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DOAÇÃO

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DOAÇÃO 
1. CONCEITO
 Considera-se doação, o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, de forma espontânea, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o patrimônio de outra pessoa (art.538, CC). Há assim, o aumento do patrimônio de um, à custa do patrimônio do outro. Os sujeitos que compõem a doação são, o doador e o donatário.
 O contrato de doação decorre do direito de propriedade do titular de alienar o bem (vender ou doar). Como em regra a doação é gratuita, deve ser interpretada restritivamente.
 A doação constitui ato inter vivos. Não há doação causa mortis, uma vez que esta é desprovida de revogabilidade, que é inerente às liberalidades, pois, enquanto não houver a aceitação do donatário o doador poderá arrepender-se ou mesmo após a aceitação o doador poderá revogá-la por ingratidão ou descumprimento de encargo. 
 É importante ressaltar o enunciado n.549 da VI de Direito Civil:
Enunciado 549 – A promessa de doação no âmbito da transação constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código Civil.
 Tal possibilidade se aplica, por exemplo, nos acordos judiciais de divórcio, onde um dos cônjuges promete ao outro determinada doação como parte do acordo. Esta doação, neste momento, perde seu caráter de liberalidade e passa a ser obrigatória. 
 Vale ressaltar que o doador não estar sujeito a evicção e nem aos vícios redibitórios, com exceção das seguintes doações: doações remuneratórias (feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode mais ser exigido pelo credor, pois a ação de cobrança já prescreveu) até o limite do serviço prestado e do ônus imposto; das doações modais, com encargo ou gravada (o doador impõe ao donatário uma incumbência ou um dever); das doações para o casamento com certa e determinada pessoa, onde o doador fica sujeito a evicção, salvo convenção em contrário (doação propter nuptias).
 Seria possível a execução de um contrato de promessa de doação pura e simples? O julgado a seguir responde essa questão:
Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO CÍVEL, PARA O FIM DE MANTER ÍNTEGRA A DOUTA SENTENÇA DE 1º GRAU, INCLUSIVE EM GRAU DE REEXAME NECESSÁRIO - CONHECIDO DE OFÍCIO. Tudo nos termos da fundamentação do voto do relator. EMENTA: AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. SENTENÇA QUE EXTINGUIU O PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO (ART. 267-VI, CPC). TERMO DE COMPROMISSO QUE INSTITUIU "PROMESSA DE DOAÇÃO" DE PARTE DE IMÓVEL DE PARTICULAR EM FAVOR DO MUNICÍPIO PARA ABERTURA DE RUA. NÃO CUMPRIMENTO NO PRAZO PACTUADO. IMPOSSIBILIDADE DE O MUNICÍPIO DONATÁRIO VIR A JUÍZO EXIGIR O CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. A DOAÇÃO PURA E SIMPLES CONSTIUI MERA LIBERALIDADE DO DOADOR. INEXISTÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO DA FIGURA DA "PROMESSA DE DOAÇÃO". EXISTÊNCIA APENAS DA PROMESSA QUANDO A DOAÇÃO CONFIGURA CONDIÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO, O QUE NÃO É O CASO DOS AUTOS. JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DESTE TJPR. RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA EM REEXAME NECESSÁRIO (CONHECIDO DE OFÍCIO). - "A promessa de doação, como obrigação de cumprir liberalidade que se não quer mais praticar, inexiste no direito brasileiro; se, todavia, é feita como condição de negócio jurídico, e não como mera liberalidade, vale e é eficaz." (STJ. REsp 853.133/SC, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/05/2008, DJe 20/11/2008). (TJPR - 5ª C.Cível - AC - 1012714-1 - Reserva - Rel.: Rogério Ribas - Unânime - - J. 28.04.2015).
2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA DOAÇÃO
 A doação se constitui através de três elementos: o animus donandi (elemento subjetivo), a transferência de bens e/ou vantagens do doador ao donatário e a aceitação do donatário (Luciano e Luciano, 2016, p.428)
2.1. Animus donandi (elemento subjetivo)
 É o elemento essencial para a confirmação da doação. Consiste em uma ação liberatória, espontânea, de dar a alguém, sem estar obrigado, parte do próprio patrimônio. Carlos Roberto Gonçalves, seguindo pensamento de Agostinho Alvim, afirma que, há doação mesmo que o animus donandi inexista interiormente, como na hipótese em que uma pessoa realiza uma doação simplesmente para satisfazer uma exigência social, destituída, pois, de qualquer valor altruístico. 
 Dessa forma, a liberalidade pode ser por amor, generosidade, ou mesmo por vaidade e temor de censura alheia.
