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Direito Civil I Pessoas e Bens

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE DIREITO
ANDRÉ PAZ – TIA: 4161025-3
ANDRÉ VINÍCIUS OLIVEIRA DA PAZ
DIREITO CIVIL
2016
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
CONCEITO E DIVISÃO DO DIREITO
Conceito de Direito
O homem é um ser social. A sociabilidade necessita de regras de conduta para sua harmonia. O direito tem como fim a determinação de regras de conduta que harmonizam e permitam que os homens vivam em sociedade.
Direito é o conjunto de normas gerais e positivas, que regula a vida social. Estas normas equilibram a coexistência social.
Distinção entre o Direito e a Moral
A convivência em sociedade exige a observância não somente de normas jurídicas, mas também aquelas que pautem eticamente a vida social. Ambas as regras têm em comum a normatização comportamental humana.
A principal diferença entre regra jurídica e regra moral é que aquela resulta em sanção efetiva, caso inobservada, enquanto esta acarreta em consciência e reprovação social. Além disso, o Direito atua no foro exterior (regulação dos indivíduos) e a Moral atua no foro interior (consciência). 
Direito Positivo e Direito Natural
Direito positivo é o ordenamento jurídico em vigor num determinado país e numa determinada época (Vigência, Espaço e Tempo). É um conjunto de princípios que pautam a vida social em um dado contexto. 
Direito natural é uma ideia abstrata de direito que corresponde a uma justiça suprema, universal e idealizada (ordenamento ideal).
Direito Objetivo e Direito Subjetivo
Direito objetivo é o conjunto de normas impostas pelo Estado, cuja inobservância resulta em sanção institucionalizada. Norma Agendi (Norma de Agir) estabelece os padrões de comportamentos para a harmonia social.
Direito subjetivo se refere a Facultas Agendi – a possibilidade de agir de acordo com a norma prevista no direito objetivo, a depender da vontade do titular do direito. Ex.: Direito de propriedade de usar, gozar e dispor de algo.
Direito Público e Direito Privado
Direito público regula as relações dos Estados soberanos entre si, ou as do Estado com seus cidadãos. Sua principal característica é o fato da prevalência de interesses públicos gerais.
Direito privado regula as relações entre os indivíduos como tais (particulares), nas quais predomina o interesse de ordem particular. É caracterizado por normas que visam atender imediatamente o interesse dos indivíduos em determinada relação jurídica.
DIREITO CIVIL
O conceito de Direito Civil
Direito civil é o direito que rege as relações entre os particulares. É um ramo do direito privado. 
Toda a vida social está impregnada com o Direito Civil (relações pessoais, comerciais, familiares...).
Nesse ramo do direito, estudam-se as relações pessoais e patrimoniais.
Histórico do Direito Civil
A noção de direito civil como direito privado tem início no direito romano. Em princípio, o direito civil romano era um só, tutelando as relações entre os particulares sem diferenciação. Posteriormente, houve a distinção entre jus civile (aplicado os súditos romanos dentro das fronteiras do império), jus gentium (aplicado aos estrangeiros e às relações entre romanos e estrangeiros) e jus naturale (ideal jurídico para qual deveria evoluir os demais).
O direito germânico tinha como característica o caráter social sobre a vontade dos indivíduos. O direito canônico demonstrava preocupações éticas e idealistas, responsáveis pelo processo de espiritualização do direito. 
CC 2002 (Princípios básicos)
O novo Código Civil de 2002 apresenta três princípios básicos que o estruturam e o norteiam para sua plena eficácia. Estes têm como finalidade a redução do ideal individualista e patrimonialista do antigo Código Civil de 1916.
O princípio da socialidade refere-se à prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem a perda do valor fundamental da pessoa humana. 
A eticidade funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores, como a equidade, boa-fé e probidade, por exemplo. Valores éticos incorporados aos valores técnicos no direito positivo. 
O princípio da operabilidade afirma que o direito é feito para ser efetivado e executado. Sua derivação é o princípio da concretude, que confere maiores poderes hermenêuticos (interpretação) ao operador do direito, que não deve legislar/ julgar em abstrato.
LIVRO I – DAS PESSOAS
TÍTULO 1 – DAS PESSOAS NATURAIS
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
 Nota introdutória
O CC disciplina as relações jurídicas que nascem da vida em sociedade e se formam entre pessoas. São as relações sociais entre pessoas que produzem efeitos no âmbito do direito.
 Personalidade jurídica
O conceito de personalidade jurídica está diretamente ligado ao de pessoa. Pessoa é o sujeito de direito em plenitude, capaz de adquirir direitos e contrair deveres na ordem jurídica. Todo aquele nascido com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade (CC, art. 2º).
Personalidade pode ser definida como uma aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres, sendo um pressuposto para a inserção e atuação de pessoa na ordem civil. Revela-se como condição preliminar de todos os direitos e deveres.
Ser humano
		Física / Natural 
Pessoa 
	Entidade / Coletividade (Sociedade ou Fundação) de pessoas naturais, com finalidades econômicas ou sociais.
		Jurídica 
 Sujeito de direito e entes não personalizados
Sujeitos de direito são todos os seres e entes capazes de adquirir direitos e contrair deveres na ordem jurídica. Nesse sentido, sujeito de direito é mais amplo que o conceito de pessoa – há sujeitos de direito que não são pessoas naturais ou jurídicas, mas não há direito sem sujeito. Portanto, nem todo sujeito de direito é uma pessoa. 
Os entes não personificados possuem parte de capacidade para aquisição, exercício e defesa de direitos, mesmo sem personalidade. 
Pessoa é o sujeito de direito dotado de capacidade plena ou ilimitada na ordem civil, pois pode adquirir direitos e contrair deveres. Entes não personificados são sujeitos de direito com capacidade civil limitada.
Exemplo: 
Pessoa x Nascituro (CC, art. 2º)
Pessoa é o ser humano nascido com vida. Sujeito de direito personalizado;
Nascituro é o ser humano não nascido, ainda no ventre materno. Sujeito de direito não personalizado.
São exemplos de sujeitos de direito não personalizados os seres humanos concebidos ou não, mas com capacidade civil limitada. Exemplos:
Nascituro (CC, art. 2º);
Embriões excedentários, concebidos in vitro e ainda não implantados no útero da mãe, congelados por até três anos da concepção (CC, art. 1597º, IV);
Prole eventual, destinatária de sucessão testemunhal (CC, art. 1799º, I);
Futuras gerações humanas, como titulares de preservação do meio ambiente (CF, art. 225).
