Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EM ENTREVISTA A professora doutora Irenides Teixeira fala sobre o projeto (En)Cena e as perspectivas do Portal para os próximos desafios. 2 e d it o ri a l As instituições de ensino su- perior esforçam-se para, cada vez de forma melhor, promover e produzir conhecimento. Para isto, utilizam 3 pi- lares principais: o ensino, a pesquisa e a extensão. De forma rápida, dizemos que ensino é o conteúdo didático, as aulas diárias e o conhecimento por meio de estudos especificados pela grade curricular. Pesquisa é a abord- agem que visa à produção científica e a investigação de manifestações e realidades. Extensão, como o próprio nome diz, rompe com as barreiras físi- cas da universidade. As ações exten- sionistas aproximam o ensino superior da comunidade e permitem um pro- cesso de troca e participação mútua. Esta relação constrói novos saberes, novas práticas e oportuniza experiências na sociedade em que es- tamos inseridos mas que, por vezes, não somos sensibilizados a ver, ouvir, atender e cuidar. E é essa a função dos projetos extensionistas: conhecer e auxiliar a comunidade conforme os sa- beres aprendidos no meio acadêmico. Nesta revista, você vai conhecer al- guns projetos de extensão desenvolvi- dos pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) de Palmas - TO. Nas entrevistas, fotografias, nos vídeos e relatos você terá a oportuni- dade de perceber alguns resultados transformadores que ocorrem a cada encontro e produzem qualidade de vida a quem faz parte da extensão uni- versitária. Jornalista Responsável: Por Letícia Bender Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA Direção de Arte e Diagramação: Bruce Ambrósio Costa Acadêmico de Publicidade e Propaganda do CEULP/ULBRA Entrevistados: Professora Conceição Previero Professora Luciana Furtado Professor Edeilson Milhomem Professora Cristina Filipakis Professora Maria Aparecida da Rocha Medina ín d ic e ( E n ) C e n a – A S a ú d e M e n t a l e m M o v i m e n t o05 T E R R A Q U A R I U M - E d u c a ç ã o e M e i o A m b i e n t e12 F i s i o t e r a p i a A q u á t i c a n a A PA E d e P a l m a s - TO18 A K Á D E M O - U m a l i ç ã o d e v i d a I n f o r m á t i c a e S o c i e d a d e E X P R O - E x p o s i ç ã o d a s P r o f i s s õ e s C o f o d a l e i t u r a e e s c r i t a n a e s c o l a i n d í g e n a 22 28 32 36 4 Você, que está lendo este conteúdo neste Portal, sabe o que é o (En)Cena – a Saúde Mental em movimento? Há 3 anos, comemorados no último dia 18, o projeto de extensão (En)Cena foi lançado pelos cursos de cursos de Psicologia, Comunicação Social e de Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Palmas - CEULP/ULBRA. Desde esta data, mais de mil trabalhos foram publicados nos mais diversos formatos: fotografia, desenho, roteiro, relato, entrevista, poesia entre outros. No (En)Cena, as discussões são em torno da te- mática da saúde mental, porém, com abordagens diferenciadas, não fixando-se apenas a conteúdos teó- ricos e técnicos. Em entrevista, a professora doutora Irenides Teixeira fala sobre o projeto (En)Cena e as perspecti- vas do Portal para os próximos de- safios. (En)Cena - O (En)Cena surge com o objetivo de discutir saúde men- tal. Afinal, o que é saúde mental? Por que essa temática foi escolhi- da para ser discussão? Irenides Teixeira – Encontramos na literatura inúmeros conceitos para “Saúde Mental” que poderiam ser citados aqui, sem desprezar nenhu- ma das ciências do conhecimento é que a equipe do (En)Cena parte do pressuposto que Saúde Mental é a capacidade que cada sujeito tem de lidar com as adversidades do coti- diano de forma plena, sem perder a noção de Si e do Outro. A temática da Saúde Mental fez parte desde o início do desenvolvimento do proje- to. Inquietações de professores dos cursos de Psicologia, Comunicação Social e de Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA, o portal nasce basicamente da ideia de dar visibili- dade a experiências que acontecem nos serviços de saúde e de saúde mental. Sabedores de que nem to- das as experiências se adéquam a artigos científicos é que a equipe teceu, no coletivo, as seções que fazem parte de sua proposta. Esco- lhemos o 18 de maio – Dia da Luta Antimanicomial – em 2011, para lançar o portal (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento, um espaço de troca de experiências e também um espaço de divulgação do que acontece no campo da saúde men- tal. O lançamento aconteceu como parte da programação do evento Te- ares, atividade da disciplina Projeto Experimental II – Ação Comunitária Equipe do (En)Cena no lançamento do portal em maio de 2011. Foto – Arquivo (En)Cena Irenides Teixeira, coordenadora do (En)Cena, durante a divulgação do portal na EXPRO 2013. Foto: Arquivo (En)Cena 6 do curso de Comunicação Social cuja proposta foi promover uma campanha de conscientização so- bre saúde mental. Na ocasião hou- ve uma mesa redonda que contou com as reflexões do professor Silvio Yasui, psicólogo e doutor em saúde mental, da Universidade Estadual Paulista (UNESP); Mardônio Paren- te, Psiquiatra e Doutor em Psicolo- gia; pela professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Patrícia Orfila e também pelo secretário de saúde do município de Palmas, Samuel Bonilha. (En)Cena - Qual é a grande vanta- gem de ser uma mídia colabora- tiva, em que pessoas de diversas realidades e contextos podem contribuir no desenvolvimento de conteúdos do Portal? Irenides Teixeira - O (En)Cena já nasceu sob o viés da cultura da co- laboração e do compartilhamento que ganha potência com o trabalho que fazemos nas redes sociais. Isso se deve, principalmente, por ele ser desenvolvido por professores e alu- nos dos cursos de Comunicação Social, Psicologia e Sistemas de Informação e ainda pelas parcerias que foram acontecendo. Para se ter ideia, estabelecemos parcerias com redes de serviços de saúde mental como, por exemplo, os CAPS de Pal- mas, Porto Nacional e Dianópolis; com as Secretarias Municipal e Es- tadual de Saúde do Tocantins, com a Política Nacional de Humanização – PNH e ainda com diversas institui- ções de ensino. Essas parceiras se mate- rializam, ao longo desses três anos, na publicação de mais de 1.200 tra- balhos no portal, na participação da equipe em eventos nacionais e internacionais, tais como: Encon- tro Nacional de Psicologia Social - ABRAPSO, Recife (2011); X Con- gresso de Saúde Mental e Direi- tos Humanos, Córdoba, Argentina (2011); I Congresso de Psicologia do Cerrado (CONPCER); 35º Con- gresso Brasileiro de Ciências da Comunicação / INTERCOM. Forta- leza – CE (2012); Política Nacional de Humanização do SUS. Florianó- polis – SC (2012), no I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins. Palmas – TO (2012); II Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial, Porto Alegre/RS (2012); VIII EREP Norte e Nordeste, São Luis/MA (2012). As parcerias permitiram ainda que em maio de 2012 o even- to (En)Cena na Praça: Saúde Men- tal em Rede, em Palmas-TO, fosse um sucesso. O primeiro layout lançado em maio de 2011 e o segundo layout lançado em dezembro de 2012. Equipe acerta os últimos detalhes do evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena A Coordenadora do (En)Cena em articulação com Terezinha Moreira e Ricardo Teixeira, Consultores da Política Nacional de Humanização - PNH durante o I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins, 2012. Foto - Arquivo (En)Cena Equipe do (En)Cena durante a cobertura do evento Semi- nário Norte de Humanizaçãoem Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena TV Jovem Palmas na cobertura do evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena Acadêmicos voluntários do (En)Cena atuam na cober- tura do I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins, 2012. Foto - Arquivo (En)Cena Equipe do (En)Cena em momento de descontração durante o evento Seminário Norte de Humanização em Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena Equipe do (En)Cena com o pessoal da PNH que orga- nizou o evento Seminário Norte de Humanização em Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena Equipe do (En)Cena comemora o sucesso do evento (En) Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena O portal (En)Cena é apresentado aos participantes do II Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial, Porto Alegre/RS, 2012. Foto - Arquivo (En) Cena 8 O portal foi parceiro da Coorde- nação Estadual de Saúde Mental do Tocantins na organização do 1º Seminário Tocantinense da Saúde Mental em Movimento com o Inter- setor em Palmas-TO (2012) e ainda do Ministério da Saúde e Política Nacional de Humanização - PNH no Seminário Norte de Humaniza- ção, em Manaus-AM (2013). Nes- ses eventos a equipe do (En)Cena foi responsável pelo registro, docu- mentação e divulgação nas redes sociais. A atuação, bem como os resultados, chamou a atenção do Ministério da Saúde que proporcio- nou que 18 pessoas da equipe fizes- sem parte da cobertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Fa- mília em Brasília/DF, em março de 2014. Nessas oportunidades en- contramos pessoas com experiên- cias de vidas diferenciadas que nos proporcionaram relatos que foram transformados em textos, áudios, vídeos, desenhos e fotografias. É muito gratificante ver pessoas de várias partes do Brasil e com várias formações culturais falando sobre loucura, saúde mental. (En)Cena - O Portal (En)Cena já publicou mais de 1.200 conteú- dos em diversos formatos: áudio, vídeo, texto, poesia, fotografia, de- senho... Qual é a importância de trabalhar com essa liberdade de linguagens? Irenides Teixeira - Desde o início do projeto pensamos em diferentes seções que oportunizassem mani- festações distintas de pensamento sejam por professores, acadêmicos, artistas, profissionais e usuários dos serviços de saúde. A diversida- de de seções bem como a liberda- de de linguagens foram essenciais para a riqueza de temas veiculados pelo (En)Cena. As seções do portal são: Cenas (publicação de trabalhos imagéticos – fotos, desenhos, pin- turas e videos), Desterritorialize-se (publicação de textos sobre temas variados, não ligados a seus cam- pos de conhecimento e que tragam a saúde mental como eixo transver- sal.), Em Cartaz (espaço destina- do a resenhas, críticas e reflexões a respeito de obras – tais como: livros, filmes, exposições etc. – e eventos atuais que sejam relevan- tes para o tema da saúde mental), Entrevistas (divulgação de entrevis- tas feitas com pesquisadores, au- tores, gestores e especialistas em saúde, assim como as realizadas com usuários, familiares de usuá- rios e profissionais de serviços de saúde mental, e que digam respeito ao tema de interesse do portal), Es- critos (espaço que visa à publicação de narrativas que se deixam moldar em poesias, contos, crônicas, ro- mances e narrativas), Insight (local reservado para textos teóricos, re- flexões, críticas e comentários, de autoria da equipe do portal ou não, sobre temas contemporâneos que tragam a saúde mental como eixo transversal), Personagens (ambien- te destinado a histórias de persona- gens, reais ou fictícios, pessoas ou instituições, que têm suas vidas e Equipe do (En)Cena durante a cobertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília, 2014. Foto – Arquivo (En)Cena Integrantes da Equipe do (En)Cena presentes na IV Mos- tra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília, 2014. Foto – Arquivo (En)Cena trajetórias relacionadas de alguma forma à saúde mental ou à loucura), Roteiros (seção onde se pode divul- gar relatos de experiências ocorri- das em serviços de saúde que, em- bora fujam do formato acadêmico tradicional, impõem-se por sua ne- cessidade e por sua importância na produção do conhecimento relacio- nado à área), Trilhas (uma espécie de sarau musical sobre o passado, o presente e o “proto-futuro” da pro- dução discursiva em Saúde Mental e onde se publicam fragmentos de sonoplastia textual datados, mas com reverberação atemporal, e in- terpretados-dublados sob a estética da peça radiofônica). Temos ainda Notícias e Reportagens que divul- gam os eventos e acontecimentos na área e ainda temas de interesse da sociedade. (En)Cena - Estar imerso no con- texto universitário faz do (En)Cena uma plataforma de comunicação mais dinâmica? Irenides Teixeira – Acredito nas possibilidades que temos de esta- belecer redes. Nessa lógica, é ine- gável que estarmos na Universidade amplia a possibilidade de contatos. Cada colaborador, com a sua rede, se faz importante nessa tessitu- ra subjetiva de conhecimento em prol da temática Saúde Mental. Por exemplo, sou graduada em Proces- samento de Dados, Comunicação Social e em Psicologia (três áreas de conhecimento distintas), tenho formação em Fotografia, Turismo e Arteterapia, fiz mestrado e douto- rado em instituições diferentes. Isso significa conhecer pessoas com olhares distintos acerca do cotidia- no. Nessa lógica, um convida o outro e assim tecemos esse projeto que já não faz parte mais de uma equipe de professores e alunos que pensa- ram o projeto. O (En)Cena é parte de cada um que publica textos, que curte, que comenta, que comparti- lha, que divulga, que sugere temas – dessa prática é que surgiram as séries temáticas –, que apóia de al- guma forma para que ele permane- ça no ar. Manter a meta de publicar um trabalho por dia é tarefa árdua 10 que sem esses colaboradores seria impossível continuar. (En)Cena – No dia 18 de maio, também lembrado o dia da luta antimanicomial, o (En)Cena com- pletou 3 anos de lançamento. Pra você, qual foi ou é a maior conquis- ta do Portal? Irenides Teixeira – É certo que ultra- passar a marca dos 1.200 trabalhos publicados, de ganharmos dois prê- mios regionais e um nacional como melhor portal e de termos em média 12 mil acessos semanais nos deixa envaidecidos, mas não dá a dimen- são da importância que o (En)Cena tem na vida das pessoas. Desenvol- vemos ao longo desses três anos tecnologias de cuidado para com o outro que seria impossível relatar aqui. Recebemos mensagens com caráter de denúncia por maus tra- tos em hospitais, de pedido de ajuda para compreender alguns transtor- nos mentais, de agradecimento por trazer à web temas que os interes- sam e ainda mensagens de apoio. Isso nos motiva a continuar. O (En)Cena é ainda espa- ço de formação, pois são os alunos que desenvolvem as artes visuais que dão vida ao portal, são eles que ilustram as poesias, que fotogra- fam, que editam, que entrevistam, que divulgam nas redes sociais, que desenvolvem a interface. São esses alunos, orientados por seus profes- sores, que em seus estágios e TCCs pensam melhorias para o portal. São várias as conquistas que corro o risco de não conseguir elencar aqui. Mas, não podia deixar de citar algumas instituições de en- sino que se fizeram presente no por- tal com a publicação de trabalhos: - UNB – UNIFENAS – UFRGS – USP – UDF - UNITINS – UFBA – IF-SC – UNICAMP – UNITRI - UFVJM – UNIMAR ITPAC/PORTO – UFSC – UERJ – UFT UNISINOS – UEL – UFC - UFMG – UFES - UFPB – CESUMARUNIFOR – UFRJ – UNEB - UNESP – UFSM – UFPR – IFES - PUC/CAMPI- NAS – UNI/POTIGUAR entre outras. Hoje, acessado em mais de 120 países, podemos dizer o portal é um território em que pessoas li- gadas ou não aos serviços de saúde militam pela causa. (En)Cena - Qual a sua expectativa para o projeto? Irenides Teixeira – O (En)Cena atingiu números muito altos que dá a dimensão de seu crescimento. Para se ter ideia, em 2011 tivemos 39.658 acessos, em 2012 155.342 e em 2013 chegamos a 366.055. Em 2014 esse número vem aumentado progressivamente. Isso só aumen- ta a nossa responsabilidade com todos os que acreditam na propos- ta. Quanto as nossas expectativas, posso citar algumas que fazem par- te dos nossos planos e que já estão em desenvolvimento: aplicativos para dispositivos móveis, o tercei- ro layout do portal e tornar