 Mesmo que o animus donandi não seja interior, não há doação sem ele: assim, não haverá doação na inatividade do proprietário que deixa consumar-se a usucapião.
2.2. Transferência de bens e/ou vantagens do doador para o donatário (elemento objetivo)
 A transferência de bens e/ou vantagens do patrimônio do doador para o patrimônio do donatário deve ensejar a diminuição do patrimônio daquele – mesmo que seja pequena – e aumento do patrimônio deste. A transferência do domínio dos bens móveis é realizada pela tradição da coisa; já a dos bens imóveis concretiza-se pelo registro da escritura pública. 
2.3. Aceitação do donatário
 É indispensável para o aperfeiçoamento da doação? Segundo Flavio Tartuce (2016,p.750) um dos representantes da corrente minoritária, o aperfeiçoamento da doação ocorrerá independentemente da aceitação do donatário, uma vez que o CC de 2002 suprimiu do conceito de doação, a aceitação do donatário (art. 538, CC). Ainda para esse doutrinador, a aceitação está no plano da eficácia deste negócio jurídico e não na sua formação. No entanto, a doutrina majoritária concorda que, a doação enquanto contrato consensual que é, só se forma a partir do consentimento de ambas as partes, sendo, por isso necessária a aceitação do donatário. A aceitação pode ser expressa, tácita, presumida ou ficta.
Expressa: é aquela direta, clara, feita por escrito ou declaração inequívoca de vontade. Não há dúvida sobre o aceite.
Tácita: é aquela revelada pelo comportamento do donatário. Este não declara expressamente que aceitou a doação de um carro, mas passa usá-lo e providencia a regularização da documentação em seu nome. 
Presumida: ocorre de duas formas. Na primeira, o doador fixa o prazo ao donatário para declarar se aceita, ou não, a liberalidade. Se o donatário estiver ciente do prazo e não se manifestar, entender-se-á que a aceitou a doação, desde que esta não esteja sujeita a encargo (art.539, CC). Já na segunda, refere-se à doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa e o casamento se realiza. A celebração gera a presunção de aceitação, não podendo ser argüida a sua falta (art.546, CC).
Ficta: é o consentimento para a doação ao incapaz. Reza o art.543 do CC, que a aceitação é dispensada, desde que se trate de doação pura a donatário absolutamente incapaz. Tal determinação se fundamenta no fato de que, a doação pura e simples, só beneficia o donatário incapaz. 
 
3 CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO DE DOAÇÃO
 Segundo Gonçalves (2016, p.281-283), o contrato de doação é em regra:
a) Consensual: uma vez que se aperfeiçoa pela simples vontade das partes. No entanto, a doação manual (art.541 do CC) foge a essa regra, pois se caracteriza por ser um contrato real, uma vez que para o seu aperfeiçoamento, é necessário que haja além do consentimento das partes, a entrega imediata do objeto da doação – bem móvel de pequeno valor – transmitindo assim a propriedade durante a formação do contrato. 
b) Unilateral: gera obrigação somente para uma das partes. Contudo, será bilateral, quando modal ou com encargo, haja vista determinar obrigação recíproca para ambas as partes. Vale ressaltar que Tartuce (2016, p.750) afirma que em caso de doação modal, a doação é unilateral imperfeita, pois a prestação que deve ser cumprida pelo donatário deve ser cumprida somente após a formação do contrato. Ex: João doade forma pura e simples um imóvel para Maria. João paga inclusive a escritura pública, formando-se assim o contrato. Porém, na hora de registrar Maria irá pagar.
c) Gratuito: há sacrifício patrimonial somente para uma das partes, ou seja, para o doador, pois em regra não se impõe qualquer ônus ou encargo ao donatário. Sendo gratuito a interpretação deve ser restritiva e nunca extensiva, art.114 do CC. Caso haja qualquer encargo ou ônus a doação será onerosa.
d) Formal ou solene: a doação é um contrato formal, porque a lei impõe para o seu aperfeiçoamento, a forma escrita por instrumento público, se o bem for imóvel com valor acima de 30 vezes o maior salário mínimo vigente no país; por instrumento particular, se o bem for imóvel com valor inferior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no país ou móvel de grande valor, (art.541, caput); que seja verbal mas que haja a tradição imediata da coisa móvel doada de pequeno valor, (parágrafo único). Percebe-se, portanto, que a lei determina como deve ser a forma da doação: escrita por instrumento público – bem imóvel; escrita por instrumento particular – bem móvel de grande valor – verbal com a entrega imediata da coisa ao donatário – bem móvel e de pequeno valor.
e) Típico: o CC de 2002 dispõe sobre a doação nos arts. 538 a 564.
