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COLETÂNEA ÉTICA E CIÊNCIA

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Felipe silva

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Prévia do material em texto

1 
 
 
Ética e Ciência 
2 
 
 
PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
2018 
 
 
 
COLETÂNEA 
FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA 
EAD (módulo 52/2018) 
 
 
 
 
 
 
Organizadoras 
Cristina Herold Constantino 
 Débora Azevedo Malentachi 
 
 
Colaboradores 
Edson Dias dos Santos 
Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano 
Rebeca Sabrina Vaz Lencina 
 
 
Direção Geral 
Pró-Reitor Valdecir Antônio Simão 
3 
 
SUMÁRIO 
 
 
Apresentação.................................................................................................................................................... 04 
Considerações Iniciais.................................................................................................................................... 06 
A ciência comprova: ler faz bem para o cérebro................................................................................................ 07 
Se ler pode abrir a mente, com certeza muda o cérebro................................................................................... 08 
Textos Selecionados........................................................................................................................................ 12 
Ética e Ciência: urgência do debate................................................................................................................... 12 
Ciência e Pseudociência.................................................................................................................................... 15 
Bioética............................................................................................................................................................... 18 
Terapia genética pode revolucionar o tratamento da depressão....................................................................... 19 
Mapeamento genético no diagnóstico do autismo............................................................................................. 21 
Cientista brasileira PhD em Química por Harvard supera preconceito e acumula 80 prêmios na carreira....... 25 
Efeito Matilda: mulher, ciência e discriminação................................................................................................... 28 
Cientistas afirmam: inteligência e conhecimento são coisas diferentes............................................................. 31 
Cientistas descobrem possíveis causas da leucemia infantil............................................................................. 34 
Quais foram as maiores descobertas científicas brasileiras?.............................................................................. 36 
Saiba mais: O Nobel que o Brasil ganhou e ninguém sabia............................................................................... 41 
Livro.................................................................................................................................................................... 42 
Filmes................................................................................................................................................................. 43 
Música................................................................................................................................................................ 49 
Texto Complementar – A alma e a matéria........................................................................................................ 51 
Charges e Tiras.................................................................................................................................................. 52 
Considerações Finais...................................................................................................................................... 55 
4 
 
Apresentação 
 
 
A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, 
cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para 
seu desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina 
corresponde à missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade 
nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para 
o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem 
sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola 
propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados 
para fazer a diferença na sociedade como um todo. 
 
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e 
que devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender 
criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender 
ao objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e 
Sociedade; Ética, Política e Economia; Ética, Cultura e Arte; Ética, Ciência e Tecnologia; 
Ética e Meio Ambiente, sendo que nos dois primeiros eixos estão incluídos temas 
complementares e pertinentes propostos pelo Observatório Social do Brasil. 
 
Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. 
Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente 
selecionados para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes 
fontes, com a finalidade de abordar recortes temáticos relacionados ao conteúdo de cada 
eixo supracitado. Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação 
geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea 
como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina 
ocorre no período de 10 semanas. Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma 
introdução, seguida por aspectos relacionados à leitura, interpretação e/ou escrita, os quais 
antecedem a apresentação dos diversos textos referentes aos respectivos eixos. A 
sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros: música, poesia ou frases e 
charges, sendo finalmente concluída com breves considerações finais. 
 
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um 
conteúdo seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de 
conhecimentos valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos 
veiculados nos principais meios de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, 
depoimentos, vídeos relacionados ao eixo temático, além de respaldos teóricos e práticos 
acerca da linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias. 
Também, importa lembrar que a organização deste e demais materiais da FSCE não 
pressupõe qualquer tendência político-partidária e/ou apologia a qualquer grupo religioso 
em detrimento de outros, sendo que estamos disponíveis ao recebimento de indicações de 
5 
 
textos, sites, tanto quanto às sugestões de conteúdos relacionados aos referidos eixos. Faça, 
portanto, da FSCE sua porta de entrada para a aquisição de novos conhecimentos. 
 
Vista a camisa do conhecimento e seja MAIS! 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Considerações Iniciais 
A dimensão do pensar científico pode nos levar a muitas reflexões. Para este momento, pelo 
menos uma delas seria suficientemente importante, que é o refletir acerca das nossas 
certezas e incertezas, permitindo-lhes novas proposições, novas indagações, novas 
perguntas, novos problemas e, quem sabe, até algumas soluções. Parece que as velhas 
concepções teimam em persistir... O lado comum tende a ser aceito, a dúvida apagada, odesafio controlado, sendo que a ciência emana do novo, da estranheza, das incertezas 
desafiadoras... 
Nesta direção, esta Coletânea tem por objetivo levá-lo a refletir acerca dos porquês que 
envolvem o pensar científico e dos para quê... Refletir acerca da intercessão entre ciência 
e ética ou, talvez, da união perfeita entre ambas, sem a qual muitas atrocidades foram e 
ainda podem ser realizadas. Compreender que o método científico, por exemplo, pode estar 
muito mais próximo do seu dia a dia do que você pensa; que a união entre as humanas e as 
exatas é possível e admissível; entender em que medida a bioética é importante para a 
sociedade e para o meio ambiente; saber que a literatura pode ser, sim, uma ciência; retomar 
os feitos científicos heroicos e elucidar acerca de novos feitos, novas teses, até o 
inexplicável que ainda está por vir... Finalizando com a reflexão do quão utilitários somos e 
em que medida esta doutrina nos convida a redefinirmos as decisões do cientista e da 
ciência. 
Por fim, objetivamos mostrar, informar, formar, acima de tudo instigar reflexões...Portanto, 
convidamos você a caminhar conosco nesta jornada de leitura e apropriação de ideias, mas, 
também, de perguntas e negações, pois acreditamos que as respostas e os novos caminhos 
ou novas descobertas científicas se despontarão a partir do incômodo, do desajuste e dos 
questionamentos. 
Iniciaremos este material, tal qual temos feito nos demais, com uma breve consideração 
acerca da leitura, seguida de textos selecionados que têm por objetivo informá-lo, bem como 
levá-lo à reflexão acerca dos aspectos positivos e negativos da evolução científica. 
Lembrando que a seleção de textos é feita de maneira a proporcionar a você conteúdos 
relevantes retirados de fontes fidedignas sem, contudo, intencionar fazer apologia ideológica 
e/ou político-partidária. 
Neste sentido, esperamos que você aproveite deste material como um compromisso 
indispensável à sua formação acadêmica, profissional e pessoal. 
Organizadoras 
A ciência comprova: ler faz bem para o cérebro 
 
7 
 
Talvez a conclusão deste post não surpreenda a maioria dos leitores, mas a ciência 
comprovou recentemente o que parecia óbvio: literatura faz bem para o cérebro! Nos Estados 
Unidos, um grupo de teste foi 
convidado a ler um capítulo do 
romance Mansfield Park, de Jane 
Austen, dentro de uma máquina 
de ressonância magnética, 
enquanto pesquisadores da 
universidade de Stanford 
analisavam os resultados 
neurológicos. Para o 
experimento, era preciso ler o 
capítulo de duas formas distintas: 
primeiramente, uma leitura descompromissada; depois, uma leitura para análise crítica da 
obra. A conclusão do estudo apontou que a leitura de livros pode ser um exercício valioso 
para o cérebro, já que quando lemos, o sangue flui para diversas áreas associadas à 
concentração e, no caso de uma leitura mais crítica, também para áreas menos ativas do 
cérebro. Logo, o estudo concluiu que a forma de leitura afeta o cérebro e através dela 
podemos treiná-lo para ser cada vez melhor em atividades que exigem compreensão e 
concentração. Logo, o estudo conclui que a forma de leitura afeta o cérebro e pode indicar 
formas de treiná-lo para ser cada vez melhor em atividades que exigem compreensão e 
concentração. Estudos semelhantes para avaliar os benefícios da leitura com máquinas de 
ressonância magnética já haviam sido realizados antes na Europa. Em 2010, o neurocientista 
Stanislas Dehaene, diretor da Unidade de Neuroimagiologia Cognitiva do Inserm-CEA, na 
França, usou exames de ressonância magnética para avaliar o cérebro de adultos 
alfabetizados e analfabetos. Os cientistas descobriram, então, que os cérebros dos adultos 
que podiam ler eram mais ativos, ainda que, em contrapartida, perdessem parte de sua 
memória visual, possuindo menos habilidade no reconhecimento facial. Interessados nos 
ganhos que um livro pode trazer para nossas vidas fomos atrás e listamos os principais 
ganhos. Confira: 
 
10 benefícios da leitura. 
1. A leitura estimula a memória, expandindo a capacidade de nossa mente. 
2. A leitura é combustível inesgotável para a imaginação. 
3. A leitura nos dá as palavras, instrumento para expressar nossos sentimentos. 
4. A leitura nos aproxima da compreensão de mundo e da auto-compreensão. 
5. Ao ler, nos deparamos com aquilo que pensamos: com nossas crenças. 
6. É possível experimentar com a leitura, sem de fato experimentar fisicamente. 
7. O ato de ler naturalmente leva a escrever e a escutar. 
8. Ler eleva a autoestima. 
9. A leitura desconhece a solidão, nos permite estar sempre acompanhados. 
10. A leitura constrói sonhos e nos empurra à realização. 
 
8 
 
Disponível em: <http://blog.estantevirtual.com.br/2016/12/23/a-ciencia-comprova-ler-faz-bem-para-o-cerebro-conheca-
outros-beneficios-da-leitura/> Acesso em: 25 mai 2018. 
 
 
Se ler pode abrir a mente, com certeza muda o cérebro 
Psicologia Cognitiva e Neurociência: a dupla perspectiva na análise dos componentes da leitura em palestra no 
IPUSP 
Por Tatiana Iwata e Fernanda Maranha 
Sobretudo na última década, “a Psicologia Cognitiva tem trabalhado em parceria com as 
Neurociências Cognitivas nas pesquisas acerca da leitura”. É o que afirmou José Morais, 
psicolinguista e professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas, no início de sua 
palestra no IPUSP a respeito do 
impacto da leitura no cérebro, 
retratando a atual visão 
interdisciplinar desses estudos. 
Enquanto a Neurociência examina “as 
áreas e os fluxos de ativação do 
cérebro leitor”, a Psicologia Cognitiva 
realiza “estudos experimentais sobre 
os mecanismos da leitura” e também 
elabora “modelos de processamento” 
da habilidade de ler. Essa combinação 
é muito importante porque abarca 
tanto a concepção que temos de 
‘cérebro’ quanto a que temos de 
‘mente’, “que são dois aspectos da 
mesma realidade”, afirma Morais. 
Dentre os resultados da cooperação 
entre as duas áreas está a dissociação dos componentes envolvidos na leitura: habilidade 
e atividade. A habilidade de ler é muito específica e é o que mais propriamente define a 
leitura. Já a atividade de leitura usa tal habilidade com o intuito de se chegar a uma 
compreensão do que está escrito. Assim, a atividade consiste mais no objetivo da leitura 
do que na leitura em si. “Ler serve de fato para compreender, mas não se pode dizer que 
ler é compreender”, afirma o Professor, que acrescenta: “Muitas outras coisas também 
servem para compreender.” Ele exemplifica: “Quando vocês estão a ouvir, estão 
utilizando habilidades específicas do vosso sistema de percepção da fala para 
compreender aquilo que eu estou dizendo”. 
Ainda para ilustrar essa dissociação, o palestrante conta a história do poeta inglês John 
Milton que ensinara suas duas filhas a lerem em várias línguas. Quando ele ficou cego, as 
meninas liam para o pai, embora elas mesmas não compreendessem bem os textos, já que 
eram em idiomas que elas não dominavam (como o grego), além de complexos para a idade 
delas. Ora, mesmo sem entender, elas foram capazes de transformar um código escrito em 
língua falada. É parecido, por exemplo, quando lemos um texto em português, mas com 
palavras que não conhecemos. Mesmo sem compreender o que aqueles termos significam, 
somos capazes de pronunciá-los. 
9 
 
Essa ‘pronúncia’ pode se dar em voz alta, mas mesmo na leitura silenciosa existe uma 
‘pronúncia mental’. A partir daí, quando o código escrito já foi transformado em língua 
falada, é que haverá outros processamentos para se chegar à compreensão do que está 
sendo lido. Para o leitor hábil, tudo isso acontece de forma muito rápida, quase 
simultaneamente. Isso dificulta que percebamos que lere compreender o que se está lendo 
são processos diferentes. 
A contribuição da Neurociência tem sido muito importante nesse sentido. Diversos estudos 
de neuroimagens, comparando a leitura com outras atividades, vêm demonstrando tanto 
sua especificidade, quanto sua relação com outras funções cerebrais. Por um lado, 
verificou-se a ativação de uma região muito específica do cérebro ‘leitor’. Por outro, 
constatou-se áreas que são ativadas não apenas na leitura, mas em várias atividades que 
envolvem compreensão e outras faculdades, como a audição da fala e a visualização de 
imagens. Ler ‘cadeira’, ouvir ‘cadeira’ e ver uma cadeira, por exemplo, envolvem tanto 
processos semelhantes ‒ para se compreender ‘cadeira’ como sendo o mesmo objeto, 
quantos processos particulares de cada atividade, já que ler é diferente de ouvir que é 
diferente de ver. 
“Ler é acessar a representação da ortografia e da fonologia”, afirma o Professor, que 
prossegue: “Pronúncia de cada palavra a partir de sua expressão gráfica”, o que “distingue 
o que fazemos durante a leitura do que fazemos durante a escuta de fala, ou durante a 
visão de um filme, que também é compreender, mas que para tanto exige processos 
específicos para processar o que está nas imagens.” 
 