 Nascituro
Nascituro é o ser humano que se desenvolve no ventre materno. Sua concepção é entendida como aquela que permite o desenvolvimento do embrião. Sua existência tem início com a implantação uterina efetiva, por meios naturais ou artificiais e se encerra quando nasce, seja com vida ou morto (natimorto). É um sujeito de direito não personalizado (CC, art. 2º). 
Embrião é o ser humano durante as primeiras semanas de seu desenvolvimento intrauterino, seja por meio natural ou artificial. O CC não define a partir de quando se considera ser embrião, por isso adota os conceitos utilizados pela medicina. A resolução n. 1.358/92, do Conselho Federal de Medicina, difere embrião de pré-embrião. Este é considerado como tal até catorze dias após a fecundação. Após esse período, passa a ser considerado como embrião. 
O nascituro tem a tutela dos seus direitos, que lhe serão transferidos ao nascer com vida. É sujeito de direito expectativo, que incide no início da gravidez e termina no parto do nascituro, nascendo com vida ou morto. 
 Começo da personalidade natural
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida” (CC, art. 2º).
De acordo com o sistema adotado, tem-se o nascimento com
vida como o marco inicial da personalidade. Portanto, o nascimento é um fato jurídico (fato não voluntário ou natural) – todo fato capaz de gerar, transformar, modificar ou extinguir direitos. 
Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno, mesmo que não tenha sido cortado o cordão umbilical. O essencial é que se desfaça a unidade biológica entre mãe e filho, constituindo, então, dois corpos, com vida orgânica própria.
Para ser considerado nascimento com vida, é obrigatório que haja respiração. Se respirou, viveu, e logo em seguida a criança morreu, é considerado nascimento com vida.
Perante o nosso direito, qualquer criatura que venha a nascer com vida será uma pessoa, independente de suas anomalias e deformidades.
No caso da criança perecer logo após o nascimento, para saber se houve nascimento com vida, é realizado o exame clínico denominado docimasia hidrostática de GALENO. Esse diagnóstico baseia-se na avaliação dos pulmões do feto. Os pulmões são imersos em água. Se afundarem, não houve nascimento com vida. Se sobrenadarem, o feto inflou os pulmões de ar, portanto, houve respiração e deduz-se que houve nascimento com vida.
Três teorias procuram explicar e justificar a situação jurídica do nascituro. São elas:
Natalista: afirma que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida;
Da personalidade condicional: sustenta que o nascituro é pessoa condicional, pois a aquisição de personalidade depende do nascimento com vida;
Concepcionista: admite que o nascituro adquira personalidade antes do nascimento, ou seja, desde a concepção, ressalvados apenas os direitos patrimoniais. 
 Capacidade jurídica e legitimação
“Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”, (CC, art. 1º).
O art. 1º do atual CC relaciona o conceito de capacidade com o conceito de personalidade. Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos.
Capacidade é a medida da personalidade, pois para uns ela é plena e, para outros, limitada. Todos os seres humanos nascidos com vida adquirem capacidade de direito ou de gozo. Só não há capacidade de direito onde falta personalidade, como no caso do nascituro, por exemplo.
Nem todas as pessoas têm a capacidade de fato ou de exercício ou de ação, que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil.
Quem possui ambas as capacidades, possui capacidade plena. Quem só ostenta a capacidade de direito, sem a capacidade de fato, tem capacidade limitada e necessita de outrem que substitua ou complete sua vontade. São chamados de “incapazes”.
Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão (capacidade especial) para a prática de determinados atos jurídicos. A falta de legitimação alcança pessoas impedidas de praticar certos atos jurídicos, mesmo sem serem incapazes.
 Conceito e espécies
Os incapazes são as pessoas portadoras apenas da capacidade de direito. A lei tem o intuito de proteger os incapazes, não permitindo o exercício pessoal de direitos, exigindo-lhes que sejam representados ou assistidos nos atos jurídicos em geral.
No direito brasileiro não existe incapacidade de direito, pois todos são capazes de adquirir direitos ao nascerem com vida (CC, art. 1º). Há, portanto, somente a incapacidade de fato. Incapacidade é a restrição legal aos atos da vida civil imposta pela lei aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção. 
CC, art. 3º: menciona os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente seus direitos e que devem ser representados, sob pena de nulidade do ato (qualidade do ato que, visceralmente nulo por omissão de um pressuposto ou de uma prevenção legal, jamais poderá adquirir força ou valor). 
CC, art. 4º: os relativamente incapazes, dotados de algum discernimento e por isso são autorizados a participar dos atos jurídicos de seu interesse, desde que sejam assistidos pelos seus representantes legais, sob pena de anulabilidade (qualidade do ato que se praticou com vício, falta de irregularidade, ou defeito que pode ser suprido).
 Incapacidade absoluta: os menores de 16 anos
A incapacidade absoluta acarreta na proibição total de exercício, por si só, do direito. O ato só poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. A inobservância dessa regra provoca a nulidade do ato, ou seja, o ato perde valor.
A Lei n. 13.146/2015, Estatuto da Pessoa com Deficiência, modificou os artigos 3º e 4º do atual CC.
CC, art. 3o: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos”.
Para a referida lei o deficiente tem uma qualidade que os difere das demais pessoas, mas não uma doença. Por essa razão é excluído do rol dos incapazes e se equipara à pessoa capaz. O deficiente agora é considerado pessoa plenamente capaz.
CC, art. 6º: “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa”. 
CC, art. 84º: “A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas”.
§ 1º: “Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela (§ 3º: medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades de cada caso, e durará o menor tempo possível), conforme a lei”.
 Incapacidade relativa
A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique os atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade do ato.
CC, art. 4º:  “São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:            
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos. 
Parágrafo único.  A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.”
Os relativamente incapazes estão entre a capacidade plena e a incapacidade total.
Os maiores de 16 e menores de 18 anos
O ordenamento jurídico não despreza mais a sua vontade, porém necessitam de um assistente para completar sua vontade. Ambos (relativamente incapaz e seu assistente) participam pessoalmente nas relações jurídicas envolvendo o relativamente incapaz. Em uma ação judicial, ambos devem ser citados. 
