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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOLOGIA
TÚNEIS
AQUILES PINTO DE GÓES
IGOR RODRIGUES DE GÓES CAVALCANTI
PAULO VICTOR CAVALCANTI FERREIRA
RECIFE
JUNHO/2018
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOLOGIA
TÚNEIS
Trabalho em grupo apresentado para composição da segunda nota da disciplina Fundamentos de Geologia, ministrada pela professora Drª Kalinny Lafayette curso de Engenharia Civil da Universidade de Pernambuco.
RECIFE
JUNHO/2018
Sumário
1.	Introdução	4
2.	Tipos de túneis	5
2.1.	Túneis de mineração	5
2.2.	Túneis de serviços públicos	6
2.3.	Túneis de transporte	6
3.	Aspectos preliminares	7
4.	Estudos geológicos para construção de túneis	8
4.1.	Metodologia para investigação geológica	9
4.2.	Objetivos e definição de propriedades das rochas na investigação geológica	10
4.3.	Fatores geológicos típicos e sua influência na construção de túneis	11
4.4.	Outros fatores correlacionados com o geológico	12
5.	Planejamento	12
6.	Métodos de escavação	13
7.	Relatório Geotécnico	18
9.	Métodos de impermeabilização	21
11.	Metodologia construtiva	22
12.	Aterro da trincheira do túnel	24
13.	O futuro da construção de túneis	25
14.	Aplicação na engenharia: Estudo de Caso	27
15.	Considerações Finais	49
16.	Referências	50
Introdução
A palavra “túnel” tem origem inglesa, sua semântica designava qualquer galeria subterrânea que se situasse por baixo de um curso de água natural, numa perspectiva de via de comunicação terrestre. Posteriormente, por o termo passou a contemplar outras cavidades, e pode ser descrito como uma escavação estreita, alongada e essencialmente linear, com um comprimento muito superior à sua largura ou altura.
Os túneis são um dos mais antigos tipos de construção exercida pelo homem. São conhecidos túneis no antigo Egito, com 150 m de comprimento, em Roma, onde desenvolveram técnicas de trabalho, como a aplicação do calor e resfriamento rápido para facilitar a escavação, utilizando-se água ou vinagre, no caso de resfriar rochas calcárias, pois assim ocorreria uma ação química, além da física. 
Outros exemplos de casos históricos são: na Babilônia, há 4000 anos, onde foi construído a céu aberto o túnel sob o Rio Eufrates, com 1 km de comprimento e secção de 3,6 m a 4,5 m; em Roma, os túneis dos aquedutos, construídos há 1800 anos e reconstruídos em 1925; entre França e Itália, o Monte Cenis, túnel construído entre os anos 1857 a 1871, com a introdução de perfurações nas rochas e utilização de dinamite para sua construção, houve a escavação de 610.000 m3 de material obtendo o comprimento de 12,8 km; em Londres, no ano de 1869, usou-se um "shield" cilíndrico pela primeira vez. 
No Brasil, somente a partir de 1948 foram contratados geólogos para estudo da abertura do túnel de Santa Cecília no estado do Rio de Janeiro, escavado pela companhia de energia elétrica do Estado. Primeiramente escavaram 725 m, sem uma adequada investigação geológica preliminar, em 1948, o geólogo americano Fox realizou um estudo geológico da faixa, fazendo detalhadas observações superficiais em poços e através de sondagens, resultando a modificação no traçado, pois a primeira solução era mais difícil e mais custosa. 
O objetivo dos túneis é permitir uma passagem direta através de certos obstáculos, que podem ser elevações, rios, canais, áreas densamente povoadas, etc. São utilizados para transporte ou mineração. São exemplos os túneis: ferroviários, rodoviários, de metrôs, de transporte de fluidos (água). Nesse último, a finalidade pode ser tanto para obtenção de energia, como de abastecimento de populações. 
Outra aplicação para os túneis é a sua utilização como obras auxiliares em barragens, para o desvio das águas do rio e construção das estruturas da barragem no leito do rio. Esses tipos de túneis são geralmente desenvolvidos em vales fechados e profundos e são aproveitados como túneis de adução para o transporte das águas do reservatório até a casa das máquinas.
