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A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO

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A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO - RESENHA
Konrad Hesse explicita em seu texto que em Abril de 1962, Ferdinand Lassale proferiu sua tese, que afirmava que as Constituições não passam de pedaços de papel quando se comparados ao real significado da “Constituição real”. O nome deriva-se na noção de Lassale de que a Constituição de um país ilustra as relações de poder existentes naquele Território: o poder militar e as Forças Armadas; o poder econômico e as indústrias; o poder social e os latifundiários; e o poder intelectual, representado pelas culturas e a consciência coletiva – poder esse que representa uma pequena parcela da Constituição. Ou seja, a Constituição física (jurídica) se limita à sua compatibilidade com a Constituição real.
Fica clara a importância da noção de Lassale acerca das Constituições, uma vez que essa noção é lógica e extremamente simples: os poderes de um país têm autonomia organizacional e jurídica que ultrapassam as leis positivadas, evidenciando a dificuldade de controle da Constituição acerca desses poderes. Ou seja, a lei fria e estática não consegue eliminar ou lidar com a realidade fluida da sociedade. Isso evidencia a sucumbência do Direito Constitucional diante da própria essência da Constituição. Essa noção questiona se o Direito Constitucional apenas se limita a justificar ou comentar situações da real política de um país, negando sua característica de ciência jurídica. Se por um lado ela perde o sentido de ciência jurídica, pois apenas se limita a regular poderes políticos da vida real, por outro esse questionamento perde força se a Constituição receber caráter regulador mesmo que de forma limitada, evidenciando uma força própria. Esse impasse sugere a melhor reformulação do conceito de eficácia da Constituição.
Para responder esse questionamento, a tese de Constituição real e formal deve ser levada em consideração, pois se trata de uma ilustração fiel da realidade do Direito Constitucional. Para tanto, deve-se observar os limites de atuação da lei na vida real e quais seriam os pressupostos da eficácia da Constituição. A própria história demonstrou que a separação radical entre norma e realidade gera leis extremamente ineficazes, pois não levam em conta o mundo da vida, que é fluido. Cabe nessa situação então encontrar o meio termo entre as duas situações – realidade e norma. Resumindo, a partir da pretensão de eficácia da lei (derivado da compreensão de que o caráter normativo da lei não pode ter existência autônoma em face da realidade), “a Constituição procura imprimir ordem e conformação à realidade política e social. Determinada pela realidade social e, ao mesmo tempo, determinante em relação a ela, não se pode definir como fundamental nem a pura normatividade, nem a simples eficácia das condições sócio-políticas e econômicas. A força condicionante da realidade e a normatividade da Constituição podem ser diferençadas; elas não podem, todavia, ser definitivamente separadas ou confundidas”.
Além dessa adaptação entre norma e realidade, a força normativa de uma Constituição depende também de sua força ao orientar condutas sociais, já que impõe tarefas, mas não as realiza. Ela só possuirá força ativa se essas tarefas forem efetivamente realizadas. O autor ainda constata que existem três vertentes possíveis para se entender a vontade da Constituição. 1. Acreditar que a Constituição não seja passível de retificações e interpretações indevidas; 2. Compreender que ela precisa estar sempre em processo de legitimação pelos fatos resultantes do contexto histórico do país; 3. A vontade humana é imprescindível para a vigência da Constituição, na busca por sua consolidação.
Outro caráter explicitado por Hesse afirma que os requisitos para a eficácia de uma Constituição se referem a seu conteúdo e sua prática. Se o conteúdo da uma Constituição corresponder à realidade atual, mais segura será sua força normativa. A atualização também se dá por necessária, tornando-a mais justa. A prática dos preceitos de uma Constituição também deve ser levada em consideração, uma vez que indivíduos sacrificam suas necessidades em prol não apenas da lei, mas do desenvolvimento social. A estabilidade (diferente de imutabilidade) e a interpretação também configuram aspectos indispensáveis para a eficácia.
Konrad Hesse mostra a força normativa da Constituição como algo eficaz e aplicável, criticando Lassale sobre a noção de não valoração jurídica da Constituição devido à contradição com a natureza da própria Constituição. Sintetizando, A Constituição jurídica não é apenas uma ciência da realidade nem uma ciência normativa, pois contém características das duas. Por fim, defende que valore s históricos, espirituais, racionais e cooperativos e são a resposta para a existência de uma Constituição (não descartando a presença dos fatores reais de poder existentes). O balanceamento entre os dois polos constitui a base para se perceber profundamente o Direito Constitucional e as Constituições.

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