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1 Aluna do Curso de Graduação em Direito – Universidade Federal de Goiás – UFG/Campus Jataí 1 Aluna do Curso de Graduação em Direito – Universidade Federal de Goiás – UFG/Campus Jataí 1 Professora da Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí - Orientadora O MERCOSUL ANALISADO SOB A ÓTICA DA SOBERANIA E DA INTEGRAÇÃO DOS SEUS PAÍSES MEMBROS Nathalia Caroline Ramos Freitas¹ Raiane Andressa Toniazzo² Liliane Vieira Martins Leal³ RESUMO Este trabalho possui como objetivo a análise do MERCOSUL, com maior enfoque no estudo da soberania de seus países membros e no seu processo de integração, abordando também as mudanças que esses conceitos sofreram ao longo dos anos. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, com abordagem qualitativa, apoiada nas pesquisas de Campos (2006) e na melhor doutrina do Direito Internacional. Além da pesquisa bibliográfica, o trabalho, ainda baseou-se na investigação documental, por meio de dados em documentos arquivados em órgãos públicos ou publicados em base de dados on line. Diante de estudos e pesquisas sistematizadas, é possível perceber que como desdobramento dos processos de integração surge no âmbito jurídico um novo conceito de soberania estatal, baseado nas novas formas de relação entre os países, principalmente na interdependência internacional e o seu antigo conceito baseado na indivisibilidade e inalienabilidade está sendo aos poucos superado. PALAVRAS-CHAVE: MERCOSUL. Integração. Soberania. 1 INTRODUÇÃO O Mercado Comum do Sul - MERCOSUL é um bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e foi estabelecido em 26 de março de 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção. Encontra-se atualmente no patamar da zona de livre-comércio consistindo na eliminação das barreiras alfandegárias e não alfandegárias que incidem no comércio entre os Estados- membros. A integração concebida entre os países do MERCOSUL envolve dimensões não só econômicas, mas também políticas e sociais. Assim, é necessário adentrar no tema da soberania popular de cada país frente a integração propiciada por este bloco econômico. O presente artigo tem por escopo analisar o tema da soberania popular abordando-o especialmente sob a perspectiva da integração entre os países signatários do MERCOSUL. Neste sentido, a pesquisa foi estruturada da seguinte forma: inicialmente, abordam-se os aspectos gerais do MERCOSUL, seu histórico e suas características principais. Posteriormente, analisou-se o MERCOSUL e o processo de integração dos países signatários do Tratado de Assunção. Finalmente, como questão central do presente trabalho, é apreciada a interferência dos processos de integração no conceito atual de soberania. A abordagem metodológica adotada se apoia nas pesquisas de Campos (2006) e na melhor doutrina do Direito Internacional, as quais apresentam um modelo teórico que explica os aspectos da soberania frente ao processo de integração entre os países signatários do MERCOSUL. Para tanto, foi adotada a pesquisa de caráter exploratório, com abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, foi utilizada em todo o desenvolvimento do trabalho, por meio do estudo sistemático com base em material publicado em livros, revistas e jornais, e bases de dados on line, tais como artigos científicos dissertações, teses e outras publicações relacionadas com o objeto da pesquisa. Além da pesquisa bibliográfica, o trabalho, ainda, pautou-se pela investigação documental, por meio da qual realizou-se a coleta de dados em documentos conservados nos órgãos públicos ou publicados em base de dados on line, tais como, relatórios, documentos organizacionais, leis, proposições legislativas, regulamentos, entre outros documentos. Os resultados alcançados, expostos nas considerações finais, denotam que o conceito de soberania ligado ao de integração é um processo muito recente. A soberania hoje não pode ser considerada de forma absoluta, em que pese o fato de os Estados-membros que aceitam a limitação da soberania, transferirem parte de seus direitos soberanos para a comunidade supranacional. Por isso a importância de abordar este tema na atualidade. 