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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DULCILANE COELHO BITENCOURT CASTANHEIRA O ASSÉDIO MORAL DIANTE DAS NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO Macaé 2015 DULCILANE COELHO BITENCOURT CASTANHEIRA O ASSÉDIO MORAL DIANTE DAS NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá ,em Macaé-RJ, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito, tendo como orientadora a Professora Rosângela dos Santos Zottl. Macaé-RJ 2015 2 RESUMO Este trabalho procurará, através de várias pesquisas bibliográficas, da legislação, jurisprudência, colher dados e informações sobre o Assédio Moral no Trabalho sob uma nova visão. O tema será analisado considerando o contexto atual, das novas formas de relações trabalhistas, dentro de uma sociedade cada vez mais globalizada e informatizada. Buscaremos identificar as espécies de assédio moral que surgem no ambiente trabalhista, em virtude de políticas cada vez mais rígidas por resultados adotadas pelas entidades. Compararemos situações de assédio moral, com situações que podem deixar dúvidas quanto ao assédio moral, já que há nos dias de hoje uma grande indústria do dano moral. Procuraremos ainda trazer importantes medidas preventivas e repressivas que podem ser adotadas no âmbito das empresas, tendo em vista que a matéria afeta o meio ambiente do trabalho sadio. 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 5 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 CONCEITO 2.2 REQUISITOS PARA O ASSÉDIO MORAL 2.3 DAS VÁRIAS DENOMINAÇÕES ADOTADAS 2.4 DAS MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL 2.5 DO PERFIL DO ASSEDIADOR 2.6. DO PERFIL DO ASSEDIADO 2.7. INFLUÊNCIA DAS NOVAS ORGANIZAÇÕES DO TRABALHO 2.8- LEGISLAÇÃO SOBRE ASSÉDIO MORAL NO BRASIL E NO MUNDO 2.9- CASOS PRÁTICOS DE ASSÉDIO MORAL E POSICIONAMENTO DA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA 2.10 A QUESTÃO DA POLÍTICA DE METAS NAS EMPRESAS 2.11 A INDÚSTRIA DO DANO MORAL 2.12 O ATINGIMENTO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA 2.13 SUGESTÃO DE MEDIDAS PREVENTIVAS E REPRESSIVAS 3 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 1 INTRODUÇÃO 4 O objetivo do presente estudo é demonstrar que em função das mudanças nas relações trabalhistas, em razão da exigência de um mercado cada vez mais competitivo, vem surgindo novos tipos de assédio moral de difícil identificação e solução. Traremos a definição do instituto do Assédio Moral, suas vertentes dentro do mercado de trabalho no Brasil, bem como no exterior. Analisaremos as formas de Assédio Moral e identificaremos onde são encontradas as principais situações, quem são as principais vítimas e o que ocasiona para a vida das pessoas o Assédio. O trabalho trará a principal doutrina à respeito do tema, a principal legislação pátria existente, o entendimento da jurisprudência no Brasil e também no Direito Comparado. Demonstraremos a correlação da globalização, das crises econômicas e da tecnologia nos novos casos de Assédio Moral. Buscaremos soluções preventivas que podem ser adotadas em todo o tipo de entidade, seja pública ou privada, para redução dos casos de assédio. Pretende ainda o estudo, contribuir para o debate acerca da necessidade de programas preventivos do assédio moral no ambiente de trabalho como forma de respeito, valorização da dignidade do trabalhador. Embora nosso objetivo seja estudar o tema Assédio Moral com maior enfoque jurídico, não há como realizar citações, comparações e análises sem passar pelo campo da Psicologia e da Medicina do Trabalho , em função do caráter interdisciplinar por que passa o estudo. O grande desafio deste tema é fazer com que haja justiça social, sendo respeitado os direitos individuais fundamentais, com proteção à 5 dignidade da pessoa humana e os direitos dos indivíduos considerados em coletividade, com proteção também à dignidade da pessoa humana. 6 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 CONCEITO Assédio vem do latim ad sedere, com o significado de sentar-se em frente de. Os exércitos paravam em volta das cidades para que elas se rendessem, pois não permitiam a entrada e a saída de pessoas e coisas. A palavra “assédio” significa “insistência importuna, junto de alguém, com perguntas, propostas, pretensões etc.”