Especialização e influência 
No decorrer de sua palestra, José Morais foi apresentando vários estudos que demonstram 
a existência de uma pequena área especificamente ativada nos cérebros de pessoas 
letradas, conhecida como Visual Word Form Area - VWFA (‘Área da forma visual das 
palavras’). Tais estudos eram de diferentes autores e centros de pesquisa pelo mundo 
(Brasil, Portugal, França, Bélgica, EUA, etc.), tendo como participantes leitores e falantes 
de várias línguas. Enquanto algumas pesquisas apresentadas pelo palestrante comparavam 
indivíduos letrados e iletrados em relação às regiões cerebrais ativadas ou não durante a 
10 
 
realização de determinadas tarefas, outras verificavam se a VWFA era exclusivamente 
ativada durante a leitura ou também em outras habilidades. 
Embora a expressão “Visual Word Form Area” tenha sido usada por alguns pesquisadores 
a partir da década de 1970, desde 2000 que ela foi adotada pelo neurocientista francês 
Stanislas Dehaene para nomear a região cerebral ativada na leitura identificada por ele. A 
pequena região que corresponde à VWFA em letrados existe no cérebro de qualquer ser 
humano, mas apenas a aprendizagem determina a nova função da identificação de palavras 
a esta área. Ocorre, segundo Morais, uma reciclagem de neurônios: “A hipótese de 
Stanislas Dehaene é de que tem que haver essa reciclagem neural – porque essa zona 
existia, e fazia outras coisas, certamente.” Ele continua: “E cada invenção cultural, cada 
aprendizagem nova tende a encontrar uma espécie de ninho ecológico no cérebro”. A 
VWFA se encontra justamente em um local próximo às regiões responsáveis tanto pela 
percepção visual quanto pela linguagem. “Onde pode se desenvolver a habilidade 
perceptiva da leitura, deve ser em uma estrutura neural que permita conectar o 
processamento dos objetos visuais espaciais, que são as palavras escritas, e as áreas 
que processam a linguagem”, afirma Morais. 
A VWFA está localizada na região occiptotemporal do giro fusiforme do hemisfério 
esquerdo do cérebro ‘leitor’ [veja a figura acima]. De acordo com José Morais, essa 
localização é praticamente a mesma (com variações mínimas) nos leitores do mundo todo, 
independentemente da língua (português, inglês, japonês, etc.), do código ortográfico 
(fonográfico, ideográfico, etc.) ou mesmo da modalidade (visual ou tátil). O palestrante 
citou um estudo no qual se constatou a presença da mesma VWFA inclusive em cegos 
congênitos (pessoas que já nasceram cegas) que leem em braile. Segundo ele, esse estudo 
foi “muito bem controlado” e a ativação da VWFA “diferia das regiões cerebrais ativadas 
em outros estímulos táteis como desenhos em relevo (gestalt) ou ainda caracteres 
parecidos com as letras em braile, mas que não o eram”. 
Em outro estudo, com brasileiros falantes de português, comparou-se, por meio da 
ressonância magnética funcional, a ativação do cérebro durante a realização de tarefas de 
leitura e audição de sentenças. “Eles ouviam ou liam frases em português, relacionadas 
com o conhecimento geral, muito simples, e tinham que dizer se era verdadeiro ou falso”, 
descreve o Professor, que ilustra: “Por exemplo, ‘A rosa é um animal’, ‘O tigre é uma 
planta’”. Em seguida, foram verificadas as regiões que eram ativadas tanto na le itura 
quanto na audição e aquelas que eram exclusivas de cada uma das atividades. Constatou-
se a forte ativação da VWFA especificamente durante a tarefa de leitura. 
Todas as pesquisas apresentadas por José Morais constataram a ativação da VWFA durante 
atividades envolvendo visualização de palavras escritas (ou seja, leitura) nos leitores e 
ausência dessa ativação nos que não sabem ler. Além disso, foi verificado que quanto maior a 
velocidade de leitura do participante (‘literacia’ ou número de palavras lidas por minuto), maior 
o grau de ativação da VWFA. Mas, segundo o palestrante, o qual é também um dos autores de 
tais estudos, ainda mais interessante foi verificar que “A aquisição da leitura também modifica 
as respostas do cérebro à linguagem falada”. Ele afirma que nos letrados a ativação do plano 
temporal, que processa a fonologia das palavras apresentadas oralmente, é duas vezes maior 
do que nos iletrados. “Essa ideia que o fato de aprendermos a ler vai ter um impacto no 
cérebro que não é só aquela pequenina coisa que a gente viu no início [a VWFA], mas que 
tem um impacto muito importante no nível da reorganização das funções”, conclui o 
professor. 
11 
 
Disponível em: http://www.ip.usp.br/revistapsico.usp/index.php/2-uncategorised/9-se-ler-pode-abrir-a-mente-com-
certeza-mudar-o-cerebro-2.html> Acesso em: 25 mai 2018. 
 
12 
 
 
Textos Selecionados 
Ética e Ciência: urgência do debate 
Inauguramos esta Coletânea propondo um debate além da Ciência, no intuito de 
instigar reflexões acerca da própria humanidade, sendo ela a principal responsável 
por gerar o pensar científico e a principal beneficitária dele. Assim, como parte desta 
humanidade, envolvidos com o saber científico, convidamos você a participar deste 
momento de discussão... 
 
A relação ética e ciência é um dos debates que nos foram equacionados no século XXI. A 
partir do lançamento da bomba nuclear nas cidades de Hiroshima e Nagasaki no Japão no 
fim da II Guerra Mundial em 1945, e mais neste século com a degradação do meio ambiente, 
a ambiguidade do progresso científico e tecnológico passou do plano teórico para o 
existencial, começamos a perceber na vida cotidiana a deterioração do ambiente físico e 
social ao lado do mundo maravilhoso da tecnologia. Isto cria um paradoxo entre a ciência e 
a ética e, para falarmos da relação entre ciência e ética, é preciso, primeiro, buscarmos uma 
definição para a ética. 
 
Poderíamos entender ética de várias formas. Uma delas poderia ser como a busca ou 
caminho para ou pela “verdade” que seria, talvez, e em algumas condições, subjetiva. Se 
relembrarmos da origem da filosofia na Grécia, por exemplo, os sofistas, que através da 
retórica e do convencimento pelas palavras, da oratória, julgavam que “a verdade é resultado 
da persuasão e do consenso entre os homens”. Isso era combatido por Sócrates, Platão e 
Aristóteles que julgavam ser a essência da verdade através da razão e não do “simples” 
convencimento e consenso. Sócrates fazia isto através de perguntas básicas, feitas a 
diversos profissionais especialistas, tais como: ao “sapateiro” – o que é um sapato? Ao “juiz” 
- o que é a justiça? Ou o que é a verdade? E assim, a partir de um questionamento, buscava 
desvendar, através da razão e da lógica e não mais porum simples convencimento retórico, 
o que seria esta verdade. 
 
Poderíamos dizer então que, de certa forma, Sócrates inaugura a ética dentro do discurso. 
Sócrates, como comenta MARCONDES (1998) seria: “(...) um divisor de águas. É nesse 
momento que a problemática ético-política passa ao primeiro plano da discussão filosófica 
como questão urgente da sociedade grega superando a questão da natureza como temática 
central, pois a temática racionalista filosófica, inicialmente, era a natureza, iniciada por Tales 
de Mileto que buscava na própria natureza a explicação para ela própria, se afastando assim 
do mito em que tudo era explicado pelos deuses...” 
 
Assim teríamos a questão da subjetividade na ética, e a formação da própria sociedade 
interagindo entre ela e os indivíduos. A ética ajudando-nos a refletir sobre os costumes, 
sobre as práticas da ciência, da religião, da família, da empresa, enfim, em todas as 
instituições da sociedade. A ética nos ajuda a pensar a subjetividade. Que sujeito é esse em 
tal momento da história? Que sujeito é este hoje? Que “conhecimento” é este que buscamos 
pela ciência? 
 
13 
 
Ainda MARCONDES (1998) nos define ética da seguinte forma: “A ética, do grego “ethike”, 
diz respeito aos costumes e tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre os problemas 
fundamentais da moral (finalidade e sentido da vida humana, os fundamentos da obrigação e 
do dever, natureza do bem e do mal, o valor da consciência moral.” 
 
A ciência, a ética e a filosofia 
 
Não existe um profissional ético, sem antes um homem ético. Portanto, a discussão sobre 
ética deve ser vista como uma situação-problema que provoca e estimula uma reflexão 
abrangente sobre a própria natureza da relação ética e ciência. Em sua reflexão sobre o 
conceito de progresso MATOS (1993) conclui que: “como não há progresso que não seja 
também moral, a principal tarefa dos nossos dias é o combate pelo progresso dos direitos 
humanos.” 
 
Referenciando a utopia que temos em comum: a humanidade com vida digna e feliz. Visto 
deste ponto, a reflexão filosófica não tem a utilidade imediata no sentido do senso comum. 
Sua contribuição à ciência e à técnica explicando os fundamentos epistemológicos e 
metodológicos e certamente, éticos. Citando CHAUÍ (1994): “Não se trata, pois, 
rigorosamente de uma ciência, mas de uma reflexão em busca de uma fundamentação teórica 
e crítica dos nossos conhecimentos e de nossas práticas”. 
 
Segundo o existencialismo, o ser humano está em processo de autoconstrução. Em outras 
palavras, é um agente transformador da Natureza que, ao transformá-la, constrói sua própria 
essência. A natureza humana vem sendo construída pela própria humanidade no processo 
histórico atualizando sua potencialidade como agente transformador. Sobre este conceito, 
MATOS (1993) expõe: “Temos uma natureza em devir. O ser humano é, ao mesmo tempo, 
um ser atualmente advindo e um ser ainda a vir, apenas prometido a si mesmo. É aqui que 
se manifesta a estrutura fundamental da ação: de um lado, ela é aquilo em que se tornou, 
aquilo que ela é agora: do outro, também é uma antecipação de seu ser realizado e, por ser 
ação de um agente autônomo, ela implica em si a responsabilidade daquilo que fazemos de 
nós mesmos. E veremos como a responsabilidade de cada ser humano para consigo mesmo 
constitui, ao mesmo tempo, uma responsabilidade que ele tem com todos os homens”. 
Ciência e ética nos dias atuais 
 
A ciência, traço que singulariza as sociedades modernas, vem sendo analisada sob os mais 
diversos ângulos. Desde o enfoque mais clássico da epistemologia ao olhar mais recente dos 
estudos culturais, multiplicam-se os estudos sobre a atividade científica. Entretanto, em 
nossos dias, uma perspectiva, a da ética, exerce particular interesse, associada ao 
desenvolvimento contemporâneo das ciências da vida. 
 
Alternativas inéditas, antigamente nem sequer questionadas, fazem hoje parte do cotidiano. 
Possibilidades como a preservação duradoura da vida em condições artificiais, a intervenção 
em fetos ou as que decorrem do amplo repertório de ações ligadas à clonagem evidenciam 
a expansão do nosso poderio científico-tecnológico. Poderio que nos inscreve, de imediato, 
no horizonte ético: podendo fazer, devemos fazer? 
 
Os órgãos que regulam a ética nas pesquisas científicas que envolvam seres humanos, o 
crescente cuidado no trato dos animais associados à pesquisa científica, a atenção e a 
sensibilidade com que são vistas as questões relativas à intervenção no meio ambiente são 
indicadores de que estamos diante de um novo cenário. Mas, se, de um lado, devemos 
14 
 
celebrar o reaparecimento da temática ética, na medida em que se localiza no campo da ação 
humana, por outro lado, cabe perguntar sob que condições é razoável esperar uma 
aproximação permanente entre a ciência e a ética. 
 
Ética, entre outras coisas, significa restrição. O recurso a valores, constitutivos de qualquer 
agenda ética, implica aceitar proibições e limites. Caso existisse, uma sociedade 
inteiramente permissiva levaria à supressão da dimensão ética, que se tornaria supérflua 
num ambiente onde tudo fosse tolerado. Se aceitarmos a associação entre a atitude ética e 
o estabelecimento de alguma espécie de limite, como poderíamos aproximar a ética e a 
ciência, entre os procedimentos éticos e a busca do conhecimento? 
 
No contexto da sociedade atual, à que pertencemos, a criação dos campos científicos na 
modernidade ocidental é decorrência, entre outros fatores, da ideologia que preconiza a 
defesa da liberdade mais plena no que diz respeito ao conhecimento. A concepção moderna 
de ciência, a que estamos, ainda hoje, associados, é inseparável da progressiva reafirmação 
do princípio da autonomia da pesquisa e da rejeição, inegociável, da tutela, seja religiosa, 
seja política. 
 
