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Aula de 14.11.15 Direito constitucional

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DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
 CRIME COMUM E CRIME DE RESPONSABILIDADE 
 
 
- Crime de responsabilidade: qualquer ato do presidente que atente contra a CF. 
 
Isto porque o Presidente da república presta compromisso, ao tomar posse, lendo o disposto 
no art. 78, da CF. 
 
Para ficar caracterizado, deve-se observar o Princípio da Estrita Legalidade, não bastando 
alegar a violação da CF. 
 
Nesse sentido, a Lei nº 1.079/50 é a que define crimes de responsabilidade. 
 
Súmula 722, do STF: 
 
“São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o 
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento”. 
 
Logo, lei estadual e/ou municipal não pode definir crime de responsabilidade. 
Trata-se de competência exclusiva da União Federal. 
 
 
- Crime comum: é o crime de natureza penal pura, não sendo de responsabilidade. 
 
 
- Procedimento: bifásico. 
 
Fases: 
 
a) Preambular de admissibilidade do processo: 
 
Um órgão admite a ação, e o outro julga. Seria algo como um órgão de pronúncia e outro de 
julgamento. 
 
b) Julgamento: 
 
Crime comum Crime de responsabilidade 
Órgão de pronúncia: Câmara dos Deputados (art. 51, I, CF) Órgão de pronúncia: Câmara dos Deputados (art. 51, I, CF) 
Julgamento: STF Julgamento: Senado Federal 
 Pena: perda do cargo e inabilitação, por 8 anos, para o 
exercício de função pública (art. 52, parágrafo único) 
 
No julgamento pelo Senado Federal, diz o art. 52, parágrafo único, que o presidente do STF funcionará como 
presidente. 
 
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente 
o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será 
proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com 
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das 
demais sanções judiciais cabíveis. 
 
Quando a Câmara autoriza, o STF tem a obrigação de receber a denúncia ou a queixa? O entendimento 
é de que não, pois estaria violando a separação de poderes. O STF tem autonomia para decidir se recebe ou 
não, mas a doutrina entende que, se for o caso de crime de responsabilidade, o Senado está obrigado a 
aceitar porque está diante de um mesmo Poder. 
 
 
- Art. 86, §3º, da CF: 
 
O Presidente da República não pode ser preso cautelarmente. 
 
Mas essa regra se estende, pelo Princípio da Simetria, ao Governador? De acordo com o STF, não. 
 
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DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
 
1. Organização da Administração 
 
A estrutura da Administração é formada através de duas regras jurídicas: 
 
a) Desconcentração Administrativa; 
b) Descentralização Administrativa. 
 
1.1. Desconcentração administrativa 
 
Tudo o que a CF elege como de interesse público é de responsabilidade do chefe do Executivo (Princípio da 
Concentração Política). 
 
Neste rol de interesses públicos, existem os interesses públicos essenciais (devem ser mantidos dentro da 
estrutura central - concentrar) e os interesses públicos que são meros interesses (podem ser mandados para 
fora da estrutura central - descentralizar). 
 
Os órgãos são criados mediante desconcentração, e estão dentro do corpo da Administração. 
 
Segundo a CF, o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, concentrando nele tudo o que 
constitui “interesse público” para o Estado. 
 
Assim, conforme o “Princípio (ou norma) da Concentração”, o presidente da república tem a responsabilidade 
política por todos os interesses públicos constitucionais. 
 
Parte destes interesses é prevista na CF como “essencial” e, portanto, só pode ser delegado DENTRO DA 
ESTRUTRA CENTRAL (delegar dentro de uma mesma estrutura é desconcentrar, e dentro de uma estrutura 
existe apenas ÓRGÃOS). Logo, por “desconcentração administrativa” são criados os órgãos, que juntos 
constituem a Administração Direta. 
 
