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Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 55 $UWLJR�SXEOLFDGR�QR�9RO��,;��������GD�5HYLVWD�&DGHUQRV�GH�'HEDWH��XPD�SXEOLFDomR�GR�1~FOHR�GH (VWXGRV�H�3HVTXLVDV�HP�$OLPHQWDomR�GD�81,&$03��SiJLQDV������� 6XVWHQWDELOLGDGH�(FRQ{PLFD�H�(FROyJLFD�PHGLDQWH�D�2SomR�SHOR�9HJHWDULDQLVPR Sérgio Greif1 5HVXPR Muitos vegetarianos alegam motivos éticos, sociais, econômicos e ecológicos para a adoção de suas práticas dietéticas. Os motivos éticos alegados podem variar desde a preocupação para com a vida individual dos animais abatidos para consumo, quanto à preocupação para com uma maioria de seres humanos que indiretamente vêem seu consumo de itens alimentares básicos prejudicado pelo consumo de alimentos de alto valor agregado de uma minoria, considerando sistemas limitados de produção. O presente artigo trata desta última consideração ética, apoiada em conceitos ecológicos, econômicos e sociais. Palavras-chaves: vegetarianismo, análise emergética, pecuária, sustentabilidade, fatores ecológicos. (FRQRPLF�DQG�(FRORJLFDO�6XVWDLQDELOLW\�E\�PHDQV�RI�WKH�RSWLRQ�IRU�9HJHWDULDQLVP $EVWUDFW Vegetarians state ethical, social, economic and ecological reasons that justify the adoption of their dietetic habits. Ethical reasons can vary from the concern about the individual life of the animals being killed for consumption to concerns about the majority of human beings whose lives have indirectly their supply of basic food sources damaged by consumption of high aggregated value foods by a minority, when considering restricted production systems. The present article discusses this last ethical concern, supported by ecological, economic and social concepts. Keywords: vegetarianism, emergetic analysis, cattle raising, sustainability, ecological factors. ,QWURGXomR Nos últimos 30 anos tem-se popularizado a argumentação em favor da alimentação em níveis mais baixos na pirâmide alimentar, em oposição à dieta centrada na carne, advinda seja da pecuária intensiva, seja da pecuária extensiva, consideradas incompatíveis com a sustentabilidade ambiental (Gussow, 1994). Esta recomendação, empiricamente contida nos antigos ensinamentos de várias culturas, pode ser percebida por exemplo na 5HS~EOLFD de Platão (369c-373c), ou em antigas escrituras indianas, como nos 9HGDV e primeiros escritos budistas, e provavelmente foi fator decisivo para a adoção do vegetarianismo em muitas localidades e épocas. �Mais recentemente, um dos primeiros propagadores desta idéia foi Henry Sherman (1919), químico e nutricionista da Universidade de Columbia, que propunha o vegetarianismo como forma de poupar alimento para soldados e civis durante a Primeira Guerra Mundial. Somente na década de 70, porém, é que o mundo tomou maior consciência sobre os desperdícios envolvendo a atividade pecuária, quando da publicação do livro de Frances Moore Lappé em 1971, “Diet for a Small Planet” (Lappé, 1982). Neste clássico, com mais de 2 milhões de cópias vendidas até 1982 (Lappé, 1982), a autora demonstra através de diferentes parâmetros (ecológicos, econômicos e sociais), o quanto a pecuária contribui para a destruição de ecossistemas, ao caos de sistemas econômicos e ao empobrecimento de uma maioria de 1 Mestrando em Alimentos e Nutrição no Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 56 seres humanos. O livro ainda contém mais da metade de suas páginas dedicadas a informações sobre como manter uma alimentação balanceada sem uso de alimentos de origem animal. Seguindo esta mesma linha de raciocínio, foi publicado em 1987 outro livro de grande importância e aceitação, “Diet for a New America”, por John Robbins (Robbins, 1987). Neste livro, além de abordar muitos dos problemas tratados por Lappé, o autor discutiu ainda outros aspectos do vegetarianismo, como o lado ético dos direitos dos animais, e os benefícios para a saúde de uma dieta com isenção de itens animais. Com respeito à vida particular de John Robbins, seria interessante ressaltar que se opondo a toda forma de exploração pecuária, e isto incluía a pecuária de leite, o autor condenava as bases nas quais a maior parte do patrimônio de sua família se constituiu: John Robbins seria o herdeiro de uma próspera fábrica de sorvetes nos EUA (a Baskin-Robbins). Possuindo idéias divergentes das de seus familiares, estes jamais se interessaram em se aprofundar em sua obra, até que sofrendo de determinada enfermidade, seu pai recebeu do médico a recomendação de adotar uma dieta prescrita em um livro, o livro escrito pelo próprio filho. Robbins conta que seu pai não teve coragem de revelar ao médico sua relação de parentesco com o autor do livro. Uma terceira publicação que se tornou de importância, nesta mesma linha, é o livro de Jeremy Rifkin, “Beyong Beef: The rise and fall of the cattle culture” (Rifkin, 1992). O autor, neste livro, trata da problemática da fome e da má distribuição de alimentos, dos problemas ambientais e dos problemas econômicos, causados pelos complexos de produção animal. Ao termino do livro o autor alude à uma “Era de Ouro” que teria âmbito mundial, sendo marcada pelo fim da pecuária, pelo inicio da recuperação da natureza original de cada continente, e na igualdade na distribuição de alimentos. Esta alusão a uma era praticamente mítica é parcialmente criticada por Bennett (1987), como será visto mais adiante. Na 5HS~EOLFD de Platão também vemos alusão a esta “Era de Ouro”, quando Sócrates ensina a Glauco que a paz apenas poderá ser mantida em uma cidade através da sustentabilidade, apoiada na agricultura, comércio e pelos ofícios (369c), e o quanto a introdução da pecuária prejudicaria este equilíbrio, criando a necessidade de conquista de novos territórios e a guerra (373c). Na história da Índia, a adoção em massa do vegetarianismo teria se dado no século VI A.E.C., coincidindo com a transição da sociedade pastoril para sociedades agrícolas, quando com o crescimento populacional, as castas superiores passaram a monopolizar o consumo de carne, necessitando progressivamente confiscar novas terras para transformá-las em pastos. A limitação da criação de animais para o corte, e manutenção de apenas um pequeno número destes para arar e adubar a terra, foi a forma