4 REQUISITOS (CONDIÇÕES) ESSENCIAIS AO CONTRATO DE DOAÇÃO
 Sendo um contrato, a doação segue os mesmos requisitos de validade dos negócios jurídicos. Quais sejam: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104, CC).
4.1 Capacidade
 Por ter natureza contratual, é imprescindível a capacidade das partes, com exceção da hipótese da doação pura feita ao absolutamente incapaz (art.543, CC) e da doação feita ao nascituro (art.542, CC).
4.2 Objeto
 O objeto da doação é, portanto, a prestação de dar coisa ou vantagens. Pode ser objeto da doação toda coisa que tenha expressão econômica e que possa ser alienada. Incluem-se os bens móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, consumíveis e inconsumíveis.
 O objeto da doação pode ser também uma vantagem, como a que se dá com a doação por subvenção periódica (art.545, CC). A doação por subvenção periódica trata-se na realidade, de uma pensão em favor pessoal ao donatário, cujo pagamento termina com a morte do doador, não transferindo a obrigação aos seus herdeiros, salvo se o contrário houver ele próprio estipulado. Assim, em vez de entregar ao donatário um objeto, o doador assume a obrigação de ajudá-lo mediante auxílio pecuniário, periódico, com o intuito de liberalidade. 
 A doutrina diverge com relação a doação de bens futuros, ou seja, de bens que ainda não ingressaram no patrimônio do doador. Os doutrinadores Paulo Lôbo e Orlando Gomes, não aceitam a doação referentes aos bens futuros, uma vez que ninguém pode transmitir do seu patrimônio o que neste não há.
 Já Agostinho Alvim e Caio Mário, concordam com a doação de coisa futura (ex; frutos que ainda eu irei colher neste ano, o primeiro bezerro que nascer de tal vaca), mas que, no entanto, se dará de forma condicional, ou seja, o ato terá caráter condicional, e não chegará a produzir nenhum efeito se a coisa não vier a ter existência e disponibilidade por parte do doador.
4.3 Consentimento
 Além da manifestação do animus donandi do doador, que deve ser clara e inequívoca (se houver dúvida, interpreta-se não ter havido doação), a formação do contrato de doação pressupõe a aceitação da oferta pelo donatário. Enquanto não consumada a doação pela aceitação, o doador pode arrepender-se.
 A morte ou incapacidade do doador, antes que o donatário aceite a doação, resulta na extinção da obrigação. Por outro lado, a morte do donatário, antes da aceitação, não obriga o doador a cumprir a doação com os herdeiros, pois o animus donandi, existia em relação ao falecido.
 Nos termos do art.546 do CC, a doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, ou aos filhos que, de futuro houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar.
4.4. Forma
 A regra é que o contrato de doação seja escrito por instrumento particular ou por escritura pública. No entanto, na doação de coisa móvel e de pequeno valor poderá ser feita de forma verbal, desde que a coisa doada seja entregue de forma imediata ao donatário (parágrafo único do art.541 do CC).
5 RESTRIÇÕES LEGAIS À DOAÇÃO
 A lei impõe algumas limitações à liberdade de doar, visando preservar o interesse social, o interesse das partes e o interesse de terceiros. Assim, há doações que são consideradas nulas e outras que poderão ser anuladas.
5.1 Doação nula
 a) Doação por incapacidade absoluta do doador, por ilicitude ou impossibilidade absoluta do objeto e por desobediência à forma prescrita em lei.
 b) Doação de todos os bens do doador ou doação universal, art.548 do CC. Tal doação é NULA, uma vez que não conserva o mínimo necessário para a sobrevivência digna do doador, reduzindo-o a miséria. Não haverá, no entanto, restrição à doação de todos os bens, se àquele tiver alguma fonte de renda (Gonçalves, 2016, p.298).
