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A_industria_cultural_como_ferramenta_do_projeto_progressista (1)

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A indústria cultural como ferramenta
 do projeto progressista
Aqui, surge a necessidade de se traçar com um pouco mais de exatidão a situação do mito na atualidade, de maneira a buscar uma resposta à questão: como se dá a atuação do mito no âmbito educacional e que mito atua hoje?, isto é, que mito influencia o sistema educacional e de que forma, torna-se importante, a princípio, uma abordagem pela ótica da cultura de massa. Onde, em última análise, ele hoje surge e passa a atuar, retomando o velho elo entre a comunicação e a educação.
Neste ponto, surge a necessidade de se realizar uma análise sob a ótica da indústria cultural e a sua interferência no processo de socialização e interação do homem moderno. Porém, torna-se interessante, para uma melhor compreensão do que venha a ser a indústria cultural, que se perceba adequadamente como se dão suas relações com os chamados “meios de comunicação de massa” (mass media) e com a “cultura de massa”. 
À primeira vista, essas expressões tendem a colocar-se como sinônimas, ou parecem apresentar-se de tal modo que, quando uma é mencionada, as outras se seguem automaticamente. Porém, não é bem assim. A própria relação entre os meios de comunicação de massa, os mass media, e a cultura de massa, para que possa existir, exige a presença dos mass media, mas a existência destes não acarreta a da cultura de massa. A invenção dos tipos móveis de imprensa, feita por Gutemberg no século XV, marca o surgimento desses meios — ou, pelo menos, do protótipo desse meios de comunicação de massa. Isso não significa, porém, que de imediato passe a existir uma cultura de massa, pois embora o meio inventado pudesse reproduzir ilimitadamente os textos da época, o consumo por ele permitido era baixo e restrito a uma elite de letrados.
Nessa linha, alguns preferem dizer que a cultura de massa surge com os primeiros jornais. Outros exigem, para caracterizar essa cultura, além dos jornais, a presença de produtos como o romance de folhetim — que destilava em episódios, e para amplo público, uma arte fácil que se servia de esquemas simplificadores para traçar um quadro da vida na época (a mesma acusação hoje feita às novelas de TV). Esse é que seria um produto típico da cultura de massa, uma vez que ostentaria um outro traço caracterizador desta: o fato de não ser feito por aqueles que o consumiam.
E para ter-se uma cultura de massa, outros produtos deveriam juntar-se a esses dois, formando um sistema: o teatro de revista (como forma simplificada e massificada do teatro), o cartaz (massificação da pintura), e assim por diante — o que situaria a cultura de massa na segunda metade do século XIX europeu.�
No entanto, apresenta-se como abordagem mais adequada da questão da indústria cultural, aquela que parte da análise de um dos próprios termos presentes na expressão: o termo indústria. Neste caso, não se pode falar em indústria cultural (e sua conseqüência, a cultura de massa) num período anterior ao da Revolução Industrial, no século XVIII. Mas embora esta Revolução seja uma condição básica para a existência daquela indústria e daquela cultura, ela não é ainda a condição suficiente. É necessário acrescentar a esse quadro a existência de uma economia de mercado, isto é, de uma economia baseada no consumo de bens, desencadeando a ocorrência de uma sociedade de consumo, só verificada no século XIX em sua segunda metade — mesmo período em que se concretiza definitivamente a crença iluminista, surgida no século anterior, da fé no mito do progresso humano como um dos pilares básicos desta nova sociedade.
Assim, a indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa surgem como funções do fenômeno da industrialização e deste novo mito que, baseado na razão iluminista, surge para suplantar todos os outros anteriores e dar a sustentação ideológica necessária à industrialização crescente. E é esta, através das alterações que produz no modo de produção e na forma do trabalho humano, que determina um tipo particular de indústria (a cultural) e de cultura (a de massa), implantando em uma e em outra os mesmos princípios em vigor na produção econômica em geral: o uso crescente da máquina e a submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo desta; a exploração do trabalhador; a divisão do trabalho. 