de, nestas regiões, se alcançar a sustentabilidade de um núcleo populacional maior utilizando-se menores recursos da natureza. A adoção do vegetarianismo foi uma forma de evitar as guerras inter-territoriais e os conflitos sociais; a religião apenas endossou tal tendência, incorporando o vegetarianismo em seus dogmas (Harris, 1977; Jain, 1982) . Basicamente o que todas estas e muitas outras publicações transmitem é a idéia de que a criação animal deve dispor de maiores recursos do que a agricultura, sejam recursos da natureza, sejam da economia; de que o esgotamento de recursos leva à busca por novos, o que freqüentemente significa o monopólio de grandes extensões de terras para o sustento de poucos, na transformação de florestas em pastos, na invasão de territórios vizinhos e na privação de certos setores da sociedade de recursos alimentares, ainda que naturalmente disponíveis. $�VLWXDomR�DWXDO O quadro mundial atualmente não é tão distinto ao que se verificava na Ásia de 2600 anos atrás: Superpopulação, fome e má distribuição de alimentos, escassez e desvio de recursos, guerras por territórios, etc. Há 3 mil anos, a população humana se constituía de menos de 6 milhões de pessoas (Neiman, 1989); atualmente somos 6 bilhões, em uma população crescendo em progressão geométrica. Um agravante à superpopulação humana atual em relação a 3 mil anos atrás é que atualmente nossas necessidades de matérias primase nossa necessidade de produção de alimento são muito mais refinadas, tornando ainda mais grave o quadro. Críticas à destruição de recursos naturais e ao consumismo são comuns desde a década de 1960, no entanto tais críticas se concentram muito mais freqüentemente nos “agentes impessoais” que causam o desmatamento, o aumento de emissões de gases poluentes e o efeito estufa, ou a extinção de espécies. Poucos se conscientizam ser parte do processo de degradação ambiental no planeta, ou se o fazem, não vêem relação entre tal degradação e o fato de manterem-se “altos na cadeia alimentar”. Poucos vêem relação entre seus Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 57 hábitos alimentares e a derrubada de florestas, o aumento nas emissões de metano e outros gases que causam o efeito estufa, ou a condição de miséria da maior parte da população. Principalmente em locais onde predominam as grandes propriedades, como no Brasil, muitos desacreditam que a pecuária possa representar um ônus para a terra e para o sistema econômico; isto devido a quatro motivos principais: 1- Desconhecimento da complexidade do sistema de produção pecuário; 2- Falta de visão global dos prejuízos causados por atividades individuais; 3- Desconhecimento do sistema econômico artificial que subsidia e mantém a produção pecuária sustentável, desvalorizando a produção agrícola; 4- Desconhecimento do OREE\ internacional formado à partir da década de 1950, que promove a produção pecuária, por mais onerosa que seja à Terra, à economia e à população mundial de uma forma geral. O caso do desvio de recursos de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, conhecido como “política da fome”, é a forma como os últimos têm mantido os primeiros em condição de dependência econômica (Warnock, 1987). O escoamento de alimentos dos países pobres para os países ricos gerou uma má distribuição de riquezas sem precedentes. Os países do terceiro mundo que têm obtido os maiores sucessos no sentido de erradicar a fome de seus territórios são justamente os que romperam com o padrão colonial de desenvolvimento: Cuba, China, Vietnã, Coréia do Norte, etc. (Warnock, 1987). Populações de países em desenvolvimento que seguem o padrão colonial (ex.: Brasil, outros países da América Latina, da África e da Ásia), são levadas a valorizar o padrão de alimentação americana, daí a proliferação de cadeias de lanchonetes americanas também nestes países. Este fenômeno estimula que as novas gerações desconheçam as próprias fontes alimentares locais, constituídas principalmente de vegetais, e estimula o desprezo de partes importantes dos vegetais e seu mau aproveitamento, além do aumento na incidência de obesidade e doenças degenerativas nestas populações. Atualmente, mesmo países que não seguem o padrão colonial de desenvolvimento se vêem influenciados pela propaganda que promove o padrão de dieta americano. O aumento no padrão de vida destas populações é freqüentemente avaliado pelo aumento em seu consumo de carnes (Brown 1995). ,QVXVWHQWDELOLGDGH�GD�3HFXiULD��7HRUL]DomR�(PHUJpWLFD Podemos verificar a insustentabilidade dos sistemas agropecuários através de sua análise emergética. Emergia é toda a energia, externa ou interna, renovável ou não, que a biosfera utiliza para produzir um determinado recurso, seja natural ou antrópico; ou, em outras palavras, é a energia incorporada no processo de obtenção de um recurso (Ortega, 1999). Quando determinado produto é produzido à custa de muita emergia advinda de recursos não-renováveis, como combustíveis fósseis ou facilidades monetárias, ou ainda à custa de perda de biodiversidade, ou de solo, ou à custa de poluição ambiental, este recurso passa a ser considerado não-sustentável (Ortega, 2003). Segundo Brown (1998) e Constanza HW�DO� (1997), atualmente tanto a economia quanto a agricultura são insustentáveis: O fluxo de bens de países subdesenvolvidos para países desenvolvidos, e o manejo agrícola inadequado são a causa disto, no entanto são problemas teoricamente passíveis de solução, requerendo apenas que mudanças radicais sejam tomadas e a eles nos conduzam. Um manejo pecuário “adequado” apenas pode minimizar parte do problema de produção; a pecuária em si, no entanto, jamais poderá se tornar sustentável na prática, já que podemos verificar seus problemas na teoria: As redes alimentares podem ser analisadas como cadeias de transformações sucessivas de energia (Odum HW�DO�, 1987). Calcula-se que 1 / 50.000.000 da energia total irradiada pelo Sol atinja o planeta Terra, sendo que apenas cerca de 47% efetivamente atingem a superfície (o restante é barrado pelas nuvens, camada de ozônio, vapores de água, poeira em suspensão, etc). Deste montante, cerca de 4% ainda são refletidos pela superfície e apenas 0,01-2% do que incide sobre uma folha é utilizado na