 c) Doação da parte inoficiosa. É aquela em que a vontade do doador atinge a legítima dos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e o cônjuge), tornando nesse caso a doação NULA da parte inoficiosa, ou seja, torna-se nula apenas a parte que comprometeu a herança dos herdeiros necessários, segundo o art.549 do CC, c/c arts. 1.789, 1.845, 1.846, 1.847, 2007 do CC (Gonçalves, 2016, p.298). Ex: um pai tem 50% para doar para quem ele quiser e mais 50% dos seus bens que pertencem obrigatoriamente a seus herdeiros. Este pai resolve doar 60% do seu patrimônio a um amigo, atingindo assim 10% da herança dos herdeiros. Esta doação que atingiu os 10% da legítima dos herdeiros será nula. Vide julgado:
Ação declaratória de nulidade de partilha e doação ajuizada em 7/5/2009. Recurso especial concluso ao Gabinete em 16/11/2011. 2. Demanda em que se discute o prazo aplicável a ação declaratória de nulidade de partilha e doação proposta por herdeira necessária sob o fundamento de que a presente ação teria natureza desconstitutiva porquanto fundada em defeito do negócio jurídico. 3. Para determinação do prazo prescricional ou decadencial aplicável deve-se analisar o objeto da ação proposta, deduzido a partir da interpretação sistemática do pedido e da causa de pedir, sendo irrelevante o nome ou o fundamento legal apontado na inicial. 4. A transferência da totalidade de bens do pai da recorrida para a ex-cônjuge em partilha e para a filha do casal, sem observância da reserva da legítima e em detrimento dos direitos da recorrida caracterizam doação inoficiosa. 5. Aplica-se às pretensões declaratórias de nulidade de doações inoficiosas o prazo prescricional decenal do CC, ante a inexistência de previsão legal específica. Precedentes. 6. Negado provimento ao recurso especial. (STJ, REsp Nº 1321998 RS 2011/0199693-0, 3ª Turma, Min.Rel. NANCY ANDRIGHI, DJe 20/08/2014).
5.2 Doação anulável
 a) Doação pelo devedor insolvente ou por ela reduzido à insolvência – quando o estado de insolvência resultar da doação. Devedor insolvente é aquele cujas dívidas (obrigações) superam o ativo (os seus direitos e bens) no seu patrimônio, de modo que, a doação por este realizada, constituirá em fraude contra credores. Tal liberalidade comprometerá o patrimônio destes. Assim, aquele que não dispõe de condições para quitar suas dívidas juntos aos seus credores, não é razoável que fique livre para fazer doação de bens do seu patrimônio. O credor do devedor insolvente poderá através da ação pauliana, impugnar a validade da doação sem a necessidade de comprovar o conluio (conspiração, o arranjo) entre o doador e o donatário (Gonçalves, 2016, p.297). Videjurisprudência:
VOTO AÇÃO DE EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. DÉBITO DE ALUGUERES E ENCARGOS. CITAÇÃO DOS EXECUTADOS EM 22.12.2005 (FLS. 37). DOAÇÃO DO ÚNICO IMÓVEL AO FILHO E NETA EM 17.8.2007 (FLS. 272/274). CRÉDITO CONSTITUIDO ANTERIORMENTE AO NEGÓCIO JURÍDICO PRATICADO PELOS EXECUTADOS E QUE RESULTOU NO ESVAZIAMENTO DE SEU PATRIMÔNIO, TORNANDO-OS INSOLVENTES. ALIENAÇÃO FRAUDULENTA QUANDO CORRIA CONTRA OS DEVEDORES DEMANDA CAPAZ DE REDUZI-LOS À INSOLVÊNCIA. MANIFESTA A MÁ-FÉ NA ALIENAÇÃO, A TÍTULO GRATUITO, DO ÚNICO IMÓVEL EM DETRIMENTO DO CREDOR. INEFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO EM RELAÇÃO AO CREDOR, A TEOR DO QUE DISCIPLINA O ARTIGO 593, II, DO CPC. ALEGAÇÃO DE IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA QUE SE AFASTA POR FORÇA DA NORMA DO ARTIGO 3º, VII, DA LEI Nº 8.009/90. SENTENÇA QUE SE REFORMA, PARA RECONHECER A INEFICÁCIA DA DOAÇÃO DO IMÓVEL PELOS EXECUTADOS, SITUADO NA RUA AFONSINA N. 358, AREAL/RJ, DEVENDO-SE PROSSEGUIR A EXECUÇÃO COM A CONSTRIÇÃO SOBRE O BEM E DEMAIS ATOS PROCESSUAIS ULTERIORES. SEM HONORÁRIOS, POR SE TRATAR DE RECURSO COM ÊXITO. (TJRJ, RI n. 00031888020058190079, 3ª Turma Recursal, Rel. Des. Luis Cláudio Silva Jardim Marinho, DJERJ. 13/10/2015)
 b) Quando a doação é feita mediante algum vício de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores): devido a sua natureza jurídica ser de um negócio jurídico, será anulada quando constituída por meio de algum vício de consentimento.