( dicionário Novo Aurélio) ou “insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém”(dicionário Howaiss). Moral é o conjunto de regras de conduta ou hábitos de um grupo ou sociedade. Marie-France Hirigoyen afirma que “ a escolha do termo moral implicou uma tomada de posição. Trata-se efetivamente de bem e de mal, do que se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em nossa sociedade. Não é possível estudar esse fenômeno sem levar em conta a perspectiva ética ou moral, portanto, o que sobra para as vítimas do assédio moral é o sentimento de terem sido maltratadas, desprezadas, humilhadas, rejeitadas...”.1 1 HIRIGOYEN, Marei-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral, Rio de Janeiro: Bertrand, p. 16-16. 7 Segundo a OIT-Organização Internacional do Trabalho, assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras. Marie- France Hirigoyen afirma que o assédio moral no trabalho é “toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, por em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”. 2 Importante definição foi do estudioso alemão Heinz Leymann, para quem assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho através do estabelecimento de comunicações não éticas( abusivas) que se caracterizam pela repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior ou colega(s) desenvolve(m) contra um indivíduo que apresenta, como reação, um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura. Para a Dra Margarida Barreto, médica do trabalho e ginecologista, assédio moral no trabalho, apud Mendes(2006), é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego. 2.2 REQUISITOS PARA O ASSÉDIO MORAL São requisitos identificadores do assédio moral: a) Conduta abusiva; 2 HIRIGOYEN, Marei-France. Assédio moral: a violência perversa do cotidiano.7.ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p.65. 8 b) Ação repetida. Um único ato isolada não implica o assédio moral. Há necessidade de repetição no ato do empregador ou de seus prepostos para a caracterização do assédio; c) Postura ofensiva à pessoa; d) Agressão psicológica:fere a intimidade, a dignidade do trabalhador. Ex: olhar e não enxergar a pessoa, que é ignorada, não cumprimentá-la etc; e) Que haja finalidade de exclusão do indivíduo. A vítima sente-se excluída. Na maioria dos casos o objetivo é excluir a vítima, mas pode não ser; f) Dano psíquico emocional: é uma consequência do assédio. 2.3 DAS VÁRIAS DENOMINAÇÕES ADOTADAS As várias denominações ou terminologias que vêm sendo frequentemente utilizadas nas sociedades modernas para designar o Assédio Moral são, entre outras: a) mobbing; b) bullying; c) acoso psíquico; d) presión laboral tendencionsa; e) harcelement moral; f) ijime; g) molestamento moral; 9 h) coação moral no ambiente de trabalho; i) manipulação perversa; A jurisprudência brasileira vem aceitando variadas denominações como sinônimas, chegando a ser feita referência a nove delas em um único julgamento do TRT da 4ª Região. ‘Assédio moral – Mobbing – Bullyng – Harcelement Moral – Bossing – Harassment – Psicoterror – Ijime – Murahachibu – Não configuração (...)3 Na doutrina é utilizado um emaranhado colossal de opiniões obscuras sobre as descrições das ditas denominações, cuja compreensão é de difícil domínio. 2.4 DAS MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL O assédio moral separa-se em duas modalidades: Assédio moral individual e assédio moral coletivo. O assédio moral individual divide-se em três formas: Assédio moral vertical- aquele que é praticado pelo chefe, diretor, gerente, encarregado, pelo dono da empresa ou seus familiares contra um empregado(subordinado). Assédio moral horizontal ou simétrico- aquele que ocorre entre colegas de trabalho. Nesse caso, o assediador pode ser um ou vários empregados e, entre eles, ocorre geralmente disputa por espaço por cargo ou uma promoção, corriqueiramente do mesmo nível hierárquico. Assédio moral ascendente- é mais raro, pois é praticado por um ou por um grupo de empregados contra o superior hierárquico. A segunda modalidade de assédio denomina-se assédio moral coletivo: aquele cometido pelo assediador contra um grupo de pessoas. 