fotossíntese (Phillipson, 1969; Odum HW�DO�, 1987) Fotossíntese, pela definição, é a transformação de energia luminosa em energia química pelos organismos autótrofos, também chamados “produtores”; os produtores apresentam-se na base da pirâmide que representa os níveis tróficos. Os organismos que se alimentam dos produtores são chamados “consumidores primários”, eles ocupam o segundo andar na pirâmide que representa os níveis tróficos, absorvendo cerca de 10% do total de energia original dos vegetais; o terceiro andar da pirâmide é representado pelos “consumidores secundários”, organismos que se alimentam dos consumidores primários, absorvendo destes 10% de sua energia, e apenas cerca de 1% da energia original produzida pelos produtores; Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 58 se houver um próximo nível trófico, será chamado “consumidor terciário”, que se alimentará de “consumidores secundários” e obterá destes 10% de sua energia, cerca de 0,1% da energia vegetal original. Para o caso dos sistemas humanos, os autótrofos são representados por toda a forma de vegetal comestível pelo homem ou pelos animais de consumo; os consumidores primários podem ser representados por animais herbívoros ou por homens vegetarianos; os consumidores secundários são os homens onívoros e outros animais carnívoros, e os consumidores terciários são os casos menos documentados em que o homem se alimenta de animais carnívoros (cães e gatos na Ásia ou em bolsões de pobreza, por exemplo). A aplicação dos números mostra que 8.000 Kg de matéria vegetal podem produzir 800 Kg de carne de boi. E 800 Kg de carne de boi podem ser usados para “produzir” 80 Kg de ser humano. Se em vez de os 8.000 Kg de matéria vegetal serem empregados para produzir 800 Kg de carne de boi, estes forem dirigidos diretamente às populações humanas, teremos a produção de 800 Kg de seres humanos. Supondo que apenas um homem de 80 Kg se beneficiaria de 8.000 Kg de matéria vegetal se houvesse o nível trófico dos bois os intermediando, neste sistema onde o homem se alimenta em níveis tróficos, 10 vezes mais homens de 80 Kg se beneficiariam da mesma biomassa vegetal. Odum HW� DO� (1987) demonstra que na realidade, a passagem de nível trófico do gado para o ser humano representa uma perda de não apenas 90% de energia, mas sim de 99%, uma vez que o gado possui dois níveis tróficos no interior de seu organismo (o primeiro seriam os microorganismos contidos em seu rúmen, que aproveitariam 10% da energia obtida dos vegetais e dispersariam 90% em seus próprios processos metabólicos; o segundo seria o próprio organismo do animal, que poderia incorporar apenas 10% da energia obtida dos microorganismos do rúmen). Se isto for verdadeiro, no exemplo anterior, um homem que alimentasse seu boi com 8000 Kg de matéria vegetal receberia em troca apenas 80 Kg de carne, e não 800 Kg. Isto seria suficiente para integrar apenas 8 Kg de homem, 100 vezes menos doque se obteria consumindo diretamente os vegetais. Todas estas considerações são, obviamente, extremamente teóricas; seu objetivo é ilustrar uma situação que será a seguir exposta na prática. Em situação real, diferentes alimentos são absorvidos e aproveitados de forma diferente, e a capacidade de sustentação de uma determinada extensão de terra depende da espécie vegetal ali cultivada, bem como do trabalho humano ali investido; em outras palavras, a análise emergética mesmo de uma cadeia de produção vegetal é variável; e a análise emergética da exploração pecuária, conforme realizada até o presente ponto, ilustra apenas o limite máximo que poderia ser obtido de tal sistema, o que não ocorre na prática. Seymour (1988) explica da seguinte forma o problema em questão: “Os vegetarianos argumentam que são necessárias muitas unidades de proteínas vegetais para se produzir uma unidade de proteína animal, sob a forma de carne; é preferível, portanto, que o homem não se alimente de animais e coma diretamente as proteínas vegetais. Por sua vez, os não-vegetarianos dizem que as unidades protéicas que não são diretamente transformadas em carne não se perdem: são devolvidas à terra sob outra forma, a fim de aumentarem a sua fertilidade, contribuindo para o crescimento das culturas.” No entanto, a quantidade de matéria fecal com que o gado contribui para a adubação da terra e que de fato é aproveitada pelas plantas, de forma alguma pode ser comparada com a quantidade de recursos que se utilizou para produzi-la. Muito da energia solar usada no processo de produção é dispersa durante seu uso (Odum HW�DO�, 1987). A defecação é apenas parte dos processos metabólicos que representam os cerca de 90% perdidos na passagem entre níveis tróficos, sendo ainda parte deste montante a respiração, a transpiração, a manutenção dos sistemas, etc. – todas estas, formas de energia dispersa. Esta energia dispersa não é de forma alguma um desperdício para o animal, visto que fora utilizada em seus processos metabólicos (Odum HW�DO�, 1987), no entanto é energia que não é repassada ao próximo nível trófico� A representação em forma de pirâmide é útil porque demonstra a quantidade de biomassa exigida em cada nível trófico. A biomassa de produtores deve ser sempre bem maior do que a de consumidores primários, e estes devem ter biomassa bem maior do que os consumidores secundários. Aplicando este conceito ao caso de estudo, manter uma biomassa de vegetais cultivados para sustentar uma população de vegetarianos é bem menos dispendioso do que manter uma biomassa de gado de tamanho semelhante para sustentar populações humanas, às custas de uma biomassa vegetal muito maior. Ainda que o dispêndio pareça ser compensado pelo menor trabalho humano investido, ele demanda a formação de novas Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 59 pastagens a custa da transformação de florestas e perda de biodiversidade, ou da destinação de maiores extensões de terra a esta atividade, a custa de sua má distribuição. A energia contida nos níveis mais altos de uma pirâmide de níveis tróficos é geralmente mencionada como sendo de melhor qualidade, pois muita energia de baixa qualidade (dos níveis tróficos mais baixos) é necessária para formá-la (Odum HW�DO�, 1987). Em termos práticos diz-se que o valor