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AV2 23/03/2018 Aula 01 CONTRATOS EMPRESARIAIS 1. Introdução O direito civil trata tanto das obrigações civis como das obrigações empresariais. Na relação civil o legislador estabelece como princípios mais importantes os princípios sociais (boa-fé objetiva, função social, etc). Portanto, existe uma abertura maior para que o Estado intervenha nas relações contratuais a fim de adotar uma posição mais diligente nessas relações, que não é bem visto nos contratos empresariais. Lembre-se que quando fala de direito empresarial propriamente dito, tem que analisar o contrato e a relação dos empresários de forma mais profunda, pois, dessa forma observa a estrutura do próprio poder econômico. Portanto, quando a gente fala de direito empresarial, a gente está falando de livre iniciativa, livre concorrência, da lei de mercado (oferta e da procura) e qualquer intervenção do Estado estará impactando o mercado como um todo e não só as partes. Ex.: Se a UNIJORGE entra com uma ação contra COELBA dizendo que está cobrando uma tarifa de forma ilegítima pedindo, assim, a exclusão dessa tarifa. O poder judiciário, ao interferir nesse contrato, vai acontecer que o custo da UNIJORGE vai cair, mas o custo das outras faculdades vai se manter igual, interferindo, assim, na livre concorrência. Isso ocorreu uma vez que o Estado se meteu na relação jurídica para reduzir o custo de um concorrente, dando, dessa forma, uma vantagem para um mercado educacional. Diante esse exemplo, entende-se que essa interferência é ruim, pois interfere no mercado como um todo. Ex.: O banco sai emprestando dinheiro sem tomar cuidado e acaba tomando um calote e acaba se quebrando, enquanto os outros continuam fazendo empréstimo com cuidado. O Estado salva o banco, pois, deixando o banco quebrar, a economia toda cai. Desse modo, o governo passa a interferir no próprio mercado, ou seja, em uma economia de mercado vence quem é mais eficiente, dessa forma, o empresário eficiente “sobrevive” e o empresário ineficiente sai do mercado, pois é assim que funciona. Entende-se, dessa forma, que o governo dá incentivo para o mercado inteiro ser irresponsável e inconsequente, privilegiando, assim, o ineficiente. Toda vez que o Estado intervém no contrato empresarial, ele potencialmente está interferindo no mercado como um todo, bem como na livre concorrência e consequentemente pode também está interferindo na livre iniciativa. Por conta disso os empresários não suportam o diligismo contratual no direito empresarial. Tanto que o CC/02 unifica o direito privado brasileiro, logo os contratos empresariais, o direito das obrigações empresariais e civis passaram a ficar em um mesmo código. O judiciário, então, passa a tratar os dois contratos como se fossem iguais. Sendo que não pode tratar dessa maneira, dessa forma, a doutrina começou a separar. Fabio Ulhoa Côelho escreveu um artigo falando sobre o erro dessa unificação, de tal forma que trouxa a discussão, resultando em um projeto de código comercial para tratar, separadamente, os contratos empresariais e revogar toda parte do código civil que trata do direito empresarial, para que assim venha evitar que o judiciário, a doutrina, o Estado, trate o contrato empresarial do mesmo jeito que o contrato civil. Todo o CDC se baseia em uma premissa, sendo ela: “na relação de consumo o consumidor é a parte mais fraca”. Partindo dessa premissa, tende a construir um sistema de proteção, de tal forma que até o título da lei é parcial. Estabelecendo, assim, de maneira geral, responsabilidade objetiva solidária entre todos os fornecedores da cadeia pelos danos decorrentes daquela relação de consumo, criando, assim, uma situação desfavorável para o fornecedor e favorável para o consumidor. A ideia aqui é facilitar a defesa do consumidor contra a prática abusiva decorrentes da relação de consumo. Além disso, do ponto de vista processual, o CDC estabelece a possibilidade de inversão do ônus da prova. O código diz, por exemplo, que toda vez que tiver mais de uma interpretação do contrato, deve-se adotar a interpretação mais favorável para o consumidor. Tem uma série de cláusulas que são consideradas como cláusulas abusivas. Ou seja, o CDC estabelece um sistema extremamente favorável para o consumidor e muito desfavorável para o consumidor, no qual o legislado, portanto, parte de uma premissa de que existe uma desigualdade. AV2 16/04/2018 Aula 03 CONTRATOS EMPRESARIAIS O que são Contratos Empresariais Contratos Empresariais (ou Mercantis) são aqueles celebrados por empresários, no exercício de sua atividade econômica. Dada