3 BRASIL.TRT.Região,4.Recurso ordinário, n. 00228-2003-022-04-00-6.Publ.DJ em 25 out.2004,Rek. Carlos Alberto Robinson. Disponível em: www.trt4.jus.br. 1 Destacam-se ainda, em razão da prática de assédio moral coletivo, outras condenações impostas pela Justiça do Trabalho a diversas empresas, tais como: - revista íntima vexatória; - instalação de câmeras em banheiros dos funcionários; - controle de idas ao banheiro; - terceirização fraudulenta; - condutas antissindicais das mais diversas; - discriminação racial; - danos ao meio ambiente e à saúde dos empregados; - tratamento desumano; - listas negras; e - imposição de metas inatingíveis. 2.5 DO PERFIL DO ASSEDIADOR O assediador moral pode ser um empregado qualquer da empresa, o chefe, o gerente, o diretor da empresa, o dono da empresa. Na visão de Marie – France Hirigoyen, a personalidade narcísica apresenta, pelo menos, cinco das seguintes manifestações: - O sujeito tem um senso grandioso da própria importância; - É absorvido por fantasias de sucesso ilimitado, de poder; 1 - Acredita ser especial e singular; - Tem excessiva necessidade de ser admirado; - Pensa que tudo lhe é devido; - Explora o outro nas relações interpessoais; - Não tem a menor empatia; - Inveja muitas vezes os outros; - Dá provas de atitudes e comportamentos arrogantes. Luciana Santucci, com arrimo nos estudos de Henry Walter, relata sobre os agressores: Entre duas alternativas de comportamento, escolhem justamente aquela mais agressiva; quando se encontram em uma situação de conflito, empenham-se ativamente a fim de que o conflito evolua e se intensifique; conhecem e aceitam passivamente as consequências negativas da violência moral que fere a vítima, sempre se defendendo; ignoram as consequências negativas que o mobbing tem para a vítima e repetem frases como : O que vai bem para você? Não se faça de vítima ;não demonstram qualquer sentimento de culpa; estão convencidos de que não têm culpa, mas creem estar fazendo alguma coisa boa; e dão aos outros a culpa e estão convencidos de haverem apenas reagido a uma provocação.4 2.6 DO PERFIL DO ASSEDIADO O assediado será um empregado da empresa, podendo ser um superior hierárquico, como um chefe, um gerente etc. 4 SANTUCCI, Luciana. Assédio moral no trabalho( temas atuais). Belo Horizonte: Leiditathi,2006.p.22-23. 1 O assédio moral na relação de trabalho não é praticado contra pessoas que não pertencem à empresa, como por exemplo, o cliente. A vítima do assédio moral pode ser tímida, ter um grau de escolaridade maior do que outros funcionários da empresa, ser sensível, medrosa, servil. Não há um perfil do assediado. Defende o professor Angelo Soares ;”Nenhuma pesquisa conseguiu relacionar o assédio com algum traço de personalidade. Muitos acham que só as pessoas fracas se sujeitam, mas ninguém está a salvo desse tipo de violência.....Heinz Leymann alerta que :”Preconceitos amplamente difundidos sustentam que o problema surge uma vez que um empregado com personalidade difícil entra para o quadro pessoal”. Gilioli afirma que a vítima não é necessariamente uma pessoa de caráter débil, um “perdedor nato” como pensam alguns. 2.7 INFLUÊNCIA DAS NOVAS ORGANIZAÇÕES DO TRABALHO As transformações econômicas, sociais, políticas, tecnológicas e culturais ocorridas nas últimas décadas e a elevação do aspecto econômico à categoria de valor supremo têm causado sérios impactos nas sociedades modernas. A década de 1990 deu acabamento ao movimento de valorização das empresas, consideradas as responsáveis pela riqueza das nações, aprofundamento do desenvolvimento tecnológico, conquista de mercado, elevação de índices de produtividades, resultando em reestruturações a serem feitas com possibilidade de uma sociedade sem empregos e com grandes danos sociais. O fortalecimento do papel do capital se deu em detrimento do enfraquecimento sindical e da degradação das condições de trabalho.. As novas formas de gestão do trabalho têm tornado os trabalhadores vulneráveis ao desemprego, à queda de salários, à precariedade, a uma nova competição extremamente acirrada, à deterioração do clima no ambiente de trabalho , e todas essa condições portadoras de violência. 