nutricional da carne é superior ao dos vegetais. Isto não deixa de ser uma verdade, quando analisamos a carne como produto final; no entanto, considerando todo o processo de transformação de muitas unidades de nutrientes em poucas unidades de nutrientes, e considerando a custa de que isto ocorre, verificamos que se trata realmente de um desperdício em todos os sentidos. ,QVXVWHQWDELOLGDGH�GD�3HFXiULD��HVWXGRV�GH�FDVR Diversos estudos realizados em diferentes países demonstram a insustentabilidade da pecuária, bem como seu desperdício em relação à agricultura: Segundo Brown (1972) e Bennett (1987), o americano médio consome 5 vezes a quantidade de grãos (a maioria na forma de produto animal) do que consome a média das pessoas em países subdesenvolvidos. Brown (1995) cita uma razão de 4:1: Em países que “se alimentam alto na cadeia alimentar”, como os EUA e o Canadá, cada pessoa é responsável pelo consumo de 800 Kg de grãos por ano (maior parte na forma de carne), enquanto que na Índia e outros países com predominância de vegetarianismo, o consumo médio anual é de 200 Kg. Segundo Lappé (1982), são necessárias 16 libras (7,2 Kg) de grãos e soja para se produzir uma libra (45 g) de bife nos EUA. Em outros países, na melhor das hipóteses, são necessárias 7 libras (3,15 Kg) de grãos e soja para se produzir uma libra (45g) de bife. Apenas para efeito de comparação, 7,2 Kg de grãos tem 21 vezes mais calorias e oito vezes mais proteínas (mas só três vezes mais gordura) do que 45 g de hambúrguer. Mais de 80% dos grãos cultivados nos EUA são utilizados para alimentar animais, segundo a publicação “World Hunger Facts”, da $PHULFDQ� )ULHQGV� 6HUYLFH� &RPPLWWHH, de Nova Iorque; segundo Bennett (1987) 40% dos grãos produzidos no mundo inteiro se destinam ao gado. Cerca de 52% do território americano é destinado a algum tipo de agricultura, destes 87% são destinados à produção de gado (seja mediante pastoreio direto, seja pelo fornecimento de grãos ao gado) (Lappé, 1982; Robbins, 1987). Segundo explica Brown (1995), mesmo com toda a abundância de grãos para o sustento do gado nos EUA, a maior parte do gado ali consumido é engordado em pastagens localizadas nas regiões de grandes planaltos. O uso de pastos na alimentação do gado aparentemente contorna a problemática da má distribuição de alimentos, porém esbarra diretamente na problemática da perda de biodiversidade. Pastos, assim como campos de cultivo, são abertos derrubando-se florestas. Uma dieta centrada no consumo de carne requer 35 acres de terra por pessoa, mas uma dieta totalmente à base de frutas, cereais e verduras requer apenas um quinto de acre por pessoa (Fisher, 1975). Os pastos brasileiros, abertos a custa do desmatamento de florestas nativas (Moran, 1993), não são capazes de sustentar grandes rebanhos por unidade de terra: Cada boi necessita de 3 a 4 hectares para subsistir, produzindo apenas 210 quilos de carne em um período de 4 a 5 anos (Winckler, 1992). Um hectare, se destinado para a produção de vegetais diretamente para o consumo humano, produziria 5 toneladas de mandioca, o equivalente a 3.500.000 calorias (necessidade energética de 1.700 homens/dia) e 12.000g de proteína (necessidade mínima protéica de 240 homens/dia), ou ainda 2.100.000 calorias e 58.200g de proteína se a cultura fosse de milho, o que seria suficiente para sustentar 1.000 homens /dia (Chaves, 1969). Altshul (1988) observa que, considerando-se as unidades de calorias por hectare, uma dieta à base de cereais, legumes e feijão é capaz de manter cerca de 20 vezes mais pessoas do que mantém a dieta baseada na carne. A produção pecuária extensiva, mesmo não dependendo, ou dependendo muito pouco, da produção de grãos, demanda ainda assim uma grande quantidade de terras, o que se dá mediante a perda de biodiversidade e criação de latifúndios; fora isto, as pastagens requerem adubação e aplicação de herbicidas, enfim, tratos similares aos que são exigidos por qualquer cultura (Nascimento, 2000). Segundo Castanho (1987) “A carne é um dos alimentos mais caros de se produzir. São necessários cerca de 10 hectares de terra para pastos de um animal que sirva de alimento a um homem por 1 ano. A Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 60 mesma área de terra plantada de trigo é suficiente para alimentar 42 homens, e de arroz, 108 homens, pelo mesmo espaço de tempo (isto se considerarmos uma monocultura, pois culturas consorciadas tendem a render mais).No entanto, o prejuízo causado pelo hábito de comer carne não se limita ao terreno desperdiçado. O processo pelo qual o animal vivo tem de passar desde o pasto até a mesa é complicado e exige o trabalho de centenas de pessoas”. Quanto a este item, o trabalho de centenas de pessoas poderia ser entendido como a geração de empregos, mas na realidade estes empregos não são sustentáveis e dependem de subsídio econômico, o que gera desequilíbrio. &RQVHTrQFLDV�6RFLDLV�GD�3HFXiULD “Como será possível alimentar uma população mundial sempre crescente?” Está pergunta formulada e repetida com certa constância se constitui atualmente em uma das maiores preocupações mundiais (Warnock,1987). Quando analisamos as terras cultiváveis do planeta, verificamos que todas elas já foram exploradas, seja na forma de pastos, seja na forma de campos de cultivo, e no entanto parte da população mundial ainda se encontra em condições precárias de subsistência. Isto leva a que se especule a respeito da limitação da terra, e da necessidade de melhorar as formas de produção. Existe uma forte convicção de que soluções tecnológicas importadas dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, como a “revolução verde” no passado, e o cultivo de transgênicos no presente, não são a solução. A pecuária, no entanto, raramente tem sido vista como um fator de contribuição para a fome mundial, devido à falsa noção de que o gado pasta apenas em terrenos que não podem ser utilizados pela agricultura, servindo portanto como bom conversor de plantas não comestíveis em alimento. Se de fato o gado pastasse apenas em terras impróprias para o cultivo, e sem receber uma complementação de grãos, sua produção seria tão baixa e a carne tão escassa que seriam ainda menos acessíveis (Bennett, 1987). A maior parte das