Notamos que nos dias de hoje várias instituições se preocupam em elaborar um código de 
ética. Isso demonstra claramente a necessidade que a sociedade tem de “controlar” as 
medidas e atitudes das diversas profissões. Será que podemos permitir que a ciência, por 
exemplo, faça o que ela quiser? A ciência pode pesquisar o que ela quiser? A ética seria 
desta maneira então, intermediária, buscaria a justiça, a harmonia e os caminhos para 
alcançá-las. Quando buscamos, a justiça, a verdade, o entendimento e o conhecimento, o 
buscamos para satisfazer uma necessidade do sujeito. 
 
O que é que distingue a ciência da não - ciência? Como podemos demarcar a fronteira entre 
elas? É importante mencionar que a ciência deve ser entendida de maneira diversa, conforme 
o tempo em que a estudamos. O que chamamos de “conhecimento científico”, também, pode 
variar conforme os diversos períodos da história. Na área médica, por exemplo, quando 
ouvimos uma voz científica dizendo: evite comer ou fazer tal coisa, que faz mal à saúde, e 
depois alguns anos mais tarde se contradizem dizendo que não é bem assim. Podemos citar 
o recente comunicado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com respeito à 
gema do ovo malcozida. 
 
Concluiu-se que ciência é um conhecimento sistemático, dá-se pela leitura, reflexão, 
sistematização, conhecimento lógico, sendo quase impossível vivermos sem seus benefícios. 
A ciência tenta discernir com sabedoria ética o melhor para o ser humano. Sendo de muita 
importância este apelo ético na ciência, pois a sociedade depende das consequências. A ética 
é uma característica própria a toda ação humana, tendo como objetivo facilitar a realização 
das pessoas. A ciência envolve investigação e busca pela verdade. Na ciência temos a ética 
como suporte para não haver erros, pois a responsabilidade faz parte da ética e é 
fundamental no meio científico. A produção científica não se realiza fora de um determinado 
contexto social e político. 
 
*Referências no site.Disponível em: <http://www.fernandosantiago.com.br/eticaciencia.htm> Acesso em: 04 mai 2018. Adaptado. 
Ciência e Pseudociência 
15 
 
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, dietas 
infalíveis, riqueza sem-esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou 
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres 
cotidianos são vestidos com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais 
rebuscada, aparente comprovação experimental, depoimentos de “renomados” 
pesquisadores, utilização em grandes universidades. São casos típicos do que se 
costuma definir como “pseudociência”. Afinal, quais os aspectos que diferenciam a 
ciência da pseudociência? Confira. 
 
A definição de pseudociência é muito genérica, e pode incluir uma grande quantidade de 
fenômenos paranormais, sobrenaturais, extra-sensoriais, e qualquer conjunto de 
procedimentos e “teorias” que tentem se disfarçar como ciência, sem realmente sê-la. A 
discussão dos limites entre ciência e pseudociência certamente inclui uma questão mais 
profunda: o que é ciência? Como defini-la? Esse é um assunto complexo e delicado, e 
impossível de tratar neste breve artigo. Entretanto, é útil discutir porque devemos nos 
preocupar com as pseudociências. Aparentemente, não podem causar mais impacto do que 
simples arranhões à já aparentemente consolidada imagem da ciência, que é geralmente vista 
como um pilar firme onde a sociedade se apoia. Entretanto, vale lembrar que inúmeras vezes 
a pseudociência é utilizada com má fé, destinada a usurpar o dinheiro da população em geral 
que ingenuamente acredita em evidências casuais, rumores e anedotas. Esse fato torna-se 
ainda mais drástico quando essas crenças atingem a área de saúde, onde o prejuízo 
financeiro pode vir acompanhado de um irreparável dano físico e/ou mental. 
 
A própria definição de pseudociências é uma questão complexa e delicada. Há muitas 
características comuns que podem ser utilizadas para tentar esboçar uma demarcação. Como 
já dito, as pseudociências têm esse nome pois tentam mimetizar uma aparência de ciências, 
incluindo uma linguagem mais complexa, com afirmações veementes de que os resultados 
são “comprovados cientificamente”, ou abalizados por “estudos aprofundados”. Além disso, 
as pseudociências normalmente baseiam-se em anedotas e rumores para “confirmar” os 
fatos. Um exemplo comum é ouvirmos (ou recebermos alguma corrente ou correio 
eletrônico) alguma história mirabolante sobre doenças provocadas por latinhas sujas ou 
roubo de órgãos para contrabando. Estes rumores que se espalham com uma facilidade 
impressionante devido à Internet têm o nome de “lendas urbanas”, e também podem ser 
considerados como um subgrupo das pseudociências. 
 
Em seu clássico livro “O Mundo Assombrado por Demônios - A Ciência vista como uma Vela 
na Escuridão", o Físico Carl Sagan descreveu, de modo brilhante, um kit de detecção de 
mentiras ou bobagens (Balooney Detection Kit), principalmente no que se refere a 
afirmações aparentemente científicas. Ele enfatiza o uso do pensamento crítico para 
reconhecer argumentos falhos ou fraudulentos, o que podemos chamar de um modo geral 
de “pseudociência”. Além do raciocínio lógico e do reconhecimento de alguns elementos 
característicos das pseudociências, é particularmente importante conhecer, ao menos 
superficialmente, como a ciência funciona. 
 
De acordo com Sagan, há algumas ferramentas básicas no kit que devem ser utilizadas para 
analisar argumentos e afirmações que aparentemente são embasadas em experimentos 
científicos: 
 
- sempre que possível deve haver uma confirmação independente dos “fatos”; 
16 
 
- deve-se estimular um debate sobre as evidências, do qual participarão notórios partidários 
de todos os pontos de vista; 
- os argumentos de autoridade têm pouca importância - As 'autoridades' cometeram erros 
no passado. Voltarão a cometê-los no futuro. Uma forma melhor de expressar essa ideia é 
talvez afirmar que em ciência não existem autoridades; quando muito há especialistas; 
- deve-se considerar mais de uma hipótese. Se alguma coisa deve ser explicada, é preciso 
pensar em todas as maneiras diferentes pelas quais poderia ser explicada. Então, se deve 
pensar em formas de derrubar sistematicamente cada uma das alternativas. A hipótese que 
sobreviver a esta “seleção natural” tem maiores chances de ser a correta; 
- não se apegar demais à sua própria hipótese. Devem-se buscar razões para rejeitá-la. Se 
você não fizer isto, outros o farão; 
- quantificar sempre que possível. Aquilo que é vago e qualitativo é suscetível a muitas 
explicações; 
Se há uma cadeia de argumentos, todos os elos da cadeia devem ser válidos (inclusive a 
premissa) - não apenas a maioria deles; 
- deve-se sempre questionar se a hipótese pode ser, pelo menos em princípio, falseada. As 
proposições que não podem ser testadas ou falseadas não valem grande coisa. Devemos 
poder verificar as afirmativas propostas. 
 
Na realidade há muitas outras características comuns que podem ser utilizadas para tentar 
esboçar uma demarcação das pseudociências, o que nem sempre é trivial. Além disso, as 
pseudociências normalmente baseiam-se em anedotas e rumores para “confirmar” os fatos, 
e incluem personagens que afirmam que não são compreendidos e são hostilizados por nossa 
sociedade, assim como foram Galileu e Copérnico em suas épocas. 
 
Mas, por que devemos nos preocupar com as pseudociências? Para os cientistas, a resposta 
mais simplista poderia indicar uma tentativa de evitar “manchar” a imagem da ciência, que 
tem consolidado a sua reputação em anos e anos de hipóteses, teorias e experimentos bem-
sucedidos e capazes de explicar muitos aspectos do universo em que vivemos. Mas, na 
realidade, a maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar entre 
ciências e pseudociências. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, em alguns momentos da 
vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, 
seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente à alguma decisão 
importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos. A sociedade, como um 
todo, deve assimilar uma “cultura científica”, com a participação de instituições, grupos de 
interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão 
social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência. 
Mas, ao falar da cultura científica não estamos nos referindo, necessariamente, à “ciência” 
ortodoxa, entendida como acúmulo de conhecimentos coerentes, fixos e certos que se 
constroem sob a atenta vigilância de uma metodologia confiável sobre uma realidade natural 
subjacente (legado da tradição positivista que apela à objetividade da ciência e seu “espírito” 
altruísta). A cultura científica é entendida, neste sentido mais amplo, como forma de 
instrução, de acumulação do saber, seja este socialmente válido ou não. 
 
E a necessidade de uma cultura científica aparece claramente na distinção entre ciências e 
pseudociências. Além dos aspectos já mencionados, muitas vezes somos compelidos a 
aceitar algo sem fundamento científico, mesmo sem acreditarmos naquilo. Infelizmente, 
vemos isso acontecer com mais frequência do que gostaríamos... 
 
17 
 
Disponível em: <http://correio.rac.com.br/_conteudo/2018/03/opiniao_segunda_feira/537876-ciencia-e-
pseudociencia.html> Acesso em: 28 mai 2018. 
Bioética 
Abaixo, propomos uma leitura breve sobre a ética relacionada à vida sob a perspectiva 
dos avanços da ciência. As informações do texto são suficientes para esclarecer o 
assunto com objetividade e sugerir reflexões. 
O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras 
muito importantes deum pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, 
Van Rensselaer Potter. 
Van Potter estava preocupado com a dimensão que os avanços da ciência, principalmente 
no âmbito da biotecnologia, estavam adquirindo. Assim, propôs um novo ramo do 
conhecimento que ajudasse as pessoas a pensar nas possíveis implicações (positivas ou 
negativas) dos avanços da ciência sobre a vida (humana ou, de maneira mais ampla, de todos 
os seres vivos). 
Ele sugeriu que se estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica e a 
humanística, guiado pela seguinte frase: “Nem tudo que é cientificamente possível é 
eticamente aceitável”. Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é 
a ciência “que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem 
sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os 
riscos das possíveis aplicações”. 
Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de uma 
metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de diversas áreas (profissionais 
da educação, do direito, da sociologia, da economia, da teologia, da psicologia, da medicina 
etc.) devem participar das discussões sobre os temas que envolvem o impacto da tecnologia 
sobre a vida. 
Todos terão alguma contribuição a oferecer para o estudo dos diversos temas de Bioética. 
Por exemplo, se um economista do governo propõe um novo plano econômico que afeta 
(negativamente) a vida das pessoas, haverá aspectos bioéticos a serem considerados. 
Os conceitos das ciências humanas que são fundamentais para o enfrentamento de questões 
éticas que surgem em razão do progresso da ciência nas áreas da saúde. O progresso 
científico não é um mal, mas a “verdade científica” NÃO pode substituir a ética. 
Para a Bioética, é fundamental o respeito à vida humana. Mas o que designamos vida 
humana? Segundo os principais livros de Embriologia, a vida humana inicia-se no exato 
momento da fecundação, quando o gameta masculino e o gameta feminino se juntam para 
formar um novo código genético. Esse código genético não é igual ao do pai nem ao da mãe, 
mas que é composto de 23 cromossomos do pai e de 23 cromossomos da mãe. Sendo assim, 
nesse momento, inicia-se uma nova vida, com patrimônio genético próprio, e, a partir desse 
momento, essa vida deverá ser respeitada. Este é o primeiro estágio de desenvolvimento de 
cada um de nós. 
18 
 
Disponível em: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2012/09/o-que-e-bioetica.html> Acesso em: 25 mai 2018. 
Terapia genética pode revolucionar o tratamento 
da depressão 
Vamos tratar brevemente sobre alguns dos benefícios de pesquisas e experiências 
realizadas pela Ciência no tratamento de determinadas doenças. Primeiramente, um 
tipo de terapia genética usada para tratar transtornos psiquiátricos, como, por 
exemplo, a depressão. Trata-se, ainda, de uma novidade, mas promete ser algo 
revolucionário e promissor, ainda mais considerando os altos índices dessa doença no 
mundo. Em seguida, fique por dentro do que a ciência vem descobrindo sobre a relação 
dos genes com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 
 
 
A depressão é um problema mundial que atinge diversas pessoas de todas as idades. A 
doença faz com que grande parte das suas atitudes sejam alteradas, além de fazer com que 
a pessoa tenha comportamentos destrutivos e negativos para si mesmo. E, infelizmente, o 
número de pessoas com o problema tem crescido cada vez mais. Para se ter uma ideia da 
sua dimensão, aproximadamente 5,8% dos brasileiros são afetados por ela, de acordo com 
dados da OMS. Além disso, se tratarmos do problema num âmbito mais geral, o número se 
torna ainda mais alarmante. Ainda de acordo com informações da OMS, cerca de 121 milhões 
de pessoas, em todo o mundo, sofrem com o problema. E, por isso, a questão deve ser 
levada mais a sério. Tratamentos com psicólogos e psiquiatras tem sido a solução por muito 
tempo, mas, uma nova terapia genética está sendo desenvolvida para servir como tratamento 
da depressão. 
A terapia genética 
O procedimento consiste em inserir genes funcionais nas células ou tecidos nos genes com 
mutação, que tem causado problemas. A serotonina é um neurotransmissor importante 
quando se trata da depressão e a proteína p11, usada no tratamento, atua exatamente nela. 
O mesmo tipo de tratamento já tem obtido sucesso na cura de outras doenças como o 
daltonismo, a cegueira, o câncer e a drenoleucodistrofia, uma doença cerebral rara. Embora 
ainda seja experimental, testes com animais já tem sido feito. 
19 
 