Tipos de túneis
Há três grandes categorias de túneis: mineração, serviços públicos e transporte.
Túneis de mineração
São usados durante a extração de minérios para permitir que operários ou equipamentos tenham acesso aos depósitos de minério e metais que ficam em camadas profundas do solo, têm custo de construção menor e não são tão seguros quanto os projetados para ocupação permanente (figura 1).
Figura 1. Minerador de carvão na parte traseira de um carro em um túnel de mineração do começo do século XX
Túneis de serviços públicos 
É utilizado para o transporte de água, esgoto ou gás através de grandes distâncias. Os primeiros túneis eram usados para levar água e retirar esgoto de regiões densamente povoadas (figura 2). Exemplos: túneis hidráulicos, galerias de captação de água, túneis de aproveitamentos hidroelétricos e armazenamentos subterrâneos.
Figura 2. Aqueduto romano que ia das Lagoas de Salomão para Jerusalém
Túneis de transporte
São os túneis rodoviários e ferroviários. Antes de existirem trens e carros havia canais (passagens artificiais de água utilizadas para navegação ou irrigação). Eles inspiraram alguns dos primeiros túneis do mundo, pois precisavam dessas estruturas para passar de forma eficiente através de um obstáculo, como uma montanha. 
No século XX, trens e carros já haviam substituído os canais como as principais formas de transporte, o que levou à construção de túneis maiores e mais longos. O túnel Holland, terminado em 1927, foi um dos primeiros túneis feitos para estradas (figura 2).
Figura 2. Túnel Holland no percurso de Manhattan a Nova Jérsei  
Aspectos preliminares
Para a construção de um túnel é preciso que haja um planejamento multidisciplinar, devendo levar em consideração vários aspectos, dentre eles os geotécnicos, topográficos e hidrológicos.
Para a construção de um túnel, é necessário que:
A escolha do traçado considerando as características das formações geológicas;
A elaboração do programa de prospecção e ensaios, o tratamento dos dados e fornecimento da informação necessária ao projeto de acordo com as condições do maciço;
Indicação das condições naturais do maciço através da cartografia geológica, para propor alterações ao projeto.
Os túneis são estruturas complexas executadas preferencialmente por empresas e técnicos altamente especializados e utiliza materiais e meios de custo elevado. Embora seja um empreendimento de alto custo, existem numerosas vantagens da utilização do espaço subterrâneo, entre as quais: 
Permitem uma maior flexibilidade na escolha e otimização de traçados no atravessamento de zonas de geografia acidentada e em zonas urbanas; 
Reduzem a ocupação de terrenos agrícolas ou ocupados por estruturas urbanas, valores arqueológicos ou outras; 
Não tem efeitos adversos na paisagem e nos aglomerados populacionais; 
Tem um reduzido impacto ambiental; 
Tem boa aceitação por parte das populações. 
Estudos geológicos para construção de túneis
A construção de um túnel tem por finalidade o transporte ou tráfego de algo, com esses aspectos preliminares auxiliam na escolha da sua viabilidade com um menor percurso e menor custo. 
Geralmente, um túnel atravessa mais de um tipo de solo, implicando diferentes riscos. Para isso, é necessário um bom planejamento num túnel, pois permite a preparação para as variações de tipo de solo desde o início, prevenindo atrasos inesperados no meio do projeto. 
Portanto, o conhecimento das condições geológicas é o aspecto mais importante da fase preliminar que subsidia a construção de túneis. A análise geológica e geotécnica completa determina o tipo de material que irá se encontrado durante a construção do túnel e poderá avaliar os riscos dos diferentes locais por ondeo túnel irá passar. 
O conhecimento geológico é feito através de investigações superficiais complementadas com sondagens espaçadas adequadamente, acompanhando as fases de execução do projeto, visando, o zoneamento geotécnico dos maciços. O zoneamento geotécnico é a divisão do maciço rochoso em várias unidades de volume, apresentando cada uma delas uma homogeneidade e individualidade quanto aos fatores geotécnicos que caracterizam o maciço.