1 Os sindicatos perderam força política diante da natureza revolucionária da informática e da economia mais globalizada e interdependente, diante das novas estruturas ocupacionais e especializações em local flexível e em fluxo, bem como diante da entrada de novos tipos de trabalhadores até então não representados( mulheres, jovens e imigrantes). A categoria de empregos que mais tem crescido nas sociedades atuais é dos trabalhadores temporários e em tempo parcial , fomentando o clima de ameaça ao emprego. A circulação de capitais intensificou-se com o uso da informática, facilitando a execução cada vez mais rápida de processos de compra, suão e parcerias entre empresas. Juntos, o processo de globalização e o uso intensivo da internet se reforçariam mutuamente e passariam a exigir um novo tipo organizacional e uma organização do trabalho pautada pelas características de flexibilidade, aprendizagem contínua, custos sempre em queda, desempenhos sempre mais elevados, equipes multiculturais e mobilidade em todos os sentidos. Empresas e indivíduos seriam incentivados a ser nômades sempre, a desenvolver vínculos transitórios e a definir metas apuráveis no curto prazo. A ênfase recaiu sobre o aspecto econômico e o paulatinoenfraquecimento de outras instituições sociais, fez com que a relação do indivíduo com o seu emprego se tornasse praticamente a sua fonte principal de identidade social e pessoal, uma vez que esse indivíduo foi reduzido a seu papel profissional, e é no ambiente de trabalho que ele vivencia a concretude de alguns valores coletivos. A perda de sentido, a perversão dos valores sociais, a comunicação ou as exigências paradoxais, a dissolução do coletivo, a transformação do ser humano em “coisa”, bem como a pressão imposta por uma competição sem limites, a ameaça permanente de exclusão e a perda de confiança generalizada são sintomas de uma economia que parece desenvolver-se à custa da sociedade. 1 Lidamos com o funcionamento de um sistema que manipula as armadilhas do desejo do indivíduo, nele, o sentimento de potência o torna impotente, pois a imagem de expansão ilimitada não é outra senão a ilusão de uma projeção da imagem sem limites, que a empresa cultiva de si e a repassa por meio da sua cultura.(Enriquez, 1992,Freitas,1999). O medo de fracassar, de não estar à altura e da perda do seu lugar serão permanentes companheiros do indivíduo nessa organização de ética de resultados cada vez mais elevados e legitimada na sociedade dos indivíduos sob pressão contínua. Os indivíduos que estão ativos no mercado, devem desenvolver a aprendizagem contínua, não apenas em relação aos conteúdos de seu trabalho, mas também uma aprendizagem insuflada pela sobrecarga gerada pela multiplicidade de tarefas, pelas metas sempre puxadas para cima. O custo dessa excelência ou as armadilhas da perfeição podem ser traduzidos em múltiplas manifestações de sofrimento no trabalho, pelo complexo de impostura e pelo estresse profissional, que marcam a violenta competição no ambiente de trabalho atual. Le Goff(2000), De Gaulejac(2005) e Appay(2205) explicitam seus receios de que o debate em torno do fenômeno chamado “assédio moral” seja confinado a um mero conflito entre indivíduos psicologizados e que seja desconsiderada a responsabilidade que a organização do trabalho, as mudanças nas condições de trabalho e a dificuldade de manutenção do emprego têm exercido sobre todos. A chantagem do emprego e a pressão contínua e crescente podem ser mascaradas na atribuição de culpa aos indivíduos perversos, quando sabe-se que essa relação perversa nutre-se de institucionalização e do encorajamento de um modelo de gestão fundado em maus-tratos, em práticas sádicas e na promoção de responsáveis organizacionais, que encontram prazer em reforçar ou imprimir o sofrimento no ambiente de trabalho em vez de buscar reduzi-lo. 1 2.8 LEGISLAÇÃO SOBRE ASSÉDIO MORAL NO BRASIL E NO MUNDO a) Em Âmbito Federal No Brasil, não existe legislação federal que trate do assédio moral no âmbito do trabalho ou criminalizando e estabelecendo pena. Existem projetos no âmbito penal em tramitação no Congresso, como o substitutivo ao PL 4.742/01 e o PL 5.971/01, apensado ao primeiro, que altera o Código Penal, ao acrescentar o art.203-A sobre coação moral no ambiente de trabalho. Na seara trabalhista, temos o PL 2.369/03, tendo sido realizada Audiência Pública para discutí-lo. Importante destacar o substitutivo apresentado em 2009 pelo senador Pedro Taques, acrescentando à Lei de Improbidade Administrativa(Lei 8.429/92) mais uma hipótese de conduta contrária aos principios do serviço público. Dispõe