Os testes 
 
Alguns ratos sem a proteína p11 acabam apresentando comportamento depressivo, deixando 
de ter interesse em petiscos e sem motivação para se livrar de situações complicadas. Os 
pesquisadores que trabalharam no projeto pretendiam descobrir qual a importância da 
proteína no cérebro do animal. E, depois de alguns experimentos, eles conseguiram 
identificar a presença do p11 em uma região do cérebro que atua no prazer. E, por isso, 
aqueles sem o p11 na região acabaram desenvolvendo os sintomas depressivos mencionados 
anteriormente. O resultado foi exatamente o esperado e, depois de comprovarem a 
importância do p11 eles seguiram para o próximo passo. Aqueles ratos sem a proteína 
passaram pela terapia genética e em pouco tempo o seu comportamento foi revertido. 
Especulações sobre o efeito em humanos 
 
Antes de poder fazer o experimento com humanos, o grupo selecionou 17 pessoas mortas 
que tiveram depressão e 17 que não tiveram o transtorno, para poder analisar seu cérebro. 
Depois de observar a p11 em cada um deles, os pesquisadores acabaram concluindo que 
aqueles com o problema tinham uma quantidade menor da proteína. A conclusão trouxe ainda 
mais esperança para os especialistas. Eles acreditam que a depressão em humanos está 
realmente associada aos baixos níveis de p11 e que o tratamento pode ajudar. De acordo 
com eles, sem a p11 o cérebro acaba não respondendo bem a serotonina. E, agora que a sua 
20 
 
importância foi comprovada, eles podem se aprofundar mais no assunto e tornar isso uma 
realidade mais palpável. 
Disponível em: <https://www.fatosdesconhecidos.com.br/terapia-genetica-pode-revolucionar-o-tratamento-da-depressao-
entenda/?related> Acesso em: 28 mar 2018. Adaptado. 
Mapeamento genético no diagnóstico do autismo 
Um estudo recente conduzido por pesquisadores do New York Genome Center, usando a 
metodologia de sequenciamento do genoma completo (WGS, sigla para o termo em inglês 
Whole Genome Sequencing), analisou o genoma de 2.064 indivíduos de 516 famílias sem 
histórico anterior de autismo, porém com um membro autista, e revelou que variações 
genéticas não herdadas — conhecidas como “mutações de novo” — podem contribuir para 
o autismo (Turner et al., 2017). Em janeiro, outro estudo também demonstrou a importância 
das variantes genéticas “de novo” na arquitetura genética complexa do TEA, analisando 262 
trios de indivíduos de origem japonesa com TEA e seus pais neurotípicos (Takata et al., 
2018). 
 
Apesar do número de indivíduos analisados ainda ser pequeno, os estudos epidemiológicos 
têm demonstrado cada dia mais que os fatores genéticos são os mais importantes na 
determinação das causas e origens do TEA. Entretanto, a genética do TEA é considerada 
extremamente heterogênea, uma vez que esses indivíduos possuem variantes comuns e 
raras (Gaugler et al., 2014). Mas, antes de falarmos da genética propriamente dita, vamos 
entender um pouco como ela funciona nos seres humanos e o que são essas alterações. 
O corpo e os genes 
Nosso corpo é formado por trilhões de células. O genoma está no núcleo, onde temos os 
cromossomos que são “novelos” compactados de DNA. Cada pessoa possui 46 cromossomos 
divididos em 23 pares,dos quais 22 são autossômicos (ou seja, determinantes das nossas 
características em geral) e 1 é sexual (determina se a pessoa é do sexo masculino ou 
feminino). O DNA é a sopa de letras, formada pelos nucleotídeos ACGT. A sequência 
21 
 
específica dessas letras é o que chamamos de genes. A grosso modo, os genes são 
responsáveis pela produção das proteínas, substâncias importantes para o funcionamento 
das células. 
 
Se o genoma humano fosse um livro, os cromossomos seriam os capítulos, os genes seriam 
as frases e a sequência de DNA seria as letras e as sílabas. Dessa forma, dependendo da 
alteração, nós poderíamos mudar apenas uma letra e ainda continuar entendendo o que está 
sendo dito, ou então mudar todo o sentido de uma frase e não entender mais o que ela quer 
dizer. Por exemplo, se trocarmos o “t” na palavra “televisão” por um “p”, teremos a palavra 
“pelevisão”; apesar de diferente conseguimos entendê-la. Mas, se pensarmos na palavra 
“conserto” e trocarmos o “s” por “c”, teremos “concerto”, uma palavra distinta que carrega 
outro significado. Nesse caso, uma única letra causou uma grande mudança de sentido. Em 
nosso organismo também é assim que acontece: algumas mudanças não têm efeitos; outras, 
entretanto, podem fazer com que o funcionamento das nossas células seja completamente 
afetado. 
As mudanças na sequência de DNA são chamadas de variantes genéticas. São essas 
mudanças que os cientistas e profissionais de saúde analisam quando um sequenciamento 
genético de última geração (como exoma ou genoma) é realizado. Dessa forma, é sempre 
importante lembrar da relevância da variante genética e não apenas do gene, pois às vezes 
uma troca pode não ocasionar nenhum defeito no funcionamento do organismo. 
O TEA é um bom paradigma para mostrar a complexidade das condições do desenvolvimento 
neurológico, pois ele apresenta um amplo espectro de características clínicas e fatores 
genéticos variados e complexos, com algumas variantes herdadas e outras ocorrendo pela 
primeira vez (lembra das “mutações de novo”?). As formas não-sindrômicas de TEA, ou 
seja, aquelas não associadas a nenhuma síndrome, são consideradas como herança 
multifatorial. Nesse caso, fatores de risco genéticos e ambientais podem desempenhar um 
22 
 
papel e o efeito aditivo desses fatores é variável, podendo ter mais ou menos impacto ao 
atingir um limite crítico, levando ao TEA (Hoang, Cytrynbaum, Scherer, 2017). Com isso, 
podemos dizer que o TEA é um transtorno multigênico e multifatorial envolvendo fatores 
ambientais, mas o risco é majoritariamente genético. Entretanto, o diagnóstico do autismo é 
clínico. 
Os genes e o TEA 
A evolução do conhecimento genético permitiu que muitos genes envolvidos no TEA sejam 
identificados. Atualmente, de acordo com a Simons Foundation, temos 722 genes descritos, 
porém muitos ainda são desconhecidos. Algumas desordens neurológicas e psiquiátricas não 
são fruto de alterações em um único gene. Ao contrário, envolvem distúrbios moleculares 
complexos em múltiplos genes e no controle da expressão gênica, como é o caso do TEA. 
Por essas razões, é um desafio definir genes e respectivas variantes genéticas de relevância 
clínica associadas ao TEA. Cada indivíduo é clinicamente único, por isso o aconselhamento 
genético com profissionais experientes e capacitados é de grande importância. 
O mapeamento genético vem se tornando o primeiro teste a ser recomendado pela Academia 
Americana de Genética Médica e Genômica no estudo de crianças com suspeita de síndromes 
genéticas, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, atraso do crescimento, atraso de 
linguagem, anormalidades congênitas e Transtorno do Espectro do Autismo. Exames como 
o CGH-Array esclarecem e direcionam em torno de 20% as suspeitas de síndromes e estão 
no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde). O CGH-Array ou hibridização genômica 
comparativa baseada em microarranjos é uma metodologia de citogenética molecular, capaz 
de identificar alterações cromossômicas desbalanceadas (como duplicações, deleções e/ou 
microdeleções) que não podem ser vistas através do exame de cariótipo convencional. 
O sequenciamento do genoma completo é o método que fornece informações genéticas 
completas dos pacientes. Em países desenvolvidos ele já vem sendo utilizado como segundo 
exame a ser realizado após o CGH-Array. Apesar de ter um custo ainda elevado, ele está 
rapidamente se tornando mais acessível. De acordo com o Dr. Evan Eichler, pesquisador do 
Howard Hughes Medical Institute (HHMI), dentro de cinco ou dez anos o sequenciamento do 
genoma completo pode ser uma ferramenta muito importante no diagnóstico do autismo. 
No Brasil, o sequenciamento completo do genoma já vem sendo realizado aqui na Tismoo 
com o mesmo rigor tecnológico dos trabalhos realizados no exterior e citados neste artigo. 
Começando o ano com o pé direito, nossa equipe está comemorando esse mês os avanços 
tecnológicos que culminaram na diminuição do valor do mapeamento genético, o que vai ao 
encontro da afirmação do Dr. Evan Eichler: o sequenciamento genético se tornará cada dia 
mais acessível e, no futuro próximo, poderá ser uma ferramenta muito útil para o diagnóstico 
do TEA. 
*Referências no site. 
Disponível em: <https://medium.com/tismoo-biotecnologia/mapeamento-gen%C3%A9tico-pode-ser-uma-das-ferramentas-
mais-importantes-no-diagn%C3%B3stico-do-autismo-b533d1c8fd02> Acesso em: 08 mar 2018. Adaptado. 
23 
 
Cientista brasileira PhD em Química por Harvard 
supera preconceito e acumula 80 prêmios na 
carreira 
 
Com uma forte confiança na educação como transformadora de realidades, a cientista 
Dra. Joana D’Arc acredita que o ensino básico é a chave para incentivar a ascensão 
de jovens, sobretudo mulheres, na Ciência. Confira a entrevista em que ela expressa 
seu ponto de vista acerca de mulheres cientistas, educação básica e investimentos em 
ciência. 
 
 
A cientista e seus alunos desenvolveram uma pele artificial humana com base nos resíduos derivados da indústria de 
curtume 
“A educação e a ciência têm o poder de transformar vidas”. Para Joana D’Arc Félix de Souza, 
mulher e cientista, essa frase é mais um lembrete da sua trajetória de vida. Aos 53 anos, a 
pesquisadora lembra que precisou enfrentar obstáculos, como falta de estrutura financeira 
e preconceito, para chegar onde chegou: hoje, ela é PhD em Química pela Universidade de 
Harvard e acumula 80 prêmios na carreira científica. Criada em Franca, no interior paulista, 
foi lá que ela encontrou seu principal objeto de pesquisa, os resíduos gerados no setor 
coureiro-calçadista. 
O estudo com a matéria-prima derivada da indústria de curtume permitiu que a Dra. Joana 
e seus alunos da Escola Técnica Estadual de Franca desenvolvessem uma pele artificial 
humana que pudesse ser utilizada em transplantes e recuperação de pele e em pacientes 
com queimaduras, e desenvolvimento de novos tratamentos para doenças dermatológicas. 
Desde cedo, a Dra. Joana D’Arc já mostrava aptidão para a área acadêmica. Como 
acompanhava frequentemente a mãe, que trabalhava como doméstica, aprendeu a ler aos 4 
anos de idade e surpreendeu a dona da casa – o que garantiu a vaga na escola de Ensino 
Fundamental administrado por ela. Joana se formou no Ensino Médio aos 14 anos e, com 
24 
 
apostilas emprestadas por uma professora e o apoio da família, passou no vestibular de três 
faculdades federais de São Paulo. Inspirada pelo trabalho do pai no curtume – e pelo fascínio 
com o químico do local – Joana escolheu cursar Química na Universidade Estadual de 
Campinas. 
Confira a entrevista. 
PMNC: Você ganhou diversos prêmios e fez parte de uma exposição temporária no Museu do 
Amanhã. Como esse reconhecimento impactou sua carreira e o desenvolvimento de suas 
pesquisas? 
Joana D’Arc: A partir da ExposiçãoInovanças, fiquei conhecida no Brasil inteiro e em vários 
outros países. Esse reconhecimento impactou de tal forma a minha carreira que já participei 
de vários programas de televisão, ministrei mais de 50 palestras desde maio de 2017, e fui 
eleita Personalidade 2017 no Prêmio Faz Diferença do Jornal O Globo. Com a exposição, 
algumas empresas também se interessaram por financiar nossas pesquisas e fornecer bolsas 
de iniciação científica para os meus alunos. 
O que te motivou a seguir em frente com a carreira científica mesmo com as dificuldades? 
Sigo em frente com a carreira científica porque tenho muita esperança no Brasil e muita 
confiança nos nossos jovens. O país se desenvolve com talentos e precisamos enxergar 
neles uma chance de melhorar o mundo. A educação é a arma mais poderosa para vencermos 
os obstáculos da vida. A origem social não é um destino, e o aluno precisa compreender que 
pode ser bem-sucedido por meio do aprendizado. 
O Brasil tem que investir na educação pública de qualidade. Educação de qualidade requer 
um mínimo de infraestrutura e elementos pedagógicos que apenas são possíveis mediante 
recursos financeiros. Tenho muita esperança no Brasil e acredito na valorização da escola 
pública. A educação e a ciência têm o poder de transformar vidas. 
Você participa de projetos de iniciação científica para a educação básica. Qual é a importância 
de estimular um interesse pela ciência desde cedo em crianças e, principalmente, meninas? 
O investimento em educação científica desde a infância e, principalmente para meninas, é a 
peça chave para a construção de uma sociedade democrática, economicamente produtiva, 
mais humana e sustentável. Os trabalhos de iniciação científica na educação básica 
desenvolvem pensamento lógico no jovem, que vai ser utilizado durante toda a sua formação. 
A educação é o caminho para a construção de um mundo melhor, pois é na educação básica 
que a criança/jovem adquire algumas características fundamentais para sua vida 
profissional. Para isso, o interesse do jovem pelos estudos tem que ser aguçado logo no 
início, o que infelizmente não acontece no tratamento dado às minorias. 
Quais os desafios de incentivar a ciência ainda na educação básica? 
O desafio de orientar jovens da educação básica é inestimável, porque esse primeiro contato 
do aluno com a pesquisa terá repercussões futuras. Se o jovem for bem orientado, 
provavelmente continuará a fazer outras pesquisas e depois será orientador de uma outra 
geração de alunos. É uma forma de desenvolver neles algumas características fundamentais 
para sua vida profissional, seja voltada para a indústria ou para a academia. Teremos 
25 
 