2 HISTÓRICO DO MERCOSUL Desde o final da década de 50 a América Latina visava a integração econômica, a fim de aumentar o intercâmbio comercial entre seus países, permitindo a facilitação das importações com a criação de blocos econômicos. A primeira tentativa de integração econômica se deu em 1960 com a celebração do Tratado de Montevidéu, criando a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). O objetivo era instituir uma zona de livre comércio para ampliar as trocas econômicas e incentivar o desenvolvimento econômico entre os países no prazo de 12 anos. O resultado almejado não foi alcançado e a fim de se corrigir as imperfeições e aumentar a integração econômica, foi criada a Associação Latino- Americana de Integração (ALADI) em 1980, no segundo Tratado de Montevidéu. A ALADI conferia maior liberdade e flexibilidade na formulação de políticas comerciais. Além disso, o prazo fixado para a criação da área de livre-comércio deixou de existir, de forma que a integração entre os países se daria de maneira gradual. No entanto, a conjuntura internacional obstaculizou a integração latino-americana. Concomitantemente houve o segundo choque do petróleo, a elevação das taxas de juros internacionais e a recessão das economias desenvolvidas, o que dificultou aos países em desenvolvimento, o acesso aos financiamentos externos. Consequentemente, os países da ALADI reagiram com o protecionismo de seus mercados internos, reduzindo não só as importações, como, também, o intercâmbio comercial entre os países membros. Estas experiências integracionistas propiciaram condições favoráveis à criação do MERCOSUL. As relações entre Brasil e Argentina foram de crucial importância para estabelecer o bloco econômico, principalmente com a democratização dos dois países e a introdução de reformas liberalizantes, o que favoreceu os projetos de integração colocando fim aos conflitos anteriores. Buscando a integração econômica entre Brasil e Argentina foi assinado o Tratado de Buenos Aires, seguido pelo Tratado de Assunção, que contou com a entrada de Paraguai e Uruguai para a constituição do Mercado Comum do Sul. O Tratado de Assunção delineou o perfil do MERCOSUL. O seu art. 1° caracteriza-se por instituir uma união aduaneira visando a eliminação das barreiras alfandegárias e não alfandegárias para os países-membros, além de uma política comercial comum quanto aos outros mercados. O objetivo era ampliar os mercados nacionais e instituir o mercado comum visando a livre circulação de bens, serviços e produção entre os países, estabelecendo uma tarifa externa comum e adotando uma política comercial comum frente a terceiros países. Dentre os princípios que norteiam a integração entre os quatro países- membros estão o princípio da gradualidade, da flexibilidade e do equilíbrio. A gradualidade permite que o processo de implementação do bloco econômico ocorra de maneira gradual, de forma que os países signatários se adaptem e se ajustem para a nova realidade da integração econômica.A flexibilidade visa garantir que estes ajustes feitos nos mercados sejam implementados adequadamente no processo de implementação. O equilíbrio elege a equidade como parâmetro para que os casos de tratamentos diferenciados entre os Estados sejam resolvidos. Em 1995, com a promulgação e ratificação do Protocolo de Ouro Preto, o MERCOSUL foi finalmente alçado à condição de personalidade jurídica internacional. Desta forma o MERCOSUL ganhou existência própria e inúmeras prerrogativas, como negociar e firmar acordos com terceiros países além de orçamento próprio para cobrir seus gastos de funcionamento. Ainda assim não são vislumbradas instituições supranacionais como as da União Europeia. O Tratado de Assunção e posteriormente o Protocolo de Ouro Preto edificaram e aperfeiçoaram a estrutura institucional do MERCOSUL, dando-lhe maior durabilidade e permanência. Atualmente o MERCOSUL continua com os quatro Estados-membros, quais sejam, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo que a Venezuela encontra- se em processo de adesão. Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru são Estados associados e o México é país observador. 2.1 O conceito e os fundamentos da soberania O entendimento do conceito de soberania é de extrema importância para a compreensão do fenômeno estatal, já que não existe Estado perfeito sem soberania. No entanto são inúmeros os conceitos e entendimentos encontrados sobre este tema, de maneira geral e superficial, a soberania é a autoridade suprema que um Estado possui, é o seu poder político de comandar e controlar sem se submeter aos interesses dos demais países. Este é um conceito muito limitado, levando em consideração as modificações históricas que também influenciaram na conceituação da soberania. Este tema é também bastante rico e com variedade de dimensões, objeto de muitas discussões no âmbito jurídico. A soberania é um dos elementos formais do Estado, ao lado da ordem jurídica, e pode ser vista como a qualidade do poder do Estado que o coloca acima de qualquer outro no setor interno e ao mesmo tempo, ao lado do poder dos outros países no âmbito externo. Várias teorias tentaram explicar a noção de soberania ao longo do tempo, o que demonstra o quanto este conceito não é estático, ele já passou e ainda passa por inúmeras mudanças. Pode-se perceber que a partir do século XX o conceito de soberania deixou de limitar-se às interpretações jurídicas e políticas. O conceito antigo previsto por Bodin que concebia a soberania como o poder supremo sobre os cidadãos e súditos, independente das leis, exceto as leis divinas e naturais e que pressupunha a inexistência de comunidade internacional, debilitou-se ainda no século XVI, dando ensejo a outras conceituações e tem sido reformulado desde a Primeira Guerra Mundial, período em que as doutrinas perfilaram um conceito de soberania relativa, antagonicamente à soberania absoluta, que dominou e sobreviveu até então. 