Os maiores de 16 anos, já tendo discernimento suficiente para manifestar sua vontade, devem proceder de forma correta para merecê-la. 
CC, art. 180º: ”O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”. Proteção do menor x Repelir a má fé do menor (Inadmissibilidade de prevalência de malícia).
CC, art. 105: “A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio...” A incapacidade relativa só pode ser arguida pelo próprio incapaz ou pelo seu representante. (Incapacidade relativa como exceção pessoal).
CC, art. 181: Impossibilidade de reclamar a devolução da importância paga ao incapaz se comprovado que este não foi beneficiado em virtude do ato invalidado.
CC, art. 928: Princípio de responsabilidade subsidiária e mitigada pelo incapaz. O incapaz responde por seus atos se seus responsáveis não tiverem obrigação/ recursos para arcar com os prejuízos causados pelo relativamente incapaz. 
O CC reduz o limite da menoridade, de 21 para 18 anos completos, permitindo que os pais emancipem os filhos que completarem 16 anos. No CC, art. 928º, preceitua que o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Os ébrios habituais e os viciados em tóxico
Somente os alcóolatras e os toxicômanos se enquadram no inciso II do art. 4º. Os usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente sua vontade ajustam-se no inciso III do mesmo artigo. Precisam ser interditados pelo
juiz.
Se essas pessoas sofrerem redução da capacidade de entendimento e autodeterminação, poderão ser, excepcionalmente, colocados sob curatela pelo juiz. O juiz define os limites da curatela.
Os que, por causa transitória ou permanente, não puderam exprimir sua vontade
A expressão não abrange as pessoas portadoras de doença ou deficiência mental permanente, mas as que não puderam exprimir totalmente sua vontade por causa transitória ou permanente, em virtude de alguma patologia. 
Portanto, é anulável o ato jurídico praticado pela pessoa embriagada, mas de condição psíquica normal, pois não se encontram as condições perfeitas para exprimir sua vontade.
Os pródigos
É indivíduo que dissipa o seu patrimônio desvairadamente. Por possuir um desvio de personalidade, corre o risco de ir à miséria, por dissipar seu patrimônio. Este desvio está comumente ligado à prática de jogos e ao alcoolismo. O pródigo só será declarado relativamente incapaz após receber uma sentença de interdição. 
A interdição do pródigo só interfere em atos de disposição e oneração do seu patrimônio. Tais atos dependem da assistência do curador. Sem essa assistência, serão anuláveis. 
Curatela de pessoas capazes (deficientes) e incapazes
O Estatuto da Pessoa com Deficiência de 2015 prevê que a curatela é uma medida extraordinária de proteção ao deficiente, proporcional às circunstâncias e às necessidades de cada caso, conforme a lei. Também estão sujeitos à curatela os relativamente incapazes. 
Para procedimento de interdição é obrigatório o exame pessoal deste, em audiência, interrogado pelo juiz, além da nomeação do perito médico para proceder ao exame de interdição. É nulo o processo em que não se realizou o referido interrogatório ou não foi feito o exame parcial. 
É possível pronunciar-se anulabilidade do negócio realizado pelo relativamente incapaz ou deficiente, mesmo antes da declaração judicial de sua interdição, desde que provada sua incapacidade ou deficiência. Segundo o STF: “O laudo em que se fundar a sentença de interdição pode esclarecer o ponto, isto é, afirmar que a incapacidade mental do interdito já existia em período anterior, e o juiz de mérito da questão pode basear-se nisso para o fim de anular o ato jurídico praticado nesse período pelo interdito. Trata-se de interpretação de um laudo, peça de prova, a respeito de cuja valorização o juiz forma livre convencimento”.
A situação jurídica dos índios
O atual Código Civil mudou a denominação dos habitantes da selva de silvícolas para indígenas, sintonizando-se com a Constituição Federal que reconhece sua organização social, cultura e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitas todos os seus bens. 
CC, art. 4º: “ a capacidade dos índios será regulada por legislação especial.” A Lei 6.001/1973 regula a situação jurídica dos indígenas no país. Esta considera nulos os negócios celebrados entre um índio e pessoa estranha à comunidade indígena, sem a participação da Funai, entretanto declara válido tal ato se o índio revelar consciência e conhecimento do ato praticado e, ao mesmo tempo, tal ato não o prejudicar. 
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
 Conceito
Certas prerrogativas individuais passaram a ser reconhecidas pela doutrina e pelo ordenamento jurídico. Houve a transformação da primazia patrimonial pela primazia da pessoa. São direitos inalienáveis e que merecem a proteção legal.
A concepção dos direitos da personalidade apoia-se na ideia de estes são inerentes à pessoa humana e a ela ligados de maneira perpétua e permanente. 
São direitos naturais reconhecidos a partir da Declaração de Direitos do Homem de 1789 e de 1948. Na CF/1988 têm expressamente menções nos art. 3º (III – primazia da pessoa) e 5º (X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação). É um marco importante da concepção repersonalizante do direito. 
Os direitos fundamentais têm herança na Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). É comumente dividido em três gerações, porém duas outras gerações também são cogitadas na doutrina.
1ª: Liberdade;
2ª: Igualdade (CF, art. 6 – aspectos sociais);
3ª: Fraternidade (Solidariedade, aspectos coletivos e pacificação social);
4ª: Inovações tecnológicas (patrimônio genético);
5ª: Realidade virtual.
Direitos da personalidade são direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual. 
Integridade física: vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto;
Integridade intelectual: liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária;
Integridade moral: honra, recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoa, familiar e social.
 Fundamentos da personalidade
Os direitos da personalidade dividem-se em duas categorias: os inatos (direito à vida e à integridade física e moral) e os adquiridos (decorrem do status individual e estão na extensão do direito positivo).
 Características dos direitos da personalidade
CC, art. 11: “com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
CC, art. 12: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”.
Intransmissibilidade e irrenunciabilidade
Essas características acarretam a indisponibilidade dos direitos naturais. Seus titulares não podem deles dispor, transmiti-los a terceiros, renunciá-los ou abandoná-los, pois nascem e se extinguem com eles, dos quais são inseparáveis. 
Alguns atributos da personalidade admitem a cessão de seu uso. O direito à imagem pode ser negociado comercialmente, assim como obras de criação intelectual. Órgãos do corpo humano podem ser cedidos gratuitamente para fins terapêuticos e altruísticos. 