 c) Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice, art.550 do CC. Tal doação é ANULÁVEL, uma vez que não pode ser decretada de ofíco pelo juiz, cabendo somente ao cônjuge inocente propor a sua anulação no prazo decadencial de dois anos da dissolução da sociedade conjugal. Se o cônjege traído vir a falecer, os herdeiros poderão ajuizar ação de anulação da doação dentro do referido prazo de dois anos do término da sociedade conjugal (Gonçalves, 2016, p.298). Vide o julgado:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ANULAÇÃO DE DOAÇÃO DE BENS DO CÔNJUGE ADÚLTERO AO CÚMPLICE. PRAZO DECADENCIAL DE 2 (DOIS) ANOS. A LEGITIMIDADE DO HERDEIRO NECESSÁRIO PARA VINDICAR A ANULAÇÃO EXSURGE APENAS NO CASO DO FALECIMENTO DO CÔNJUGE LESADO. EM TODO CASO, HÁ LEGITIMIDADE AUTÔNOMA DO HERDEIRO NECESSÁRIO DO CÔNJUGE QUE PROCEDE À DOAÇÃO DE BENS PARA VINDICAR A ANULAÇÃO QUANTO À PARTE QUE EXCEDER A DE QUE O DOADOR, NO MOMENTO DA LIBERALIDADE, PODERIA DISPOR EM TESTAMENTO (DOAÇÃO INOFICIOSA). TRANSMISSÃO DE IMÓVEL COM UTILIZAÇÃO DE PROCURAÇÃO, EM QUE PESE A PRÉVIA REVOGAÇÃO DO MANDATO. NULIDADE DE PLENO DIREITO, QUE NÃO SE SUBMETE A PRAZO DECADENCIAL PARA O SEU RECONHECIMENTO.
1. O art. 550 do CC/2012 estabelece que a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até 2 (dois) anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Com efeito, a lei prevê prazo decadencial para exercício do direito potestativo para anulação da doação, a contar do término do casamento, isto é, pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio. (STJ, REsp n. 1192243 SP 2010/0077460-9, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 23/06/2015).
6 ESPÉCIES DE DOAÇÃO
 Se estudará aqui as seguintes espécies de doação:
 6.1 Doação pura e simples (vera et absoluta);
 6.2 Doação onerosa, modal, com encrago ou gravada (donatione sub mudo) ;
 6.3 Doação remuneratória;
 6.4 Doação propter nuptias;
 6.5 Doação com cláusula de retorno ou reversão;
 6.6 Doação conjuntiva ou em comum a mais de uma pessoa;
 6.7 Doação sob forma de subvenção periódica;
 6.8 Doação de ascendente a descendente;
 6.9 Doação manual;
6.10. Doação em contemplação ao merecimento do donatário.
6.1 Doação pura e simples ou típica (vera et absoluta)
 O ato do doador constitui uma liberalidade plena. O doador não impõe restrição ou nenhum encargo ao beneficiário, nem subordina a sua aceitação a qualquer condição. 
6.2 Doação onerosa, modal, com encrago ou gravada (donatione sub mudo) 
 Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.
 
 É aquela em que o doador ao fazer uma doação para o donatário lhe imcumbe determinado dever ou encargo, ou seja, o donatário recebe um proveito, mas, com uma obriagação de... Ex: um doador X realiza uma doação onerosa para um determinado Município donatário, com a obrigação deste de construir uma escola na área doada. 
 A doação com encargo não suspende a aquisição e nem o exercício de direito pelo donatário, ainda que este tenha pendente o cumprimento da obrigação que lhe fora imposta. Difere, portanto, o encargo, da condição suspensiva, representada esta pela partícula SE, que subordina o efeito da liberalidade a evento futuro e incerto, ou seja, enquanto este não se verificar o donatário não adquire o direito. 
 O encargo pode ser imposto a benefício do doador, de terceiro ou do interesse geral (art.553 do CC). O seu cumprimento, em caso de mora, poderá ser exigido judicialmente pelo doador e por terceiro beneficiado. Caberá ao Ministério Público exigir o cumprimento da obrigação quando esta for em benefício do interesse geral e desde que o doador tenha falecido (parágrafo único, art 553 CC). No entanto, o MP não tem legitimação para propor a revogação da doação, cabendo somente AO DOADOR fazê-la. Por exemplo: Maria doou a José 100.000m2 de terreno com a obrigação de que ele cedesse 1.000m2 para se fazer uma horta comunitária. Uma vez Maria morrendo e negando-se José a cumprir o encargo, poderá o MP intervir para obrigar José a cumprir o encargo, pois, neste caso o que se tem é a proteção do interesse público. Como o MP não tem legitimidade para revogar a doação, ele poderá interpor multa diária (astreinte) até que o doador cumpra com determinada obrigação.
 Vide julgado:
Se a doação do bem pelo ente público foi realizada com encargo, a eficácia do negócio jurídico subordina-se ao cumprimento da condição suspensiva estabelecida. Enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele se visa (art.125 do CC). Não cumprido o encargo, inviável o reconhecimento da usucapião do imóvel público, pois os donatários exercem, neste caso, apenas a posse direta e a propriedade indireta do bem, já que o domínio está ligado a uma condição suspensiva não verificada. (TJDF, Ap. nº 20130111010488, 6º Turma Cível, Rel. Des. ESDRAS NEVES, DJE : 17/03/2015 . Pág.: 448).