cidadãos mais críticos e mais conscientes. Além disso, os jovens que desenvolvem iniciação 
científica na educação básica são termômetros muito importantes da qualidade do curso e 
do desempenho dos professores, ou seja, são excelentes cooperadores do próprio modelo 
pedagógico. 
Como você vê a presença da mulher nas carreiras científicas? 
Competitividade, participação em congressos e produção de artigos e pesquisas quando se 
tem filhos são alguns motivos que com que muitas mulheres retardam a carreira ou mesmo 
abortem o desejo de serem cientistas. A carreira de pesquisador, na medida em que se 
progride, não exige apenas o trabalho de pesquisa (e o de ensino, que quase sempre vem 
junto) em si, mas um esforço de negociação com os pares e demais agentes sociais em busca 
de apoio em diversas formas. Ascender em uma carreira que exige constante estudo, 
produção e aulas transforma-se em missão quase impossível quando também é preciso 
administrar tarefas domésticas e, sobretudo, a maternidade. Existe também algum 
preconceito quando a cientista está grávida ou quer engravidar. A ciência torna-se 
incompatível em certos momentos da nossa vida. Mas hoje em dia já não é incomum ver 
nomes de mulheres vinculados a importantes descobertas científicas. 
Como você vê a situação da ciência no Brasil hoje? O que pode ser feito para melhorar esse 
cenário? 
Infelizmente, a ciência brasileira está passando por um momento muito crítico. Depois de 
anos de austeridade, os pesquisadores brasileiros temem que a redução de 44% no 
orçamento federal, anunciado no ano passado, destrua a ciência do país. Esse corte para a 
ciência é particularmente grave, pois impede que sejam desenvolvidas pesquisas para 
produção de alimentos, fármacos e outros. Uma das alternativas para melhorar esse cenário, 
seria buscar no setor privado, financiamentos para o desenvolvimento das pesquisas, uma 
prática muito comum nos Estados Unidos e na Europa. 
Disponível em: <https://www.paramulheresnaciencia.com.br/noticias/cientista-brasileira-phd-em-quimica-por-harvard-
supera-preconceito-e-acumula-80-premios-na-carreira/> Acesso em: 24 mai 2018. Adaptado. 
Efeito Matilda: mulher, ciência e discriminação 
Por falar em mulheres cientistas, você sabe quantos prêmios Nobel foram concedidos 
aos homens em seus mais de 120 anos de história? E para as mulheres? Já ouviu falar 
sobre o efeito Matilda? Fique por dentro deste assunto. 
26 
 
 
Quantos homens já foram reconhecidos por seus talentos científicos e contemplados com o 
prêmio Nobel? E quantas mulheres? A proporção assusta: 817 vezes para eles e apenas 47 
para elas. O efeito Matilda surgiu para avaliar esse tipo de situação que demonstra a 
discriminação sexista no campo da ciência. Ele serve para denunciar os casos em que as 
mulheres cientistas recebem menos recompensas, crédito e reconhecimento do que os 
homens, ainda que façam o mesmo trabalho ou até melhor. Curioso também é o fato de que 
a origem desse termo venha do corolário masculino. 
Sua origem é bíblica 
Para entender o efeito Matilda, é necessário explicar o nascimento de seu análogo 
masculino: o efeito Mateus. Robert K. Merton, o sociólogo criador do termo, recorreu às 
palavras de São Mateus para se referir a um fenômeno estendido a muitas facetas da vida. 
Na sua parábola dos talentos, o evangelista anuncia uma lição que convida à reflexão: “Tirai-
lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em 
abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” – Mateus 25: 14-30, A 
parábola dos talentos – São Mateus 
O efeito Mateus 
Refere-se à menor atenção, consideração e reconhecimento que as obras feitas por 
profissionais desconhecidos recebem. Isso se demonstra em comparação com as obras 
similares em importância feitas por outros, já consagrados ou famosos. 
Assim, tenta-se explicar por que as obras de pessoas anônimas não têm tantas menções 
como as de autores bem conhecidos, mesmo quando essas últimas são de qualidade inferior. 
Dessa forma, são relegadas ao segundo plano por não terem patrocinadores ou por serem 
ainda jovens promissores, e não autores consagrados. Assim, ficam escondidos pela sombra 
gigante dos autores que já gozam de sucesso. 
Adaptação feminina à ciência: o efeito Matilda 
O conhecido efeito Matilda nasceu em 1993 por Margaret W. Rossiter. A historiadora tomou 
como base o efeito Mateus anterior para denunciar e dar nome ao desprezo do trabalho das 
mulheres em favor daquele realizado por homens. Ele queria denunciar as situações em que 
as descobertas e pesquisas das cientistas são relegadas ao ostracismo por uma simples 
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questão de gênero, e não de qualidade. Assim, o seu crédito e reconhecimento são menores 
do que se a conquista fosse alcançada por um homem. Nesse sentido, a incorporação de 
mulheres no campo científico foi sendo feita a conta-gotas. Em alguns países elas ainda não 
podem seguir uma carreira ou dirigir. Hoje em dia elas podem entrar na universidade e fazer 
um doutorado, mas as condições em que se encontram ainda não são iguais às dos homens. 
Como as mulheres são prejudicadas 
O benefícioque os homens têm não é apenas verificado em termos de prêmios. Além dos 
prêmios, remunerações, empregos, financiamento ou publicações são variáveis diferentes 
nas quais os homens, em virtude apenas do gênero, começam com uma vantagem. Com isso, 
físicas brilhantes, químicas, sociólogas ou médicas vão ficando pelo caminho. Elas têm seus 
trabalhos soterrados pelos dos homens, relegados ao fundo da gaveta ou desprezados sem 
maiores explicações. Com isso, ficam sem o reconhecimento que mereciam. 
A sufragista que deu nome ao Efeito Matilda 
Rossiter chamou esse fenômeno de efeito Matilda, especificamente, em homenagem a 
Matilda Joslyn Gage. Uma ativista, livre pensadora, prolífica autora e pioneira na sociologia 
americana, que foi uma das pioneiras na luta pela igualdade de oportunidades entre homens 
e mulheres. Entre algumas de suas iniciativas, ela destacou seu apoio a Victoria Woodhull, 
uma das primeiras mulheres que lutaram para ser presidente da Casa Branca. Mãe de uma 
grande família, publicou inúmeras obras denunciando a falta de liberdade e reivindicando a 
igualdade de direitos para o sexo feminino. Seu trabalho a elevou como presidente por 
muitos anos da Associação Nacional de Sufrágio das Mulheres. A partir desse momento, o 
efeito Matilda foi usado para citar todos os casos em que as mulheres, no desenvolvimento 
de sua profissão, tiveram que enfrentar essa injustiça. 
 
Victoria Woodhull 
Ainda é evidente hoje 
Os casos que demonstram o efeito Matilda não são limitados apenas aos séculos passados. 
Hoje em dia, a situação injusta que as mulheres enfrentam em muitas facetas de sua vida 
diária é evidente. Trabalhar é apenas mais um exemplo das áreas em que, de uma forma ou 
de outra, são discriminadas. Vamos dar um exemplo continuando com os prêmios Nobel, os 
prêmios mais prestigiosos que são concedidos aos profissionais científicos. Lise Meitner e 
Rosalind Franklin fizeram contribuições decisivas. Respectivamente, para a descoberta da 
fissão nuclear e a estrutura de dupla hélice do DNA . 
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Adivinha! Nenhuma das duas foi reconhecida pelo Nobel. No entanto, seus semelhantes 
foram aproveitando suas descobertas. Na verdade, Meitner é um dos casos mais ilustrativos 
de como os resultados científicos feitos pelas mulheres são totalmente ignorados pelo 
comitê desses prêmios. 
Nesse sentido, é altamente recomendado o livro “As ‘mentiras’ científicas sobre as 
mulheres”, de S. García Dauder e Eulalia Pérez Sedeño. O trabalho trata em detalhes como 
se dá o efeito Matilda. Também inclui muitos outros relatos relacionados a essa 
discriminação contra as mulheres. A verdade é que avançamos muito no caminho para chegar 
ao dia em que as oportunidades serão iguais. Mas a verdade ainda é que há um longo caminho 
a percorrer para que os avanços científicos não sejam uma questão de gênero. Assim, todos 
nós teremos clareza de que eles devem ser valorizados mais por aquilo que significam do 
que por quem os realizou. 
Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com.br/efeito-matilda/> Acesso em: 29 mai 2018. Adaptado. 
Cientistas afirmam: inteligência e conhecimentos 
são coisas diferentes 
O QI, sigla, em inglês, de coeficiente de inteligência, foi proposto em 1912 pelo 
psicólogo alemão Wilhelm Stern. Ele imaginou que a inteligência poderia ser medida 
dividindo a “idade mental”, que seria calculada por testes, pela cronológica. 
Entretanto, o QI não é consenso entre especialistas, pois não existe um único tipo de 
inteligência. E você? O que pensa sobre isso? Poderá haver uma única medida para a 
inteligência? 
 
A busca desesperada pelo conhecimento expulsou Adão e Eva do Paraíso, mas também foi 
graças a ela que o Homo sapiens saiu das cavernas, dominou o fogo e inventou a roda. A 
inteligência humana parece não ter limites, o que leva muita gente a tentar aumentá-la com 
jogos de memória, “ginástica cerebral” e, até mesmo, substâncias químicas. Contudo, 
enquanto o saber pode continuar a ser adquirido ao longo de toda a vida, isso não acontece 
com a inteligência. Segundo um estudo publicado na revista especializada Current directions 
in psychological science, o homem já chegou aonde devia e, se tentar comer o fruto proibido 
pela segunda vez, poderá sofrer graves prejuízos. 
 
Os autores alegam que, ao desafiar sua natureza limitada, os humanos poderiam até expandir 
a memória, a inteligência e o nível de atenção, mas o ganho desequilibraria a cognição — 
para levar vantagem em uma habilidade, outra ficaria prejudicada. Ralph Hertwing, professor 
de psicologia social da Universidade de Basel, na Suíça, e Thomas Hills, da Universidade de 
Warwick, no Reino Unido, dizem que a questão é evolutiva: assim como dificilmente alguém 
mede mais de 2m de altura, as mentes extremamente brilhantes não passam de exceção. E, 
assim como pessoas muito altas sofrem com problemas de coluna e de coração, os muito 
inteligentes pagam um preço alto por seus supercérebros. “Nós analisamos diversas 
pesquisas realizadas com pessoas caracterizadas por um alto QI ou que possuem uma 
habilidade especial, como memória fotográfica, e descobrirmos que, geralmente, esses 
indivíduos sofrem de distúrbios como autismo, sinestesia debilitante (condição na qual um 
sentido é trocado por outro) e diversos outros problemas neurológicos”, conta Hills. De 
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acordo com ele, as deficiências estão associadas ao tamanho do cérebro, que, em indivíduos 
muito inteligentes, costuma ser maior que o normal. “Imagine a quantidade de crianças que 
morreriam no parto se todos nascessem com um cérebro muito grande, desproporcional à 
pélvis da mãe”, questiona Ralph Hertwing. “Então, você pode perguntar: por que a evolução 
não selecionou as mulheres com pélvis maiores, aumentando as chances de sobrevivência 
da mãe do bebê?”, continua. Segundo ele, a explicação é que o formato normal dessa parte 
do corpo é adaptada ao bipedalismo. “Se fosse para as pessoas terem cérebros maiores, 
essa característica iria ‘brigar’ com o fato de andarmos sobre dois pés. A locomoção bípede 
requer uma arquitetura muito específica do esqueleto”, diz. 
Balanço 
Um dos grupos pesquisados foi o de judeus asheknazi, que têm um QI acima da média, 
comparando-se à população geral da Europa. Embora sejam mais favorecidos com a 
inteligência alta — provavelmente devido à seleção evolutiva, de acordo com Hertwing —, 
eles costumam sofrer de males hereditários e genéticos que afetam o sistema nervoso. Um 
deles é a doença Tay-Sacs, uma mutação que provoca danos neurológicos irreversíveis. Não 
se sabe exatamente o que faz com que os genes se alterem, mas os dois pesquisadores 
apostam que a habilidade especial está por trás da doença. 
 