As tarefas de geologia para o engenheiro durante o processo de construção de um túnel pode ser esquematizado por fases segundo quadro 1.
Na fase de viabilidade, os estudos visam estabelecer o traçado do túnel, otimizando o alinhamento diante aos condicionantes geológicos. É necessário a coleta de informação geológica (geomorfologia, litologia, estrutura, tectônica) e geotécnica existente, à análise de fotografias aéreas, ao reconhecimento geológico de superfície e à execução de alguns trabalhos expeditos de prospecção.
Quadro 1. Produtos dos estudos geológicos e geotécnicos segundo fase do projeto da construção de um túnel
	Fase do projeto
	Estudos Geológicos e Geotécnicos
	Produto
	Estudo Prévio ou de Viabilidade
	Reconhecimento
	Relatório preliminar
	Ante-projeto
	Expedição preliminar de prospecção
	Zoneamento geotécnico
	Projeto
	Expedição complementar de prospecção e ensaios
	Pormenorização do zoneamento geotécnico
	Construção
	Acompanhamento da obra e cartografia geológica
	Relatório geológico/ geotécnico final
	Funcionamento ou Observação
	Colaboração na interpretação das medições com os equipamentos de observação do comportamento
	
Fonte: Adaptado de Prada (2012).
Na fase de ante-projeto/projeto os estudos visam essencialmente, numa primeira abordagem, o zoneamento geotécnico do maciço interessado pela implantação do túnel e a classificação geomecânica das respectivas zonas. Com isso, faz-se a localização dos emboquilhamentos, a escolha dos métodos de escavação mais adequados e dos suportes primários e a definição das condições hidráulicas, nomeadamente as relativas à drenagem do maciço. É geralmente na fase de construção que se completa o projeto de um túnel. 
Na fase de construção do túnel serão obtidas informações complementares que irão permitir complementar o estudo geológico – geotécnico do maciço e introduzir eventuais alterações ou ajustamentos no projeto.
Metodologia para investigação geológica
A metodologia para a coleta de informações geológicas com exatidão é dada através da abertura de poços exploratórios, verticais ou inclinados, que a medida do possível, esses poços deverão servir para o transporte de material durante a construção ou início das fases intermediárias, bem como para drenagem ou ventilação. 
Posteriormente, as propriedades físicas e mecânicas dos materiais poderão ser determinadas através dos ensaios de laboratório ou in situ, os quais apresentam maior precisão do que aqueles obtidos através de sondagens. Podemos citar os métodos de prospecção geotécnica utilizados na abertura de túneis, assim como os de permeabilidade e deformabilidade nos maciços rochosos:
Prospecção geotécnica
Prospecção geofísica: métodos sísmicos, métodos elétricos;
Prospecção mecânica: sondagens, valas ou trincheiras, poços e galerias;
Ensaios in situ: de deformabilidade, de permeabilidade e de resistência;
Ensaios em laboratório: Compressão uniaxial, triaxiais, resistência à tração, desgaste em meio úmido (slake durability test, indica a vulnerabilidade da rocha à erosão).
Permeabilidade
Ensaio de Lugeon: realizado no interior de sondagens, a partir da injeção de água, radialmente, sob pressão (mede-se o volume de água injetado àquela pressão). Permite conhecer a condutividade hidráulica do maciço;
Martelo de Schmidt: permite calcular a resistência à compressão simples da rocha;
Índice de carga pontual: determina a resistência à compressão simples de fragmentos de rocha.
geotécnica
Deformabilidade
Placa de carga: medem-se os deslocamentos resultantes da aplicação de cargas conhecidas no interior de galerias em rocha;
Ensaio dilatométrico: obtêm-se curvas tensão/deslocamento dentro de sondagens.