o artigo 4º da Lei 11.948, de 16 de junho de 2009, que “fica vedada a concessão ou renovação de quaisquer empréstimos ou financiamentos pelo BNDES a empresas da iniciativa privada cujos dirigentes sejam condenados por assédio moral ou sexual, racismo, trabalho infantil, trabalho escravo ou crime contra o meio ambiente”. b) Em Âmbito Estadual O Estado do Rio de Janeiro tem a Lei nº 3.921, de 23 de agosto de 2002, no Estado da Paraíba a Lei Complementar nº 63, de 09 de julho de 2004, no Estado de São Paulo a Lei nº 12.250, de 09 de fevereiro de 2006 e no Estado do Rio Grande do Sul a Lei Complementar nº 12.561, de 12 de julho de 2006. c) Em Âmbito Municipal 1 A primeira lei sobre o tema é da cidade de Iracemápolis(SP), Lei nº 1.163, de 24 de abril de 2000. Posteriormente foram criadas legislações em Ubatuba, Cascavel, Garulhos, Sidrolândia, Jaboticabal, São Paulo, Natal, Americana, Campinas, São Gabriel do Oeste, Ribeirão Preto, Presidente Venceslau, Porto Alegre, Santo André e Catanduva. d) Em Âmbito Internacional O Parlamento Europeu aprovou em setembro de 2001, a Resolução 2.339, com a qual define vagamente o assédio moral no trabalho, aponta as suas causas e recomenda aos seus Estados-membros que adotem medidas para preveni-lo, bem como regulamentarem a matéria. Na França, o Código do Trabalho em seu art.L1152-1 e ss. Disciplina o instituto assédio moral no trabalho. Na Inglaterra, está em tramitação um projeto de lei a respeito da dignidade no trabalho. Não há nos Estados Unidos da América norma especial sobre o assédio moral no trabalho, sendo apresentados projetos de lei contra o assédio moral no trabalho em 25 Estados do EUA e que não foram aprovados até agora. O direito austríaco, desde 16/05/98, através do Plano de Ação Interna sobre a igualdade entre homens e mulheres, considera como lesivo à dignidade do trabalhador o assédio moral. Na Alemanha não há norma específica contra o assédio moral no trabalho, embora se encontre no conjunto do sistema jurídico germânico normas que protejam o trabalhador. Em Portugal o Código do Trabalho regulamenta a figura do assédio moral no trabalho. 1 Na Austrália há uma lei de 1995 sobre saúde e segurança no local de trabalho. No Canadá, as Canada Ocupational Health and Safety Regulations(SOR/86-304) instituem normas de prevenção à violência no ambiente de trabalho. e) Possíveis Razões da Dificuldade de Aprovação dos Projetos de Âmbito Nacional Há diversos projetos com demora de mais de uma década para a sua aprovação, existindo um excesso de regulamentação da matéria, combinada com o receio de que a normatização do instituto vá criar atritos na relação entre empregados e empregadores, prejudicando a atividade econômica. Apesar de sofrerem cerceamento por parte de alguns setores da sociedade que não os vêem com bons olhos, esses projetos ajudam a criar uma jurisprudência na qual o reclamante poderá basear-se ao procurar a justiça. 2.9 EXEMPLOS DE CASOS CONCRETOS DE ASSÉDIO MORAL E POSICIONAMENTO DA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA A falta de regulamentação legislativa brasileira obrigou o Poder Judiciário a preencher lacuna existente no ordenamento jurídico, haja vista que não pode o juiz se evadir de sua missão de julgar. Citamos o primeiro caso sobre assédio moral julgado no Brasil, em 20 de agosto de 2002: RECORRENTES: HARALD PROTRATZ E SENAI/ES.RECORRIDOS: OS MESMOS. ORIGEM: RT 1315/2000-5ª VARA DO TRABALHO DE VITÓRIA. RELATOR:JUÍZA SÔNIA DAS DORES DIONÍSIO. REVISORA: JUÍZA MARIA DE 1 LOURDES VANDERLEI E SOUZA. EMENTA:ASSÉDIO MORAL- CONTRATO DE INAÇÃO- INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL- A tortura psicológica, destinada a golpear a autoestima do empregado, visando forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissional, eis que mina a saúde física e mental da vítima e corrói sua autoestima. Nos caso dosautos, o assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho, e, por consequência, descumprido sua principal obrigação que é a de fornecer o trabalho, fonte de dignidade do empregado. Recurso improvido. Destacamos decisões judiciais trabalhistas sobre a discriminação racial: Danos morais- Discriminação Racial- Impossibilidade de Imputação ao Empregador- Problema de Natureza Pessoal. A eventual discriminação racial, cuja imputação seria atribuida ao chefe imediato do reclamante, não implica no endosso do empregador e nem pode causar efeitos na relação de trabalho. Ademais , a reclamada é uma empresa paraestatal e só seria responsável por atos de sua direção e não das chefias de pequeno escalão. (TRT 3ªR-3T-RO/3790/98- Rel.Juiz José Miguel de Campos, DJMG 20/07/1999- P6). 