o (En) Cena acessível para os deficientes visuais e ainda disponibilizar alguns dos conteúdos em outros idiomas. Sonhos a parte, acredito que man- termos o (En)Cena funcionando já é um desafio que vale a pena. TE RR AQ UA RI U M E D U C A Ç Ã O E M E IO A M B IE N T E “Fomentar educação ambiental vai muito além de abraçar árvores e plantar mudas”. É com este pensamento que o projeto de extensão Terraquarium: Educação e Meio Am- biente, do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), se desenvolve. Sob coordenação da professora pesquisadora Conceição Previero, há 13 anos o Terra- quarium atua no desenvolvimento e elaboração de ações voltadas para a conscienti- zação de problemas ambientais. Essa atuação abrange a comunidade universitária e a população palmense por meio de atividades tangíveis e de forma interdisciplinar. Por meio de práticas diversifica- das para públicos diferentes entre si, o Terraquarium propõe ações com o intui- to de adotar a filosofia dos 3 Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Também aposta no fomento da educação ambiental junto a escolas do ensino público e privado do município e na revitalização de espaços não utilizáveis. Em entrevista ao (En)Cena, a pro- fessora doutora Conceição Previero fala sobre o projeto, as ações desenvolvidas e os desafios de trabalhar o tema de educa- ção ambiental com a comunidade acadê- mica e a sociedade a qual o Terraquarium atende. Coordenadora do projeto Terraquarium, professora Conceição Previero. Foto: Michel Rodrigues 12 (En)Cena - Há quanto tempo o projeto Terraquarium é realizado? Em qual contexto ele surge? Conceição Previero - O projeto Terraquarium foi iniciado em 2001, quando da construção da Usina Hi- drelétrica Luiz Eduardo Magalhães. Na ocasião o CEULP/UL- BRA foi responsável pelo resgate dos animais silvestres no enchi- mento do lago da Usina. O Terra- quarium foi o centro de recepção dos animais feridos ou localiza- dos em locais inadequados (resi- dências, locais públicos etc), para posteriores cuidados, quando ne- cessários e retorno ao seu habitat. Também foram resgatadas espé- cies da família Orchidaceae (as or- quídeas), estas foram “fixadas” nos caules das plantas conforme suas afinidades. Após o término do res- gate alguns animais permaneceram por um período nesse espaço e em 2009 foram destinados os últimos espécimes para outros Centros de Recepções. O Terraquarium foi um marco para o CEULP/ULBRA frente à importância do trabalho realiza- do. Até os dias de hoje somos con- tatados para recepção de animais silvestres. No ano de 2011 foram re- tomadas as atividades, com foco na Educação Ambiental. Hoje, a equipe de estagiários que fazem parte des- se projeto, realizam trabalhos dire- tos ou complementares, são eles: Ícaro Gonçalves Santos, Filipe Ca- bral Lima Ferreira, Tatiana Gomes Cesar, Lucivania de Sousa Santos, José Adailton Rodrigues de Sousa, Daniella Martins Pimenta, João Gui- lherme Teixeira e o biólogo Pedro Henrique Campelo. (En)Cena - O Terraquarium, em seu objetivo principal, promove Educação Ambiental. Qual é esse conceito? Conceição Previero - A promo- ção da Educação Ambiental é vista como consequência das práticas desenvolvidas. É um trabalho per- manente, contínuo e transversal. É um conceito que vai além do mo- dismo que a mídia impõe sobre ser politicamente correto no que tange a questão ambiental. Não adianta abraçar uma árvore em protesto a sua permanência e no dia a dia não incorporar práticas que venham a condizer com o seu discurso. (En)Cena - “Terraquarium”, além de ser o nome do projeto, é um espa- ço físico e área verde no campus do CEULP/ULBRA. De que forma esse local é utilizado e qual o diferencial dele no contexto palmense? Conceição Previero- A cobertura vegetal na área do Terraquarium é uma parcela preservada do Bioma Cerrado. A fisionomia da vegeta- ção mostra uma grande riqueza em números de espécies, como: pequi, murici, cajuí, mangaba, ipê, jatobá, araçá, grudento, folha larga, puçá, fava de bolota, etc. A especulação imobiliária tem colocado o Cerrado Espécies resgatadas - Foto: Solange Alves Animais silvestres apreendidos - Foto: Solange Alves Visita monitorada- Foto: Solange Alves no chão. No entorno do campus do CEULP/ULBRA fica evidente referi- da prática. As imagens de satélite evidenciam os fatos. Dentro deste cenário se verifica a importância deste espaço, não somente para a comunidade acadêmica da Institui- ção, mas para toda a comunidade no seu entorno. Há de se conside- rar que a área preservada tem sido refugio para algumas espécies de animais do Cerrado, frente aos des- matamentos no entorno. (En)Cena - Por meio de quais ativi- dades práticas o projeto atinge os objetivos da educação ambiental? Conceição Previero - O lúdico é o que mais evidencia a atividade. Por exemplo: ao explanarmos sobre a fava de bolota, espécie símbolo do Tocantins, a uma criança, onde ela poderá tocar as sementes, receber uma muda para plantio e na som- bra da árvore da mesma espécie, haverá uma percepção diferencia- da. Outro exemplo: Fazemos uso de animais silvestres taxidermizados (empalhados), onde espalhamos exemplaresao longo de uma trilha que percorre o interior da mata em questão e as crianças os localizam e os identificam. A resposta é es- petacular frente à fantasia que as crianças criam diante do cenário. Sob estas condições falamos sobre a importância da preservação e o porquê dos animais taxidermiza- dos. Para conhecimento do comportamento de espécies nati- vas do Cerrado, quanto a armazena- bilidade das sementes, germinação, crescimento das plantas, desen- volvemos pesquisas científicas, cujos resultados são apresentados em eventos técnicos-científicos e socializados nos diferentes gru- pos sociais. Na campanha “Adote uma árvore” distribuímos em 2013 aproximadamente 3000 mudas de espécies nativas e frutíferas em parceria com a Prefeitura de Pal- mas. Ao adotar uma muda a pessoa recebe orientação sobre o plantio e um certificado se comprometendo a zelar pelo desenvolvimento da es- pécie. O espaço também tem sido utilizado pelo Exército e Corpo de Bombeiros em provas do projeto Akádemo: Uma lição de vida e even- Imagens do Terraquarium e entorno no ano de 2009 Imagens do Terraquarium e entorno no ano de 2014 14 Mudas de cajá – Pesquisa Mudas de pequi – Pesquisa Sementes de pequi Caroço do pequi para extração da semente Plantio de mudas dentro do Projeto Akádemo Educação Ambiental Alunos do SESC Plântulas de cupuaçu - Pesquisa Frutos de murici para extração das sementes Pista de orientação realizada pelo Exército Falsa baiana realizada pelo Corpo de Bombeiros Tirolesa realizada pela equipe do Corpo de Bombeiros Campanha distribuição de mudas AGROTINS 2013 tos institucionais.(En)Cena - Qual a importância de discutir ‘relação do indivíduo com o meio ambiente’ na universida- de? Há dificuldades para tratar do assunto com acadêmicos e a co- munidade em geral? Conceição Previero - A transversa- lidade do tema meio ambiente per- passa em todas as áreas de conhe- cimento. A maioria dos acadêmicos envolvidos no projeto é do curso de Ciências Biológicas, mas temos percebido um despertar em outras áreas, como o Direito Ambiental, Psicologia Ambiental, Mídia Am- biental, Saúde Humana e Ambiente. Impossível pensar no indi- víduo isolado do meio ambiente e onde esta o indivíduo há problemas ambientais. É lamentável, por exem- plo, nos depararmos com resíduos sólidos e jogados no chão quando as lixeiras estão do lado. Basta ter olhos para ver que isto acontece também nos espaços da nossa Instituição. Fizemos uma coleta de resíduos na Instituição e deposita- mos em local de fácil visibilidade, na expectativa de que mexeria com os cidadãos, mas a resposta não veio. Não acredito em respostas em cur- to prazo no que tange a EDUCAÇÃO + Ambiental. Sempre nos questio- namos o que fazer??? A resposta é continuar e fazer das práticas um novo despertar. Educar dá traba- lho, por isso