cabe registrar que o artigo 84 da Constituição Federal dispõe que: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: ... IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; ... VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; ... Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral Prof. Gustavo Mello Knoplock www.gustavoknoplock.com.br da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.” Assim, devemos verificar que os decretos regulamentares,de execução, previstos no inciso IV, são de competência exclusiva do Presidente da República, não podendo ser delegados, enquanto os decretos autônomos, independentes, previstos no inciso VI, são de competência privativa, podendo ser delegados. CUIDADO !!! A pergunta “a competência para edição de decretos pode ser delegada?” deve ser respondida de forma negativa, entendendo-se que a regra são os decretos regulamentares, indelegáveis.
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