1 Ementa: Discriminação nas Relações de Trabalho- Raça Negra. Por direito e lei, firmemente repudiado em nosso país, qualquer ato de discriminação em função de cor, raça, sexo, idade, religião ou condições especiais e individuais que diferencie a pessoa. Nas relações de trabalho, especialmente, não se pode tolerar atos discriminatórios e humilhantes impingidos ao empregado de raça negra, com ofensas verbais assacadas contra sua pessoa em função exclusiva da cor de sua pele. Fatos como tais devem ser denunciados, sempre, a fim de que não se torne comum e usual a violação de um direito garantido constitucionalmente, reforçando preconceito e prática discriminatória inaceitável. RO a que se dá provimento para fixar indenização por danos morais, em função da violação da honra e do sentimento de dignidade própria do empregado, que, como qualquer outra pessoa, merece apreço e respeito de seus superiores hierárquicos, não podendo aceitar ou resignar-se com frases com “negro safado”, “crioulo”, ou “se voltasse a escravidão eu iria te colocar no tronco”. O dano moral, íntimo, irreparável, mas o ato discriminatório pode e deve ser estancado por esta Justiça. (TRT 3ª R. -1T- RO/5207/99-Rel.Juiz Washigton Maia Fernandes -DJMG 19/05/200- P.08). Destacamos as formas de Discriminação e Assédio Moral com a mulher, extraídas da Cartilha do Sindiquim/SP, de autoria da Professora Margarida Barreto: – Os constrangimentos começam na procura do emprego. São analisados em detalhes: decote, comprimento de saia, postura ao sentar-se, sonoridade da voz, cor do batom, perfume, religião, estado civil, dentição, moradia perto da empresa, condução própria. Se a altura é inferior a 1,60 é motivo para não ser aceita. Submetem-se a exames muitas vezes desnecessários, cujo objetivo é verificar possíveis alterações na saúde. – Só podem ir ao banheiro no máximo duas vezes durante a jornada de trabalho. Se demorarem mais que cinco minutos são submetidas a interrogatórios. – As grávidas são proibidas de sentar durante a jornada . Em muitos casos, chegam a fazer reuniões com as mulheres “proibindo-as” de engravidar. 2 – As mulheres são as primeiras a serem demitidas, trabalham por mais tempo em experiência e, na maioria das vezes, sem qualquer esperança de contrato. – Suas tarefas são monótonas, repetitivas e de pouca criatividade, justificando, aos olhos do patronato, a desqualificação, o baixo salário, as longas jornadas, e raramente são reconhecidas e promovidas. – Quando um filho adoece e necessita de cuidados, um chefe a interroga duramente, tentando impedi-la de afastar-se da produção. São proibidas de telefonar ou receber recados, mesmo em casos de urgência em família. – Quando as mulheres vão a médicos em consequência de doenças adquiridas no trabalho, ao retornarem à empresa são chamadas pelo DP (Departamento de Pessoal) e interrogadas em detalhes quanto ao conteúdo da consulta . Não têm reconhecidas suas doenças. – São as mulheres as mais impedidas de conversar com as colegas no ambiente de trabalho. Muitas empresas ainda fiscalizam bolsas na saída. – As mulheres são assediadas sexualmente, com promessas de promoção ou ascensão, e quando não aceitam são perseguidas ou demitidas. – Os cursos de aperfeiçoamento são preferencialmente para os homens. São desviadas de função, realizam tarefas inferiores, e a empresa troca seu turno de trabalho sem avisar. – A cesta básica, em geral, é associada ao número de faltas, atestados médicos ou à produtividade. Os chefes espalham boatos de que a trabalhadora está com “finginite” e fazem pressão para que peça demissão. – Quando retomam após licença médica ficam sem função, são colocadas em pé, olhando através de parede de vidro as colegas trabalhando. São “aconselhadas insistentemente” a pedir demissão. 