que eu acredito que a promoção da Educação Ambiental Infantil é mais promissora. (En)Cena - Enfim, qual é a expec- tativa do Terraquarium? O que ele pretende despertar no âmbito acadêmico e social? Conceição Previero - Parto do pressuposto que é preciso vivenciar o nosso discurso, o que nem sem- pre é fácil. Não estamos prontos e o trabalho deve ter sensatez. Há uma discussão entre ambientalistas, por exemplo, que a divulgação de uma lista de espécies ameaçadas pode ajudar na extinção, com fotos, locais em que ocorrem, e seus hábitos de vida. Isto nos põe em xeque sobre determinadas práticas. É preciso reavaliar sempre. Acredito que par- te da comunidade acadêmica do CEULP/ULBRA desconhece a exis- tência da área nativa e preservada que temos dentro do campus e no desenvolvimento do projeto “Terra- quarium: Educação e Meio Ambien- te”. Um grande desafio é deixar/fa- zer com que as pessoas conheçam o projeto. A promoção da catálise diante das práticas será em respos- ta ao catalisador – indivíduo. Resíduos sólidos coletados nos estacionamentos e jardins do CEULP/ULBRA 16 FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA APAE DE PALMAS - TO Alongamentos, fortalecimento muscular e treino funcional no meio aquático são algumas das práticas realiza-das no projeto de extensão Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). Coordenado pela professora fisioterapeuta Luciana Furtado, o trabalho do projeto com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) teve início em 2010, quando o CEULP/ULBRA cons- truiu uma piscina terapêutica especial para este tipo de modalidade na Associação. Desde esta data, os alunos apaeanos são atendidos semanalmente por acadêmicos do curso de Fisioterapia e supervisionados por docentes da mesma área. Por meio de práticas diver- sificadas para públicos diferentes entre si, o Terraquarium propõe ações com o intuito de adotar a filo- sofia dos 3 Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Também aposta no fomen- to da educação ambiental junto a escolas do ensino público e privado do município e na revitalização de espaços não utilizáveis. Em entrevista ao (En)Cena, a professora doutora Conceição Previero fala sobre o projeto, as ações desenvolvidas e os desafios de trabalhar o tema de educação ambiental com a comunidade aca- dêmica e a sociedade a qual o Ter- raquarium atende. (En)Cena - Em quê consiste a fi- sioterapia aquática? Essa ativida- de terapêutica exige preparação de algum recurso para a realiza- ção dela, como, por exemplo, uma piscina específica ou material di- ferenciado? Luciana Furtado - A fisioterapia aquática consiste na prática de Professora Luciana Furtado, coordenadora do projeto Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO 18 técnicas fisioterapêuticas específi- cas para o meio aquático utilizadas para a promoção da reabilitação física e funcional de pacientes. Os atendimentos devem ser realizados num espaço destinado a atividades aquáticas que seguem normas da vigilância sanitária e contam com uma piscina com estrutura e tem- peratura da água específica para esses atendimentos. (En)Cena - Por que vocês escolhe- ram a comunidade apaeana para as práticas do projeto e por que a escolha da fisioterapia aquática? Luciana Furtado - A maioria das crianças da APAE tem deficiência física que compromete seu desen- volvimento motor adequado e con- sequentemente causa prejuízo na deambulação e realização de suas atividades funcionais. Certos prin- cípios físicos da água associados a manejos fisioterapêuticos espe- cíficos conferem maior liberdade e funcionalidade aos movimentos que seriam difíceis de serem exe- cutados no solo, o que permite, de acordo com a doença de base, esti- mular o ganho progressivo de flexi- bilidade, força, equilíbrio e de habili- dades funcionais. A instituição APAE conta uma piscina terapêutica e a dispo- nibiliza para profissionais fisiote- rapeutas de instituições parceiras para que possam atender a grande demanda de crianças com defici- ência encaminhadas pelos médicos para esse atendimento. (En)Cena - Como é a aceitação dos alunos da APAE? Eles de- monstram gostar das atividades desenvolvidas pela fisioterapia aquática? Luciana Furtado - É visível o bem es- tar e a alegria das crianças durante os atendimentos, o que motiva os acadêmicos voluntários a se inte- ressarem por essa área de atendi- mento. (En)Cena - Que resultados o pro- jeto obteve no que diz respeito à saúde física e psíquica das crian- ças atendidas? Houve melhora de qualidade de vida? Luciana Furtado - Nesses anos de realização do projeto temos obser- vado resultados de melhora física, funcional e até mesmo relatos de melhora do bem estar psíquico pe- los professores cuidadores dessas crianças, aspectos esses, funda- Criança sendo atendida por acadêmicos do projeto Alunos da APAE recebendo atendimento mentais na garantia de uma boa qualidade de vida a essa população. (En)Cena - Os pais e cuidadores das crianças atendidas também acompanham o processo terapêu- tico desenvolvido na APAE? Qual é a importância desse acompanha- mento? Eles são orientados sobre cuidados ‘pós-hidroterapia’? Luciana Furtado - A maior parte das crianças vai até a escola através do ônibus escolar e passam o dia intei- ro na instituição enquanto seus pais trabalham. Assim há pouco contato desses pais com os profissionais da saúde atuantes nessa instituição, mas muitas vezes passamos orien- tações destinadas aos pais através dos professores cuidadores dessas crianças, e quando os pais podem comparecer, assistem aos aten- dimentos e recebem orientações e são esclarecidos quanto a seus questionamentos no cuidado à suas crianças. Já o contato e orientações com os professores cuidadores é pontual a cada atendimento. (En)Cena - Na grade curricular do curso de Fisioterapia existe algu- ma disciplina específica sobre hi- droterapia? Como têm sido a par- ticipação dos acadêmicos como voluntários nesse trabalho? Luciana Furtado - Há no curso de Fisioterapia do CEULP-ULBRA a disciplina de Fisioterapia Aquática onde há teoria e prática dos prin- cípios e técnicas que regem esses atendimentos. Os voluntários mos- tram-se motivados, participativos e atuantes em todo o processo de reabilitação proposto pelo projeto de extensão. (En)Cena - A vivência ‘universida- de e comunidade’, na Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas, é ge- radora de bons resultados? Luciana Furtado-Os resultados são uma via de mão dupla: tanto as crianças beneficiam-se da rea- bilitação pela fisioterapia aquática, quanto os acadêmicos, professo- res e a instituição CEULP-ULBRA em si, beneficia-se das atividades filantrópicas realizadas na APAE, construindo nos acadêmicos a res- ponsabilidade social, humanística e ética embasada no conhecimento científico e vivenciada no vínculo te- rapeuta-paciente. Acadêmicos atendendo alunos apaeanos Alunos voluntários do projeto Fisioterapia Aquática na APAE Atendimentos hidroterapêuticos na APAE 20 22 AKÁDEMO UMA LIÇÃO DE VIDA Trote solidário e de forma voluntária. Essa é a proposta do projeto de extensão Akádemo, realizado pelo Cen-tro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). Também chamado de gincana solidária, o Akádemo é uma forma diferenciada de recepcionar os acadêmicos ingressantes no CEULP/ULBRA. Sem humilhação, cons- trangimento ou agressividade, o trote solidário busca colocar o acadêmico em contato direto com a sociedade para despertar nele o senso de responsabilidade e compromisso social. A cada início de semestre, os calouros da instituição são convidados e motivados a participar do trote que já está na 16ª edição. Em parceria com órgãos públicos e particulares, o Akádemo desperta no calouro o interesse de, desde o início da vida acadêmica, auxiliar a comunidade que lhe cer- ca na necessidade que tem, explica o professor Antonio Cesar Mello, coordenador do projeto. O trabalho em equipe também é um dos as- pectos cultivados no Akádemo