terras que alimentam o mundo estão cultivadas com cereais e uma quantidade inferior de tubérculos; em algumas regiões predominam campos de leguminosas. Estes grãos, em sua maioria, se destinam a alimentar o gado (Lappé and Collins, 1977). Mesmo onde predominam os principais pastos, são terras férteis onde a agricultura seria muito mais desejável. Lappé (1982) e Robbins (1987) citam que na década de 80, os EUA importavam de países como Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Honduras e Panamá, 200 milhões de libras (90 milhões de Kg) de carne por ano; o consumo SHU�FDSLWD de carne nestes países seria inferior ao consumido pela média dos gatos domésticos nos EUA. Os vegetarianos, por motivos sociais, freqüentemente afirmam que “os ricos comem a carne de animais que comeram cereais que poderiam alimentar aos pobres”; isto foi na antigüidade e continua a ser na atualidade uma realidade. O consumo SHU�FDSLWD anual de bife nos EUA é de 42 Kg, na China é de 1 Kg por ano (Brown, 1995). No entanto, seria impreciso dizer que na prática, caso os países desenvolvidos deixassem de consumir tais grãos na forma de carne, as pessoas no terceiro mundo disporiam deles (Bennett, 1987). Se o gado consumirá menos milho e leguminosas não significa necessariamente que estes se tornarão disponíveis para consumo por seres humanos menos favorecidos; isto parece tão óbvio quanto considerarmos que não necessariamente abaixando os salários de pessoas ricas, os pobres ganhariam mais. Conforme cita Warnock (1987), a política neocolonialista aplicada por países desenvolvidos em países em desenvolvimento visa a manter suas populações em estado de pobreza para mais facilmente controlá-las. Mas certamente, FDVR fosse o real objetivo dos governos vencer a problemática da fome, necessariamente isto teria de passar por um programa de reeducação alimentar da população acompanhado de uma restrição rígida à atividade pecuária; de outra forma, o sistema não suportaria o sustento de todos os seres humanos hoje vivos. O consumo de carne é, portanto, a causa da má distribuição de recursos alimentares, mas ao contrário do que afirmam muitos vegetarianos, seu fim não significaria o estabelecimento de uma melhor distribuição de recursos (Bennett, 1987). Para vencer a fome mundial, seria necessária uma completa alteração em sua ordem política, o que inevitavelmente compreenderia uma alteração global nos hábitos de consumo e de alimentação da população. &RQVHTrQFLDV�HFRQ{PLFDV�GD�SHFXiULD Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 61 � Da mesma forma que regiões ricas dependem de grãos produzidos em regiões pobres, porque não podem abastecer seus rebanhos apenas com os grãos produzidos localmente, a criação de gado depende ainda de dispor de subsídios de energia para sua manutenção. Nos EUA, cerca de 10 calorias são necessárias para a produção de cada caloria da energia do alimento. Em muitos outros países, onde a população baseia sua dieta em vegetais, ganha-se 20 ou mais calorias para cada caloria gasta para sua produção (John e Steinhardt, 1974). Para se produzir uma libra de filé (45 g = 500 calorias de energia alimentar) são necessárias 20.000 calorias de combustível fóssil, na maioria gastas para alimentar o gado (Lappé, 1982). Isto significa cerca de 40 calorias de combustível fóssil para cada caloria de proteína obtida de bife produzido; no caso da criação de aves, são necessárias 16 calorias para cada uma caloria de frango produzida. Grãos e feijão, por outro lado, necessitam de apenas 2 calorias para produzir cada caloria de alimento (Pimentel, 1980). Segundo os dados de Durning (1991), é necessário perto de 10 vezes mais energia para se produzir e transportar gado do que vegetais. A energia gasta com o sistema alimentar ocidental conta com cerca de 16,5% do total do orçamento de energia (Akers, 1983). De acordo com um estudo dos departamentos do interior e comércio americano, o valor do material bruto consumido para produzir alimento para o gado é maior que o valor de todo o óleo, gás e resfriamento produzido no país (U.S. Department of Commerce, U.S. Department of Interior, s/d); um terço do valor de todo o material bruto consumido nos EUA para qualquer propósito é consumido na alimentação do gado. Vemos que a pecuária caminha no caminho inverso ao Princípio da Máxima Potência: Segundo Odum HW� DO�� (1987), o Princípio da Máxima Potência diz que “esquemas de sistemas que sobrevivem são aqueles organizados de tal modo que, trazem energia para si o mais rápido possível e utilizam essa energia para se retro-alimentar e trazer mais energia” ou ainda “Há sobrevivência no planejamento do sistema mais adaptado; que é aquele que pode extrair para si o máximo de potência, usando-a para satisfazer suas outras necessidades”. A pecuária apenas se mantém mediante subsídios da economia, o que gera desequilíbrio em outros setores: O pecuarista tem facilidade em obter empréstimos bancários, o agricultor não; o governo subsidia a pecuária, mas raramente a agricultura; isto tudo leva ao abandono das pequenas propriedades agrícolas de atividade familiar, ao êxodo rural, e à formação de latifúndios; os preços de itens agrícolas são freqüentemente elevados para balancear artificialmente o preço dos itens animais; os subsídios governamentais para fomentar a pecuária contribuem para manterem altos os preços dos impostos pagos pela população. Segundo Odum HW� DO� (1987), sistemas que não podem subsistir por seus próprios recursos, tendem a não sobreviver à prova do tempo. Segundo Brown (1995), com o tempo as forças do mercado tenderão a aumentar o preço dos grãos, empurrando para cima o preço dos produtos de origem animal, reduzindo seu consumo. Este aumento, sendo brusco, poderá afetar ainda mais a distribuição de grãos entre os milhões de pobres do mundo, antes que a pecuária seja afetada; se em tal sociedade, o consumo em níveis mais baixos já for uma tendência, a elevação nos preços dos grãos será acompanhada por uma gradativa liberação destes para sua distribuição a populações humanas.A mesma redução seria conseguida impondo uma taxa para o consumo de produtos de origem animal, similar ao que ocorre com cigarros e bebidas alcoólicas em muitos países; desta forma, a