Pode-se concluir que os direitos da personalidade podem sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. A indisponibilidade dos direitos da personalidade é relativa.
O direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima (CC, art. 943).
Absolutismo
O caráter absoluto dos direitos da personalidade é consequência de sua oponibilidade (funcionar em oposição) erga omnes (vale para todos). São de caráter geral, pois é inerente a toda pessoa humana.
Não limitação
É ilimitado o nº de direitos da personalidade. Mesmo o Código Civil expressando somente nos artigos 11 a 21, trata-se de um rol exemplificativo. Existe uma série de outros direitos que não se limitam aos artigos 11 a 21, como o direito a alimentos, ao meio ambiente ecológico, à velhice digna, ao culto religioso, à liberdade de pensamento etc.
Imprescritibilidade
Os direitos da personalidade são imprescritíveis, ou seja, não se extinguem pelo uso e pelo decurso do tempo, nem pela inércia da pretensão de defendê-los. 
Por ter caráter patrimonial, o direito à reparação por dano moral tem prazo prescricional. O direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e transmite-se aos sucessores da vítima.
Direitos da personalidade 					Imprescritíveis
Reparação por violação dos direitos da personalidade	 		Prescritível
Impenhorabilidade
Os direitos da personalidade não podem ser penhorados, pois a constrição é o ato inicial da venda forçada determinada pelo juiz para satisfazer o crédito do exequente. Os reflexos patrimoniais dos referidos direitos podem ser penhorados (ex.: a indenização recebida por violação dos direitos da personalidade pode ser penhorada).
Não sujeição à desapropriação
Os direitos da personalidade não podem ser retirados da pessoa contra sua vontade, nem seu exercício sofrer limitação voluntária. 
Vitaliciedade
Os direitos da personalidade inatos são adquiridos no instante da concepção e acompanham a pessoa até sua morte. São vitalícios. Mesmo após a morte, alguns direitos ainda são resguardados (direitos “post mortem”).
 Disciplina no Código Civil
O Código Civil de 2002 reserva um capítulo aos direitos da personalidade, visando à sua salvaguarda, sob múltiplos aspectos. 
 Da proteção aos direitos da personalidade
O respeito à dignidade humana se encontra em primeiro plano no ordenamento jurídico brasileiro a respeito dos direitos da personalidade. A intimidade, a honra, a imagem e a vida privada são as especificações de maiores relevância. 
Os direitos da personalidade destinam-se a resguardar a dignidade da pessoa humana, por meio de medidas judiciais adequadas, que devem ser ajuizadas pelo ofendido ou pelo lesado indireto. 
 Os atos de disposição do próprio corpo
Vide os artigos 13 e 14 do Código Civil:
CC, art. 13: Ninguém pode dispor do próprio corpo, resultando em dano à integridade física, salvo por exigência médica. Existe lei especial para o caso de transplantes.
O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo CFM, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil (IV Jornada de Direito Civil, Enunciado 276).
CC, art. 14: É permitida a doação de órgãos após a morte, desde que a pessoa que morreu expresse sua autorização em vida, ou autorização do cônjuge ou de parente maior da linha reta ou colateral até o 2º grau. (Princípio do consenso afirmativo, tendo direito o doador a de revogar livremente sua vontade, em vida). Se tratando do doador incapaz, deve haver autorização expressa de ambos os pais ou representante legal. Se o corpo da pessoa morta não for identificado, está proibida a remoção de órgãos e tecidos.
Só é permitida a doação de órgãos duplos (rins), partes regeneráveis de órgão (fígado) ou tecido, cuja retirada não prejudique o organismo do doador, nem lhe provoque mutilação ou deformação. 
A manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares. Desse modo, se, em vida, a pessoa se manifestou expressamente contrária à doação, sua vontade prevalecerá, mesmo se esta se opuser à vontade de seus familiares. 
 O tratamento médico de risco
Vide o artigo 15 do Código Civil:
CC, art. 15: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”.
A regra obriga os médicos a pedirem autorização ao paciente para realizar os procedimentos médicos, nos casos mais graves. A sua finalidade é a proteção da inviolabilidade do corpo humano.
O médico deve detalhar as informações e o tratamento a ser observado para que o paciente autorize os procedimentos médicos com conhecimento dos riscos existentes. É o princípio da transparência e do dever de informar, previstos no CDC.
Na impossibilidade do doente manifestar sua vontade, há a necessidade de autorização escrita do cônjuge ou de parente maior da linha reta ou colateral de até 2º grau. 
Se não houver tempo hábil para ouvir o paciente ou tomar essas providências, o médico está autorizado a realizar qualquer procedimento no caso de iminente perigo de vida, independente de autorização, eximindo-se de quaisquer responsabilidades por não tê-la obtido (CP, art. 146, §3º, I).
Haverá responsabilidade somente se a conduta médica mostrar-se inadequada, fruto de imperícia, resultando em dano ou agravamento no quadro do paciente. 
Ninguém pode ser compelido a submeter-se a uma narcoanálise ou sujeitar-se a uma perícia hematológica. 
CC, art. 232: “A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame”.
Os artigos 46 e 56 do Código de Ética Médica autorizam os médicos a realizar transfusão de sangue em seus pacientes, independentemente do consentimento, se houver perigo iminente de vida. A convicção religiosa só deve ser considerada se tal perigo não for iminente e houver outros meios de salvar a vida do doente. 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL
 Modos de individualização
A sociabilidade resulta em relações jurídicas, negociais e familiares. Portanto, é fundamental que os indivíduos dessas relações sejam individualizados, identificados, como titulares de direitos e deveres na ordem civil. Essa individualização, além do interesse individual, também é de interesse do Estado e terceiros, para maior segurança dos negócios e da convivência familiar e social.
Os principais elementos individualizadores da pessoa natural são: o nome (designação que a distingue das demais pessoas e a identifica no seio da sociedade), o estado (indica a sua posição na família e na sociedade política) e o domicílio (sede jurídica da pessoa).
 Nome
O nome é o elemento individualizador da pessoa natural. Integra a personalidade e indica a procedência familiar da pessoa. A natureza jurídica do nome pertence ao direito da personalidade. 
É a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa identifica-se no seio da família e da sociedade. 