a diversidade de disciplinas jurídicas, a depender da natureza jurídica do vínculo, seu estudo é de importância basilar para a melhor compreensão da atuação empresarial. Em sentido amplo: É o contrato em que uma das partes é empresário. Em sentido estrito: É o contrato em que uma ambas as partes são empresários 1. Regimes Jurídicos dos Contratos Celebrados pelo Empresário A depender da relação que o empresário esteja tendo o regime jurídico adotado para abarcar essa relação será diferente, a exemplo: CC; CLT; CDC; LEI 8666/93 para os contratos administrativos. Contratos De Trabalho - Regime Jurídico celetista/legislação trabalhista. Quando o empresário é parte de um contrato de trabalho. O contrato será de emprego/trabalho quando o empresário se enquadrar no conceito de empregador e a outra parte no conceito de empregado. Assim segue o regime jurídico do direito do trabalho. Através do artigo 2º e 3º da CLT vai saber se o contrato é dessa natureza. Portanto, ambas as partes têm que se encaixar no conceito de empregador e empregado. Ex.: A UNIJORGE, se encaixando no artigo 1º, ao fazer um contrato com chamex para fornecer papel para a instituição, não se tem um contrato de trabalho, uma vez que a chamex não se encaixa no conceito de empregado para essa relação jurídica. Contratos Administrativos - Regime jurídico da lei nº 8.666/1993 (licitações). Quando o empresário é parte de um contrato administrativo. O contrato será dessa natureza quando uma das partes for o poder público, ou seja, pessoa jurídica de direito público interno submetido ao regime de direito público. Portanto, se uma das partes do contrato for qualquer um dos entes relacionados no artigo 1º, será ele regido pela lei de licitações, caracterizando em contrato administrativo submetido ao regime jurídico administrativo. Se tem pessoa jurídica de direito público interno submetido ao regime de direito privado (empresas públicas), Caixa Econômica Federal é submetida ao regime de direito privado nas relações com o mercado. Contratos De Consumo - Regime jurídico do CDC. Quando o empresário é parte de um contrato de consumo como fornecedor ou como consumidor. Através do artigo 2º e 3º do CDC vai saber se o contrato é dessa natureza. A expressão “destinatário final” no artigo 2º é o que vai definir se a pessoa é consumidora ou não. Contratos Empresariais - Regime jurídico do CDC e do CC. Quando o empresário é parte de um contrato empresarial propriamente dito. Ou seja, aquele contrato em que ambas as partes são empresários. Ex.: Quando a UNIJORGE contrata o serviço de energia elétrica com a COELBA, trata-se de um contrato de consumo, uma vez que a COELBA é a fornecedora e a UNIJORGE consumidora, sendo regido pelo CDC. No caso em que a UNIJORGE contrata uma empresa de segurança, sendo essa situação é diferente quando os empresários não estão em uma relação de consumo entre si, uma vez que é uma empresa contratando outra para prestarserviço que faz parte da própria atividade fim, sendo essa uma relação empresarial e o regime jurídico de direito empresarial, ou seja, esse contrato se submete ao CC. Ex.: Quando o EXTRA compra mercadoria para revender, esse contrato é empresarial, pois, o EXTRA não está comprando como consumidor/destinatário final, sendo este contrato regido pelo código civil. OBS.: O art. 4 do CDC aduz que deve ser protegida a parte mais fraca na relação de consumo, o STJ entende que contratos entre empresários, que tenham grande disparidade entre as partes, devem seguir esse entendimento, ou seja, resguardar o direito do mais franco. Ex.: A Friboi vende carne para o mercadinho do Zé, que é um empresário pequeno. Nesse caso, o STJ diz que é um contrato empresarial. Contudo, como há disparidade e para proteger Zé, diz que esse contrato vai ser submetido ao regime jurídico do CDC, de forma que venha tratar Zé como se fosse consumidor (ele não é consumidor), com os benefícios que o CDC traz para o consumidor. Portanto, vai fazer a presunção de hipossuficiência dele, oportunizar a inversão do ônus da prova, bem como adotar uma interpretação mais favorável para ele. O problema aqui é que quando o judiciário faz isso, ele subverte o sistema jurídico de forma que ele banaliza, sendo que temos ferramentas jurídicas para evitar o abuso de direito de grandes empresários, não precisando o STJ fazer isso. Ao ter esse entendimento, indiretamente está fazendo com que Zé não seja mais eficiente e dessa forma ele não profissionaliza a gestão dele, pois, uma vez fazendo isso, o Estado vai intervir. O problema é o STJ fazer sem que isso seja uma política, pois, quando é uma política de