pecuária seria mantida por seus próprios usufruidores, e não pela generalização de impostos. Apesar de parecer uma medida extremamente impopular, é bastante justa, visto não ser o consumo de produtos de origem animal, assim como o cigarro e as bebidas, uma necessidade humana. &RQVHTrQFLDV�HFROyJLFDV�GD�3HFXiULD � Apenas para exemplificar as conseqüências ecológicas mundiais da pecuária, tomemos como exemplo o McDonald’s, uma das maiores multinacionais do mundo. A cadeia de refeições rápidas é acusada de sozinha, haver promovido a maior destruição de florestas tropicais do planeta (Robbins,1992). Tomando como base que um hectare de floresta tropical pode quando muito produzir 50 Kg de carne anualmente, muitos se perguntam quantos hectares de florestas tropicais foram necessários para sustentar as cadeias de lojas servindo hambúrgueres com 100% de carne bovina (Robbins,1992). Estas e outras acusações levaram a Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 62 que se organizasse uma das maiores campanhas mundiais contra uma companhia, esta campanha ficou conhecida como “McLibel” (McDifamação). Mas este problema não se limita apenas às terras tropicais: Nos EUA, 260 milhões de acres de florestas foram até a década de 80 destruídas para abrir novas pastagens (Lappé, 1982; Robbins, 1987); e desde então, a cada 8 segundos um acre é destruído (Lappé, 1982; Robbins, 1987). O fato de ser um sistema de exploração extensivo ou intensivo não tem relação com um menor ou maior ônus ambiental. O gado confinado ou no campo necessita se alimentar de quantidade aproximadamente semelhante de biomassa vegetal, seja indo ele até o pasto, seja o pasto vindo até ele. O único agravante é que o alimento oferecido ao gado em confinamento é de melhor qualidade que o oferecido ao gado pastando, o que provoca certo constrangimento social, já que estes mesmos cereais poderiam ser utilizados diretamente na alimentação de seres humanos. Por outro lado, o gado no pasto representa uma outra problemática que vai ainda além da social: as pastagens não comportam grande quantidade de cabeças de gado. Uma boa produção de gado só se dá mediante grande uso de terras, a uma baixíssima produtividade ( Winckler, 1992). Obviamente estas terras não podem ter grande valor comercial, ou não seriam de tal forma desperdiçadas, mas a formação destas pastagens se deu no passado e continua a se dar no presente à custa da biodiversidade – florestas nativas transformadas em pastos, que se transformarão em grande parte em desertos (Moran, 1993). Tomemos como estudo de caso o exemplo da Amazônia brasileira: Sua ocupação se iniciou em 1958, com o início da construção da rodovia Belém-Brasília, que cortava não apenas as florestas tropicais, como também regiões de cerrados, caatingas e florestas decíduas tropicais (Moran, 1993). Uma colonização que se iniciou tímida a princípio, evoluiu em uma forma de ocupação selvagem, quando a partir de 1966, o governo federal passou a incentivar a colonização do território (Kleinpenning, 1975; Hecht, 1980; Vásquez and Yokomizo, 1986; Fearnside, 1987a, b; Mahar, 1989). A pavimentação da rodovia, no entanto, só se deu em 1973. Hecht (1980) relata que 2 milhões de pessoas se encontravam então assentadas ao longo da rodovia. A noção de que as terras da região provavelmente eram férteis, já que podiam sustentar grandes florestas (grande biomassa vegetal), levou a que se optasse pela criação extensiva de gado: de poucas cabeças de gado em 1958, a Amazônia passou a possuir um rebanho de cerca de 5 milhões de cabeças em 1978 (Mahar, 1989). No entanto, o solo no qual antes se encontrava a floresta não era fértil, a floresta se mantinha a custa de uma fina camada de serapilheira superficial retro-alimentada. Iniciou-se na região uma política de desmatamento contínuo, e graças ao baixo aproveitamento de unidade de terra, isto demandou cada vez mais terras. Uma vez utilizada como pasto, a terra se tornava desgastada, iniciando o processo de desertificação e erosão do solo na região. Apesar da verificação de que as terras da Amazônia eram impróprias para a pecuária haver se dado logo cedo, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e o Banco da Amazônia S.A. (BASA) continuavam a favorecer a pecuária através de incentivos fiscais, coisa que não ocorria com a agricultura ou exploração racional de recursos silvícolas (Kleinpenning, 1975; Hecht, 1980; Vásquez and Yokomizo, 1986; Fearnside, 1987a, b; Mahar, 1989; Moran,1993). Por isso a pecuária, e não a agricultura ou outra forma sustentável de exploração dos recursos predominou na Amazônia. Em Rondônia, até 1985 havia sido desmatada 25,6% do total de matas nativas para serem transformada em pastos. As terras destinadas ao cultivo de culturas perenes permaneceu estagnada em 3,5% do total. O processo de desmatamento na Amazônia teve duas grandes interrupções: uma em 1973, graças à crise do petróleo, e outra em 1988, graças à recessão econômica e hiperinflação. Estas duas crises econômicas prejudicaram o avanço do desmatamento porque desestimularam a abertura de pastos a custa de deflorestação, já que estas atividades deixaram de receber estímulos e subsídios e não podiam se manter por conta própria (Mahar, 1989; Moran,1993). A necessidade de subsídios para a exploração pecuária é latente: Hecht HW�DO� (1988) realizaram uma simulação de uma fazenda típica de 20.000 hectares recebendo 75% de subsídios. Verificaram que a criação de gado era rentável DSHQDV quando recebia toda a ordem de incentivos fiscais completos. Sem tais incentivos, a atividade não é rentável, e só consegue obter taxas internas positivas através de pastoreio massivo. Como o pastoreio massivo destrói sua viabilidade a longo prazo, os incentivos favoráveis à conversão de florestas em pastos levam ao clareamento de novas áreas de florestas mais do que ao Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 63 investimento na recuperação de áreas já clareadas. Os autores concluem que existem poucas dúvidas de que sem os subsídios as taxas de desmatamento teriam sido muito menores. Moran (1993) ressalta que a criação de gado, acima até mesmo da mineração e da extração de madeiras, é a maior causa de desmatamento na Amazônia brasileira, em especial