Objetivos e definição de propriedades das rochas na investigação geológica
Os objetivos da exploração geológica são para determinar os seguintes ítens: 
Tipos de rochas e de seus elementos estruturais (dobras, falhas, fraturas); 
Propriedades físicas, químicas e mecânicas das rochas; 
Classificação e espessuras das camadas de solo; 
Condições hidrológicas, de temperatura e de gases. 
Especificamente, as propriedades das rochas deverão ser definidas durante a investigação geológica quanto:
Orientação da estratificação: se horizontal, moderadamente ou fortemente inclinada, dobrada, etc;
Se estratificadas, qual a espessura de cada camada e a regularidade da sequência das camadas;
Composição mineralógica;
Textura;
Dureza para relacionar ao tipo de perfuração, explosão ou corte;
Grau de alteração e de fraturamento;
Caráter e magnitude das pressões da rocha;
Profundidade e composição da cobertura a cima do túnel;
Condições hidrológicas: porosidade, permeabilidade, quantidade de água prevista e composição química.
Fatores geológicos típicos e sua influência na construção de túneis 
Deve-se estudar o posicionamento das camadas rochosas a serem atravessadas por um túnel para saber a influência na construção, são elas: 
Rochas maciças: a construção é mais rápida e barata se houver um tipo de rocha, nesse caso as rochas magmáticas são as ideais em comparação às sedimentares ou metamórficas, devido estas possuírem camadas;
Camadas inclinadas: a locação do túnel deverá ser paralela à direção da camada ou cortando a direção das camadas;
Camadas verticais: o túnel pode ser escavado paralelo ou perpendicular à direção das camadas;
Camadas horizontais: essa estratificação na forma de camadas espessas é vantajosa na construção de pequenas galerias, assim as camadas atuarão como vigas, dando segurança a estrutura. No entanto, quando as escavações são largas e as camadas finas, ou ainda, fissuradas a secção do túnel torna-se deformada e de difícil sustentação.
Outros fatores correlacionados com o geológico 
Condições Hidrogeológicas: quando possível, a locação de um túnel deverá ser a cima do nível da água, se as escavações tiverem a presença de água dificulta a construção, necessita de métodos especiais, como o da couraça ou a aplicação do rebaixamento do nível da água. Em caso de regiões de calcários, deverá ter um cuidado especial devido à presença de cavernas e canais de dissolução. Também é necessário estabelecer um sistema de drenos para remover possíveis águas de infiltração;
Temperatura: a temperatura no interior da terra aumenta com o avanço das escavações, devido ao grau geotérmico, que expressa o aumento de um grau na temperatura à medida que aumenta a profundidade; 
Gases: surgem quando as escavações atingem depósitos orgânicos, carvão ou depósitos vulcânicos é normal aparecerem gases (CO2, CH4, H2S) alguns deles são inflamáveis podendo provocar acidentes. 
Planejamento
Túneis são quase sempre levados em consideração para atuar solucionando um desafio ou um problema específico. Tal desafio pode ser um obstáculo aquático, uma montanha, outra rota de transporte ou até mesmo uma cidade que não possui espaço para novas construções. Como o túnel de Holland, que foi construído para suprir as necessidades de uma balsa obsoleta que tentava transportar mais de vinte mil veículos por dia pelo rio Hudson. Logo na abertura ficou comprovada a utilidade do túnel, por onde passaram 51694 veículos, fazendo um tempo médio de oito minutos de viagem.
Mas não só isso, às vezes o túnel surge como a solução mais segura do que outros tipos de estrutura. Foi o caso do túnel Seikan, que foi construído no Japão como melhor opção de garantir a segurança daqueles que precisavam atravessar o estreito de Tsugaru, pois a construção de uma ponte seria difícil e utilizar balsas já não era mais viável devido às condiçõesclimáticas perigosas do local.
Para esse tipo de obra, é preciso realizar um estudo do tipo de material pelo qual o túnel passará e desenvolver um plano geral de escavação, avaliando os possíveis riscos relativos ao local em que é realizada a obra. 
É normal um único túnel passar por mais de um tipo de material e encontrar diferentes riscos durante seu trajeto. Um bom planejamento é essencial para obter sucesso nesse tipo de construção, a fim de evitar complicações e atrasos indesejados, preparando-se previamente para contornar problemas gerados por essas variações.