e é por meio dele que todo o projeto é desenvolvido, completa Cesar. Em entrevista ao (En)Cena, o professor Antonio Cesar Mello, co- ordenador do Akádemo, conta so- bre os benefícios de um projeto de extensão nesse formato e os resul- tados obtidos com o trote solidário. (En)Cena - Por que o CEULP/UL- BRA escolheu recepcionar o ca- louro com o Akádemo, e não da forma tradicional? Antonio Cesar Mello - Infelizmente não são raras as notícias de violên- cia nos trotes universitários. Os tro- tes “tradicionais” levam o calouro a situações de humilhações, seja física, psíquica ou social. A cada semestre temos noticias das humi- lhações que os calouros são sub- metidos em outras instituições de ensino. Buscar pintar a cara e pa- rar nos semáforos pedindo dinheiro para depois financiar a festa dos veteranos é no mínimo degradante ao ser humano e àquele que busca mudar, por sua postura e conheci- mento, o mundo ao qual faz parte para melhor. O CEULP/ULBRA adotou uma política de vanguarda na Capi- tal ao assumir para si a responsabi- lidade do “Trote” retirando do meio universitário as condutas deplorá- veis de submissão dos calouros a ações desmedidas e violentas. (En)Cena - Por que o CEULP/UL- BRA escolheu recepcionar o ca- louro com o Akádemo, e não da forma tradicional? Antonio Cesar Mello - Infelizmente não são raras as notícias de violên- cia nos trotes universitários. Os tro- tes “tradicionais” levam o calouro a situações de humilhações, seja física, psíquica ou social. A cada semestre temos noticias das humi- lhações que os calouros são sub- metidos em outras instituições de ensino. Buscar pintar a cara e pa- rar nos semáforos pedindo dinheiro para depois financiar a festa dos veteranos é no mínimo degradante ao ser humano e àquele que busca mudar, por sua postura e conheci- mento, o mundo ao qual faz parte para melhor. O CEULP/ULBRA adotou uma política de vanguarda na Capi- tal ao assumir para si a responsabi- lidade do “Trote” retirando do meio universitário as condutas deplorá- veis de submissão dos calouros a ações desmedidas e violentas. (En)Cena - O Akádemo também é conhecido como ‘gincana solidária’. Os calouros aderem a essa ideia? Antonio Cesar Mello - Temos nota- do que os calouros vêm aderindo a cada edição com mais afinco e res- ponsabilidade. Todos temos den- tro de nós uma semente do bem. Quando demonstramos o “Trote Solidário”, a adesão destas pessoas que buscam um mundo melhor é imediata. Professor Antonio Cesar Mello, coordenador do projeto Akádemo Calouros e veteranos em momento de descontração 24 (En)Cena - Os alunos veteranos também participam do Akádemo? De que forma? Antonio Cesar Mello - Os veteranos desenvolvem um papel fundamen- tal para a existência e êxito do pro- jeto. Além do auxilio na execução e formatação do Projeto, eles são o pilar de divulgação e sustentação do Projeto Akádemo. (En)Cena - De que forma a comu- nidade palmense é beneficiada com o projeto? A quem o Akáde- mo abraça? Antonio Cesar Mello - Além de proporcionarmos aos acadêmicos a possibilidade de um crescimento subjetivo tremendo, os aproxima- mos de instituições a fim de que efe- tivamente verifiquem suas funções, e estas instituições são nossos par- ceiros permanentes, são elas: Orga- nização Jaime Câmara, 22 BI - Exér- cito Brasileiro, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Polícia Militar, Hemocentro, Corpo de Bombeiros, Fazenda da Espe- rança, ATTM, DISMICO’s, Banco de Leite Humano. Estas são as que demonstram o interesse em serem realmente conhecidas por aqueles que um dia serão os formadores de opiniões. Prova da música Veteranos do Akádemo Bandeira feita por participantes do Akádemo Calouros no Akádemo Aluna da APAE em apresentação aos calouros no Akádemo Professor Antonio Cesar Mello em momento de reflexão com calouros Café da manhã na APAE, oferecido por calouros Prova no 22º Batalhão da Infantaria – Exército Calouros conhecendo o 22º Batalhão da Infantaria – Exército Prova do Corpo de Bombeiros no Akádemo Calouro fazendo doação de sangue no Akádemo Prova do adesivaço, em campanha sobre Lei Seca Prova da dança (En)Cena - E durante os dois dias de evento, o que o Akádemo preten- de mostrar aos alunos que recém ingressaram no ensino superior? Qual é a importância de ações como essas na realidade deles? Antonio Cesar Mello - Muitas ve- zes buscamos ações quantitativas para demonstrarmos benefícios e resultados. O Akádemo vai além disso. Quando levamos os calouros a conhecerem a sociedade que os circunda, as instituições e suas pes- soas e peculiaridades, passamos a desenvolver nestes estudantes uma transformação emocional tremen- da, vinculando-os à sua comunida- de e motivando-os a colaborar para a solução dos problemas levanta- dos. Este é o real papel de uma uni- versidade. Trabalhar a pessoa como um todo, e nada melhor do que co- meçar esta transformação no in- gresso destas pessoas a uma nova e fascinante vida, a vida acadêmica. 26 Café da manhã na APAE Prova da dançaCalouros festejando a vitória no Akádem Prova do Corpo de Bombeiros com calouros Blitz educativa realizada no Akádemo (En)Cena - Pra você, como coorde- nador do projeto, qual é o melhor resultado que o Akádemo traz? Antonio Cesar Mello - Olha, como Coordenador, e acima de tudo como pessoa que gosta de pessoas, tenho aprendido a cada edição; a cada desafio, a cada sorriso, a cada lágrima, a cada emoção, a cada gri- to, que vale muito a pena ajudar as pessoas a verificarem que o mundo vai muito além dos livros e que a superação com amor, companhei- rismo, respeito e fé fica tudo muito mais fácil. INFORMATICA E SOCIEDADE “Proporcionar contato direto com a tecnologia da computação a pessoas que, pela exclusão social, ficaram as margens deste avanço tecnológico”. Este é o objetivo do projeto Informática e Sociedade, iniciativa dos cursos de Sistema de Informação e Ciência da Computação do Centro Universitá- rio Luterano de Palmas (CEULP). O projeto existe desde 2004 e atende, por meio de cursos minis- trados pelos universitários, em mé- dia 200 pessoas por ano.Entre esse público, estão idosos do Centro de Convivência dos Idosos, jovens ca- Professor Edeilson Milhomem, um dos coordenadores do projeto Informática e Sociedade 28 rentes de escolas públicas de Pal- mas e alunos da APAE; e para cada grupo, há um formato diferente de atuação. O (En)Cena entrevistou o professor doutor Edeilson Milho- mem, um dos coordenadores do projeto Informática e Sociedade. Na entrevista, Edeilson fala sobre os impactos do projeto na realidade das pessoas atendidas e também sobre os trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos como forma de sensibilização para causas sociais. (En)Cena - Qual é a importância deste projeto, que promove inclu- são digital? Edeilson Milhomem - O projeto In- formática e Sociedade possui duas vertentes de atuação: (1) inclusão digital de pessoas carentes, com necessidades especiais, idosos, em situação de risco social ou que, por algum motivo, não têm acesso à tecnologia da informação; e (2) a qualificação profissional de jovens e adolescentes de comunidades ca- rentes, que visa despertar o interes- se dos jovens pela TI, visto que há um mercado vasto a ser explorado no que tange a Inovação Tecnoló- gica, com amplas possibilidades de negócios e trabalho. Assim, este projeto contribui diretamente para a redução da exclusão digital de pessoas e o aprimoramento pesso- al e profissional. Além disso, como o projeto possui uma participação ativa dos discentes dos cursos de Computa- ção do CEULP, estes têm a oportu- nidade de exercitar o conhecimento tecnológico adquirido em sala de aula em prol de uma causa social (um exemplo prático de exercício social), aproximando duas realida- des em que o próprio conhecimen- to tecnológico é tido como um fator de distanciamento social. (En)Cena - Este processo de de- mocratização do acesso às tecno- logias da informação é necessário na capital tocantinense? Por que