Estes são alguns dos traços marcantes da sociedade capitalista liberal, onde é nítida a oposição de classes e em cujo interior começa a surgir a cultura de massa. Dois desses traços merecem uma atenção especial: a reificação (ou transformação em coisa, a coisificação) e a alienação�. Para essa sociedade, o padrão maior (ou único) de avaliação tende a ser a coisa, o bem, o produto, a propriedade: tudo é julgado como coisa, portanto tudo se transforma em coisa, inclusive o homem. E esse homem reificado só pode ser um homem alienado — alienado de seu trabalho, trocado por um valor em moeda inferior às forças por ele gastas; alienado do produto de seu trabalho, que ele mesmo não pode comprar, pois seu trabalho não é remunerado à altura do produzido; alienado, enfim, em relação a tudo: de seus projetos, da vida do país, de sua própria vida, uma vez que não dispõe de tempo livre, nem de instrumentos teóricos capazes de permitir-lhe a crítica de si mesmo e da sociedade. Enfim, o projeto progressista não pode se permitir ser questionado pela massa que o executa.
Nesse quadro, também a cultura — feita em série, industrialmente, para um grande número de pessoas — passa a ser vista não como instrumento de crítica e conhecimento, mas como produto passível de permuta por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. Torna-se um produto feito de acordo com as normas gerais em vigor: produto padronizado, como uma espécie de kit para montar, um tipo de pré-confecção feito para atender necessidades e gostos médios de um público que não tem tempo de questionar o que consome. Uma cultura que não vale mais como algo a ser usado pelo indivíduo ou grupo que a produziu e que funciona, quase exclusivamente, como valor de troca (por dinheiro) para quem a produz.
Esse é o quadro caracterizador da indústria cultural: mito iluminista da razão, revolução industrial, capitalismo liberal, economia de mercado, sociedade de consumo. Na medida em que cultura de massa está ligada ao fenômeno do consumo, o momento de instalação definitiva dessa cultura seria mesmo o século XX, onde o capitalismo não mais dito liberal, mas, agora um capitalismo de organização (ou monopolista) criará as condições para uma efetiva sociedade de consumo cimentada, em ampla medida, por veículos como a TV.
Evidentemente, essa sociedade de consumo se realiza mais no Primeiro Mundo (EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra, etc.) do que no segundo (os ex-países socialistas) e no Terceiro Mundo (os subdesenvolvidos). Nestes dois últimos, o consumo existe antes como valor ainda a alcançar, como meta ainda irrealizada; mesmo assim, ele orienta a organização da sociedade, tendendo a fazê-lo segundo os moldes das sociedades do Primeiro Mundo — razão pela qual todos esses traços típicos da indústria cultural (e seu produto, a cultura de massa) nos países desenvolvidos acabam por ser válidos, em linhas gerais, na análise do mesmo fenômeno nas demais regiões.
Sob a ótica do quadro acima demonstrado e partindo do caráter alienante da cultura de massa, que força o indivíduo a perder ou a não formar uma imagem de si mesmo diante da sociedade, uma das primeiras funções por ela exercidas seria a função narcotizante, obtida através da ênfase ao divertimento em seus produtos. Procurando a diversão, a indústria cultural estaria mascarando realidades intoleráveis e fornecendo ocasiões de fuga da realidade. O divertimento, assim, sob a ótica da reflexão crítica e da apreensão de mundo, uma vez apropriado e redefinido e veiculado pela indústria cultural, apresenta-se como um inimigo do pensamento.