Como prova de que a natureza é sábia, Hills cita o estresse pós-traumático. “Se você tem 
uma memória absurdamente boa, não conseguirá esquecer de situações e pessoas que estão 
ligadas a eventos desagradáveis”, diz. Outro efeito colateral da busca excessiva pela 
melhoria cognitiva está associado à atenção. Manter-se focado é algo que, sem dúvidas, 
torna as pessoas mais produtivas, mas ser atento demais tem seus problemas também. 
“Vamos imaginar algo complexo, como dirigir. Você tem de estar atento a diversas coisas 
que são muito dinâmicas, como pessoas e carros passando, placas, semáforos etc. Uma 
pessoa extremamente focada pode concentrar sua atenção no ponto cego. Aí, o que 
acontece? Ela acaba não vendo um motorista que está bem à sua frente e o resultado disso 
é uma batida feia”, exemplifica. 
Uma preocupação em particular de Hills e Hertwing é com o uso de substâncias químicas e 
farmacológicas para aumentar as habilidades cognitivas. “Remédios que potencialmente 
poderiam melhorar a cognição são considerados, por muitos, como uma ‘promessa para a 
expansão do cérebro humano’. Há quem defenda que as anfetaminas, por exemplo, melhorama atenção, e o modafinil reforça o estado de alerta. Esses efeitos aperfeiçoariam a 
performance escolar, reduziriam o declínio cognitivo relacionado à idade, deixariam 
soldados mais preparados para o combate e até mesmo aumentariam a produtividade dos 
cientistas”, comentam os autores, no artigo. 
Radicalmente contra esses expedientes, Hills e Hertwing contam que, em meados do século 
20, o matemático Paul Erdös, que publicou aproximadamente 1,5 mil artigos, orgulhava-se 
de se “fortificar” com doses altas diárias de ritalina e benzedrina, café forte e pílulas de 
cafeína. “Naquela época, ele era uma exceção. Hoje, porém, isso é comum, com pesquisas 
mostrando que uma em cada cinco pessoas faz uso de substâncias químicas para melhorar 
as habilidades cognitivas”, lamentam. Hills volta à evolução para combater a prática: “Alguns 
desses medicamentos estimulam a produção de substâncias que não existem naturalmente 
no cérebro. Se fossem essenciais, elas existiriam”, diz. 
 
Efêmero 
30 
 
Além das implicações éticas e dos efeitos colaterais de drogas tomadas sem necessidade, a 
má notícia para quem aposta em cafeína, ritalina e anfetamina para ficar mais esperto é que 
essas substâncias podem até fazer com que se atinja o objetivo — porém é algo passageiro. 
“Se você tomar xícaras e mais xícaras de café porque não pode dormir naquele dia para 
estudar para uma prova, por exemplo, certamente vai ficar acordado. Só que ingerir cafeína 
ou qualquer outra coisa não vai tornar você uma pessoa atenta. Assim que a substância sair 
do organismo, tudo volta ao normal”, alerta Ralph Hertwing. 
 
Os autores do estudo deixam claro que não são contra a busca pelo conhecimento. Pelo 
contrário, exaltam a atitude de pessoas que estão sempre atrás de ampliar sua cultura. “Mas 
isso é algo completamente diferente de tentar ser mais ‘inteligente’. O conhecimento, sem 
dúvidas, é uma coisa que todos nós deveríamos perseguir. Fazer palavras cruzadas, seja 
para exercitar a memória ou aprender novos vocábulos, também é algo fantástico. Só que 
uma pessoa culta não é sinônimo de pessoa inteligente; pelo menos, não no sentido dos 
humanos com ‘supercérebros’, que alguns colegas insistem em dizer que, um dia, serão 
reais. Deixemos isso para os filmes de ficção científica”, conclui Hills. 
Múltiplas e específicas 
Em 1983, incomodado com o conceito tradicional de inteligência, o psicólogo cognitivo 
americano Howard Gardner lançou a teoria das inteligências múltiplas. Para o especialista, 
um indivíduo pode se sair mal no teste de QI e ter péssimo desempenho em matemática e, 
em compensação, ser um gênio dentro de um campo de futebol. Ele, então, dividiu a 
inteligência em diversos campos: linguístico, musical, lógico, visual, cinestésico, 
interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencialista. 
De acordo com a teoria de Gardner, uma única pessoa pode ter vários tipos de inteligência, 
ou ser mais hábil em apenas um deles. 
Completamente contra qualquer método de teste de “nível de inteligência”, ele propõe que, 
em vez de exigir dos alunos o domínio de todas as disciplinas, as escolas deveriam ajudar 
cada um deles a cultivar o seu tipo de inteligência. Para o psicólogo, não se trata de descobrir 
quem é ou não inteligente, mas qual habilidade cada um possui. 
Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2011/12/30/interna_ciencia_saude,284572/cientistas-afirmam-que-inteligencia-e-conhecimento-sao-coisas-
diferentes.shtml> Acesso em: 29 mai 2018. 
 
 
Cientistas descobrem possíveis causas da 
leucemia infantil 
 
Sabemos que diferentes tipos de câncer apresentam diferentes fatores de risco. Nesse 
sentido, o que a ciência tem a dizer sobre a leucemia, sobretudo, em crianças? 
Estatísticas do Instituto de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (INCA) mostram 
que há entre 2 e 3 mil crianças afetadas pela leucemia a cada ano, correspondendo a 
aproximadamente 30% do total dos casos. Trata-se da forma mais comum de câncer 
infantil no Brasil. 
 
31 
 
 
Cerca de 13 mil novos casos de câncer em crianças e adolescentes ocorreram no Brasil em 
2017. Dentre vários tipos, o de maior incidência é a leucemia, correspondendo a 30% dos 
casos. O porquê e como seres humanos tão novinhos desenvolvem essa doença gera 
controvérsias há décadas — possíveis causas ambientais, como radiações ionizantes, ondas 
eletromagnéticas ou até mesmo produtos químicos nunca apresentaram evidências concretas 
para serem aceitas. Agora, cientistas londrinos descobriram alguns possíveis culpados pela 
leucemia linfoblástica aguda (LLA) – e a limpeza excessiva na primeira infância está entre 
eles. 
Não, isso não significa que agora você terá que manter seu bebê chafurdando no lixo de 
fraldas. Um ambiente limpo é importante, mas o “isolamento” infantil, numa tentativa de 
proteção, é prejudicial: segundo Mel Greaves, autor do estudo e cientista do Instituto de 
Pesquisa do Câncer, em Londres, o sistema imunológico se torna mais suscetível ao câncer 
se não tiver um contato razoável com micróbios no início da vida. Apesar de ser uma 
descoberta inusitada, a conclusão do estudo também é animadora: até certo ponto, dá para 
diminuir as chances de câncer infantil. 
Antes de tudo, é importante saber o que é a leucemia linfoblástica aguda. A LLA é 
responsável por 75% dos casos de leucemia infantil, e, felizmente, 90% das crianças que 
fazem um tratamento adequado se curam. Esse câncer no sangue ocorre quando linfócitos 
(um dos vários tipos de glóbulos brancos, aqueles das aulas de biologia) em formação na 
medula óssea sofrem alterações e se multiplicam de forma desordenada. O caráter “agudo” 
da doença quer dizer que os linfócitos problemáticos são células muito jovens, imaturas. 
Quando elas começam a causar transtorno, isso afeta todas as células sanguíneas da criança. 
E o pior: esses linfócitos cancerosos evoluem muito rápido, tornando o diagnóstico precoce 
imprescindível para um tratamento eficaz. 
Por que as crianças desenvolvem essa doença era um mistério para a medicina, mas a nova 
pesquisa achou dois pontos fundamentais para a ocorrência do mal: mutação genética e 
infecções em sistemas imunológicos frágeis. Greaves estudou câncer infantil por mais de 30 
anos para chegar nessas variáveis. O primeiro fator envolve uma mutação genética 
32 
 
específica: ela ocorre antes mesmo do nascimento do bebê e já predispõe a criança à doença 
— mas é bom ressaltar que apenas 1% dos nascidos com essa alteração desenvolve a 
leucemia. 
O segundo fator é o polêmico: a doença, que se desencadeia mais tarde na infância, está 
mais sujeita a atacar crianças excessivamente limpas no primeiro ano de vida. A falta de 
contato com ambientes fora de casa ou outros bebês impossibilitou o sistema imunológico 
de se preparar contra outras ameaças. Infecções comuns surgidas na infância, que facilmente 
seriam curadas em crianças com mais contato com micróbios, são bombas nos organismos 
dos bebês “limpinhos” — e acabam gerando uma possível desordem dos linfócitos. 
Na pesquisa, Greaves apresenta essas evidências em uma teoria de “infecção tardia” como 
causa da LLA, afirmando que uma infecção quando novinho é benéfica para preparar e 
estimular nossas defesas. Mas uma primeira infecção posterior em crianças predispostas 
geneticamente, que não possuem preparo imunológico, pode influenciar no desenvolvimento 
da leucemia. Anos de pesquisas e experimentos levaram a essas conclusões, incluindo testes 
em animais e estudos populacionais. Greaves agora investiga se a exposição anterior a 
micróbios inofensivos pode prevenir a leucemia em camundongos. Se der certo, a ideia é 
que o mesmo poderia ser feito em crianças, para protegê-las desse câncer. A leucemia 
linfoblástica aguda atinge 300 mil crianças mundialmente, estando bem mais presente emsociedades ricas e desenvolvidas. Esse estudo espera que isso mude no futuro. 
Disponível em: <https://super.abril.com.br/saude/cientistas-descobrem-possiveis-causas-da-leucemia-infantil-e-uma-
delas-tem-a-ver-com-limpeza-excessiva/> Acesso em: 24 mai 2018. 
Quais foram as maiores descobertas científicas 
brasileiras? 
 
Um dos aspectos que diferenciam os humanos de outras criaturas do reino animal é a 
capacidade de trazer à luz descobertas que geram esperança, promovem o progresso 
da humanidade e, algumas delas, contribuem de forma significativa para preservar a 
vida. O texto a seguir destaca algumas das descobertas científicas brasileiras e, por 
fim, apresenta algumas razões que explicam a polêmica: por que nenhum cientista 
brasileiro, até hoje, foi contemplado com o prêmio Nobel? 
 
33 
 
 
 
Foram muitas, em várias áreas, e todas ajudaram no progresso da ciência e beneficiaram de 
forma direta milhões de pessoas. Essas descobertas coincidem com uma efervescência 
científica nacional na primeira metade do século 20, que influenciou na formação de 
cientistas e na fundação de instituições como a Academia Brasileira de Ciências (1916), a 
Universidade de São Paulo (1934) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1961). 
Infelizmente, a ditadura militar (1964-1985) prejudicou a produção de conhecimento, com 
estudiosos perseguidos, presos ou exilados – segundo o último levantamento do 
portal Ciência na Ditadura, pelo menos 483 cientistas sofreram algum tipo de censura. Com 
o fim do regime, nossa ciência voltou a evoluir (ainda que a passos lentos). Os destaques 
mais recentes foram a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, e as 
pesquisas nos campos da neurociência (a interface cérebro-máquina de Miguel Nicolelis) e 
da astrofísica (observação de eventos espaciais até então inéditos). Confira nossa galeria de 
notáveis. 
 
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Vital Brazil, médico imunologista, 1898 
– Especificidade do soro antiofídico 
O soro antiofídico foi criado em 1894 pelo francês 
Albert Calmett para tratar picadas de cobras 
venenosas. Acreditava-se que ele atuava de forma 
universal a partir do veneno de uma única espécie, 
a naja. Vital Brazil acreditava que cada tipo de 
veneno de cobra deveria ser tratado de forma 
específica. Para isso, produziu antídotos distintos 
para a mordida de cascavel e jararaca. Além disso, 
ele inventou o soro polivalente (que é eficaz para 
um grupo de cobras, e não para somente uma). 
– 
Carlos Chagas, médico sanitarista, 1909 
– Doença de Chagas 
 
Nunca antes na história da medicina o ciclo 
completo de uma doença havia sido 
identificado. Chagas traçou todo o caminho: 
vetor (besouro barbeiro), agente causador 
(protozoário Trypanosoma cruzi), 
reservatório doméstico (gato), 
características e complicações e meios de 
combate. A descoberta veio enquanto ele 
combatia a malária em Minas Gerais. Chagas 
foi reconhecido internacionalmente, batizou a 
doença e virou um importante nome no 
combate a moléstias tropicais. 
 
 
 
35 
 
Mário Schenberg (e George Gamow, EUA), 
astrofísicos, 1940 – Processo Urca 
 
O processo descreve a explosão de uma 
supernova, em que a presença de partículas 
chamadas neutrinos acarreta no 
desaparecimento de energia no núcleo da 
estrela, provocando seu colapso e a 
consequente explosão. O nome “Urca” é 
uma referência ao extinto cassino da Urca, 
no Rio de Janeiro, sobre o qual Schenberg 
dizia que “a energia das supernovas 
desaparece tão rápido quanto o dinheiro dos 
apostadores aqui presentes”. 
– 
 
 
César Lattes (e Cecil Frank Powell, Reino 
Unido, e Giuseppe Occhialini, Itália), físicos, 
1947 – Partícula méson pi 
 
Partícula presente no núcleo dos átomos, o 
méson pi foi fundamental para entender as 
forças atuantes nessa região atômica e sua 
estabilidade, originando um novo campo de 
estudo (o de partículas elementares). A 
descoberta rendeu o Nobel de Física em 
1950, mas só Powell foi agraciado. 
 