Uma análise geológica completa é feita por um engenheiro, tendo por finalidade determinar fatores como: tipos de rocha e solo, áreas fracas (incluindo falhas e zonas de cisalhamento), águas subterrâneas (incluindo padrão de fluxo e pressão) e riscos especiais (como calor, gases e linhas de falhas). Fatores esses que ajudarão a traçar a melhor rota para uma construção segura e com alto rendimento.
Métodos de escavação
Geralmente duas técnicas são utilizadas para cavar um túnel. A primeira dela consiste na escavação plena, onde todo o diâmetro do túnel é escavado ao mesmo tempo. Tal técnica é mais usada na construção de túneis menores ou quando escava-se através de um solo forte.
Já na segunda, denominada top-heading-and-bench (figura 4), cava-se primeiro um túnel menor, o direcionador, e quando este alcança certa distância dentro da rocha, escava-se, logo abaixo de seu leito, um túnel menor ainda, chamado bruma. A vantagem dessa segunda técnica é a possibilidade de medir a estabilidade da rocha com o direcionador antes de seguir adiante com o projeto.
O modo de construção varia pelo caminho que o túnel traçará. Quando atravessam montanhas ou são escavados sob a água, eles são construídos a partir de suas extremidades. Quando são suficientemente longos, poços verticais são perfurados espaçadamente para que mais de dois pontos sejam escavados ao mesmo tempo.
Varia também pelo tipo de material pelo qual o túnel passará, sendo três os principais ambientes encontrados.
Figura 4. Método top heading and bench
Túneis escavados através de um solo mole, como argila, lodo, cascalho ou lama, possuem um tempo de sustentação menor, o que resulta em maiores chances de desabamento. Para contornar esse dilema, é utilizado o shield (figura 5), um cilindro de ferro ou aço que é empurrado para dentro do solo, esculpindo um buraco perfeitamente redondo e apoiando a terra circundante enquanto são removidos os destroços e instalado um revestimento permanente de ferro fundido ou concreto pré-moldado. 
Figura 5. Modelo atual Shield
Ao acabar uma seção, empurra-se o shield e repete-se o processo. Também são utilizados outros processos para escavar esse tipo de material. O cut-and-cover, por exemplo (figura 6), funciona como o próprio nome sugere, cortar e cobrir. É aberta uma profunda trincheira que depois é coberta. Para uma cobertura estável são utilizadas colunas de sustentação em ambos os lados e depois são colocados modilhões e vigas usando as colunas como suporte. 
Figura 6. Esquema ilustrando as fases do cut-and-cover.
O NATM, New Austrian Tunneling Method, é um método rápido, rentável, seguro, de baixo impacto ambiental e sem limites de dimensões ou obstáculo, usado em obras viárias, residenciais e empresariais. Tem como objetivo fundamental redistribuir as tensões do túnel, mobilizar as tensões de resistência interna do maciço para sustentação do solo e sobrecarga, utilizando recursos como enfilagens, cambotas, arco invertido provisório e tratamento de frente. 
Durante a escavação é deixada uma porção de terra denominada núcleo, que virá a servir como elemento de estabilidade de frente de escavação e plataforma de trabalho para aplicação das telas de aço e da camada de concreto, na finalização de cada trecho (figura 7). Caso água seja encontrada durante a escavação, são utilizados ponteiras à vácuo, poços injetores ou drenos para rebaixar o nível do lençol freático, assim a obra pode ser retomada e um novo trecho estabilizado, dando sequência ao projeto.
Figura 7. Imagem retratando a finalização de um trecho com concreto projetado.
