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Redação instrumental Silogismo modificado

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Redação Instrumental
Maria Nívia Dantas
LÓGICA, SILOGISMOS E FALÁCIAS
(Material concebido para curso de Introdução à Filosofia na Universidade de Brasília.)
Uma boa definição para LÓGICA é: “Disciplina que estuda a Argumentação, visando garantir a Validade”. A Lógica CLÁSSICA foi formulada por Aristóteles (384 aEC - 322 eEC), na obra ORGANON. 
Os 3 Princípios da Lógica Clássica são
- Princípio da Não-Contradição (Algo não pode Ser e Não-Ser no mesmo tempo e sentido); 
- Princípio da Identidade (Algo só é idêntico a si mesmo);
- Princípio do Terceiro Excluído (Algo só pode ser Verdadeiro ou Falso, não há terceira opção.).
Importante: Este último princípio deve ser restrito ao sistema lógico formal, não sendo sempre aplicável a situações mais amplas.
SILOGISMOS
	SILOGISMO é a forma mais simples de argumentação, constituída de duas afirmações, chamadas premissas, das quais se retira uma conclusão. 
(Obs: Exemplos corretos estarão sempre em AZUL, exemplos errôneos em VERMELHO.)
Todo brasiliense é brasileiro. (Premissa 1)
Fulano é brasiliense. (Premissa 2)
Logo, Fulano é brasileiro. (Conclusão)
 
Fulano
Brasiliense
Brasileiro
Temos os 3 princípios. 
A premissa 1 não admite a sua contraditória, que seria “Algum brasiliense não é brasileiro”, pois é impossível que ambas sejam Verdadeiras ou Falsas ao mesmo tempo. Os termos “brasiliense”, “brasileiro” ou “Fulano” só são idênticos a si mesmos. Desconsideramos qualquer tipo de brasiliense não brasileiro, mesmo que haja uma “Brasília” em outro país, consideramos apenas Brasília-DF. E cada premissa, e a conclusão, só pode ser Verdadeira ou Falsa, e não uma terceira possibilidade. Se ambas as premissas são Verdadeiras, e a forma está correta, a conclusão só pode ser Verdadeira e o Silogismo é Válido.
VERDADEIRO ou FALSO diz respeito a cada uma das premissas, julgadas de acordo com sua relação a uma matéria qualquer, o mundo real, ou um mundo imaginário. Por exemplo “Clark Kent é o Super-homem”.
VÁLIDO ou INVÁLIDO diz respeito à forma do silogismo, se não violar nenhuma regra, é válido.
Todo kriptoniano tem super poderes.
O Super homem é kriptoniano.
O Super homem tem super poderes.
O silogismo é VÁLIDO, embora falso no mundo real, pois as premissas são falsas. Mas se as premissas forem verdadeiras, como é no universo ficcional, então ele verdadeiro.
Nenhuma águia é mortal.
Fênix é uma águia.
Logo, Fênix não é mortal.
É VÁLIDO, embora falso no mundo real. E poderia ser criado um universo ficcional onde as premissas fossem verdadeiras.
ASSIM: Um Silogismo é Válido, quando é IMPOSSÍVEL que, de duas premissas Verdadeiras, a conclusão seja Falsa.
Universal Afirmativa – TODA mulher é Bela (A)
Universal Negativa – NENHUMA mulher é Bela. (E)
Particular Afirmativa – ALGUMA mulher é Bela. (I)
Particular Negativa – ALGUMA mulher não é Bela. (O)
(A, E, I e O são símbolos tradicionais.)
Os 4 tipos de afirmação
A
I
O
E
CONTRADITÓRIAS
SUBALTERNAS
SUBALTERNAS
AS 8 REGRAS DO SILOGISMO
1 - O Silogismo só pode ter 3 termos:
Termo MAIOR (universal),
Termo MÉDIO (que se repete)
Termo MENOR (que está incluso no Maior, não necessariamente particular);
 
Todo brasiliense é brasileiro.
Todo parisiense é francês.
Logo ???
(Não há uma lista padronizada, podendo haver reagrupamento ou aparecerem em outras ordens.)
AS 8 REGRAS DO SILOGISMO
Nenhuma pantera fala.
Aquela mulher é uma pantera.
Aquela mulher não fala. (O termo pantera está sendo usado em dois sentidos diferentes, o que resulta em dois termos distintos.)
 
Todo lobisomem é feroz.
Drácula não é lobisomem.
Então, ??? (Lobisomem e Não-Lobisomem são dois termos distintos.)
(Não há uma lista padronizada, podendo haver reagrupamento ou aparecerem em outras ordens.)
2 - A conclusão segue sempre a premissa mais fraca
Mais fraca, é a premissa particular, em relação à universal, e ou a negativa em relação à positiva. Então:
MAISFORTEMAISFRACA
Universal Afirmativa
Universal Negativa
Particular Afirmativa
Particular Negativa
Todos os insetos se reproduzem
O besouro é um inseto.
Assim, o besouro se reproduz. (A conclusão é particular, como a premissa menor.)
Nota: Embora seja possível dizer na conclusão “Todo besouro se reproduz”, ainda assim o universo dos besouros é particular em relação ao dos insetos. Para esclarecer, basta ser mais específico:
Todos os insetos se reproduzem
Este besouro é um inseto.
Assim, este besouro se reproduz. 
Formalizando, temos:
A (insetos) B (capacidade de reprodução e C (besouro).
Inválido seria colocar o “Todos os insetos”, ou “Tudo o que se reproduz” na conclusão.
Todo A é B
C é A
Logo C é B
SERES QUE SE REPRODUZEM - INSETOS
BESOUROS 
ESTE BESOURO
Nenhum cão voa.
O morcego voa
Logo, o morcego não é cão. (Conclusão negativa, como a premissa 1, e particular, como a 2.)
 