O órgão é o núcleo de competências administrativas, que só pode ser criado e extinto por lei1, com algumas 
características principais: 
 
a) Órgãos são impessoais, e, portanto, não respondem pelos danos que causam e são 
hierarquicamente subordinados. 
b) Órgãos não possuem personalidade jurídica, visto que apenas integram um corpo. Portanto, não 
possuem patrimônio próprio (não tem bens, visto que estes são da pessoa jurídica que integram). 
c) Órgãos não exercem direitos e obrigações em nome próprio. 
d) Órgãos não possuem capacidade para ser parte, nem capacidade processual (não pode ser autor 
nem réu). Exceção: órgãos com competências constitucionais que podem impetrar sozinhos 
Mandado de Segurança contra outros órgãos, desde que para defender suas prerrogativas 
constitucionais. 
e) São sempre de regime jurídico de Direito Público, vez que acompanham o corpo a que pertencem. 
 
- A doutrina identifica 4 níveis de órgãos na Administração Direta: 
 
1º) Órgãos independentes: são os órgãos máximos de cada estrutura ou Poder, que não são 
subordinados a qualquer outro órgão ou Poder. 
 
Ex.: a presidência da República. 
 
2º) Órgãos autônomos: não possuem independência política, mas possuem autonomia administrativa, 
e formam o primeiro escalão de poder. 
 
Ex.: os Ministérios. 
 
3º) Órgãos superiores: sem independência nem autonomia, são diretamente subordinados aos 
autônomos. 
 
Ex.: departamento de Polícia Federal. 
 
1 Decretos autônomos não criam nem extinguem órgãos, mas podem apenas organizá-los, apesar da poderem extinguir cargos 
vazios e inativos. 
 
4º) Órgãos subalternos: também sem independência nem autonomia, são subordinados a todos os 
órgãos acima e são os órgãos de execução do Estado. 
 
Ex.: delegado de polícia (não confundir o cargo com o órgão). 
 
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1.2. Descentralização Administrativa 
 
O presidente da república, através de lei de sua propositura, cria (a) autarquias de todos os tipos e autoriza a 
criação de (b) fundações públicas, (c) associação públicas, (d) empresas públicas, e (e) sociedades de 
economia mista. 
 
Esta é uma delegação para fora da estrutura central, e, portanto, é uma descentralização administrativa, e 
todos estes são pessoas jurídicas autônomas. 
 
Cada uma destas pessoas jurídicas descentralizadas recebe, por lei, uma atividade específica, e só poderão 
explorar esta atividade (princípio da especialização), que tem como objetivo otimizar a eficiência na prestação 
de serviço público. 
 
Como são pessoas jurídicas autônomas, não estão sujeitas à subordinação hierárquica (ordens ou controle 
direto). 
 
Ao contrário dos órgãos: 
 
a) Não são impessoais: respondem pessoalmente pelos danos que causam. Quando o dano excede a 
capacidade orçamentária da pessoa jurídica descentralizada, caberá responsabilidade subsidiária à 
pessoa jurídica a qual está vinculado. 
b) Por possuir personalidade jurídica própria, possuem patrimônio próprio, exercem, em nome próprio, 
direitos e obrigações, e possuem plena capacidade para ser parte processual. 
 
Por serem autônomas, sem subordinação hierárquica, são fiscalizadas apenas finalisticamente (somente ao 
final) pelos Ministérios, através da Tutela (ou Supervisão) Ministerial. Esta supervisão não é subordinação, 
mas apenas vinculação. 
 
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ENTES DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA 
 
 AUTARQUIA 
 
Podem ser comuns, especiais ou agências reguladoras. 
 
Todas as autarquias adotam as características gerais das autarquias comuns, que são: 
 
a) Diretamente criadas por lei e, portanto, só podem ser extintas porlei (não sofrem falência ou 
liquidação). 
 
b) Não admitem contrato ou estatuto social. 
 
c) Criadas para prestação de serviços públicos (serviço criado e regido por lei, sem finalidade lucrativa 
ou natureza econômica). Logo, autarquia não pode prestar serviço de finalidade econômica2. 
 
d) São sempre de regime público e, portanto: 
i. Não existe autarquia de regime misto ou de regime privado; 
ii. Seus bens são sempre públicos, conforme o art. 98 do Código Civil3. Logo, para 
alienar bens das autarquias, é necessário, entre outras obrigações, desafetá-los e 
realizar licitação; 
iii. Podem titularizar poder de polícia. Logo, poder de polícia que é exclusivo das 
pessoas de direito público, só pode ser titularizado por pessoas políticas, tal como 
União, Estados e Municípios, por autarquias e, excepcionalmente, por certas 
fundações públicas. 
iv. Seus dirigentes são diretamente nomeados e, portanto, destituíveis ad nutum4. Seus 
agentes são funcionários públicos concursados e estatutários, com direito a 
estabilidade funcional. 
v. São obrigadas a licitar seus contratos, compras e alienações, e a prestar contas ao 
Tribunal de Contas. 
 