Para driblar os desafios proporcionados por uma rocha dura há duas soluções. A primeira chamasse Drilling and Blasting, ou seja, perfuração de detonação, que nada mais é do que explosões. Utilizando um andaime (denominado jumbo) que se move em direção à face do túnel e possui brocas que fazem furos nas paredes do mesmo, os operários colocam os explosivos em tais buracos, evacuam o local e detonam as cargas. Após aspirar os gases nocivos liberados pela explosão, o túnel está liberado todo o processo é repetido. Porém, antes de começar com as perfurações, é necessário analisar alguns aspectos da rocha, como: a natureza topográfica do terreno em que a rocha encontra-se a profundidade necessária dos furos, a dureza e o grau de fraturamento da rocha, as dimensões da obra e a disponibilidade de água para perfuração, quando a mesma precisa de água.
Uma alternativa à explosão é usar da mudança brusca de temperatura ocasionada pelo aquecimento das paredes do túnel e posterior resfriamento com água. A expansão e a contração rápida resultante de tal mudança de temperatura faz com que largos pedaços de rocha se desprendam. 
Esse tipo de material proporciona um maior tempo de sustentação, não precisando de suporte para o teto e paredes. Porém, por apresentar rachaduras ou bolsões de rochas quebradas, é adicionado um suporte em forma de estacas, concreto respingado ou anéis de viga de aço.
Já quando a rocha é mole, como argila ou pedra calcária, explodir não é uma boa opção. Por isso prefere-se utilizar as Tunneling Boring Machines (TBMs) (figura 8), ou simplesmente máquinas tuniladoras. Elas possuem, em uma extremidade, uma placa circular coberta por cortadores em disco, que são dentes de corte em forma de cinzel, discos de aço ou uma combinação de ambos. Conforme a placa gira, os cortadores penetram a rocha, que cai entre os espaços do cabeçote de corte dentro de um sistema transportador, que carrega os destroços para a parte traseira da máquina. Cilindros hidráulicos são responsáveis por impulsionar o máquina para frente, poucos metros por vez. Tais máquinas, além de perfurar a rocha, também sustentam o túnel. Enquanto acontece a escavação, duas brocas perfuram a rocha, fazendo buracos que são preenchidos pelos operários com cimento e vigas que permanecerão até o revestimento permanente ser instalado. 
Figura 8. Cabeçote de perfuração de uma TBM com seus cortadores em disco.
A utilização da TBM proporciona uma maior segurança durante a escavação, como também uma redução no número de funcionários envolvidos no processo e um avanço mais rápido da obra, sem os possíveis danos causados por explosões. Contudo, seu custo é elevado e é necessário um sistema de ventilação mais largo devido à grandeza do maquinário.
Metodologia construtiva
Dentre as várias atividades da metodologia construtiva, serão detalhadas, neste item, as atividades nas quais os aspectos geotécnicos possuem maior importância para a sua execução.
Nos trabalhos de escavação são definidos em virtude dos materiais que são encontrados no leito do rio ou canal. A execução de túneis imersos comparados a túneis em rocha é geralmente mais viável quando, no leito do rio, encontram-se areias: é alto o custo da fundação em argilas. Compreendem os trabalhos de escavação a dragagem e o desmonte subaquático.
a) Dragagem 
Segundo Rasmussen (1997), a dragagem da trincheira é o principal item da dragagem em um projeto de túnel imerso. Os trabalhos de dragagem devem-se relacionar com a construção de um túnel imerso e podem ser empreendidos da seguinte forma: 
Dragagem do local de concretagem/lançamento; 
Dragagem de buracos para teste no curso d’água com o intuito de avaliar a sedimentação na trincheira do túnel; 
Ampliação do canal existente de navegação a fim de fornecer canais temporários de navegação fora da área dos trabalhos marinhos; 
Aprofundaro curso d’água existente a fim de compensar a redução da seção transversal do curso d’água causada pelos trabalhos permanentes do túnel, e, assim, evitar mudanças nas condições hidrológicas e biológicas do curso d’água; 
Dragagem para construções adjacentes do túnel e apoio/manutenção; 
Dragagem da trincheira do túnel para seção do túnel imerso; 
Dragagem de um canal de acesso entre ao pátio de concretagem/lançamento e a trincheira do túnel
O objetivo das escavações da trincheira é fornecer espaço para o elemento do túnel pré-fabricado - a areia ou fundação com pedregulho abaixo do túnel - e para o aterro de proteção nos lados e acima do túnel. Por que o topo do aterro do túnel precisa ser mantido abaixo do existente ou do futuro contorno do canal de navegação é muito comum o nível do fundo da trincheira entre 25 a 30 m abaixo do menor nível da água. 