Por outro lado, com seus produtos, a indústria cultural pratica o reforço das normassociais — reelaboradas sob a ótica do mito do progresso —, repetidas exaustivamente, sem discussão. Em conseqüência, surge daí uma outra função: a de promover o conformismo social. E a esses aspectos centrais do funcionamento da indústria cultural viriam somar-se outros, conseqüência ou subprodutos dos primeiros: a indústria cultural fabrica produtos cuja finalidade é a de serem trocados por moeda; promove a deturpação e a degradação do gosto popular; simplifica ao máximo seus produtos, de modo a obter uma atitude sempre passiva do consumidor; assume uma atitude paternalista, dirigindo o consumidor ao invés de colocar-se à sua disposição�.
	Em seu livro “Apocalípticos e Integrados”, o intelectual italiano Umberto Eco aprofunda esta análise sobre a influência e a ação dos mass media (meios de comunicação de massa), apontando certos aspectos como modelos de disseminação de um tipo emergente de cultura de consumo da atual sociedade industrial, surgida neste século. Funcionando como instrumento educativo dentro de um sistema capitalista, com tendências a produzir modelos humanos heterodirigidos, são eles�: a) a constatação de que os mass media se utilizam de “médias de gosto”, evitando as soluções originais para um público heterogêneo; b) tendem a homogeneizar a cultura, destruindo as características culturais próprias de cada grupo étnico; c) os mass media impõem suas propostas a um público incônscio de si como um grupo social caracterizado e, portanto, ignorante do que sofre; d) eles não promovem a renovação da sensibilidade, secundando o gosto. Além disso, desenvolvem funções conservadoras, a partir do momento em que apenas homologam o que já foi assimilado; e) provocam emoções intensas e não imediatas, não sugerindo nem simbolizando uma emoção, mas provocando-a, entregando-a já confeccionada, sem a exigência de um maior esforço por parte da sociedade.
	Esta, por sua vez, vê-se assediada pela indústria produtora da cultura de massas, a indústria cultural, principalmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando os países envolvidos no conflito iniciam uma nova fase em suas histórias, agora sob a influência dos dois grandes blocos ideológicos que surgem, o socialista, de um lado, tendo a ex-União Soviética à frente, e o capitalista, de outro lado, liderado pelos Estados Unidos da América. É justamente nesse período, onde a indústria cultural já começa a definir o seu perfil de condutora das massas populares, que ela faz a sua opção pelo novo: um novo mundo, uma nova postura, uma nova história a se fazer. E quem mais poderia representar o novo dentro desta inédita configuração ocidental, senão “uma juventude nascida após o conflito, ávida por um novo mundo?”�.
	Entretanto, embora a indústria cultural tenha se afirmado como tal após a Segunda Grande Guerra, mesmo antes o cinema e o rádio já exercitavam, com seus ídolos, o fascínio e a libido do público (uma vez que um dos ingredientes vitais da mitologia dos meios de comunicação de massa é a empatia sexual entre o mito e o público�). No cinema, principalmente o americano, artistas como Rodolfo Valentino ou Marilyn Monroe conseguiram seduzir as pessoas com o que possuíam de mais forte: a sensualidade, que provocava deslumbramento das massas pelo ser belo e inalcançável. Ícones de uma arte em expansão, estes artistas compunham o chamado star system, fábrica geradora de ídolos instantâneos destinados ao consumo público.
Porém, se na forma estes novos ídolos do século XX se aproximam da antiga mitologia grega, procurando atingir a imaginação de um público ávido de saber e, de certa forma, participar do mundo maravilhoso e distante do árido cotidiano do mortais comuns em que habitam os seus ídolos e heróis, no conteúdo diferem em muito, posto que o que se conta é a aventura pela aventura, sem o mesmo interesse dos antigos pela mensagem educativa e moralizante (nos moldes homéricos) que o mito possa transmitir.