1 O poder de soberania exercido pelo Estado passou a gerar controvérsias de interpretação no âmbito do direito positivo, encontrando limitações não só nos direitos da pessoa humana, mas também no direito grupal, tanto no âmbito interno quanto no internacional. No plano 1 CAMPOS, Helena Maria. A soberania constitucional e seu papel no contexto da integração merconsulina. Ribeirão Preto – UNAERP – 2006. p. 45 internacional a soberania passa a ser limitada pelas regras de convivência de Estados soberanos, sendo que um não poderá invadir a esfera de atuação das outras soberanias. A soberania é praticada, principalmente, em dois âmbitos: interno e externo. Internamente no sentido de dar ordens aos indivíduos que compõem a nação e que residem no território nacional. Externamente, já que possui independência perante os demais países, representando uma nação sem se submeter às demais. Segundo Helena Maria Campos (2006), o princípio da soberania passou por momentos de erosão, em virtude do constitucionalismo, porém, hoje está se desgastando em razão da internacionalização do ordenamento jurídico. A autora acredita que existe na sociedade internacional, protegendo o interesse geral da humanidade, um direito internacional e outro supranacional, sendo assim, a liberdade do Estado se vê limitada por ambos. Ainda, segundo a opinião da mesma autora, a soberania deve abranger também uma restrição do poder estatal visando à proteção da pessoa humana, que é um dos grandes problemas do direito internacional deste século. Sendo assim, a soberania pode ser vista como a única arma dos povos subjugados, já que o povo é quem delega o legítimo exercício da soberania ao Estado e os representantes nomeados devem sempre fazer prevalecer o ideal coletivo e a vontade popular soberana, em detrimento dos seus interesses individuais, o que nem sempre ocorre. Apesar de tudo e de forma inadequada, ao se dizer que um Estado é soberano, ainda é o mesmo que assegurar que suas leis têm autoridade definitiva, ou salvo melhor juízo, que inexiste poder acima dele. A idéia que se tem de soberania continua densamente ligada ao conceito de poder político, fazendo incidir na racionalização jurídica do poder, especialmente, na mutação da força em poder autêntico, quando o poder de fato se torna poder de direito. 2 É importante lembrar que aceitar uma nova visão de soberania, em que esta se torna limitada, não significará a perda do poder, mas sim um Estado que não mais tomará decisões livremente em todas as áreas, sendo que, parte de seus direitos soberanos serão transferidos para a vontade popular e para a organização supranacional. O conceito de soberania assumiu uma nova perspectiva, a de uma soberania compartilhada, que segundo Campos (2006), “(...) num processo integracionista reside o exercício comum da soberania que poderá alcançar o seu mais alto grau que é 2 Ibidem. p. 53 a integração das próprias soberanias compartilhadas, em uma só.” 3 2.2 A interferência dos processos de integração no conceito de soberania Geralmente, a integração é um processo que decorre de interesses econômicos, em que países buscam arranjos que garantam ação conjunta de efeitos benéficos. Para que isso ocorra é necessária a adequação equilibrada de soberanias, no caso de países independentes. E a integração só será plena quando surgir da vontade popular ou tiver sido aprovada por ela, através de seus representantes democraticamente eleitos. Não obstante, o real processo de integração tenha se desenvolvido, não com a superação das fronteiras nacionais, mas, sobretudo, com a enorme mistura dos povos, raças e culturas em todos os continentes que, somados ao progresso da informação, avanços da ciência e tecnologia e as exigências de um mercado global, é que se visualiza hoje, na era da globalização, um aprofundamento do processo integrativo que vise buscar novos paradigmas para solução de conflitos de interesses entre Estados. Também um intercâmbio mútuo das relações entre os povos e a organização de valores e recursos, com o fito de administrar o 3 Ibidem. p. 56sentimento de incertezas que pairam diante do sistema internacional. 