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Relatório da Palestra Sobre Cidadania Europeia

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Relatório da Palestra do dia 12/11/2014 
Víctor Rodrigues Nascimento Vieira – 11421DIR236 
Assunto: Cidadania Europeia enquanto cultura emergente e seu papel na definição da natureza 
jurídica da União 
Palestrante: Professora Doutora Alessandra Silveira (Universidade do Minho – Portugal) 
 
O início da palestra tem por base a apresentação do tema, que se trata da 
interconstitucionalidade, ou seja das normas constitucionais em rede, originando uma integração 
europeia na comunidade internacional. Segundo a professora Alessandra, nos vinte e oito 
Estados-Membro da União Europeia, mais da metade das normas decorrem, ou são reguladas 
pelo direito que provém da União (dos mais variados domínios materiais: direito do consumo, 
meio ambiente, trabalho etc.) abordando desde os assuntos mais simples até os mais complexos. 
Dando continuidade ao assunto, a professora busca enfatizar um ponto importante de sua 
apresentação, que trata a cidadania europeia enquanto uma cidadania de direitos. Dessa forma, 
ela faz a seguinte indagação: Cidadania de Direitos o que é? 
A Comunidade Europeia surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, a partir de uma pretensão 
econômica, e seria no início, um mercado interno com a livre circulação de pessoas, 
mercadorias, serviços e capitais. A ideia seria colocar sobre uma autoridade administrativa 
comum, os dois elementos potenciais para a realização de uma guerra: o carvão e o aço. Surge 
então a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) na década de 50 no século XX. 
No contexto da Integração Europeia a ideia de cidadania surge na década de 70 do século XX 
com o intuito de garantir conjunto de direitos civis, políticos e sociais para os cidadãos de um 
estado membro que estivessem circulando para exercer atividades laborais noutro estado 
membro. Observa-se, portanto, que a garantia dos direitos se dirigia única e exclusivamente aos 
indivíduos que tinham o objetivo de se estabelecer no estado membro de destino com interesses 
econômicos. 
Passados alguns anos, a CECA tem seu nome mudado para União Europeia e é hoje o maior 
bloco econômico do mundo e tem como uma das características a liberdade, ou seja, a livre 
circulação de bens, pessoas e mercadorias. Os cidadãos que circulam na comunidade gozam de 
um conjunto de direitos comuns a todos, regulados pela União. 
O grande objetivo da União Europeia (UE), segundo a professora, é que cidadãos que se 
deslocam de um Estado nacional sejam colocados em pé de igualdade aos cidadãos do estado 
membro de acolhimento, no que tange a direitos, principalmente os fundamentais. Nesse 
sentido, a UE sempre esteve tendenciada a garantir o imperativo de igualdade dos cidadãos nos 
estados membros, que gozariam dos mesmos direitos e estariam sujeitos aos mesmos deveres. O 
que resulta no artigo 9º
1
 e no artigo 20 que se caracterizam como os principais tratados 
constitutivos do bloco econômico. 
A ideia constitutiva inicial da União Europeia estava ligada à de preservação do Estado Nação, 
porém o reconhecimento de uma cidadania europeia foi definitivamente consagrada através do 
 
1
 Artigo 9º: É instituído um Banco Europeu de Investimento, que atuará nos limites das atribuições que 
lhe são conferidas pelo presente Tratado e pelos Estatutos que lhe vêm anexos. 
Tratado de Maastrich
2
 de 1992. Os três pilares definidos no tratado tem relação com as 
Comunidades Europeias; a Política Externa e de Segurança Comum e a Cooperação policial e 
judiciária em matéria penal. 
A professora levanta, então, a seguinte problemática em relação ao tratado de Maastrich: Que 
tipo de comunidade política poderia ser criada para além do Estado? Qual seria a relação com os 
Estados Internacionais? Quem seriam os cidadãos que poderiam gozar desse novo estatuto 
europeu e que direitos teria? 
E logo em seguida, a professora Alessandra comenta que tais questões supracitadas fazem parte 
do cerne da União Europeia e ainda estão na ordem do dia, porém sem uma resolução. 
Por não servir à preservação do Estado Nação e por basear-se numa pluralidade de 
nacionalidades, a Cidadania europeia não podia ter (e não tem) o mesmo sentido da nacional. 
Sendo assim, era necessária uma cidadania inclusiva. 
A cidadania europeia depende da sua nacionalidade de um estado membro. O cidadão da União 
é o nacional de um estado membro, é o que dispõe o artigo 20
3
 do tratado sobre funcionamento 
da UE. 
A cidadania europeia é também um conceito político e jurídico autônomo, relativamente ao da 
nacionalidade (do estado), porque demanda/promove a existência de um vínculo de natureza 
política entre cidadãos europeus, embora não se trate de um vínculo de pertença a um povo, já 
que não existe um povo europeu, mas povos da Europa. 
Dessa forma, o vínculo político que une os povos da Europa decorre de um compromisso 
recíproco de abrir as suas comunidades políticas aos outros cidadãos europeus e tratá-los em pé 
de igualdade, estreitado as relações (nos termos do Artigo1º 
4
) e construindo um novo vínculo 
de solidariedade em escala europeia. Esse vínculo não exige a existência de um povo, mas tem 
base na construção de um espaço politico europeu, do qual emergem direitos e deveres. 
O sentido de pertença da união europeia decorre da proteção de direitos e por isso é considerada 
uma cidadania de direitos. 
Como não depende da existência de um povo europeu a cidadania europeia procede em termos 
formais da decomposição da nacionalidade (caráter radicalmente inovador da cidadania 
europeia). Essa decomposição decorre do fato da União Europeia ser composta por cidadãos que 
 