vocês escolheram os três públicos (idosos do Centro de Convivência dos Idosos, jovens carentes de es- colas públicas de Palmas e alunos da APAE) para o desenvolvimento do projeto? Edeilson Milhomem - Um dos fa- tores que contribuíram para a evo- lução desta nossa sociedade mo- derna em um espaço de tempo tão curto foi, com toda certeza, o surgi- mento de novas tecnologias, a facili- dade que as pessoas têm de comu- nicar-se, de ter acesso às diferentes fontes de conhecimento, de intera- gir entre elas, de produzir conhe- cimento. Nesta direção, na nossa capital e nem tampouco em no es- tado não há diferença. Precisamos de pessoas que estejam seguindo a mesma direção que o mundo se- gue: o que “respira” tecnologia. O público do projeto foi es- colhido por dois motivos: propiciar aos idosos e às pessoas com ne- cessidades especiais a possibilida- de destes terem um contato direto com um “mundo” antes desconhe- cido por eles, que é o baseado em novas tecnologias; e despertar o interesse dos jovens carentes pela área de TI, uma vez que estes, hoje, têm muitas possibilidades (por exemplo, a partir de iniciativas do governo brasileiro) de ingressarem em um programa de graduação. Além disso, a área vem “ganhan- do” um destaque cada vez maior, já que as necessidades do merca- do aumentam constantemente e a quantidade de profissionais que são Crianças da APAE familiarizando-se com o computador, a internet e com jogos educativos Foto: Arquivo do Projeto formados atualmente não supre as necessidades do mercado. (En)Cena - Quais são as aborda- gens para esses três públicos? O que eles aprendem nos encon- tros/cursos? Edeilson Milhomem - Aos idosos e alunos da APAE são oferecidos cursos de microinformática básica, tais como, Microsoft Word, Micro- soft Excel, Pesquisa na Internet e Redes Sociais, além de atividades lúdicas realizadas através do com- putador. Já aos jovens que buscam uma qualificação profissional, são oferecidos cursos de Introdução à Programação; Arduino e Desenvol- vimento para Dispositivos Móveis. (En)Cena - Quais são as aborda- gens para esses três públicos? O que eles aprendem nos encon- tros/cursos? Edeilson Milhomem - Aos idosos e alunos da APAE são oferecidos cursos de microinformática básica, tais como, Microsoft Word, Micro- soft Excel, Pesquisa na Internet e Redes Sociais, além de atividades lúdicas realizadas através do com- putador. Já aos jovens que buscam uma qualificação profissional, são oferecidos cursos de Introdução à Programação; Arduino e Desenvol- vimento para Dispositivos Móveis. (En)Cena - Os acadêmicos dos cursos de Sistemas de Informa- ção e Ciência da Computação são instrutores dos cursos, certo? Além do aspecto técnico, como o projeto Informática e Sociedade pode contribuir para a formação desses universitários? Edeilson Milhomem - Sim, são es- tes alunos que ministram os cursos: ora de forma voluntária, ora como bolsistas. Assim, eles desenvolvem naturalmente, habilidades como or- ganização e sistematização de con- teúdo para treinamento em grupo, além da preocupação com o impac- to de uma ação social da natureza deste projeto. Eles desenvolvem também a habilidade da prática docente, trabalhando conceitos de didática e metodologia e colocam em prática o conhecimento adquirido em sala de aula em prol de uma causa so- cial. (O (En)Cena publicou, recentemen- te, o relato de Leandro Andrade Idosa em momento de aprendizado por meio do projeto informática e Sociedade Foto: Arquivo do Projeto Curso profissionalizante para alunos do ensino médio de colégio de Palmas – TO Foto: Arquivo do Projeto Acadêmico ministrando curso Foto: Arquivo do Projeto 30 como instrutor de curso no Projeto Informática e Sociedade. Confira também a experiência dele) (En)Cena - Que impactos o projeto Informática e Sociedade promove na vida da comunidade atendida? A autonomia pode ser um dos re- sultados? Edeilson Milhomem - Os principais impactos causados pelo projeto à sociedade são a redução da exclu- são social e o desenvolvimento de habilidades baseadas em tecnolo- gias em jovens carentes sem opor- tunidades. Com o exercício e a prática em despertar o interesse destes pela área de tecnologia da infor- mação naturalmente, estes conse- guem autonomia para o desenvol- vimento de novos conhecimentos, uma vez que passarão a ter dis- cernimento de como buscar as di- ferentes fontes de conhecimentos que atualmente estão disponíveis através da internet. Idosos em momento de curso desenvolvido pelo projeto informática e Sociedade Escolher a profissão não é tarefa fácil. Alunos de ensino médio, por vezes, têm dúvidas sobre qual curso de graduação optar, qual área seguir. Em alguns casos, adolescentes e jovens têm visões limitadas sobre a área de atuação dos cursos e os possíveis caminhos da profissão. Pensando nesta realidade, o Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/UL- BRA) realiza, há 16 anos, a Exposição das Profissões – EXPRO. A EXPRO, como é conhecida, é um evento institucional que aconte- ce em três dias. Durante esse período, os cursos de graduação do CEULP/ ULBRA se dispõem em stands no hall da instituição e expõem, aos vi- sitantes, o que cada área faz, como atua no mercado de trabalho, com o que pode trabalhar, quais habilida- des desperta no acadêmico. E essas explicações são feitas por alunos uni- versitários dos respectivos cursos. Professora Cristina Filipakis, coordenadora de extensão do CEULP/ULBRA 32 Em entrevista ao (En)Cena, a pro- fessora e coordenadora de Exten- são do CEULP/ULBRA Cristina Fili- pakis explica como esta exposição acontece e como consegue atingir os objetivos propostos para o even- to. (En)Cena - Os alunos de ensino médio que chegam à EXPRO nor- malmente játêm em mente a pro- fissão a seguir no futuro? Cristina Filipakis - A maioria não. Eles chegam com muitas dúvidas, sem conhecer as opções que são oferecidas e o que de fato cada profissional faz. Os poucos que já possuem um curso em mente ge- ralmente escolhem algum dos “cur- sos da moda”, como Medicina, En- genharia Civil e Direito, sem avaliar aptidão e perspectiva do mercado de trabalho para os próximos 4 ou 5 anos, prazo médio para que eles concluam um curso superior. (En)Cena - Você acha que o con- tato entre aluno de ensino médio e acadêmico de ensino superior atinge de forma melhor o objetivo da EXPRO? Cristina Filipakis - Sim, pois o ob- jetivo da EXPRO é a divulgação das diversas áreas que cada profissio- nal pode atuar e o contato dos alu- nos de ensino médio com os acadê- micos de ensino superior permite que estes últimos transmitam-lhes a experiência da escolha de uma profissão, os desafios da educação superior e as vivências obtidas nas disciplinas teóricas e práticas do curso escolhido. (En)Cena - Você acha que o con- tato entre aluno de ensino médio e acadêmico de ensino superior atinge de forma melhor o objetivo da EXPRO? Cristina Filipakis - Sim, pois o ob- jetivo da EXPRO é a divulgação das diversas áreas que cada profissio- nal pode atuar e o contato dos alu- nos de ensino médio com os acadê- Curso de Educação Física na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Estética e Cosmética na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Ciências Contábeis em exposição. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Enfermagem na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Psicologia na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA micos de ensino superior permite que estes últimos transmitam-lhes a experiência da escolha de uma profissão, os desafios da educação superior e as vivências obtidas nas disciplinas teóricas e práticas do curso escolhido. (En)Cena - A movimentação que a EXPRO desencadeia na univer- sidade também pode ser conside- rada um dos benefícios da Exposi- ção? Cristina Filipakis - Sim, os benefí- cios são evidentes, pois a Exposição permite que os visitantes conheçam o ambiente universitário e vislum- brem a possibilidade de fazer parte dele e o CEULP tem a oportunidade de mostrar à comunidade em geral e público interno (não só aos alunos de ensino médio) todas as áreas de formação que oferece. (En)Cena - E qual é o benefício da EXPRO para os acadêmicos que expõem os respectivos cursos? O que a Exposição acrescenta na formação universitária deles? Cristina Filipakis - Os acadêmicos veteranos dos cursos têm a opor- tunidade de repassar experiências vividas na universidade, de prestar auxílio a jovens que estão passan- do por um momento de indecisão (momento esse que foi há pouco tempo passado pelos próprios aca- dêmicos), de conhecer melhor a sua própria escolha e de até mes- mo repensar a escolha feita, pois eles também têm a possibilidade de conhecer os outros cursos e suas especificidades. Curso de Direito na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Estética e Cosmética em atividade na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Administração expondo na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Serviço Social em dinâmica na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Engenharia de Minas expõe maquete itinerante na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Alunas no stand do curso de Biomedicina na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA 34 (En)Cena - Você também é pro- fessora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de In- formação do CEULP/ULBRA. No stand desses cursos, quais são as reações dos alunos que visitam e conhecem um pouco da realidade da profissão? Cristina Filipakis - A curiosidade sobre tecnologias e assuntos re- lacionados é comum e no stand destes cursos as mais diversas formas de se aplicar a tecnologia são demonstradas. A computação é uma ciência ampla, que pode ser aplicada a todas as outras áreas de conhecimento e este fato faz com que os visitantes percebam que po- derão atuar não só na computação, mas sim em outras áreas que talvez também tenham interesse. (En)Cena - Há resultados de alu- nos que visitaram a EXPRO e, a partir dela, decidiram em qual cur- so de graduação ingressar? Cristina Filipakis - Sim, temos re- latos de vários acadêmicos que fizeram suas escolhas a partir da EXPRO e hoje fazem questão de trabalhar de forma voluntária na Exposição, pois entenderam a im- portância de um evento destes para a informação dos jovens sobre as profissões e o mercado de trabalho que os espera. Curso de Psicologia expondo na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Fisioterapia na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Curso de Arquitetura e Urbanismo na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA (En)Cena expondo o projeto na Exposição. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Alunos do ensino médio conhecendo stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS - CEULP/ULBRA Despertar nas crianças o interes-se pela leitura e escrita. Com este objetivo, desde o início deste ano, o projeto de extensão Cofo da leitura e escrita é desenvolvido na escola indígena Waikarnãse, locali- zada na Aldeia Salto, no município de Tocantínia (TO) a 90 quilômetros da capital Palmas. Na entrevista, a professora- Maria Aparecida da Rocha Medina, mais conhecida como Cidinha, con- ta ao (En)Cena sobre o despertar do projeto desenvolvido pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) e como são esses encontros com as crianças Xerente. (En)Cena - Para entendermos, o que é o cofo? Por que o projeto tem esse nome? Maria Aparecida - O Cofo é um artefato indígena, confeccionado com folhas de buriti. Ele é utilizado no transporte de mandioca, milho, banana e outros alimentos da roça para a aldeia. Quando cheio, passa- -se a alça do cofo na testa é assim que é transportado. Considerando o valor cul- tural e utilitário do cofo, colocamos o nome do projeto de “Cofo de lei- tura”. Isso porque o cofo está sen- do pouco utilizado, uma vez que a maneira dos indígenas não desen- volve mais as atividades tradicio- Professora Cristina Filipakis, coordenadora de extensão do CEULP/ULBRA COFO DA LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA INDÍGENA 36 nais: plantar roça e transportar os alimentos. Muitos que antes viviam do cultivo da roça exercem funções que ocupam grande parte do tem- po, como cargo de funcionários pú- blicos, prestação de serviço em ou- tras funções. Acabam por comprar grande parte dos alimentos consu- midos na aldeia em supermercado das cidades de Tocantínia. Entretanto, para ressignifi- car o sentido do cofo e a sua impor- tância no contexto cultural do povo Xerente, pensou-se em colocar esse nome do projeto, atribuindo ao tra- dicional cofo o artefato de transpor- tar livros. Durante o momento de leitura na aldeia, a professora enche o cofo de livros e passa entre as crianças para que elas escolham o livro que desejam ler. (En)Cena - E por qual motivo esco- lheu-se trabalhar com as crianças Xerente da escola indígena Wai- karnãse? Maria Aparecida - Nos 18 anos que estou em Palmas, o primeiro povo que tive contato foi com os Xerente. Embora tenha admiração e carinho pelos demais povos: Karajá, Javaé, Krahô, Apinajé, Krahô kanela, por meio do trabalho no Magistério In- dígena. Mas é com os Xerente que o contato é mais freqüente e a cada ano a nossa convivência se fortifica. Talvez seja por ser mais próximo a Palmas e a gente está sempre se encontrando. Seja em trabalho na aldeia com os alunos da Ulbra, seja em atividades culturais que venham desenvolver na universidade. Em ní- vel de universidade, já são quase 10 anosde parceria. Nós levamos aca- dêmicos à aldeia, e de vez em quan- do, vem um professor indígena para vivenciar praticas didáticas e meto- dologias na universidade. Além da estreita relação com o povo Xerente, por meio dos projetos e trabalhos acadêmicos, também passei um tempo na aldeia Salto Kripre, desenvolvendo minha pesquisa de mestrado. Esse conta- to mais direto de permanência con- vivendo com eles proporcionou-me rica experiência e grandes desco- bertas, antes eram apenas superfi- ciais. Durante a pesquisa com os professores e as observações em sala de aula, vi o desafio que é al- fabetizar um Akwe, uma vez que as crianças são falantes da língua ma- terna, portanto, alfabetizadas nas duas línguas. Professora Maria Aparecida apresentando o Cofo da Leitura às crianças indígenas. Foto: Arquivo do Projeto Aluna da escola Waikarnãse procurando livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto Professora Maria Aparecida apresentando o Cofo da Leitura às crianças indígenas. Foto: Arquivo do Projeto A educação dos povos in- dígenas, tradicionalmente ágrafos era um atributo dos mais velhos que transmitiam os conhecimen- tos oralmente aos mais novos. Na cosmologia tradicional Xerente, se- gundo Medina (2013), ler era uma ação cotidiana de decifrar os sinais da natureza, o movimento das coi- sas e a relação destas com os es- píritos protetores que os ajudavam a compreender ao menor sinal da natureza e interpretar os seus signi- ficados. Com o acesso à socieda- de ocidental e a intensa relação de contato fez-se adentrar a escrita e a leitura na cultura a partir da cate- quização, depois, como estratégia para dialogar com os brancos. E, atualmente, o acesso à leitura e a escrita são direitos garantidos da Constituição de 1988, por meio de uma educação diferenciada, bilín- gue e intercultural. A leitura e a escrita, como em todas as modalidades e níveis de ensino é essencial para o desen- volvimento de habilidades e com- petências na formação de leitores e escritores, bem como no exercício de cidadania. Dessa maneira, é um processo em construção. Na escola Xerente, as crian- ças são alfabetizadas na língua materna. Só a partir do 3º ano ini- cia-se o processo de construção da letro- escrita da Língua Portuguesa, embora o contato com a 2ª língua é uma constante na aldeia. Ao aces- sar os textos da 2ª língua no livro didático, elas deparam com leituras extensas e descontextualizadas