4 A integração econômica é construída por etapas, de maneira gradativa. Segundo Balassa citado por Campos (2006), a integração pode ser dividida em cinco estágios, quais sejam: a integração zero, em que não há interdependência entre os países; a integração via tratados convencionais, onde os acordos envolvem certos setores das relações comerciais; a zona de livre comércio, em que não há barreiras tarifárias e não tarifárias ao comércio de bens e serviços entre os países-membros; a união aduaneira, onde existe a adoção de uma tarifa aduaneira comum; e por fim, o mercado comum, em que há livre circulação de bens, serviços e fatores de produção. A integração surge, inicialmente, como integração econômica, primeiro passo para as outras formas de interação, a social e a política, sendo assim, nesse caso, formam-se os blocos de Estados, que se unem por meio de tratados e se comprometem a liberar, de forma progressiva, os seus mercados. Isso ocorre de várias maneiras, “como a eliminação de restrições alfandegárias e não-tarifárias à circulação de bens, serviços e fatores de produção, 4 Ibidem. p. 71 coordenação de políticas macroeconômicas, fixação de uma tarifa comum, harmonização legislativa, com vistas ao desenvolvimento conjunto pelo compartilhamento dos esforços e recursos.” 5 Ainda que essa integração tenha essência econômica, possui também desdobramentos políticos jurídicos e socioculturais, que são necessários a sua implementação. (...) quando um grupo passa a fazer parte de outro grupo de maior amplitude, o poder do chefe daquele passa, automaticamente, a diminuído, subordinar- se à autoridade do chefe do grupo mais extenso e compreensivo, no tocante a tudo o que diga respeito aos interesses gerais da nova coletividade. Conservando, portanto, poder específico para o que diga respeito, particularmente, aos interesses do seu grupo, deve, contudo, como membro de uma comunidade mais geral, obediência às leis do grupo maior, que lhe poderá exigir até mesmo sacrifícios. A soberania desse grupo maior e mais compreensivo não atingirá, porém, na esfera que lhe é própria, os objetos sobre os quais incide a soberania do grupo menor. 6 5 LACERDA, Eustáquio Juvêncio de. Integração econômica e soberania nacional. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senado/unilegis/pdf/ UL_TF_DL_2005_Eustaquio_Juvencio.pdf>. Acesso em: 04/12/11. p. 9 6 PAUPÉRIO, 1977, p. 392 apud LACERDA, Eustáquio Juvêncio de. Integração econômica e soberania nacional. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senado/unilegis/pdf/ Desta forma, como consequência dos processos de integração, surge no âmbito jurídico um novo conceito de soberania estatal. Este sofreu muitas mudanças ao longo dos anos, como já foi citado anteriormente, e passa a ser de certa forma contrário à sua antiga definição, que era ligada aos conceitos de indivisibilidade e inalienabilidade do poder definitivo da soberania. De maneira gradativa, a ideia de soberania, que era utilizada em seu sentido absoluto, sustentando a organização política na Idade Moderna e ao longo da época moderna, vai cedendo espaço à concepção de interdependência internacional. O conceito arcaico de soberania fundado no ideário de Bodin, Hobbes e Hegel que consideravam a soberania indivisível e inalienável de tal sorte que o poder soberano tem que pertencer com exclusividade a uma entidade singular, não tem mais razão de ser. Não obstante, ainda prevalecer, em quase todas as Constituições dos países do MERCOSUL. 7 UL_TF_DL_2005_Eustaquio_Juvencio.pdf>. Acesso em: 04/12/11. p. 10. 7 CAMPOS, Helena Maria. A soberania constitucional e seu papel no contexto da integração merconsulina. Ribeirão Preto – UNAERP – 2006. p. 201. Ainda, segundo Campos (2006), a questão da soberania deve ser reconstruída com inteligência, levando em consideração as limitações formais dos poderes soberanos nos Estados, que sugerem a necessidade de mudança no conceito clássico de soberania. O conceito de soberania deve ser reformulado, urgentemente, também no âmbito do MERCOSUL. Esta mudança se faz necessária já que o processo de integração possui como escopo a restrição da esfera da jurisdição interna de cada Estado, e ao mesmo tempo amplia as possibilidades de cooperação entre os países, firmada por um processo decisório coletivo, que tem como consequência a redução dos conflitos regionais. Sendo assim, os Estados integrados precisam avaliar a soberania nos dias atuais, não mais como a autoridade absoluta do Estado, mas sim como poder cercado de interdependência entre estes, possibilitando a formação de blocos políticos e econômicos das nações. O conceito de soberania que está presente nas Constituições dos países integrantes do MERCOSUL precisa ser reformulado, levando em consideração a fase de transição vivida atualmente, em que a soberania tem apresentado um conteúdo formal, sendo que a soberania presente nos Estados permanece e o que eles transmitem aos organismos internacionais são apenas competências. Neste sentido, Campos (2006): “A soberania não é mais indivisível e, sob uma nova óptica, pode, inclusive, ser exercida coletivamente onde os Estados-partes reduzem seus próprios direitos soberanos, transferindo-os para instituições em relação às quais não detêm controle direto.” 