b) Desmonte sub-aquático 
Quando a remoção não é possível de ser efetuar com emprego apenas de dragas convencionais, ou por desmonte mecânico, surge então necessidade do emprego de explosivos para fragmentação do material rochoso submerso. Assim, este deverá ser removido em fragmentos, pelas dragas. De modo geral, a utilização de um desmonte subaquático gera muita polêmica por causa da sua ação no meio ambiente. O desmonte subaquático, do ponto de vista teórico, não apresenta diferença significativa em relação ao desmonte comum. Porém, do ponto de vista prático, ele apresenta sensível diferença em virtude do grande número de problemas especiais que o envolvem, resultando em custos e prazos de execução sempre muito mais elevados. Devem ser levados em conta também os seguintes: 
a) Proteção do pessoal e do equipamento contra as ondas e os ventos; 
b) Possibilidades de ligação com a terra; 
c) Profundidade, natureza e volume de material a desmontar; 
d) Existência de lodo, areia, etc, sobre o material a desmontar; 
e) Visibilidade debaixo d’água, quando necessário o emprego de mergulhadores; 
f) Efeitos das ondas de choque provenientes das detonações e propagados através da rocha e da água; 
g) Grande dificuldade de 1ocação dos furos; 
h) Grande sensibilidade às condições de tempo e marés e; 
i) Interferência no tráfego de navios. 
Aterro da trincheira do túnel 
O aterro do túnel são trabalhos complementares, compreendendo a colocação de colchão de proteção ou membranas e a colocação de enrocamento. Seus objetivos são: 
Proteger da erosão a fundação permanente do túnel; 
Fornecer suporte horizontal ao túnel; 
Proteger as reservas de água potável, abaixo do túnel, de contaminações pelo canal da água; 
Proteger o aterro da erosão; 
Proteger o túnel de objetos que possam cair, tais como âncoras de navios. 
As melhores condições de aplicabilidade dos túneis imersos estão relacionadas às principais vantagens da utilização desta metodologia construtiva.
No Brasil, a travessia de canais em portos ou em rios com navegação comercial geralmente são executadas com pontes ou com raras exceções por balsas. Modernamente, para possibilitar a travessia, a opção de um túnel imerso deverá ser considerada nos estudos de viabilidade. 
a) Vantagens construtivas 
Execução de várias atividades ao mesmo tempo; 
Grande grau de repetição das atividades; 
Trabalhos fáceis de controlar e com baixas dificuldades; 
Facilidade de medir a eficiência dos trabalhos devido à repetição das atividades; 
Permitindo acelerar certos trabalhos da parte crítica; 
Utilização de poucos materiais; 
b) Alternativa arquitetonicamente viável 
O túnel imerso além de constituir uma das melhores opções para a travessia marinha favorece os seguintes aspectos: 
Liberação do Espaço de Superfície: a implantação de um túnel no local estipulado significaria a liberação da superfície para atividades prioritárias; 
Minimizar a Interferência Paisagística: por estar localizado sob a água, apenas os emboques do túnel seriam visíveis, não causando interferência visual na paisagem. 
c) Menor interferência no tráfego hidroviário 
A adoção do segmento túnel imerso possibilita a continuidade simultânea de tráfego hidroviário existente, com exceção do período de sua construção. Logo torna-se uma boa opção para o melhoramento da mobilidade urbana.
O futuro da construção de túneis
Conforme a tecnologia se aperfeiçoa, os engenheiros continuam a construir túneis mais longos e maiores. Recentemente, foi desenvolvida tecnologia avançada de imagens que permite varrer o interior da Terra através da computação de como as ondas sonoras percorrem o solo, o que fornece uma foto precisa do provável ambiente de um túnel: tipos de rocha e solo, além de anomalias geológicas, como falhas e fissuras.