no sudeste amazônico. Verificamos que na Amazônia peruana a criação de gado não é tão responsável pelo desmatamento, como no caso do Brasil (Hecht e Cockburn, 1989): No Peru, a Amazônia se constitui em cerca de 38% das terras cultiváveis nacionais, e nesta região se encontram 20% das pequenas propriedades do país (Bedoya, 1989). Ademais, estas terras são praticamente de controle das guerrilhas do Sendeiro Luminoso, que estimulando o plantio de coca, estimulam ainda outras práticas agrícolas de subsistência. No lado brasileiro, com o predomínio da pecuária de corte e dos latifúndios, apesar de todo o desgaste de recursos, a situação não favorece a alta densidade demográfica, nem a atividade gera grande quantidade de mão de obra. Basta verificar que na média, é necessário um único vaqueiro para cada 300 hectares (Mahar, 1989). Conforme observa Denevan (1980), a conversão de florestas em pasto não é resultado de pressão da população local, como proclamam muitos eruditos não familiarizados com a real situação; pelo contrário, a grande demanda de pastos para tal atividade, e a insustentabilidade de grandes núcleos populacionais provoca o despovoamento rural e a urbanização da Amazônia (Mougeot e Aragon, 1981). Além da devastação de imensas áreas verdes naturais e a derrubada de florestas para a formação de pastagensque servirão de alimento para o gado, causando a extinção de diversas espécies vegetais e animais (Rifkin, 1992), a criação de gado contribui com a desertificação, erosão e esgotamento do solo: Dados americanos mostram que 85% do total da perda de solo no país se devem ao pastoreio direto (Lappé, 1982; Robbins, 1987). Segundo Durning (1991), para cada libra (45g) de carne ou frango produzido nos EUA, são perdidas 5 libras (2,25 Kg) de solo. Isto significa que até a década de 80, 75% da solo superficial já se havia perdido nos EUA, 4 milhões de acres perdidos para a erosão por ano (Lappé, 1982; Robbins, 1987). Estudos revelam que cerca de 12% do aumento de temperatura da Terra que ocasiona no efeito estufa se deve às emissões, por flatulência, de gás metano pelo gado bovino (Lappé, 1982). Bleker e Bakker (1997), estudando o enriquecimento de nitrogênio na biosfera (poluição) devido a atividades humanas, recomendam a adoção de dietas o mais próximo possível da vegetariana e aproveitamento melhor de alimentos vegetais existentes como forma de reduzir o consumo de nitrogênio total e sua conseqüente dissipação para a atmosfera. Segundo Lappé (1982) (citando a apresentação do agrônomo Georg Borgstom no encontro Anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência), uma dieta nos padrões ocidentais requer 4.200 galões (15.897,05 L.) de água/pessoa/dia, o que inclui fornecer a água que os animais bebem, irrigar os campos que lhes fornecem alimento, processar e lavar suas carcaças e preparar o alimento final. Em contraste, uma dieta à base de vegetais consome apenas 300 galões (1.135,5 L.) de água por pessoa por dia. A produção de uma única libra de filé (45 gramas), precisamente no estado da Califórnia, utiliza 2500 galões (9.462,53 L.) d’água. Isto representa um valor 4 vezes superior ao que se encontraria para produzir 45 gramas de carne de frango, mais de dez vezes o que seria necessário para produzir 45 gramas de tofu (queijo de soja) e cerca de 100 vezes o que seria necessário para se produzir 45 gramas de trigo (Lappé, 1982; Robbins, 1987). Em 1973, o 1HZ�<RUN�7LPH�3RVW� revelou que uma única instalação para matar galinhas nos EUA estava utilizando 378.000.000 de litros d’água por dia, suficiente para abastecer uma cidade com 25.000 habitantes. Obviamente esta água seria subsidiada, o que facilita a manutenção do sistema operando, no entanto a população é quem arca com o preço deste desperdício, seja através de impostos, seja através do desperdício da água propriamente dita. Freqüentemente se esboça uma preocupação com a limitação dos recursos hídricos do planeta, mas o desperdício individual dentro das residências não pode ser comparado com o desperdício que se verifica na produção animal. Por exemplo, a produção de gado consome mais de 80% de toda a água usada nos EUA (Lappé, 1982). Segundo Keith Akers (1983), se todos os EUA adotassem uma dieta sem carne, a irrigação seria desnecessária para a obtenção de alimentos. Em uma pesquisa de Pimentel HW� DO� (1997) sobre a utilização de água para produção de diversos alimentos, os autores verificaram que para a produção de um quilo de batatas, trigo, alfafa, sorgo, milho, arroz e soja eram necessários respectivamente 500, 900, 900, 900, 1100, 1900 e 2000 mL de água. Para a Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 64 produção de um boi, considerando apenas a água utilizada em sua alimentação e para a produção de seu alimento, mas não a água utilizada no processamento de sua carcaça, são necessários 100.000L de água. Um agravante ao desperdício de água: A água utilizada para a produção e processamento de carnes, assim como o estrume animal, tendem a ser despejados nos cursos d’água sem tratamento prévio. Lappé (1982) e Robbins (1987) citam que as 12.000 libras (5.400 Kg) de excrementos humanos lançados nos esgotos americanos a cada segundo se constituem uma poluição inevitável em nossa sociedade; no entanto as 250 milhões de libras (112,5 milhões de Kg) emitidas a cada segundo pelo gado americano, com o agravante de não sofrer qualquer tratamento, podem ser perfeitamente evitadas diminuindo-se energicamente a atividade pecuária. Estes excrementos animais são muito pouco aproveitados como fertilizantes; apenas nos sistemas de confinamento, são 1 bilhão de toneladas não recicladas anualmente (Lappé, 1982; Robbins, 1987). Seu melhor aproveitamento, nesta quantidade, é improvável. Mesmo a construção de tanques de tratamento de água nos matadouros e curtumes se mostra inviável, dado o grande volume de água que dali escoa. O esterco e água de processamento das carcaças causa eutrofização dos lagos e cursos d’água, gerando proliferação excessiva de algas e bactérias, e consumo excessivo de oxigênio dissolvido na água. Desta forma ocorre grande mortalidade de peixes e outras formas de vida aquática.