8 Essas parcelas de soberania que são transferidas significam a abdicação de uma parte do poder de decisão referente a determinadas questões de interesse comum dos participantes para certas instituições comunitárias, mas significam também a restrição das decisões do Estado em alguns âmbitos no que diz respeito ao órgão supranacional. Nos dias atuais é difícil de imaginar uma comunidade de países em que a soberania não seja compartilhada. Porém, isso não significa que eles precisem abdicar da própria soberania, mas sim que eles precisam encontrar um meio de facilitar o intercâmbio de bens e produtos, serviços e pessoas, para facilitar o convívio entre os mesmos, buscando uma forma de trazer benefícios para todos. E a verdadeira aspiração dos atores políticos em trabalhar a conformação do MERCOSUL, não isoladamente como tem 8 Ibidem. p. 203. ocorrido até os dias atuais, mas, principalmente, buscando, na vontade popular soberana, o envolvimento e alicerces necessários para que esta possa manifestar seus anseios, suas necessidades e seus sonhos. 9 A integração é um processo amplo e complexo, sendo assim, tende a ser lento, já que necessita que haja a harmonia entre vários interesses e realidades. Diante disso, é possível afirmar que esta harmonia somente será alcançada a partir do momento em que os Estados merconsulinos passarem a vivenciar um novo conceito de soberania, tão necessário aos dias atuais e às novas formas de integração entre os Estados. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, é possível perceber que os tempos e a históriamudam e, desta forma, o homem precisa se adaptar à realidade, deixando para trás o medo e a insegurança, objetivando a construção de um novo mundo. O MERCOSUL pode ser visto como um exemplo dessa luta em busca da paz, da integração e da construção de um novo mundo no contexto da América Latina. Ele é constituído por países que presenciaram guerras, disputas de poderes 9 Ibidem. p. 205. e inúmeros outros problemas e lentamente está buscando a sua conformação por meio de mecanismos mais amenos e pacíficos, e não através da força e do poder soberano. Sendo assim, surge no âmbito jurídico um novo conceito de soberania, advindo dos processos de integração. Este não é mais ligado à indivisibilidade e inalienabilidade do poder. Por meio da integração internacional a esfera de jurisdição de cada Estado passa a ser limitada, aumentando as possibilidades de colaboração intergovernamental. De forma gradativa, a ideia de soberania foi deixando de ser utilizada em seu sentido absoluto, como acontecia ao longo da época moderna, dando espaço para a nova constatação da realidade contemporânea, que é a interdependência internacional. A partir do momento em que os Estados-membros aceitam a limitação da soberania, eles não podem tomar decisões de forma livre em todas as áreas, já que transferiram parte de seus direitos soberanos para a organização supranacional. No MERCOSUL a difícil situação de crise financeira e econômico-social dos Estados-membros, faz com que seja necessário o redobramento dos esforços e das vontades políticas envolvidas, para que a integração latino-americana seja mantida. Os atores políticos possuem importante papel no processo de integração juntamente com a reconceituação da soberania, buscando mudanças dentro de uma estrutura arcaica, habituada a velhas visões e conceitos, não mais condizentes com a realidade. Eles precisam atuar também na adequação do MERCOSUL, buscando na vontade popular soberana o verdadeiro alicerce para as novas mudanças, já que assim a população poderá manifestar os seus anseios e necessidades. REFERÊNCIAS AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2008. AMORIM, Adriano Portella. Democracia, integração e paz na América do Sul. Disponível em: <http://www.mdigital.uniceub.br/index. php/prisma/article/viewFile/1164/1166>. Acesso em: 03/12/11. CAMPOS, Helena Maria. A soberania constitucional e seu papel no contexto da integração merconsulina, 2006. Dissertação (Mestrado em Direito). Ribeirão Preto/SP: Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP, 2006. LACERDA, Eustáquio Juvêncio de. Integração econômica e soberania nacional. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senado/unile gis/pdf/UL_TF_DL_2005_Eustaquio_ Juvencio.pdf>. Acesso em: 04/12/11. MACHADO, João Bosco M. MERCOSUL: processo de integração: origem, evolução e crise. São Paulo: Aduaneiras, 2000.
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