Estado, o pessoal que vai implementar essa política, mede todas as consequências antes, tendo em vista que essa decisão pontual interfere no mercado (na livre concorrência). Evidentemente que a parte mais fraca deve sim ser protegido nas relações jurídicas contra abusos, porém, deve ser feito com muito cuidado (que é o que o nosso judiciário menos tem, uma vez que ele é extremamente irresponsável quando toma decisões que afetam o mercado, o direito coletivo e o difuso). O contrato que o empresário celebra pode se submeter a qualquer um desses regimes jurídicos. Tem que analisar o caso concreto e o contrato específico para saber a natureza do contrato. Sendo contrato empresarial, tem-se que verificar se será submetido ao CDC ou CC. A submissão ao CDC é em relação aos princípios. OBS.: Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça Federal Enunciado 20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua atividade de produção, comércio ou prestação de serviços. Então, deve-se analisar se irá analisar se a prestação realizada no é para realização da atividade fim do empresário contratante, se for, será abarcado pelo CC, não pelo CDC. O CC/2002 fez a unificação legislativa formal, mas o que os empresarialistas defendem é de que se trata de uma unificação meramente informal, pois, do ponto de vista material continuam sendo áreas distintas. Tínhamos como fonte, o CC de 1916, onde os contratos eram chamados de civis, em que havia intervenção estatal que se dava em dois momentos: Prévia, que era chamada de dirigismo contratual e posterior, a chamada de revisão contratual. Dirigismo contratual: Quando o Estado, antes de existir contrato, já traça limites. A gente observa esse dirigismo no princípio da boa-fé objetiva, princípio da ação social dos contratos, princípio da equivalência material das prestações. Ou seja, todas essas normas que limitam o exercício da autonomia são expressões do dirigismo contratual. Revisão contratual: Depois dos contratos celebrados, o Estado não admitir determinados comportamentos dos contratos, protegendo o consumidor contra abusos. Isso é complicado quando passa para o direito empresarial. Porque ali tem outros princípios. Deferindo os contratos empresariais, acaba com a concorrência, que acaba que com a eficiência. A lógica do mercado é a lógica da eficiência, pois, o empresário que está no mercado tem que ser eficiente, uma vez que quem for mais eficiente sobrevive. Quanto mais concorrência tiver, melhor, pois, mais baixo ficam os preços e assim mais gente consume. Portanto, se o Estado intervém muito nisso, acaba com a ideia de eficiência, uma vez que o mercado não mais precisaria ser eficiente, porque o Estado se mete muito. No direito empresarial presume que as partes são iguais e que as partes têm simetria natural (no sentido de que elas estão no mesmo patamar de igualdade), tendo em vista o princípio da livre iniciativa e o livre mercado. O CC/02 unifica o direito privado, revoga a primeira parte do código comercial de 1850 (que era dividido em três partes: contratos comerciais, comércio marítimo, que ainda está em vigor e falência). Contudo, em 1940, entrou uma nova lei de falência que revogou a terceira parte do código comercial, ficando só a primeira e a segunda em vigor. O Código de 2002, portanto, revoga a primeira parte (a parte toda de contratos e direito das obrigações empresariais fica revogada e toda regida pelo código civil). Por isso que é unificação formal. O problema é que encontramos uma disciplina jurídica única para contrato civil e empresarial, sendo uma mesma lei disciplinando as duas. Contudo, aquilo que não se desejava, que era a intervenção estatal, começa a acontecer no contrato empresarial. Ou seja, de um lado tínhamos o direito civil e do outro lado o direito comercial, sendo que eles não se misturavam, uma vez que cada um tinha seus princípios próprios, tendo em vista que o direito comercial tinha a ideia de liberdade, sem a intervenção do Estado, conforme a lei do mercado, lei da oferta e da procura e da eficiência. O código civil passou a ser mais igualitário e começou a ter o princípio da boa-fé objetiva e a função social do contrato. De repente resolve unificar os dois, deixando assim, de existir a lei própria do direito comercial. O pessoal começou a tratar o direito empresarial do mesmo jeito que trata o direito civil, para não tratar todo mundo com desigualdade. Diante isso, houve a intervenção estatal dentro do direito empresarial. Errado isso, pois está tratando de outra lógica: o mercado. Sendo muito ruim para o mercado num contexto de uma sociedade capitalista como é no Brasil. Só se a intenção for que o Brasil deixe de ser capitalista e se torne comunista ou socialista, que é o Estado sozinho, só assim faz sentido. Contudo, aproximadamente em 2006/2007 ocorre a reação dos advogados e pessoas da área de direito empresarial no sentido de dizer que desse jeito não era possível, dizendo que de fato precisamos de um direito comercial. Essa reação teve força política suficiente para convencer o Congresso Nacional. 