O aspecto público decorre do fato do Estado ter interesse na correta identificação das pessoas na sociedade pelo nome, disciplinado seu uso na Lei de Registros Públicos (Lei nº 6015/73). Fica proibida a alteração do nome (exceção no art. 58).
O aspecto individual consiste no direito ao nome, no poder reconhecido ao seu possuidor e de por ele designar-se e de reprimir abusos cometidos por terceiros. 
CC, art. 16: Toda pessoa tem direito ao nome. Nome = prenome + sobrenome (patronímico). Esse direito abrange o de usá-lo e de defendê-lo contra usurpação (direito autoral) e contra exposição ao ridículo. 
CC, art. 17: Direito à honra como direito conexo ao direito ao nome. A pessoa tem autorização de usar e defender seu nome de abusos de terceiros e exposição ao desprezo público. A reparação pela ofensa ao nome é pecuniária, mas há casos em que a restauração se dá pelo desagravo. 
As ações relativas ao uso do nome têm dupla finalidade: retificação (para que seja preservado o verdadeiro) e contestação (para que terceiro não use o nome, ou não exponha ao desprezo público).
CC, art. 18: Uso do nome alheio em propaganda comercial somente com autorização.
CC, art. 19: Mesma proteção do nome ao pseudônimo para atividades lícitas. 
Prenome é o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir membros da mesma família. Pode ser simples ou composto. Irmãos não podem ter o mesmo prenome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção. O prenome pode ser escolhido livremente pelos pais, desde que não exponha o filho ao ridículo. 
Sobrenome (patronímico ou apelido familiar) é sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando sua filiação ou estirpe. Não pode ser escolhido pelos pais. 
O princípio da imutabilidade do nome é a regra. Ele confere maior segurança jurídica.
Exceções de imutabilidade:
Retificação de prenome (caso evidente de erro gráfico e exposição ao ridículo);
O nome pode ser alterado se violar outros direitos da personalidade (não está expresso em lei);
Alteração do prenome no caso da mudança de sexo (IV Jornada de Direito Civil – Enunciado 276);
Proteção às vítimas e testemunhas, no caso de ameaça ou coação por colaboração na investigação de crime apurado (Lei 9.807/99);
Homonímia, isto é, pessoas com o mesmo nome;
Adoção durante a menoridade;
Casamento;
Divórcio.
 Estado
A palavra “estado” provém do latim e era empregada pelos romanos para designar os vários predicados integrantes da personalidade. É o modo particular de existir e é uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa.
Aspectos
As doutrinas distinguem o estado das pessoas em três ordens: 
Estado individual: modo de ser da pessoa (idade,
sexo, cor, altura, saúde (sano ou insano e incapaz)). Aspectos da constituição orgânica que exercem influência sobre a capacidade civil;
Estado familiar: indica sua situação na família e quanto ao parentesco. O estado de companheiro (união estável) é reconhecido pela CF. Trata-se da qualidade jurídica que não se pode negar a condição de estado familiar. 
Estado político: qualidade que advém da posição do indivíduo na sociedade política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro (possui os mesmos direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da lei). A distinção entre nacionalidade e cidadania se dá pelo fato que o cidadão está reservado à qualidade de possuir e exercer direitos políticos. Cidadania está ligado ao conceito de eleitor. 
Características
O estado está intimamente ligado à pessoa e, por isso, constitui sua imagem jurídica. 
Características ou atributos do estado:
Indivisibilidade: o estado é uno e indivisível. Não é possível possuir mais de um estado concomitantemente. A obtenção de dupla ou tripla nacionalidade é exceção à regra.
Indisponibilidade: o estado é inalienável e irrenunciável. Assim como nossa personalidade, o estado constitui relação fora de comércio. Isso não impede sua mutação, que se dá por reconhecimento legal. 
Imprescritibilidade: não se adquire nem se perde o estado pelo decurso do tempo. Por outro lado, não se adquire o estado pela usucapião. Por ser elemento integrante da personalidade, o estado nasce com a pessoa e com ela desaparece. As ações do estado são imprescritíveis. 
O estado civil recebe proteção jurídica de ações do estado, que criam, modificam e extinguem um estado, constituindo um novo, requerendo sempre intervenção estatal. As ações do estado são intransmissíveis, personalíssimas e imprescritíveis. Exemplos: ação de interdição, divórcio, ação de investigação de paternidade etc. 
 Domicílio
Pelo fato das relações jurídicas se formarem entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou por determinação legal, onde possam ser encontradas para responderem por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter um lugar certo de onde irradiem sua atividade jurídica. 
Domicílio é sinônimo de foro. Seu conhecimento é importante para a determinação do foro competente. O foro comum é o do domicílio do réu (CPC, art. 46). Este é o primeiro critério para a determinação da competência.
Domicílio da pessoa natural
O NCC trata do domicílio da pessoa natural e da pessoa jurídica no Título III do Livro I da Parte Geral
Conceito
O domicílio da pessoa natural é o local onde o indivíduo responde por suas obrigações, ou o local em que estabelece a sede principal de sua residência e de seus negócios. O domicílio é a sede jurídica da pessoa, onde ela pratica seus atos e negócios jurídicos. 
Moradia é pertinente à família, ao lar, ao ponto onde o indivíduo se recolhe para a vida íntima e repouso. Centro de atividade é relativo à vida externa, às relações sociais e ao desenvolvimento das faculdades de trabalho do indivíduo.
CC, art. 70: “O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”.
CC, art. 72: “É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida”. Ideia concernente à atividade externa da pessoa.
O conceito de domicílio se compõe de dois elementos: objetivo (fixação da pessoa em dado lugar; a fixação da residência; fato material) e subjetivo (caráter psicológico, consistente do ânimo definitivo, ou na intenção, de aí se fixar permanentemente). A conjunção desses dois elementos forma o domicílio civil.
Morada ou habitação é o local em que a pessoa ocupa esporadicamente, sem o ânimo definitivo de nele permanecer. É mera relação de fato (ex.: casa de praia ou de campo).
Residência é apenas um elemento componente do domicílio, que é mais amplo. Residência é um estado de fato, indicando o estabelecimento do indivíduo em determinado lugar. É o local em que o indivíduo habita com ânimo definitivo, mesmo com ausência eventual.
Domicílio é a sede jurídica da pessoa. É o local em que a pessoa responde por seus atos da vida civil. É uma situação jurídica.