– 
 
 
 
36 
 
 
 
Maurício Rocha e Silva, farmacologista, 1949 
– Bradicinina 
 
Importante no controle da hipertensão, a 
bradicinina é um vasodilatador presente no 
sangue. Rocha e Silva a descobriu com a ajuda 
de Wilson Beraldo e Gastão Rosenfeld enquanto 
analisava a ação do veneno de jararaca em um 
cão. Desde os anos 70, muitos remédios para a 
doença têm bradicinina na fórmula. 
– 
 
 
 
 
Johanna Döbereiner, agrônoma, década de 
1950 – Bactérias fixadoras de nitrogênio 
 
Döbereiner identificou tipos específicos das 
bactérias que ajudam na nutrição das plantas 
por meio da fixação de nitrogênio nas raízes. 
Isso ajudou a diminuir o impacto ambiental e a 
baratear a produção nacional de soja (hoje, o 
Brasil é um dos maiores exportadores). 
Döbereiner é a cientista brasileira mais citada 
lá fora. 
– 
 
 
 
 
37 
 
 
Crodowaldo Pavan, geneticista, 1957 
– Amplificação gênica 
 
A descoberta derrubou a ideia de que as 
células possuem a mesma quantidade de 
material genético. O feito ocorreu quando 
Pavan encontrou a mosca Rhynchosciara 
angelae no litoral paulista. Ele identificou a 
duplicação de genes presentes nos 
cromossomos, sem a ocorrência de divisão 
celular. Foi um grande avanço nos estudos 
sobre DNA. 
 
 
 
 
 
Marcos dos Mares Guia, bioquímico, 1990 
– Insulina humana recombinante 
 
Inicialmente extraída do pâncreas de bois 
e porcos, a insulina destinada a diabéticos 
podia causar reações alérgicas. Mares 
Guia descobriu um método em que a 
bactéria E. coli, presente no nosso corpo, 
recebe o gene da produção de insulina 
humana e passa a fabricá-la naturalmente. 
Resolveu o problema da alergia e barateou 
a produção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
O tabu do Nobel - Por que nunca ganhamos 
um? 
 
Em mais de cem anos de história, poucos foram os brasileiros que “quase” levaram o 
principal prêmio das ciências do mundo. Dos citados aqui, Chagas, Rocha e Silva, Schenberg 
38 
 
e Lattes foram os que mais se aproximaram do feito. Como o processo de escolha dos 
vencedores é secreto, é difícil entender por que esse ou aquele não ganhou. O fato de Lattes 
não ter levado é que, na época, só o chefe do grupo era premiado – no caso, o britânico 
Powell. Para a bioquímica Debora Foguel, membro da Academia Brasileira de Ciências, o 
Brasil ainda não tem Nobel por três motivos: nossa ciência é muito jovem, se comparada à 
de outros países, grande parte dos pesquisadores não recebe recursos suficientes e de 
forma constante, o que é essencial para o trabalho, e o número de cientistas brasileiros 
ainda é muito pequeno. Uma pena. 
 
Disponível em: <https://mundoestranho.abril.com.br/ciencia/quais-foram-as-maiores-descobertas-cientificas-brasileiras/> 
Acesso em: 29 mai 2018. 
 
 
 
O Nobel que o Brasil ganhou 
e ninguém sabia 
 
Ele nasceu no Brasil, falava português, gostava de 
farofa – e venceu o prêmio mais importante da 
medicina 
O Brasil está fora de todas as listas de 
ganhadores do Prêmio Nobel. Mas, a depender do 
critério utilizado, o país tem, sim, um vencedor 
da honraria: Peter Brian Medawar, Nobel de 
Medicina em 1960, nasceu em Petrópolis (RJ), 
falava português e morou no país até os 13 anos 
de idade. Por que, então, ele não é considerado um ganhador brasileiro do Nobel? 
Confira a resposta: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/o-nobel-que-o-brasil-ganhou-e-
ninguem-sabia-78pavf4xstt2d1pggqw16c5lj 
 
Livro 
Made in Macaíba 
39 
 
Neurocientista brasileiro, com 
diversos trabalhos divulgados em 
publicaçõescientíficas como 
Nature, Scientific American – que o 
indicou como um dos 20 maiores 
cientistas do mundo – e Science – 
na qual foi o primeiro brasileiro a 
ter um artigo publicado na capa –, 
Miguel Nicolelis é o autor de Made 
in Macaíba, livro que conta a 
história do projeto do 
neurocientista, fazer da ciência um 
agente de transformação social. 
A partir da construção de um polo 
de ensino, pesquisa e extensão em 
neurociência, que transformasse a 
comunidade a partir da educação, surgiu o Campus do Cérebro, localizado em Macaíba, 
cidade rural do interior do Rio Grande do Norte. O polo de ensino mudou o cenário de uma 
enorme comunidade carente, incentivando milhares de crianças a estudar e a acreditar que 
as oportunidades existem para todos. "A gente não construiu escolas, mas sim um aeroporto 
de cidadãos, porque o conhecimento liberta", afirmou o neurocientista em uma de suas 
diversas passagens pelo Fronteiras do Pensamento. 
Miguel Nicolelis é professor do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de 
Lausanne na Suíça, presidente do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond 
e Lily Safra (IINN-ELS) no Rio Grande do Norte e Professor titular do Departamento de 
Neurobiologia da Universidade Duke. Na Duke, também é codiretor do Centro de 
Neuroengenharia, onde lidera um grupo de cientistas que emprega ferramentas 
computacionais, robótica e métodos neurofisiológicos na pesquisa do desenvolvimento de 
próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal. A 
trajetória de Nicolelis de estudar e desvendar os mistérios do cérebro humano e sua 
integração com os computadores é uma referência no mundo todo e fez do neurocientista 
brasileiro um forte candidato a trazer um Prêmio Nobel para o país. Estes temas foram 
tratados em seus livros Muito além do nosso eu e O maior de todos os mistérios. 
 
Disponível em: <https://www.fronteiras.com/noticias/miguel-nicolelis-macaiba> Acesso em: 29 mai 2018. 
Filmes 
A Origem - A ciência por trás do filme 
40 
 
Neurocientista explica quais são os erros e acertos científicos da produção estrelada por Leonardo DiCaprio 
Por Sidarta Ribeiro* 
 
“A Origem é uma condensação vertiginosa de cem anos de psicanálise, neurobiologia, filosofia e cinema” 
A Origem é um filme desafiador. Num mundo não muito distante do nosso, em que existe 
tecnologia para invadir sonhos é realidade, um espião altamente capacitado tem sua chance 
final de redenção condicionada à realização de uma missão impossível: implantar uma ideia 
estranha na mente de uma pessoa, capaz de levá-la a fazer algo que não quer. Na superfície, 
trata-se de um barulhento filme de ação típico de Hollywood, com tiros, perseguições de 
carros e muitas explosões. Na profundeza, é uma condensação vertiginosa de cem anos de 
psicanálise, neurobiologia, filosofia e cinema. Cientificamente, acerta um tanto e erra outro 
tanto. 
 
O filme é composto de cinco narrativas, uma dentro da outra, articuladas em diferentes 
velocidades temporais com uma clareza desconcertante. Além do protagonista, cinco 
personagens adentram o sonho da vítima do golpe, para ajudar na difícil tarefa de semear o 
germe de uma ideia indesejada. Atuando de forma coordenada, tentam convencer a vítima a 
descer mais e mais profundamente, passando de um sonho a outro, até um local em que a 
ideia estrangeira possa ser plantada com sucesso. 
 
Indução – Voltando para o mundo real (real em termos, já que a ciência não tem como provar 
que não estamos sonhando), com a tecnologia atual é possível induzir uma pessoa ao sono. 
Fazer a mesma pessoa sonhar é mais difícil. Substâncias precursoras de dopamina e 
acetilcolina afetam o sonho. O DMT (Dimetiltriptamina, uma substância psicodélica), contido 
41 
 
na Ayahuasca, gera padrões de ativação cerebral e de experiência psicológica semelhantes 
aos observados durante o sonho. Mas os estudos ainda são incipientes. 
 
Cientificamente é possível sonhar que se está sonhando, como muitos de vocês já devem ter 
experimentado e como acontece no filme. Mas ninguém sabe ao certo quantas camadas um 
sonho pode ter. Talvez milhares, talvez apenas duas ou três. Também não há dados sólidos 
a respeito. 
 
Invasão – Em A Origem, tudo acontece como se a tecnologia para fazer o implante fosse algo 
já estabelecido. Fora das telas, nada disso existe. Para realizar a invasão de sonhos seria 
necessário decodificar o sonho a ser invadido e ser capaz de inserir conteúdo novo nele, 
não próprio do sonhador original. A primeira parte talvez seja possível em um futuro não 
muito distante, a segunda parece mais difícil. 
 
No que diz respeito à decodificação, nos últimos anos foram publicados artigos mostrando 
que é possível descobrir o que a pessoa está imaginando através da análise da ativação do 
córtex visual. Existe um truque aí, porque antes de fazer o experimento de “leitura de 
mentes”, a pessoa é submetida a uma bateria de imagens visuais, e sua ativação no córtex 
visual é gravada, gerando um mapa de possíveis estados que depois serve de base para a 
codificação de imagens novas, ainda não apresentadas ao sujeito. Com ou sem truque, é uma 
façanha e tanto. No que diz respeito à invasão, nossa tecnologia para estimular o cérebro 
com eletricidade ou campo magnético ainda é muito grosseira para se pensar em causar 
imagens específicas numa pessoa. 
Enquanto no filme o equipamento necessário para entrar nos sonhos cabe em uma maleta, 
os aparelhos atualmente existentes que permitem ver um cérebro sonhando são uma 
combinação de magnetoencefalografia (bem mais poderosa do que a eletroencefalografia 
comum) e ressonância magnética funcional. São técnicas que requerem o uso de aparelhos 
enormes, do tamanho de um carro cada, caríssimos. Mesmo eles não resolveriam o 
problema, esbarraríamos nas limitações citadas acima, mas pelo menos seria o melhor 
possível. 
Ritmo acelerado – Uma vez dentro do sonho, o filme mostra que a cada camada o tempo 
passa mais devagar: um segundo no mundo dos acordados significa cinco minutos na 
primeira camada de sonho, duas horas na segunda, e assim por diante. Ponto para o filme. 
Existem algumas evidências em ratos de que a compressão temporal do processamento 
42 
 
neuronal varia conforme as diferentes fases do sono. O resto é a imaginação de Christopher 
Nolan, o diretor do filme. Mas ele chega perto quando define a morte, dentro do sonho, como 
uma das formas para despertar. É muito difícil que as pessoas sonhem com a própria morte, 
embora algumas afirmem ter sonhos assim. No caso de A Origem, como acontece com a 
maioria das pessoas, morrer faz com que a pessoa acorde. 
O filme também acerta em mostrar pessoas que sabem que estão dentro de um sonho, como 
os agentes contratados para implantar as ideias. Quando começamos a perceber que estamos 
sonhando, há quem consiga permanecer nesse estado sem despertar ou regressar para o 
sonho comum, equilibrando-se entre o espanto e a inconsciência. Se torna um sonhador 
lúcido, capaz de criar o enredo onírico com sua própria vontade, simulando o que quiser. 
Chuva onírica – A perturbação do sonho através da interferência sensorial – como a cena em 
que chove porque o dono do sonho está com vontade de ir ao banheiro – tem base científica. 
Como notou Freud, estímulos externos entram no sonho e são ressignificados, de forma que 
“o sonho protege o sono”. Isso ocorre até um certo ponto, além do qual a pessoa acorda. 
 