 	O rádio, por sua vez, também já conhecia o seu poder de penetração junto às várias camadas da sociedade. Cedo, pessoas como Adolf Hitler, puderam perceber o seu poder de penetração, procurando ampliar a sua utilização. No caso específico do ditador nazista, este o transformou em seu principal veículo de propaganda e, por extensão, transformou-se a si próprio no maior mito popular alemão daquele período, através das suas transmissões radiofônicas — que, logicamente, contavam com o apoio de intensa campanha popular nos moldes da antiga Roma dos Césares a amparar a propaganda ideológica nazista.
	Após a Segunda Guerra, com o “boom” da televisão no mundo e, principalmente, nos EUA, podemos dizer que a indústria cultural se “profissionalizou” e passou a compreender o quanto a juventude seria valiosa para o seu esquema global de faturamento. “Uma das primeiras providências tomadas foi o ‘envelhecimento’ de certas categorias de arte” (como a música erudita, que viu ser criado o termo ‘música clássica’ para qualificá-la e a própria música popular feita até ali, entre outras manifestações artísticas) “a fim de buscar uma imediata associação destas com os pais e avós”� daquela nova juventude, identificados com um passado que deveria ficar para trás. Paralelamente, procurou-se incentivar — através de amplos espaços em todas as mídias — a idéia de uma espécie de “radicalismo juvenil”. 
	Este “radicalismo”, por sua vez, surgiu como um veículo diferenciador de gerações de pais e filhos — cujas fruições mercadológicas nunca haviam sido muito distintas antes. Agora, através desta nova postura juvenil, todo um novo mercado surgia a partir desta divisão etária, através da qual era vendida a idéia de que o “novo” era melhor do que o “velho” e que seria a juventude a porta-estandarte de todos os desdobramentos sociais a partir de então.
	Hoje, a indústria cultural já se apercebeu da eficiência cada vez maior dos mitos. Porém, há certos cuidados essenciais a se manter quando se trabalha com a mitologia cultural dos meios de comunicação de massa, os mass media, como aponta Eco�: uma vez colocados dentro de um circuito comercial, os mass media estão sujeitos à lei da oferta e da procura, dando ao público somente o que ele quer ou, o que é mais comum, utilizando-se de uma economia baseada no consumo e sustentada pela ação persuasiva da publicidade, sugerindo ao público o que este deve desejar. Além disso, os mass media encorajam uma imensa informação sobre o presente — “reduzindo aos limites de uma crônica atual sobre o presente até mesmo as eventuais reexumações do passado” —, entorpecendo toda consciência histórica e esvaziando a mensagem das referências que venham lhe conferir significado, optando por um pragmatismo que a deforma e a torna incompleta, inclusive na área educacional.
Os mass media, ainda segundo Eco, tendem a impor símbolos e mitos de fácil universalidade (Xuxa, Senna, etc.), criando “tipos” prontamente reconhecíveis e, por isso, reduzem ao mínimo a individualidade e o caráter concreto não só de nossas experiências, como de nossas imagens, através das quais deveríamos realizar experiências. Para tanto, trabalham sobre opiniões comuns, funcionando como uma contínua reafirmação do que já pensamos. Nesse sentido, desenvolvem sempre uma ação socialmente conservadora manifestando-se, ainda quando aparentam ausência de preconceitos, sob o signo do mais absoluto conformismo no campo dos costumes, dos valores culturais, dos princípios sociais e religiosos, das tendências políticas. Favorecem projeções orientadas para modelos “oficiais”.
Estas características dos mass media, aliadas ao fato de estes se encontrarem no centro de uma cultura de massa intimamente ligada com as constantes inovações tecnológicas e que se utiliza da sedução de seus “mitos” para estimular o consumo, os colocam em constante choque com a educação.
� ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 76.
� Idem, p. 81 ss.
� Idem, p. 87.
� Idem, p. 89 ss.
� História dos Jovens. A Época Contemporânea — Vol. 2. AJuventude, Metáfora da Mudança Social. Org. por Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 354.
� Idem, p. 372.
� MOLES, Abraham A. Sociodinâmica da Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 173.
� ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1979, pp. 96-99.

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