Uma pessoa pode ter um só domicílio e mais de uma residência. Pode ter também mais de um domicílio. O Código Civil Brasileiro admite a pluralidade domiciliar.
CC, art. 71: “Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas”. A pluralidade domiciliar é admitida, bastando que a pessoa natural tenha diversas residências e nelas viva alternadamente.
Dessa forma, se uma pessoa morar com sua família em São Paulo e tiver escritórios em Guarulhos e São Bernardo, onde comparece em dias alternados, qualquer um desses três lugares poderá ser admitido como seu domicílio (CPC, art. 46, §1º). 
A teoria do domicílio aparente, ou ocasional, admite que uma pessoa possa ter domicílio sem possuir residência determinada, ou em que esta seja de difícil identificação (ex.: filme Sem Escalas, com George Clooney; andarilhos; circenses etc.). Aquele que cria as aparências de um domicílio em um lugar pode ser considerado pelo terceiro como tendo aí seu verdadeiro domicílio.
CC, art. 73: “Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada”. Considera-se domicílio o lugar onde a pessoa for encontrada.
As pessoas podem mudar de domicílio. Para que a mudança se caracterize não basta trocarem de endereço. É necessário que estejam imbuídas da “intenção manifesta de mudar”. 
CC, art. 74: “Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar”. Essa intenção é aferida pela conduta da pessoa (ex.: matrícula dos filhos em escola da nova localidade, transferência da linha telefônica, abertura de contas bancárias etc.).
Espécies
Domicílio de origem: É o primeiro domicílio da pessoa, que se prende ao seu nascimento. Corresponde ao domicílio de seus representantes.
Domicílio voluntário geral ou comum: Pode ser escolhido livremente, pois depende da vontade do indivíduo.
Domicílio especial: É fixado com base no contrato, sendo denominado foro contratual ou de eleição. O foro de eleição é o escolhido pelas partes para a propositura de ações relativas às referidas obrigações e direitos recíprocos (CC, art. 78). A validade dos contratos de adesão pressupõe a observância do princípio da igualdade dos contratantes. O STJ considera ineficaz a cláusula de eleição de foro quando constituir um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o comparecimento em juízo ou se for abusiva, resultando especial dificuldade para a outra parte (CDC, art. 51, IV: declara nula de pleno direito a cláusula abusiva que coloque o consumidor em desvantagem exagerada). 
CC, art. 78: “Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes”. 
Domicílio necessário ou legal: É determinado pela lei, em razão da condição ou situação de certas pessoas. Nesses casos, deixa de existir liberdade de escolha.
CC, art. 76: “Tem-se domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso”. No caso do incapaz, o domicílio obrigatório lhe é imposto em razão do estado de dependência em que se encontra e, no caso do preso, em decorrência de sua situação especial. Nos demais casos, a atribuição provém da profissão ou da atividade exercida. 
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE NATURAL
 Modos de extinção
Somente com a morte (real ou presumida) que se dá o término da existência da pessoa natural, que pode ser também simultânea (comoriência).
CC, art. 6: “A existência da pessoa natural termina com a morte (1ª parte – regra geral: morte real); presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (2ª parte – regra específica: morte presumida)” 
Para a doutrina, existem 4 tipos de morte: real, simultânea
ou comoriência, civil e presumida.
 Morte real
A morte real é a responsável pelo término da existência da pessoa natural. A prova da morte real se dá pela realização do atestado de óbito ou por ação declaratória de morte presumida (CC, art. 7), sem decretação de ausência. Pode ser utilizada a justificação de óbito (Lei dos Registros Públicos, art. 88), quando houver certeza da morte em alguma catástrofe, não sendo encontrado o corpo do falecido. 
A morte real ocorre com o diagnóstico de paralisação da atividade encefálica (L. 9434/97, art. 3). Esse fato jurídico extingue a capacidade e dissolve tudo, não sendo mais o morto sujeito de direitos e obrigações. Não é completo o aniquilamento do de cujos pela morte, pois sua vontade sobrevive através do testamento. Além disso, é devido respeito ao cadáver e o CP reprime crimes contra os mortos (arts. 209 a 212). 
 Morte simultânea
Se duas ou mais pessoas naturais faleceram na mesma ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se podendo averiguar qual delas morreu primeiro, “presumir-se-ão simultaneamente” mortas. A comoriência é prevista no art. 8 do CC:
CC, art. 8: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
Só há interesse em saber se houve comoriência se duas pessoas morrem em determinado acidente e se uma for herdeira ou beneficiária da outra. Do contrário, inexiste interesse jurídico nessa averiguação. 
O principal efeito da presunção de morte simultânea é que, não tendo havido tempo para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. Não há transferência de bens e direitos entre comorientes. 
Se um casal sem ascendentes e descendentes morre em um acidente, havendo morte simultânea, os colaterais da mulher ficarão com a meação dela e os colaterais do homem ficarão com a meação dele. Falecendo simultaneamente no mesmo acidente segurado e beneficiário, não haverá transmissão de direitos entre os dois. Portanto, é impossível o pagamento do benefício aos sucessores do beneficiário, pois é preciso que o beneficiário exista ao tempo do sinistro. 
A presunção legal de comoriência só pode ser afastada ante a comprovação de premoriência. O juiz apreciará livremente as provas, inquerirá testemunhas e analisará resultados da medicina legal. Na falta de um resultado positivo, vigorará a presunção da simultaneidade da morte, sem se atender a qualquer ordem de precedência, em razão da idade ou do sexo. 
 Morte civil
Esse tipo de morte existiu no passado. Embora vivas, algumas pessoas eram tratadas pela lei como se mortas fossem. Essas pessoas eram privadas dos seus direitos. Esse tipo de morte foi abolido no direito moderno. 
Porém, há um resquício da morte civil no art. 1816 do CC, que trata o herdeiro, afastado da herança, como se ele “morto fosse antes da abertura da sucessão” (exemplo: indignidade ou deserdação; ambos são motivos legais para afastá-lo da herança). Porém, a personalidade é conservada para os demais efeitos.
 Morte presumida
A morte presumida pode ser com ou sem declaração de ausência. “Presume-se a morte, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva” (CC, art. 6, 2ª parte). Pode-se requerer, pelos interessados, a sucessão definitiva após 10 anos em julgado a abertura da sucessão provisória (CC, art. 37). Pode-se ainda requerer a sucessão definitiva, provando que o ausente conta 80 anos de idade, e que de 5 datam as últimas notícias dele (CC, art. 38).