Nenhum gelo é quente (Universal Negativa)
Todo fogo é quente (Universal Afirmativa)
Nenhum gelo é fogo (A conclusão terá que seguir a mais fraca, Universal Negativa.)
3-Os termos na conclusão não podem ter extensão maior que nas premissas;
Se um termo está no particular nas premissas, não poderá estar no universal na conclusão.
Se um termo está no negativo nas premissas, não poderá estar no afirmativo na conclusão.
Todos os meus cães são pretos.
Rexé um de meus cães.
Logo, todos os meus cães sãoRex.
 
 
tOTÓ
REX TOTÓ FIFI
MEUS CÃES
CÃES PRETOS
Todos os meus cães são pretos.
Rex é um de meus cães.
Logo, Rex é preto.
Note que Rex é apenas um de meus cães, ele não pode ser “universalizado”, que é o resultado de passar de “Rex é um” para “Rex é todos”.
Derivações corretas seriam:
Todos os meus cães são pretos.
Princesa é branca.
Princesa não é um de meus cães.
4 - O termo médio deve ser universal ao menos uma vez;
Alguns sambistas tocam pandeiro.
Zé é um sambista.
Logo, Zé toca pandeiro. (Sambista, está no particular em ambas as premissas.)
 
Todos os sambistas tocam pandeiro.
Zé é um sambista.
Logo, Zé toca pandeiro.
5 - De duas premissas particulares, nada se conclui.
O que deriva das regras anteriores, 2, 3 e 4, que estão relacionadas. Uma forma de sintetizar parcialmente as regras anteriores é afirmar que na conclusão o Termo Menor deve ser sujeito, e o Maior predicado.
 
Alguns brasileiros jogam futebol.
Mario joga futebol.
Logo ???
6 - O termo médio não pode entrar na conclusão
Caso contrário, nada de novo será dito.
Nenhuma droga é saudável.
Todo licor é droga.
Dessa forma, uma droga é licor. (Que já foi dito na Premissa 2.)
 
Todos os meus cães são pretos.
Rex é um de meus cães.
Então, um de meus cães é preto. (Que já está implícito na Premissa 1.)
7 - De duas premissas negativas, nada se conclui.
 
Nenhuma mulher desiste.
Paulo não é mulher.
Logo ???
 
8 - De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa;
Qualquer pessoa quer ser feliz.
Ela é uma pessoa.
Logo, ela não quer ser feliz.
Alguns exemplos de Falácias retirados do texto “O amor é uma Falácia de Max Shulman”
Dicto Simpliciter
— Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.
— Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. 
Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar. 
– o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. 
Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas recebem ordens de seus médicos para não se exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Senão, está-se cometendo um Dicto Simpliciter. 
Generalização Apressada
Exemplificação: 
Você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Escobar não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na Universidade sabe falar francês. Está correto? Não.
A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão. 
Post-Hoc
Aseguir, vem o Post-Hoc. 
Exemplificação: 
_ Não levemos o Tiririca conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto começa a chover. 
— Eu conheço uma pessoa exatamente assim. – exclamou Poly Stein — Uma moça da minha cidade: Carla Perez. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique... 
 — Isso é uma falácia. Não é Carla Perez que causa a chuva. Ela não tem nenhuma relação com a chuva. Você está incorrendo em Post-Hoc se puser a culpa na Carla Perez. 
Premissas Contraditórias
Exemplificação: 
Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que Ele mesmo não conseguirá levantar? Pode.
— Mas se Ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.
— Bem, então, acho que Ele não pode fazer a tal pedra. 
— Mas ele pode fazer tudo – lembrei-lhe
[...] — Estou confusa – admitiu. 
— É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. 
Ad Misericordiam 
— Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e seis filhos em casa, que a mulher é aleijada, que as crianças não têm o que comer, não tem o que vestir e nem o que calçar, que a casa não tem camas, que não há carvão no porão e que o inverno se aproxima.
Apesar de ser uma situação horrível, os fatos não são argumentos. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Em vez disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia do Ad Misericordiam. 
Falsa Analogia 
Eis um exemplo: Deviam permitir aos estudantes consultarem seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os alunos recorram aos seus livros durante uma prova? 
[...]
O argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo testes para verem o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.
Hipótese Contrária ao Fato
Exemplificação: Se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do composto químico que é o Rádio (Ra). [...] Essa afirmação é uma falácia. Madame Curie poderia ter descoberto o Rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa poderia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.
Envenenar o Poço
Exemplificação— Dois homens vão começar um debate. O primeiro de levanta e diz: “meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só palavra do que ele disser.” 
 — O que está errado com essa estratégia?
 — Não é justo! [...]— Não é nada justo. Que chance tem o segundo homem se o primeiro diz que é um mentiroso, antes mesmo dele começar a falar? 
— Exato!
— Cem por cento exato! Não é justo. O primeiro homem envenenou o poço antes que os outros pudessem beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar.

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