 Vale ressaltar que o art.441 do CC, manda aplicar à doação onerosa, a teoria dos vícios redibitórios. 
6.3 Doação remuneratória
 É a feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário, pois já prescreceu. Por exemplo: um paciente marca uma consulta com um médico particular e ao término desta não paga ao médico pelos seus serviços prestados. A ação de cobrança torna-se prescrita. Nesta ocasião o paciente percebe o quão foi injusto com o médico que lhe salvou à vida e resolve lhe retribuir pelo serviço prestado. Observa-se que, se a dívida fosse exigível, o que se daria era dação em pagamento (art.356 do CC). Na doação remuneratória, o pagamento não pode ser mais exigido pelo credor, mas o devedor resolve compensá-lo realizando alguma doação. Neste tipo de doação, responde o doador pelos vícios redibitórios e pela evicção (Gonçalves, 2016, p.287).
6.4 Doação propter nuptias
 Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar.É a doação realizada em consideração as núpcias próximas do donatário com certa e determinada pessoa, ficando sem efeito se o casamento não se realizar, art.546 do CC. A sua eficácia subordina-se a uma condição suspensiva, qual seja: a realização do casamento. Dispensa a aceitação, pois, esta se presume pela celebração do casamento (Gonçalves, 2016, p.289-290).
 A lei permite tal doação pelos nubentes entre si (de um nubente ao outro), de um terceiro a um dos nubentes, ou a ambos, ou aos futuros filhos do casal, neste último caso são duas as condições suspensivas: o casamento se realizar e o nascimento com vida do filho (prole eventual).
 A doação propter nuptias não se resolve com a separação, nem podem os bens doados para o casamento serem reveindicados pelo doador por ter o donatário enviuvado ou divorciado e passado a novas núpcias.
6.5 Doação com cláusula de retorno ou reversão
Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário.
 Esta cláusula configura uma condição resolutiva expressa, pois, o contrato de doação será resolvido se o donatário morrer antes do doador, de modo que, os bens doados àquele retornarão para o patrimônio deste, impossibilitando que os bens doados sejam transferidos para o patrimônio dos herdeiros do donatário. Tal cláusula revela o propósito do doador de querer beneficiar somente o donatário e não os herdeiros deste, sendo, portanto, intuito personae - o contrato é celebrado em função da pessoa contratada (Gonçalves, 2016, p.295). 
 Morrendo o donatário, o bem retorna para o doador acrescido dos bens pendentes (são aqueles que estão ainda unidos à coisa que o produziu). Já os frutos percebidos (são os frutos que já se encontram separados da coisa que os produziu), pertencem aos herdeiros do donatário. 
 Porém, se o doador morrer antes que o donatário, tal condição não mais existirá e os bens doados incorporam-se definitivamente ao patrimônio do beneficiado, transmitindo-se posteriormente por sua morte aos seus próprios herdeiros.
 Vale ressaltar que, uma vez doados esses bens ao donatário, este terá o direito de dispor da coisa, de vendê-la, de doá-la, dá-la em pagamento, uma vez que a cláusula é resolutiva e não suspensiva. No entanto, será resolúvel a propriedade do adquirente.
 Ocorrendo a morte simultânea do doador e do donatário, com presunção de comoriência (art.8º CC), a cláusula de reversão não prevalecerá, pois não terá sobrevivência do doador ao donatário. Neste caso o bem doado se transferirá aos herdeiros do donatário. 
6.6 Doação conjuntiva ou em comum a mais de uma pessoa 
Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual.
Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo.
 Quando uma doação é feita em comum a mais de uma pessoa, entende-se distribuída de forma igual entre elas. No entanto, sendo os donatários marido e mulher e se um deles vier a falecer, a parte deste será acrescida a do outro cônjuge sobrevivente, de modo que, este ficará com a totalidade da doação. Neste caso, o bem doado não deve ser incluído no inventário do cônjuge falecido (Gonçalves, 2016, p.292).
 Porém, se somente um dos cônjuges receber a doação e vier a falecer, este bem doado comporá ao inventário, não transmitindo-se por inteiro a doação para o cônjuge sobrevivo, mesmo no regime da comunhão universal (Gonçalves, 2016, p.291). 