 
2 A CF/88 não proíbe a criação de Autarquia para exploração de atividade econômica. No entanto, autarquia deve ser criada para a 
prestação de serviços público, o qual não possui finalidade lucrativa. 
3 Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são 
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. 
4 Sem processo e motivação. 
Além destas características gerais, toda autarquia goza de privilégios públicos especiais: 
 
a) Imunidade tributária recíproca (a União não cobra impostos dos Estados e Municípios, nem de suas 
Autarquias e Fundações, assim como os Estados não cobram da União e dos Municípios, e os 
municípios não cobram da União e dos Estados); 
 
b) São credoras privilegiadas, pois não dependem de ação de conhecimento para executar seus 
devedores. Podem, diretamente, inscrevê-los em certidão de dívida ativa (CDA), cobrada por 
execução fiscal; 
 
c) Devedoras privilegiadas: não sofrem protesto, nem são incluídas em cadastro de inadimplentes, e 
ainda, suas dívidas e danos que causam prescrevem em 5 anos, e, quando este prazo é 
interrompido depois de transcorrida a primeira metade (2,5 anos), não volta a ser por mais 5 anos, 
mas apenas por mais 2,5 anos. 
 
d) Autarquias integram a Fazenda Pública e, em função disso: 
 
i. Não podem ser nem citadas, nem intimadas por edital ou por hora certa. Só admitem 
citação na foram real e pessoal. 
ii. Quando condenadas judicialmente acima do valor de alçada, a decisão está sujeita 
ao reexame necessário (duplo grau obrigatório de jurisdição); 
iii. Gozam de prazos especiais: em quádruplo para atos de resposta (contestação, 
reconvenção e exceções), e em dobro para recorrer (art. 183, do novo CPC = todos 
os prazos em dobro). Para contrarrazões de recurso, o prazo é simples. Para 
contestação na ação rescisória, o prazo é fixado pelo juiz sem contagem 
especial. 
 
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 AUTARQUIAS ESPECIAIS 
 
São as principais autarquias especiais: 
 
a) De Ensino Público Superior (todas as universidades públicas federais e estaduais – USP, Unicamp 
etc); 
 
b) De Fiscalização de Profissões Regulamentadas, tal como o Conselho Regional de Medicina, o 
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura etc. 
 
Diferentemente das autarquias comuns, nas autarquias especiais: 
 
a) Seus dirigentes são previamente eleitos (logo, não sofrem destituição ad nutum, vez que possuem 
mandato5). 
b) Seus agentes são concursados, mas, em regra, são celetistas. Para o STF, tais funcionários são 
demitidos sem processo, mas com motivação. 
 
Obs.: diferentemente das outras, a OAB deixou de ser considerada autarquia e passou a ser ente “sui 
generis” (não previsto, nem autorizado pela CF/88), conforme entendimento do STF. A partir de 
então, a OAB não concursa mais seus agentes, não está mais obrigada a fazer licitação e não presta 
mais contas ao Tribunal de Contas. 
 
Por consequência, também, a OAB perdeu boa parte das prerrogativas da Fazenda Pública em Juízo. 
 
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 AGÊNCIAS REGULADORAS 
 
São autarquias de regime especial, que também adotam as regras gerais das autarquias comuns, contudo: 
 
a) Seus dirigentes são nomeados, porém exercem mandato (logo, não podem ser destituídos por ato ad 
nutum, mas apenas por processo com decisão motivada). 
b) Estas agências editam os atos regulatórios, que não são atos normativos, mas sim atos 
discricionários de efeitos concretos, que apenas regulam a forma de exploração das atividades de 
interesses público privatizadas. 
c) Fiscalizam, controlam e aplicam sanções sobre as concessionárias, inclusive determinando, com 
autonomia, a política tarifária (são as agências que autorizam aumento nas tarifas públicas, ou 
impõem a ordem de redução de tarifas). 
 
5 Só podem ser destituídos por processo com decisão motivada.

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