Enquanto essa tecnologia promete melhorar o planejamento de túneis, outros avanços irão acelerar a escavação e a sustentação do solo. A próxima geração de TBMs (máquinas tuneladoras) será capaz de cortar 1.600 toneladas de solo por hora. E os engenheiros também já fazem experimentos com outros métodos de corte de rochas, que utilizam jatos d'água de alta pressão, laser ou ultra-som. E em outra frente de batalha, engenheiros químicos estão trabalhando em novos tipos de concreto que endurecem mais rapidamente devido ao uso de resinas e outros polímeros no lugar do cimento.
Com essas novas tecnologias e técnicas, túneis que pareciam impossíveis há apenas dez anos, agora podem ser construídos - por exemplo, o túnel Transatlântico, conectando Nova Iorque a Londres. Este túnel de quase 5 mil km de extensão iria abrigar um trem de levitação magnética, capaz de fazer o percurso a mais de 8 mil km/h. O tempo estimado de viagem? 54 minutos, quase sete horas a menos do que um vôo transatlântico comum. 
Assim como foi a construção do Eurotúnel que revolucionaram em sua época de construção, um túnel ferroviário submarino e subterrâneo de 50,5 km que atravessa o Canal da Mancha ligando a França à Inglaterra. A escavação do túnel demorou sete anos e empregou 15.000 trabalhadores, que englobava 15 empresas e 5 bancos de ambos os países. Foram usadas grandes máquinas, tunnel boring machine (TBM). Estas máquinas eram autênticas fábricas móveis que abriam o túnel, retiravam a terra e escoravam as paredes com concreto. Quase 4 milhões de metros cúbicos de cal foram escavados só do lado inglês; a maior parte foi deitada ao mar em Shakespeare Cliff, perto de Folkestone tendo com isso, roubado ao mar cerca de 360.000 m².
O Túnel da Mancha é constituído por 3 túneis paralelos, dois principais ferroviários e um menor, de acesso. Este túnel de acesso, que é servido por veículos pequenos, é ligado aos outros através de passagens transversais em intervalos regulares para permitir que os trabalhadores da manutenção tenham acesso aos túneis principais e para fornecer uma saída de emergência em caso de acidente.
Os passageiros e os veículos automóveis (ligeiros e pesados) são transportados por um serviço de comboios, ou trens, geridos pela companhia eurotúnel. O trajeto dura apenas 35 minutos. 
O encontro dos dois túneis 40 metros abaixo do solo do Canal da Mancha em 1 de dezembro de 1.990, num crossover (passagens que permitem trens passar de um túnel a outro). Os britânicos e franceses, usando métodos de cálculo e pesquisa a laser, encontraram-se com menos de 2 cm de erro. O túnel foi oficialmente inaugurado pela rainha britânica Elisabeth II e pelo presidente francês François Mitterrand, em 4 de maio de1994.
 
Considerações Finais
Diante do exposto nesse trabalho, podemos perceber a complexidade da construção de um túnel, visto que é necessário considerar a qualidade de vários aspectos, tais como preparação técnica, equipamentos adequados e especializados e planejamento.
O planejamento de qualidade é baseado no conhecimento das condições geológicas, portanto, considerado o aspecto mais importante que subsidia a construção de túneis. Com isso, podem-se avaliar os riscos dos diferentes locais por onde o túnel irá passar, permitindo a preparação de imprevistos e viabilidade da obra de forma segura,além otimizá-la, evitando atrasos e adições de gastos. 
Referências
CHIOSSI, Nivaldo José. Geologia aplicada à engenharia. 2ª edição. São Paulo: Grêmio Politécnico, 1979.
BASTOS, Mário José Nascimento. A geotecnia na concepção, projecto e execução de túneis em maciços rochosos. Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Georrecursos. Lisboa: universidade técnica de lisboa, 1998. Disponível em http://www.visaconsultores.com/pdf/Tese_MSc_MB.pdf. Acesso em 23/05/2018.
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