OBS: os cônjuges casados em regime de comunhão universal de bens (há comunicabilidade dos bens presentes e futuros e suas dívidas passadas), a doação feita a um deles não fará parte do patrimônio do outro, se houver no contrato desta doação, uma cláusula de incomunicabilidade, tornando o bem doado patrimônio exclusivo do donatário. Não havendo essa cláusula aplicar-se-á a regra do parágrafo único do art.551 CC, uma vez que o doador quis indiretamente beneficiar o outro cônjuge, pois, sabia desde então, que se tratava de regime de comunhão universal de bens. No entanto, havendo a cláusula de incomunicabilidade e advindo a morte do cônjuge beneficiado, o bem doado fará parte do inventário dos herdeiros.
6.7 Doação sob forma de subvenção periódica
Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário.
 O doador beneficia o donatário com uma pensão. Em vez de doar um objeto ao donatário, o doador resolve ajudá-lo mediante auxílio pecuniário, periodicamente, com intuito de liberalidade. O pagamento termina com a morte do doador, não transferindo a obrigação a seus herdeiros, SALVO se o doador dispuser em contrário, porém, neste caso, a obrigação não pode ultrapassar a vida do donatário (Gonçalves, 2016, p.289).
6.8 Doação de ascendente a descendente
 Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
 Conforme preconiza o art. 544 do Código Civil, a doação feita por ascendentes a descendentes tem efeito de adiantamento de herança. Destarte, o descendente que receber a doação do seu ascendente direto, a título gratuito, deverá colacioná-lo no inventário do doador, pelo valor disposto no ato da liberalidade ou conforme a estimativa feita naquela época, para que sejam igualados os quinhões dos herdeiros necessários.
 Vale ressaltar que, não configurará adiantamento da herança, caso o bem doado pelo ascendente ao descendente, pertença ao acervo disponível da sua metade. Vide julgado:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. DOAÇÃO DE ASCENDENTE PARA DESCENDENTE. ANULAÇÃO. DESNECESSIDADE. ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA. COLAÇÃO. RECURSO NÃO PROVIDO. - "Não é passível de anulação a doação de bem para alguns filhos com exclusão de outros, havidos fora do casamento, não exigindo o CC , para tanto, a anuência dos demais filhos, como ocorre na compra e venda, de modo que inocorre qualquer simulação." - "A Lei Civil Brasileira dispõe que os bens doados ficam sujeitos a colação, a qual tem por finalidade apurar eqüitativamente os quinhões hereditários, inexistindo dessa forma, prejuízo para os filhos excluídos." (TJMG, Ap.nº 10024095934717001, 12ª Câmara Cível, Rel. Des. José Flávio de Almeida, DOE, 18/02/2013).
O filho do autor da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que receberam via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade. De fato, para efeito de cumprimento do dever de colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após a doação, não havendo também diferença entre os descendentes, se são eles irmãos germanos ou unilaterais ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador. O que deve prevalecer é a ideia de que a doação feita de ascendente para descendente, por si só, não é considerada inválida ou ineficaz pelo ordenamento jurídico, mas impõe ao donatário obrigação protraída no tempo, de à época do óbito do doador, trazer o patrimônio recebido à colação, a fim de igualar as legítimas, caso não seja aquele o único herdeiro necessário (arts. 2.002, parágrafo único, e 2.003 do CC). Importante destacar que o dever de colacionar os bens recebidos a título de liberalidade só se dispensa por expressa manifestação do doador, determinando que a doação seja extraída da parte disponível de seus bens, o que também não ocorre na hipótese em análise, na qual a liberalidade de fato configura adiantamento da legítima. Precedentes citados: REsp 730.483-MG, Terceira Turma, DJ 20/6/2005; e REsp 9.081-SP, Terceira Turma, DJ 20/4/1992. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015, DJe 29/5/2015.
OBS: arts.2002 a 2004 do CC.
6.9 Doação manual
Art.541 [...];
Parágrafo único. A doação verbal será válida,se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
 É a doação na qual, o doador de forma verbal, doa um bem móvel de pequeno valor ao donatário, com a tradição imediata da coisa doada (incontinenti). Neste caso o pequeno valor é computado levando em consideração o patrimônio do doador. Segundo a doutrina, a doação de pequeno valor é aquela que não ultrapassa 10% do patrimônio do doador (Gonçalves, 2016, p.296).
6.10. Doação em contemplação do merecimento do donatário
 A doação contemplativa, também denominda de meritória, acontece quando o doador registra no contrato de doação o motivo que o levou a celebrar a liberalidade, relacionando a motivação deste ato a uma qualidade pessoal do donatário, art.540 do CC. Ex: um doador doa vários livros a um professor, pois aprecia o seu trabalho.
7 REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO.
 A regra é que a doação seja irrevogável. No entanto, a lei determina os casos em que esta passa a ser revogável. O artigo 555 do CC diz que: a doação pode ser revogável “por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo”. 