2
 O Tratado de Maastricht, também conhecido como Tratado da União Europeia, foi o tratado que 
constituiu politica e economicamente a União Europeia. Foi assinado em 7 de fevereiro 1992 na cidade 
Maastricht (Holanda). Todos os Estados-Membros da Comunidade Econômica assinaram o tratado. 
O tratado definiu os pilares principais para garantir a integração e funcionamento da União Europeia. 
 
3
 Artigo 20: Qualquer cidadão da União beneficia, no território de países terceiros em que o Estado-
Membro de que é nacional não se encontre representado, de proteção por parte das autoridades 
diplomáticas e consulares de qualquer Estado-Membro, nas mesmas condições que os nacionais desse 
Estado. Os Estados-Membros estabelecem entre si as regras necessárias e encetam as negociações 
internacionais requeridas para garantir essa proteção. 
 
4
 Artigo 1º : Pelo presente Tratado, as altas partes contratantes instituem entre si uma união europeia, 
adiante designada por «união». O presente tratado assinala uma nova etapa no processo de criação de 
uma união cada vez mais estreita entre os povos da Europa, em que as decisões são tomadas de uma 
forma tão aberta quanto possível e ao nível mais próximo possível dos cidadãos. 
não partilham da mesma nacionalidade, ou seja, a União não está limitada pela nacionalidade 
dos indivíduos dos estados membros. 
A cidadania europeia não pressupõe a comunidade da qual o indivíduo é membro, ela cria essa 
comunidade de direitos, ou seja, a cidadania europeia é construída e se desenvolve através do 
exercício de direitos. E pra isso muito concorreu a Jurisprudência do tribunal de justiça da 
União Europeia que passa a atuar em diálogo com os Estados Nacionais. 
Portanto a União Europeia não é um estado e nem pretende ser, mas cria direitos como se fosse, 
e quem zela pela correta aplicação dos direitos são os próprios tribunais nacionais, ou seja, a 
própria administração nacional. O particular quando tem uma pretensão dirige-se aos tribunais 
nacionais para fazer valerem seusdireitos, existindo assim os tribunais organicamente europeus 
(como o de Luxemburgo) e tribunais nacionais, que atuam em conjunto na aplicação dos 
direitos. 
Neste processo atuam todos os estados membros e a comissão europeia, havendo um grande 
diálogo, até que haja uma interpretação final a respeito do tema tratado, que faz precedente 
vinculativo para aquele tipo de caso. Assim, a norma, ou disposição normativa que lhe foi dada, 
serve de base para todos os juízes dos estados membros poderem aplicar essa jurisprudência, ou 
precedentes, para os demais casos que vierem a surgir. 
Isso cria a uniformização (e uma tendencial homogeinização) dos direitos dos estados membros, 
por uma simples razão de igualdade entre os estados nacionais a serviço de um processo 
integrador do modelo jurídico. 
Esse debate em torno da cidadania caminha em paralelo com o debate sobre a proteção dos 
direitos fundamentais, pois se os cidadãos europeus são titulares dos direitos previstos nos 
tratados (art. 20 do funcionamento da União Europeia), então são também titulares de direitos 
fundamentais reconhecidos pela ordem jurídica europeia, sejam eles cidadãos dinâmicos 
(economicamente ativos) ou não. Portanto ser cidadão europeu é ser titular de direitos 
protegidos pela ordem jurídica europeia, sobretudo os direitos fundamentais da União Europeia. 
Observa-se um avanço desde a criação da então União Europeia, pois no início a Cidadania era 
de mercado, focada nos direitos dos atores econômicos e visava suportar a liberdade de 
indivíduos ativamente econômicos. Entretanto, hoje, após ter passado por uma cidadania social, 
a cidadania republicana com participação dos indivíduos, sejam eles estáticos ou não, prevalece, 
após uma desvinculação entre cidadania e economia. 
A relação entre cidadania europeia e proteção dos direitos fundamentais foi ganhando folego 
necessário para a aprovação do acórdão Martinez Sala de 1998, no qual o tribunal inicia o 
percurso da desvinculação entre cidadania europeia e atividade econômica. A partir dessa 
primeira desvinculação da cidadania europeia com o fato de um cidadão de um estado membro 
ser economicamente ativo em outro estado membro, o tribunal de Justiça encontra-se hoje com 
o estatuto do Cidadão Europeu. 
O Estatuto do cidadão Europeu, por sua vez obsta as medidas nacionais que tenham por efeito 
privar cidadãos de gozar dos direitos da União Europeia. 
Entretanto, segundo a professora, a ideia de pertença à UE não basta, é necessária uma união 
política, pois a lógica do Tratado de Lisboa de 2009 ainda não foi incorporada, e a União ainda 
precisa trilhar um longo caminho até que consiga assegurar os direitos fundamentais de que 
dispõe tal carta.

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