da realidade sociocultural, dificultando ainda mais a compreensão, confor- me declarou um professor indígena durante a minha pesquisa. Diante do exposto, uma maneira de contribuir com essa comunidade, a qual me acolheu e sempre está aberta às ações peda- gógicas dos cursos de licenciaturas da ULBRA, foi desenvolver esse pro- jeto em parceria com o cacique e diretor da escola e a e a equipe de professores. Sem eles é impossível alguém de fora desenvolver um pro- jeto, principalmente quando se tra- ta da leitura, considerando a língua e a cultura diferentes dos atores principais. Crianças escolhendo livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto Atividade de desenho e pintura com crianças Xerente. Foto: Arquivo do Projeto Atividade de desenho e pintura com crianças Xerente. Foto: Arquivo do Projeto Encontro do projeto na Aldeia Salto. Foto: Arquivo do Projeto 38 Segundo os PCNs (1998), a leitura tem como finalidade formar leitores competentes, capazes de compreender o mundo e descrevê- -lo por meio da escrita, em diferen- tes contextos socioculturais, onde o uso do texto tem o seu significado. Na sociedade ocidental, historica- mente letrada, o exercício da leitu- ra e da escrita sempre foram vistos como atributos de poder da classe dominante. Enquanto o “outro” con- formava-se apenas com a codifica- ção das frias letras do seu nome, desenhadas para legitimar o poder dos dominadores por meio do voto. Para os indígenas, apropriar dessas habilidades é escrever a sua própria história. (En)Cena - De quais formas o pro- jeto alcançará o objetivo de desen- volver a habilidade da leitura e es- crita nestas crianças? Quais são as metodologias utilizadas? Maria Aparecida - Sabemos que é na relação com a comunidade so- cial que a criança desenvolve as múltiplas linguagens: corporal, ver- bal oral e não verbal e a escrita. A linguagem corporal e verbal é bem aflorada nas crianças, o que facilita a escrita e a leitura. As crianças gos- tam de livros. Elas se encantam os livros, principalmente com relação às produções recentes de histórias e mitos na língua Akwen, escritos pelos próprios professores e lide- ranças Xerente. Essas produções estão inseridas na sala de aula e fa- zem parte do processo de formação de leitores. Na 2ª fase do ensino fun- damental são cobradas dos alunos a leitura e a escrita escolarizada. Como estes têm planos de prosse- guirem os estudos, de certa manei- ra isso os estimula o envolvimento no projeto. Por isso, acreditamos que esse projeto na escola indígena pode colaborar no desenvolvimen- to dessas competências, principal- mente com as crianças do 4º e 5º anos, os quais são mais exigidos quanto a leitura, a compreensão e interpretação de textos nos anos seguintes. Nesse caso é necessário articular metodologias e técnicas de leitura, partindo da experiência e Criança concentrada fazendo leitura. Foto: Arquivo do Projeto Alunos buscando livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto Criança concentrada fazendo leitura. Foto: Arquivo do Projeto Aluna da escola indígena Waikarnãse em momento de produção textual. Foto: Arquivo do Projeto expectativa de mundo das crianças indígenas, envolvendo diferentes gêneros literários contextualizados, textos verbais e não verbais produ- zidos por eles próprios, pois a com- petência linguística e a prática dis- cursiva se constroem produzindo e lendo textos significativos. Nessa perspectiva inicial- mente fizemos um diagnóstico para saber o nível de leitura e de escrita que se encontram os alunos da es- cola para assim, selecionarmos e confeccionarmos livros e histórias correspondentes a cada nível, sen- do estimulados a potencializá-los gradativamente. Pretendemos, com isso, desenvolver uma prática que favoreça a reflexão crítica e a lógi- ca do pensamento sistêmico das crianças, estabelecendo relações com as atividades culturais, os mi- tos, as histórias e crenças da cos- mologia Xerente. Para melhor dinamizar o trabalho, atendemos os alunos em horário contrário ao da aula. Os alu- nos do turno vespertino participam do turno matutino do Cofo de Leitu- ra e os alunos da manhã, participam do no período vespertino. Há mo- mentos em que se envolvem todos os alunos daquele turno, como tam- bém, momentos com atividades es- pecíficas aos alunos. O trabalho consta da esti- mulada a oralidade com contação de histórias dos antepassados pe- los pais e anciãos da comunidade. Algumas dessas histórias serão gravadas e transcritas na língua materna, o que vai depender da disponibilidade de tempo de algum professor para escrever em Akwen. Com isso, pretendemos manter a tradição de sentar-se nos terreiros para ouvir e contar histórias como acontecia até alguns anos, antes da chegada da televisão e demais tec- nologias na aldeia, como lembra um professor. Esperamos que as crianças da escola Waikarnãse, na aldeia Sal- to, envolvidas nesse projeto sejam despertadas para o prazer da leitu- ra e da escrita, significando as his- tórias tradicionais e desenvolvendo competências que levem a mudan- ças sociais e intelectuais no proces- so de ensino e aprendizagem. (En)Cena - Como têm sido o con- tato entre vocês? A escola rece- beu bem o projeto e as práticas dele? Há alguma resistência? MariaAparecida - A minha relação com o diretor que é também caci- que da aldeia e com os professores é boa, respeitosa. Com eles tenho aprendido muito. Inclusive a com- preender e respeitar o tempo deles. Enquanto na nossa sociedade capi- talista, a correria é desenfreada, na sociedade Akwe o tempo é vivencia- do com qualidade, o suficiente para manter as relações comunitárias entre os clãs. Leitura e contação de histórias com crianças Xerente. Foto: Arquivo do Projeto Troca de experiências entre alunos da escolaWaikarnãse. Foto: Arquivo do Projeto Crianças Xerente durante atividade do projeto. Foto: Arquivo do Projeto 40 (En)Cena - Qual é a reação das crianças da escola Waikarnãse du- rante os encontros? Elas gostam das atividades do Cofo? Maria Aparecida - As crianças Xe- rente são extremamente curiosas. Quando o carro do Cofo de Leitura chega à aldeia, elas saem correndo, carregando os irmãos menores. É aquela correria. Às vezes nem espe- ram organizar o cofo e o material do projeto. Elas pegam aleatoriamente os livros. E passam rapidamente as folhas, logo trocam e se deixar, pas- sa todos os livros e gibis. Com jeito e ajuda de um professor que fala na língua, as crianças se acalmam e organizamos o trabalho que sem- pre inicia com uma leitura de histó- ria por professor ou ancião. Depois é que iniciamos com a leitura de contos, histórias, mitos. Ao final as crianças espontaneamente recon- tam a história do seu jeito. (En)Cena - Por causa do projeto Cofo de Leitura e Escrita, o povo da Aldeia Salto vive novidades e novas práticas de leitura e escrita. Você acredita que esse projeto é também uma maneira de reforçar as tradições deste povo? Maria Aparecida - Esse é um dos objetivos do Cofo: envolver a comu- nidade, e estamos trabalhando para que isso ocorra. Para tanto, foram distribuídos livros para as crianças lerem em casa com a família. O livro foi colocado em uma bolsa recicla- da. Ela assinou uma ficha de loca- ção do livro. O intuito é a criança ter esse contato individual e familiar por meio do livro. Assim conhecerá diferentes gêneros literários. E, pos- teriormente essa prática ajudará a crianças descobrir o gênero predi- leto é mais atrativo para sua leitura pessoal. No próximo encontro cada criança fará um comentário do li- vro que levou para casa. Vamos ver como será esse processo! Alunos produzindo textos e ilustrações. Foto: Arquivo do Projeto Chegada da equipe do projeto Cofo à escola indígena. Foto: Arquivo do Projeto Alunos participando das atividades de leitura e produção de texto. Foto: Arquivo do Projeto Crianças lendo durante momento do projeto. Foto: Arquivo do Projeto Crianças que participam do Cofo. Foto: Arquivo do Projeto 42
Compartilhar