7.1 Revogação por ingratidão do donatário
 Só poderá ocorrer no caso de doação pura e simples, sendo nesse caso um direito personalíssimo e irrenunciável do doador (art.556, CC). Ao aceitar o benefício, o donatário assume tacitamente, a obrigação moral de ser grato ao doador e de abster de atos que lhe demonstrem ingratidão e desapreço (falta de consideração). A revogação nesse caso consiste na quebra da boa-fé objetiva pós-contratual, ou seja, o não cumprimento do dever do donatário de ser leal, de ter respeito para com o doador, mesmo após a conclusão do contrato.
 A lei determina de forma taxativa os atos ensejadores de revogação da doação:
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele;
II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.
Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.
 Não obstante o a lei determinar os casos em que pode ensejar a revogação da doação por ingratidão, o Enunciado nº33 do CFJ/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, admite outras hipóteses. Assim, qualquer atentado à dignidade do doador por parte do donatário pode acarretar a revogação da doação por ingratidão, cabendo análise caso a caso. Em suma, o rol é exemplificativo (numerus apertus) (Tartuce, 2016, p.768).
 O atentado contra a vida é a primeira causa de revogação da doação por ingratidão do donatário. Abrange a tentativa e o homicídio consumado DOLOSAMENTE. O homicídio culposo fica excluído da revogação, assim como, se a absolvição criminal do donatário se der por ausência de imputabilidade, ou por uma das excludentes de ilicitude (art.23 do CP).
 A ofensa física contra o doador tem que ser dolosa (ofensa contra a sua integridade física). Da mesma forma não poderá ser revogada na ausência de imputabilidade do donatário ou se este agir mediante causas excludentes de ilicitude.
 Os crimes de calúnia e injúria estão descritos nos art.138 e 140 do CP respectivamente:
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime;
[...];
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
 Por fim o art.557 do CC dispõe que, cabe revogação da doação, quando o donatário podendo ministrar os alimentos que o doador necessita, recusa-se. É necessário que o doador não possa prover a sua própria mantença e que não tenha parentes obrigados a prestar-lhe alimentos, no entanto, estes devem ter também condições de prestá-la. No caso em comento, a ação que caberá ao doador, não será a de alimentos, mas sim, a revocatória, uma vez comprovada a recusa injustificada do donatário de prestar-lhe alimentos.
 A revogação por qualquer desses motivos, deve ser postulada DENTRO DE UM ANO, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autoriza e de ter sido o donatário o seu autor. (art.559, CC).
 A iniciativa da ação pertence exclusivamente ao doador injuriado e só pode ser dirigida contra o ingrato donatário. Mas, se o doador falecer primeiro depois de ter ajuizado a ação, podem os herdeiros nela prosseguir, assim como pode ser continuada contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ter sido ajuizada a lide contra ele. Se o donatário morrer antes de se instaurar a lide, não poderão os herdeiros do doador, ajuizar a ação contra os herdeiros daquele, haja vista somente o donatário dispor de meios para justificar a sua atitude, art.560 do CC.
 No caso do doador ter sido vítima de homicídio doloso pelo donatário, caberá aos herdeiros do primeiro propor a ação revogatória, art. 561, CC. Tal modalidade é uma exceção ao caráter personalíssimo desta ação.
 Não serão revogadas por ingratidão as doações remuneratórias, as oneradas com encargo, feitas em cumprimento de uma obrigação natural ou para determinado casamento. 
Art. 564. Não se revogam por ingratidão:
I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; 
IV - as feitas para determinado casamento.
Obs: obrigação natural é aquela que consiste no cumprimento de um dever moral, uma vez inexistir exigibilidade judicial. Ex: pagar uma dívida de jogo, 
7.2 Revogação por descumprimento do encargo
Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida.
 Carlos Roberto Gonçalves (2016, p.301) faz uma crítica ao dispositivo supracitado. Segundo o autor, a expressão não deveria ser “revogação”, mas sim, anulação ou resolução.
 Se o doador fixa prazo para o cumprimento do encargo, a mora se dá automaticamente pelo seu vencimento. Não havendo prazo estipulado pelo doador, a mora inicia-se a partir da notificação extrajudicial ou judicial ao donatário inadimplente, devendo ser fixado um prazo para a sua execução. Só depois de decorrido o prazo estipulado pelo doador ou o descrito na notificação, é que o doador poderá propor a ação revogatória. Vale ressaltar que a ação revogatória é personalíssima.
 Tem legítimo interesse para exigir o seu cumprimento o doador e o terceiro beneficiado, bem como o Ministério Público, quando a doação for feita no interesse geral e desde que o doador tenha falecido. Estando vivo o doador o MP não poderá agir.

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