2 – Visando desmoralizá-las profissionalmente são colocadas para desempenhar funções acima de seu conhecimento ou abaixo de sua capacidade. – Há, ainda, situações como fazer de conta que a subordinada não existe, é invisível, sobrecarregá-la de trabalho, exigindo urgência, quando isso não é real, dar ordens através de um colega ou deixar várias recomendações em cima da bancada ou mesa, sem qualquer explicação. – Retiram até mesmo os equipamentos que permitem seu trabalho( telefone, computador, mesa, cadeira etc).São mudadas de setor, ficam isoladas, sem comunicação com colegas. Os chefes chegam a afirmar que a trabalhadora está com problema mental ou de relacionamento afetivo. Algumas Decisões Judiciais de Tribunais Brasileiros: a) Os fatos delineados indicam a prática de assédio moral. Cabia à reclamada zelar pelo meio ambiente de trabalho de modo a garantir a prevalência da dignidade da pessoa humana, princípio que emerge da função social do contrato de trabalho. Assim não fazendo, responde pela omissão, na forma do art. 186 do Código Civil, ou mesmo por atos de seu corpo funcional, a teor do art. 932, III e 933 ambos do Código Civil. (TRT/SP - 00014910420105020069 - RO - Ac. 17ªT 20130093615 - Rel. SORAYA GALASSI LAMBERT - DOE 18/02/2013) b) "Do alegado assédio moral. O assédio moral se caracteriza por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, que tenha por efeito a ameaça do seu emprego e a deterioração do ambiente de trabalho. No caso sob exame, a testemunha do autor declarou que o único tratamento diferenciado que o reclamante recebe por parte do reclamado é a não realização das horas extras. Assim, ao contrário do que pretende o recorrente, a prova oral produzida nos autos não comprovou que o autor é vítima 2 de discriminação, de tratamento desrespeitoso e humilhante. Não restou caracterizada, dessa forma, a prática de assédio moral pelo empregador. RECURSO ORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO." (TRT/SP - 00010792620115020332 - RO - Ac. 10ªT 20120557112 - Rel. MARTA CASADEI MOMEZZO - DOE 22/05/2012) c) A cobrança persistente de metas de forma ofensiva e desrespeitosa, por meio de expressões "chulas" configura o assédio moral, obrigando o empregador a indenizar o dano moral decorrente. Recurso da reclamada que se nega provimento.(TRT/SP - 01872200804102005 - RO - Ac. 12ªT 20100749512 - Rel. BENEDITO VALENTINI - DOE 20/08/2010) d) O assédio moral se revela por atitudes do empregador reiteradas no tempo, ocasionando inequívoco dano à saúde psicológica do obreiro, não se limitando necessariamente a apenas a um único ato. (TRT/SP - 01563004120105020007- RO - Ac. 4ªT 20110059551 - Rel. SERGIO WINNIK - DOE 11/02/2011) e) Assédio moral. Caracterização. A prova produzida confirma que a superiora hierárquica do autor chamava-o constantemente de "incompetente" e também no q ue tange à pronúncia de palavras de baixo calão em reuniões, dirigidas ao autor. A prova revela ainda que a superiora hierárquica tinha este comportamento também com outros supervisionados, mas, que o autor era seu "alvo" preferido Caracterizado, assim, o chamado "assédio moral", que consiste em condutas reiteradas, ainda que de pequena monta (e neste caso não eram de pequena monta) destinados a desestabilizar emocionalmente o empregado. Indenização por dano moral devida. (TRT/SP - 02145000420075020021 (02145200702102000) - RO - Ac. 3ªT 20101143731 - Rel. MARGOTH GIACOMAZZI MARTINS - DOE 12/11/2010) 2 2.10 SITUAÇÕES QUE NÃO PODEM SER ENQUADRADAS COMO ASSÉDIO MORAL E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE METAS NAS EMPRESAS Nem toda denegação de um direito trabalhista pode ser caracterizada como assédio moral no trabalho. A recusa ilícita do pagamento de horas extras, em função de dificuldades financeiras da empresa, um clima de tensão ou atrito no trabalho, não podem ser qualificados como assédio moral se não houver caracterização de um ambiente capaz de configurar perseguição contra um ou mais assalariados. Harald Ege fala das agressões morais que se assemelham aos ataques do assédio moral mas que não são. Ele exemplifica a situação do supervisor que chega atrasado ao serviço, irritadíssimo porque o seu carro quebrou em pleno cruzamento e o seu subordinado o informa que ele precisa fazer um telefonema desagradável ou o procura para resolver algum problema. Em casos como este a possibilidade de o subalterno ser maltratado é enorme e o seu sentimento será parecido com o da vítima do assédio moral, ou seja, humilhação, tristeza, sensação