2. PRINCÍPIOS GERAIS DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS Os princípios aqui são muito semelhantes aos do contrato civil. A rigor, são os mesmos princípios. A diferença é na intensidade/fluência de determinados princípios em relação a outros. No direito civil, em contratos, temos o princípio da boa-fé objetiva, da função social dos contratos, equivalência material das prestações, da autonomia privada, etc. Contudo, os princípios aqui, que chamamos de institucionais se submetem aos princípios sociais, de tal forma que o mais importante é o da força obrigatória, da autonomia privada, função social dos contratos e a boa-fé objetiva. I. Autonomia Privada – liberdade de contratar; II. AtipicidadeDos Contratos Empresariais - O contrato empresarial não precisa ter previsão legal específica. A maioria, se não todos os contratos empresariais, nascem como contratos atípicos. III. Consensualismo - A ideia é a liberdade de formas. IV. Relatividade; V. Força Obrigatória – aliado ao entendimento da autonomia privada, que tem a liberdade de contratar, afirma que após contratado estará vinculado a ele; A autonomia privada e a força obrigatória são os principais, as quais tem peso hermenêutico maior. Um está ligado ao outro. Ou seja, pode celebrar o contrato que quiser, contudo, fica vinculado a ele quando celebra. Havendo essa liberdade para discutir o contrato, as partes ficam obrigadas a cumprir. No direito civil a gente diz que o contrato tem que desempenhar uma função social e dentro dessa função pode fazer o que quiser devido a autonomia. No direito empresarial, diz que pode fazer o que quiser, excepcionalmente a sua vontade pode ser limitada pela boa-fé objetiva e pela função social. É claro que também nos contratos empresariais existe esses dois últimos princípios, porém, no direito empresarial eles têm uma força hermenêutica menor, uma vez que no direito é importante o peso de determinado princípio na argumentação que é construída. OBS.: Enunciado 28 - Ao partir do princípio que o indivíduo é empresário, diante o seu conceito, entende-se que ele é profissional e experiente. Não sendo ele experiente, então ele não é profissional, não devendo ele está no mercado, devendo ele sair do mercado, uma vez que o mercado preza pela eficiência. Contrato de adesão: Não tem liberdade para definir o conteúdo do contrato, sendo ele imposto unilateralmente pela outra parte. Na relação empresarial não tem isso, uma vez que ambas as partes estão exercendo autonomia, assim, ambos estão vinculados ao contrato, pois, tem em vista que o contrato empresarial é considerado igualitário. O que o STJ faz ao dizer que mesmo sendo contrato empresarial, mas havendo grande diferença entre as partes, aplica-se o CDC, foi para possibilitar que na prática, verificando que o contrato mesmo sendo empresarial é de adesão, tem que pedir a revisão desse contrato, pois, sendo s cláusula abusiva, com base no direito do consumidor, a parte que assinou não vai ser obrigada a cumprir. No contrato de consumo o fornecedor que tem que provar que o consumidor que quis fazer o contrato e que não era de adesão e que foi discutido igualmente, pois a presunção é de que o fornecedor é mais forte. Assim também acontece com o contrato de trabalho. Sendo a presunção contrária no contrato empresarial, ou seja, a parte que está pleiteando que deve provar que o contrato foi de adesão, que não teve oportunidade de exercer autonomia e por isso pedir a revisão A revisão pede alegando hipossuficiência (econômica, técnica, jurídica), no qual é a situação de vulnerabilidade. É difícil sustentar essa hipossuficiência na condição de empresário, de forma que atua profissionalmente no mercado, assim, estará admitindo sua incapacidade e falta de competência. Portanto, quando não há uma discrepância gritante entre as partes, dificilmente o juiz não vai fazer a revisão. O juiz vai falar que pela força obrigatória as partes são iguais, uma vez que não cabe a ele fazer a revisão. Nesse caso ele faz controle de validade se ficar caracterizada algum defeito do negócio jurídico (dolo, coação, etc). 