(Durning, 1991) &RQFOXV}HV O mundo, e isto inclui os países mais pobres, está atualmente inundado de grãos, mas a maior parte de sua população não pode dispor deles (Lappé e Collins, 1977); isto devido a uma enorme diferença de riquezas, rendimentos e forças, além de níveis diferentes de desenvolvimento nacional, resultando na exploração de países mais pobres pelo comércio, investimentos e cuidados estrangeiros. Na política neo- colonialista, países em desenvolvimento dependem da economia dos países desenvolvidos; os países desenvolvidos também dependem da economia dos países em desenvolvimento, mas podem influenciá-las a seu favor, seja instituindo ditaduras, seja provocando intervenções militares, ou meramente chantageando-os por intermédio do Fundo Monetário Internacional. O vegetarianismo voluntário encontra adesão, em especial nos países desenvolvidos, de pessoas que não concordam com esta política. A atitude vegetariana ainda não representa nenhum impacto econômico significativo sobre esta política, principalmente devido à ainda pequena, porém crescente, quantidade de vegetarianos dentro destas populações, no entanto, o boicote aos produtos de origem animal tenderão a ser mais significativos conforme aumentem as proporções de vegetarianos. Conforme foi citado, apenas a abstinência de carne não significará o fim deste problema, mas sim toda uma mudança no comportamento consumista de populações melhor abastadas. O fato de dever a criação de gado dispor de maiores recursos do que a agricultura e de não ser a carne verdadeiramente uma necessidade para o gênero humano, determina o hábito alimentar de pessoas conscientes e sensíveis a esta problemática. Apesar� de não ser apenas isto suficiente para resolver os problemas econômicos e sociais, o vegetarianismo é um grande passo na direção correta. Também na busca de uma sociedade produtivamente sustentável, e ecologicamente correta, o vegetarianismo é necessário: Os desmatamentos, a extinção das espécies, o desperdício de energia, de água, a poluição atmosférica e dos cursos d’água estão todos relacionados com a posição de consumidor secundário que o homem tem assumido na pirâmide de níveis tróficos. A recomendação pelo vegetarianismo pode a princípio parecer uma atitude radical e apaixonada, mas antes, se constitui em uma proposta sensata e com vistas a atingir o equilíbrio entre recursos e necessidades. Obviamente a produção vegetal também se constitui em atividade que degrada em determinada escala os recursos da natureza, mas este é o preço que se deve pagar em troca de seus benefícios; de forma alguma os recursos consumidos pela pecuária podem ser comparados a isto, ainda que levando em conta seus possíveis benefícios. Segundo a %HUQH� 'HFODUDWLRQ� *URXS, Suíça, o consumidor deve julgar um produto segundo três critérios: 1- Saúde: Se o produto é prejudicial à sua saúde ou a daqueles que o produziram; 2- Ecologia: Se para sua obtenção excessivos recursos não renováveis foram usados, ou muita poluição ambientalfoi produzida; 3- Justiça: O produtor recebe um retorno decente por seu trabalho. Se cada consumidor procurar Cadernos de Debate, Vol. IX, 2002 ____________________________________________________________________________________________ 65 entender que aquele produto que se encontra disponível para a compra não surgiu simplesmente na prateleira do supermercado, mas que passou por todo um processo até aquele momento; se o consumidor for consciente deste processo, isto por si só significará um grande avanço. É compreensível que, sendo o consumo de carne uma instituição bem sedimentada dentro de nossa sociedade, e em especial na América Latina (Scudder, 1981), onde predominam países de herança ibérica, a adoção de hábitos alimentares mais próximos do vegetariano deve ser visto com indiferença e até mesmo com desprezo. Some-se a isto que cadeias de lanchonete e interesses privados tem determinado há tempos os gostos alimentares da população, segundo seus interesses, e o apelo em favor do consumo da carne é latente em toda a sociedade. A importância de uma campanha contra esta tendência não pode ser ignorada. A proposta por um meio termo, ou seja, uma exploração pecuária “mais racional”, não passa de ilusória, pois esbarra em conceitos sustentáveis básicos: Se o gado subsistir a pasto, inevitavelmente será causa de destruição de biodiversidade à sua volta; e se subsistir a grãos, inevitavelmente o fará a custa de muitos recursos, que melhor aproveitados seriam se aplicados diretamente na população humana. De toda forma, uma “exploração pecuária racional” não pode alterar o fato de que o gado não pode transferir ao homem cada unidade de energia que obteve do vegetal. Apenas alterando-se leis naturais básicas, poderia-se obter uma pecuária de alguma forma “sustentável”. O boicote vegetariano esbarra, todavia, nos interesses da indústria de exploração pecuária e nos OREELHV ruralistas, na campanha por uma necessidade do consumo de produtos de origem animal e no próprio costume alimentar das populações, que estão habituadas a apenas enxergar o produto final, mas não todo o processo de sua obtenção. Estes todos são impedimentos à melhor distribuição de recursos, ao equilíbrio do sistema monetário e à conservação da biodiversidade. Paralelo à difusão de práticas de vida vegetarianas ou mais próximas disto, outras alterações de ordem global devem ser conduzidas com vistas a se atingir a sustentabilidade: 1- Modificações econômicas que retirem o subsídio aos produtos pecuários e obriguem o consumidor destes a pagar por seu real preço (neste caso, o custo emergético para sua produção poderia ser utilizado como indicativo do valor agregado); 2- Educação e conscientização da população para compreensão da problemática; 3- Enfraquecimento do OREE\ da bancada ruralista, pelo voto direto; 4- Reforma agrária, com incentivos ao pequeno produtor e proliferação de pequenas propriedades de labor familiar; 5- Políticas baseadas na produção, e sem favorecimentos de determinados grupos; 6- Incentivos fiscais para a conservação de ecossistemas de grande biodiversidade; 7- Estímulos à exploração silvícola sem degradação; estímulo à exploração de alimentos vegetais regionais, e educação da população pelo seu melhor aproveitamento. 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