A declaração de ausência (o ausente desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante) produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura de sucessão provisória e, depois, definitiva. Na última hipótese, dissolve-se a sociedade conjugal. 
A declaração de morte presumida sem decretação de ausência é expressa no art. 7 do CC.
CC, art. 7: “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento”
Em ambos os casos, a sentença declaratória de ausência e a de morte presumida serão registradas em registro público (CC, art. 9, IV).
A Lei dos Registros Públicos (L. 6.015/ 73, art. 88) prevê a justificação de óbito quando o corpo do falecido não for encontrado, suprindo a falta do atestado de óbito. O art. 88 expressa que poderá ser justificado o óbito pelos juízes togados às “pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame”. 
DA AUSÊNCIA
 Introdução
Ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante ou procurador para administrar-lhe os bens (CC, art. 22). O Código protege inicialmente o seu patrimônio, impedindo que seus bens se deteriorem ou desapareçam. Prolongando-se a ausência e crescendo a possibilidade que a pessoa tenha falecido, a proteção legal volta-se para os herdeiros. 
 Da curadoria dos bens do ausente
A curadoria do ausente é a primeira fase da Ausência. A curadoria do ausente fica restrita aos bens, não produzindo efeitos de ordem pessoal. Não havendo bens, não se terá nomeação de curador. Constatado o desaparecimento do indivíduo, sem que tenha deixado procurador para administrar seus bens e sem que dele haja notícia, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, ou do MP, declarará ausência e lhe nomeará um curador (CC, art. 22). Também será declarado ausente o indivíduo que deixar mandatário que não queira ou não possa exercer o mandato, ou se seus poderes forem insuficientes (CC, art. 23). 
O art. 25 do CC dispõe sobre a ordem preferencial de curatela dos bens do ausente. Vejamos:
Cônjuge, que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de 2 anos;
Os pais ou os descendentes, nesta ordem;
Na falta dessas pessoas, o juiz nomeará um curador.
Comunicada a ausência ao juiz, este determinará a arrecadação dos bens do ausente e os entregará à administração do curador nomeado. 
CC, art. 26: “Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão”. 
Decorrido o prazo, sem que o ausente reapareça, ou se tenha notícia de sua morte, ou se ele deixou representante ou procurador, “poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei” (CPC, 745, § 1º).
Retornando o ausente no período da curadoria de seus bens, esta cessará automaticamente, recuperando ele todos os seus bens. 
Cessa a curadoria pelos seguintes motivos:
Pelo comparecimento do ausente, do seu procurador ou de quem o represente;
Pela certeza de morte do ausente;
Pela sucessão provisória. 
 Da sucessão provisória
Em sua redação, o artigo 27 do Código Civil trata da legitimidade para promover a sucessão provisória. Vejamos:
CC, art. 27: “Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:
O cônjuge não separado judicialmente;
Os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
Os credores de obrigações vencidas e não pagas”.
O artigo 28 do Código Civil dá um prazo de seis meses ao ausente para que, ao ter conhecimento das reais e sérias consequências de seu desaparecimento, possa mudar de ideia e talvez retornar.
CC, art. 28: “ A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois
de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
Os bens serão entregues aos herdeiros em caráter provisório e condicional, ou seja, desde que prestem garantias da restituição deles, em razão da incerteza da morte do ausente, mediante penhor ou hipoteca proporcionais ao quinhão respectivo (CC, art. 30). “Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia” (CC, art. 30, §1º)”. “Os ascendentes, descendentes ou cônjuge, desde que comprovada sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente” (CC, art. 30, §2º). 
CC, art. 31: “Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando ordene o juiz, para lhes evitar a ruína”.
O descendente, o ascendente ou o cônjuge que for sucessor provisório do ausente fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que couberem a este. Os outros sucessores deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos e prestar anualmente contas ao juiz competente (CC, art. 33). Se o ausente aparecer, ficando comprovado que sua ausência foi voluntária e injustificada, ele perderá para seu sucessor sua parte nos frutos e rendimentos.
CC, art. 36: Retornando o ausente ou enviando notícias suas, cessarão aos sucessores provisórios todas as vantagens, ficando obrigados a tornar medidas assecuratórias até a devolução dos bens ao seu dono, conservando-os e preservando-os, sob pena de perdas e danos. Comparecendo o ausente, cessará a sucessão provisória. 
 Da sucessão definitiva
A sucessão provisória se cessa com o aparecimento do ausente. Caso ele não aparece, a sucessão passará a ser definitiva quando:
Houver certeza da morte do ausente;
Dez anos depois de passada em julgado a sentença de sucessão provisória (CC, art. 37);
O ausente contar oitenta anos de idade e houverem decorridos cinco anos das últimas notícias dele (CC, art. 38).
Aberta a sucessão definitiva, os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo o domínio dos bens. 
CC, art. 39: “ Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo”.
 
TÍTULO 2 – DAS PESSOAS JURÍDICAS
CONCEITO
A associação dos homens é inerente à sua natureza. A razão de ser da pessoa jurídica está na necessidade ou conveniência dos indivíduos unirem esforços para chegarem ao objetivo comum. O direito reconhece essa unidade coletiva e atribui a ela personalidade própria, distinta de cada um de seus membros. 
A individualização só se efetiva se a ordem jurídica atribui personalidade ao grupo, com capacidade jurídica igual à das pessoas naturais. Surge a necessidade de personalizar o grupo, para que possa proceder como uma unidade. A personificação do ente abstrato destaca a vontade coletiva do grupo e individuais dos seus membros. 
A pessoa jurídica consiste num conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins comuns. As pessoas jurídicas são entidades que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A principal característica da pessoa jurídica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade distinta da dos membros que a compõem.
NATUREZA JURÍDICA
As teorias afirmativistas procuram explicar o fenômeno pelo qual um grupo de pessoas passa a constituir uma unidade orgânica para a consecução de objetivos comuns, com o reconhecimento de individualidade própria pelo Estado e distinta dos membros que a compõem. 
As diversas teorias afirmativistas se reúnem em dois grupos: o das teorias da ficção e o das teorias da realidade.