3. CONTRATOS EMPRESARIAIS EM ESPÉCIES 3.1 Compra e Venda Empresarial 3.1.1 Conceito – Código Civil Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 3.1.2 Elementos Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Então, teremos como elemento: o consenso; a coisa; e o preço. O consenso – a compra e venda irá existir quando as partes estrarem em acordo, sobre a coisa e o valor, sendo um contrato real, e, portanto, para a existência é necessária ainda a tradição; A coisa – podem ser objeto da compra e venda, qualquer coisa, até que existirá futuramente, tendo que ser coisa corpórea patrimonial, logo, não pode ser objeto órgãos, cocaína e etc.; OBS.: A venda de cabelo é aceita, por ser um tecido morto, porém, renovável assim como o sague, que pode inclusive ser doado. Venda por amostras - Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato. Ou seja, quando é apresentado uma amostra ao comprador, pelo vendedor, e estiver descrevendo em contrato essa amostra, na efetivação da compra, a tradição, se estiver disparidade entre a amostra e o que está sendo entregue, deverá prevalecer a amostra. Venda de imóvel – na venda ad mensunram Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço. §1º. Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio. (Limite de erro admitido) §2º Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso. (Venda ad corpus) §3º Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus. Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do título. Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência. Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas. O preço – para ser compra e venda o preço tem que ser dinheiro, diretamente das partes, ou indiretamente feita a definição do preço por terceiro. Não se pode deixar, contudo, a estipulação por apenas uma das partes, haja vista que é necessário ter um consenso. Podem ainda definir critérios objetivos para chegada do preço, como ex.: arroba do boi em salvador, ou em Jequié, pois ela tem variação conforme o local; ou ainda uma taxa da variação de bolsa de valores; usar o salário mínimo como base também. Existe ainda previsão da regra supletiva, que seria a hipótese de celebrar o contrato sem a definição do preço, poderá fazer posteriormente, mesmo que no dia a dia seja difícil ser aplicado. 23/04/2018 Aula 04 Continuação 3.1.3 Deveres das Partes 3.1.3.1 Deveres do comprador: Deve o comprador pagar o preço ajustado, bem como pagar as despesas relativas a escritura e registro do bem comprado. Art. 490. Salvo cláusulaem contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição. 3.1.3.2 Deveres do vendedor: i. Entregar a coisa vendida no lugar que vou pactuado. Não tendo sido pactuado o Art. 493. Diz - A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-se-á no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda. ii. Pagar as despesas de tradição – salvo se tiver pactuado no contrato algo diferente, como visto no cart. 490, o devedor estará obrigado a arcar com os custos da tradição. iii. Suportar o risco da coisa até a entrega – enquanto não houver a tradição a responsabilidade é do vendedor. Exceções: 1 - caso fortuito quando a coisa está em domínio do vendedor, ex.: gado vendido e ainda não entregue que morre por raio que caiu em uma tempestade. Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador. §1º. Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão por conta deste. 2 - deterioração por demora do comprador em pegar o objeto. §2º. Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados. 3 - coisa expedida para lugar diverso segundo orientações do comprador: salvo, se o vendedor não seguir as orientações de envio descritas pelo comprador, conforme art. 494. Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o vendedor. OBS.: A questão problemática que envolve aqui é em torno da questão probatória, pois é complexa comprovação dessas hipóteses todas. iv. Responder pelo débito até a tradição – no caso de imóvel, o vendedor arca com todas as despesas até a tradição do imóvel, como IPTU dentre outras pertinentes ao bem em questão. 3.1.4 Cláusulas Adjetas 3.1.4.1 Retrovenda: “É simplesmente uma garantia para agiota”, ou seja, é a possibilidade de retomar o bem, sendo pago de volta o valor com correção, bem como os valores das custas de tradição. Esse direito é protestativo do vendedor, ou seja, ele pode exercer independente da vontade da outra parte, dentro do prazo decadencial de 3 anos; Sendo novamente alienado o bem, e o novo comprador não observar que tem a cláusula de retrovenda sobre o bem, ele perderá o bem, não podendo se opor também, pois essa cláusula é de direito real, e como tal tem efeitos erga omonis, então o novo comprador deveria ter observado, já que fica registrada em cartório a cláusula; Esse direito de retomar o bem pode ser objeto de negócio jurídico, ou seja, é cessível e transmissível, isto é, pode ceder gratuito ou onerosamente, ou em caso de morte será transmissível aos herdeiros. Benfeitorias úteis e voluptuárias devem ter autorização por escrito do vendedor; OBS.: A doutrina admite que essa cláusula é um prato cheio para os agiotas, uma vez que se utiliza dela para ter garantia material dos seus empréstimos ilegais. 