O mais interessante em “A Origem” é como o personagem principal enfrenta a 
impossibilidade de ter certeza sobre os limites da realidade. O desejo é motor do sonho, e 
o sonho não cessa. Repressão de memórias e loucura se entrelaçam,seguindo o fio condutor 
das ideias de Freud. Mas o espectador é levado ainda mais longe, saltando por cima das 
divergências acadêmicas no campo das psicologias e das neurociências para interrogar de 
modo incisivo, equipado com tudo que sabemos, qual é a arquitetura última da mente. Nada 
mal para um blockbuster. 
Trailer: 
https://www.youtube.com/watch?v=HiixbtN-O24 
 
 
 
Resenha disponível em: <https://veja.abril.com.br/ciencia/a-ciencia-por-tras-do-filme-a-origem/> Acesso em: 28 mai 2018. 
43 
 
Interestelar 
Em Interestelar, filme do diretor Christopher Nolan, a 
humanidade parece estar vivendo seus últimos dias. 
Estamos num futuro não especificado. Uma “praga” 
está destruindo as colheitas e uma forte e persistente 
poeira surge para devastar os campos e os ambientes. 
É como se a terra estivesse se desprendendo do solo. 
As universidades só precisam de fazendeiros e as 
demais profissões estão em baixa. E alguns drones 
teleguiados continuam voando por aí, a esmo, 
sugerindo que algum conflito parece ter ocorrido. 
Em meio a esse cenário, o doutor Brand (vivido por 
Michael Caine), um cientista da NASA, diz a frase mais 
importante do filme: “A humanidade nasceu na Terra, 
mas não está destinada a morrer aqui”. Essa grandiosa 
noção resume a ambição de Nolan para essa obra. Em 
Interestelar, estamos no terreno da ficção-científica e 
Nolan, com seu conhecido rigor racionalista e sua busca pela verossimilhança, cria um 
exemplar do gênero que, na maior parte da sua duração, destoa da maioria das produções 
hollywoodianas. 
O protagonista do filme vive nesse planeta em processo de devastação. Cooper (Matthew 
McConaughey) é um fazendeiro e ex-piloto que cuida de dois filhos, Tom (Timothée 
Chalamet) e a pequena Murphy (Mackenzie Foy), e do ex-sogro (John Lithgow). Um estranho 
fenômeno acaba levando-o a entrar em contato com o pessoal da NASA, agora operando em 
sigilo, e Cooper e Murphy acabam 
conhecendo o ambicioso plano do 
doutro Brand: uma viagem 
interestelar até um “buraco de 
minhoca” que conduz a uma nova 
galáxia. Lá, os viajantes têm a 
missão de selecionar um planeta 
que se tornará o novo lar da 
humanidade. 
A missão é mostrada por Nolan com 
um foco no realismo, como lhe é de 
praxe, e é raro vermos no cinema de ficção-científica de Hollywood um exemplar com tanto 
apreço pela ciência “dura”. Conceitos complicados como a relatividade, buracos negros e a 
complexidade dos voos espaciais são – na maior parte do tempo – tornados compreensíveis 
para o espectador. Embora, curiosamente, a cena na qual se explica o que é o buraco de 
minhoca, com o auxílio de uma folha de papel, seja idêntica à cena do terror O Enigma do 
Horizonte (1997), do diretor Paul W. S. Anderson… 
44 
 
De toda forma, a viagem parece real e Interestelar se torna uma das recriações mais 
possíveis, e por isso mesmo mais fascinantes, das viagens espaciais na história do cinema. 
As distâncias são vastas e os intervalos de tempo são relativos, passando de diferentes 
formas para diferentes personagens, o que causa algumas surpresas ao longo da história. 
Até o espaço é silencioso, como geralmente não ocorre nos filmes de ficção-científica. 
Sendo assim, há momentos de incrível beleza na história. O design de produção de Nathan 
Crowley concebe a espaçonave Endurance e os planetas presentes na trama, além dos dois 
robôs TARS e CASE – pena que Nolan os mostre de forma compacta demais por grande 
parte do início do filme, com um abuso de planos fechados, de modo que só damos uma 
olhada direito neles no meio da história. Os efeitos visuais são criativos e impressionam pela 
execução: o “cubo” visto no terceiro ato do filme, a cena da onda gigante, a viagem dentro 
do buraco negro e uma atracação perigosa num momento-chave representam sequências 
visuais inesquecíveis. E o compositor Hans Zimmer cria uma trilha sonora poderosa e, em 
alguns momentos, triste, com órgãos e sintetizadores quase sagrados que amplificam a 
grandiosidade da história criada pelo diretor e seu irmão Jonathan. 
Em meio ao jargão técnico-espacial, surgem interessantes ideias sobre a vida e a passagem 
do tempo. Uma das melhores cenas do longa é quando Cooper assiste às mensagens dos 
seus filhos e os vê já como adultos – Tom e Murphy passam a ser interpretados por Casey 
Affleck e Jessica Chastain, respectivamente, neste trecho do filme. A reação de 
McConaughey coroa mais uma carismática e sólida interpretação da sua recente carreira. 
Além dele, Chastain retrata com sua competência habitual a persistência de Murphy, e há 
um conhecido astro aparecendo na metade do filme, cuja presença não é bom revelar, mas 
ele também faz um bom trabalho. Já Michael Caine interpreta uma versão do físico Kip 
Thorne, consultor das teorias do filme; e Anne Hathaway traz apenas a sua simpatia para o 
papel pouco definido da filha do doutor Brand, integrante da missão. 
A passagem do tempo parece ser muito importante para Nolan, que utiliza esse tema para 
criar outra das suas experiências de montagem paralela, intercalando as ações dos 
astronautas no planeta distante e as pessoas na Terra no terceiro ato da história. Porém, é 
nesse segmento que se concentram os problemas de Interestelar. É quando Nolan substitui 
um pouco os fascinantes questionamentos da ficção-científica por algumas facilidades de 
roteiro hollywoodianas: um personagem se transforma num “quase antagonista” para gerar 
um conflito, porque aparentemente é impossível fazer um épico de milhões de dólares de 
orçamento sem ao menos uma explosão; e no final algumas pontas soltas são amarradas de 
forma muito fácil – como o código Morse que transmite as informações, numerosas por sinal, 
para resolver o problema; ou ainda a natureza do cubo, explicada via diálogo expositivo por 
McConaughey. 
Christopher Nolan faz de Interestelar um filme inegavelmente ambicioso e forte, buscando 
inspiração em clássicos do passado, como Solaris (1972), Contatos Imediatos de Terceiro 
Grau (1977) e o maior deles, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Isso já é um grande 
feito, porém Nolan aqui é prejudicado por ele mesmo, por sua própria natureza. Em 
Interestelar ele, como sempre, tem a necessidade de explicar tudo, de definir tudo. Trata-
se de um cineasta eminentemente racional, e talvez por isso suas digressões narrativas 
45 
 
sobre o amor como força motriz dos personagens pareçam meio deslocadas. Ele não abraça 
o mistério do universo e da humanidade, como Tarkovsky e Kubrick fizeram em Solaris e 
2001, e isso rouba um pouco do potencial da sua aventura. Nolan instiga a imaginação do 
público e propõe perguntas, como a melhor ficção-cientifica deve fazer, mas ele mesmo as 
responde, em grande parte. Uma pena, pois se percebe que em Interestelar ele chega muito 
perto de fazer um grande filme. O resultado é uma aventura imperfeita, mas sempre 
grandiosa e capaz de fazer com que o espectador, em vários momentos, se maravilhe com 
o universo. Por isso mesmo, suas falhas se tornam mais frustrantes. 
Trailer 
https://www.youtube.com/watch?time_continue=13&v=uFMpvc0Ml4s 
 
 
Resenha disponível em: <https://cinemadetalhado.com.br/2014/11/resenha-de-filme-interestelar.html> Acesso em: 28 jun 
2018. 
46 
 
Música 
A alma e a matéria 
Marisa Monte 
 
 
Procuro nas coisas vagas 
Ciência! 
Eu movo dezenas de músculos 
Para sorrir… 
Nos poros a contrair 
Nas pétalas do jasmim 
Com a brisa que vem roçar 
Da outra margem do mar… 
Procuro na paisagem 
Cadência! 
Os átomos coreografam 
A grama do chão… 
Na pele braile pra ler 
Na superfície de mim 
Milímetros de prazer 
Quilômetros de paixão… 
Vem pr'esse mundoDeus quer nascer 
Há algo invisível e encantado 
Entre eu e você 
E a alma aproveita pra ser 
A matéria e viver… 
Procuro nas coisas vagas 
Ciência! 
Eu movo dezenas de músculos 
Para sorrir… 
47 
 
 
Nos poros a contrair 
Nas pétalas do jasmim 
Com a brisa que vem roçar 
Da outra margem do mar… 
Procuro na paisagem 
Cadência! 
Os átomos coreografam 
A grama do chão… 
Na pele braile pra ler 
Na superfície de mim 
Milímetros de prazer 
Quilômetros de paixão… 
Vem pr'esse mundo 
Deus quer nascer 
Há algo invisível e encantado 
Entre eu e você… 
Vem pr'esse mundo 
Deus quer nascer 
Que a alma aproveita pra ser 
A matéria e viver 
Que a alma aproveita pra ser 
A matéria e viver 
Que a alma aproveita pra 
Viver! 
Que a alma aproveita pra ser 
A matéria e viver… 
 
Disponível em: <http://analisedeletras.com.br/marisa-monte/a-alma-e-a-matria/> Acesso em: 28 mai 2018. 
Texto Complementar 
 
A alma e a matéria 
 
Para o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), a maior necessidade do ser humano era o habitar, que 
vinha antes mesmo do construir. No ensaio “Construir, Habitar, Pensar”, ele mostra que o homem 
habita, por essência, a quadratura, um “polígono” cujas quatro pontas são céu, terra, divino e mortal. 
O ser humano habita o “entre”, é a própria fronteira. 
48 
 
Está com os pés na terra e a cabeça no céu. O habitar se finca na poesia, no poetar-pensante. A 
existência é vista como um todo indivisível. Ao habitar, o homem pensa e constrói seus espaços, suas 
arquiteturas, seus relacionamentos, sua vida. 
Parece-me que, ao nos separarmos de Deus no Jardim, perdemos esse estado de “fronteira”. Estar 
ligado apenas à terra e ao que é mortal, sem possibilidade de transcendência, é um indício disso. O 
extremo oposto – uma vida nas alturas somente – não é, no entanto, a essência do ser. Ela talvez 
esteja arraigada numa mistura entre céu e terra, divino e humano, como uma dança entre os dois. 
Vemos no Gênesis o homem sendo criado por Deus a partir do pó da terra. Ele é feito de chão, de 
barro. Deus então sopra o seu Espírito e ele se torna “alma vivente” – uma união entre terra e céu. 
Marisa Monte canta algo parecido na música “A alma e a matéria”: “Vem pra esse mundo, Deus quer 
nascer. E a alma aproveita pra ser a matéria e viver”. Clarice Lispector, no livro “Um Sopro de Vida” 
– que trata da relação de um escritor com o personagem criado por ele –, escreve: “Aspiro a uma 
fusão de corpo e alma”. Eu também aspiro. 
Os rituais do templo descritos no Antigo Testamento são belos e cheios de significados. Deus vinha 
e se manifestava concretamente no altar, com fogo, ou através de símbolos, como a imposição de 
mãos do sacerdote no animal, transferindo figuradamente o pecado do povo para o animal a ser 
sacrificado. O altar do templo era o principal local onde o divino entrava em contato com o mortal. 
Nietzsche disse certa vez que “somente acreditaria em um Deus que soubesse dançar”. Jesus foi e é 
essa dança: Deus e homem coexistindo sem conflitos, numa existência que transforma tudo. Ele é a 
materialização da própria quadratura. Quando diz “isto é o meu corpo” (e não quero aqui discutir a 
transubstanciação) ele está falando sobre algo muito palpável. Jesus amava a vida, não no sentido que 
condena em uma parábola, mas a vivia com intensidade. Marx estava certo ao dizer que a religião, 
caso vivamos somente “nas alturas”, é o ópio do povo. Contudo a espiritualidade encarnada proposta 
por Jesus é diferente. Nela a religião deixa de ser uma droga para se tornar o mecanismo pelo qual 
podemos viver e experimentar Deus aqui, nessa dança celestial e terrena, onde ele nos convida a 
habitarmos seguros e construirmos nossa vida pensando, sem esquecer da poesia que a permeia. 
Texto escrito por Miguel Del Castillo, escritor, tradutor e editor. Disponível em: <http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-
alma-e-a-materia> Acesso em: 29 mai 2018. 
Charges e Tiras 
 
 
49 
 
 
Disponível em: <http://www.leovillanova.net/2015/06/> Acesso em: 24 mai 2018. 
 
 
Disponível em: <http://juciencias.blogspot.com.br/2009/09/charges.html> Acesso em: 24 mai 2018. 
 
50 
 
 
 
Disponível em: <https://brainly.com.br/tarefa/3377084> Acesso em: 24 mai 2018. 
 
 
 
Disponível em: < https://www.umsabadoqualquer.com/941-einstein-8/> Acesso em: 24 mai 2018. 
 
51 
 
 
Disponível em: <http://scienceblogs.com.br/rainha/2008/05/ciencia-e-curiosidade/> Acesso em: 29 mai 2018. 
 
 
Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/ultnot/especiais/ult1811u186.jhtm> Acesso em: 29 jun 2018. 
 
 
 
52 
 
Considerações Finais 
 
Se, por um lado, a ciência representa cada vez mais uma grande esperança e algumas 
certezas à humanidade em busca de soluções e curas, ela também, paradoxalmente, sempre 
representou uma forte ameaça à existência dela própria. Quem sabe, atualmente, tenhamos 
que nos fazer muito mais perguntas além daquelas cujo saber científico nos impele, ou seja, 
pensar a ciência de maneira eticamente correta... Nesse sentido, esperamos que ao final 
desta leitura você tenha se questionado muito mais do que acreditado... Que você tenha se 
identificado com partes deste material, sentindo-se incomodado e desafiado a enveredar 
pelos caminhos da ciência a favor da vida, do outro, do coletivo, do amanhã e do eticamente 
correto... Que sua visão acerca do que tratamos aqui já não seja mais a mesma... Que suas 
reflexões tenham ampliado percepções e pontos de vista... Que o conhecimento advindo 
desta leitura tenha contribuído para ampliar ideias, aperfeiçoar habilidades e, 
principalmente, que você avalie a sua relação com esse universo de possibilidades... Por fim, 
que nesse processo de autoavaliação você possa descobrir-se livre e potencialmente capaz 
de usar com cuidado e sabedoria o mundo científico à sua disposição e, quem sabe, realizar 
você mesmo, com altruísmo e ética, descobertas ou criações que farão a diferença na sua 
geração, deixando para as próximas um legado e tanto! 
 
Tenha um presente e futuro promissores!