 Teorias de ficção
A teoria da ficção legal afirma que a pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei (ente fictício), pois somente a pessoa natural pode ser sujeito de direito. Constrói-se, desse modo, uma ficção jurídica, na qual a pessoa jurídica não passa de um simples conceito, ou seja, uma abstração diversa da realidade.
A teoria da ficção doutrinária afirma que a pessoa jurídica não tem existência real, mas apenas intelectual, sendo assim uma mera ficção criada pela doutrina, oriunda da inteligência dos juristas. 
As teorias da ficção não são aceitas hoje, pois não explicam a existência do Estado como pessoa jurídica.
 Teorias da realidade
As teorias da realidade afirmam que as pessoas jurídicas são realidades vivas e não mera abstração, tendo existência própria como os indivíduos. 
Teoria da realidade objetiva ou orgânica: a pessoa jurídica é uma realidade sociológica, que nasce por imposição das forças sociais. Proclama que a vontade, pública ou privada, é capaz de dar vida a um organismo, com existência própria, distinta da de seus membros e capaz de se tornar sujeito de direito.
Teoria da realidade jurídica ou institucionalista: considera a pessoa jurídica como organização social destinada a um serviço ou ofício. Parte da análise das relações sociais, constatando a existência de grupos organizados para a realização de uma ideia socialmente útil. 
Teoria da realidade técnica: entende que a personificação dos grupos sociais é expediente de ordem técnica, a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos, que se unem na busca de fins determinados. A personificação é atribuída a grupos em que a lei reconhece vontade e objetivos próprios. Explica o fenômeno pelo qual um grupo de pessoas, com objetivos comuns, pode ter personalidade própria, que não se confunde com a de cada um de seus membros e, portanto, a que melhor segurança oferece (TEORIA ACEITA HOJE!).
Portanto, a personalidade jurídica é um atributo que o Estado outorga a certas entidades que observem determinados requisitos por ele estabelecidos. 
REQUISITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
A formação da pessoa jurídica exige uma pluralidade de pessoas ou de bens e uma finalidade específica (elementos de ordem material), bem como um ato constitutivo e respectivo registro no órgão competente (elemento formal). 
São requisitos para a constituição da pessoa jurídica:
Vontade humana criadora (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros). Materializa-se no ato de constituição, que deve ser escrito. São necessárias duas ou mais pessoas com vontades convergentes, ligadas por uma intenção comum;
Elaboração do ato constitutivo (estatuto ou contrato social). É um requisito formal exigido pela lei e se denomina estatuto (para associações, que não possuem fins lucrativos) ou contrato social (no caso de sociedades) ou escritura pública/ testamento (no caso de fundações).
Registro no ato constitutivo no órgão competente. O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece a existência da pessoa jurídica de direito privado. A pessoa jurídica só adquire personalidade se o seu ato constitutivo for registrado.
CC, art. 45: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro [...]”. 
Licitude de seu objetivo. Além de ser lícita, a formação da pessoa jurídica deve ser determinada e possível. 
 Começo da existência legal
A pessoa jurídica resulta da vontade humana, sem a necessidade de qualquer ato administrativo de autorização, salvo em casos especiais, porém sua personalidade jurídica permanece em estado potencial. Adquire status jurídico apenas quando preencher os requisitos formais ou exigências legais. 
O contrato
social é a convenção por meio da qual duas ou mais pessoas se obrigam a juntar esforços, com bens ou serviços, para e consecução de um fim comum. Essa manifestação deve respeitar os requisitos de validade dos negócios jurídicos. 
A declaração de vontade pode revestir-se de forma pública ou particular, exceto no caso das fundações, que só podem ser criadas por escritura pública ou testamento (CC, art. 62). 
Certas pessoas jurídicas dependem da autorização do Governo Federal, por estarem ligadas a interesses de ordem coletiva (empresas estrangeiras, seguradoras, caixas econômicas, empresas jornalísticas etc.). 
A existência da pessoa jurídica do direito privado só se efetiva com o registro do seu ato constitutivo (CC, art. 45).
O registro do contrato social de uma sociedade empresária faz-se na Junta Comercial. Os estatutos e os atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito privado são registrados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. 
O registro no órgão competente, além de servir de prova, tem natureza jurídica, por ser atributivo da personalidade, da capacidade jurídica.
A capacidade jurídica adquirida com o registro estende-se a todos os campos do direito, não se limitando à esfera patrimonial.
CC, art. 52: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Tem direito ao nome, à boa reputação, à própria existência, bem como o poder de ser proprietária e usufrutuária (direitos reais), de contratar (direitos obrigacionais) e de adquirir bens por sucessão causa mortis. 
Os direitos e deveres das pessoas jurídicas decorrem dos atos de seus diretores.
CC, art. 47: “Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo”. Vinculação da pessoa jurídica aos atos praticados pelos administradores.
 Classificação da pessoa jurídica
A pessoa jurídica pode ser classificada quanto à nacionalidade, à sua estrutura interna e à função (ou órbita de atuação).
Nacionalidade
Divide-se em nacional e estrangeira. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. A sociedade estrangeira precisa de autorização do Poder Executivo para funcionar no País, ressalvados os casos expressos em lei (ex.: S.A.). 
Estrutura interna
Quanto à estrutura interna a pessoa jurídica pode ser corporação e fundação. A corporação tem aspecto eminentemente pessoal. Constitui um conjunto de pessoas, reunidas para a consecução de seus objetivos. Visam à realização de fins internos, estabelecidos pelos sócios (interesses voltados para o bem-estar de seus membros). Na fundação o aspecto dominante é material: compõe-se de patrimônio personalizado, destinado a uma finalidade. Têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor. O patrimônio é elemento essencial.
As corporações dividem-se em associações e sociedades. 
Sociedades: podem ser simples e empresárias. Sociedades simples têm fins econômicos e visam lucro. São constituídas por profissionais de uma mesma área ou por prestadores de serviços técnicos. As sociedades empresárias também visam lucro. Suas distinções se dão pela forma de exercer o objeto. 
Associações: não têm fins lucrativos.
As fundações constituem um acervo de bens. Compõem-se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e não lucrativo).
Função ou órbita de atuação
As pessoas jurídicas dividem-se em: de direito público e de direito privado. As de direito público podem ser externas ou internas. As de direito privado são corporações ou fundações. 
São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados da comunidade internacional e organismos internacionais.
CC, art. 42: “São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.”

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