3.1.4.2 Venda a contento e sujeita a prova São contratos de compra e venda celebrados com cláusulas de suspenção. Venda a contento – é aquela que ainda não é perfeita, ou seja, não é existente, válido ou eficaz, então é tratada temporariamente como comodato. Será perfeito quando o comprador manifesta o seu agrado com a coisa. Ex.: normalmente aqueles produtos de fornecedores que são vendidos nos mercados como se a marca fosse do mercado, pois só se torna perfeito, o contrato de compra e venda, após os produtos serem avaliados pelo controle de qualidade do mercado, sendo favorável, se não for, devolve-se os produtos e não pagará nada por isso, não sendo necessária a justificação de sua decisão, é discricionária. Venda sujeita a prova – é aquela que tem que ter necessária a justificação para a negativa da compra, ou seja, para ele não aceitar deve descrever que não existe no produto enviado as características descritas no anuncio da venda do produto. Regras comuns entre as duas modalidades: É até o momento da perfeição do contrato, será tratado como se contrato de comodato fosse. Sendo responsável o comprador pelos danos a coisa, se houver, no caso dos bens fungíveis; O prazo será estipulado no contrato, não tendo estipulação o vendedor fará a intimação para que ele faça a escolha em determinado prazo, sob pena de ser constituído em mora. 91348337 3.1.4.3 Preempção ou Preferência convencional (prelação) Aqui se o comprador quiser vender o bem comprado, ele deve oferecer ao vendedor pelas mesmas condições, observe que não é como na retrovenda, é apenas um direito contratado. Sendo assim não é cessível, nem transmissível, é, portanto, um direito personalíssimo. Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel. OBS.: sendo imóvel, que o prazo é de 2 anos, oferecida a preferência, terá 60 dias para resposta se aceita ou não. No caso de móvel, que o prazo é de 180 dias, o prazo para resposta será de 3 dias para dizer se aceita ou não. OBS.: O terceiro adquirente de boa-fé, não responde em nada no caso de comprar o bem sem ter dado o direito de preferência pelo vendedor. Deverá ser cobrado perdas e danos, devidamente comprovados, a vendedora que não realizou a oferta do direito de preferência consensual. OBS.: Não confundir perempção, que é a perda da pretensão por desistência da causa por três vezes. Já a preempção é preferência convencional. 3.1.4.4 Venda com Reserva de Domínio É a ideia da venda que ocorre a tradição, mas ainda não transfere a propriedade, nos casos em que a venda está sendo realizada com prazo no pagamento. Quando o comprador quitar as parcelas do prazo é transferida a propriedade. Nessa hipótese de venda, no caso de inadimplemento é mais fácil para que corra a cobrança, pois terá duas maneiras: Reintegração de posse, já que ainda tem a propriedade; Busca e apreensão – do bem já que tem a propriedade. OBS.: Pegando o bem de volta será descontado o valor da depreciação; os custos para esse retorno da posse, e o valor remanescente eventualmente existente será devolvido ao comprador inadimplente. OBS.: o contrato de alienação fiduciária está substituindo esse tipo de compra e venda, então está em desuso. 14/05/18 AULA 05 3.1.4.5 VENDA SOBRE DOCUMENTOS O código faz todo o possível para que a coisa não seja vendida por quem não é dono. Essa venda sobre documentos é comum nos contratos de importação e exportação. Sendo assim, ocorre esse tipo de contrato quando a coisa precisa ser transportada de um lugar para o outro e demora um tempo, geralmente navio, trem, etc. Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos. Parágrafo único. Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvose o defeito já houver sido comprovado. Ex.: Um cara importa 200Kg de bacalhau para revender nos mercados de salvador, então é um contrato empresarial (de empresário para empresário). Como é que ele pode vender uma coisa se ainda não houve a tradição? Para substituir a tradição real, é que o código cria o contrato de venda sobre documentos como a modalidade de tradição simbólica, portanto, a entrega da documentação substitui a tradição da própria coisa, então você considera que ao receber os documentos relativos a compra da coisa já ocorreu a tradição simbólica. OBS.: mesmo após a tradição simbólica, o vendedor continua responsável pela coisa até a entrega devida da coisa, mas também dependerá do que foi estabelecido no contrato. Outro ponto importante é que se houver contrato de seguro, a seguradora que vai assumir o risco. Art. 531. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes à conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da coisa. CONTRATO DE COMISSÃO MERCANTIL Um dos contratantes vai fazer um contrato com um dos representantes e o representante vai fazer a negociação da coisa só que em nome próprio, ou seja, o nome do contratante não aparece, ninguém sabe com quem está contratando. Conceito: Art. 693. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente. Deveres do comissionário: deverá seguir as orientações do comitente, agir com cuidado e diligência. Remuneração do comissário: será livremente estipulada. Se não for estipulada vai seguir os usos e costumes do lugar e em caso de resolução do contrato, antes do prazo para terminar, o comissionário terá direito a remuneração proporcional ao que efetivamente vendeu, negociou. OBS.: o representante comercial é diferente, pois não faz o negócio, ou seja, o represente oferece o negócio, se o cliente quiser, o representante faz o pedido, mas a empresa que decide se fará o negócio ou não, tendo em vista que o representante não tem poderes de celebrar o contrato. Risco do negócio: em regra, quem assume o risco é o comitente, mas existe uma exceção que é chamada de cláusula del credere, estabelece que o comissionário assume o risco, se por exemplo não seguir as orientações do comitente, celebrando negócio com terceiro, o comissionário irá assumir o risco solidariamente com o terceiro. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL O CÓDIGO CIVIL NÃO fala em representação comercial, a terminologia usada pelo código é “agência”. Conceito: Art. 1º. Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego (mas sim empresarial), que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para transmití-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios. OBS.: nesses contratos é necessário a atenção para que não desconfigure a relação empresarial e configure a relação de emprego. Ex.: o represente assina o contrato, mas tem horário estipulado, ou seja, se nessa relação estiverem presentes os elementos que configure a relação de emprego, será relação de emprego regida pela CLT. A função do representante é conseguir o máximo de pedido porque ele ganha uma comissão sobre esse pedido. É por isso que o representado tem um prazo para dizer se aceita ou não o pedido. Pois, se passar o prazo e nada disser, terá que pagar a comissão para o representante. O representante da fábrica vende piso para João, após encaminhar o pedido para a fábrica, ela emitirá a fatura ou a duplicata. Dessa forma, terá o prazo de 30 dias para emitir a duplicata, mas se tiver representante, esse representante terá mais 10 dias. Ou seja, um total de 40 dias. O representante não te mandato para representar judicialmente o representado, mas é possível colocar essa cláusula no contrato. O representante deverá ser registrado no conselho regional de representantes. Caso não seja registrado, não terá direito de receber a comissão. O art. 27 traz um rol de quais são as cláusulas contratuais necessárias: i) exercício exclusivo ou não da representação a favor do representado, essa alínea é importante, visto que poderá caracterizar o vínculo de emprego. OBS.: se o pedido for feito na mesma praça, a fábrica, por exemplo, tem um prazo de 15 dias para dizer se aceita ou não o pedido. Se o pedido estiver dentro do mesmo Estado da fábrica, mas em outra praça, o prazo será de 30 dias; Se o pedido for de outro Estado, o prazo será de 60 dias; Se o pedido for de outro país, terá o prazo de 180 dias para dizer se aceita ou não. Se dentro do prazo estipulado, a fábrica não recusar por escrito, deverá pagar a comissão. O contrato pode ser resolvido por ambas as partes. No caso de resolução imotivada, se o contrato estiver regido por mais de 6 meses, aquele que está resolvendo o contrato terá que dá um pré-aviso de 30 dias ou pagar 1/3 das comissões dos últimos três meses. Segundo a LEI: O foro competente é a justiça comum do foro do domicílio do representante. Segundo o STJ: Admite cláusula de foro se não houver hipossuficiência, as partes podem acordar a respeito do foro.
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