de haver sido tratado injustamento. A questão da personalidade do chefe, enquanto uns têm um estilo discreto e suave, obtendo a cooperação dos subordinados de modo diplomático, outros fazem questão de deixar bem claro quem é que manda. A Política de Metas No contexto capitalista que a dinâmica do lucro vem tornando o mercado cada vez mais competitivo é normal que seja feita pressão por produtividade em cima dos empregados. A ótica empresarial do momento é a da ambição, ousadia, capacidade de trabalhar sobre pressão, habilidade de se adaptar às mudanças, a produtividade e a disponibilidade de dedicação em tempo integral ao serviço, não se podendo falar em assédio moral no trabalho. 2 O simples estabelecimento de metas a serem alcançadas por todos os empregados não implica degradação proposital do ambiente do trabalho. Exceto se as metas forem inexequíveis, se houver humilhação pela não obtenção dos objetivos, se não forem dadas as condições razoáveis para que elas sejam batidas ou quando as cobranças extrapolem o direito de exercício regular do poder diretivo do empregador. É importante que haja distinção entre as características do assédio moral e a pressão do empregador para cumprimento de prazos, metas, objetivos, já que nem todos os aborrecimentos significam assédio moral. 2.11 A INDÚSTRIA DO DANO MORAL Um novo fenômeno vem se verificando, a falsa acusação de assédio moral. Uma mera antipatia em relação ao superior pode gerar a falsa sensação de perseguição, quando na realidade, o insucesso da vítima pode ser em função de outros fatores, como dificuldades financeiras da empresa, ou até mesmo de uma incompetência, alegando o fato do assédio moral para encobrir falhas. É preciso que todos fiquem alertas para que não ocorra uma verdadeira indústria de pedidos fraudulentos de indenização por danos morais advindos de assédio moral no trabalho, sob pena do descrédito da luta contra este mal moderno. Não 2.12 O ATINGIMENTO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA 2.13 SUGESTÃO DE MEDIDAS PREVENTIVAS E REPRESSIVAS 2 3 CONCLUSÃO A prática do assédio moral enseja violação de preceitos constitucionais de respeito à dignidade humana, à cidadania. O assédio moral provoca a queda de motivação e rendimento dos empregados, reduzindo a produtividade das entidades. Deve assim, ser adotada uma política de prevenção para a prática do assédio moral no ambiente do trabalho, através de participações de organizações, sindicatos nos locais de trabalho. O Direito possui um papel de extrema importância no combate desse mal, sendo necessário uma normatização nacional de assédio moral nas relações laborais, tendo em vista um número expressivo de trabalhadores vítima desse fenômeno. Hoje, a globalização da economia, a competitividade, as metas, os desafios e a falsa ideia de “gestão moderna” criaram um paradoxo ao tentar conciliar capital e trabalho. A tendência é o crescimento do assédio , caso nenhuma medida seja tomada. Por isso, se quisermos um país justo, verdadeiramente democrático e moderno , é de suma necessidade que as relações de trabalho sejam definitivamente humanizadas. 2 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. CASTRO, Cláudio Roberto Carneiro . O que você precisa saber sobre o assédio moral nas relações de emprego- 2 ed- São Paulo. LRr, 2014. FIORELLI, JOSÉ Osmir. Assédio moral: uma visão multidisciplinar- 2 ed- São Paulo : Atlas, 2015. FREITAS, Maria Ester- Assédio moral no trabalho- São Paulo: Cengage Learning, 2013. INÁCIO, Aparecido. Assédio moral no mundo do trabalho: doutrina, comentários, jurisprudência e casos concretos.- São Paulo, SP. Ideias e Letras, 2012. MARTINS, Sérgio Pinto. Assédio moral no emprego- 4 ed- São Paulo : Altas, 2015. PRATA, Marcelo Rodrigues. Assédio moral no trabalho sob novo enfoque: Cyberbullying, ”Indústria do dano moral”, carga dinâmica da prova e o futuro CPC. Curitiba: Juruá,2014. SOUZA, Jorge Dias. As chefias avassaladoras: a face oculta da tirania e do assédio moral nas empresas e o que fazer para acabar com essa prática devastadora- 2ª Edição-Osasco- SP: Novo Século Editora, 2011. STEPHAN, Cláudia Coutinho. O princípio constitucional da dignidade e o assédio moral no direito do trabalho de Portugal e do Brasil- São Paulo: LTr,2013. 2
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